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FGV/EBAPE

Mestrado Profissional em Administração Pública


Disciplina: Teorias da Administração Pública
Data: 04/01/2023
Mestrando: Leonardo Felis Silva

Paradigmas da Administração Pública: Governança Pública

Palavras-chaves: Paradigmas da Administração Pública; Governança Pública; New


Public Management (NPM); New Public Governance (NPG)

1. Introdução
A Governança Pública vem ganhando cada vez mais espaço no governo, as
edições do Decreto 9.203/2017 e da Portaria ME nº 339/2020 mostram a importância do
tema para o Estado Brasileiro.
O Decreto 9.203/2017 estabeleceu a política de governança da administração
pública federal direta, autárquica e fundacional, visando garantir a eficiência, a
transparência, a responsabilidade, a integridade e a ética na gestão dos recursos públicos.
A política de governança deve ser aplicada pelos órgãos e entidades da administração
pública federal direta, autárquica e fundacional e tem como objetivo promover a melhoria
da qualidade dos serviços públicos prestados à sociedade e a efetividade das políticas
públicas. O Decreto estabeleceu ainda as responsabilidades dos órgãos e entidades no que
diz respeito à implementação da política de governança e define os princípios e diretrizes
que devem orientar a sua atuação.
Já a Portaria ME nº 339/2020, estabeleceu os princípios e diretrizes da política de
governança da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, que visam
ao aperfeiçoamento do uso dos recursos públicos, à transparência e à eficiência na gestão
pública, bem como à garantia de responsabilidade e qualidade dos resultados obtidos pelo
Estado, dentro do Ministério da Economia.
Este trabalho abordará um breve histórico dos paradigmas da administração
pública, desde a Administração Patrimonial, passando pelo modelo burocrático e pela
nova gestão pública, até chegar na Governança Pública.
Os objetivos da disciplina Teorias da Administração Pública incluem identificar
os elementos conceituais e prescritivos que orientam o estudo e a prática nas organizações
públicas, e este trabalho busca fazer um paralelo entre as normas e a teoria sobre
Governança Pública.

2. Desenvolvimento
Os paradigmas da administração pública têm evoluído ao longo do tempo,
começando com a Administração Patrimonial, que foi dominante nas sociedades pré-
capitalistas e feudais, mas cujos traços básicos persistem em alguns contextos ou
circunstâncias.
Devido às distorções e excessos praticados pelo Estado e pela Administração
Patrimonial, que prejudicavam os interesses gerais da sociedade e eram incompatíveis
com os valores e necessidades do capitalismo industrial e da democracia parlamentar
emergentes, surgiu a Administração Burocrática, inspirada no paradigma da burocracia
weberiana, como uma forma de gerenciamento baseado na racionalidade legal. Essa
administração tornou-se um modelo universal de gestão para o setor público, capaz de
atender e satisfazer os interesses, valores e necessidades da nova sociedade.
Nos anos 1980 e 1990, houve um amplo e profundo processo de modernização da
administração pública e de reforma do Estado, baseado no que ficou conhecido como
Nova Gestão Pública ou New Public Management (NPM). Esse modelo buscava superar
as deficiências do modelo anterior, a Administração Burocrática, mas também teve
impactos e consequências inesperadas que foram encaminhados para os modelos
posteriores em um processo contínuo de modernização da administração pública para
atender às novas demandas da sociedade. Na prática, o que se vê na gestão pública no
mundo é uma mistura de elementos de vários paradigmas, desde o patrimonialismo até a
governança pública, o que dá singularidade à evolução da gestão pública em cada lugar.
A Nova Gestão Pública (NPM) enfrentou desafios na tentativa de aplicá-lo de
forma eficaz. A fragmentação da estrutura e do planejamento da administração pública e
a crescente complexidade e incerteza enfrentadas pela sociedade moderna tornaram difícil
para o Estado gerenciar esses problemas de forma isolada, resultando em perda de
coordenação e controle sobre a execução e os resultados das políticas e ações do governo.
Além disso, a falta de capacidade técnica e financeira do Estado para lidar com esses
desafios de forma eficaz também contribuiu para essa situação.
Por causa disso, cada vez mais há a percepção, em muitos países, da necessidade
de uma administração pública baseada na qualidade da interação entre os diferentes atores
envolvidos nas políticas e ações públicas. Assim, surge um novo modelo de reforma
administrativa, conhecido geralmente como Governança Pública ou New Public
Governance (NPG), que se concentra não nas entidades públicas isoladamente, mas na
articulação e colaboração entre elas e com a sociedade civil.
A NPG utiliza ferramentas dos modelos administrativos anteriores (patrimonial,
burocrático e gerencial), mas, com ênfase nos princípios democráticos e de legitimidade.
Podemos definir a NPG como um modelo de gestão atual, que atende a demanda das
sociedades modernas, a NPG envolve o cidadão no processo decisório das políticas
pública (Pereira; Ckagnazaroff, 2021, P. 112).
Bresser-Pereira (1998, P. 89), o aumento da governança se refere à capacidade do
Estado de implementar eficazmente suas políticas e decisões. Isso pode ser alcançado
através de reformas administrativas, como a desburocratização e a melhoria da gestão,
bem como através da implementação de mecanismos de responsabilização e
transparência.
A descentralização e a responsabilização social dependem da existência de
direitos do cidadão, incluindo o direito à total divulgação de informações sobre os órgãos
públicos. Esses direitos só são possíveis em um Estado de Direito, que é uma
característica fundamental da democracia. Portanto, a democracia não é uma alternativa
à descentralização e à responsabilização social, mas sim um resultado do processo de
democratização e um fator que contribui para uma governança democrática mais eficiente
(Bresser-Pereira, 2005, P. 90).
O resultado esperado de uma reforma administrativa é um Estado mais eficiente,
que responda a quem deve realmente responder: o cidadão. Isso significa que o Estado
agirá em parceria com a sociedade e de acordo com seus anseios. Será um Estado menos
concentrado em proteger e mais em promover a capacidade de competição. Em vez de
utilizar recursos públicos para executar serviços sociais e científicos, o Estado contratará
organizações públicas não-estatais de forma competitiva.

3. Considerações Finais
A Governança Pública veio para melhorar a governança do Estado, ou seja,
aumentar sua capacidade de implementar as decisões do governo, que pode ser alcançado
por meio de ajustes fiscais que restauram a autonomia financeira do Estado, reformas
administrativas que promovem uma administração pública gerencial em vez de
burocrática, e separando as atividades exclusivas do Estado em relação à formulação de
políticas públicas e sua execução.

4. Referências
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. “Democracia republicana e participativa”. In:
Novos Estudos Cebrap, 71, março 2005: 77-91.
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A reforma do Estado dos anos 90: lógica e
mecanismos de controle. In: Lua Nova São Paulo, n. 45, 1998.
PEREIRA, Breno Augusto Diniz e CKAGNAZAROFF, Ivan Beck. Contribuições para
a consolidação da New Public Governance: identificação das dimensões para sua
análise. In: Cad. EBAPE.BR, v. 19, n. 1, Rio de Janeiro, Jan./Mar. 2021, 111-122.

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