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Ricardo Reis

1.

Não só quem nos odeia ou nos inveja


Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afectos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses

2.
Pois que nada que dure, ou que, durando,
Pois que nada que dure, ou que, durando,
Valha, neste confuso mundo obramos,
E o mesmo útil para nós perdemos
Connosco, cedo, cedo,
O prazer do momento anteponhamos
A absurda cura do futuro, cuja
Certeza única é o mal presente
Com que o seu bem compramos.
Amanhã não existe. Meu somente
É o momento, eu só quem existe
Neste instante, que pode o derradeiro
Ser de quem finjo ser?
3.

Segue o teu destino,


Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam

1- Indique três regras da arte de viver, justificando com expressões do poeta.

2- Mostre em que medida se diferencia a realidade daquilo que "somos".

3- Indique o modo em que se encontram as formas verbais "Segue" (v.1),


"Rega" (v.2), "Ama" (v.3), "Deixa" (v.14), "Vê" (v.16) e "Imita" (v. 22) e refira
o respectivo valor expressivo.

4- Para Ricardo Reis, a apatia é o ideal ético, é o comportamento que convém


seguir na vida. Escolha a expressão que melhor exprima essa apatia,
justificando a resposta

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