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Cansaço pós-covid: por que fadiga pode durar mais

que curso da doença


bbc.com/portuguese/geral-60386402

Giulia Granchi
Da BBC News Brasil em São Paulo

16 fevereiro 2022

Crédito, Getty Images

No início da pandemia, os sintomas pulmonares causados pela covid-19 eram


os principais focos de preocupação da doença. Mas passados quase dois anos
desde a chegada do novo coronavírus ao Brasil, a ciência já determinou que
os danos vão muito além disso: o Sars-CoV-2 causa uma doença sistêmica
que pode afetar diferentes áreas do corpo simultaneamente.

"Passada a fase inicial do ciclo do vírus, alguns sintomas permanecem para determinados
pacientes, sobretudo os neuropsiquiátricos", aponta Evaldo Stanislau, infectologista do
Hospital das Clínicas e membro da diretoria da SPI (Sociedade Paulista de Infectologia).

Entre eles, explica o médico, uma fadiga crônica, acompanhada de raciocínio lento, falhas
na memória e sensação de incapacidade de mover o corpo por cansaço extremo tem sido
um dos males que acompanha os acometidos pela doença - e parece ser ainda mais
frequente com a onda causada pela variante ômicron.

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Por que alguns sentem cansaço pós-covid?

Ninguém sabe ao certo. Assim como muitos aspectos da covid-19, a exata razão ainda é
um mistério, mas existem teorias que indicam possibilidades.

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"Algumas linhas de pesquisas apontam que os sintomas neurológicos são causados por
uma reação do próprio corpo em resposta à covid-19, criando um gatilho para
desencadear processos inflamatórios reativos", diz Stanislau.

Essa reação exagerada do sistema imunológico, chamada de tempestade de citocinas (as


emissões de sinais entre as células durante o desencadeamento das respostas imunes)
ocorre quando o próprio organismo do indivíduo cria um mecanismo de defesa
desproporcional para combater as várias células já infectadas pelo Sars-CoV-2. A
inflamação sistêmica causada nesse processo é indicada como uma das possíveis razões
para sequelas como a fadiga, perda de memória e falta de olfato e paladar.

Outra hipótese, diz Stanislau, é que esse processo de inflamação crônica seja causado por
pequeníssimas quantidades de vírus residuais.

A hipóxia silenciosa (falta de oxigênio no cérebro que não causa sinais intensos no início)
também é apontada como uma provável causa de danos graves. Além disso, há a
possibilidade — ainda sendo estudada — de que as células do cérebro sejam diretamente
prejudicadas pelo vírus.

O quadro de cansaço causado pela covid pode ser revertido?

O infectologista explica que podem existir estágios diferentes do mesmo fenômeno. "Pelo
que observamos da ação de outros vírus e doenças infecciosas que desencadeiam quadros
semelhantes, quando dura menos de oito semanas, geralmente o problema é revertido
naturalmente."

Para uma parcela menor, o sintoma de falta de energia pode durar de seis meses até um
ano - e ainda não se sabe como os danos causados pela doença vão repercutir em longo
prazo.

"Isso tem um impacto na cadeia produtiva muito grande, tanto quem trabalha com
atividades intelectuais como para quem usa habilidades físicas, já que o cansaço não
permite que a pessoa realize suas atividades da mesma maneira que antes", afirma
Stanislau.

Quem pode sofrer com o cansaço pós-covid?

"Não há nenhuma comprovação de que o cansaço extremo pós-covid ou outros sintomas


associados à covid longa tenham associação com outras comorbidades do paciente, carga
viral ou marcadores de DNA", diz o infectologista.

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"Por isso temos que trabalhar com a possibilidade de que todos têm potencial para sofrer
com essas sequelas - e se infectar propositalmente ou deixar de se proteger é
irresponsável."

Um grupo mais propenso a sofrer sequelas, no entanto, é o de pacientes que passaram por
internação prolongada. Nesses casos, geralmente há alterações articulares, da pele e do
sistema respiratório, causadas por, além do efeito da doença, a falta de alimentação direta
(para pessoas intubadas, utilizam-se sondas), e longos períodos sem movimento.

Tratamento

"Como não se sabe exatamente a causa, a recomendação é inespecífica, apenas para o


manejo de sintomas, o que pode incluir, por exemplo, um xarope para tosse e até a
prescrição de um antibiótico, se a doença causou uma infecção secundária como a
sinusite", indica Jordana Machado Araujo, infectologista do Hospital Japonês Santa Cruz,
em São Paulo.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,
Fisioterapia, descanso e apoio psicológico também podem ser tratamentos
complementares

Fisioterapia, descanso e apoio psicológico também podem ser tratamentos


complementares.

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"Em geral, os pacientes esperam que após os dez dias de isolamento a vida vai voltar ao
normal e isso não acontece para todos. A pessoa que quer voltar no mesmo ritmo de antes
da infecção e não consegue pode se sentir bastante abalada", complementa Araujo.

O mais importante, na opinião dos especialistas, é que a pessoa se informe, conhecer que
isso existe e que ela não é a única afetada.

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"As pessoas não devem se sentir culpadas pelos seus sintomas e precisam saber que não
são as únicas a passarem por isso. Existe certa vergonha em admitir um sintoma como
cansaço, as pessoas querem demonstrar que estão bem. Mas tudo bem não estar bem.
Meu recado é: 'Tenham calma e busquem ajuda'", recomenda o médico da SPI.

Outros sintomas comuns da covid longa

Além do cansaço extremo, os médicos explicam que os sintomas abaixo também podem
indicar que alguém está sofrendo de "covid longa":

Insônia
Tontura
Alterações no olfato e paladar
Alterações de humor
Depressão e ansiedade
Insônia
Dores musculares e nas articulações
Tosse residual
Esquecimento
Sensação de "corpo mole"

Se os sinais persistirem por um período prolongado, vale investigar com um clínico geral -
ou especialista, a depender se é um problema específico - se há outras causas.

"É interessante buscar alguém que tenha experiência na área para saber o que é
importante investigar, e o que é comum pós-covid, para não alarmar o paciente sem
necessidade", afirma a médica Jordana Araújo.

Leia mais sobre covid longa:

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