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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL

CAMPUS REALEZA
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
FUNDAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
PROFESSOR: TIAGO DA COSTA

RESENHA

MODELOS ORGANIZACIONAIS E REFORMAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


Guilherme Schmidt Zilio

SECCHI, Leonardo. Modelos organizacionais e reformas da administração pública.


Revista de Administração Pública, v. 43, p. 347-369, 2009.

Desde os anos 1980, houve mudanças substanciais nas políticas de gestão


pública e no desenho de organizações programáticas em todo o mundo, inspiradas
por práticas do setor privado. Essas reformas foram impulsionadas pela crise fiscal
do Estado, competição territorial, avanços tecnológicos, ascensão de valores
neoliberais e complexidade social. Na Europa, a europeização também influenciou a
adoção de novos modelos organizacionais. O modelo burocrático foi criticado por
sua ineficiência e desconexão com as necessidades dos cidadãos. Como
alternativas, surgiram a administração pública gerencial e o governo empreendedor
como modelos organizacionais, enquanto a governança pública oferece uma
abordagem relacional. Esses modelos têm o potencial de mudar a forma como as
organizações públicas se administram e se relacionam, mas nem sempre têm efeitos
significativos ou podem fracassar. O artigo apresenta uma revisão da literatura sobre
esses modelos, comparando seus elementos e discutindo suas propostas de
reforma administrativa.
O modelo burocrático weberiano, atribuído a Max Weber, foi amplamente
adotado nas administrações públicas ao longo do século XX em todo o mundo.
Também conhecido como administração pública progressista (PPA), inspirou
reformas nas administrações públicas dos EUA durante a era progressista. No
entanto, esse modelo já existia desde o século XVI na Europa, sendo posteriormente
adotado em organizações públicas, privadas e do terceiro setor.
Max Weber mencionou o burocrata e a disseminação do modelo burocrático
em países ocidentais em seu livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo”
(1904). As bases teóricas foram estabelecidas após sua morte e a publicação de
“Economia e sociedade” (1922), onde Weber identificou a autoridade racional-legal
como fonte de poder nas organizações burocráticas. Nesse modelo, o poder deriva
de normas e instituições formais, não de carisma individual ou tradição.
As principais características do modelo burocrático são formalidades,
impessoalidade e profissionalismo. A formalidade impõe deveres e
responsabilidades, hierarquia administrativa, documentação escrita, formalização
dos processos decisórios e comunicações internas e externas. A impessoalidade
estabelece relações baseadas em funções e autoridade clara, evitando a
apropriação individual do poder. O profissionalismo valoriza o mérito como critério de
justiça e diferenciação, atribuindo funções com base em competição justa.
A administração pública gerencial (APG) e o governo empreendedor (GE) são
modelos organizacionais que têm influenciado reformas na administração pública. A
APG, também chamada de nova gestão pública, busca eficiência, eficácia e
competitividade. Surgiu como um movimento de mudança nas administrações
públicas de países do norte da Europa, Canadá e Oceania nas décadas de 1980 e
1990. A APG abrange temas como gestão pública, liderança executiva, desenho
organizacional e operações governamentais. Alguns veem a APG como um conjunto
de ferramentas, enquanto outros a consideram uma filosofia de administração.
Os valores que fundamentam a APG podem ser agrupados em três
categorias: eficiência, alocação racional de recursos, simplicidade, clareza,
equidade, justiça, neutralidade, accountability, controle de abusos, capacidade de
resposta, resiliência sistêmica, flexibilidade e elasticidade. Esses valores fornecem
uma base normativa para a APG.
Por outro lado, o governo empreendedor é um estilo pragmático de gestão
pública que adota abordagens da administração privada. Foi introduzido por
Osborne e Gaebler em seu livro “Reinventando o governo” (1992). Os autores
apresentaram 10 mandamentos do governo empreendedor, que incluem princípios
como governo catalisador, orientado por missões, orientado a resultados, orientado
ao cliente, empreendedor, descentralizado e orientado para o mercado.
Os mandamentos do governo empreendedor refletem valores de
racionalidade, eficácia e liberdade de escolha. Propõem a participação dos cidadãos
na tomada de decisões, competição entre organizações públicas e privadas, busca
por resultados e impactos, atenção às necessidades dos clientes/cidadãos,
inovação, descentralização do governo e adoção de lógicas competitivas de
mercado. Osborne e Gaebler também enfatizam o envolvimento cívico, comunicação
e parcerias entre esferas pública e privada, refletindo valores comunitaristas.
Em resumo, tanto a APG como o GE compartilham valores como eficiência,
orientação ao serviço, descentralização, eficiência na prestação de serviços,
marketization e accountability. A APG é um modelo normativo baseado em
eficiência, eficácia e competitividade, enquanto o GE é um estilo pragmático que
adota abordagens da administração privada. Ambos têm influenciado reformas na
administração pública em diferentes países.
A governança é um conceito amplo e multidisciplinar, aplicado em diferentes
áreas do conhecimento. Vou resumir as principais ideias apresentadas no texto:
– Relações Internacionais: Governança refere-se às mudanças nas relações
de poder entre estados, envolvendo a cooperação entre atores estatais e não
estatais para solucionar problemas transnacionais.
– Teorias do Desenvolvimento: A governança é vista como um conjunto de
práticas democráticas e de gestão que ajudam os países a melhorar seu
desenvolvimento econômico e social. A “boa governança” é exigida pelo FMI e
Banco Mundial para fornecer recursos e apoio técnico a países em desenvolvimento.
– Governança Empresarial e Contábil: Refere-se a princípios que visam
aumentar o controle dos acionistas e autoridades de mercado sobre organizações
privadas de capital aberto, incluindo a participação proporcional dos acionistas nas
decisões estratégicas, transparência nas informações e responsabilização dos
executivos perante os acionistas.
– Ciências Políticas e Administração Pública: A governança é vista como um
modelo horizontal de relação entre atores públicos e privados na elaboração de
políticas públicas, enfatizando a participação de diferentes atores e o envolvimento
da sociedade no processo decisório.
Há divergências na academia de administração pública quanto ao papel do
Estado na governança. Alguns argumentam que a governança implica em menor
protagonismo estatal, com maior envolvimento de atores não estatais. Outros
defendem que o Estado mantém sua liderança na elaboração de políticas, mas com
foco na coordenação e controle.
A governança pública envolve a criação de plataformas organizacionais que
facilitam o alcance de objetivos públicos, como a participação dos cidadãos na
construção de políticas e parcerias público-privadas. É importante ressaltar que a
governança é um conceito multifacetado, com definições variáveis de acordo com o
contexto e a área de estudo.
Os modelos organizacionais apresentados – burocrático, gerencial e
governança pública – têm elementos comuns e características distintivas. O controle
é uma preocupação comum, sendo exercido por meio de características como
formalidade, impessoalidade e avaliação de resultados. A distinção entre política e
administração é compartilhada entre o modelo burocrático e os gerenciais, com o
gerencialismo enfatizando descentralização e envolvimento da comunidade. Tanto a
burocracia quanto os modelos gerenciais tratam da centralização e liberdade de
decisão dos gestores, valorizando a avaliação de resultados. Os modelos gerenciais
e a governança pública diferem da burocracia em relação ao relacionamento com o
ambiente externo e ao tratamento ao cidadão, chamado de cliente nos gerenciais e
parceiro/stakeholder na governança pública. Cada modelo enfatiza diferentes
aspectos das funções clássicas de administração, como planejamento estratégico,
acordos de objetivos e coordenação entre atores públicos e privados.
A reforma da administração pública consiste em inovações nas políticas de
gestão e no desenho de organizações, com base em valores como eficiência,
accountability e flexibilidade. As reformas ocorrem gradualmente, em diferentes
contextos e períodos, alinhadas a diferentes escopos e valores. No entanto, é
importante ter cautela em relação às expectativas exageradas, pois os novos
modelos organizacionais ainda compartilham características burocráticas e podem
ser políticas simbólicas usadas para manipulação. É necessário observar os
aspectos incrementais das mudanças organizacionais e considerar um processo
cumulativo de mudanças, em vez de falar em ascensão e declínio de modelos.
Questões de pesquisa importantes incluem a efetividade das reformas, a
discricionariedade gerencial e a transição dos mecanismos de controle. Estudos
comparados e pesquisa utilizando a gramática estabelecida nas áreas são
fundamentais para a acumulação de conhecimento nessas áreas.
O modelo burocrático de administração pública surgiu como uma resposta
aos problemas do patrimonialismo, buscando criar uma estrutura organizacional com
regras e procedimentos claros. No entanto, a burocracia pode ser vista como
inflexível, lenta e focada em procedimentos, o que pode dificultar a adaptação a
situações complexas.
As reformas da administração pública têm ocorrido em diferentes momentos e
contextos. No Brasil, por exemplo, houve reformas nas décadas de 1930 e nas
últimas três décadas, com o objetivo de modernizar e tornar a administração pública
mais eficiente. No entanto, é importante avaliar essas reformas de forma crítica,
considerando se elas realmente resultaram em mudanças efetivas e se houve uma
transição para modelos mais flexíveis.
É fundamental destacar que os modelos de administração não são
independentes e isolados, mas estão interligados e podem coexistir dentro de uma
mesma organização. Portanto, é necessário considerar as características de cada
modelo e suas interações.
A análise das reformas da administração pública requer uma abordagem
comparativa e um estudo das diversas esferas e áreas de políticas públicas. É
importante também considerar a realidade brasileira, além de utilizar referências
nacionais e estrangeiras para embasar as análises.

REFERÊNCIAS

SCHLICKMANN, R. Administração pública no Brasil: a Burocracia |


Politize! Disponível em: <https://www.politize.com.br/burocracia-administracao-
publica-brasil/>.

‌ AVALCANTI, P. A. P. Evolução da Administração Pública no Brasil – resumo parte


C
1. Disponível em: <https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/evolucao-administracao-
brasil-1/>.

‌ ORDEEFF, N. Governança, Governabilidade e Accountability: entenda as diferenças.


G
Disponível em: <https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/governanca-
governabilidade-e-accountability-entenda-as-diferencas/>.

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