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Resumos Direito Constitucional Alexandrino
Resumos Direito Constitucional Alexandrino
Resumos do livro
Marcelo Rebelo de Sousa: A matéria regida pelo Direito constitucional pode ser
genericamente definida como a respeitante à estrutura, aos fins e às funções do
Estado, bem como à organização, titularidade, exercício e controlo do poder político a
todos os níveis.
Paulo Otero: O direito constitucional deve ser deslocado do Estado para a pessoa
humana.
Características:
a) Supremacia: As normas do direito constitucional são em geral lex superior
b) Estadualidade: Assinala-se a centralidade do Estado
c) Politicidade: Natureza política do objecto, mas também a natureza jurídica e
política de muitas estruturas, normas e instituições constitucionais
d) Complexidade: Variedade e pluridimensionalidade das normas
e) Incompletude: Existem grandes espaços por decidir
f) Abertura: Sendo uma ordem incompleta, esta aberta aos valores (abertura
axiológica), às estruturas políticas, econômicas e sociais (abertura
estrutural), mas também a outras normas e interpretações (abertura
normativa) e ao futuro (abertura temporal)
g) Permanência: Considerável estabilidade e até uniformidade das principais
normas do direito constitucional.
Gomes Canotilho: Teoria da constituição é uma teoria científica e uma teoria política
do Direito Constitucional.
Científica: Procura descrever, explicar e refutar os fundamentos, ideias,
postulados, construção, estrutura e métodos (dogmática) do direito
constitucional.
Política: Pretende compreender a ordenação constitucional do político, através
da analise, discussão e critica da força normativa, possibilidades e limites do
direito constitucional.
Ciência política: ciência social não normativa que estuda o fenómeno do poder, de
carácter descritivo, neutral e não normativo.
De modo nenhum4:
Devemos respeitar a autonomia de cada ramo do direito
As regulações constitucionais dessas matérias representam
apropriações parciais de domínios que se traduzem sobretudo em
limitações de direito publico
A haver um direito comum do direito publico, ele é hoje o direito
administrativo 5
O direito constitucional é um ramo de direito com características muito
especiais
Consultar manual
Capítulo I- O constitucionalismo
4. A ideia de constitucionalismo
Gomes Canotilho: Teoria (ou ideologia) que ergue o principio do governo limitado
indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização
político-social de uma comunidade.
Técnica especifica de limitação do poder com fins garantísticos.
C. Moderno: movimento político, social e cultural que, sobretudo, a partir de
meados do séc. XVIII, questiona nos planos político, filosófico e jurídico os
esquemas tradicionais de domínio político, surgindo, ao mesmo tempo, a
invenção de uma nova forma de ordenação e fundamentação do poder político.
C. Antigo: Conjunto de princípios escritos ou consuetudinários alicerçadores da
existência de direitos estatais perante o monarca e simultaneamente
limitadores do seu poder.
4.1.2
5
Ana Baptista 2016/2017
4.2.1
Fases do constitucionalismo:
Constitucionalismo das origens
o Duração: Séc XIV até segunda metade do séc XVIII (1776-1789)
o Nomes associados: Henry Bracton, Sir Edward Coke, James Harrington,
Maquiavel10, Althusius, Montesquieu11
o Traços que caracterizam: não envolve ideia de poder soberano, nem de
igualdade, nem de direitos individuais; assenta num principio de
moderação; ideal de constituição mista; assente em leis fundadas na
historia
Constitucionalismo das revoluções
o Estados unidos termina em 1787; França termina em 1799
o Thomas Hobbes, Rousseau, John Locke, Kant
o Afirmação da igualdade dos indivíduos; estado de natureza;
reconhecimento e proclamação dos direitos naturais como direitos
10 Propõe principio fundamental de moderação
11 Forma moderada de governo
6
Ana Baptista 2016/2017
Platão: Ideia de que a constituição não tem uma origem violenta, mas sim conciliadora
e plural; primeira ideia de constituição mista (concilia democracia, monarquia e
aristocracia); governo dos homens.
Políbio: Toda a forma de governo simples e fundada num único centro de poder é
instável.
S. Tomás de Aquino: Príncipe deve agir de modo equitativo e justo; admite direito de
resistência; constituição mista; poder temperado.
4.4.1
Hobbes: (Leviatã) Coloca a pessoa em primeiro lugar face ao Estado 13. O fim do Estado
é a conservação da liberdade dos homens, para que vivam de forma mais satisfeita.
Rousseau: Contrato social com objectivo de preservar a liberdade primitiva, sendo esta
bem supremo. Quanto mais o Estado cresce, mais a liberdade diminui.
4.4.2
Garantia dos direitos
Declaração de Independência dos Estados
naturais do Homem
Unidos 1776
Declaração dos direitos do Homem e do
cidadão 1789
4.4.3
José Melo Alexandrino: Os direitos do homem nasceram no final do séc XVIII como
direitos morais e desde essa altura até hoje passaram por duas metamorfoses: na
Hobbes: Poder político limitado pelo fim de garantir a segurança dos súbditos, mas
também pela equidade.
Racionalização do poder político (igual submissão de todos à mesma lei).
Montesquieu: Poder político limitado pelo direito, pelo pluralismo social e pela
moderação, e também pelos controlos recíprocos que devem existir entre os vários
poderes.
Racionalização do poder político (racionalização dos regimes políticos, doutrina da
separação de poderes).
Rousseau: até certo ponto o poder político está limitado pela soberania do povo, que
pode exprimir-se em qualquer momento.
Racionalização do poder político (vontade geral, regra da maioria, democracia directa,
referendo, participação de todos os cidadãos na feitura da lei).
Kant: poder político limitado pelo principio da liberdade, que lhe impõe a garantia dos
direitos, a moderação e recusa do despotismo.
Racionalização do poder politico (principio da maioria, doutrina de separação de
poderes).
Manifestações das formas de regulação já existentes do poder politico para além das
fronteiras do Estado:
Normas de ius cogens (matéria de direitos humanos em particular)
Direito da União Europeia (art 8º/4 CRP)
O nosso T.C. Ter apreciado em sucessivos acórdãos a validade dos
Memorandos da Troika à luz do Direito Internacional Publico e do
Direito da U.E.
Existência de instituições e das suas estruturas, como: ONU, TJUE, TEDH
Surgimento de um direito transnacional decretado à margem dos
Estados, por empresas e poderes transnacionais nas mais diversas
áreas.
José Melo Alexandrino: Ainda não ha lugar para falar em constitucionalismo global.
Porque:
No plano interno está-se a dar a crise das constituições
Dificuldade em regular o poder económico à escala global sobre o poder
politico e o jurídico
É ainda muito débil a protecção oferecida às normas de Direito Internacional,
como os direitos humanos
10
Ana Baptista 2016/2017
Gomes Canotilho:
Chega primeiro, antes do séc XIV
A superioridade deste modelo reside na força dos elementos em que se baseia,
nos principais agentes a que recorre e no fim que tem em vista:
o Baseia-se na tradição e pragmatismo, mas também a revolução e a
reforma
o Os agentes são o Rei, Parlamento e a supremacia da lei
o E o seu fim é a expansão da liberdade
Paulo Otero:
A liberdade/democracia fala Inglês
O contributo Britânico é anterior e qualitativamente superior ao legado da
Revolução Francesa
Desde o séc XIII: liberdade pessoal, direito de circulação, direito de acesso à
justiça, garantia de proporcionalidade da pena- Magna Carta 1215
Liberdades são base da constituição, são produto de direito ordinário e
aplicadas pelos juizes.
5.1.1
Gomes Canotilho:
Marcas do constitucionalismo Britânico:
Liberdade torna-se liberdade pessoal de todos os Ingleses e como segurança da
pessoa e dos bens de que é proprietário (39º Magna Carta)
Garantia da liberdade e da segurança impôs a criação de um processo justo
regulado por lei
As leis do País reguladoras das liberdades são reveladas e interpretadas pelos juizes
(common law)
A partir do séc XVII ganha estatuto constitucional a ideia de representação e
soberania parlamentar- Governo moderado
O poder supremo deve-se exercer através da lei do Parlamento (Rule of law-
primado do direito ou estado de direito)- Governo das Leis e não dos homens.
11
Ana Baptista 2016/2017
Henry Bracton: Séc XIII; recolha das leis e dos costumes da Inglaterra; o poder
governativo compete ao Rei, e o poder de declarar o direito é obra do Rei no
Parlamento.
Thomas Smith: Séc XVI; Parlamento como lugar de representação de todo o reino com
ascendente sobre o Rei.
John Locke: Filósofo do constitucionalismo das revoluções; não rompe com a tradição
inglesa de Constituição mista.
5.1.3
12
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A revolução começa por ser um acto de protesto das colónias contra a Inglaterra, por
causa da lei do papel selado 1765. A reação da coroa Inglesa e o surgimento das leis
intoleráveis (1774) vão dar lugar à revolta e à guerra das colónias com Inglaterra,
guerra que dura de 1775 até 1782.
Entretanto as colónias em guerra convocam dois congressos (reuniões dos seus
representantes), e a 4 de Julho de 1776, o II congresso vota a declaração de
independência, que apela aos direitos naturais, ao povo e à liberdade.
Em 1777, os novos Estados recém independentes criam uma confederação (uma
associação internacional de Estados, com vista a determinado fim, neste caso, o
esforço de guerra).
Perante a fraca estrutura, sob o impulso de nomes como Washington, Madison e
Hamilton, propõe-se a reforma da Confederação. Virá a surgir assim um Estado federal
e uma constituição- Constituição dos Estados Unidos- aprovada na Convenção da
Filadélfia em 1787 e posteriormente submetida à ratificação dos Estados.
5.2.1
Gomes Canotilho:
Marcas do constitucionalismo norte-americano:
a) Vontade de afirmar os Direitos que vinham da tradição Britânica e da Glorious
Revolution
b) Dirige-se contra um principio do direito constitucional inglês: o principio da
soberania do Parlamento
c) Reclama que acima da lei do Parlamento, deve existir uma lei superior
d) É ao povo que compete o exercício do poder constituinte
e) Poder politico normativamente limitado pela constituição
f) Consequências da constituição ser a lei suprema: lei superior torna nula
qualquer lei de nível inferior que contradiga os preceitos constitucionais; essa
proeminência da Constituição levará à elevação dos tribunais a defensores da
constituição (surge fiscalização da constitucionalidade)
Edward Coke: Autor Inglês; Leis fundamentais imanentes ao common law; necessidade
das normas fundamentais se tornarem vinculativas e garantidas pelos tribunais
John Locke: Autor Inglês; Novo fundamento racional das leis fundamentais;
13
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Thomas Paine: Defendia que o Rei de Inglaterra tinha abdicado perante os súbditos
americanos; a constituição é uma norma anterior e limitadora do poder do Estado; a
base do governo é um misto de autonomia e consenso
5.2.3
5.3.1
Traços:
a) Constitucionalismo que visa fazer um corte com o passado
b) Pretende criar uma ordem social e política totalmente nova
c) Ruptura com a constituição histórica precedente e com os direitos até ai
reconhecidos
d) Revolução proclama os direitos naturais do homem como direitos individuais
e) Contrato social assente nas vontades individuais
f) Poder de fazer a constituição (poder constituinte) é um poder originario
pertencente à nação15.
François Hotman: tradição de constituição mista anterior, com a qual se quis romper.
15 Abade de Sieyés
14
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Jean Bonin: tradição de constituição mista anterior, com a qual se quis romper.
Forma de Estado: União Real- forma de Estado composto; Estado Unitário, com
fenómeno de descentralização política desde 1999, com a criação de
parlamentos regionais no País de Gales, na Escócia e na Irlanda do Norte-
Estado Unitário Regionalizado.
16
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17
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17 Bill of rights
18
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Sistema de Governo: As opiniões divergem. Mas para a maior parte dos autores
é um sistema semipresidencial18, havendo quem fale em sistema de tendência
presidencial, em sistema hiperpresidencial e em sistema sui generis. Para o
Prof Alexandrino, parece tratar-se de um sistema de governo ambivalente, que
oscila entre semipresidencialismo (em cenário de coabitação) e o
hiperpresidencialismo (no habitual cenário de confluência entre a maioria de
governo e a maioria presidencial).
Regista-se uma aproximação nos séc XIX e XX à matriz Francesa, sobretudo nos traços
definidores do Estado de legalidade, mas com aproximação à matriz Inglesa, sobretudo
no período liberal, à matriz norte-americana em 1911 e ao constitucionalismo alemão
desde 1933.
7. Enquadramento histórico
20
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Estado Grego:
o Estados de reduzidas dimensões territoriais (espécies de municípios:
cidades- estado)
o Religião como fundamento ou cimento da comunidade
o Ideia de comunidade política dos cidadãos- princípio da igualdade cívica
o Liberdade apenas no âmbito da participação política (na polis) e não no
plano individual
o Diversidade de formas de governo
o Estabelecimento de coordenadas da democracia moderna e da
teorização do politico: formas de governo (puras e degeneradas); ideia
de governo misto; várias dimensões de justiça (comutativa, distributiva,
equidade); construção de utopias políticas.
Estado Romano:
o Organização hierárquica e escalonada do poder (base aristocrática)
o Não vigora principio de igualdade cívica
o Desenvolvimento da noção de poder politico, como poder uno
o Estruturação do sistema politico sobre a cidadania romana e o
município
o Reconhecimento de direitos do cidadão romano e uma progressiva
atribuição de direitos aos estrangeiros
o Separação entre o poder público e poder privado
o Coordenação entre poder central e o poder das províncias e dos
municípios
o Surgimento da ordem de valores cristã na ultima fase.
Estado medieval (ainda que seja prematuro falar em Estado nesta fase)
o Ausência de um poder central unificado
o Limitação teológica, moral e política do poder pela cristandade
o Identificação do bem comum como finalidade do poder político
o Distinção entre Rei (equidade) e tirano e pela admissão do direito de
resistência20
o Concreta aplicação da ideia de constituição mista, numa estrutura que
envolve o Rei, as corporações e os estamentos
Estado absoluto: Não esta limitado nem pelo Direito (acima do Direito) nem pela
separação de poderes (concentração de poderes no Rei), nem pelos direitos (ja não
existem antigos privilégios nem foram reconhecidos direitos do homem). O Monarca
pode intervir arbitrariamente.
22
Ana Baptista 2016/2017
Desde o séc XVIII até hoje o Estado constitucional em s. Amplo ja passou por diversas
formas históricas, para alem de momentos de ruptura e de suspensão.
Hoje em dia estaremos num momento denominado: Estado pós-social e democrático
de Direito.
Estados anti-liberais do séc XX: Estado fascista; Estado soviético; Estado nacional-
socialista- estas experiências de modo algum podem entrar no conceito de Estado de
23
Ana Baptista 2016/2017
Esta nova forma de Estado constitucional traz transformações no plano dos direitos
fundamentais e no plano da divisão de poderes:
Quanto aos direitos fundamentais- constitucionalização dos direitos sociais;
alargamento dos direitos políticos; reinterpretação dos direitos de liberdade.
Quanto à divisão de poderes- racionalização e eficiência estatal; reforço do
poder judicial; instituição da justiça constitucional para garantia da supremacia
da constituição.
Síntese:
Até ao séc XVI não se pode efectivamente falar de Estado
Com a desagregação do Estado medieval surge o Estado moderno como Estado
absoluto (Estado acima do direito, intervencionista e com concentração de
poderes no Rei)
Ao Estado absoluto sucede o Estado liberal de direito (Estado limitado pela
Constituição e pelo Direito, não intervencionista e com separação de poderes)
O Estado liberal de direito é interrompido na Europa pelo Estado anti-liberal
(como poder totalitário e noutras formas que assumiram os autoritarismos)
Ao Estado liberal de direito e ao Estado anti-liberal sucede o Estado social e
democrático de direito (intervencionista, aberto a uma pluralidade de
concretizações, com novo entendimento de separação de poderes, constituição
com supremacia sobre a lei)
Na actualidade, está a emergir um Estado pós-social e democrático de direito
(Estado limitado pelo direito, menos intervencionista e com um poder politico
cada vez mais diluído e fragmentado por factores externos e internos).
8. Conceito de Estado
8.1 Introdução
24
Ana Baptista 2016/2017
Estado numa perspectiva histórica- José de Melo Alexandrino (JMA): Estado como
resultado de um processo de concentração, racionalização, organização e
diferenciação do “politico”
Estado do ponto de vista material- JMA: Comunidade política organizada que exerce
uma determinada autoridade sobre um território.
Ou
Elementos do Estado:
Elementos essenciais:
Povo
Território
Poder politico
Elementos formais:
Nome
24 Holístico ou holista é um adjetivo que classifica alguma coisa relacionada com o
holismo, ou seja, que procura compreender os fenómenos na sua totalidade e
globalidade.
25
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Reconhecimento do Estado
Símbolos nacionais- bandeira, hino
8.2 Povo
Art 4º CRP
8.2.1 População
8.2.2 Nação
26
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Cidadania passiva: cidadãos, que por razoes de idade, demência ou outras definidas
por lei, não têm capacidade de exercer os direitos de participação política..
8.3 Território
8.3.1
Território engloba:
Território terrestre- abrange o solo e o subsolo correspondente à superfície da
crosta terrestre demarcada pelas fronteiras
Território aéreo- abarca o espaço aéreo compreendido entre as verticais
traçadas a partir das fronteiras terrestres e do limite do mar territorial quando
este existir
No caso de se tratar de um Estado ribeirinho, o território marítimo-
corresponde ao mar territorial, largura de 12 milhas náuticas. Convenção de
Mondego Bay 1982 e Lei 34/2006 de 28 Julho
Território marítimo:
Zona contígua: estende-se até às 24 milhas contadas desde a linha de costa
Zona económica exclusiva: Estende-se até às 200 milhas, exercendo o Estado
poderes relativos aos recursos naturais, aproveitamento económico,
investigação cientifica, etc e determinadas obrigações
Plataforma continental: abrange o leito do mar e o subsolo das regiões
submarinas adjacentes às costas ate uma profundidade de 200 metros ou até
onde a profundidade das aguas permita a exploração de recursos naturais.
8.3.2
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Ana Baptista 2016/2017
Relevância do território:
Dado definidor da nação- elemento unificador e aglutinados do Povo
Pressuposto de exercício de determinados poderes ou de presença de certas
atribuições
É ainda:
o Condição de independência nacional
o Circunscreve o âmbito do poder soberano do Estado
o Representa um meio de actuação juridico-política do Estado
8.3.3
Natureza jurídica das relações entre o Estado e o seu território: Teoria da jurisdição –
Estado com poder de jurisdição sobre as pessoas e as coisas que se encontrem no
território e ainda um poder de domínio sobre as coisas não apropriadas.
Marcello Caetano: Faculdade exercida por um povo de, por autoridade própria (não
recebida de outro poder), instituir órgãos que exerçam o senhorio de um território e
nele criem e imponham normas jurídicas, dispondo dos necessários meios de coação.
Notas:
A. O poder politico é uma faculdade que o povo exerce por direito próprio
B. Exprime uma autoridade constituinte, autoridade essa originária e
subordinante
C. Não se confunde com as demais formas de poder politico, nem se confunde
com soberania, pois nem sempre os Estados são soberanos
D. Traduz-se na instituição de órgãos de governo e instituição e definição da
ordem jurídica da colectividade
E. Implica a susceptibilidade do uso da força.
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Podem existir: Estados que não dispõem de soberania (Estados não soberanos e semi-
soberanos) e outras comunidades políticas territoriais que não são Estados (como U.E.,
regiões políticas ou autarquias locais).
25 Jean Bodin
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O poder politico pode ainda ser exercido por outras comunidades políticas territoriais
que não os Estados: a nível supraestadual (U.E.), a nível infra-estrutural (regiões
políticas e autarquias locais).
Elementos nucleares:
Uma comunidade de pessoas
Um poder politico não soberano
Um território
26 Paulo Otero
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9. Formas de Estado
Forma de Estado: tem a ver com as relações que se instauram entre o poder politico e
o território. O que está em causa portanto, é o modo como se relacionam esses dois
elementos do Estado: poder politico e território.
Há 2 formas básicas:
Estado simples ou unitário: ha apenas um poder politico dotado de autoridade
constituinte em todo o território.
Estado composto ou complexo: há vários poderes políticos dotados de
autoridade constituinte no território, poderes esses que se articulam em
distintos níveis territoriais
Confederação: não é uma forma de Estado, mas uma mera associação de Estados para
fins determinados no tratado constitutivo.
União pessoal: não é uma forma de Estado, apenas se traduz na existência de um
chefe de Estado comum a dois Estados.
Estado federal:
O principio republicano é favorável ao desenvolvimento da uma organização
federal
As principais experiências federais regem-se pelo principio da igualdade dos
Estados federados
Vários ordenamentos federais admitem a possibilidade de secessão
Resumindo:
Federalismo pressupõe uma dualidade/sobreposição de constituições, de
estruturas estaduais e de ordens jurídicas, devendo cada Estado federado
elaborar a sua constituição e organizar os respectivos poderes no respeito pela
constituição federal
Os Estados federados intervém na vontade política federal, quer na câmara que
os representa, quer na revisão da constituição federal
So o Estado Federado dispõe de soberania no plano internacional
Federalismo perfeito: Sao os Estados independentes que decidem criar uma realidade
politico constitucional superior (federação), razão pela qual a fundação é originaria e
não superveniente. Ex. EUA, Suíça, Canada.
União real: forma de Estado composto em que dois ou mais Estados, sem perderem a
sua autonomia adoptam uma constituição comum, prevendo a existência de um ou
mais órgãos também comuns, a par de órgãos particulares inerentes a cada qual.
Ex: Inglaterra e Escócia desde 1707, Reino Unido de Portugal e do Brasil entre 1815 e
1822, Suécia e Noruega entre 1818 e 1905.
Jorge Miranda: Na federação ha um fenómeno de sobreposição, na União real verifica-
se uma fusão.
Centralizado: monopólio das decisões por parte do poder politico central. Recusa o
pluralismo de poderes públicos dentro do território do Estado. Ex: Angola
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Estado Regional: Estado unitário, que dispõe de uma só constituição, elaborada por
uma instancia em que não participam as regiões enquanto tais, e em que se verifica
uma descentralização política em regiões autónomas.
Para que existe o Estado, qual a sua razão de ser, quais os fins para que foi
criado?
Hobbes: Segurança.
10.1.1 Segurança
Cabe ao Estado:
Proteger o homem contra a natureza, através das mais variadas formas
Proteger o homem contra a violência dos outros membros da comunidade e
contra inimigos externos, institucionalizando os mecanismos de garantia da paz
social e organizando o monopólio do uso da força
Proteger o homem contra a incerteza e o arbítrio, definindo, através de normas
jurídicas, os direitos e deveres de cada um.
A segurança como fim do Estado envolve a prossecução dos interesses vitais da pessoa
humana e da comunidade, a organização da força colectiva, bem como a determinação
jurídica dos direitos e deveres de cada um.
10.1.2 Justiça
Conteúdo da justiça:
a) Justiça como igualdade
a. Expressa nos direitos e liberdades básicas iguais para todos
b. A diferença expressa nos direitos e nos instrumentos ou os direitos
sociais mínimos que visam compensar as desigualdades de partida
10.1.3 Bem-estar
10.1.4 Sustentabilidade?
Devido aos novos desafios contemporâneos que a sociedade enfrenta, tem que se
deixar em aberto a questão de saber se devemos considerar a sustentabilidade como
novo fim dos Estados.
a) A sustentabilidade, não pode deixar de ser considerada um pressuposto da
Constituição
b) Ainda que seja um fim partilhado, não pode deixar de ser considerada um
fim próprio do Estado – sustentabilidade do planeta
c) Se não fosse considerada como fim de Estado, ficariam em risco os outros 3
fins clássicos do Estado, a começar pela segurança da vida colectiva.
10.2.1
10.2.2
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Função política: pratica de actos que respeitem, de modo directo e imediato, ao poder
politico e às relações deste com os outros poderes de Estado.
Função jurisdicional
Função administrativa
A cada uma destas funções correspondem, por sua vez, vários tipos de actos, podendo
os mesmos revestir conteúdo geral e abstrato ou natureza individual e concreta:
Função de revisão constitucional: correspondem leis de revisão constitucional,
actos que distinguem pela sua forma e força
Função política: correspondem inúmeros tipos de actos, entre os quais o
referendo popular, o programa de governo, as moções de confiança e censura,
veto, etc
Função legislativa: correspondem os actos legislativos, que se definem
essencialmente pela sua forma (conceito formal de lei)
Função jurisdicional: correspondem os actos por regra individuais e concretos
que revestem a designação de sentenças e acórdãos
Função administrativa: correspondem os actos administrativos e as operações
materiais, os regulamentos (que constituem normas jurídicas de carácter geral
e abstrato e execução permanente) e os contratos administrativos.
Função legislativa: Parlamento (neste caso com primado absoluto da Camara dos
comuns)
Função jurisdicional: tribunais (com exclusão recente do seu exercício pela Camara dos
Lordes).
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Função política: PR (120º, 133º, 135º), pela AR (161º, 162º e 169º), pelo governo
(197º, 200º e 201º), cabendo ainda ao colégio eleitoral.
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Ana Baptista 2016/2017
Como pode o Estado actuar e existir como unidade, capaz de exprimir e de agir, se não
possui vontade física?
O Estado vai ter de ser entendido e de se organizar como uma pessoa jurídica-
personalização do Estado.
Temos que admitir que o Estado é uma pessoa colectiva de tipo associativo, realizando
os seus fins e desenvolvendo as suas actividades através de órgãos que actuam em
representação do povo.
Titulares: pessoas físicas que, em cada instante, emprestam a sua vontade ao órgão
para que ele se possa exprimir.
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Ana Baptista 2016/2017
Não confundir o conceito de órgão com o de titular. Pode existir um órgão sem titular,
sem que isso implique o desaparecimento do órgão.
Atenção que a lei tem atribuído poderes funcionais a agentes, mas isso não significa a
perda do sentido da distinção, na medida em que esses funcionários são elevados de
agentes a órgãos administrativos do Estado.
11.3.1
Pessoa individual- principio da liberdade- pode fazer tudo o que nao for proibido.
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11.3.2
11.3.3
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110º/2 CRP
11.4.3 Estrutura
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11.5.1
Locke: Preocupação central era a de que o poder legislativo e o poder executivo não
estivessem nas mãos do mesmo órgão, o que conduziria à tirania. Poder legislativo
como poder supremo, ao qual está subordinado o poder executivo e o poder
federativo.
Benjamin Constant: Poder executivo, legislativo, judicial, e poder neutro (vulgo poder
moderador).
Concretização nas constituições portuguesas, salvo na primeira de 1822 e na de 1911.
11.5.2
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11.5.3
11.5.4
44
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11.7.1
Herança: forma de designação em que o novo titular ocupa, segundo as normas que
definem a ordem legal de sucessão, a posição de sucessor hereditário, após morte do
anterior titular.
45
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Eleição: forma de designação que resulta da expressão dos votos de uma pluralidade
de sujeitos.
11.7.3 Exemplos
11.8.1
Max Weber:
1) Legitimidade tradicional: hábitos e tradições acerca do fundamento de um
determinado poder existente
2) Legitimidade carismática: fascínio suscitado por alguém que é detentor de um
poder, de uma qualidade ou de um dom e na crença acerca da respectiva
missão
3) Legitimidade legal-racional: reconhecimento racional do carácter inevitável do
poder estatal, levando à crença na legalidade.
11.8.2
46
Ana Baptista 2016/2017
11.8.3
12.1.1
o Direito de resistência
o Principio da legalidade
Não jurídicas:
o Referencia do sistema ao Direito natural
o Ideia de separação entre o Estado e a sociedade
o Não intervenção do Estado na esfera econômica e social- Estado
mínimo/Estado guarda nocturno
12.1.2
12.1.3
É possível verificar que grande parte das demissões dos titulares dos órgãos de Estado
acontece não por violação de normas jurídicas, mas por violação de padrões éticos.
12.1.4
48
Ana Baptista 2016/2017
Não se pode negar à comunicação social, o seu papel na limitação do poder politico.
12.2.1
12.2.2
José de Melo Alexandrino: Não sendo jusnaturalista, não nega a interferência, e tem
defendido que a Constituição escolhe e vincula-se a um conjunto de valores que
recebe do exterior.
O Estado também beneficia dos direitos de liberdade, pela estabilização da sua relação
com a sociedade, e não são só meio de limitação da sua actuação.
direitos. O desrespeito por essas normas pode fazer com que os Estados incorram em
condenações decretadas por órgãos da comunidade internacional, sejam políticos ou
jurisdicionais.
Carta das nações unidas de 1945- de onde decorrem a maioria das obrigações dos
Estados.
Existem diversos tribunais internacionais, embora nem todos os Estados lhes estejam
submetidos- Tribunal Internacional de justiça, Tribunal penal internacional, e no plano
regional, Tribunal Europeu dos Direitos do homem, Tribunal interamericano de direitos
do homem, Tribunal Africano dos Direitos do homem e dos povos.
7º/6 CRP
8º/4 CRP
Carta dos Direitos fundamentais da União Europeia, adquiriu carácter vinculativo com
o Tratado de Lisboa a 1 de Dezembro de 2009.
José de Melo Alexandrino: adopta a designação dada por Jorge Reis Novais.
51
Ana Baptista 2016/2017
13.1.1
Aristóteles: Primeiro autor a teorizar os regimes políticos. Na sua definição tem que se
considerar 2 elementos: elemento externo (ou estrutural) que tem a ver com a
distribuição dos cargos governativos; e um elemento interno que tem a ver com a
concepção de Justiça partilhada por governantes e governados. Havia para este autor
regimes puros e regimes corrompidos.
13.1.2 Definição
13.1.3
52
Ana Baptista 2016/2017
13.2.1
53
Ana Baptista 2016/2017
13.2.2
13.2.3
54
Ana Baptista 2016/2017
Regimes não democráticos- regimes autoritários (de vários tipos, com lugar especial
para os regimes de teocracia constitucional que existem em países islâmicos dotados
de constituição escrita- Irão, Paquistão, Afeganistão) e totalitarismo.
14.2.1
56
Ana Baptista 2016/2017
concentração de poder politico no presidente, daí que Paulo Otero prefira falar em
hiperpresidencialismo.
14.2.2
A doutrina diverge:
i. Para alguns autores só interessa verdadeiramente o estudo de sistemas de
governo nos regimes democráticos (num regime ditatorial torna-se irrelevante
pois só necessitamos de identificar a fonte e revelar os mecanismos políticos e
jurídicos que encobrem a concentração de poderes);
ii. Para outros autores, o tipo de sistema de governo consagrado em certo Estado
não pode deixar de assumir um conteúdo estritamente relacionado com o
regime político vigente, começando pela sua filosofia que lhe serve de
conteúdo
O prof. José de Melo Alexandrino diz que devemos dar razão à segunda orientação. A
primeira tese acaba por tratar da mesma forma dois regimes políticos completamente
diferentes, o totalitarismo e o autoritarismo. Desconsiderando também o âmbito da
realidade regulado pelas normas que definem o sistema de governo, e deixa-nos sem
ferramentas para enquadrar e compreender os regimes autoritários, quando estes têm
características próprias que importa conhecer. Quanto à ciência política e direito
comparado, é necessário analisar as aproximações e afastamentos dos diferentes
sistemas, sob pena destas áreas ficarem em branco.
14.2.3
57
Ana Baptista 2016/2017
14.2.4
O Chefe de Estado tanto pode governar directamente (Angola), como governar através
de um órgão, podendo falar-se em sistema de chanceler (Constituição Imperial Alemã
de 1871).
58
Ana Baptista 2016/2017
59
Ana Baptista 2016/2017
Existe na Suíça.
Características:
Concepção rígida da separação de poderes
Afasta-se do sistema presidencial apenas pelo facto de o poder executivo estar
entregue a um órgão colegial (o Directório), e não a um órgão singular;
29 Paulo Otero
60
Ana Baptista 2016/2017
15.1.1
15.1.2
Modos de escrutínio: são as formas de apuramento dos mandatos a partir dos votos
expressos pelos eleitores. Sistema maioritário e o sistema de representação
proporcional.
61
Ana Baptista 2016/2017
Sistema da média mais alta de Hondt: tendo presente o nº de lugares a eleger num
determinado circulo, divide-se o nº de votos que cada partido obteve pelo nº de
lugares, ordenando-se em seguida os quocientes assim calculados, distribuindo então
os lugares pelos quocientes mais elevados.
15.1.3
15.2.2
Sistema sem partidos: Realidade existente até séc XVIII, mas ainda hoje existente na
Arabia Saudita, Macau.
Sistema bipartidário:
Bipartidarismo perfeito: os 2 maiores partidos obtêm cerca de 90% dos votos.
Ex: Cabo Verde ou EUA- em 4 de Nov. De 2014 os 2 principais partidos
obtiveram mais de 96% dos votos.
Bipartidarismo imperfeito: os 2 maiores partidos não obtêm mais de 75% a 80%
dos votos, o que confere a outro ou outros partidos um papel relevante no
equilíbrio do sistema. Ex: Reino Unido ou Alemanha.
Bipartidarismo condicionado: atendendo à presença de outros factores, de
ordem cultural, política ou social, que limitam a influencia real dos partidos.
Sistema multipartidário:
Perfeito: quando nele existam 3 ou + partidos que tenham um peso eleitoral
aproximado. Ex: Espanha no final de 2014.
Imperfeito/ de partido dominante: quando um dos partidos alcança pelo
menos 35% dos votos. Ex: é a situação de Portugal nas ultimas décadas.
Condicionado: quando existem outros factores que limitam a influencia real
dos partidos, como sucedeu em Portugal em 1975 ou como é o caso de Hong
Kong.
63
Ana Baptista 2016/2017
André Gonçalves Pereira: quer o sistema eleitoral quer o sistema de partidos têm de
ser considerados elementos constitutivos da própria definição de sistema de governo,
bem como o sistema eleitoral é a chave do sistema de governo.
15.3.1
Leis de Duverger:
O sistema maioritário a uma volta gera o bipartidarismo, com alternância de
grandes partidos independentes;
O sistema de representação proporcional geral o multipartidarismo, com
partidos rígidos, independentes e estáveis;
O sistema maioritário a 2 voltas gera um sistema multipartidário, com partidos
flexíveis, dependentes e relativamente estáveis.
15.3.2
64
Ana Baptista 2016/2017
Notas:
A reflexão acima apresentada acolhe e confirma o essencial das Leis de
Duverger;
Estas hipóteses de trabalho não perderam a sua actualidade e relevância;
A 3ª e 11ª hipótese não obtêm confirmação na realidade Portuguesa, desde
1987, ano em que foram publicadas;
A chave para estes desvios encontra-se num conjunto de factores culturais,
sociais e políticos especificamente portugueses.
Devem ser olhadas não como leis, mas como tendências ou hipóteses de
trabalho;
É extremamente difícil concordar ou discordar;
Podem ser condicionados por factores específicos: culturais, nacionalistas,
étnicos, linguisticos.
15.3.4
65
Ana Baptista 2016/2017
66
Ana Baptista 2016/2017
Critérios de classificação:
a) Extensão;
b) Carga ideológica;
c) Processo de alteração;
d) Autoria;
e) Concordância com a realidade (ou classificação “ontológica”).
16.2.1
16.2.2
O que permite, neste caso, ver se uma norma é ou não constitucional, não é o seu
conteúdo material, mas sim o procedimento adoptado, o lugar que ocupa no
ordenamento e a sua positivação num texto solene.
16.2.3
12.2.4
31 Jorge Miranda
68
Ana Baptista 2016/2017
Constituições concisas: são aquelas que formulam apenas as regras gerais básicas
relativas à organização dos poderes do Estado, aos direitos e liberdades fundamentais
dos cidadãos e à garantia da Constituição, cingindo-se à matéria constitucional em
sentido estrito e deixando tudo o mais à legislação orgânica ou complementar.
São normalmente associadas a normatividade, estabilidade e a maior capacidade de
adaptação do texto às mudanças sociais e políticas.
Ex: Constituição dos EUA de 1787, a mais concisa das Portuguesas é a de 1911 com 87
artigos.
69
Ana Baptista 2016/2017
Constituições rígidas: São aquelas que não podem ser modificadas pelo mesmo
processo adoptado para a elaboração das leis ordinárias, estando sujeitas a um
conjunto de limites formais, temporais ou materiais.
Constituições flexíveis: São aquelas que podem ser alteradas pelo processo
estabelecido para as leis ordinárias.
32 Karl Loewenstein
33 Jorge Miranda
70
Ana Baptista 2016/2017
16.7.1
constituição é como um fato que por enquanto está no armário, para ser usado
quando o corpo politico nacional crescer35.
16.7.2
17.7.3
35 Loewenstein
36 Loewenstein
72
Ana Baptista 2016/2017
Poder constituinte formal: Poder de adoptar normas com força jurídica superior à das
leis ordinárias, ou seja, o poder de adoptar uma Constituição em sentido formal.
A novidade do poder constituinte reside desde logo no facto de ele vir a ocupar o lugar
deixado vago pelas anteriores concepções da legitimidade e da origem do poder,
atribuindo ao povo (ou à nação) o fundamento da autoridade soberana que ate então
era reconhecida a Deus ou ao príncipe, conduzindo a um novo patamar o processo
histórico de racionalização e institucionalização do poder politico.
Características
Qual a sua natureza: estaremos diante de um poder politico supremo e
ilimitado ou diante de um poder jurídico essencialmente limitado?
17.2.1
73
Ana Baptista 2016/2017
Admite-se que se encontre de algum modo limitado juridicamente pelas normas de ius
cogens.
17.2.2
74
Ana Baptista 2016/2017
Não se questiona que o poder constituinte seja um poder essencialmente jurídico, por
trazer consigo a afirmação de uma nova ordem de validade, expressa nos princípios
que dão corpo à nova Constituição material.
Não deixa também de ser autoridade e poder no sentido politico, razão pela qual
também o poder constituinte, se situa na encruzilhada entre Direito e a política.
17.3.1
17.3.2
75
Ana Baptista 2016/2017
17.3.3
Jorge Miranda: a regra será a de que se trate de uma modificação parcial, visando a
continuidade institucional.
Também é possível revisão total (Constituição Espanhola de 1978), ou que possa existir
de facto uma transição constitucional, que representará uma ruptura com a
Constituição material anterior (ruptura na ordem constitucional).
17.4.1
Blanco de Morais: (generalidade dos autores tem esta opinião) o poder de revisão é
um poder juridicamente limitado pelo poder constituinte, encontrando-se submetido
aos limites que lhe tenham sido fixados na Constituição.
Constituição rígida: aquela que não pode ser modificada pelo mesmo processo
adaptado para elaboração das leis ordinárias, estando sujeita a um conjunto de limites
formais, temporais ou materiais.
Limites formais: são aqueles que respeitam à definição dos órgãos competentes para
desencadear ou aprovar a revisão ou às maiorias necessárias para o efeitos.
A tese que o Prof. José de Melo Alexandrino tem defendido é a da relevância absoluta,
com base nos seguintes postulados jurídicos acerca do poder de revisão constitucional:
Não existe identidade de natureza entre o poder constituinte e o poder de
revisão constitucional;
O poder de revisão, enquanto poder constituído, está heteronomamente
subordinado aos limites que previa e superiormente lhe foram fixados;
Os limites materiais constituem proibições permanentes e absolutas, cuja
violação coloca a lei de revisão constitucional extra ordinem;
As normas de limites materiais constituem normas de nível hierarquicamente
superior ao das restantes normas constitucionais;
Não pode deixar de presumir-se o conteúdo útil e a relevância jurídica de todos
os limites materiais expressos;
Os limites materiais não protegem necessariamente toda a Constituição
material, mas algumas das suas linhas mestras;
Os limites materiais protegem núcleos duros, princípios, essências, mas não a
extensão ou a concreta expressão constitucional de um determinado domínio
regulativo;
São múltiplas as funções desempenhadas pelos limites materiais, desde uma
função de clarificação, de individualização, de advertência política, até à função
de assinalar a superioridade normativa dessas mesmas disposições de limites;
Os limites materiais não são a única formula, nem talvez a mais eficaz, de
garantir os conteúdos identificadores da Constituição;
É razoável a orientação geral segundo a qual (numa ordem jurídica democrática
e livre) os limites materiais devem ser objecto de interpretação e de aplicação
restritivas.
Jorge Miranda:
Vicissitudes expressas:
o Revisão constitucional
o Derrogação constitucional
o Transição constitucional
o Revolução
o Ruptura não revolucionária
o Suspensão parcial da constituição
Vicissitudes tácitas:
o Costume constitucional
o Interpretação evolutiva da Constituição
o Revisão indirecta
78
Ana Baptista 2016/2017
17.5.1
17.5.2
17.5.3
17.5.4
79
Ana Baptista 2016/2017
Abertura não significa que tudo esteja aberto na Constituição, nem que não haja
limites a esse fenómeno. Espera-se que a Constituição fixe aquilo que deve ser
considerado decidido.
18.2.1
39 Canotilho
80
Ana Baptista 2016/2017
Constituição como ordem-quadro (ou moldura): salienta-se que nem tudo está
predefinido na Constituição. É tarefa da interpretação constitucional a definição da
largura dessa moldura.
18.2.2
18.2.3
Vamos olhar aqui para a Constituição como algo mais vasto- sistema de valores,
princípios, regras e procedimentos- e não como Constituição enquanto sistema de
regas e princípios (estritamente normativa).
18.3.1 Exemplos
Pode-se admitir esta interpretação, contudo no nº1, não podemos resumir esse
preceito a uma única norma, uma vez que dele decorrem pelo menos 4 normas
diferentes:
1) Garante o direito de não ser morto pelo Estado;
2) Dever do Estado de proteger a vida da pessoa;
3) Garantia da vida humana como bem;
4) Direito à sobrevivência.
Não se pode excluir aqui que a vida humana seja também aí proclamada como valor.
18.3.2 Conceitos
Valores: são realidades referidas a fins (mas também a bens e interesses) que
reflectem preferencias intersubjectivamente partilhadas: liberdade, autoridades
dignidade humana, lei divina, igualdade, etc.
Distingue-se das regras e princípios, porque estes têm carácter deontológico e
vinculatividade plena, ao passo que os valores se definem por serem apenas
relativamente vinculativos e pelo seu carácter axiológico.
Os valores são autônomos, vivem em geral numa esfera diversa da esfera do Direito e
são afectados de forma diferente pelas alterações sofridas pelo Direito positivo.
Qualidade:
o Valores transcendentes
o Valores imanentes
o Valores reais
82
Ana Baptista 2016/2017
Espécie:
o Religiosos
o Éticos
o Políticos
o Sociais
o Estéticos
o Jurídicos
Relevância:
o Velha sabedoria do povo
o Bem-estar
18.3.3
83
Ana Baptista 2016/2017
Tribunal Constitucional:
Formalmente um tribunal
Função jurisdicional
Os seus actos têm natureza de actos jurisdicionais
Não deixa de ser um órgão politico:
o Forma de designação dos seus titulares (eleitos por órgãos políticos)
o Legitimação democrática reforçada de que aparece revestido
o Natureza das matérias que é chamado a resolver, como a fiscalização da
constitucionalidade ou os processos relativos a conflito de poderes
o Poderes especiais de modulação das decisões de inconstitucionalidade
(sentenças manipulativas)
Deve o TC, a partir do conhecimento aprofundado das realidades jurídicas e
políticas que lhe são trazidas, desenvolver um conjunto de virtudes de um juiz
de principio, nomeadamente as de razoabilidade das soluções perfilhadas, a da
previsibilidade das decisões, a da adequação funcional dos juízos e a da
legitimidade no confronto com a maioria;
A jurisdição constitucional não cabe apenas ao TC, cabe também aos Tribunais
superiores da ordem comum (Europa, América do Sul, Alguns países africanos)
ou a Conselhos Constitucionais (França, Países africanos de influência francesa);
O TC é obra de Kelsen;
O Conselho Constitucional acusa influencia de Sieyes;
84
Ana Baptista 2016/2017
Devemos resumir a Constituição, no caso de ser escrita, à sua parte visível (textos) ou
deveremos integrar outros materiais no seu corpus?
A Constituição não pode ser concebida como uma ordem totalmente isolada.
Devemos olhar para a Constituição como uma estrutura normativa rodeada de uma
série de outras normas de relevância constitucional, mesmo que não sejam
formalmente constitucionais. Essas outras normas chamamos de “rede de regulações
constitucionais”.
Alguns autores: a CRP não passa hoje verdadeiramente de uma constituição parcial,
regional ou até exígua. (Talvez seja exagerado)
85
Ana Baptista 2016/2017
19.2.1
19.2.2
43 Blanco de Morais invoca como fonte neste quadro de crise financeira recente.
86
Ana Baptista 2016/2017
Pode acontecer ir alem desses elementos, como sucede no caso francês, com a
inclusão no corpus constitucional dos preâmbulos das constituições de 1946, 1958 e da
própria Declaração dos direitos do homem e do cidadão de 1789.
19.3.1
Costume constitucional:
a) Secundum legem;
b) Praeter legem;
c) Contra legem.
87
Ana Baptista 2016/2017
Constituição formal rígida: carácter derivado do costume tem sido revelado, na sua
relação com a lei constitucional.
A AP não pode invocar o costume para justificar uma actuação contrária à lei, nem
pode haver afectações de direitos fundamentais com fundamento no costume.
Para alem desse costume derrogatório, ha outro tipo de costume contra legem muito
mais frequente, que tem uma relação directa com o conceito de Constituição nominal:
desuso.
19.3.2
Paulo Otero: Ao lado da Constituição oficial decretada pelo poder constituinte existe
uma constituição não oficial, resultante do poder constituinte informal (que é difuso,
não escrito e não intencional), cuja principal componente é justamente o costume
constitucional.
A constituição revela sempre uma permeabilidade, maior ou menor, aos factos e à
normatividade informal. Normatividade esta que pode completar o direito escrito,
como pode levar à sua desaplicação, subversão e transfiguração.
José de Melo Alexandrino: uma constituição não se pode resumir ao seu texto. Tem
que se reconhecer a distancia que pode existir entre o texto e a realidade
constitucional. Em termos normativos, o que interessa é a Constituição efectivamente
em vigor, a Constituição real.
A proposta de Paulo Otero não se articula com a teoria das fontes, nem com a teoria
da interpretação, levando a consequências incompatíveis com os postulados básicos
do constitucionalismo.
Inclina-se para a rejeição não do costume constitucional, mas da ideia de constituição
não oficial, pois a questão coloca sérias dificuldades em matéria de
inconstitucionalidade e revisão constitucional.
88
Ana Baptista 2016/2017
Maria Lúcia Amaral: os Princípios distinguir-se-iam das Regras pelo seu diferente:
Conteúdo (que é mais amplo e indeterminado);
Função (porque não se esgotam em si mesmos);
Modo de realização (por se poderem cumprir em diferentes medidas).
Robert Alexy44:
Os princípios são normas que exigem que alguma coisa se realize na maior
medida possível, dentro das possibilidades factícias e jurídicas existentes; Os
princípios são por isso mandados de optimização susceptíveis de
preenchimento em graus diversos; as regras são normas que ou se preenchem
ou não se preenchem, sendo aplicáveis em termos de tudo ou nada;
Uma vez que são mandados de optimização, os princípios apresentam um
outro traço distintivo, que consiste numa específica dimensão de peso, força ou
importância, o que se mostra particularmente relevante nas situações de
colisão entre princípios, dando origem a problemas de eficácia, mas não de
Habermas: Os princípios são normas que têm uma pretensão de validade não
especificada (podendo ser realizados em graus diversos), ao passo que as regras
fornecem a solução de um problema.
90
Ana Baptista 2016/2017
Normas exequíveis: são aplicáveis por si mesmas, sem necessidade de lei que as
complemente. 12º, 24º, 42º, 43º, 44º, 45º, etc.
Normas não exequíveis por si mesmas: carecem de outras normas legislativas para
serem plenamente aplicáveis às situações da vida. 26º/2, 40º, 41º/6, 52º/3, 61º/4 etc.
19.6.4
CRP 76:
Quanto às normas, trata-se de realidades espirituais que exprimem aquilo que
é devido (um dever ser); podem ser expressas ou implícitas; podem revelar-se
na lei constitucional, no costume ou nas interpretações; podem ser regras ou
princípios; podem ser normas preceptivas ou programáticas; podem ser
normas exequíveis ou não exequíveis por si mesmas, etc;
Estrutura: uma forma, dotada de um certo grau de complexidade, onde se
articulam vários elementos;
Dogmática: disciplina (multidimensional) que procura descrever o Direito em
vigor, proceder à sua analise conceptual e sistemática e elaborar propostas
sobre a solução adequada de problemas jurídicos.
91
Ana Baptista 2016/2017
36º/2- não é um direito fundamental mas sim uma garantia institucional, ou seja, uma
estrutura constitucional que protege uma instituição ou realidade social, neste caso, ja
existente na ordem jurídica. (Cabe à dogmática constitucional identificar o significado,
alcance, o regime e a função destas figuras)
Há ainda na I parte realidades que não são direitos fundamentais, nem garantias
institucionais, mas sim deveres fundamentais. Ex: 36º/5, 66º/1, 78º/1, 103º/3.
Dever fundamental: estrutura que define uma situação jurídica passiva básica da
pessoa consagrada na Constituição. Neste caso, a pessoa está obrigada a praticar ou a
não praticar certo acto. Segundo a dogmática constitucional, os deveres fundamentais
têm certas características e podem servir, por exemplo, de fundamento para restrições
a direitos fundamentais.
Ver no livro.
A Constituição é composta por regras e princípios. As regras normalmente não dão azo
a grandes problemas de interpretação, sendo normalmente aplicadas em termos
subsuntivos. Já com os princípios, as coisas são diferentes, uma vez que para além da
determinação do seu alcance, em muitos casos, eles têm de ser ponderados, tendo em
conta o peso ou importância, podendo por essas razões vir a ser aplicados em graus
distintos.
Alguns autores46: se a constituição é uma lei, ela deve ser interpretada do mesmo
modo do que a lei, não sendo a interpretação da constituição de natureza diferente da
interpretação em geral.
Unidade;
Identidade;
Adequação;
Efectividade;
Supremacia.
2 grandes correntes:
Método tópico orientado aos problemas
Metódica estruturante (que entende a interpretação como concretização) 47.
21.2.1
47 Lição alemã
94
Ana Baptista 2016/2017
Vamos responder à pergunta: como ler a constituição, mas a partir não de uma
corrente teórica, mas a partir da reflexão constitucional norte-americana.
21.2.2
21.3.1
Observações de partida:
Constituição concebida como documento que procurou estabelecer um
delicado equilíbrio entre o governo politico da sociedade e a liberdade
individual e a questão, considerada central, determinar que papel deve a
historia desempenhar, quando o próprio texto constitucional se apresenta com
uma historia complexa e multifacetada e deixa, ele próprio muitas vezes, ainda
muito espaço para a imaginação.
A constituição pode ser misteriosa, não deve ser uma bola de cristal, onde
possamos ler o que nos aprouver.
48 Paulo Bonavides
95
Ana Baptista 2016/2017
Hiper-integração: uma abordagem da Constituição por vias que ignorem o facto não
menos importante de o todo conter partes distintas, partes que reflectem diferentes
premissas, muitas vezes radicalmente incompatíveis.
Ex da 2ª falácia na CRP76: 13º/2, 36º/1, 24º/1- que pretendem identificar como visões
unitárias e sagradas da Constituição, respectivamente, a não-discriminação ou a
inviolabilidade da vida humana.
21.3.2
Texto: deve ser sempre o ponto de partida do interprete, sendo muitas vezes
suficiente para resolver um nº considerável de casos, sem recorrer a uma visão
da estrutura. Impõe-se ao interprete um vinculo com o texto, que deve ser
entendido como padrão de conduta juridicamente vinculativo.
Estrutura: quadro de princípios que dão solidez ao edifício constitucional
(relações organizativas entre os postulados estruturais fundamentais que
enformam a constituição como um todo). Na insuficiência de texto, há um
certo nº de casos que exige a extrapolação para essa dimensão superior.
História: e ainda a doutrina e precedentes.
21.3.3
21.3.4
21.3.5
Ex: interrupção voluntária da gravidez: devemos excluir à partida quer uma leitura dês-
integrada da norma da “inviolabilidade” da vida humana, quer uma leitura hiper-
integrada da Constituição, em que a dignidade humana ou vida humana funcionassem
como valor unitário e sagrado. (24º/1)
Talvez mais do que o texto, é a estrutura que justifica a legitimidade das soluções
encontradas em Portugal para os 2 casos acima.
Não quer dizer que sejam as respostas melhores ou as definitivas, razão pela qual o
legislador estará autorizado a modificar qualquer dessas 2 opções- reversibilidade das
decisões.
Seguida por Gomes Canotilho e Miguel Nogueira de Brito, confluem o método jurídico,
a hermenêutica filosófica e a metódica normativo-estruturante em sentido estrito.
21.4.1
21.4.2
21.4.3
21.4.4
99
Ana Baptista 2016/2017
21.4.5
A considerar:
O plano das condições da concretização: a 1ª etapa consiste na identificação da
solução prevista por um determinado interprete, 2ª o anteprojecto de solução
que ele concebeu.
O plano do procedimento da concretização: o interprete deve começar por
escolher os pontos de vista apropriados que o hão-de orientar. Deve depois
percorrer os vários elementos de interpretação (literal, genético, histórico,
sistemático, teológico). Deve então prosseguir, interrogando os precedentes e
investigando outros eventuais pontos de apoio junto da dogmática
constitucional.
O plano dos princípios da interpretação: ter em conta o impacto da solução nas
relações (ou na delimitação das esferas) entre jurisdição e legislação, o efeito
integrador resultante do sentido da solução de cada caso e a sua eventual
repercussão (negativa ou positiva) na força normativa da Constituição.
21.5.1
Há lacunas na CRP.
100
Ana Baptista 2016/2017
Exemplos:
30º/5- Que direitos fundamentais podem ser limitados numa situação de prisão
preventiva quando a CRP só prevê limitações nos casos já condenados?
186º/5-Qual é a situação em que o Governo fica após a dissolução da AR,
quando a CRP só acautela a situação do Gov. Antes da apreciação do programa
ou após a sua demissão?
249º- De que garantias gozam as freguesias antes de serem extintas, quando a
CRP apenas acautela a audição dos municípios?
286º/3- Qual o prazo de que dispõe o PR para promulgação da lei de revisão
constitucional, quando a CRP apenas diz que ele é obrigado a promulgar?
As lacunas devem ser distinguidas daquelas situações que a CRP pretendeu deixar à
decisão política, havendo aí não uma lacuna, mas uma margem de liberdade
(discricionariedade) concedida ao legislador, sendo esses domínios encontrados nos
planos das funções políticas e legislativas e não constitucionais.
As lacunas também devem ser distinguidas das omissões legislativas, que podem ser
absolutas ou parciais, conforme falte uma lei necessária para dar exequibilidade a
normas constitucionais (283º) ou haja apenas, à luz do principio da igualdade, falta de
regulação de certas situações relativamente a determinadas categorias de pessoas.
As omissões com a ausência de lei ou regulação legal, e só podem ser reparadas pelo
legislador (no caso de omissões absolutas) ou pelo juiz constitucional (omissões
parciais).
Não poderia deixar de haver lacunas na CRP, na medida em que esta se apresenta à
partida como uma ordem-quadro, aberta e fragmentária, e não como um código
pormenorizado ou menos ainda como um sistema fechado. A CRP tem de deixar
necessariamente espaços abertos às opções e decisões dos poderes constituídos sob
pena de uma rigidez que levaria rapidamente à ruptura com a realidade constitucional.
Jorge Miranda: Uma vez que a Constituição é uma ordenação (ou seja, um sistema)
que tem características próprias que a distinguem dentro do ordenamento jurídico, a
integração das lacunas em sistemas de Constituição formal deve ser procurada no seio
da própria Constituição, sem recurso às normas da legislação ordinária.
Pode acontecer que a CRP escrita não preveja uma determinada norma, mas que a
situação esteja acautelada por uma norma implícita, por uma norma de costume ou
por uma interpretação. Nestes casos não existe propriamente uma lacuna no sentido
amplo.
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A CRP pode não prever certas matérias, mas pode proceder à devolução do assunto
para lei ordinária ou para normas do Direito Internacional ou de Direito Europeu
(remissões).
21.5.2
Consultar: Blanco de Morais- Curso de Direito Constitucional, tomo II, parte V “Para
que serve uma constituição?”
Notas finais:
Esta sistematização apenas serve nos regimes democráticos
Não cabe à Constituição dirigir a sociedade
Num momento de crise do Constitucionalismo (dilata por: globalização, perda
de capacidade de regulação do económico e do politico por parte do Direito,
diluição da força normativa da Constituição), mas também de crise da Teoria da
Constituição, a insistência neste núcleo de funções pode continuar a ser um
apoio útil.
54 Posição adoptada pelo Prof. José de Melo Alexandrino
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