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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF

STC00228 - CONTABILIDADE PARA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


CURSO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
PROFª. MARIA DE FATIMA PINEL
ALUNOS: MARCUS VINICIUS SOARES ANJOS
MARIA BEATRIZ
BRUNA
YASMIM FERREIRA
MATHEUS

SECURITIZAÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA

Iniciando pela conceituação, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) define a


securitização como sendo a prática financeira que consiste em agrupar um ou mais ativos
financeiros, convertendo-os em títulos ou quotas de fundos negociáveis no mercado de capitais.
Desse modo, a transferência da dívida é realizada para um ou mais investidores sob a forma de
instrumentos negociáveis.

Figura 1: Vantagens da operação de securitização

Essa operação tem como objetivo permitir que receitas de vendas futuras possam ser
antecipadas (cessão de recebíveis), em teoria de uma forma mais vantajosa, do que um
empréstimo bancário, por fornecer captação de recursos financeiros ajustados aos fluxos de caixa
de projetos específicos ou na forma de ampliação no portfólio de crédito no mercado financeiro,
além dos limites impostos pelos bancos. Essa vantagem, enfim, antecipa recebíveis futuros e
aumenta a liquidez presente.

A autorização dos entes federados a securitizar seus direitos creditórios da dívida ativa, os
riscos que circundam os investidores e os cidadãos que dependem de um cenário econômico
equilibrado, a destinação dos recursos securitizados, a gestão responsável dos dirigentes
governamentais, além da possibilidade de conflitos intergeracionais que precisam ser melhor
investigados.

Figura 2: Diagrama geral da operação de securitização envolvendo as receitas públicas

Fonte: dos Santos, Luis Augusto Ferreira. Revista Eletrônica do Ministério Público do Estado do Piauí Ano 01 -
Edição 01 - Jan/Jun 2021

Contudo, operações financeiras possuem riscos e nas operações de securitização os


riscos podem ser elevados, a Securitização no Setor Público envolve créditos fiscais tributários da
Fazenda Pública (“Dívida Ativa”), a operação que é centralizada na compra de uma dívida por
parte de investidores que decidem assumir o risco envolvido em troca de um benefício na forma
de juros remuneratórios conhecidos, no Setor Público a discussão se transfere para o fato de que
se a cessão dos créditos tributários da dívida ativa representam ou não uma forma de operação
financeira por antecipação de receitas futuras para o ente público, isso resultaria em uma forma
de mascarar uma operação vedada na Lei de Responsabilidade Fiscal quanto ao limite de
endividamento.

Historicamente a União autorizou a securitização de empréstimos com garantia soberana


em apenas três casos, sendo os mutuários os estados de Minas Gerais, Maranhão e Rio de
Janeiro e em nenhum dos três casos houve a redução de custos, o custo dos empréstimos
através da securitização foi semelhante aos custos de outros empréstimos sem securitização.
Além disso, o spread do título que teve o empréstimo como lastro aproximou-se do custo
soberano. De fato, o benefício da securitização acabou sendo apropriado ou pelo credor do
empréstimo original, ou pelos investidores que compraram o título subjacente.

Figura 3: Diagrama do Desvio de Recursos


A antecipação da receita pública deve seguir conformidades no sentido de proteger os
parâmetros da gestão pública e a própria continuidade do ente público, ao preservar o “potencial
de gerar serviços” das receitas, estabelecendo limites ao gestor atual, de maneira a preservar
recursos financeiros para gestões posteriores, do contrário, a despeito do endividamento futuro
insustentável, a liquidez presente estaria garantida.

O gestor público, no momento do seu mandato, geralmente se deparará com incapacidade


de interferir em apropriações por parte da empresa de securitização sobre ativos imobilizados ou
mobiliários que foram usados como garantias aos investidores.

Para não comprometer sua atuação fiscalizadora dos gastos públicos, os órgãos de
controle devem verificar, com a transparência requerida, a incorporação de ativos municipais ao
capital ou ao patrimônio da empresa securitizadora e verificar a possibilidade de impactos na
disponibilidade orçamentária em gestões futuras.

Ainda existe o risco de assimetria informacional, o modelo de securitização pode ser


dividido em 2 fluxos, um interno e outro externo. A interface dessa externalidade, nas negociações
dos títulos a terceiros particulares, se distancia do Controle e Transparência do Ente Público. A
limitação na transparência pode ser explicada por meio do problema da assimetria informacional.

Figura 4: Diagrama geral do fluxo e monopólio da informação nas transações entre os agentes da securitização
da dívida ativa

Fonte: dos Santos, Luis Augusto Ferreira. Revista Eletrônica do Ministério Público do Estado do Piauí Ano 01 -
Edição 01 - Jan/Jun 2021

As informações que precificam os ativos financeiros passam do sistema público para o


sistema de mercado de capitais, regido por regras de Mercado, que visam maximizar retornos,
minimizar riscos e reforçar garantias. É nesse momento que a transparência é comprometida: a
empresa securitizadora, na intenção de maximizar seus interesses, tenderá a selecionar os
melhores créditos para compor a debênture ofertada e o Ente Público não detém todas as
informações motivada pela assimetria informacional.

Figura 5: Diagrama Contratação Disfarçada de Dívida

Sobre a eficiência de recuperabilidade dos créditos tributários em cobrança para a Dívida


Ativa, se pode verificar que os níveis de créditos recuperados alcançam percentuais baixíssimos
estacionando em patamares irrisórios em torno de 0,5 a 1,0%, o TCU declarou que a visibilidade
dos volumes recuperados, não se distanciam das quantias recuperadas na atuação usual das
PGFM (Procuradorias Gerais da Fazendas Municipais), refletindo em ausência de redução de
custos supostamente esperada para realizar a mesma função sem a securitização.

Considerando o nível de riscos que foram relacionados, a securitização dos créditos da


Dívida Ativa passíveis de cobrança, não transparece como uma alternativa segura e garantida
para o Ente Público, no objetivo de aumentar a eficiência de recuperabilidade desses créditos em
cobrança.

Maria Lucia Fattorelli lista algumas irregularidades possíveis nesta atividade pública
financeira:
● Criação de “empresa estatal” que não atende às condições do art. 173 da
Constituição Federal;
● Desrespeito à Lei de Licitações devido à utilização de “pregão presencial” para a
escolha de um banco privado;
● Desvio e sequestro de arrecadação tributária durante o seu percurso na rede
bancária ofende a Constituição Federal, o Código Tributário Nacional, a Lei de
Responsabilidade Fiscal, o Código Tributário Nacional, a Lei no 4.320/64;
● Pareceres jurídicos sem a devida fundamentação legal, produzidos por assessora
contratada privada;
● Perda do controle sobre a arrecadação tributária em virtude da “Cessão Fiduciária
de Créditos”, com renúncia de direitos em caráter irrevogável e incondicional.

Concluindo, a securitização da dívida ativa não é um mal em si. Se encarada como política
de Estado será benéfica, pois se não for assim, servirá mais ao gestor que à administração, sendo
uma manobra contornar a lei de responsabilidade fiscal.
Se bem planejada, pode servir para dar um impulso nas políticas de Estado. Mas, quando
temos dados para considerá-la mera política de governo, sua implementação perde a legitimidade
e essa é a mensagem a se deixar.

REFERÊNCIAS

Fattorelli, Maria Lucia. O Sistema da Dívida, o esquema financeiro da “Securitização de Créditos” (PLP
459/2017) e a necessidade de PEC para limitar gastos com juros. Câmara dos Deputados Brasília, 14 de
março de 2018

Fattorelli, Maria Lucia. PLP 459/2017 Desvio de arrecadação tributária e geração ilegal de Dívida Pública.
Assembleia Nacional do SINPROFAZ Brasília, 24 de março de 2018

Dos Santos, Luis Augusto Ferreira. Revista Eletrônica do Ministério Público do Estado do Piauí Ano 01 -
Edição 01 - Jan/Jun 2021

Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP), 9ª Ed. Brasília, 2021. Disponível em:
<https://www.gov.br/fnde/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/programas/pdde/media-pdde/
ManualdeContabilidadeAplicadaaoSetorPblico.9Edio2022.STN..pdf>. Acesso em: 19 de Novembro de
2023.

Ministério da Economia. Consulta pública: securitização da dívida dos entes subnacionais. Brasília, 2019.
Disponível em: <https://www.gov.br/tesouronacional/pt-br/noticias/consulta-publica-sobre-securitizacao-da-
divida-dos-entes-subnacionais>. Acesso em: 19 de Novembro de 2023.

Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Capacidade de Pagamento (CAPAG), Portaria STN nº 882/2018.
Disponível em: <https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/56128201/do1-
2018-12-20-portaria-n-882-de-18-de-dezembro-de-2018-56128189>. 19 de Novembro de 2023.

Nota Técnica SEI nº 16/2019/GEPAT/COREM/SURIN/STN/FAZENDA-ME. Assunto: Consulta pública sobre


o tema de securitização da dívida dos entes subnacionais. Brasília, 2020. Disponível em:
<https://www.gov.br/tesouronacional/pt-br/importacao-arquivos/nota16.2019.pdf>. 19 de Novembro de 2023.

Tribunal de Contas da União (TCU). Processo nº 016.585/2009-0, Acórdão nº 772/2016 – Plenário, Relator
Raimundo Carreiro, em 06 de abril de 2016. Brasília, 2016. Disponível em:
<https://pesquisa.apps.tcu.gov.br/documento/acordao-completo/1658520090.PROC/%2520/
DTRELEVANCIA%2520desc%252C%2520NUMACORDAOINT%2520desc/0/%2520?uuid=e1def370-19fc-
11eb-bac7-2f292a89151a>. 19 de Novembro de 2023.

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