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GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projeto de pesquisa. 5* ed. Sao Paulo: Atlas, 2010. 4 i as Pesquisas? Como as pesquisas se referem aos mais diversos objetos e perseguem obje~ tivos muito diferentes, é natural que se busque classificd-las. Assim, no presente capitulo procede-se & apresentacdo de diferentes critérios para classificagéo das pesquisas. Em seguida, faz-se a apresentacao sintética dos principais delineamen- tos de pesquisa adotados tanto no campo das ciéncias fisicas e biolégicas quanto no das ciéncias humanas e naturais. 4.1 Que critérios podem ser adotados para classificar as pesquisas ‘A tendéncia & classificagio é uma caracteristica da racionalidade humana, Ela possibita melhor organizacdo dos fatos e consequentemente o seu entendi- ‘mento. Assim, classificar as pesquisas torna-se uma atividade importante. A me~ dida que se dispée de um sistema de clessificagio, toma-se possivel reconhecer as semelhancas e diferencas entre as diversas modalidades de pesquisa. Dessa forma, o pesquisador passa a dispor de mais elementos para decidir acerca de sua aplicabilidade na solugo dos problemas propostos para investigagao. Cada pesquisa é naturalniente diferente de qualquer outra. Dai anecessidade de previsio e proviséo de recursos de acordo com a sua especificidade, Mas quan- do o pesquisador consegue rorular seu projeto de pesquisa de acordo com um. sistema de classificagio, torna-se capaz de conferir maior racionalidade as etapas requeridas para sua enecugdo. O que pode significar a realizacdo da pesquisa em tempo mais curto, a maximizacio da utilizaglo de recursos e certamente a obten- (Glo de resultados mais satisfatérios. ‘As pesquisas podem ser classficadas de diferentes maneiras, Mas para que esta classificacéo seja coerente, é necessério definir previamente o critério ado- 26 como Baber Poe. tado para classificagdo. Assim, é possivel estabelecer m sificagio e defini-las segundo a drea de con ‘explicagiio e os métodos adotados. los sistemas de clas- Analidade, o nivel de 4.1.1 Como classificar as pesquisas segundo a drea de conhecimento ‘As pesquisas podem ser classficadas segundo a drea de conhecimento. Trata se de um sistema importante para definic&o de politicas de pesquisa e concesso de financiamento, Por essa razio que em nivel nacional adota-se a classificagio elaborada pelo Conselho Ni (CNPq), que é a principal agéncia destinada ao fomento da pesqui tecnolégica eA formagao de recursos humanas para a pesquisa no © CNPg classifica as pesquisas em sete grandes éreas: 1 ‘Tera; 2. Gidncias Biol6gicas; 3. Engenharias; 4, Ciéncias da Saide; 5. Ciéncias Agrérias; 6. Citneias Socinis Aplicadas; 7. Ciéncias Humanas. Essas grandes ‘reas sio subdivididas em reas, que corcespondem a conjuntos de conhecimentos inter-relacionados, reunidos segundo a nanixeza dos objetos de investigagio com finalidades de ensino, pesquisa e aplicagbes préticas. Cada uma dessas reas, por sua vez, &subdividida em subéreas, que so estabelecidas em funcio das objetos de cestuda @ dos procedimentos metadalégices.Essas subreas, por fim, sio subdivid das em especialidades, que correspondem a caracterizacao temética das atividades de pesquisa e ensino. 4.1.2 Como elassificar as pesquisas segundo sua finalidade Uma das maneiras mais tradicionais de classificagio das pesquisas é a que estabelece duas grandes categorias. A primeira, denominada pesquisa basica, retine estudos que tem como propésito preencher uma lacuna no conhecimento. A segunda, denominada pesquisa aplicada, abrange estudos elaborados com a finalidade de resolver problemas identificados no Ambito das sociedades em que 1m propésitas \das com a fi- ir para a ampliagéo do conhe: cientifico e sugerir novas questées a serem investigadas. Annotdvel ampliagio da quantidade de pesquisas, tanto bésicas quanto a apli- cadas, bem como sua interdependéncia, vem sugerindo novos sistemas de clas- sificagio. Um desses sistemas ¢ 0 proposto pela Adelaide University (2008), que define as categorias: ome Clair at Paquiee? 27 isa bsica pura, Pesquisas destinadas unicamente & amp io do Pesquisa basica e: nhecimentos direcionados a amplas éreas com: cidos problemas prticos. .quisigéo de novos co- a solugao de reconhe Pesquisa aplicada. Pesquisas voltadas 4 aquisigio de conhecimentos com vistas & aplicagio numa situacio especifica. Desenvolvimento experimental. Trabalho sistemdtico, que utiliza conhe- cimentos derivados da pesquisa ou ex "2 com vistas & produ. do de novos materiais, equipamentos, politicas e comportamentos, ou & instalagéo ou melhoria de novos sistemas e servigas. 4.1.3 Como classificar as pesquisas segundo seus objetives mais gerais Toda pesquisa tem seus objetivos, que tendem, mente, a ser diferen: tes dos objetivos de qualquer outra. No e telagdo aos objetivos mais eras, ow ‘as pesquisas podem ser -adas em explorat critivas e expl péteses. Seu ‘os mais variados aspectos rel dos casos, “rotular” os estudos explo: bibliograficas, estudos de caso e mesmo levat smentos de campo que podem ser considerados estudos exploratérios. sas realizadas com propésitos aca- efinigao clara do que ird investigas, As pesquisas descritivas tém como objetivo a descrigéo das caracteristicas de determinada populasdo. Podem ser elaboradas também com a finalidade de identificar possiveis relagdes entre variSveis. Sao em grande miimero as pesquisas que podem ser classificadas como descritivas ¢ a maioria das que so realizacas com objetivos profissionais provavelmente se enquadra nesta categ\ Enuze as pesquisa descritivas, salientam-se aquelas que t@m por objetivo es- ‘tudar as caracteristicas de um grupo: sua distribuigdo por idade, sexo, procedén. 28 cone tates eos Pages + ot 1 de escolaridade, estado de satide fisica e me i i \dar o nivel ete. Outras pesquisas jimento dos érgfios indice ¢2 criminalidade que af se registra ete. $0 quisas que tém por objetivo levantar as opinides, lacdo. Também séo pesquisas descritivas aquelas que visam descobris de associagées entre varidveis, como, por exemplo, as pesquisas indicam a relago entre preferéncia politico-partidéria e nivel de rendimentos ou de escolaridade. les e crengas de uma Algumas pesquisas descritivas vao além da simples identificacdo da existén- cia de relagoes entre varisveis, e pretendem determinar a natureza dessa relacao. Nesse caso, temn-se uma pesquisa descritiva que se aproxima da explicativa. Hé, porém, pesquisas que, embora definidas como descritivas com base em seus ob- vos, acabam servindo mais para proporcionar uma nova visio do problema, 0 ‘que as aproxima das pesquisas exploratérias, As pesquisas explicativas 1 no props car fatores que deter minam ou contribuiem para a ocorréncia de fendmenos. Estas pesquisas so as que ‘mais aprofundam o conhecimento da realidade, pois tém como finslidade explicar 4 razo, 0 porqué das coisas, Por isso mesmo, constitui o tipo mais complexo delicado de pesquisa, jf que o risco de cometer erros eleva-se consideravelmente, Pode-se dizer que 0 conhecimento cientifico esté assentado nos resultados tivos, Iss0 no significa, porém, que as ps pesquisa explicativa pode ser a continuago de outra descritiva, posto que a iden- tificagio dos fatores que determinam um fendmeno exige que este esteja suficien temente descrito e detalhado, cifncias naturais valem-se quase exclusiva ‘Nas cincias sociais, a aplicacdo deste método reveste-se de m uldades, razdo pela qual se recorre também a outros métodos, sobretudo ao observacional. Nem sempre se torna possivel a realizaggo de pesquisas rigidamente explicatvas em ci sobretudo da psicologia, as pes chegando mesmo a ser chamadas “quase experimentais” 4.1.4 Como classificar as pesqutisas segundo os métodos empregados Para que se possa avaliar a qualidade dos resultados de uma pesquisa, torna- se necessdrio saber coma 0 dados foram abtidos, bem como os procedimentos adotados em sua andlise ¢ interpretagio. Daf 0 surgimento de sistemas que clas- jeam as pesquisas segundo a natureza dos dados (pesquisa quantitativa e qua- va), 0 ambiente em que estes sao coletados (pesquisa de campo ou de labo- rat6rio), 0 grau de controle das variéveis (experimental e nio experiment 0s ambientes em que ocorre a pesquisa s4o muito diversificados. Também siio muito diversos os métodos e téenieas utilizados para coleta e analise dos da- dos. Além isso, hd diferentes enfoques adotados em sua andlise e interpretacdo. (0 que faz com que se torne muito difcil o estabelecimento de um sistema de cassificagio que considere todos esses elements. Por isso, torna-se interessante lassficd-las segundo o seu delineamento. Por delineamento (design, inglés) entende-se o planejamento da pesquisa ideia de modelo quanto a de plano. antificados muitos delineamentos de pesquiss. Como na defi- antos so considerados muitos elementos, nenhum sistema de classificacio pode ser considerado exaustivo, pois € provdvel que se encontre ‘alguma pesquisa que do se enquadre em qualquer das categorias propostas. ‘Também no se pode garantic que as pesquisas possam ser enquadradas numa ica modalidade. © sistema aqui adotado leva em consideracio o ambiente de pesquisa, a abordagem tedrica e as téenicas de coleta e andlise de dados. Assim, definem-se 0s Seguintes delineamentos de pesa \gréfica; 2. pesquisa ‘documental; 3. pesquisa experiment ‘9; 5. estudo caso-contro- ; 6. estudo de coarte; 7. leva estudo de caso; 9. pesquisa etnogréfica; 10. pes ‘nos dados (grownded theory); 12. pesquisa-agao; e 13. pesquisa participante, 4.2 Que é pesquisa bibliografica? A pesquisa bibliogréfiea é elaborada com base em materi ‘icionalmente, esta modalidade de pesquisa inclui material impresso, como ros, revistas, jornals, teses, dissertagGes e anais de eventos cientificos. Tod: em virtude da disseminacio de novos formatos de informagao, estas pesquisas assaram a incluir outros tipos de fontes, como discos, fitas magnéticas, CDs, ‘bem como 0 material disponibilizado pela Internet. Praticamente toda pesquisa académica requer em algum momento a realiza- so de trabalho que pode ser caracterizado como pesquisa bibliografica. Tanto é Que, na maioria das teses e dissertagGes desenvolvidas atualmente, um capitulo 0u Segdo & dedicado & revisao bibliogréfied, que é elaborada com 0 propésito de ‘30. coms Finer: Peete Po fornecer fundamentacéo tedrica ao trebalho, bem como a identificagio do est gio atual do conhecimenta referente ao tema. Em algumas dreas do conhecimento, a maioria das pes base principalmente em material obtido em fontes bibliog: cexemplo, das pesquisas no campo do Direito, da bém sao elaboradas principal id publicado, as pes. quisas referentes ao pensamento de d: ado autor ¢ as que se propsem a snalisar posiqdes diversas em relaclo a determinado assunto, A principal vantagem da pesquisa bibliogréfica reside no fato de permitir 20, investigador a cobertura de uma gama de fendmenos muito mais ampla do que -se particular. muito dispersos ipossivel a um pesquisador percorrer todo o ter 9's sobre populacéo ou senda per capita; todavia, disposigio uma bibliografia adequada, nao terd maiores obstaculos para contar com as informagées requeridas. A pesquisa bi fica também indispensdvel nos estudos hist6ricos. Fm muitas sieuacoés, nao hd outra mancira de conhecer os fatos passados se nao com base em daclos bibliogréficos. grafica tém; no entanto, uma contrapar- tida que pode comprometer em muito a qualidade da pesqiiisa. Muitas vezes, as fontes secundérias apresentam dados col dos de forma equi- vocada. Assim, um trabalho fundam ou mesmo @ ampliar esses erros. Para reduzir essa possibilidade, convém aos pesquisadores assegurarem-se das condigées em que os dados foram obtidos, analisar em profundidade cada informagio para descobrir posstveis incoeréncias ou contradigées e utilizar fontes diversas, catejando-as cuidadosamente, érealizada com cas. 0 caso, por da Literatura, Tam- aquela que poderia pesquisar diretamente, Essa vantagem ‘mente importante quando 0 problema de pesquisa requer dac pelo espaco. Por exemplo, seria 4.3 Que é pesquisa documental? 16 utilizada em praticamente todas as ciéncias sociais jeamentos mais importantes no campo da Histéria ¢ da Economia. Como delineamento, apresenta muitos pontos de semelhanga com a isa bibliogréfica, posto que nas duas modalidades util tentes. A principal diferenga esta na natureza das fontes. A pesquisa bibliogréfica Jundamenta-se em material elaborado por autores com o propésito especifico de ser lido por piiblicos especificos. Jé a pesquisa documental vale-se de toda sorte de documentos, elaborados com finalidades diversas, tais como assentamento, autorizacéo, comunicacéo etc. Mas hd fontes que ora s4o consideradas bibliogré ficas, ora documentais. Por exemplo, relatos de pesquisas, rel wente se recomenda € que seja considerada fonte documental quando o material rnsultado ¢ interno a organizacio, e fonte bibliogréfica quando for obtido em iliotecas ou bares de dados. is comum de documento & a constitufda por um texto mas estdo se tomnando cada vez mais frequentes os docu- is sob os mais diversos formatos. O conceito de Jacumento, por sua vez, é bastante amplo, jé que este pode ser constitufdo por jualquer objeto capaz de comprovar algum fato ou acontecimento. Assim, para im arquedlogo, um fragmento de ceramica pode ser recoahecido como um im- portante documento para o estudo da cultura de povos antigos. Inscrigées em pparedes, por sua vez, podem ser consideradas como documentos em pesquisas ‘io campo da comunicagéo social entre os mais utiizados nas pesquisas esto: 1. documentos institucio- ‘mantidos em arquivos de empresas, érgdos piiblicas e outras organizacées; 2, documentos pessoais, como cartas e di ‘material elaborado para fins de divulgacio, como folders, catdlogos e convites; 4. documentos juridicos, como ‘eftidoes, escrituras, testamentos e inventérios; §. documentos iconogréticos, smo fotografias, quados e imagens; ¢ 6. registzos estatisticas, 4 Que é pesquisa experimental? © esquema bisico da experimentagao pode ser assim descrito: seja Zo fe- ‘ndmeno estudado, que em condictes nao experimentais se apresenta perante os fatores A, B, Ce D. A primeira prova consiste em controlar cada um desses fat res, anulando sua influéncia, para observar o que ocorre com os restantes. Seja oexemplo: ABeC —— produzemZ ABeD nfo produzem Z BGeD —produzemZ Dos resultados dessas provas, pode-se inferir que C condigao para a pro- ugdo de Z. Se for comprovado ainda que unicamente com o fator C, excluindo- 0s demais, Z também ocorre, pode-se também afirmar que C é condigio ne- cesséria ¢ suficiente para 2 ocorréncia de Z, ou, em outras palavras, que é sua "ausa. Claro que o exemplo aqui citado 6 extremamente simples, pois na prética verificain-se condicionamentos dos mais diferentes abalho 32 como bore Pao de Fg + i estudo sfio entidades fisicas, tais como porgbes de .goes quanto & pos- ficam grandes de experimentagio. Quando, porém, se trata de i, ow seja, com pessias, grupos ou: idade do ser humano, sua historicidade e, sobretudo, .gio de pesquisas experiment cexperimentos com seres humanos no ambito da Ps) sobre aprendizagem), da Psicologia Social (por © ‘des, comportamento de pequenos grupos, efeitos da propaganda et. Jogia do Trabalho (por exemplo: influéncia de fatores sociais na pré ‘A pesquisa experiment jeamento mais pr ientifieos. Consiste essencialmente em determinar um objeto de estudo, selecio- nar as varidveis capazes de influencié-lo e definir as formas de controle e de ob- servagio dos efeitos que a variével produz no objeto. Trata-se, portanto, de uma pesquisa em que o pesquisador é um agente ativo, e nao um observador passivo, ‘A pesquisa experimental, ao contrario do que faz supor a concepcao popular, nfo precisa necessariamente ser realizada em laboratério. Pode ser desenvolvida fem qualquer lugar, destle que apresente as seguintes propriedades: 4) manipulagio: o pesquisador precisa fazer alguma coisa para mar lar pelo menos uma das caracterfsticas dos elementos estudados; +) controle: o pesquisador precisa introduzir um ou mais controles na situacio experimental, sobretude criando um grupo de controle; ©) distribuigéo aleatéria: a designacio dos elementos para participar os grupos experimentais € de controle deve ser feita aleatoriamente. Em muitas pesquisas, procede-se & manipulagdo de uma varidvel indepen- dente. Nem sempre, porém, verifica-se © pleno controle da aplicagao dos esti- mulos experimentais ou a distribuicéo aleatéria dos elementos que compéem os, grupos. Nesses casos, néo se tera rigorosaunente uma pesquisa experimental, mas ‘quase-experimental (CAMPBELL; STANLEY, 1979). Por exemplo, em populagdes, grandes, como as de cidades, indhistrias, escolas e quartéis, nem sempre se torna. possivel selecionar aleatoriamente subgrupos para tratamentos experiment Giferenciais, mas toma-se poss{vel exercer, por exemplo, o completo controle experimental sobre esses subgrupos. Esses delineamentos quase-experiments s40 substancialmente mais fracos, porque sem a distribuicao aleatéria ndo se pode garantir que os grupos experimentais ¢ de controle sejam iguais no inicio do estudo. Nao sto, no entanto, destituidos de valor. O importante nestes casos & que o pesquisador apresente seus resultados esclarecendo 0 que seu estudo deixou de controlar, ‘coma sea us Pesquisas? 83 114, ainda, pesquisas que, embora algumas vezes designadas como experi- mentais, nfo podem, a rigor, ser consideradas como tal. £0 caso dos estudos Jue envolvem um tnico caso, sem controle, ou que aplicam pré-testee ps-teste a wm tnico grupo. Essas pesquisas apresentam muitas fraquezas ¢ melhor serd Garacterizé las como pré-experimentais (CAMPBFLL; STANLEY, 1978), .5 Que é ensaio clinico? COs ensaios elinicos constituem um tipo de pesquisa em que o investigador apl ‘cauum tratamento ~ denominado intervengio ~ e observa os seus efeitos sobre um

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