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Colo Uterino – Aula 3

Inflamações – Colpites e Cervicites

• Colpite: inflamação da cavidade vaginal; cervicite: inflamação do colo do útero.


• Menarca → produção de estrogênios pelo ovário estimula a maturação da mucosa escamosa cervical e vaginal e a formação de
vacúolos de glicogênio intracelular nas células escamosas. À medida que essas células descamam, o glicogênio fornece um
substrato para microrganismos vaginais endógenos aeróbios e anaeróbios, mas particularmente para os lactobacilos →
produzem ácido lático, que mantém o pH vaginal abaixo de 4,5 e produzem H2O2 que é bacteriotóxico;
• Fatores que aumentam o pH: sangramentos, relação sexual, ducha vaginal, antibióticos → suprime a produção de H2O2 pelos
lactobacilos → ambiente vaginal alterado promove o crescimento excessivo de outros microrganismos → cervicite ou vaginite.
• Algum grau de inflamação cervical pode ser encontrado em virtualmente todas as mulheres → subclínico (sem sintomas
significativos);
• Infecções por gonococos, clamídia, micoplasma, vírus do herpes simples, tricomonas, cândida → sintomas desagradáveis, DIP e

DST;
→ Neisseria gonorrhoeae (gnococo): causa comum de DIP aguda. Corrimento amarelado de odor fétido e dispareunia.
→ Clamídia e micoplasma: não causam muitos sintomas locais, mas causam DIP aguda;
→ Herpes simples tipo 2: causam feriadas que começa com lesão bolhosa, e ao romperem, formam uma úlcera dolorosa, com
desconforto durante a relação sexual (dispareunia). É menos comum de ocorrer no colo uterino – mais comum na parte
externa.
→ Trchomonas: corrimento bolhoso, acinzentado de odor fétido, dispareunia.
→ Cândida: prurido, corrimento branco e leitoso (aspecto de coalhada), geralmente sem odor desagradável, dispareunia –
considerada DST por alguns.
• A doença inflamatória pélvica aguda ocorre quando microrganismos invadem a cavidade podendo infectar o endométrio, a tuba
uterina, o ovário e o peritônio, podendo apresentar as seguintes características:
→ Abcesso tubo ovariano;
→ Piossalpinge: pus na tuba – pode evoluir para hidrossalpinge → líquido na tuba
→ A infertilidade é a principal sequela da DIP e decorre da inflamação, estreitamento, fibrose e outras alterações na tuba
uterina.

Histologia e anatomia do colo uterino

•O colo uterino compreende a porção vaginal externa (ectocérvice) e o canal


endocervical.
• Ectocérvice: epitélio escamoso contínuo com a parede vaginal. O epitélio escamoso
converge centralmente em uma pequena abertura, o orifício externo, que se
continua com o canal endocervical.
• Endocérvice: cavidade interna do colo uterino, revestida por epitélio colunar com
glândulas.
• O ponto onde o epitélio escamoso e o colunar se encontram é chamado de junção
escamocolunar. A posição da junção varia e muda com a idade e a influência
hormonal.
• O epitélio colunar é frágil e não aguenta bem a acidez da vagina, enquanto o escamoso
é protetor e aguenta melhor a acidez vaginal.
• A substituição do epitélio glandular pelo avanço do epitélio escamoso é um processo

chamado de metaplasia escamosa; Figura 1. Local da JEC nas mulheres A.


• A área do colo uterino onde o epitélio toca o epitélio escamoso é chamada de “zona
menarca; B. ciclo menstrual; C. menopausa;
D. pós menopausa.
de transformação” → por isso, a idade de acontecimento do HPV é predominante
em mulheres em idade reprodutiva, pois atua nesse processo em que tem
alterações celulares.
• O ambiente epitelial singular do colo uterino o faz altamente suscetível a infecções com HPV. As células epiteliais metaplásicas

escamosas imaturas na zona de transformação são mais suscetíveis à infecção por HV, e como resultado disso, é onde se
desenvolvem as lesões e canceres precursores cervicais.

Câncer de colo de útero

•É o segundo mais comum em mulheres;


• 80% é carcinoma espinocelular (epitélio escamoso); 15% é adenocarcinoma;
• Fortemente associado com lesões pré-neoplásicas; 1 milhão de lesões pré cancerígenas/ano;
• Preventivo (Papanicolau): exame de triagem de alta sensibilidade e baixa especificidade (não é comum dar falso negativo).
• Fortemente associado com HPV. Além do câncer, o HPV pode causar condilomas – lesões benignas (em casos de imunossupressão,
como na AIDS, pode ocorrer condilomatose);
•O HPV está relacionado também ao câncer de vagina, de vulva, de pênis, de anus e de orofaringe.
• A maior parte das infecções por HPV são assintomáticas e sem alterações teciduais.
• O HPV, ao entrar no organismo, pode seguir por três caminhos: ser combatido totalmente pelo sistema imunológico, causar
doença e se manifestar como verrugas ou lesões pré-cancerígenas (a depender do tipo) e ainda pode ficar latente no organismo
e se manifestar depois, em casos de imunossupressão por exemplo.
• Os HPVs infectam as células basais imaturas do epitélio escamoso em áreas de ruptura epitelial ou células escamosas metaplásicas
imaturas presentes da junção escamocolunar.
→ Coilócitos: atipia nuclear e halo perinuclear → coilocitose
• Os HPVs não infectam as células superficiais escamosas maduras que recobrem a ectocérvice, a vagina e a vulva. O
estabelecimento da infecção por HPV nesses locais requer lesão do epitélio superficial, permitindo acesso do vírus às células
imaturas da camada basal do epitélio.
• A capacidade de o HPV agir como carcinógeno depende das proteínas virais E6 e E7, que interferem na atividade das proteínas
supressoras de tumores, que regulam o crescimento e sobrevivência das células.
• A proteína irá E7 se liga à forma ativa do RB e promove sua degradação através da via do proteossomo → aumenta a progressão
do ciclo celular e atrapalha a capacidade das células de reparar o dano ao DNA;
• O defeito na reparação do DNA é exacerbado pelas proteínas irais E6 dos subtipos de alto risco do HPV, que se ligam à proteína
supressora de tumores p53 e promovem sua degradação pela proteossomo.
• 6, 11 – Verrugas genitais ou condilomas (lesões benignas);
• 16, 18, 31 e 33 – HSIL e câncer

→ O 16 é o mais oncogênico;

Lesões pré-neoplásicas

• LSIL:caracterizada pelo coilócito, núcleo atípico e halo perinuclear. Menos de 50% da célula ocupada pelo núcleo, risco quase 0
de evoluir para câncer.
→ 60% sofrem regressão, 30% persistem no organismo como baixo grau e 10% progridem para HSIL
• HSIL: mais de 50% da célula é ocupada pelo núcleo, que é hipercromático, atípico, irregular.
→ 30% regridem, 60% persistem e 10% progridem para carcinoma.

Fatores de risco para câncer de colo

• Múltiplos parceiros sexuais;


• Parceiro do sexo masculino com múltiplos parceiros sexuais prévios ou atuais;
• Idade precoce da primeira relação sexual;

• Alta paridade – exposição frequente da JEC


• Infecção persistente pelo HPV de alto risco! →16, 18, 31 e 33
• Imunossupressão – AIDS, transplantados, diabéticos, corticoterapia, outros canceres.
• Subtipos de HLA (proteína presente na membrana) – predisposição;
• Uso de contraceptivos orais – atrasam a transformação do epitélio escamoso e estimula o sexo sem proteção.
• Uso de nicotina – estimula o processo inflamatório no colo, atrasa a resolução das cervicite.

Prevenção e Diagnóstico

• Papanicolau – preventivo (colpocitologia): diagnóstico do câncer e das lesões pré neoplásicas;


→ Teste de triagem → não deve ter falso negativo;
→ A partir dos 21 anos ou 3 anos após o início do sexo;
→ Feito anualmente;
→ Após 30 anos e 3 normais alguns ginecologistas indicam de 2 a 3 anos, mas em geral indica-se anual.
→ 10 a 20% de falso negativo, por erro de coleta.
• Preventivo alterado
→ ASCUS: atipia de significado indeterminado → repetir em 6 meses
→ LSIL: lesão de baixo grau ou alteração por HPV → repetir em 6 meses – se regredir, refazer acompanhamento apenas no
próximo ano, se não regredir ou aumentar, realizar colposcopia e biópsia dirigida;
→ HSIL e carcinoma → colposcopia e biópsia dirigida.
• A colposcopia é realizada se há alguma alteração no preventivo, permite a visualização da parede da vagina e do ectocérvice,
define a posição da JEC, visualiza as lesões.
• Na biópsia, é possível verificar:
→ Proliferação do epitélio – até 1/3 do epitélio, é considerado LSIL, acima disso, HSIL
→ Hipercromatismo nuclear
→ Aumento da relação núcleo-citoplasma
→ Mitoses
→ Coilócitos
• Nos casos mais avançados, é possível observar na colposcopia: colo sangrante, friável, sangramento na relação sexual
(sinusorragia), ao toque; formação de pérolas córneas (CEC);
• Conduta para LSIL a partir da biopsia: cauterização ou acompanhamento
• Conduta para HSIL a partir da biopsia: Conização
• Conduta para carcinoma a partir da biopsia: Conização para estadiamento e tratamento ou histerectomia;
• Tumores avançados (extravasando o útero): radioterapia
• A Conização consiste na retirada do colo uterino, que se regenera.
• O quadro clínico do câncer de colo é subclínico, raramente apresenta sintomas, que pode ser sangramento vaginal pós coito,

corrimento amarelado (tumores necróticos);


→ Dor pélvica: doença avançada – tratamento com radioterapia;
→ Toque retal: avalia comprometimento de paramétrios (tecido ao redor do útero) – se sentir, indica tumor avançado.
• Portanto, a abordagem consiste em:
→ COLPOCITOLOGIA → COLPOSCOPIA E BIÓPSIA → CONFIRMAÇÃO DE HSIL → CONIZAÇÃO → COMPLEMENTAÇÃO COM
HISTERCTOMIA/RADIOTERAPIA SE NECESSÁRIO
• OBS.: câncer de colo e gravidez
→ Tumores iniciais: realizar controle trimestral e conização após o parto;
→ Tumores em estádio Ib – restrito ao colo, mas já avançado:
o Antes de 24 semanas → histerectomia e anexectomia bilateral (retirada dos anexos uterinos);
o Após 24 semanas → aguardar maturidade fetal e histerectomia durante a cesariana
→ Estádio II, III e IV (fora do colo uterino): radioterapia – praticamente induz o aborto.

Prognóstico

• Propagação local – vagina, paramétrios, ureter


• Metástase para linfonodos regionais
• Fígado e pulmão – raros casos de metástase
• Casos iniciais tem bom prognostico

• Morte por: hemorragia, IRA, obstrução uretral → casos avançados


• Mais local do que sistêmico

Vacinação

• GARDASIL – contempla os HPVs 16, 18, 6 e 11


• Vacina recombinada com proteína do HPV
• Muito imunogênica;

• Mulheres 9-26 anos, mas pode ser tomada em qualquer faixa etária. O ideal é tomar antes de começar atividade sexual.
• Aplicação intramuscular, com três doses (0 – 2 – 6 meses de intervalo)
• 10 anos de proteção garantida e comprovada;
• Proteína sem DNA – não infecciosa;
• Deve continuar fazendo o preventivo por conta dos outros tipos de HPV;
• Pode funcionar com homens.

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