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Supervisionando o mediador escolar

Após a construção do PEI, que é um processo bastante detalhado, que envolve a


avaliação de habilidades acadêmicas, de aprendiz e desenvolvimentais, a elaboração de
objetivos de curto, médio e longo prazo e a elaboração de programas de ensino e registros
de desempenho, chega o momento da implementação de tudo o que foi planejado.

Os programas de habilidades acadêmicas são implementados pelo professor da


sala, ou seja, pelo professor regente, que fará algumas adaptações ou acomodações de
atividades para que o aluno possa aprender estas habilidades de acordo com as suas
características individuais.

As intervenções em habilidades pré-acadêmicas (habilidades de aprendiz e


desenvolvimentais) precisam ser implementadas por um acompanhante e este ponto é
muito importante e precisa de uma atenção especial. O professor de Educação Especial,
que é considerado o centro deste processo, é responsável por avaliar, planejar a
intervenção e treinar este acompanhante.

Além de todas estas atribuições, é função também do professor de Educação


Especial acompanhar, monitorar o trabalho de implementação realizado pelo
acompanhante. Chamaremos este processo de supervisão, pois é o termo utilizado na
literatura estrangeira da área. Ao supervisor cabe a tarefa de verificar se está havendo uma
implementação adequada do processo de intervenção.

Existe uma vasta literatura sobre o tema supervisão e não trataremos de todos os
tópicos existentes aqui, mas nos concentraremos em alguns pontos básicos e essenciais:

1. Observar o acompanhante implementando os programas de ensino;


2. Discutir as dificuldades de implementação, ouvir, observar e modelar os processos
de apoio;
3. Observar os dados e tomar decisão baseada em dados, considerando algumas
premissas:

3.1 Todos aprendem. Gráficos que não sobem apontam que:

a) a estratégia de ensino está errada;


b) a estratégia de ensino está correta, mas implementada errada

c) a estratégia de ensino está correta, implementada corretamente, mas outro


contexto está prejudicando o ensino; ou

d) faltam pré-requisitos para a aprendizagem

3.2 a aprendizagem é hierárquica: após o desenvolvimento de uma habilidade


passamos à próxima.

Discutiremos mais adiante cada um destes tópicos com mais detalhes.

Já dissemos que o professor regente é o responsável pela sala de aula e o


acompanhante cumpre um papel completamente diferente deste. Portanto, não se trata de
um outro professor que está disputando espaço, já que cada um tem seu papel bem
definido.

Ao falarmos em supervisão, não estamos nos referindo ao cotidiano da sala de


aula, mas aos processos específicos de apoio (ensino de habilidades pré-acadêmicas) que
foram estabelecidos pelo PEI e que o acompanhante foi treinado a implementar pelo
professor de Educação Especial, que será o responsável também pela sua supervisão.

1. Observar o acompanhante implementando os programas de ensino

Esta observação pode ocorrer em diferentes ambientes e contextos da escola em


que o acompanhante esteja implementando as intervenções (pátio, parque, banheiro,
refeitório, etc.). Se a observação tiver que ser realizada dentro da sala de aula é necessário
autorização do professor regente.

Chamamos de medida de integridade este processo de verificação da


implementação da intervenção. Um planejamento foi feito, descrito detalhadamente, mas
é necessário verificar se o mediador está implementando da maneira correta.

Existem duas grandes medias de integridade:

Primeira grande medida de integridade – treinamento

Segunda grande medida de integridade – observação


2. discutir as dificuldades de implementação, ouvir, observar e modelar os processos
de apoio

É importante que o supervisor acolha os apontamentos e sugestões do


acompanhante, afinal, é ele quem está junto ao aluno por um período de tempo maior,
experimentando as facilidades e dificuldades em aplicar o que foi planejado pelo
supervisor.

O registro de tudo o que é discutido e realizado durante a supervisão é uma forma


de documentá-la. Não há necessidade de ser um registro muito complexo, pode ser
simples, como uma lista, por exemplo.

3. Observar os dados e tomar decisão baseada em dados, considerando algumas


premissas

A tomada de decisão baseada em dados não segue uma regra, mas há um conjunto
de pesquisas sobre o assunto que deixa claro que o processo é sempre individualizado.

Vamos imaginar um caso em que o aluno atingiu o critério de aprendizagem


estabelecido para um programa de ensino (90% de acertos durante 3 dias consecutivos).
Quando o critério foi atingido, o programa de ensino entrou em manutenção e não foi
aplicado diariamente, passou a ser aplicado apenas uma vez na semana. No entanto, no
dia da aplicação, o aluno errou quase todas as tentativas do programa realizadas.
Considerando que o aluno possui deficiência intelectual, o que pode produzir um efeito
sobre a aprendizagem chamado perda da habilidade, o critério de aprendizagem precisou
ser alterado para um critério mais forte, sendo aumentado de 3 para 6 dias consecutivos
com 90% de acertos. Quando o aluno atingiu este critério mais rigoroso, o programa
entrou em manutenção, mas a aplicação foi diminuindo um dia a cada semana, até chegar
em 1 vez na semana e ir espaçando cada vez mais. Neste momento, o ensino de outra
habilidade pôde ser introduzido.

Uma revisão recente sobre a utilização de critério de aprendizagem de 80% de


acertos em 3 dias consecutivos, concluiu que este critério pode ser interessante para
alunos bem rápidos, que acabam ficando desmotivados quando o critério de
aprendizagem é demorado. Por outro lado, pode ser considerado fraco, dependendo do
contexto.
3.1 Todos aprendem

Esta afirmação é de natureza científica. Não existem dados na literatura


demonstrando que pessoas não aprendem. Existem pessoas que aprendem mais
lentamente, pessoas que aprendem certas coisas, outras pessoas que aprendem coisas
diferentes, mas todos aprendem.

Neste contexto, no momento da tomada de decisão baseada em dados, diante do


gráfico de um determinado programa de ensino que não sobe, ou seja, que não progride,
dizer que isso está acontecendo porque o aluno não aprende é uma explicação bastante
equivocada.

A partir das evidencias cientificas que temos disponíveis neste momento, existem
algumas explicações possíveis para o resultado persistir o mesmo ou variando pouco
durante alguns dias (indicando que o aluno não está aprendendo):

a) a estratégia de ensino está errada

O aluno pode não estar aprendendo porque a estratégia de ensino foi formulada
de maneira errada e não é efetiva. A estratégia pode também ser efetiva, mas talvez não
seja a melhor estratégia para aquele aluno.

b) a estratégia de ensino está correta, mas implementada errada

Aqui destacamos a importância de observar o mediador implementando a


estratégia de ensino. Ainda que ela seja efetiva, a implementação incorreta prejudica a
aprendizagem do aluno.

c) a estratégia de ensino está correta, implementada corretamente, mas outro


contexto está prejudicando o ensino

Vamos imaginar uma situação de um aluno com um comportamento inadequado


de gritar. Após a análise funcional descobriu-se que os gritos têm a função de obter
atenção. Foi elaborado um procedimento para o aluno pedir atenção de maneira adequada
(utilizando Treino de Comunicação Funcional). O acompanhante foi treinado pelo
supervisor e começou a implementar o procedimento de maneira correta na sala de aula.
Porém, durante o intervalo, outros funcionários ou alunos reforçam este comportamento
de gritar do aluno, dando atenção. O mesmo ocorre na casa. Neste caso, procedimentos
totalmente diferentes estão sendo realizados diante do comportamento inadequado e isso
prejudica a aprendizagem do aluno.

d) faltam pré-requisitos para a aprendizagem

Iniciar um treino de alfabetização com um aluno que ainda não consegue fazer
rastreio visual pode ser um exemplo de motivo para o aluno não estar aprendendo. Por
alguma razão, a avaliação falhou em apontar ausência da habilidade de rastreio visual,
que é um pré-requisito importante para a aprendizagem da alfabetização.

3.2 a aprendizagem é hierárquica: após o desenvolvimento de uma habilidade


passamos à próxima

É por esta razão que na construção do PEI elaboramos objetivos de curto, médio
e longo prazo. Existe uma hierarquia para a aprendizagem. Depois que uma habilidade
for ensinada (critério de aprendizagem e manutenção alcançados), passamos para o ensino
de outra habilidade e são os dados que vão guiar os próximos passos da intervenção.

O ideal então é sempre questionar o que está acontecendo para aluno não aprender.

Este processo todo é bastante trabalhoso, mas vai proporcionar mais vantagens e
facilidades ao professor ao longo do tempo, além de influenciar positivamente a qualidade
de vida deste profissional.

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