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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF

STA00160 - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - CURSO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


PROF. FREDERICO LUSTOSA DA COSTA
ALUNOS: JULIA MARIA DE CARVALHO LINHARES
MARCUS VINICIUS SOARES ANJOS

A NOVA GESTÃO PÚBLICA (NEW PUBLIC MANAGEMENT) E A REFORMA GERENCIAL

Nossa Constituição Federal de 1988 no art. 37 traz os cinco princípios que norteiam a
Administração Pública Brasileira (APB) e que devem conduzir a prática de seus atos, são eles:
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Estes princípios não surgiram ao
acaso, mas são frutos de um processo de transformações ao longo do tempo e de conquistas da
sociedade brasileira.
A APB se inicia com na repartição do território recém descoberto em capitanias, mas só se
consolida de fato com a chegada da família real de Portugal no Brasil, que com o passar do
tempo, foi passando por transformações no seu modelo de gestão Patrimonialista, perpassando
pelo Modelo Burocrático, até chegar atual Modelo Gerencial, mas que também parece estar com
seus dias contados.
Chamamos de Período Patrimonialista, o período do tempo em que a APB foi marcada
pelas vontades arbitrárias de um soberano, que tem por característica ser nobiliárquica, nepótica e
clientelista, nele não havia a ideia de carreira ou profissionalismo.
Este período pode ser dividido em três fases:
● Patrimonialismo Colonial (1500 a 1822): seu marco histórico é a chegada da Corte
Portuguesa e o surgimento das primeiras instituições nacionais;
● Patrimonialismo Imperial (1822 a 1889): principal característica é de ser uma fase
de burocratização do modelo; e,
● Patrimonialismo Oligárquico (1889 a 1930): dominado pela política de Café com
Leite, mandonismo e coronelismo.
Nesse período a burguesia, principalmente a rural, concentrava um poder coronelista ao se
aproveitar da distância do centro administrativo, da ausência do estado e da dependência dos
trabalhadores rurais para impor suas vontades.
Após este período que chega ao fim com a revolução de 30, o novo establishment tenta
impor fim ao tipo de dominação e práticas patrimonialistas, adotando o modelo de Administração
Burocrática, que racionaliza o controle das atividades administrativas e orientada a atender os
direitos comuns a toda a população.
A primeira reforma administrativa aconteceu em 1936, e a administração passou a ser
formada por administradores profissionais, de procedimentos e métodos que respondem de forma
racional-legal.
Com a criação do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), criado em
1938, o Presidente da República passa a ter uma assessoria para tratar exclusiva e objetivamente
dos assuntos administrativos e combater as velhas práticas patrimonialistas. Contudo o modelo
burocrático se mostrou lento e ineficiente com o passar dos anos.
O Decreto-Lei Nº 200 em 1967, implementou uma mini reforma gerencial na APB. O
Regime Militar constatou ser impossível administrar eficazmente o estado de maneira centralizada
e que era necessário fortalecer a administração indireta para gerar eficiência. Isso permitiu que as
empresas públicas funcionassem de maneira análoga às do setor privado, seguindo os princípios
do planejamento, da coordenação, da descentralização e estabelecendo a administração direta e
indireta, ainda que não tenha sido um modelo homogêneo, que na sua estrutura basicamente
fosse burocrática e dos muitos resquícios do patrimonialismo, ao considerar a economia, a
tecnologia e a política, essa reforma foi se adaptando e serviu como base para uma segunda onda
de reformas pós-burocrática. Quatro fatores demonstravam a necessidade de transformação do
então modelo vigente.
O primeiro foi da incapacidade de mudança e adaptação da gestão burocrática; Segundo
da crise do modelo capitalista dos anos 70 em quase todo o mundo, a crise financeiro-fiscal global
dificultou a capacidade dos Estados de promover o bem-estar social e o desenvolvimento
econômico; Terceiro o sucesso de políticas com fortes características neoliberais e privatistas na
Inglaterra e EUA; e por último o enfraquecimento do poder e controle do Estado com a
globalização.
Acerca de todo esse cenário, ainda sim a Constituição Federal de 1988 representou um
certo retrocesso gerencial, mas a partir dos anos 90 uma terceira reforma administrativa ocorreu.
Em um contexto nacional de crise fiscal e hiperinflação, o Plano Diretor de Reforma do Aparelho
de Estado (PDRAE), buscou uma gestão neoliberal (modelo gerencial) inspirada nos modelos
estadunidenses e ingleses da década de 80 e na administração de empresas privadas. A Reforma
da Gestão Pública de 1995 propunha um exame estrutural do estado, com a instituição de
agências autônomas e de organizações sociais.
O Modelo Gerencial buscou alavancar o desempenho burocrático, sua eficiência e a
geração de valor público, prejudicados pela prestação exclusiva de serviços públicos pelo setor
público. A Reforma Gerencial, também chamada de Nova Gestão Pública (NGP), busca
estabelecer redes de parceria e a promoção de valores públicos, visando desempenho e
conformidade. A NGP deve ser entendida como um aperfeiçoamento do modelo gerencial, e não
como um rompimento com o modelo anterior (Gerencial).

Figura 1 - Princípios da Nova Gestão Pública

FONTE:GLAUCIO NEVES, ALUÍSIO GUIMARÃES E AVILTON JÚNIOR . UM NOVO MODELO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
https://www.macroplan.com.br/p/um-novo-modelo-de-administracao-publica/

“A Nova Gestão Pública emerge como resposta às crescentes demandas da sociedade por
serviços públicos de melhor qualidade e por mudanças efetivas na realidade social, econômica e
ambiental, tudo isso em um ambiente marcado pelo fortalecimento da cidadania, pela expansão
das funções econômicas e sociais do Estado, pelo desenvolvimento tecnológico e pela
globalização da economia mundial”. (MACROPLAN, 2005)
Na NGP a orientação é por resultados e nesse sentido é o modelo que mais aproxima as
organizações públicas das privadas, sejam por resultados financeiros ou não. Outro fator é a
imposição legal do planejamento estratégico, para exercer suas funções constitucionais, o Estado
deve cumprir sua missão, visão, indicadores e metas como uma empresa privada, ainda que com
suas particularidades.
Nela existem três diferentes estágios ou doutrinas:
● Gerencialismo puro: o marco é em 1979 Thatcher na Inglaterra e depois Reagan
em 1981 nos EUA, propõem que para solucionar as deficiências da administração
pública é necessário a redução Estado e adoção do modelo gerencial privado;
Principais características: Redução de custos; Redução de cargos; Aumento da
eficiência; Foco no contribuinte/financiador do sistema; Valorização dos recursos
públicos; Privatizações; e, Utilização intensa de ferramentas gerenciais da iniciativa
privada;
● Consumerism: Maior foco na qualidade dos serviços públicos e na efetividade das
ações;
Principais características: Foco na qualidade; Aumento da efetividade; Foco no
cliente do serviço; Descentralização através da Administração Pública Indireta
Aumento da competitividade / Estímulo à concorrência; e, Quebra do monopólio da
prestação de serviços públicos;
● Public Service Orientation: buscou os princípios ligados à cidadania, passando a
tratar o usuário como um cidadão;
Principais características: Foco na equidade (isonomia); Accountability (1); Foco no
Cidadão; Maior participação dos cidadãos; e, Transparência.
A NGP apesar dos pressupostos básicos, propor no setor público uma forma de atuação e
reformas gerenciais, o seu desenvolvimento e aplicação no Brasil foi muito mais lento do que em
países como Reino Unido, Estados Unidos e Austrália e aos poucos está sendo substituído pelo
movimento da Governança Digital, que prioriza mais as políticas públicas do que à estrutura
organizacional.

Figura 2 - Características da Nova FONTE: GOVERNANÇA DO SETOR PÚBLICO


AUSTRALIANO. Australian National Audit Office – Public Sector
Governança Pública Governance: Better Practice Guide. June 2014

O aparente paradoxo da
descentralização de serviços e da integração
dos dados do modelo da Governança Digital
abrem o caminho para o futuro novo modelo
de administração pública chamado de Nova
Governança Pública, que une características
da Nova Gestão Pública e da Governança
Digital.

Figura 3 - Sumário Comparativo dos Modelos Públicos de Administração


FONTE:GLAUCIO NEVES, ALUÍSIO GUIMARÃES E AVILTON JÚNIOR . UM NOVO MODELO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
https://www.macroplan.com.br/p/um-novo-modelo-de-administracao-publica/

Ao final, é interessante perceber que a Administração Pública é um processo de


desenvolvimento e transformação, que é influenciada pelas mudanças sociais à sua volta mas que
também tem poder para influenciar, que contribui e incorpora a evolução tecnológica ao seu
tempo, mas que deve permanecer sob constante vigilância a fim não sejam permitidos retrocessos
e cercamentos de direitos. Conforme podemos perceber no quadro comparativo anterior, os
modelos administrativos precisam estar em aperfeiçoamento constante, e com a predisposição
que dêem espaços a novas tendências e modelos.
NOTA:
(1) ACCOUNTABILITY: é um termo inglês utilizado para descrever as práticas relacionadas à
mecanismos e procedimentos que induzem a prestação de contas à sociedade. O
Accountability passa por 3 momentos: Avaliação, Mediação e Responsabilização. O Portal
da Transparência é um exemplo de Accountability.

REFERÊNCIAS:

DA COSTA, F. L. BRASIL: 200 ANOS DE ESTADO; 200 ANOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA;


200 ANOS DE REFORMAS. REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, VOLUME 42, NÚMERO
5, 2008.

DE JESUS, IGOR ROSA DIAS. COSTA, HELDER GOMES. A NOVA GESTÃO PÚBLICA COMO
INDUTORA DAS ATIVIDADES DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO NOS ÓRGÃOS PÚBLICOS.
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, RIO DE JANEIRO, BRAZIL.
https://www.scielo.br/j/prod/a/vZX6XZVpgff4HxbgwRNq6fN/?lang=pt#

FONTE:GLAUCIO NEVES, ALUÍSIO GUIMARÃES E AVILTON JÚNIOR. UM NOVO MODELO DE


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
https://www.macroplan.com.br/p/um-novo-modelo-de-administracao-publica/

BRESSER-PEREIRA, L C. REFLEXÕES SOBRE A REFORMA GERENCIAL BRASILEIRA DE


1995. REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO, ANO 50 NÚMERO 4, OUT/DEZ 1999.

DA COSTA, F. L. (2016). BASES TEÓRICAS E CONCEITUAIS DA REFORMA DOS ANOS 1990:


CRÍTICA DO PARADIGMA GERENCIALISTA. REVISTA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO
POLÍTICA, VOLUME 2, NÚMERO 2, OUT. DE 2009.

DA COSTA, F. L. HISTÓRIA DAS REFORMAS ADMINISTRATIVAS NO BRASIL: NARRATIVAS,


TEORIZAÇÕES E REPRESENTAÇÕES. REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO, ANO 59, NÚMERO
3, JUL/SET DE 2008.

VIEIRA, JAMES BATISTA. GOVERNANÇA, GESTÃO DE RISCOS E INTEGRIDADE / JAMES


BATISTA VIEIRA, RODRIGO TAVARES DE SOUZA BARRETO - BRASÍLIA: ENAP, 2019

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