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A HIPERVUNERABILIDADE DO IDOSO NAS RELAÇÕES DE

CONSUMO

THE HYPERVUNERABILITY OF THE ELDERLY IN CONSUMER


RELATIONS

Andrill Amorim Vitti¹

Athila Pinheiro Quinellato²

Benedicto Intra De Oliveira³

Ronivon Rangel De Carvalho4


Gabriel Ferreira Sartorio5

RESUMO

O presente trabalho tratou da vulnerabilidade do idoso principalmente na seara do direito do


consumidor abordando os aspectos de proteção nos mais importantes diplomas legais do
ordenamento pátrio. Assim, será trazido as colocações do estatuto do idoso abordando os
principais pontos que a sociedade deve exercer para a garantia dos direitos consumeristas
do idoso. Dessa forma, este trabalho teve como objetivo demonstrar a hipervulnerabilidade
do idoso, verificar como o direito do consumidor trata essa questão, apontar as questões
sociais e levantar as prerrogativas legais do idoso. A metodologia utilizada no que concerne
aos objetivos será a pesquisa exploratória tendo como finalidade proporcionar maior
familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito, envolvendo levantamento
bibliográfico. Quanto aos procedimentos técnicos, será utilizada a pesquisa bibliográfica,
baseando-se em publicações, livros, artigos, entre outros. Por fim, o resultado alcançado
demostrou que o Código de Defesa do Consumidor é um importante mecanismo de
proteção aos direitos dos idosos nas relações de consumo e que para o bem estar desse
grupo é preciso diminuir a vulnerabilidade causada em sua maioria pela desinformação.

Palavras-chave: idoso, direito do consumidor, vulnerabilidade, legislação.

ABSTRACT

The present work dealt with the vulnerability of the elderly mainly in the field of consumer law
addressing the aspects of protection in the most important legal diplomas of the national
order. Thus, the placements of the statute of the elderly will be brought addressing the main
points that society should exercise to guarantee the consumer rights of the elderly. Thus, this
1
Andrill Amorim Vitti. Graduando em Direito pela Faculdade Novo Milênio. E-mail:
andrill.vitti@sounovomilenio.com.br.
2
Athila Pinheiro Quinellato. Graduando em Direito pela Faculdade Novo Milênio. E-mail:
athila.quinellato@sounovomilenio.com.br.
3
Benedicto Intra De Oliveira. Graduando em Direito pela Faculdade Novo Milênio. E-mail:
benedicto.oliveira@sounovomilenio.com.br.
4
Ronivon Rangel De Carvalho. Graduando em Direito pela Faculdade Novo Milênio. E-mail:
ronivon.carvalho@sounovomilenio.com.br.
5
Gabriel Ferreira Sartorio. Professor Orientador. E-mail: gabriel.sartorio@novomilenio.br.
study aimed to demonstrate the hypervulnerability of the elderly, verify how consumer law
treats this issue, point out social issues and raise the legal prerogatives of the elderly. The
methodology used with regard to the objectives will be exploratory research with the purpose
of providing greater familiarity with the problem, with a view to making it more explicit,
involving bibliographic survey. As for technical procedures, bibliographic research will be
used, based on publications, books, articles, among others. Finally, the result showed that
the Consumer Protection Code is an important mechanism to protect the rights of the elderly
in consumer relations and that for the well-being of this group it is necessary to reduce the
vulnerability caused mostly by misinformation.

Keywords: elderly, consumer law, vulnerability, legislation.

INTRODUÇÃO

Com o desencadeamento da revolução francesa através dos ideais iluministas, cujo


tema foi a liberdade, igualdade e fraternidade, ganhou força a evolução dos direitos
dos indivíduos e nesse sentido foram aparecendo aqueles direitos relacionados a
uma segunda dimensão, ou seja, os chamados direitos sociais e coletivos.

Atualmente, tem-se observado várias medidas com o fim de se buscar igualar as


pessoas, para que se consiga diminuir as diferenças, buscando também dentro de
cada situação, tornar tais diferenças aceitas dentro da sociedade. Dessa maneira,
encontra-se nesse grupo em situação de vulnerabilidade, entre outros, os idosos.

A própria Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB/88) trouxe o


princípio da igualdade material ou substancial na qual afirma que os indivíduos
iguais devem ser tratados de forma igual e os desiguais de forma desigual buscando
nivela-los, conforme o art. 5° da Carta Magna.

Dessa forma, o legislador pátrio criou diversos mecanismos de proteção visando


tutelar os direito desse grupo, assim, pode ser observado o Estatuto do Idoso, que
vem trazer normas de equidade para essa classe vulnerável.

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) é o principal diploma com o intuito de


protejer os direitos do consumidor, trata-se também dos aspectos de proteção ao
indivíduo de idade avançada, trazendo em seu bojo as possibilidades abusivas que
não devem ser praticadas.
A partir dessas normas gerais, novos instrumentos podem surgir com o objetivo de
melhor atender a situação desses grupos de acordo com cada caso, por isso, é
importante analisar os direitos dos idosos em situações cotidianas de consumo,
abordando como é tratada sua vulnerabilidade nos órgãos de defesa do consumidor.

O problema de pesquisa buscou responder como o direito do consumidor trata a


situação de hipervulnerabilidade do idoso na condição de consumidor em detrimento
de empresas, nos casos em que o idoso precisa reclamar seus direitos, e o que
pode ser feito para que essa hipervulnerabilidade do idoso traduza o princípio da
igualdade nas relações de consumo.

Concluindo que a hipervulnerabilidade do idoso provoca a equidade estabelecida no


ordenamento jurídico, para que sejam adotadas providências a fim de tornar esse grupo
vulnerável, igual em direitos nas relações de consumo.

1. IDOSOS E OS GRUPOS VULNERÁVEIS

Em um mundo onde a raça dominante é a raça humana, importa salientar que entre
os seres humanos estão aqueles que se encontram diferenciados dos demais.
Essas diferenças são várias e podem colocar determinadas pessoas em diversas
situações, sejam em vantagens sobre outras, sejam em desvantagem sobre o
restante. Nas palavras de Ribas (1998, p. 13-14),

A realidade natural é diversa: nós homens não somos fisicamente todos


iguais. É claro que fazemos parte da mesma espécie, mas cada um de nós
tem altura diferente, cor de pele e de olhos diferentes, peso diferente etc.
somos todos homens, porém diversos. Fisicamente temos, portanto,
características diferentes uns dos outros. As pessoas deficientes talvez
sejam um pouco mais diferentes, já que podem possuir sinais ou sequelas
mais notáveis.

Séguin (2012), afirma que pessoas em situação de vulnerabilidade possuem relação


com grupos minoritários. Tais indivíduos fazem parte de um conjunto que sofre de
uma marginalização social bem como da descriminalização.

Os idosos fazem parte desse grupo vulnerável. Segundo Rogers e Ballantyne


(2008), idosos e deficientes são parte de uma vulnerabilidade intrínseca, ou seja,
está ligada diretamente às características do próprio indivíduo.

São considerados idosos, conforme artigo 1° do Estatuto do Idoso, as pessoas com


idade igual ou superior a 60 anos. A população idosa no Brasil tem aumentado
significativamente nos últimos anos, e tende a crescer ainda mais, devido
principalmente à melhoria na qualidade de vida (SILVA, 2016).

Em âmbito nacional, a CRFB/88 abraça os direitos dos idosos em seu art. 230 ao
dizer,
Art. 230 – A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as
pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
Parágrafo 1° - Os programas de amparo aos idosos serão executados
preferentemente em lares.
Parágrafo 2° - Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a
gratuidade dos transportes coletivos urbanos.

De acordo com Séguin (1999), a inclusão do idoso na Constituição Federal


representou uma evolução na qual de ênfase ao tema de modo a forçar o legislador
infraconstitucional a se manifestar. A Constituição ainda fixou o critério cronológico
de velhice e nas palavras do autor “[...] fixar o idoso no seu lar é garantir a unidade e
continuidade familiares, além de integrar outros programas e metas governamentais,
como a proteção à infância” (SÉGUIN, 1999, p.10).

Cabe salientar, as palavras do autor afirmando que o envelhecimento deveria ser


considerado pelo legislador como um processo tipicamente individual, existencial e
subjetivo, pois o desenvolvimento humano é único, cada indivíduo envelhece de
maneira particular (BRAGA, 2011).

Dessa forma, há uma grande necessidade de levar em consideração que cada


pessoa tem um tempo próprio para se sentir idoso, pois acontece de alguém
envelher mais rápido em “espírito” e não em corpo, ou visse e versa. “Não há velhice
e sim velhices” (BRAGA, 2011, p. 3).

Partindo da CRFB/88, os direitos dos idosos foram se propagando em diversos


outros ramos e esferas. No ramo previdenciário, o idoso, por razões óbvias de
limitação do corpo humano, possui o direito à aposentadoria, uma vez atendido os
requisitos, poderá desfrutar dos benefícios depois de longos anos de trabalho.

Na esfera penal, o idoso possui prerrogativas como a diminuição de pena em caso


de sentença penal condenatória, prisão domiciliar, aumento de pena para quem
pratica crime contra idosos entre outras questões.

Sobre o benefício da redução da pena em caso de crimes praticados por idosos,


Franco (1995, p. 802) afirma que “[...] o objetivo da atenuante da senilidade era o de
minorar a pena em relação a agente que passava por um processo progressivo de
degenerescência, em razão da idade avançada”.

Na esfera tributária, O estado se preocupou em beneficiar os idosos com isenções


de tributos, tendo em vista que idosos, nessa fase, presumem-se não dispor de
recursos a não ser a aposentadoria para cumprir com as contribuições tributárias.
Nas palavras de Séguin (1999, p. 14), “[...] com fundamento neste princípio,
buscando a paz e a justiça social, o Direito Tributário reduz ou isenta o idoso de
determinados tributos”.

Ainda em relação ao idoso como beneficiário no que tange o direito tributário,

Chega-se à conclusão de que tais benefícios são adquiridos por força da


idade ou de doença, como na legislação do imposto de renda, onde
descontos são concedidos a portadores de determinadas moléstias ou para
pessoas maiores de 65 anos, na certeza social de que o idoso, quando
dispõe de renda, assume despesas que não pode comprovar ou que, por
direito, não são suas como a faculdade do neto, o aluguel do apartamento
da filha separada e que ganha mal, etc., além de ter despesas médicas e de
farmácia maiores, como os planos de saúde que fixam as contribuições por
faixas etárias (SÉGUIN, 1999, p. 14-15).

Com base na CRFB/88 no art. 229 ao prevê que os filhos têm o dever de zelar pelos
pais na velhice, carência ou enfermidade, em 1° de outubro de 2003 foi instituído o
Estatuto do Idoso através da Lei n° 10.741.

O Estatuto do Idoso representa um grande avanço da legislação brasileira


iniciado com a promulgação da Constituição de 1998. Elaborado com
intensa participação das entidades de defesa dos interesses das pessoas
idosas, ampliou em muito a resposta do Estado e da sociedade às suas
necessidades. Trata dos mais variados aspectos, abrangendo desde direitos
fundamentais até o estabelecimento de penas para os crimes mais comuns
cometidos contra essas pessoas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007, p. 5).

No art. 3° desse Estatuto, observa-se a obrigação da família, da comunidade, da


sociedade e do poder público de assegurar ao idoso diversos fatores com a
finalidade de que ele tenha um mínimo de dignidade.

2. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E O PRINCÍPIO DA IGUALDADE

A dignidade da pessoa humana está ligada a um valor moral, inerente à pessoa.


Manifesta-se na autodeterminação de uma vida consciente e responsável. Traduz a
ideia, a pretensão, o respeito por parte das demais pessoas, e também do Estado,
garantindo a pessoa humana uma vida digna.

Primeiramente prevê um direito individual protetivo, ou seja, a garantia da


individualidade e particularidade do indivíduo. Em segundo momento, alude as
necessidades da pessoa humana, o dever fundamental do Estado de garantir o
tratamento igualitário entre os semelhantes (MORAES, 2003).

Ao colocar a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado


Democrático de Direito, a Carta Magna, além de ter sido brilhante nesse aspcto, da
finalidade e da justificativa do próprio Estado e ao exercício do poder estatal,
reconhecendo que o governo existe em função da pessoa humana, e não o contrário
(SARLET, 2014, apud BLECKMANN, 1997, p. 539).

De acordo com o artigo 1º da Declaração universal dos Direitos Humanos (DUDH),


de 10 de dezembro de 1948, “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
dignidade e direitos. Dotados como estão de razão e consciência, devem agir uns
para com os outros em espírito de fraternidade”.

O autor Ingo Wolfgang Sarlet conceituia a Dignidade da Pessoa Humana como:

Qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor


do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade,
implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais
que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho
degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições
existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover
sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e
da vida em comunhão com os demais seres humanos (2002, p. 62).

Conforme mencionado, a principal carta que positiva a ideia de direitos humanos


quis trazer em seu primeiro artigo aquele que se tornaria um dos mais fundamentais
deles: a dignidade da pessoa humana.

Para Ramos (2018), a palavra dignidade vem de dignus que significa honra ou
importância e ainda conclui: “a dignidade humana consiste na qualidade intrínseca e
distintiva de cada ser humano, que o protege contra todo tratamento degradante e
discriminação odiosa, bem como assegura condições materiais mínimas de
sobrevivência” (RAMOS, 2018, p.78).

Tendo em vista esse paradigmiga, é devido salientar as condições do princípio da


igualdades, que em seu aspecto formal aduz a igualdade jurídica, que afirma que
todos são iguais perante a lei.

Resta frisar que o princípio pelo viez formal acaba por prejudicar algumas minorias,
como os idosos por exemplo, nas palavras de HECKLER e SCHIRMER (2014, p.03):

Peca, entretanto, ao ponto que trata todos os sujeitos rigorosamente iguais


sem distinção alguma. Em outras palavras, o princípio da igualdade na sua
concepção formal e jurídica, traduz a exigência da simples igualdade entre
sujeitos de direitos perante a ordem normativa, sem uma análise subjetiva
do caso concreto em que vai incidir. Pondo em pratos limpos, diz-se que o
referido princípio fez justamente o inverso do que previa: ao ponto que
tratava a todos os homens de forma idêntica, gerava ainda mais
desigualdades, sendo a economia o ponto chave dessa dissonância.

Sendo assim, com a evolução dos ideais e a preocupação em amparar as classes e


comunidades que necessitavam de mais atenção do Estado com um todo, houve o
desdobramento desse princípio, que inclusive está elencado no caput do artigo 5° da
Constituição Federal, e manifestou-se, então, a igualdade material. Que busca
suprimir as desigualdades, possibilitando o tratamento desigual para os desiguais, a
fim de iguala-los.
A noção de igualdade é vista também sob a ótica do direito à diferença, o
que não se traduz em direito à desigualdade social. Trata-se do direito a
ser respeitado em face de suas características e opções pessoais. O
direito à igualdade, ressalta-se, corresponde também ao direito a ser
diferente, ao reconhecimento da identidade, e ao recebimento de
tratamento digno, sem ser estereotipado ou obrigado a se enquadrar em
determinado padrão, imposto pela sociedade. As pessoas não precisam
ser consertadas para serem aceitas: elas são aceitas simplesmente como
são. A igualdade material, pressuposto essencial para a aplicação dos
Direitos Sociais e para a implantação da democracia, impõe ao legislador a
obrigação de promulgar normas que promovam a igualdade de condições.
Tratar de forma igual pessoas iguais e dar tratamento diferenciado às
pessoas com especificidades, após o reconhecimento de identidades e
necessidades. O Princípio da Igualdade deixou de estar restrito às
relações de Direito Público, abrangendo especialmente as relações de
Direito Privado. A nova visão da igualdade, sob o signo da oportunidade,
foi implementada sob a junção das duas vertentes: igualdade formal para
os pares, proclamada pelo Estado Liberal, e igualdade material, que tem
como fio condutor a intervenção do Estado na promoção de oportunidades
conforme as desigualdades factuais (GURGEL, 2007, p. 59).

Essa discussão se mostra de extrema valia para o tema aqui proposto, visto que, o
direto que rege as relações de consumo dos idosos, deve adotar muitas vezes as
práticas desse princípio para proteger a amparar esse grupo vulnerável quando
necessário.

3. O IDOSO NAS RELAÇÕES DE CONSUMO E A HIPERVULNERABILIDADE

No ordenamento jurídico brasileiro há um código de defesa do consumidor como


dádiva para os consumidores em suas relações comerciais que trouxe como
princípio basilar a vulnerabilidade da parte consumidora, que é tratada como
desfavorecida nos negócios jurídicos que advém desta.

De acorodo com MIRAGEM (2008), o princípio da vulnerabilidade é o princípio


basilar que cria o Direito do Consumidor. Por isso, o art. 4º, inciso I, do CDC, o
elenca como base de informação a Política Nacional das Relações de Consumo,
sendo que a vulnerabilidade do consumidor pessoa física consiste em presunção
legal e absoluta, cabendo à pessoa jurídica, quando necessário, fazer prova dele.

Dessa forma, os consumidores são em regra considerados vulneráveis, levando em


consideração que eles não possuem o poder de direção da relação de consumo,
estando expostos a variadas práticas comerciais do mercado (MIRAGEM, 2008,
p.61).

Portanto, nota-se um desequilíbrio negocial frente aos fornecedores, assim, foi


declarado pela doutrina e pela legislação, diversas formas de proteção a esses
indivíduos considerados vulneráveis. Dentre eles, os idosos necessitavam de uma
proteção ainda maior, pois sua vulnerabilidade é potencializada pela idade e
limitação, os quais são declarados hipervulneráveis (CAS, 2018).

Ainda, o entendimento acerca dos hipervulneráveis também está pacificado no


Superior Tribunal de Justiça (STJ) e corrobora os ditames legais. Podendo observar
o que o ministro Herman Benjamin disse no Recurso Especial nº 586.316:

Ao Estado Social importam não apenas os vulneráveis, mas sobretudo os


hiper vulneráveis, pois são esses que, exatamente por serem minoritários e
amiúde discriminados ou ignorados, mais sofrem com a massificação do
consumo e a “pasteurização” das diferenças que caracterizam e enriquecem
a sociedade moderna. Ser diferente ou minoria, por doença ou qualquer outra
razão, não é ser menos consumidor, nem menos cidadão, tampouco merecer
direitos de segunda classe ou proteção apenas retórica do legislador. O
fornecedor tem o dever de informar que o produto ou serviço pode causar
malefícios a um grupo de pessoas, embora não seja prejudicial à
generalidade da população, pois o que o ordenamento pretende resguardar
não é somente a vida de muitos, mas também a vida de poucos.

São considerados hipervulneráveis aqueles que estão em uma situação exagerara


de fragilidade, superando os limites habituais de vulnerabilidades. Advindo da
proteção ao consumidor, todos são considerados vulneráveis, havendo a
característica intrínseca do individuo final.

No caso dos idosos, Nishiyama e Densa (2010, p.19) destaca que “na ótica do
consumidor idoso, tratá-lo como hipervulnerável significa compreender que a sua
idade potencializa sua fragilidade como consumidor, exigindo-lhe um tratamento
especial”.

Essa vulnerabilidade aumentada nos idosos faz com que muitas empresas,
infelizmente, se aproveitem dessas condições para impor práticas abusivas a essa
classe. Muitas vezes os planos de saúde cancelam contratos devido ao aumento do
uso ou as operadoras de crédito pessoal apresentam propostas enganosas
prejudicando esses indivíduos (CAS, 2018).

O indivíduo que, durante boa parte de sua vida, contribui com


mensalidades, permitindo o crescimento da empresa administradora de
planos e de seguros de saúde, pode passar a ser visto como um fardo para
esta fornecedora, quando começa a utilizar com frequência os serviços
garantidos pelo seu contrato. Em princípio, uma pessoa jovem, que paga
normalmente seu plano, assim o faz por precaução. Naturalmente, a idade
avançada acaba se tornando período a partir do qual o indivíduo poderá
demandar uma atenção maior para com a sua saúde, sendo comum a
manifestação de determinadas patologias até então inexistentes. Em geral,
nos contratos de assistência de saúde privada de pessoas idosas verifica-
se, por exemplo, um número maior de consultas médicas (SCHMITT, 2014,
p.38).

Assim, observando as palavras de Barreto (2017), a qual afirma que os idosos


tendem a ter desconhecimento de questões jurídicas, contratuais e financeiras, e por
isso, muitas empresas se aproveitam e impõem produtos de forma exagerada a
esse grupo.

Segundo Marques (2005, p.398),

em face de pesquisa realizada junto ao Observatório de Crédito e


Superendividamento do Consumidor, bem como junto ao Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul, 47,9% dos idosos que contratam crédito pessoal
possuem reduzida educação formal, ou seja, possuem da 1ª a 4ª série
do ensino fundamental, sendo que 18,6% eram analfabetos.

Dessa forma, ocorre que os idosos acabam se endividando por precisarem de


produtos que são em sua maioria caros e de difícil alcance financeiro, pela
aposentadoria nem sempre ser satisfatória as necessidades desse grupo. E com as
oferta das empresas de créditos pessoal, acabam por aceitar ofertas que muitas
vezes são levadas de má-fé e de propagandas enganosas, facilitando a aquisição de
consignados e posteriormente trazendo mais transtornos financeiros.

Essas práticas são consideradas abusivas e são vedadas pelo Código de Defesa do
Consumidor (CDC), que no art. 39 diz:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras
práticas abusivas: I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao
fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a
limites quantitativos; II - recusar atendimento às demandas dos
consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e,
ainda, de conformidade com os usos e costumes; III - enviar ou entregar ao
consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer
serviço; IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo
em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-
lhe seus produtos ou serviços; V - exigir do consumidor vantagem
manifestamente excessiva; VI - executar serviços sem a prévia elaboração de
orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as
decorrentes de práticas anteriores entre as partes.

É possível observar que este diploma trás como prática abusiva a questão de
aproveitar-se da idade para impor produtos a essas pessoas, o que é muito comum
que aconteça com os idosos.

Nos casos em que o consumidor é lesado por essas práticas, é possível haver
indenização por danos morais e patrimoniais, e os fornecedores respondem
objetivamente pelos danos causados, ou seja, deve ser reparado o dano
independente de culpa (ALMEIDA, 2009).

Mesmo havendo legislações de proteção aos consumidores idosos e sanções para


as práticas abusivas dos fornecedores contra esses, é importante salientar que a
efetividade na proteção dos direitos consumeiristas deste grupo vulnerável não é
alcançada pois há grande desconhecimento dessas legislações e direitos por esse
grupo.

Sendo assim, é necessário que haja ampla divulgação da legislação pertinente, bem
como da amplitude aos órgãos de defesa do consumidor e da própria justiça, para
que o acesso a esses, garanta a seguridade da proteção inibindo as empresas de
praticarem atos contra essa classe.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista a hipervulnerabilidade do idoso nas relações de consumo, é


importante o levantamento do tema para compreender e verificar como esse grupo
tão estimado é tratado nessas relações jurídicas.

Esta pesquisa justificou-se pela importância do tema proposto, visto que os idosos
são pessoas em estado de vulnerabilidade e se tratando de direito do consumidor,
essa característica se torna ainda mais evidente.

Visando a garantia dos direitos constitucionais, é preciso observar o princípio da


dignidade da pessoa humana, que é o fundamento para a proteção dos direitos dos
grupos vulneráveis, dentre eles, os idosos.

Dessa forma, é importante observar como a hipervulnerabilidade do idoso é tratada


nas relações de consumo, uma vez que, a legislação consumeirista já aduz o perfil
do consumidor como desavantajado em relação às empresas, trazendo
possibilidades de equidade para equilíbrio dessa relação.

Sendo assim, há necessidade da garantia dos direitos dos idosos para que estes
não sofram consequências negativas em razão de sua vulnerabilidade. Por isso, o
legislador fez cumprir o determinado na Carta Magna e criou o Estatuto do Idoso,
que defende seus direitos e traz para a sociedade a obrigação de zelar por esse
grupo.

Há também o Código de Defesa do Consumidor, criado para regular as relações de


consumo dentro do ordenamento jurídico pátrio sendo, assim, o principal diploma
normativo no âmbito consumerista. Ao relacionar essas legislações, pode-se obter a
conclusão de que o idoso tem suas prerrogativas legais e seus direito positivados
nesses diplomas.

A posição vulnerável do idoso na sociedade como um todo o torna digno de uma


tutela especial, principalmente, na ordem jurídica do consumo. Assim, observar-se a
legislação atual que positiva os direitos de proteção a esse grupo, como o citado
estatuto do Idoso, também o Código de Defesa do consumidor, que visa garantir a
incolumidade das pessoas em idade avançada, sendo esse na seara do consumo.

Dessa forma, ao buscar seus direitos consumeristas, o idoso encontra-se protegido


pelo ordenamento jurídico, que solicita os órgãos de defesa do consumidor,
providências para a garantia de seus direitos.
Pautando o direito privado nos conceitos de dignidade da pessoa humana e
solidariedade social, a pessoa idosa passa a obter tutela existencial e patrimonial,
havendo interesse do Estado, a partir da Constituição cidadã, em garantir proteção
ao direito fundamental à vida.

É importante que os direitos do consumidor idoso sejam norteados pela observância


ao princípio da dignidade humana uma vez que se trata de dever do Estado cuidar
do consumidor como parte reconhecida como vulnerável nas relações
consumeristas, conforme determinação constitucional. Logo, tal determinação deve
ser cumprida com maior empenho pelo estado de vulnerabilidade que se encontra.

Portanto, o Estado como um todo tem por obrigação velar pelas pessoas de idade
avançada a fim de garantir a dignidade da pessoa humana inerente ao indivíduo
idoso, principalmente, quando se trata das relações de consumo, tendo em vista a
característica financeira dessas relações.
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