236-7, DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA, 10ª VARA.
AGRAVANTES : CLAIR BELLÉ DE SIQUEIRA E
OUTROS.
AGRAVADA : CRISTIANE MARIA BELLÉ DE
SIQUEIRA CHAPAVAL.
RELATOR : Des. ACCÁCIO CAMBI.
INVENTÁRIO. ESBOÇO DE PARTILHA.
IMPOSSIBILIDADE DE COMPOSIÇÃO. DECISÃO AGRAVADA: INTIMAÇÃO DA INVENTARIANTE PARA PROCEDER A AVALIAÇÃO DOS BENS, ATRAVÉS DE TRÊS IMOBILIÁRIAS CONCEITUADAS. AGRAVO. VIÚVA-MEEIRA E HERDEIROS SEM CONDIÇÕES PARA COMPRAR O QUINHÃO DA HERDEIRA DISCORDANTE E DIREITO REAL DE HABITAÇÃO DA VIÚVA. DECISÃO REFORMADA, EM PARTE. 1. Existindo entre os bens do espólio um imóvel, que vinha sendo ocupado pela viúva-meeira, esta tem o direito real de habitação (art. 1.831/CC) e “os titulares da herança serão condôminos do viúvo, que também tem a propriedade em razão da meação”. 2. Os demais bens do espólio, que são “insuscetíveis de divisão cômoda” (art. 2.019/CC), serão vendidos, de forma a “solucionar a dificuldade que surge na partilha, quando o imóvel não cabe no quinhão de um só herdeiro, ou não admite divisão cômoda.” Agravo de Instrumento nº 317.236-7 2
VISTOS, discutidos e examinados estes autos de agravo de
instrumento n° 317.236-7, do FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA, 10ª VARA, em que são agravantes CLAIR BELLÉ DE SIQUEIRA E OUTROS e agravada CRISTIANE MARIA BELLÉ DE SIQUEIRA CHAPAVAL.
1. Insurgem-se, CLAIR BELLÉ DE SIQUEIRA,
VIVIANE MARIA DE SIQUEIRA ZANELLA e seu marido JOSÉ LUIZ ZANELLA, LUIZ ANTONIO DE SIQUEIRA JUNIOR e sua mulher MIRIAM ROSANE GOMES DE SIQUEIRA, contra a decisão, fotocopiada à fl.51, proferida nos autos de inventário (nº 529/02), dos bens deixados pelo falecimento de Luiz Antonio de Siqueira, em que é inventariante CLAIR BELLÉ DE SIQUEIRA, nestes termos:
“1. Tendo em vista a impossibilidade das partes comporem
quanto a forma de partilha dos bens, determino que todos os bens a serem partilhados sejam avaliados, para sua venda, sendo que, apenas posteriormente a venda, é que ocorrerá a partilha do montante em dinheiro.
“2. Desta forma, determino que a inventariante apresente a
avaliação dos bens imóveis, através de avaliação de três imobiliárias conceituadas, no prazo de quinze dias. ...” Agravo de Instrumento nº 317.236-7 3
Sustentam, os agravantes, que não houve acordo entre os
herdeiros para a realização de partilha amigável e, assim, propuseram que todos os bens do espólio ficassem em comum; que a decisão agravada equivocou-se ao determinar a avaliação e venda dos bens do espólio, pois apenas uma herdeira discordou da criação de condomínio sobre os bens do espólio e, além disso, a viúva-meeira detém o direito real de habitação sobre o imóvel residencial, motivo pelo qual tal bem não pode ser alienado; a agravada pretende receber seu quinhão em dinheiro, porém o espólio não tem numerário suficiente para pagar o quinhão da agravada; os demais herdeiros não têm condições financeiras para comprar o quinhão da agravada e não podem ser compelidos a alienar os bens do espólio. Requerem o efeito suspensivo e, afinal, o provimento do recurso, para determinar a formação de condomínio sobre os bens do espólio e o reconhecimento do direito real de habitação da viúva meeira.
Indeferido o efeito suspensivo requerido, oficiado ao Dr. Juiz,
e intimada a agravada, esta apresentou resposta, pugnando pela manutenção da decisão agravada.
2. Assiste razão, em parte, aos agravantes.
Entre os bens deixados pelo falecimento de Luiz Antonio de
Siqueira, encontra-se um terreno constituído pelos lotes nºs. 1 e 2, da subdivisão da quadra 4, da planta Jardim Mercês, situado, na Rua Amapá, em Curitiba-PR, contendo uma casa residencial, onde reside a viúva-meeira CLAIR BELLÉ SIQUEIRA.
Sobre tal imóvel a viúva-meeira detém o direito real de
habitação, por se tratar de “o único (bem) daquela natureza a inventariar”, de acordo com o que dispõe o artigo 1.831 do C.Civil, enquanto aos herdeiros, “Os titulares da herança serão condôminos do viúvo, que também tem a propriedade em razão da meação e não, Agravo de Instrumento nº 317.236-7 4
evidentemente, em decorrência do direito sucessório”, conforme ensina EDUARDO DE
OLIVEIRA LEITE (Com. ao Novo Código Civil, 3ª edição,vol. XXI, pág. 226).
Assim, com relação ao mencionado imóvel, torna-se inviável
a eventual venda, em razão daquele benefício, assegurado pelo Código Civil, ao cônjuge sobrevivente.
Quanto aos outros bens inventariados – imóvel de veraneio,
situado em Guaratuba-PR; pequena quantia em dinheiro; direitos de posse de um terreno rural em Almirante Tamandaré-PR e metade do lote de terreno nº 16, da quadra 03, Planta Savóia, em São Braz, Santa Felicidade, em Curitiba-PR - , que são “insuscetíveis de divisão cômoda”, porque os interessados são viúva e herdeiros (3) e um dos herdeiros, a ora agravada pretende receber a sua quota-parte em dinheiro, a única solução viável consiste na venda judicial daqueles bens, na forma prevista no artigo 2.019 do C.Civil, já que “O escopo do dispositivo é solucionar a dificuldade que surge na partilha, quando o imóvel não cabe no quinhão de um só herdeiro, ou não admite divisão cômoda.” (EDUARDO DE OLIVEIRA LEITE, obra citada, pág. 807).
Nessas condições, reforma-se, parcialmente, a decisão
impugnada para: a) assegurar a viúva-meeira agravante o direito real de habitação no imóvel em que reside já referido e b) manter, no mais, a decisão agravada, que determinou à inventariante: “apresente a avaliação dos bens imóveis, através de avaliação de três imobiliárias conceituadas, no prazo de quinze dias.”
3. ACORDA a Décima Primeira Câmara Cível do Tribunal
de Justiça do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao agravo, para os fins anotados no corpo do acórdão. Agravo de Instrumento nº 317.236-7 5
Participaram do julgamento e acompanharam o voto do
relator o Desembargador MENDONÇA DE ANUNCIAÇÃO e o Juiz Convocado ESPEDITO REIS DO AMARAL.
Curitiba, em dezoito de janeiro de dois mil e seis.