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Estudo: COMUNIDADE ESPIRITUAL 003 – Atos 2 – Parte 2

1. INTRODUÇÃO: Imersão na essência


A igreja primitiva vivia uma cultura de comunidade espiritual, onde amigos
espirituais, irmãos em Cristo, relacionavam-se como família de Deus, em torno
de um só propósito: a expansão do Reino. Nesse estudo, estamos nos
aprofundando nesta cultura, buscando aplicações bíblicas para o nosso contexto
hoje, a partir de uma imersão nos princípios abordados pelas sagradas escrituras.
Precisamos imergir nessa mentalidade coletiva de Reino a fim de avançar aos
lugares que Deus tem preparado para nós enquanto igreja.

2. TEXTO BÍBLICO: Atos 2:42-47

Vamos fazer a leitura juntos.

3. PONTOS PRINCIPAIS:
 V.42 – “na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas
orações”;
Já vimos que a perseverança é uma condição marcante na igreja primitiva.
Mais do que intensidade, eles tinham constância. O resultado dessa insistência
coletiva nas práticas gerou uma cultura, que hoje nos serve como referência.
Essa perseverança se dava principalmente por meio de quatro pontos: (1)
doutrina dos apóstolos; (2) comunhão; (3) partir do pão e (4) orações.
Vejamos:
(1) Doutrina dos apóstolos – os primeiros discípulos de Jesus ficaram
conhecidos como apóstolos. Esse título veio da cultura romana, que
designava homens para adentrar outras regiões como enviados do

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imperador a fim de se infiltrar na cultura daquela nação e exercer
influência romana ali. A palavra significa “enviado, mensageiro, que vai à
frente”. Os discípulos que andaram com Jesus, observaram e absorveram
toda a dinâmica do Reino diretamente do Rei (servir, amar, perdoar,
cuidar, curar, doar, etc). Essa convivência lhes credenciou para exercerem
o seu apostolado e fundamentarem as doutrinas da fé cristã. Devemos
atentar para tais doutrinas bíblicas nos evangelhos e especialmente nas
epístolas do NT a fim de, igualmente, perseverarmos nelas.

(2) Comunhão – já vimos que os primeiros irmãos se moviam de acordo uns


com os outros (unanimemente), mas também podemos observar o quanto
eles tinham prazer nessa relação horizontal. Comunhão diz respeito ao
investimento de tempo de qualidade uns com os outros. Assim como, para
nós cristãos, é essencial termos comunhão com o Senhor (intimidade,
relacionamento, segredos, etc) – comunhão vertical, é importante cultivar
essa relação de amizade com os nossos irmãos – comunhão horizontal. E
isso é uma vida de cruz: horizontal + vertical. A Bíblia diz que é na
comunhão que Deus “ordena a vida e a bênção para sempre” (Sl 133:3).
“Ordenar” aqui é de “colocar em ordem”. Deus ajusta a nossa vida, coloca
tudo em ordem, a partir das nossas relações. A comunhão é ministra de
Deus para transformar, desenvolver, instruir. Assim como o “ferro afia o
ferro, um amigo afia o outro amigo” (Pv 27:17).

(3) Partir do pão – parece a mesma coisa que comunhão, porém partir o pão
é ainda mais profundo. A cultura da mesa estabelece e desenvolve a
comunhão, e é essencial para crescermos como comunidade espiritual.
Entretanto, o princípio aqui vai além disso: partir o pão implica em
generosidade. Nessa igreja, nem é preciso falar sobre ofertas, doações e
boas ações, pois os seus membros entenderam que generosidade não é uma
condição que eu possa exercer eventualmente, mas um estado permanente
de natureza no qual Cristo me tornou. Deus fez Abraão entender que, mais
do que ter uma bênção para repartir com outros, ele deveria SER uma
bênção (Gn 12:2). Quando vamos entender que repartir com o necessitado

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não é algo que preciso me esforçar para fazer, mas sim o resultado natural
de quem eu sou em Deus?

(4) Orações – A igreja no princípio tinha por prática comum e constante as


orações e súplicas. Afinal, como desenvolver uma intimidade com alguém
sem interagir com essa pessoa? Imagine ficar um mês sem ver ou falar
com o seu cônjuge: qual seria o resultado disso? Com Deus é a mesma
coisa (na verdade é ainda mais sério, pois um dia para Ele é como mil
anos). O problema é que a geração “whatsapp” está acostumada a falar
sem ouvir, ler uma mensagem enquanto faz outras coisas, visualiza e não
responde (ignorar) e prioriza só “áudios curtos” (isso quando não acelera
na velocidade 2x né). Será que não temos feito o mesmo com Deus?

Oração é interação. Demanda tempo a sós, sem distração, paciência e


perseverança. Não devemos encarar a oração como uma obrigação ou uma
disciplina espiritual enfadonha, mas como um meio para crescer em
intimidade com Deus.

 V.43 – “em toda alma havia temor e muitos sinais e maravilhas se faziam”;
Nessa igreja, os milagres eram rotineiros. É interessante que as palavras
“temor” e “sinais/maravilhas” estejam no mesmo versículo. Talvez uma coisa
esteja diretamente relacionada a outra. Por que não vemos tantos sinais, curas
e milagres em nosso meio ainda hoje? Talvez nos falte temor. E não apenas
isso, mas um temor em toda alma, um temor coletivo. Temer a Deus não é o
mesmo que ter medo dEle. Temer significa ter um profundo zelo e respeito
pelos atributos do Senhor. Um grupo de irmãos que se reúne em nome de
Jesus para cultuá-lo com esse tipo de sentimento certamente fomenta um
ambiente propício à manifestação do Amado. Nesse lugar as curas, os
milagres, os sinais e maravilhas certamente nos acompanharão.

 V.44 – “todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum”;


Ajuntamento não é a mesma coisa que comunhão. Vimos que comunhão
significa investimento, doação, entrega. A construção do “nós” requer muito
do “eu”. Eu preciso abrir mão da minha agenda, dos meus recursos e das

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minhas prioridades para perseverar na comunhão. Por outro lado, ajuntamento
é fácil. Basta haver uma espécie de “senso tribal”, uma camisa ou bandeira,
que até entoaremos hinos coletivos como um grande grupo. As torcidas de
futebol fazem isso. Mas não significa que Deus esteja “ordenando a vida e a
bênção” nos estádios de futebol. É na comunhão, no estar junto, em unidade,
que Deus assim o faz. É na unidade que tudo lhes é comum: nada é meu, tudo
é nosso. TUDO.

 V.46 – “todos os dias no templo e partindo o pão em casa”;


Aqui vemos dois tipos de ambientes físicos nos quais a igreja se reunia: o
templo e as casas. É claro que também é comum ver relatos dos cristãos nas
ruas, nas praças, e até mesmo nas prisões. Mas os locais de maior frequência
das suas reuniões eram os seus “GPs” nas casas, e os cultos coletivos no
templo. Devemos lembrar que este templo é o mesmo que estava corrompido,
pois o próprio Jesus pouco tempo atrás havia expulsado de lá cambistas e
corruptos com o Seu chicote (Mt 21:12-17). Para aqueles que já não acreditam
mais na igreja (prédio, estrutura), isso significa que se reunir nesses locais não
é uma questão de opção, é onde devemos estar como Corpo e por tradição
bíblica. Se aqueles que acreditam numa reforma das igrejas não estão nos
lugares onde os não-cristãos, por questões culturais, já costumam frequentar
eventualmente, como crer que essa reforma chegará? A nossa ausência ali não
estaria dando ainda mais terreno para os fariseus cambistas dos dias de hoje?

 V.46b – “comiam juntos com alegria e singeleza de coração”;


Wow, que coisa maravilhosa! Mais uma vez vemos a cultura da mesa, da
comunhão e do partir do pão (generosidade). Mas o mais lindo nessa versículo
é o detalhe que descreve a condição do coração desse povo: alegria e singeleza.
Para os primeiros cristãos, ofertar não era um peso. Partir o pão, amar e ter
compaixão do próximo, não lhes era penoso. Era, de fato, motivo de grande
alegria e leveza. Os mandamentos do Senhor não são penosos (referência ), o
Seu jugo é suave e o Seu fardo é leve (Mt 11:30).

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 V.47 – “Louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias
acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar”;
Um louvor que atrai, e não escandaliza. Um estilo de vida de adoração que
contagia, “cai na graça do povo”. Nesse tipo de igreja, não é preciso elaborar
estratégias de evangelismo para atrair pessoas à Cristo, pois é Ele mesmo
quem acrescenta ao grupo.

 O que mais poderíamos destacar do texto?


Comentários.
4. APLICAÇÃO:

Diante dos pontos destacados, podemos trazer algumas aplicações para o nosso
contexto de igreja como comunidade espiritual. Vejamos:

1. Mais comunhão, menos ajuntamento


Que as nossas programações não girem em torno de uma bandeira, camisa ou
tribo. Mas que o propósito central seja a mesa: estabelecer e crescer em
comunhão, em unidade. Na prática é fácil? Claro que não. É extremamente
desafiador. Mas se Deus criou este princípio e é através disso que Ele “põe
em ordem” todas coisas, significa que Ele acredita que é possível para nós
viver essa cultura. Mas, como saber se estamos desenvolvendo comunhão ou
ajuntamento?
Se, após uma reunião, voltamos para casa da mesma maneira, ou – pior –
saímos falando mal do irmão fulano, da irmã siclana, ou reclamando do
lanche, etc... significa que estamos vivendo ajuntamentos vazios de
significado, e estamos perdendo o nosso precioso tempo. Por outro lado, se a
sexta-feira for o dia mais aguardado da semana, pois, inexplicavelmente, eu
sinto falta de simplesmente estar na companhia dos meus irmãos “chatos” que
tanto amo... ah, então estamos no caminho certo para crescer na Comuhão e
na Unidade. Isso é ser uma comunidade espiritual de amigos, que são Filhos
de Deus, e irmãos uns dos outros.

2. Temor como sentimento, leveza como condição


Podemos aprender que cultivar o sentimento coletivo de temor a Deus gera
ambientes propícios à manifestação da Sua glória, Seus sinais, curas e

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maravilhas. Já temos experimentado isso em certo nível. Como seria se
aumentássemos o nível de temor?
Outro ponto importante, é priorizar a singeleza de coração como condição
para continuar. Permita-me explicar: se ao convidar pessoas, ou servir na
organização do culto, ou ofertar algo para alguém, ou fazer qualquer outra
coisa em nome do Senhor, se essas coisas me geram um peso, então que eu
nem faça! É preferível não fazer do que fazer pelas motivações erradas. A
leveza é um efeito de quem percebe que o rio que borbulha dentro de si está
fluindo naturalmente para determinadas áreas de atuação no Reino. É claro
que não quero dizer com isso que o serviço na missão de Deus não implica
em trabalho. Muito pelo contrário, já vimos que estabelecer comunhão
demanda tudo de mim: entrega, agenda, prioridades – e isso tudo é trabalhoso,
sim! Porém, ao sondar os nossos corações para tais serviços e ao ver os
resultados coletivos de nossa entrega, precisamos ter alegria e singeleza de
coração. Deus não se agrada do serviço por obrigação, mas se compraz na
entrega voluntária: pois isso aponta para o que o Seu Filho bendito fez na
cruz.

3. Somos todos “apóstolos”


“Dois mil anos atrás, apóstolo não era uma palavra ou título religioso, mas
um termo usado em linguagem secular para descrever uma frota de navios de
batalha (mas não limitado a navios) enviada por um rei numa missão
específica. A missão era navegar para território estrangeiro com a finalidade
de colonizar e transformá-lo num lugar com características iguais às da região
de origem. O capitão do navio principal era chamado de apóstolo.
Junto com o apóstolo, viajava uma equipe de profissionais especializados,
como, por exemplo: professores de linguagem e cultura, arquitetos e
construtores, soldados para lutar e manter ordem, médicos e muitos outros
que seriam fundamentais para o sucesso e a expansão da nova colônia. O
apóstolo era enviado com autoridade exclusiva do rei para supervisionar e
direcionar o desenvolvimento da nova colônia. O objetivo final do apóstolo
era garantir que, se o rei fosse visitar em qualquer momento aquela nova
colônia, ele sentiria imediatamente como se nunca tivesse saído de sua
capital. O modo de vida, cultura, linguagem, arquitetura, educação e outros

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aspectos deveria ser exatamente como se praticava em Roma”. Você entendeu
qual a nossa missão como apóstolos do Rei nessa terra?

5. DESAFIO DA SEMANA:

Alguma sugestão?

Eu pensei em separarmos algo p/ o próximo GP. Algo que seja meu para que eu possa
ofertar a alguém. Mas podemos fazer isso de forma intencional. Orar a Deus pra que
ele nos revele: um livro, uma peça de roupa, uma lembrancinha, ou um objeto
qualquer. Vale qualquer coisa, desde que seja uma semente: algo precioso para mim,
não algo que esteja sobrando ou na pilha de doações. Daí podemos em algum
momento ter essa troca de presentes, esse partilhar coletivo que fomenta a
generosidade. O que acham?

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