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OS NOVOS RUMOS DA Sy OE STE PARTIR DOS ANOS 1970 DESCRIGAO Apresentagao dos projetos de educagao a partir dos anos 1970, especificamente o MOBRAL, a Lei Federal n. 5692/1971 a Educago Supletiva, ressaltando a importancia da transic¢ao para a concepgao da EJA como modalidade, da LDB e do direito a educagao ao longo da vida. PROPOSITO Compreender a trajetoria da EJA desde os anos 1970, suas caracteristicas em cada momento histérico, as diferentes abordagens dessa modalidade de ensino e os processos histéricos e sociais que envolveram sua evolugdo. OBJETIVOS MODULO 1 Reconhecer as principais iniciativas e politica educacional para a EJA nos anos 1970, MODULO 2 Identificar as mudangas no perfil da EJA a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educagao (LDB 9394/1996) e da nogao de direito & educacao ao longo da vida MODULO 3 Identificar os principais elementos das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educagao de Jovens e Adultos no Ensino Fundamental e do Parecer 11/2000 da CEB/CNE. INTRODUGAO ‘A Educagao de Jovens Adultos (EJA) é uma modalidade de educacdo que, por suas caracteristicas préprias e de seu piiblico, exige que o trabalho educacional se desenvolva com base em projeto politico pedagégico especifico e tecido coletivamente, j4 que as experiéncias e 0s conhecimentos anteriores de seu ptiblico precisam ser levados em consideragao. © objetivo maior, além da escolarizagao, é 0 de contribuir para mudangas na sociedade de modo que ela se toe melhor e menos desigual do que ¢ atualmente, na qual todos os cidadaos tenham direito 4 educagao, conforme previsto na Constituigao de 1988. A primeira mengao a educagao na Constituigéo Federal do Brasil é logo no art. 6°, dentro do capitulo dos Direitos Sociais. A educagao, juntamente com a satide, a alimentagdo, 0 trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a seguranga, a previdéncia social, a protegao a maternidade e Ainfancia e a assisténcia aos desamparados sao elencados como Direitos Sociais. E um tema tao importante que, em seu art. 24 (inciso IX), esta determinado que compete, concorrentemente, & Unido, aos estados e ao Distrito Federal legislar sobre ele, evidenciando sua relevancia. Apartir do art. 205, o texto constitucional garante que a educagao é um direito de todos e um dever do Estado e da familia, devendo ser promovida e incentivada com a colaboragao de toda a sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o exercicio da cidadania e @ sua qualificac¢ao para o trabalho. No art. 208 (inciso |), consta que compete ao Estado garantir a educacao basica e gratuita dos quatro aos dezessete anos de idade, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita a todos os que a ela nao tiveram acesso na idade propria. Estes sao, justamente, a quem se destina a Educagao de Jovens e Adultos, que aparece pela primeira vez na Constituigao. Nos paragrafos subsequentes do mesmo artigo, o texto constitucional reforga que 0 acesso ao ensino obrigatério e gratuito é direito puiblico subjetivo e seu nao oferecimento pelo Poder Publico, ou sua oferta irregular, importa em responsabilidade da autoridade competente. Isso significa que © titular de um direito publico subjetivo tem asseguradas a defesa, a protegao e a efetivagao desse direito imediatamente, em caso em que este seja negado. A Constituigao traz como principio a nogao de que toda educagdo visa ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o exercicio da cidadania e a sua qualificagao para o trabalho. Esse principio, que esta explicitado na Lei n. 9.394/1996, Lei Diretrizes e Bases da Educagao Nacional, em seu art. 2°, abriga 0 conjunto das pessoas e dos educandos como universo de referéncia sem limitagées. Assim, a Educagao de Jovens e Adultos, modalidade estratégica do esforco da nacao em prol de uma igualdade de acesso 4 educagao como bem social, participa deste princi e, sob esta luz, deve ser considerada. Dividiremos nosso estudo em trés médulos. No primeiro, abordaremos as iniciativas e politicas educacionais no Brasil para a Educagao de Jovens e Adultos ao longo dos anos 1970. Apés isso, verificaremos as mudangas ocorridas na EJA com a criagao da LDB de 1996 e coma nogao da importancia do direito & educago ao longo da vida. Por fim, no ultimo médulo, mostraremos os principais elementos das diretrizes para a educagao da EJA. Vamos la? MODULO 1 © Reconhecer as principais iniciativas e politica educacional para a EJA nos anos 1970 O MOBRAL, A LEI FEDERAL 5692/1971 EA EDUCAGAO SUPLETIVA Em 1961, a Lei n. 4.024/1961, primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educagao Nacional, reconhece a educagao como direito de todos. Isto surge de forma clara no Titulo VI, capitulo Il, art. 27, Nele aparece “classes especiai ou cursos supletivos correspondentes ao seu nivel de desenvolvimento”, Essa Lei determinava, ainda, que aos maiores de 16 anos seria permitida a obtengdo de certificados de conclusao do curso ginasial, mediante a prestagdo de exames de madureza, apés estudos realizados sem observancia de regime escolar (art. 99), recuperando nomenclatura anterior ao da nogdio de “cursos supletivos”. Até entdo, os exames dos que nao haviam seguido seriagao sé eram possiveis em estabelecimentos oficiais. A partir da Lei n. 4.024/1961, essa orientagao nao diz quem sao os responsaveis pelos exames. Assim, ao lado dos estabelecimentos oficiais, as escolas privadas, autorizadas pelos conselhos e secretarias, passaram também a realizé-los. Em 1963, foi instituido o Programa Nacional de Alfabetizagao de Adultos, por meio do Decreto n. 53.465, de 21 de janeiro de 1964, coordenado pelo educador Paulo Freire. Sua instituigao foi uma tentativa do Ministério da Educacao e Cultura de coordenar os movimentos de educagao de base ou alfabetizagao de adultos e adolescentes que vinham se multiplicando em todo o pais a partir de 1961 Fonte: Wikimedia commonsilicenga(CC BY 3.0...) Segundo o decreto que instituiu 0 programa, a Comissdo do Programa Nacional de Aifabetizagao, que o implantaria, deveria convocar e utilizar a cooperagao e os servigos de agremiagdes estudantis e profissionais, associacdes esportivas, sociedades de bairros, municipalidades, entidades religiosas, organizagdes governamentais, civis e militares, associagées patronais, empresas privadas, érgdos de difusdo, do magistério e de todos os setores mobilizaveis. AS POLITICAS EDUCACIONAIS DO PERIODO DA DITADURA E A CRIAGAO DO MOBRAL Uma nova redefinicao foi trazida pelo golpe militar de 1964, que intensificou a distancia entre o impeto urbano, modernizador, industrializante e demografico do pais e os processos de democratizagao dos bens sociais. O cancelamento do Programa de Alfabetizacao coordenado por Freire foi imediato, ja que a ditadura via no educador e em suas propostas um risco para o projeto de pais que pretendiam levar a frente. A concentragao de renda e o fechamento dos canais de participagao e de representagao foram intensos. rigido controle sobre as forgas sociais de oposigao ao regime permitiu o aprofundamento dos processos que levariam & modernizagao econdmica, para cujo sucesso era importante a expansao da rede fisica da educagao escolar primaria. O acesso a ela e a outros bens, por parte dos segmentos populares, ndo se deu de modo aberto, qualificado e universal. Ele se fez sob 0 signo do limite e do controle. A Constituigao de 1967 mantém a educagao como direito de todos (art. 168) e, pela primeira vez, estende a obrigatoriedade da escola até os 14 anos. Essa extenso parece incluir a categoria dos adolescentes na escolaridade apropriada, propiciando, assim, a emergéncia de outra faixa etaria, a partir dos 15 anos, sob 0 conceito de jovem. Esse conceito serd uma referéncia para o ensino supletivo. Essa mesma Constituigao, que retira o vinculo constitucional de recursos para a educagao, obriga as empresas a manterem o ensino primario para os empregados e seus filhos (art. 170) Fonte: Wikimedia commonsilicenga(CC BY 3.0...) Amenda Constitucional de 1969, também conhecida como Emenda da Junta Militar, usa pela primeira vez a expressdo direito de todos e dever do Estado para a educagao. A emenda constitucional obriga os municipios, beneficiérios menores na repartigao dos impostos, a serem 0s responsaveis, por lei, pela oferta do ensino fundamental, devendo aplicar 20% de seus impostos em educagao. E no interior de reformas autoritarias, como foi o caso, por exemplo, das Leis 5.540/1968, §.692/1971 e dessa "modernizagao conservadora", que 0 ensino supletivo teve suas bases legais especificas. Com a Lei 5.692/1971, o ensino supletivo ganhou capitulo préprio, determinando que ele se destinava a “suprir a escolarizagao regular para adolescentes e adultos, que nao a tinham seguido ou concluido na idade propria’. Esse ensino podia, entao, abranger o processo de alfabetizagdo, a aprendizagem, a qualficaco, algumas disciplinas e a atualizagao. Os cursos poderiam acontecer via ensino a distancia, por correspondéncia ou por outros meios adequados. Os cursos e os exames seriam organizados dentro dos sistemas estaduais de acordo com seus respectivos Conselhos de Educagao. Os exames, conforme o art. 26, seriam entregues a “estabelecimentos oficiais ou reconhecidos’, cuja validade de indicagao seria anual, ou “unificados na jurisdig&o de todo um sistema de ensino ou parte deste”, cujo polo seria um grau maior de centralizagao administrativa. E o numero de horas, consoante o art. 25, ajustar-se-ia de acordo com o “tipo especial de aluno a que se destinam”, resultando dai uma grande flexibilidade curricular. No que se refere as instituigdes particulares, o paragrafo Unico do art. 51 determina: AS ENTIDADES PARTICULARES QUE RECEBAM SUBVENGOES OU AUXILIOS DO PODER PUBLICO DEVERAO COLABORAR, MEDIANTE SOLICITAGAO DESTE, NO ENSINO SUPLETIVO DE ADOLESCENTES E ADULTOS, OU NA PROMOGAO DE CURSOS E OUTRAS ATIVIDADES COM FINALIDADE EDUCATIVO- CULTURAL, INSTALANDO POSTOS DE RADIO OU TELEVISOES EDUCATIVAS. (Lei 5.692/1971) A Lei 5.379/1967 cria a fundagao Movimento Brasileiro de Alfabetizagao (MOBRAL), com o objetivo de erradicar o analfabetismo e propiciar a educagdo continuada de adolescentes e adultos, Varios decretos decorreram dessa lei a propésito de levantamento de recursos (Decreto 61.311/1967) e da constituigao de campanhas civicas em prol da alfabetizagao (Decreto 61.314/1967) ACRIAGAO DO MOBRAL, SUA ATUAGAO EA FUNDAGAO EDUCAR Criada em 1967, a Fundagao vai assumir uma perspectiva de alfabetizagao consoante a compreensao que dela tinha 0 novo regime. Assim, a alfabetizacdo de jovens e adultos ganha a feigdo de ensino supletivo, que seria instituido pela reforma do ensino de 1971, mesmo ano em que teve inicio a campanha denominada Movimento Brasileiro de Alfabetizagao, que ficou conhecida pela sigla MOBRAL. Vinculado ao Ministério da Educagao e Cultura, com a finalidade de execugao do plano de alfabetizacdo funcional e educa¢ao continuada de adolescentes e adultos, tinha a ambiciosa meta de alfabetizar 11,4 milhdes de adultos até 1971. A ideia era erradicar totalmente o analfabetismo no pals até 1975. Depois de um periodo de organizagao e ensaios de estratégias de atuagdo, o MOBRAL comegou a funcionar, efetivamente, em setembro de 1970, contando com recursos da Loteria Esportiva e do Imposto de Renda, além de doagdes de empresas estatais e particulares. Fonte: Wikimedia commonsilicenga(CC BY 3.0...) ® Bilhete da Loteria Esportiva de 1972, com mensagens sobre o MOBRAL. A criagéo do MOBRAL pode ser entendida como uma resposta do governo militar 4 retragao dos movimentos de educagao de base e de alfabetizagao de adultos, apés as mudangas politicas de 1964, e ao vacuo politico-educacional que deixou. Logo apés a supressao ou 0 confinamento dos movimentos tidos como de inspiragao esquerdista, como 0 Movimento de Educagao de Base (MEB), 0 Movimento de Cultura Popular (MCP) e outros que utilizavam predominantemente o método Paulo Freire, o Ministério da Educagao passou a apoiar movimentos similares, mas de orientagdo ideolégica compativel com 0 novo regime. Um bom exemplo é 0 da Cruzada ABC. Conhega melhor a seguir: CRUZADA ABC Iniciativa da Igreja Presbiteriana do Recife foi o mais importante desses novos movimentos. A presenca de missionarios norte-americanos nessa igreja propiciou o apoio financeiro da United States Agency for International Development (USAID) & Cruzada ABC, que se espalhou por outros estados do Nordeste, chegando até mesmo & Guanabara. Mas, a medida que a Cruzada ABC crescia, perdia o impeto inicial, ficando cada vez mais claro, para 0 governo e para a USAID, que no era capaz de cumprir a fungo técnica e ideolégica que dela se esperava Diante desse fracasso, o Estado assumiu diretamente o controle da alfabetizagao de adultos. Pela Lei 5.379, de 15 de dezembro de 1967, foi criada, no ambito do Ministério da Educagao, uma fundagdo de direito puiblico: o MOBRAL. CRUZADA ABC Parceria entre o Ministério da Educagao brasileiro e a Agéncia de Desenvolvimento Internacional, que fazia parte da busca de influéncia americana durante a Guerra Fria, gerando investimentos, parcerias, mas mantendo a drbita de influéncia dos Estados Unidos. Podemos dizer que essa criagdo foi uma resposta ao cancelamento do Programa Nacional de Alfabetizagao que antecedeu o golpe militar, do qual participavam esses grupos de inspiragao esquerdista e era estruturado sobre 0 método de alfabetizacao de adultos preconizado pelo educador Paulo Freire, que o presidia. Fonte: Wikimedia commonsilicenga(CC BY 3.0...) Concretamente, Paulo Freire havia obtido grande sucesso com seu método na experiéncia em Angicos e, por isso, foi convidado pelo entao Presidente Jodo Goulart para ampliar a experiéncia no sentido de erradicar 0 analfabetismo no pais. Apesar da oposicdo ferrenha a Freire, o método de alfabetizacao usado pelo MOBRAL era fortemente influenciado pelo Método Paulo Freire, utilizando-se, por exemplo, do conceito de *palavra geradora’. il Fonte: Wikimedia commonsilicenga(CC BY 3.0...) Adiferenga é que o Método Paulo Freire utilizava palavras tiradas do cotidiano dos alunos, enquanto na proposta do MOBRAL, as palavras eram definidas a partir de estudo das necessidades humanas basicas por uma equipe técnica que buscava seguir elementos da norma padrao da lingua portuguesa, na época chamada de norma culta. © MOBRAL atuou como érgao executor do Plano de Alfabetizagao Funcional e Educagao Continuada de Adolescentes ¢ Adultos. Tinha autonomia administrativa e financeira préprias, além de patrim6nio subvencionados pela Unido e por doagées e contribuigées de entidades de direito puiblico e privado, nacionais, internacionais ou multinacionais e particulares. ATIVIDADE Vocé sabe qual era o objetivo principal do MOBRAL? RESPOSTA RESPOSTA Promover a alfabetizacao funcional e educagao continuada para os analfabetos de 15 anos ou mais, por meio de cursos especiais, com duragdo prevista de nove meses e com 0 objetivo de “conduzir a pessoa humana a adquirir técnicas de leitura, escrita e calculo como meio de integré-la a sua comunidade, permitindo melhores condigées de vida". (LEI 5.379, 1967) Do ponto de vista de sua estrutura, em documento do CPDOC/FGV (2009), encontramos a seguinte informagao: AFUNDAGAO MOBRAL MONTOU UMA ORGANIZAGAO EM TRES NiVEIS: A ADMINISTRAGAO CENTRAL (MOBRAL CENTRAL), AS COORDENAGOES ESTADUAIS E AS COMISSOES MUNICIPAIS. ESSAS ERAM OS AGENTES EXECUTIVOS DO MOVIMENTO. ESSAS COMISSOES REUNIAM FUNCIONARIOS DAS PREFEITURAS, HOMENS DE NEGOCIO, MEMBROS DO CLERO E DE ASSOCIAGOES VOLUNTARIAS DE SERVICO. ERAM ELAS QUE MOBILIZAVAM OS ANALFABETOS E OS ALFABETIZADORES, OBTINHAM ACESSAO DE SALAS E, ENFIM, ORGANIZAVAM OS CURSOS. OS CURSOS DO MOBRAL FUNCIONAVAM A NOITE, DE PREFERENCIA, APROVEITANDO OS PREDIOS DE ESCOLAS, TEMPLOS, SINDICATOS E OUTRAS INSTITUIGOES. O MOBRAL CENTRAL FAZIA CONVENIOS COM AS COMISSOES MUNICIPAIS, PELOS QUAIS SE COMPROMETIA A FORNECER MATERIAL DIDATICO, ORIENTAGAO TECNICA E RECURSOS PARA O PAGAMENTO DOS ALFABETIZADORES. Ainda neste estudo, é possivel encontrar outras informagées importantes do documento CPDOCIFGV, 2009, que nos ajudam a compreender o que foi o MOBRAL e os problemas que enfrentou. Nele encontramos a informagao de que o objetivo prioritario do MOBRAL era o de alfabetizar a populagdo urbana iletrada de 15 a 35 anos, Mas, a partir de 1974, voltou-se, também, para os jovens de nove a 14 anos. Ou seja, depois de uma fase inicial apenas dedicada aos jovens e adultos, em virtude da identificagao de sua importancia como mao de obra, o MOBRAL passou a se dedicar, também, ao que atualmente chamamos de corregao de fluxo, buscando alfabetizar alunos seguidamente reprovados nas escolas regulares, congestionadas pelo acimulo de repetentes e de alunos novos. ‘Ao longo do seu periodo de funcionamento, o MOBRAL desenvolveu sua atuagao por meio de quatro programas: ALFABETIZAGAO FUNCIONAL EDUCAGAO INTEGRADA DESENVOLVIMENTO COMUNITARIO ATIVIDADES CULTURAIS ALFABETIZAGAO FUNCIONAL Com cinco meses de duragao e duas horas didrias de aulas, em postos onde os alunos eram escolarizados sob a diregao de monitores. EDUCAGAO INTEGRADA Com 12 meses de duragdo, posteriores a alfabetizagdo, compreendendo as primeiras séries do ensino de primeiro grau. DESENVOLVIMENTO COMUNITARIO Com dois meses de duragao, com o objetivo de induzir os alunos a participar de empreendimentos de interesse comum. ATIVIDADES CULTURAIS Desenvolvidas segundo formas nao escolares, sem prazo determinado, pretendendo a ampliagao do universo cultural da populagao atingida. Durante seu primeiro periodo de funcionamento até 1977, o MOBRAL teria alfabetizado, segundo estatisticas oficiais, um total de 11,2 milhées de pessoas, fazendo baixar a taxa de analfabetos no pais para 14,2%, Mas ha quem questione esses dados, ja que pelos dados do IBGE, obtidos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios (PNAD), em 1976, 0 percentual de analfabetos com mais de dez anos de idade era de 24%, pouco abaixo da taxa encontrada em 1973, de 28%. Esse fracasso do Programa e da prépria Fundagdo foram atestados inequivocamente, em 1980, no Censo nacional, que atestou no periodo de dez anos (1970- 1980) um aumento de 540 mil analfabetos de quinze anos ou mais no pais. Mesmo com o aumento da populacao total, os ntimeros eram desalentadores. AS TAXAS DE EVASAO E DE REGRESSAO AO ANALFABETISMO ERAM MUITO ALTAS. APENAS 15% DOS ALUNOS DO MOBRAL CHEGAVAM AO FIM DO CURSO DE ALFABETIZAGAO, E O PERCENTUAL QUE REGREDIA AO ESTAGIO ANTERIOR ERA SEMPRE ALTO, QUALQUER QUE FOSSE O METODO DE ESTIMATIVA. OS OUTROS PROBLEMAS APONTADOS PELOS CRITICOS SE REFERIAM A INADEQUAGAO DOS METODOS DE ALFABETIZAGAO ADOTADOS. (CPDOC/FGV 2009) Com um funcionamento muito centralizado, uma campanha que conclamava a populagao a dar sua contribuigao - “voce também é responsavel, entéo me ensine a escrever, eu tenho a minha mao domavel, eu sinto a sede do saber’ -, o MOBRAL espraiou-se por todo o pais, mas nao cumpriu sua promessa de erradicar o analfabetismo. A partir de 1985, com o fim do regime militar, o MOBRAL deu lugar & Fundagao Nacional para Educagao de Jovens e Adultos — Fundagao EDUCAR (extinta em 1990). © MOBRAL durou quase duas décadas e foi um dos programas de educagéo mais caros que o Brasil jé teve, mas que fracassou, especialmente porque seus objetivos eram ideolégicos no condiziam com a realidade da EJA. © MOBRAL néo deu certo, ao menos nas metas e objetivos que o préprio programa se impunha, porque foi imposto, nao foi idealizado por seus educadores, no possuia material didatico adequado, os professores nao recebiam uma boa remuneragao e tratava-se de um instrumento para impor 0 autoritarismo do regime militar. Complementarmente ao MOBRAL, outras politicas de alfabetizagao e escolarizagao de adultos foram definidas nesse periodo, Destacamos aqui a Lei 5.400/1968, relativa ao recrutamento militar e ensino, trazendo como obrigatério que todos os brasileiros recrutas fossem alfabetizados, caso ainda nao tivessem sido até os dezessete anos de idade (art. 1°). As comissées de recrutamento dos jovens obrigados ao servigo militar deveriam encaminhar as autoridades educacionais competentes os alistados analfabetos. O funcionario ptiblico que alfabetizasse mais de dez listados teria registrado em seu prontuario a distingao de servigo meritério. Os civis nao funcionarios puiblicos ganhariam um diploma honorifico. A EDUCAGAO COMO UM PROJETO NACIONAL NOS ANOS DE CHUMBO Assista agora ao video que mostra como o MOBRAL funcionava durante a Ditadura. Para assistir a um video D, sobre 0 assunto, acesse a ° versao online deste conteudo. A TRANSIGAO DEMOCRATICA E AS NOVAS POLITICAS DE EDUCAGAO DE JOVENS E ADULTOS A democracia foi um longo processo. Desde o governo de Emesto Geisel, em que foi criado 0 conceito de uma abertura lenta e gradual, até o presidente militar que tinha ordens expressas de organizar a transigao - Figueiredo — das eleigdes indiretas que elegeram a chapa no congresso Tancredo Neves e José Sarney (com a morte do primeiro), iniciava-se a fase de redemocratizagao dos anos 1980, que culminaria com a Nova Republica a partir da eleigao de Fernando Collor de Melo. A educagao de Jovens e Adultos tramita e se transforma junto com esse momento. Nesse perfodo, o chamado ensino supletivo foi expressamente orientado para o redimensionamento completo. Constando como um dos cito programas apresentados no plano, © Programa Ensino Supletivo previa a ampliagdo da oferta de cursos com metodologias diversificadas de modo a prevenir e minimizar os efeitos da regressao ao analfabetismo. A partir dessa orientagao, pode-se afirmar que as criticas que vinham sendo dirigidas ao. MOBRAL foram incorporadas por seus servidores e dirigentes. No primeiro semestre de 1985, a equipe técnica que atuava junto ao presidente Sarney desenvolveu um breve debate sobre o tipo de intervengao que o governo deveria adotar com relagao ao MOBRAL, Extinta em novembro de 1985, a fundagéo MOBRAL foi, na verdade, renomeada como Fundagao Nacional de Educagdio de Jovens e Adultos (Fundagéio EDUCAR) Em 1990, foi instaurada a politica de enxugamento da maquina estatal proposta por Collor. Em Junho de 1991, a Fundacdo EDUCAR foi uma das vitimas dessa politica, sendo finalmente extinta. De alguma forma, nesse momento foi enterrada uma fase de nossa historia educacional. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. EM RELAGAO AO MOBRAL, VERIFIQUE AS DEFINIGOES ABAIXO. 1- MOBRAL FOI O NOME DADO AO MOVIMENTO BRASILEIRO DE ALFABETIZAGAO, PROGRAMA CRIADO EM 1967 PELO GOVERNO FEDERAL COM O OBJETIVO DE ERRADICAR O ANALFABETISMO DO BRASIL. Il- O MOBRAL PROPUNHA A ALFABETIZACGAO FUNCIONAL DE JOVENS E ADULTOS, VISANDO A “CONDUZIR A PESSOA HUMANA A ADQUIRIR TECNICAS DE LEITURA, ESCRITA E CALCULO COMO MEIO DE INTEGRA- LA A SUA COMUNIDADE, PERMITINDO MELHORES CONDIGOES DE VIDA”. lll A FUNDAGAO RESPONSAVEL E A FORMA INICIAL DO PROGRAMA FORAM EXTINTAS EM 1985 E SUBSTITUIDAS PELO PROJETO EDUCAR. IV—O MOBRAL ACABOU POR EDUCAR EFETIVAMENTE MILHOES DE BRASILEIROS, RETIRANDO O BRASIL DO MAPA MUNDIAL DO ANALFABETISMO. ESTAO CORRETAS AS DEFINIGOES SOBRE O QUE E MOBRAL: A) Apenas |, Ile Ill. B) Apenas II, IIl e IV €) Apenas I, Il e IV D) Apenas |, Ill e IV E) As alternativas |, II, Ill e IV 2. QUAL E A DIFERENGA ENTRE O METODO UTILIZADO PELO MOBRAL E © METODO PAULO FREIRE? I. A DIFERENGA E QUE O METODO PAULO FREIRE UTILIZAVA PALAVRAS TIRADAS DO COTIDIANO DOS ALUNOS, ENQUANTO, NA PROPOSTA DO MOBRAL, AS PALAVRAS ERAM DEFINIDAS A PARTIR DE ESTUDO DAS NECESSIDADES HUMANAS BASICAS POR UMA EQUIPE TECNICA, QUE BUSCAVA SEGUIR ELEMENTOS DA NORMA PADRAO DA LINGUA PORTUGUESA, NA EPOCA CHAMADA DE NORMA CULTA. ll. O EDUCADOR PAULO FREIRE DEVERIA ESTAR IDENTIFICADO COM O COTIDIANO E PRESENTE NA REALIDADE DE SEUS EDUCANDOS; NO MOBRAL, O GOVERNO VIA SEU PAPEL DE OFERTAR CIDADANIA E INSTRUMENTALIZAR OS ALUNOS. Ill. APOIADO PELO PLANO MEC - USAID, O OBJETIVO DO MOBRAL ERA MULTIPLICAR O ACESSO E A DISPONIBILIDADE DE EDUCAGAO AO MAIOR NUMERO DE PESSOAS. PARA PAULO FREIRE, O FOCO ESTAVA NO SUJEITO, NO PROJETO E NO RESULTADO, ALEM DO DESPERTAR DA AUTONOMIA; DESSA FORMA, ELE E SUAS PROPOSTAS ERAM ENTENDIDOS COMO UM RISCO PARA O PROJETO DE PAIS QUE PRETENDIAM LEVAR A FRENTE. ESTAO CORRETAS AS AFIRMATIVAS: A)|, Mell B) Apenas |e Il ©) Apenas Ile Ill D) Apenas a | E) Apenas a Il. GABARITO 1. Em relagdo ao MOBRAL, verifique as definigdes abaixo. 1—MOBRAL foi o nome dado ao Movimento Brasileiro de Alfabetizagao, programa criado em 1967 pelo Governo Federal com o objetivo de erradicar o analfabetismo do Brasil, ll- © MOBRAL propunha a alfabetizagao funcional de jovens e adultos, visando a “conduzir a pessoa humana a adquirir técnicas de leitura, escrita e calculo como meio de integra-la 4 sua comunidade, permitindo melhores condigdes de vida”. Ill - A fundagao responsdvel e a forma inicial do programa foram extintas em 1985 ¢ substituidas pelo Projeto EDUCAR. IV- 0 MOBRAL acabou por educar efetivamente milhées de brasileiros, retirando o Brasil do mapa mundial do analfabetismo. Estdo corretas as definigées sobre o que é Mobral: Aalternativa "A" esté correta. O MOBRAL é um projeto de educagao de adultos da ditadura militar que, de fato, multiplica os nlimeros da Educagao no Brasil, mas sem passar perto de conseguir resolver o déficit histérico brasileiro, além de receber fortes criticas sobre a qualidade. 2. Qual é a diferenga entre o método utilizado pelo MOBRAL e o Método Paulo Freire? |. Adiferenga é que o Método Paulo Freire utilizava palavras tiradas do cotidiano dos alunos, enquanto, na proposta do MOBRAL, as palavras eram definidas a partir de estudo das necessidades humanas basicas por uma equipe técnica, que buscava seguir elementos da norma padrao da lingua portuguesa, na época chamada de norma culta. II. O Educador Paulo Freire deveria estar identificado com o cotidiano e presente na realidade de seus educandos; no MOBRAL, o governo via seu papel de ofertar cidadania ¢ instrumentalizar os alunos. Ill. Apoiado pelo plano MEG - USAID, o objetivo do MOBRAL era multiplicar 0 acesso e a disponibilidade de educagao ao maior numero de pessoas. Para Paulo Freire, o foco estava no sujeito, no projeto e no resultado, além do despertar da autonomia; dessa forma, ele e suas propostas eram entendidos como um risco para o projeto de pais que pretendiam levar a frente. Estao corretas as afirmativas: Aaltemativa "A" esta correta. Em 1964, Freire era entendido como o nome a levar um projeto nacional de educagao de adultos, em especial a partir de agdes bem sucedidas criadas no nordeste brasileiro, A ci dialoga em relago ao objetivo (autonomia x cidadania) e ao projeto de nago (sujeitos participativos x cidaddos comprometidos com o pais). MODULO 2 © ldentificar as mudangas no perfil da EJA a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educagao (LDB 9394/1996) e da nogao de direito a educagao ao longo da vida A EDUCAGAO NA NOVA REPUBLICA A Constituigéo Federal de 1988 consagra o principio de que toda e qualquer educagdo visa o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercicio da cidadania e sua qualificagdo para o trabalho (art. 205). Retomado pela Lei 9.394/1996 (a nova LDB), esse principio abriga o conjunto das pessoas e dos educandos como um universo de referéncia sem limitagées. Assim, a Educagao de Jovens e Adultos (EJA), modalidade estratégica do esforgo da nagdo em prol de uma igualdade de acesso & educagdo como bem social, participa desse principio e sob essa luz deve ser considerada Fonte: Site Senado ATIVIDADE De acordo com os principios citados, leia o texto abaixo e complete as lacunas com as palavras que melhor se encaixam no contexto da EJA no Brasil. Para isso, utilize as palavras do quadro. Pode-se afirmar que a EJA se educagao = . * propée a atuar num sentido de permanente reparacao da realidade brasileira educagao por toda a vida escola de qualidade exclusao educacional fungao reparadora politicas sociais restauragao de um direito negado socioculturais de ; que constitui uma divida inscrita na historia social do pais e na vida de tantos individuos. Essa [Jda EJA significa nao sé a entrada no circuito dos direitos civis pelaf : 0 de ter acesso a uma [J , mas também o reconhecimento daquela igualdade ontolégica de todo ser humano. A fungao reparadora também deve ser vista como uma oportunidade concreta da presenga de jovens e adultos na escola, sendo uma alternativa viavel em fungao das especificidades CL) desses segmentos, para os quais se espera uma efetiva atuagao das{ . Além dessa fungao, a EJA tem também reconhecidas atualmente as fungdes equalizadora e de[ , OU Seja, de atendimento ao preceito da [], defendida na Declaragao de Jomtien, assinada pelo Brasil. © SAIBA MAIS A Conferéncia Mundial sobre Educacao para Todos, realizada em Jomtien, Tailandia, de 5 a9 de margo de 1990, tinha por objetivo estabelecer compromissos mundiais para garantir a todas as pessoas os conhecimentos basicos necessdrios a uma vida digna. Foi concluida com a publicago da Declaracao Mundial sobre Educagao para Todos e de um plano de ago para satisfazer as necessidades basicas de aprendizagem (UNESCO, 1990). Essas consideragdes adquirem substancia ndo sé por representarem uma dialética entre divida social, abertura e promessa, mas também por se tratar de postulados gerais transformados em direito do cidadao e dever do Estado. O art. 208 é claro ao garantir o ensino fundamental como obrigatério e gratuito, assegurando, inclusive, que sua oferta serd de graga para todos os que a ele nao tiverem acesso em idade propria. Esta redagdo pressupde a educagao basica para todos e, dentro dela, em especial, o ensino fundamental como seu nivel obrigatério, inclusive para os adultos. A educagao para todos tem seu direito positivado, constitucionalizado e cercado de mecanismos financeiros e juridicos de sustentagao. Para mais detalhes sobre as metas para educacao presentes na Constituigao Federal de 1988, clique no botdo a seguir. DETALHES O art. 214 da Constituigdo Federal de 1988 traz como meta para a educagdo como um todo a erradicagao do analfabetismo (inciso I) e a universalizacao do atendimento escolar (inciso II). Erradicar o analfabetismo e universalizar o atendimento sao faces da mesma moeda e significam 0 acesso de todos os cidadaos brasileiros ao ensino fundamental. art. 60 do Ato das Disposigées Transitérias, com redacao dada pela Emenda Constitucional 14/1996, os estados, o Distrito Federal e os municipios destinarao ndo menos de 60% dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituigao Federal a manutengao e ao. desenvolvimento do ensino fundamental, com 0 objetivo de assegurar a universalizagao do seu atendimento e a remuneragao condigna do magistério (...). © paragrafo 6° do mesmo artigo reafirma que a Unido aplicaré na erradicagao do analfabetismo e na manutengao e desenvolvimento do ensino fundamental nunca menos que o equivalente a 30% dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituigao Federal. Da mesma forma, o art. 87 (Titulo IX das Disposigées Transitérias), ao instituir a Década da Educagao, determina que cada municipio e, supletivamente, o Estado e a Unido deveréo prover cursos presenciais ou a distancia aos jovens e adultos insuficientemente escolarizados ( art. 87. § 3°, Ill) EDUCAGAO: DIREITO DE TODOS Assista no video a seguir como a Constituigao da os dispositivos para fortalecer a educagao de jovens e adultos. Para assistir a um video >, sobre o assunto, acesse a ° verso online deste contetido. 0 A LEI 9394/1996 E A EJA COMO MODALIDADE ALein. 9.394/1996, em seu art. 37, garante que a EJA sera destinada aqueles que nao tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade propria. Trata-se de um contingente plural e heterogéneo de jovens e adultos, predominantemente marcado pelo trabalho. O art. 38 diz que os sistemas de ensino manterao cursos da EJA e exames supletivos Tais cursos tanto podem ser no ambito da oferta de educagao regular para jovens e adultos (art. 4°, VII), quanto no de oportunidades apropriadas, mediante cursos regulares e exames supletivos (art. 37, §1°). Tais cursos e exames, de acordo com a lei e as diretrizes, deverao atender a base comum nacional e possibilitar 0 prosseguimento de estudos. Formulada em didlogo com a Declaragao de Jomtien ¢ com os noves ares democraticos que se viviam no Brasil, apesar de politicas de educacao pouco favoraveis aos grupos sociais excluidos, a LDB 9394/1996 converte a Educagao de Jovens e Adultos em modalidade educacional. Com isso, abre portas para, mais do que se adaptar as demandas e acordos internacionais, passar a exigir outro tipo de abordagem. A Declaragao Mundial sobre Educagao de Adultos afirma que: MAIS DE UM TERGO DOS ADULTOS DO MUNDO NAO TEM ACESSO AO CONHECIMENTO IMPRESSO, AS NOVAS HABILIDADES E TECNOLOGIAS QUE PODERIAM MELHORAR A QUALIDADE DA VIDA E AJUDA-LOS A PERCEBER E AADAPTAREM-SE AS MUDANGCAS SOCIAIS E CULTURAIS. PARA QUE A EDUCAGAO BASICA SE TORNE EQUITATIVA, E MISTER OFERECER A TODAS AS CRIANCAS, JOVENS E ADULTOS A OPORTUNIDADE DE ALCANCAR UM PADRAO MINIMO DE QUALIDADE DE APRENDIZAGEM. (UNICEF, 1990) No Brasil, a situagao nao é t4o grave, mas dados pouco animadores — ainda nos dias atuais — tornaram necessaria a definigdo de politicas educacionais efetivas para o problema desde que, no final do periodo militar, a EVA se inscreveu na luta pela democratizagao de nossa sociedade como direito de todos os “que nao tiveram oportunidade de se escolarizar no momento devido” Assim, 6 no processo de redemocratizagao dos anos de 1980 que a Constituigao dard o passo decisivo em diregdo a uma nova concepgao de educagao de jovens e de adultos. Foi muito significativa a presenga de segmentos sociais identificados com a EJAnno sentido de recuperar ¢ ampliar a nogdo de direito ao ensino fundamental extensivo aos adultos, ja posta na Constituigao de 1934. ALDB acompanha essa orientagao, suprimindo a expressdo ensino supletivo, embora mantendo o termo supletivo para os exames. Todavia, trata-se de uma manutenco meramente nominal, j4 que tal continuidade se dé no interior de uma nova concepgao. Termos remanescentes do ordenamento revogado devem ser considerados a luz de um novo e nao pelos ordenamentos vindos da antiga lei B& RESUMINDO Avontade expressa de outra orientagao para a Educagao de Jovens e Adultos, a partir da concep¢ao trazida pela nova lei, mesmo guardando semelhangas de nomenclatura com a legislagdo do perfodo militar, inova e eleva a EJA a um status mais préximo do compromisso com suas diferentes fungées: reparadora, equalizadora e permanente, as quais se pode ainda juntar a fungao qualificadora quando consideramos o aspecto da formagao profissional. Do ponte de vista conceitual, além da extensdo da escolaridade obrigatéria formalizada em 1967, os artigos 37 € 38 da LDB de 1996, em vigor, dao a EJA uma dignidade propria, mais ampla, e eliminam uma visao de externalidade com relagdo ao assinalado como regular. O art. 4? inciso VII da LDB ¢ claro: O DEVER DO ESTADO COM EDUCAGAO ESCOLAR PUBLICA SERA EFETIVADO MEDIANTE A GARANTIA DE: (...) OFERTA DE EDUCAGAO REGULAR PARA JOVENS E ADULTOS, COM CARACTERISTICAS E MODALIDADES ADEQUADAS AS SUAS NECESSIDADES E DISPONIBILIDADES, GARANTINDO- SE AOS QUE FOREM TRABALHADORES AS CONDIGOES DE ACESSO E PERMANENCIA NA ESCOLA. (LEI 9.394, 1996) Desde que a Educagao de Jovens e Adultos passou a fazer parte constitutiva da Lei de Diretrizes e Bases da Educagao Nacional, ela se tornou modalidade da educagao basica e é reconhecida como direito puiblico subjetivo na etapa do ensino fundamental. Logo, ela é regular enquanto modalidade de exercicio da fungao reparadora, E como direito puiblico subjetivo, atinge também sua fungao equalizadora. E 6 como direito de educagao “ao longo da vida” que ela se caracteriza como permanente. A fungao reparadora da EJA refere-se a possibilidade de acesso ao ensino fundamental e médio de qualidade a todos aqueles que foram privados desse direito na idade prépria. Baseia- se no principio da escola democratica entendida como um servico piblico, direito de todos e dever do Estado no sentido de promover a igualdade de oportunidades que conduzam ao pleno exercicio da cidadania ‘A fungo equalizadora da EJA permite o retorno ao sistema educacional de segmentos especificos da sociedade como donas de casa, migrantes, trabalhadores rurais, aposentados e encarcerados que tiveram sua escolaridade interrompida por diversos motivos, como evasao, repeténcia ou outras circunstancias desfavoraveis. Nesse caso a EJA podera abrir novos. caminhos para a participagao e reinsergao na vida social e no mundo do trabalho. (SME-RWJ, 2020) Na perspectiva da educagao permanente e do direito 4 educagao ao longo da vida, apesar de termos uma fungao, ela se desdobra em dois aspectos: a fungao qualificadora e de atendimento as necessidades continuas. No mesmo documento da SME-RJ (2020) ja citado, lemos: AFUNGAO QUALIFICADORA CONFIGURA-SE COMO A PROPRIA ESSENCIA DA EJA, NUMA PERSPECTIVA DA EDUCAGAO PERMANENTE. DENTRO DESSE CARATER AMPLIADO, OS TERMOS “JOVENS E ADULTOS” INDICAM QUE, EM TODAS AS IDADES E EM TODAS AS EPOCAS DA VIDA, E POSSIVEL SE FORMAR, DESENVOLVER-SE E CONSTITUIR CONHECIMENTOS, HABILIDADES, COMPETENCIAS E VALORES QUE TRANSCENDAM OS ESPAGOS FORMAIS DA ESCOLARIDADE E CONDUZAM A REALIZAGAO DE SI E AO RECONHECIMENTO DO OUTRO COMO SUVJEITO. A FUNGAO DA EDUCAGAO DE JOVENS E ADULTOS QUE GARANTE O ATENDIMENTO AS NECESSIDADES CONTINUAS DE APRENDIZAGEM E ATUALIZAGAO INERENTES A VIDA DO HOMEM NOS TEMPOS ATUAIS, OU SEJA, A CHAMADA EDUCAGAO DURANTE TODAA VIDA AINDA NAO E EXERCIDA EFETIVAMENTE PELA EJA, QUE ESTA VOLTADA, PRIORITARIAMENTE, PARA AS OUTRAS DUAS FUNGOES QUE BUSCAM RESGATAR AO CIDADAO O DIREITO A ESCOLARIDADE BASICA. A partir da Constituigdo de 1988 da Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educagao Nacional - LDB), as novas construgées da realidade brasileira sao incorporadas ao aparato legal, num movimento semelhante ao que vinha ocorrendo em outros paises. A Declaragao de Jomtien, assinada pelo Brasil, exerceu papel importante na redefinigdo da EJA no pais e, possivelmente, foi uma das influéncias para sua conversao em modalidade conforme consta na LDB. Nos anos 1990, mais precisamente em 1997, a Conferéncia de Educagao de Adultos, chamada de V Confintea (realizada em Hamburgo, Alemanha), firma uma declaragao também de grande importancia: a Declaragao de Hamburgo e a Agenda para 0 Futuro da EJA. Duas vertentes importantes passaram a configurar a educagao de jovens e adultos pés- Hamburgo: 1 2 A primeira ¢ a da escolarizagao, assegurando 0 direito & educagao basica a todos os sujeitos, independentemente da idade, passando a assumir a educagao como direito humano fundamental, preceituado desde a Declaracao dos Direitos Humanos, de 1948. 2 A segunda é a da educagao continuada, entendida pela exigéncia do aprender por toda a vida, independentemente da educagao formal. Incluem-se nessa vertente ages educativas de discussdo de tematicas sociais, como género, etnia, profissionalizacao, questées ambientais etc., assumidas em espagos nao formais, assim como a formagao continuada de educadores, estes também jovens e adultos em processo de aprendizagem Essa vertente passa a consfituir 0 verdadeiro sentido da EJA na atualidade, por ressignificar os processos de aprendizagem pelos quais os sujeitos se produzem e se humanizam, ao longo de toda a vida. Essa concepgao reconceitualiza a area, nao mais restrita a questdo da escolarizagao, ou da alfabetizagao, como foi vista por largo tempo. E é nessa perspectiva que a associagao entre o direito de aprender por toda a vida se articula com a dignidade da pessoa humana, também fundante na compreensao atual da modalidade, A opgo governmental, vigente do inicio dos anos 1990 até 2002, intensificou o afastamento da EJA como um processo de educagao continuada, indispensavel para acompanhar a velocidade e as necessidades atuais de desenvolvimento das ciéncias, técnicas, tecnologia, das artes, expresses, linguagens, culturas, enfim, o que o mundo, especialmente a partir do fendmeno da globalizacao, conferia a historia. Apesar dessa posicao, dos embates dos educadores e dos féruns de EJA com as politicas do MEC (e talvez mesmo por causa delas), o Parecer CEB/CNE, de 11 de maio de 2000, conferiu @ EJAum texto de diretrizes que a recoloca no plano em que precisa ser discutida, compreendida e apreendida: o do Direito. Nao apenas a escolarizago se reforgava como agao da educagao de jovens e adultos, mas também as demais ages educativas que trabalhavam com os segmentos mais pobres da populagdo, com a finalidade de Ihes proporcionar a experiéncia de saber o que é ter direito e de se organizar para conquista-lo A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA Altima Conferéncia Intemacional de Educagao de Adultos, a VI Confintea, realizada em Belém do Pard, no Brasil, em 2009, teve o tema de aprendizagem ao longo da vida como condutor das discussées, apesar de a ideia ja vir surgindo desde os anos 1990, pelo menos. Essa nogao tem para os sujeitos da EJA um sentido amplo, abandonando a falsa compreensao de que sé se aprende quando ensinado ou de que o que se ensina, aprende-se. Essa concepgao, que esvazia os sujeitos da condigao de protagonistas da sua agao no mundo, segue predominante na compreensdo das fungdes da educagdo formal. Faz-se necessdrio refletir sobre isso ao trabalhar com a compreensao do que seja para a EJAa nogao de aprendizagem ao longo da vida, em suas especificidades em relagao aos processos de escolarizagao, Especialmente no Brasil, onde 0 ntimero de nao alfabetizados, os de baixa escolarizagdo ou os que ndo atingiram a formagao de educagao basica alcangam cifras da ordem de 100 milhdes, ndo se pode desprezar a vertente da escolarizagao. Um direito que foi interditado a maioria da populagao no longo processo histérico que manteve as oligarquias seus privilégios indiferentes e em situagao de poder sobre as classes populares. Dessa forma, a prioridade nas politicas puiblicas, desde a Constituigo de 1988, tem sido a educagao para todos como direito, independentemente da idade, 0 que exige cuidar desse largo contingente a quem o Estado deve a oferta da educagdo basica, pela via da escolarizagao. Fonte: Shutterstock.com No contexto da busca pela Educagao Para Todos, ha duas fortes razdes para que educagao e escolaridade nao sejam igualadas, como fica claro na fala de McCowan (2011), que nos alerta © quanto é importante nao esquecer que a associagao corrente entre direito a educagao & direito a escolarizagao pode nos levar a enganos, Em primeiro lugar, muitas escolas ao redor do mundo nao conseguem oferecer uma experiéncia que possa ser chamada efetivamente de educagao. Entre muitos exemplos possiveis, destaca-se 0 estudo etnografico de Palme (1999) sobre escolas no norte de Mogambique, o qual proporciona uma imagem viva, e desalentadora desse fato. Os alunos passam a maior parte do tempo ouvindo sem entender, copiando sem entender e simplesmente esperando. McCowan (2015) alerta para o fato de que a educago, entendida como direito humano, precisa atender a quatro caracteristicas essenciais: VALOR INTRINSECO ENGAJAMENTO EM PROCESSOS EDUCACIONAIS APROVEITAMENTO AO LONGO DA VIDA CONSONANCIA COM A TOTALIDADE DOS DIREITOS HUMANOS Entende-se que a escolarizacdo representaré efetiva contribuigdo ao exercicio do direito a educagao quando atender esses critérios; mais ainda quando o principio da dignidade humana estiver incluldo nos fazeres pedagégicos, como elemento de praticas educacionais cotidianas. Fonte: Shutterstock.com As politicas publicas que vigoraram entre 2003 e 2015 foram relevantes e tinham foco na constituigo do direito 4 educagao para todos, independentemente da idade, possibilitando condigées de dignidade a milhares de brasileiros. Fonte: Shutterstock.com Essas politicas estiveram pautadas no principio da dignidade humana, buscando proporcionar protego integral & pessoa. Assim, promover condigées materiais basicas aos que sofrem efeitos de desigualdades no Brasil nao significa alivio da pobreza. Fonte: Shutterstock.com Infelizmente, a presenca da educagao nas sociedades contemporaneas ¢ realidade para alguns, mas também é grande fator de desigualdade social. Trajetérias interrompidas, descontinuas, baixa escolarizagao e analfabetismo sao aspectos carregados de estigma e de desvalorizagao social, nao sendo efetivamente tratados pelas politicas publicas. E é nesse debate que se inscreve o papel da Educagao ao longo da vida na garantia da dignidade humana. A Constituigao Federal de 1988, no inciso III do artigo 1°, preceitua a dignidade da pessoa humana como principio, valor fundamental e base da democracia, o que na educagao de jovens e adultos (EJA) é enunciado como premissa basica para pensar o direito a educagao. ®t ATENGAO A pessoa humana é concebida como possuidora de valor em si mesma, ndo constituindo mero instrumento a servigo do Estado ou de terceiros. Concebida como detentora de autonomia, a pessoa humana é possuidora de necessidades materiais e psiquicas enquanto ser social, que se desenvolve e se constitui de relagées intersubjetivas inerentes a vida em sociedade. A dignidade humana representa 0 principio que alimenta e esta presente no contetido de todos os direitos fundamentais firmados na Constituicdo, mesmo que em intensidades diferentes, apresentando-se como norte interpretativo, inevitavelmente. A partir dessa perspectiva legal, 0 principio da dignidade humana na Constituigao Brasileira, como consequéncia de seu valor fundamental, tem como contetido os direitos individuais e politicos, bem como os direitos sociais, culturais e econémicos. Enfatiza ainda que a materialidade desse principio, no que tange as condigdes basicas de existéncia, ocorre por meio dos direitos sociais, definidos no Artigo 6° da Carta Magna. PODE-SE AFIRMAR QUE O DIREITO A EDUCAGAO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) FUNDA-SE NO PRINCIPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, SOB A OTICA DE QUE O DIREITO A EDUCAGAO COMPOE A DIMENSAO MATERIAL DESSE PRINCIPIO (O CHAMADO MiNIMO EXISTENCIAL), SENDO QUE AUTONOMIA E RECONHECIMENTO CONFIGURAM CONTEUDOS DA DIGNIDADE REFERENCIAIS E BALIZADORES A COMPREENSAO DE COMO SE FORJA TAL DIREITO EM SITUAGOES CONCRETAS. (DANTAS, 2018) & RESUMINDO Finalizando este médulo, podemos afirmar que o percurso da EJA no Brasil dos tltimos cinquenta anos mostra com clareza a importancia dos novos conceitos e do aprofundamento de debates. Estes suscitados pelo fato de a educagdo estar incluida, em todos os niveis e em todas as modalidades, num conjunto de direitos relacionados nao sé a aprendizagens de contetidos escolares ou a alfabetizacdo, mas envolvendo o direito de se desenvolver por toda a vida, tanto em relacdo a esses contetidos formais quanto a outras aprendizagens permanentes, que nos aperfeigoam como cidadaos e mesmo como seres humanos. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. LEIA AS AFIRMATIVAS ABAIXO QUE TRATAM DA CONSTITUIGAO FEDERAL DE 1988 PARA A EDUCACAO: I. A CONSTITUIGAO FEDERAL DE 1988 CONSAGRA O PRINCIPIO DE QUE TODA EDUCAGAO VISA AO PLENO DESENVOLVIMENTO DA PESSOA, AO SEU PREPARO PARA O EXERCICIO DA CIDADANIA E A SUA QUALIFICAGAO PARA O TRABALHO. Il. A CONSTITUIGAO FEDERAL DE 1988 AFIRMA OS PRINCIPIOS DA DIGNIDADE HUMANA, BASE DA EDUCAGAO PARA VIDA, FUNDAMENTO IMPORTANTE DO EJA. Ill. A CONSTITUIGAO FEDERAL DE 1988 GARANTE A EDUCAGAO PARA TODAS AS CRIANCAS E ABRE A POSSIBILIDADE DE INICIATIVAS PARA EDUCAGAO DE JOVENS E ADULTOS. ESTAO CORRETAS AS AFIRMATIVAS: A) |e Ill apenas. B) Ile Ill apenas. C) le ll apenas. D) |, Ie Ill esto corretas. E) | apenas esta correta 2. EM RELAGAO A FUNGAO REPARADORA DA EDUCAGAO DE JOVENS ADULTOS, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Afungao reparadora pode ser vista como uma oportunidade de os jovens se tornarem cidadaos ativos e serem inseridos no mercado de trabalho. B) A fungao das especificidades socioculturais desses segmentos, para os quais se espera uma efetiva atuagao de novos intelectuais, sao incorporadas a oportunidade de tornarem-se leitores eruditos. C) A fungao da EJA tem reconhecidas, atualmente, as fungdes equalizadora e de educagao permanente, ou seja, de atendimento ao preceito da Educagao para sujeitos subalternos ou incapazes, que devem ser incluidos D) A fungao reparadora da EVA significa a restauragao dos direitos civis anteriormente negados: o direito a uma escola de qualidade, mas, também, o reconhecimento daquela igualdade ontolégica de todo ser humano. E) A fungdo de formar homens do campo, que nao tiveram acesso a educagao como defendida na Declaragao de Jomtien, assinada pelo Brasil GABARITO 1. Leia as afirmativas abaixo que tratam da Constituigdo Federal de 1988 para a educagao: |. A Constituicdo Federal de 1988 consagra o principio de que toda educagao visa ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o exercicio da cidadania e a sua qualificagao para o trabalho. I. A Constituigéo Federal de 1988 afirma os principios da dignidade humana, base da educagao para vida, fundamento importante do EJA. Ill. A Constituigdo Federal de 1988 garante a educagao para todas as criangas e abre a possibilidade de iniciativas para educagao de jovens e adultos. Estao corretas as afirmativas: Aalternativa "C " esta correta. As duas afirmativas primeiras esto corretas. A terceira falha em nao mensurar a educacdo como um direito e um compromisso para todos os brasileiros. E dado um destaque as criangas, mas afirma 0 direito de todos, independentemente da idade, de ter acesso 4 educagao basica, principio organizado na LDB de 1996. 2. Em relagao a fungao reparadora da Educagao de Jovens Adultos, assinale a alternativa correta: Aaltemativa "D " esta correta. Aresposta é D, uma vez que a fungao reparadora tem uma fungao constitucional de devolver ao cidadao que nao teve oportunidade de ter educagao de qualidade, como preconiza a Constituigao Brasileira, como um direito de todos os cidadaos. MODULO 3 © Identificar as mudangas no perfil da EJA a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educagao (LDB 9394/1996) e da nogao de direito a educagao ao longo da vida COMPROMISSO PELA EDUCACGAO Conhega, no video a seguir, os mais recentes acordos internacionais de compromisso para a Educagao. Para assistir a um video D, sobre o assunto, acesse a ° versdo online deste conteudo. —o— EJA E A LEGISLAGAO ATUAL NO BRASIL AResolugao CNE/CEB n. 1, de 5 de julho de 2000, baseada no Parecer 11/2000, aprovado ‘em maio do mesmo ano, estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educagao e Jovens e Adultos, Ela abrange os processos formativos da EJA como modalidade da educagao basica nas etapas dos ensinos fundamental e médio, nos termos da Lei de Diretrizes e Bases da Educagao (Lei 9.394/1996). Essas diretrizes se estendem a oferta dos exames supletivos para efeito de certificados de conclusdo das etapas do ensino fundamental e do ensino médio da Educagao de Jovens ¢ Adultos (art. 2°). Diferentemente das propostas anteriores, essas novas diretrizes deixam para cada sistema de ensino definir a estrutura e a duragao dos cursos da EJA, respeitadas as diretrizes curriculares nacionais, a identidade dessa modalidade de educagao e o regime de colaboragao entre os entes federados (art. 6°) | co Fonte: Shutterstock.com A resolugao indica, também, a manutengao da idade minima para a inscrigao e realizagdo de exames supletivos de conclusdo do ensino fundamental (15 anos completes), ficando vedada, em cursos de Educagao de Jovens ¢ Adultos, a matricula e a assisténcia de criangas e de adolescentes da faixa etaria compreendida na escolaridade universal obrigatéria, ou seja, de sete a quatorze anos completos (art. 7°). Para o ensino médio, a idade minima é de 18 anos completos. Fonte: Shutterstock.com Aresolugdo também legisla sobre as possibilidades de oferta e permite, além dos cursos presenciais, cursos semipresenciais e a distancia (art. 9°). Os alunos sé podem ser avaliados, para fins de certificados de conclusao, em exames supletivos presenciais oferecidos por instituigdes especificamente autorizadas, credenciadas e avaliadas pelo poder piiblico, dentro das competéncias dos respectivos sistemas, conforme a norma prépria sobre 0 assunto e sob 0 principio do regime de colaboragao. Vinte anos sao passados e a resolugao permanece vigente, apesar de algumas adaptagdes que se tornaram necessarias, seja porque houve mudangas sociais significativas no periodo, seja em fungao de novas normas curriculares aprovadas e em vigor, que também implicam em mudangas na EJA. RESOLUGOES E PARECERES DO EJA NO SECULO XxI A resolugao e 0 parecer que Ihe deram origem tratam do tema da Educagao de Jovens e Adultos de modo amplo e recuperando a trajetéria de compreensao da modalidade desde os principios da Constituigo Federal de 1988, passando pela Lei de Diretrizes e Bases da Educagao e por duas outras resolugdes importantes para a matéria, as Resolugdes CEB n.2¢ n. 3, ambas de 1998. A primeira versando sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para 0 Ensino Fundamental e a segunda sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, que passaram a valer também para a modalidade EJA, desde sua aprovagao. Em relagao a Constituigao, destaca-se o capitulo dedicado a familia, a crianga, ao adolescente € ao idoso, do qual decorreu o Estatuto da Crianga e do Adolescente, a Lei 8.069/1990. Indmeras referéncias aos jovens e adultos também estao presentes no capitulo da Educagao da Constituigao. Ja a LDB, suas bases legais nos encaminham para uma diferenciagao entre 0 carater obrigatério do ensino fundamental e o carater progressivamente obrigatério do ensino médio, tendo em vista o reconhecimento da necessidade de sua universalizagao. EJA, enquanto uma modalidade da educagao basica no interior das etapas fundamental e média, deve evidentemente se pautar pelos mesmos principios postos na LDB para o ensino fundamental e médio regulares. E, no que se refere aos componentes curriculares dos seus cursos, ela toma para si as diretrizes curriculares nacionais dessas etapas, conforme referidas acima. Valem, pois, para a EJA as mesmas diretrizes do ensino fundamental e médio regulares. Aclaboragao de outras diretrizes poderia se configurar na criagéo de uma nova dualidade, subtraindo responsabilidades da esfera publica, na garantia desses alunos as mesmas aprendizagens dos demais. Contudo, esse carater nao significa uma igualdade direta quando pensada a luz da dinamica sociocultural das diferentes fases da vida e de pessoas em diferentes condigées sociais, materiais e culturais de existéncia. E preciso, nessa igualdade, incluir 0 respeito a diferenga. Os estudantes jovens e adultos trazem para o ambiente escolar experiéncias e conhecimentos especificos de sua trajetéria de vida, diferentemente das criangas do ensino fundamental e adolescentes do ensino médio regular. Assim, a faixa etaria e suas especificidades se tornam elementos relevantes para a proposigao de atividades pedagdgicas a esses diferentes puiblicos e podem exigir uma ressignificagao das diretrizes comuns. Foi por isso que, no ano 2000, foram elaboradas e aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educagao de Jovens e Adultos, analisadas pela comissao de Educagao Basica (CEB) do Conselho Nacional de Educagéo (CNE), com base em parecer de Carlos Roberto Jamil Cury, homologado e publicado no Diario Oficial da Unido de 9 jun. 2000, segao te, p. 15. Assim sendo, a Resolugao CNE/CEB 1/2000, a qual dedicamos este terceiro modulo de estudo da EJA, originada no referido parecer, foi publicada no Didrio Oficial da Uniao de 19 jul. 2000, segao 1, p. 18. Veja mais detalhes clicando no botdo a seguir. DETALHES parecer recupera elementos da LDB 9394/1996 para reafirmar a EJA como uma modalidade da educagao basica nas etapas do ensino fundamental e médio, o qual usufrui de uma especificidade prépria e, portanto, deveria receber um tratamento consequente. Muitas duvidas assolavam os interessados no assunto. Os sistemas, por exemplo, que sempre lidaram com o antigo ensino supletivo, passaram a solicitar esclarecimentos especificos junto ao Conselho Nacional de Educagdo. Do mesmo modo, associagées, organizagées e entidades 0 fizeram. Fazendo jus ao disposto no art. 90 da LDB, a CEB, dando respostas caso a caso, amadureceu uma compreenso de que isso nao era suficiente, Era preciso uma apreciagao de maior félego. O presente parecer se ocupa das diretrizes da EJA cuja especificidade se compée com os pareceres supracitados (RESOLUGAO CNE/CEB, 2000). O CONTEXTO DA EJA E AS RECOMENDAGOES DA RESOLUGAO Areferéncia aos pareceres anteriores nao significa uma reprodugdo descontextualizada da educagao basica para a EJA e nao desconsidera seu carater especifico. Dai a presenga dos principios da contextualizagao e do reconhecimento de identidades pessoais e das. diversidades coletivas como base para as diretrizes nacionais dos contetidos curriculares para essa modalidade. ADAPTAGAO PEDAGOGICA Muitos alunos da EJA tém origens em quadros de desfavorecimento social, e suas experiéncias familiares e sociais divergem, por vezes, das expectativas, dos conhecimentos e das aptidées que muitos docentes possuem com relagao a esses estudantes, Identificar, conhecer, distinguir e valorizar tal quadro é principio metodolégico para se produzir uma atuagao pedagégica capaz de produzir solugées justas, equanimes e eficazes para esse conjunto de estudantes. APROVEITAMENTO DAS EXPERIENCIAS DOS ALUNOS Acontextualizagao permite considerar os modos especificos de como esses estudantes podem dispor de seu tempo e de seu espago para promover sua escolarizacao. Por isso, a heterogeneidade do piblico da EJA merece consideragao cuidadosa, ja que influencia o processo pedagégico. Mais do que empecilho, deve ser percebida como riqueza possivel para 0 desenvolvimento de um trabalho voltado ao reconhecimento dessa diversidade, como caracteristica nacional e abertura de possibilidades de enriquecimento miituo, além de aprendizagens formais. AEJA€ destino de adolescentes, jovens e adultos que possuem miltiplas experiéncias de trabalho, de vida e de situagao social, sendo ai compreendidas as praticas culturais e os valores ja constituidos que habitam suas vidas. A necessidade de projetos educacionais que os considerem é evidente. Diante das diretrizes presentes nos pareceres considerados, a regra metodolégica é: descontextualizar os contetides da idade escolar préprios da infancia e adolescéncia para, apreendendo e mantendo seus significados basicos, recontextualiza-los na EJA. E preciso ter a observagaio metodolégico-politica do Parecer CEB 15/1998, aplicavel para além do ensino médio, ja que boa parte de seu alunado esté na mesma faixa etaria que jovens da EJA do ensino fundamental: a diversidade da escola média é necessaria para contemplar as desigualdades nos pontos de partida de seu alunado, que requerem diferengas de tratamento, como forma mais eficaz de garantir a todos um patamar comum nos pontos de chegada. Considera-se, portanto, que essa diversidade tem muitas consequéncias e desdobramentos: uma delas se expressa nos horarios em que a EVA ¢ oferecida, com maior frequéncia, 0 notumo. Se cansago e fadiga nao sao exclusividade dos alunos da EJA, também métodos ativos ndo sao exclusividade de nenhum outro turno. Qu seja, podem e devem, em algumas circunstancias, serem usados. Th M4 Fonte: Shutterstock.com No pode faltar atengao também a outros aspectos que se relacionam com 0 perfil do estudante jovem e adulto. Veja dois exemplos que precisam ser considerados: FLEXIBILIDADE CURRICULAR TRABALHO FLEXIBILIDADE CURRICULAR Deve significar um momento de aproveitamento das experiéncias diversas que esses alunos trazem consigo como, por exemplo, os modos pelos quais eles trabalham seus tempos e seu cotidiano. A flexibilidade poder atender a essa tipificagao do tempo mediante médulos, combinagées entre ensino presencial e nao presencial e em sintonia com temas da vida cotidiana dos alunos a fim de que possam se tornar elementos geradores de um curriculo apropriado aos alunos e as suas experiéncias. TRABALHO Este é outro elemento relevante, seja pela experiéncia, seja pela necessidade imediata de insergao profissional, o tema merece especial destaque nos processos de escolarizacao na modalidade EJA A busca da alfabetizagao ou da complementagao de estudos participa de um projeto mais amplo de cidadania que propicie insergao profissional e busca da melhoria das condigdes de existéncia. Portanto, o tratamento dos contetidos curriculares nao pode se ausentar dessa premissa fundamental, prévia e concomitante a presenga em bancos escolares: a vivéncia do trabalho e a expectativa de melhoria de vida. Essa premissa é 0 contexto no qual se deve pensar e repensar o liame entre qualificagao para o trabalho, educagao escolar e os diferentes componentes curriculares. E 0 que esté dito no art. 41 da LDB: O CONHECIMENTO ADQUIRIDO NA EDUCAGAO PROFISSIONAL, INCLUSIVE NO TRABALHO, PODERA SER OBJETO DE AVALIAGAO, RECONHECIMENTO E CERTIFICAGAO PARA PROSSEGUIMENTO OU CONCLUSAO DE ESTUDOS. projeto pedagégico para a EJA e a preparagao dos docentes para a atuagao nessa modalidade, sempre segundo a resolugao da qual tratamos aqui, devem considerar, sob a ética da contextualizago, 0 trabalho e seus processos e produtos desde a mais simples mercadoria, até os seus significados na construgao da vida coletiva. Mesmo na perspectiva da transversalidade tematica, tal como proposta nas atuais diretrizes curticulares e na Base Nacional Comum Curricular para o ensino fundamental e médio, cabe aos projetos pedagégicos a forma de definigdéo dos modos usados para aborda-los na proposta pedagégica, ai incluindo o trabalho ou outros temas de especial significado. @ VOCE SABIA As miltiplas referéncias ao trabalho constantes na LDB tém um significado peculiar para quem ja 6 trabalhador. E nessa perspectiva que a leitura de determinados artigos da lei deve ser vista sob a especificidade dessa modalidade de ensino. Jé no Parecer CEB n. 15/1998 para o ensino médio em geral e de novo nas diretrizes e na Base Nacional Comum para esse segmento, recomendagées a questées relacionadas ao trabalho esto presentes, Elas ganham mais forga para os estudantes da EJA porque, em sua maioria, ja so trabalhadores. FORMAS DA EDUCAGAO DE JOVENS E ADULTOS Para melhor formular as propostas para EJA, é importante levar em consideragao alguns pontos do cotidiano dos alunos, tais como: LAZER Uma questao relevante esta no reconhecimento da importancia do tempo de lazer e os modos como é usado pelos sujeitos. Isso implica em investigar e considerar o impacto dos meios de comunicagao sobre os estudantes, bem como o das redes sociais - ausentes do parecer, mas determinantes atualmente. CULTURA REGIONAL DO INDIVIDUO Alunos de EJA so, muitas vezes, migrantes e costumam manter seu gosto pelas manifestagées das culturas regionais, derivando dai elementos significativos para a constituigao e sistematizagao de novos conhecimentos. IMAGEM PESSOAL X AUTOESTIMA A resolugao expressa, ainda, preocupagao com o fato de muitos estudantes da EJA, face a seus filhos e amigos, possuirem de si uma imagem pouco positiva relativamente a suas experiéncias ou até mesmo negativa no que se refere a escolarizagao. Isso pode inibi-los a tratar de determinados assuntos e cabe as propostas da EJA combater esse problema, investindo em agées que contribuam para elevar a autoestima desses estudantes. Os componentes curriculares ligados & Educagao Artistica e Educagao Fisica so espagos oportunos, conquanto associados ao carater multidisciplinar dos demais componentes curticulares para se trabalhar a desinibigdo, a baixa autoestima, a consciéncia corporal e 0 cultivo da sociabilidade. Desenvolvidos como praticas socioculturais ligadas as dimensdes estética e ética do aluno, esses componentes curriculares so constituintes da proposta pedagégica de oferta obrigatéria pela instituigao e frequéncia facultativa pelos alunos. Quando se trata de exames supletivos avulsos, descolados de unidades educacionais que oferegam cursos presenciais e com avaliagdo em proceso, a oferta desses componentes nao seré obrigatéria DIFERENCA DE IDADE Importante é também distinguir as duas faixas etdrias consignadas nessa modalidade de educagao. Apesar de partilharem uma situagao comum desvantajosa, as expectativas e experiéncias de jovens e adultos frequentemente nao sao coincidentes. Esses e muitos outros exemplos deverdo ser ressignificados, onde o zelar pela aprendizagem, tal como disposto no art. 13, IIl da LDB, ganha grande relevancia. Os projetos pedagégicos deve considerar a conveniéncia de haver, na constituigao dos grupos de alunos, momentos de homogeneidade ou heterogeneidade para atender, com flexibilidade criativa, essa distingo. Nao perceber o perfil distinto desses estudantes e tratar pedagogicamente os mesmos contetidos, como se tais alunos fossem criangas ou adolescentes, seria contrariar mais do que um imperativo legal. Seria contrariar um imperativo ético. DA ESPECIFICIDADE DOS PROJETOS AOS CURRICULOS EM AGAO Os momentos privilegiados dessa ressignificagao dos pareceres sao os da elaboragao e execugdo dos projetos pedagégicos, sempre locais e especificos. 0 momento da elaboragao do projeto pedagégico - expressao e distintivo da autonomia de um estabelecimento — inclui o planejamento das atividades a partir do conhecimento e consideragao da realidade local e dos alunos. Segundo a legislacao, a organizagao dos estabelecimentos usufrui de certa flexibilidade, em fungao de sua autonomia pedagégica, mesmo que as politicas curriculares mais recentes tenham reduzido essa autonomia. O projeto pedagégico resume em si (no duplo sentido de resumir: conter o todo em ponto menor e retomar o conjunto, sintetiza-lo) o conjunto dos principios, objetivos das leis da educagao, as diretrizes curriculares nacionais e a pertinéncia A etapa e ao tipo de programa ofertado dentro de um curso, considerados a qualificagao do corpo docente instalado e os meios disponiveis para pér em execugao 0 projeto. No momento da execugdo, o projeto torna-se um curriculo em agao, materializado em praticas diretamente referidas ao ato pedagégico. Contudo, se muitos dos que buscam a oferta de educagao escolar regular para jovens e adultos (LDB, art. 4 ° Vil) ou o ensino noturno regular (LDB, art. 4” VI) sao prejudicados em seus itinerarios escolares, nao se pode reduplicar seu prejuizo mediante se desfazer da obrigagao da qualidade da oferta educacional a eles destinada. Torna-se fundamental, portanto, a formulagdo de projetos pedagégicos préprios ¢ especificos dos cursos notumos regulares e da Educagao de Jovens e Adultos. Ja no Parecer CEB n, 15/1998, encontra-se a preocupagao expressa com uma politica de qualidade dentro dos projetos pedagégicos. E como ¢ possivel ver na CNE, 2000, p. 64, identifica-se, ainda, a associagao deles ao prazer de fazer bem feito e a insatisfaco com o razodvel, quando é possivel realizar o bom, e com este, quando 0 étimo é factivel. Para essa concepedo estética, o ensino de ma qualidade é, em sua feiura, uma agresso a sensibilidade e, por isso, serd também antidemocratico e antiético. AEJA nao pode sucumbir ao imediatismo que sufoca a estética, comprime 0 Itidico ¢ impede a inventividade, Com a aprovagao das Bases Nacionais Comuns Curriculares do ensino fundamental, em 2017, e do ensino médio, em 2018, apesar da redugao da autonomia e, portanto, da possibilidade de flexibilizagdo curricular na elaboragao de projetos pedagdgicos destinados a EJA, a Resolugao n. 1/2000 do CNE mantém sua atualidade, j4 que em nenhum momento flexibiliza os contetidos a serem ensinados, mas tdo somente as formas de sua abordagem. Na resolugdo, consta que um momento especifico dessa referéncia é a recontextualizagao que se impée a transposigao didatica e metodolégica das diretrizes curriculares nacionais do ensino fundamental e do médio para a EJA—atualmente das BNCC para os dois niveis de escolarizagao. As experiéncias de vida dos alunos se qualificam como componentes significativos da organizacao dos projets pedagdgices, inclusive pelo reconhecimento da valorizago da experiéncia extraescolar (LDB, art. 3, X). Tal recontextualizagao ganha com a flexibilidade posta no art. 23 da LDB, cujo teor destaca a forma diversa que poderd ter a organizacao escolar tendo como um critério a idade. A permanéncia da validade de ambos os artigos indica que as mudangas operadas pela substituigdo das diretrizes curriculares pela Base Nacional Comum Curricular, para ambos os niveis, também ndo afetam alguns dos critérios que devem ser respeitados na elaboragao e execugdo de projetos pedagégicos especificos para a modalidade. A Resolugo n. 1/2000 deixa claro que as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educagao de Jovens e Adultos se aplicam obrigatoriamente aos estabelecimentos que oferecem cursos € aos contetidos dos exames supletivos das instituigdes credenciadas para tal, sempre evocando © texto da LDB. OS SISTEMAS DE ENSINO MANTERAO CURSOS E EXAMES SUPLETIVOS, QUE COMPREENDERAO A BASE NACIONAL COMUM DO CURRICULO, HABILITANDO AO PROSSEGUIMENTO DE ESTUDOS EM CARATER REGULAR. (LDB, art.38) Esse artigo implica os sistemas publicos de ensino na manutengao de cursos de jovens e adultos e exames supletivos. JA se viu reiteradamente que prioritaria é a oferta de cursos na faixa da escolaridade universal obrigatéria, sem desconsideré-la no tumo da noite. A oferta de cursos de EJA deve ser um esforgo constante e localizado dos poderes piiblicos, com 0 objetivo de tomar a fungao reparadora cada vez mais uma coisa do passado e que desaparega de nossos cédigos a imposigao do “erradicar o analfabetismo’. Mais importante, até para o sucesso de projetos destinados a alfabetizar universalmente a populagao brasileira, 6 eliminar as condigdes gerais de vida social que ndo permitem um minimo de equidade, além de algumas das condigdes especificas que, dentro dos cursos, nao consideram o perfil do aluno em adequagao aos métodos e diretrizes, como ocorre tao frequentemente com os alunos da EJA. E aqui que a nogdo de curriculo em ago ganha forga, ja que na pratica educativa cotidiana professores e alunos em interagao recriam as propostas ao usa-las em fungao dos limites e possibilidades da realidade, na qual esto imersos mais do que a partir daquilo que pensaram 0s planejadores quando propuseram a atividade, Ou seja, toda recriagao e adaptagaio que favorega aprendizagens é bem-vinda, desde que ndo comprometa o direito de acesso ao conjunto dos contetidos. Fonte: Shutterstock.com A resolugao afirma que: a base nacional comum dos componentes curriculares devera estar compreendida nos cursos da EJA. E 0 zelar pela aprendizagem dos alunos (art. 13, III) deverd ser de tal ordem que o estudante esteja apto a prosseguir seus estudos em cardter regular (art. 38). Mudaram as diretrizes, e os pareceres de 1998 foram substituidos pelas BNCCs, mas permanece a légica da EJA como uma modalidade de ensino que precisa potencializar as aprendizagens para favorecer a inclusdo escolar e social de seus alunos, ao mesmo tempo em que permanece valida a compreensao de que os contetidos, sendo os mesmos, as especificidades do ptiblico devem ser consideradas nos curriculos especificos. Se nos pareceres de 1998 a base nacional comum referia-se ao conjunto dos contetidos minimos das areas de conhecimento articulados aos aspectos da vida cidada, de acordo com o art. 26 da LDB, atualmente as BNCCs mantém a légica da distingdo entre o que é para todos e © que ¢ local e, ainda, a ideia de que a parte diversificada nao é um recurso adicional a essa Base. Os contetidos dessa parte sao integrados a Base Nacional Comum. BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR Fonte: MEC Na resolugao acerca das diretrizes do ensino médio em sintonia com o parecer do ensino fundamental, esta claro que: TUDO O QUE SE DISSE ATE AQUI SOBRE A NOVA MISSAO DO ENSINO MEDIO, SEUS FUNDAMENTOS AXIOLOGICOS E SUAS DIRETRIZES PEDAGOGICAS SE APLICAM PARA ANBAS AS “PARTES”, TANTO A NACIONAL COMUM COMO A “DIVERSIFICADA”, POIS NUMA PERSPECTIVA DE ORGANICIDADE, INTEGRAGAO E CONTEXTUALIZAGAO DO CONHECIMENTO NAO FAZ SENTIDO QUE ELAS ESTEJAM DIVORCIADAS. (RESOLUCAO CNE 11, 2000) Nas bases atuais, esses principios continuam enunciados como validos e necessarios, mesmo que do ponto de vista da realidade nao possamos confiar tanto no que se enuncia, jd que algumas de suas premissas e propostas sao incompativeis com esses principios. Ha, portanto, atualmente, muitas interrogagdes em relago aos curriculos da EJA, 0 quanto atendem e permanecerdo atendendo aos principios e as propostas da Resolugao n. 1/2000, assegurando a qualidade da oferta, a contextualizacao dos contetidos e o respeito as trajetérias, especificidades culturais, aos conhecimentos e as experiéncias dos alunos. Em que medida as atuais bases e as dificeis condigdes de desenvolvimento de politicas locais de Educagao, em todos os niveis e modalidades, comprometem a formulagao & desenvolvimento de propostas pedagégicas para a EJA, que possam contemplar suas quatro fungées - reparadora, equalizadora, qualificadora e permanente? Essa é uma questéo que permanece e que exige de todos os envolvidos com ela, professores, estudiosos, alunos, formuladores de politicas, atengdo ao que se produz, ao que se aprende e se pensa com relagao a EJA. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ARESOLUGAO N. 1/2000 DO CNE, QUE TRATA SOBRE A ATUALIDADE DO EJA NO BRASIL, APONTA PARA ALGUNS CAMINHOS IMPORTANTES. DENTRE ELES, PODEMOS DESTACAR: |— E UMA RESOLUGAO QUE VERSA SOBRE AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCACAO PARA A TERCEIRA IDADE, UMA VEZ QUE LEVA OS JOVENS PARA O ENSINO REGULAR. Il- APESAR DE NOVA, RECUPERA ASPECTOS IMPORTANTES DA LDB E DAS RESOLUGOES QUE DEFINIRAM DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL E MEDIO PARA DEFINIR POSSIBILIDADES E EXIGENCIAS PARA A EJA. Ill - A RESOLUGAO EXTINGUE A EXPANSAO DO EJA UMA VEZ QUE A REPARAGAO HISTORICA JA OBTEVE SUCESSO POR CONTA DE PROJETOS PREDECESSORES. ESTAO CORRETAS: A) Apenas a | B) Apenas a Il ©) Apenas a Ill D) Apenas |e I! E) Apenas Ile Ill 2. A QUESTAO DO EJA CONTINUOU SENDO VITAL NO SECULO XXI NO BRASIL. ISSO SE DA PELO FATO DE QUE: |- E NECESSARIO UM PROJETO PEDAGOGICO PARA A EJAE A PREPARAGAO DOS DOCENTES PARA A ATUAGAO NESSA MODALIDADE DEVE CONSIDERAR, SOB A OTICA DA CONTEXTUALIZAGAO, O TRABALHO, SEUS PROCESSOS E PRODUTOS, DESDE A MAIS SIMPLES MERCADORIA ATE OS SEUS SIGNIFICADOS NA CONSTRUGAO DA VIDA COLETIVA. Il— AS MULTIPLAS REFERENCIAS AO TRABALHO CONSTANTES NA LDB TEM UM SIGNIFICADO PECULIAR PARA QUEM JA E TRABALHADOR. E NESSA PERSPECTIVA QUE A LEITURA DE DETERMINADOS ARTIGOS DA LEI DEVE SER VISTA SOB A ESPECIFICIDADE DESSA MODALIDADE DE ENSINO. lll - NO PARECER CEB N. 15/1998 PARA O ENSINO MEDIO EM GERAL E DE NOVO NAS DIRETRIZES E NA BASE NACIONAL COMUM PARA O ENSINO MEDIO, RECOMENDAGOES A QUESTOES RELACIONADAS AO TRABALHO ESTAO PRESENTES. ELAS GANHAM MAIS FORGA PARA OS. ESTUDANTES DA EJA PORQUE JA SAO TRABALHADORES EM SUA MAIORIA. ESTAO CORRETAS AS AFIRMATIVAS: A)i, tell B) Apenas a | C) Apenas a Il D) Apenas a Ill E) Apenas le Il GABARITO 1. AResolugao n. 1/2000 do CNE, que trata sobre a atualidade do EJA no Brasil, aponta para alguns caminhos importantes. Dentre eles, podemos destacar: 1-E uma Resolugao que versa sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educagao para a Terceira Idade, uma vez que leva os jovens para o ensino regular. ll Apesar de nova, recupera aspectos importantes da LDB e das resolugdes que definiram diretrizes curriculares nacionais para o ensino fundamental e médio para defi possibilidades e exigéncias para a EJA. Ill - A resolugao extingue a expansao do EJA uma vez que a reparaco histérica ja obteve ‘sucesso por conta de projetos predecessores. Estao corretas: Aaltemativa "B " esta correta. A resolugao atualiza os debates, mas tem suas bases nas reflexées jd presentes na LDB de 1996. Como modalidade, no entanto, passa a ter preocupagdes sobre o sujeito e sua formagao de maneira especifica. 2. Aquestao do EJA continuou sendo vital no século XXI no Brasil. Isso se da pelo fato de que: — Enecessério um projeto pedagégico para a EJA e a preparagao dos docentes para a atuagao nessa modalidade deve considerar, sob a ética da contextualizagao, 0 trabalho, seus processos e produtos, desde a mais simples mercadoria até os seus significados na construgao da vida coletiva. Il As miltiplas referéncias ao trabalho constantes na LDB tém um significado peculiar para quem ja é trabalhador. E nessa perspectiva que a leitura de determinados artigos da lei deve ser vista sob a especificidade dessa modalidade de ensino. Ill — No parecer CEB n. 15/1998 para o ensino médio em geral e de novo nas diretrizes e na Base Nacional Comum para o ensino médio, recomendagées a questées relacionadas ao trabalho esto presentes. Elas ganham mais forga para os estudantes da EJA porque jd sao trabalhadores em sua maioria, Estao corretas as afirmativas: Aaltemativa trabalho ¢ o contexto mais importante da experiéncia curricular. O significado desse destaque deve ser devidamente considerado: na medida em que o ensino médio é parte integrante da educagao basica e que o trabalho é principio organizador do curriculo, muda inteiramente a nogdo tradicional da educacao geral académica ou, melhor dito, academicista. O trabalho jé nao 6 mais limitado ao ensino profissionalizante. Muito ao contrario, a lei reconhece que, nas sociedades contemporaneas, todos, independentemente de sua origem ou destino profissional, devem ser educados na perspectiva do trabalho (CNE, 2000). CONCLUSAO CONSIDERAGOES FINAIS Percebemos que a EJA passa por um reconhecimento fundamental, pois era necessdria uma reparagao histérica. Vinculada e pensada em um projeto liderado por Freire, ainda que abandonada, a proposta permaneceu viva com o MOBRAL. Embora fragil, a necessidade permaneceu viva, marcando o debate na constituigao de 1988 e principalmente reforgado na LDB de 1996. Nesse ponto, o EJA se torna modalidade, ganha aspectos filoséficos fundamentais de corrigir fundamentos histéricos e fornecer reparagdo e um novo olhar. Propostas pedagégicas, leis, normas e seus idedrios, ideias sobre Educagao e suas premissas, documentos e negociagdes que Ihes deram origem, debates e embates politicos e académicos, so alguns dos assuntos que se enredam e dialogam, nas escolas e fora delas, na reflexao em torno da EJA, sua histéria e suas possibilidades no Brasil contemporaneo. De modestas campanhas de alfabetizagao do inicio do século XX ao status de modalidade e direito de todos & Educago, os processos de consolidacdo formal da EJA sempre foram caracterizados por idas e vindas, avangos e retrocessos, limites e possibilidades. Conceber os processos educacionais na EJA como possibilidades e didlogos entre grupos de educadores, de politicos e de formuladores de politicas, permite perceber o quanto ela vem escapando a qualquer tentativa de controle total, incorporando em seus cotidianos muitas dimensées do fazer pedagégico, que transcendem e superam normas, embora as tenham sempre como fatores limitantes. Em qualquer circunstancia, no entanto, o processo de consolidagao aqui referido vem ampliando, mesmo com problemas, as possibilidades do exercicio do direito & educagao, que requer 0 acesso a conhecimentos diversos, por toda a vida, consolidando as possibilidades de exercicio de direitos individuais e sociais a aprendizagem e a cidadania, dignas de todos. Para ouvir um podcast sobre o assunto, acesse a versao online deste conteudo. FALA, MESTRE! Mestres de diversas dreas do conhecimento compartilham as informagées que tomaram suas trajetérias Unicas e brilhantes, sempre em conexao com o tema que vocé acabou de estudar! Aqui vocé encontra entretenimento de qualidade conectado com a informagao que te transforma. Politica de Cotas Sinopse: Dra, Ivone Caetano, primeira juiza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, reflete sobre a importancia da politica de cota para a diminuigdo da desigualdade social. Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juiza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, reflete sobre a importancia da politica de cota para a diminuigdo da desigualdade social. Direitos das criangas, religides de matriz africana e perseguigao religiosa Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juiza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, relata o racismo existente em processos da vara de infancia e juventude envolvendo religiées de matriz africana. Sinopse: Dra. lvone Caetano, primeira julza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, relata o racismo existente em processos da vara de infancia e juventude envolvendo religides de matriz africana Atuagdio dentro da vara de infancia e juventude ‘Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juiza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, compartilha suas memérias do periodo em que atuou na vara de infancia e juventude e o seu compromisso com a sua fungao. ‘Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juiza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, compartilha suas memérias do periodo em que atuou na vara de infancia e juventude e o seu compromisso com a sua fungao. REFERENCIAS BRASIL. Constituigéo da Republica Federativa do Brasil (1988). Brasilia: 1988. BRASIL. Casa Civil. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2° graus, e da outras providéncias. (Revogada pela Lei n. 9394/1996) BRASIL. Casa Civil. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educagao nacional. Brasilia: 1996. BRASIL. Resolugao CNE/CEB de janeiro de 2000. Diario Oficial da Unido, 19 jul. 2000. s. 1, p. 18. CPDOC/FGV. Movimento brasileiro de alfabetizagdo (MOBRAL). Consultado em meio eletrénico em: 3 jan. 2021. DANTAS, A. Dignidade da pessoa humana: Proeja IFRJ e direito a educagao. [Tese] Doutorado em Educagdo - Faculdade de Educagdo, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro, 2018. DANTAS, ; OLIVEIRA, |. B.; PAIVA, J. Pensar o Direito Humano a Educagao. In: Educational Policy Analysis Archives, 27 jul. 2020. v. 28, n. 110. Consultado em meio eletrénico em: 28 nov. 2020. 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