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FA (aap Ags Reha - Cade Unless jail Fox OLY SS87)R19 30227 2638,2683 ot nal 1990, ee Fe NDS 52) S100 OE, pee" IL | uveas [reo ns, Sbsepoicesder ate com gu pio secon. Aare do Pgs SOSSOSSHSHOGOSHOHOHDHOHSHISOSSHSEOAS SUMARIO Preficio . sees ceceeeee : u Totrodugio: A Poética da Historia... nt Pane! ATTRADICAO RECEBIDA: 0 ILUMINISMO 0 PROBLEMA DA CONSCIENCIA HISTORICA 1. A Imaginagdo Historica entre a Metéforae a Lrouia 2 Hegel: A Postica da Histéria © 0 Caminho para além da Ironia Parte I QUATRO TIPOS DE “REALISMO” NA ESCRITA HISTORICA DO SECULO XIX ichelet: O Realisma Hlistérico como Estéria Romanesca . . “7 : 175 203 2a 1 2. Ranke: O Realismo Histérico como Comédia 3. Tocquesille: O Realismo Histérico como Tragédia 4 Burckhardt: O Realismo Historica como Sitira Parte itt © REPUDIO DO “REALISMO” NA FILOSOFIA DA HISTORIA DO FINAL DO SECULO XIX. 1. A Consciéncia Hist6rica e o Renascimento da Fiosofla da Historia 2. Man: A Defesa Filosdfica da Histéria no Modo Metonimico 3. Nietzsche: A Defesa Poética da Histéria no Modo Metaférico « 4, Croce: A Defesa Filoséfica da Histéria no Modo Irdnico - . Conclusso..- Bibliografia . =... Indice Remissivo 13 43 489 PREFACIO. Esta andlise da estrutura profanda da imaginagio histériea & precedida por umaintrodugio metodoligia.Alitento expor,explictamente ede mancira J Etemlic, os principios interpretalivosem que se haseia 0 trabalho. Enquanto Tinos elisicos do pensamento histSrien europen do steulo XIX tornow-st para sim evidente que considerd-los como formas representalivas da reflexaohisto- ‘ea pressupuaia uma (eoria formal do trabalho historco, Procursi apresentar tal tcoria na introdugio. "Nessa fcoriatratoo trabalho istérico como o que ele manifestamente &: uma csirutura verbal ma forma de um discurso narrativo em peosa. As histo ( flosolias da hisséria tambéra) combinam cerfa quantidade do “dados”, coaceitos tebices para “explicar” esses dadas e wma estruturanarraliva que 08 presenta como um {cone de conjantas de eventos presumivelmente ocorridos fem lempos passados. Além disso, digo eu, cles comportam um conteido {strutural profando que & em geral pottico ¢, especficamente, Yingiistico ‘Su natureza, e que faz as veres do paradigms pré-criticamente aceito daguilo ‘que deve ser uma explicagdo eminentemente “histrica”. Esse paracyma fn- Gina como o elemento “meta-his.rico” em todos os trabalhcs histories que ‘lo mais abrangentes em sua amplitude do que a monograia ov o informe de arquivo. "A terminologia que empregues para caracterizar os dversos niveis em que se desdobra um relato 0 € para consti alogia de estilos bistordograiicostalvezse mostre desorientadora. Mastentei primeiro identificat as dimensses manifests ~ epistemolégicas, eséticas € morais ~ do (rabalho Iistérico es6 depois penetrar até 0 nivel mais profundo em que cssas operacdes 860090086058 SOS 8HHTHEHEONNHEHHBBD Rn omen TE t6ricas fuadam suas sungées pré-criicas implictas. Ao contrério de outros analistas da escrita historic, ndo suponho que a subestrutura “meta-hist6riea” do trabalho hist6rico consista nos conccitos teSricos explicitamente pelo historincor para dar a suas narrativas o aspecto de ama “erplicagio”. ‘Actedito que tais eonceitos compreendem o nivel manifesto do trabalho, visto ‘que aparecem "da texto © podem comumente ser identificados com relatva facilidade. Distingo, porém, tes tipos de estratégias que podem ser usadas pelos hisoriadores para alcangar diferentes tipos de “impressdo explicativa”. Chama, a essas estatégias, explicacio por argumentagio formal, ‘explicagio por elaboragio de enredo” ¢ explicagio for implicagSo deolégicn. Dentro de cada uma dessas diferentes estratépias Wdentifico quatro possiveis rmodos de articulagio pelos quais pode o historiador alcangar uma impresséo cexplicativa de tipo especiico, Para os argumentos hs es modos do formisma, do ‘organicismo, do mecanicismo ¢ do contextvalsmo; para as elaboragtes de ‘ented ha os arquétipos da est6ra romanesca*, da comédia, da tragédia eda sétira; ¢ para a implicacéo idealégica hd as taticas do anarquismo, do.conser- vantismo, do radicalismo c do liberalismo, Uma commbinagao especifica de ‘modos constitul o que chamo de “estilo” historiegréfico de determinado Tisioriador ou filgsofo da historia. Procurei explcar esse estilo em meus cestudos sobre Michelet, Ranke, Tocqueville ¢ Burckhardt entre os res, ¢ sobre Hegel, Marx, Nictasche © Croce entre os filésofos da hist Europa do século XIX. ‘A fim de correlacionar esses diferentes estilos como elementos de uma {inica tradicdo do pensamento historia, fui forgado a postular um nivel profun- do de consciéneia no qual um pensador da hisiria escolhe as estratégias Conceituais cam que iréexplicar ou representar seus dades. Nesse nivel, acre- dito, o historiador realiza um ato esseacialmcate poética, em que prefigura o ‘campo histérico e 0 constitai como um dominio vo qual & passival aplicar as teorias especifens que vilizaré para expicar “o que-esava reatmente aconle- cendo” nee. Esse ato de prefiguracde pode, por suave, assuriz certo mGimera de formas cujos tipos séo earacerizaveis polos mors ingifsticas em que esto vazados. Seguindo uma tradigio de interpretacéo que remonta a Arisibtelese que, mais recentemente, foi deseavoliide por Vico, peas lingistas modernos e ples tecbrios da literatura, dua essestipas de prefiguracao.ds names los quatro tropes da linguagem poética: metéfora, metonimia, sinédoque € ironia, Como & bastante provivel que essa terminologia seja estranha a muitos dos meus ia, da 1 Explanet no orignal Inutde sql gus seme pr eshrsin Je ered” No etn, ut at CGimapseiis- teen roped pes way, coae pode pda epi “p ee ‘ted’ enpteats pt rol na Coste Lint prs a ons otra enpomen 3 shoae each ‘etiayden We emer 0 Cnr do apni iS. SEP Bene 3984p. 165 ™ ‘heats amplits Ride lane, Frese Unvertiss 183, 16) dT Romances co orga “Etria romans i id sad dopa Pues Bnd Sih Remo do ino de Narteop Pe Ansan Cao (Sho Fest, Clg, 973. mul aur de an Fina ei beat nage de moon de stage nda. Ve ante ogo wry Mera asronua 2 leitores, explico naintroducio por que a empregueie o que entendo por suas ceategorias. ‘Um das meus intuitos fundamentais, ém daquele de identificar ¢ interpretar as principais formas de consciéncia historica na Furopa citocen- ita, € estabelecer os elementos inconfundivelmente poéticas presentes na historiografia © na filosofia da histéria em qualquer €poca que tenham sido ‘postos em prética, Diz-se com freqGéncia que a hist6ria € uma mescla de ‘éacia e arte. Mas, conquanto recentes filbsofos analticas tenhamn conse- guido aclarar até que posto € possivel considerar a histéria como uma Imodalidade de ciéncia, pouquissima atencéo tom sido dada a scus compo- rnentes artisticos. Através da exposicdo do solo lingifstico em que se consti tuiu uma deter idéia da histéria tento estabelecer a natureza inelutavelmente pottica do trabalho hist6rico e especificar o elemento pre: figurativo aum relato histérieo por meio do qual seus eoneeitos tedricos foram tacitamente sancionades. ‘Assim, postulo quatro modos pri conseqQncia da estratépia prefgurativa (ropolbaica) que informa ada um deles: metAfora, sinédoque, mstonimia ¢ ironia. Cada um desses modos de consciéncia proporciona a base para um protocol linglistico preciso com que prefigurar 0 campo historicoe a partir do qual podem ser empregadas estraté- as especifieas de inlerpretacao histérica para “explicé-o”. Alirmo que os Tmesires reconhecides do pensamento historico do século XIX podem ser ‘compreendidos, ¢ que suastelacées mituas como participantes de umattradicgao ‘comm de investigagio podem ser confirmadas, pela explicagio dos diferentes rods tropol6gicos que Ihes inspira ¢ informa o trabalho. Em suma, € minha ‘opinifo que 0 modo tropolégico dominante ¢ seu concomitante protocolo ngistico compéem a base irredutivelmente “meta-hist6rica” de todo trabalho istorico, E sustento que esse elemento meta-historico nas obras dos historia- ue impli Iesno podramter padre o Por fmm, tento mostrar que as obras dos prinipais fildsofos da historia do stoulo XIX (Hegel, Marx, Nietzsche e Croce) sb diferem das dos seus homélo- gos no que ds vezes se denomina “hist6ria propriamente dita” (Michclet, Ranke, ‘Foequeville ¢ Burckhardt) quento a énfase, ado quanto ao cantetida. O que ‘permanece implicto nos historiadores € simplesmente levado a superficie ¢ sitomaticamente defendido nas obras dos grandes fildsofos da hist6ria. Ndo é acidente o fato de que os principaisflésofes da histéria foram também (ou posteriormente se descobrin que foram) quintescenciaimente flégofos da line [Buagem. Por iso 6 que foram capazes de compreender, de modo maisou menos autoconsciente, os fundzmentes posticos, ou pelo menos lingdisticos, em que tiveram suas origens as 2orias supestameate “‘cicatticas” da historiografia do século XIX. Naturalmente esses fldsolos procuraram isentar-sv das acusagies {dedeterminismo lingistieo com que atecavam scusadversérins. Mas¢ incgdvel, acu ver, que todos eles entendiam a proposiglo essencial que tento demons: “ teen was (ear: que, em qualquer campo de estudo ainda nao reduzido (om elevade) 20 estaiuto de verdadeira cifncia, o pensamento permanee: cativa do modo ingistico no qual procura apreender o contorno dos objetos que povosm seu campo de percepcio. ‘As conclusées gersis que extraio do men estudo da consciéacia historica citocentista podem ser assim sumariadas: 1) nio pode haver “historia propria- ‘mente dita” que ni seja ao mesmo tempo “filosofia da hist6ria”; 2) 0s modos possiveis de historiografia s5o os mesmos que os modos possiveis de filosofia especulativa da histria; 3) esses modos, por sua vez, so na realidade formali- zag6es de intuic6es potticas que analiticamente os precedem ¢ que sancionam 4s corias particulares usadas para dar 20s relatos hist6ricos a aparEncig de uma, “eaplicagdo”: 4) nfo hé apodicticamente premissas te6ricas infalivcis em que se possa de forma legtima assentar uma jusiicativa para dizer que um dos smodos € superior 20s outros por ser mais “realista; 3) em conseqaéncia disso, estamos iremediavelmente presos a uma escozha entre estratégias interpret tivas opostas em qualquer esforco de refletir sobre a historia em geral; 6) come coroléric disso, os methores fundamentos para escolher uma perspec- (iva da bist6ria em lugar de outra sio em éltima andlise antes estéticos ow ‘moras que epistemolbgicos:, finalmente, 7} a exigéncia de cientifcizagio da historia representa apenas a declaragio de uma preferéacia por uma modalidade especifice de conceplualizagao historica, cujas bases sio ou rmorais ou estéticas, mas cuja justificagdo epistemoligica ainda esta por estabelecer. Ao apresentar minhas andlises das obras dos pensadores hist6ricos ‘magistrais do século XIX na ordcm em que aparecem, procura sugerie que O [pensamento deles representa a elaboragio das possibilidades de prefiguragso {ropolbgica do eampo hist6rico contides na linguagem postica em geral. O aprovsitamento real dessas possibilidades é, no mew modo de ver, 0 que mergulhou o pensar histGrico europeu na condigao irdnica do espirito que © aprisionov 0 final do século XIX e que € as veres chamada de “crise do historicismo”, A izonia, cuja forma fenoménica era esta “crise”, continuou desde entioaflorescer como 0 medo domianle da histeriografiaprofisioncl, tal como era cultivads nos meios académicos. 1ss0, ercio ex, & 0 que explica ‘unto o torpor tebrica des melhores representantes da moderna historiografia, acadl&mica quanto as mumerosas rebclides contra a consciGneia histériea em geral, que marcam a literatura, @ ciéncia social ¢ & filosofia do século XX. Espera-se que o presents estudo clucide as razdes desse torpor por um ladoe das rebeliées por outro. Talver nd passe despercebido que este mesmo livro esta vazado num ‘modo is6nico, Mas a ironia que 0 informa € conscicate € portanto representa uma volta da conscignciairénica contra a pr6pria ironia. Se lngrarestabelecee que 0 cetiismoe o pessimismo de grande parte do pensar hist6rico contempo- riinco Lém suas origens numa disposigdo de espirito irdaica, e que esta Uisposi- ‘io de ospitito & por sua ver apenas uma dentre muitas postures possfeis 3 adotac diante do registra his:érico,tera proporcionado alguns dos motives para sraisTom a _uma rejegdo da prépriaironia.Eteré sido parcialmente desbravado ocaminho para a reconstituigéo da histéria como forma de atividade intelectual que ¢ 20 resmo tempo pottica,cientificae iloséfica cm suas preocupagées - como fai durante a idads de ouro da istérie no século XIX. OSHCSCHSHSCSSOHDFVOSHHOHHHDFHSHEDODGIOD INTRODUGAO APOETICA DA HISTORIA Este livro 6 uma histvia da consciBocia hstérica na Europa do sécolo XIX, mas também pretends coatrbuir pera a atual discussSo do problema do conheclmentohistonco, Como tal representa no s6.uma exposigio do desen- ‘eolvimentodo pensar histrico durante um perfodo especifico de sua evolugdo nas tasobém uma teoria geral da estrutura daquele modo de porsamento que E chamado de “hist6rico”. ‘Que signfiea pensar histrcamente © quai sio 2s caraceriticas incan- fundiveis de ummétodo especificamente histérico de investizagzo? Essas ques- {Ges foram debatidis durante todo o século XIX por bstoriadores, fdsofes © {ebricos socials, mas abitualmente dentro do contexto da supasiga de que era posstvellhes dar resposta inequivocas. A “histria” era considerada um modo specifica de existéncia, a “conscincia histGrica” um moda preciso de pensa- mento, © 0 “comhecimento bistérico” um dominio autSnoma no especico das cléncias humanasefsins ‘No séeulo XX, porém, as consideragées em torno dessas questGes 5 processim numa atmesfera um posica menos aufoconfiante © em presenga de Sra recefo de que tele ndo baja possbilidace de Ihes dar respostas defimitivas. Ponsadores da Europa continental Strauss e Michel Foucault ~ expres onsciéacia especificamente "hstdrica", sublinharam o caréter fitiio das rcconstrughes histrieas @ contestaram as pretensbes da historia a um lugar tnire as ci8nelas!, Ao mesmo tempo, igsofes anglo-americanos produziram 1 Vero "The Baeen et Misty et and Tay 5 082586711 em eae race {2 Spemtna on setuatc htoncy Guano aanlenares manent Yet hae Sra, @ ermen wae ‘uma alentada bibliografa sobre aposigSo epistemol6gica es fungSo cultural da reflexao bistorica, biblcgrafia que, tomada em conjunto,jusifica infensas

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