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UNIVERSIDADE CATOLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS E MINERALOGIA

De:

Caridade Felisbela Luís de Sousa

EMERGÊNCIA DO PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

Trabalho individual da cadeira Administração Pública e autárquica, do 3º ano, do curso de


Administração Pública, orientado pelo docente José de Albuquerque.

UCM

Tete, 2023
Índice
1. Introdução...........................................................................................................................3

1.1. Objectivos............................................................................................................................3

1.1.1. Geral.....................................................................................................................3

1.1.2. Especificos...........................................................................................................3

1.1.3. Metodologia.........................................................................................................4

2.1. Definição de descentralização...........................................................................................5

2.1.1. Participação..........................................................................................................5

2.1.2. Diversidade..........................................................................................................6

2.1.3. Eficiência..............................................................................................................6

2.1.4. Resolução de conflitos.........................................................................................7

2.2. Os aspectos gerais da descentralização e desconcentração de poderes em


Moçambique .......................................................................................................................................
.........7

2.3. Descentralização, governação local, serviços públicos e construção do Estado..........7

2.4. Perspetiva histórica da descentralização em Moçambique.............................................8

2.5. O futuro da descentralização em Moçambique................................................................9

2.6. Modelo da descentralização do estado moçambicano....................................................9

2.7. Estado unitário...................................................................................................................10

2.8. Enquadramento Institucional e Formas de Descentralização.......................................11

2.9. Estratégia de Descentralização e Gradualismo..............................................................11

2.10. Vantagens e desvantagens da Descentralização............................................................12

3. Conclusão..........................................................................................................................13

4. Bibliografia.......................................................................................................................14
1. Introdução
Neste presente trabalho que tem como tema emergência do processo de descentralização em
Moçambique. Referir que descentralização é o processo pelo qual as atividades de uma
organização, particularmente aquelas relativas ao planejamento e à tomada de decisões, são
distribuídas e transferida fora de um poder centralizado e autoritário.
Em Moçambique, a desconcentração de funções está a ocorrer em várias áreas, com destaque
para as de licenciamento de actividades económicas, a execução dos fundos sectoriais
(estradas, construção de salas de aulas). No entanto, os Governos Provinciais ainda reclamam
que certas áreas poderiam ser transferidas do Governo central para este nível, como os níveis
de licenciamento pesqueiro e da área hoteleira, o licenciamento de certas classes de alvarás
na área de obras públicas. Por sua vez, os distritos também reivindicam que a execução de
certas actividades (e despesas) ainda é controlada pelas províncias.
A Gestão Descentralizada inova no processo de tomada de decisões e responsabilidades, onde
os funcionários são mais proativos e auxiliam nessas tomadas de decisões para aumentar a
eficiência de trabalho e trazer maior luz sobre os problemas enfrentados no lado operacional.
A descentralização administrativa ocorre mediante duas formas: outorga ou delegação.
Utilizada para efetivar a descentralização administrativa para uma entidade da Administração
Indireta de direito público (autarquia e empresa pública). Um sistema descentralizado é um
tipo de rede em que os nós não dependem de um único nó mestre; em vez disso, o controle é
distribuído entre muitos

1.1. Objectivos
1.1.1. Geral
 Este trabalho tem como objectivo geral abordar acerca da emergencia do processo de
descentralização em moçambique
1.1.2. Especificos
Para a efectivação do objectivo geral, temos os seguintes objectivos especificos:
 Conceituar a descentralização;
 Dar a conhecer os aspectos gerais da descentralização e desconcentração de poderes
em Moçambique;
 Abordar acerca perspetiva histórica da descentralização em Moçambique.

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1.2. Metodologia

A metodologia do presente trabalho é uma metodologfia bibliografica, pois, a pesquisa


bibliografica é uma importante metodologia no ambito de educação, a partir de
conhecimentos ja estudados, buscamos responder os objectivos do trabalho adquirindo
novos conheciments sobre o assunto pesquisado.

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2. EMERGÊNCIA DO PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

1.3. Definição de descentralização


A descentralização é o processo pelo qual as atividades de uma organização, particularmente
aquelas relativas ao planejamento e à tomada de decisões, são distribuídas e transferida fora
de um poder centralizado e autoritário. Possuindo aplicação na Administração de empresas,
ciência política, direito, administração pública, economia, dinheiro e tecnologia. (Srour,
2010).
De acordo com Sousa (2004, pág 9), descentralização é o ato e a consequência de
descentralizar: delegar parte do poder que um órgão central exerceu a diferentes entidades ou
corporações.
A descentralização implica uma divisão ou uma repartição da autoridade.
No terreno da política, a descentralização consiste na transferência de poder do governo
central para várias autoridades que não se encontram subordinadas ao nível hierárquico. Isso
significa que, em sua área de ingerência, essas autoridades podem tomar decisões autônomas.
Se o estado está organizado centralmente, os governantes locais são agentes do governo
nacional. Por outro lado, em um estado descentralizado, os governantes locais podem decidir
de maneira independente de acordo com suas competências. A ideia de descentralização
também pode ser aplicada a outros contextos. A educação descentralizada, para citar um caso,
considera que o conhecimento pode ser gerado e transmitido verticalmente, mas também
horizontalmente, sem depender de uma única fonte de conhecimento localizada em um nível
superior.
A descentralização em qualquer área é uma resposta aos problemas dos sistemas
centralizados. A descentralização no governo, o tema mais estudado, tem sido vista como
uma solução para problemas como o declínio econômico, a incapacidade do governo de
financiar serviços e seu declínio geral no desempenho dos serviços sobrecarregados, as
demandas das minorias por uma maior participação na governança local, o enfraquecimento
da legitimidade do setor público e pressão global e internacional sobre países com sistemas
ineficientes, antidemocráticos e excessivamente centralizados.
As quatro metas ou objetivos a seguir são frequentemente declarados em várias análises de
descentralização.

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1.3.1. Participação
Na descentralização, o princípio da subsidiariedade é frequentemente invocado. Sustenta que
a menor autoridade ou menos centralizada que seja capaz de resolver um problema de forma
eficaz deve fazê-lo. De acordo com uma definição: “A descentralização, ou governança
descentralizada, refere-se à reestruturação ou reorganização da autoridade para que haja um
sistema de corresponsabilidade entre as instituições de governança nos níveis central,
regional e local de acordo com o princípio da subsidiariedade, aumentando a qualidade geral
e a eficácia do sistema de governança, ao mesmo tempo em que aumenta a autoridade e as
capacidades dos níveis subnacionais”.
A descentralização está frequentemente ligada a conceitos de participação na tomada de
decisões, democracia, equidade e liberdade que possa vir de uma autoridade superior. A
descentralização aumenta a voz democrática. Os teóricos acreditam que as autoridades
representativas locais com poderes discricionários reais são a base da descentralização que
pode levar à eficiência, equidade e desenvolvimento local.”
A descentralização tem sido descrita como um “contraponto à globalização [a qual] remove
as decisões do cenário local e nacional para a esfera global de interesses multinacionais ou
não nacionais. A descentralização traz a tomada de decisões aos níveis subnacionais”. As
estratégias de descentralização devem levar em conta as inter-relações dos níveis global,
regional, nacional, subnacional e local.

1.3.2. Diversidade
Norman L. Johnson escreve que a diversidade desempenha um papel importante em sistemas
descentralizados como ecossistemas, grupos sociais, grandes organizações, sistemas políticos.
“Diversidade é definida como propriedades únicas de entidades, agentes ou indivíduos que
não são compartilhados pelo grupo maior, população, estrutura. Descentralizado é definido
como uma propriedade de um sistema onde os agentes têm alguma capacidade de operar
“localmente”. Tanto a descentralização quanto a diversidade são atributos necessários para
alcançar as propriedades auto-organizadas de interesse.
Os defensores da descentralização política sustentam que uma maior participação de diversos
interesses mais bem informados na sociedade levará a decisões mais relevantes do que
aquelas tomadas apenas por autoridades em nível nacional. A descentralização tem sido
descrita como uma resposta às demandas por diversidade.

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1.3.3. Eficiência
Nos negócios, a descentralização leva a uma filosofia de gestão por resultados que se
concentra em objetivos definidos a serem alcançados pelos resultados da unidade. A
descentralização dos programas governamentais aumenta a eficiência – e a eficácia – devido
à redução do congestionamento nas comunicações, reação mais rápida a problemas
imprevistos, melhor capacidade de prestação de serviços, melhor informação sobre as
condições locais e mais apoio dos beneficiários dos programas.
As empresas podem preferir a descentralização porque garante eficiência, garantindo que os
gerentes mais próximos da informação local tomem decisões, e a mesma de forma mais
oportuna, como também libera a responsabilidade da alta administração para estratégias de
longo prazo, em vez das decisões do dia-a-dia; E os benefícios do treinamento pratico aos
gerentes, preparando-os à subir na hierarquia de gerenciamento; e a motivação dos gestores
por terem a liberdade de exercer sua própria iniciativa e criatividade; com as atribuições de
encorajar os gerentes e funcionários a provar sua lucratividade, ao invés de acabar
mascarando o insucesso pela lucratividade geral da empresa.
Os mesmos princípios podem ser aplicados ao governo. A descentralização promete aumentar
a eficiência por meio de competições intergovernamentais com características de mercado e
disciplina fiscal que atribui autoridade fiscal à dividas ao nível mais baixo possível de
governo. Do qual funciona melhor onde os membros do governo subnacional têm fortes
tradições de democracia, responsabilidade e profissionalismo.

1.3.4. Resolução de conflitos


A descentralização econômica e/ou política pode ajudar a prevenir ou reduzir conflitos
porque reduz as inequidades reais ou percebidas entre várias regiões ou entre uma região e o
governo central. Dawn Brancati considera que a descentralização política reduz conflitos
interestaduais a menos que os políticos criem partidos políticos que mobilizem minorias e até
grupos extremistas para exigir mais recursos e poder dentro dos governos nacionais. No
entanto, a probabilidade de isso ser feito depende de fatores em como as transições
democráticas acontecem e características como a proporção de assentos legislativos de um
partido regional, o número de legislaturas regionais de um país, procedimentos eleitorais e a
ordem em que ocorrem as eleições nacionais e regionais. Brancati sustenta que a
descentralização pode promover a paz se incentivar os partidos estaduais a incorporar
demandas regionais e limitar o poder dos partidos regionais.

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1.4. Os aspectos gerais da descentralização e desconcentração de poderes em
Moçambique
A descentralização, segundo Mazula (1998), realiza-se com os entes da Administração
indirecta, ou seja, as autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e
fundações públicas são produtos da descentralização administrativa. Por um lado, a
desconcentração existe quando actividades são distribuídas de um centro para sectores
periféricos ou de escalões superiores para inferiores dentro de uma mesma pessoa jurídica, no
caso dentre os órgãos da Administração directa. (MEDAUAR, 2000:52)
1.5. Descentralização, governação local, serviços públicos e construção do
Estado
Nos anos 1980, muitos países da África subsaariana iniciaram reformas de descentralização.
Cristalizadas em programas de reforma do sector público, em muitos casos, estas reformas
podem ser vistas como uma resposta à crise do Estado, que se manifestou essencialmente a
dois níveis: regulação política e provisão de serviços públicos. Com efeito, a euforia das
independências africanas e o processo da construção do Estado desenvolvimentista, cedo se
viram confrontados com a queda da capacidade de regulação política efectiva e de provisão
de serviços básicos. Esperava-se, então, que as reformas de descentralização não só iriam
melhorar a provisão dos serviços públicos, como também tornar o Estado mais efectivo e
legítimo.
Embora Moçambique tenha iniciado uma série de reformas económicas e políticas a partir
dos finais dos anos 1980, foi sobretudo com o lançamento da estratégia global da reforma do
sector público, em 2001, que a questão da melhoria da qualidade na provisão de serviços
públicos foi cada vez mais associada às reformas de descentralização.
A prestação de serviços ao nível subnacional é, portanto, um grande desafio. O governo de
Moçambique reconheceu este desafio e vem trabalhando na descentralização do país desde os
meados da década de 1990. Tarefas administrativas, tomadas de decisão e recursos
financeiros estão sendo gradualmente alocados do nível nacional para os níveis regional,
distrital e municipal.
No entanto, este processo está indo mais lento do que o desejado e necessário, principalmente
devido à falta de capacidades administrativas suficientes nos níveis subnacionais, bem como
a falta de financiamento, como as receitas próprias e as transferências do nível nacional que
não são suficientes para cobrir os custos operacionais, bem como para fazer investimentos

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significativos em infra-estruturas, o que faz com que os serviços públicos sejam prestados
inadequadamente. Alemanha apoia, portanto, a reforma da descentralização por meio de
assessoria para elevar capacidades humanas e institucionais das administrações a nível
nacional e subnacional, especialmente no sector das finanças públicas.
Entre outros, destaca-se a assessoria para o aumento das receitas próprias dos Distritos e
Municípios, na melhoria do controlo interno e externo, na auditoria e para a participação do
cidadão. Através de assessoria temática nas áreas de gestão, contractos, transparência e
transferência de receitas, os benefícios do desenvolvimento do sector dos recursos naturais
devem ser elevados. Alemanha também disponibiliza financiamento para apoiar o
planeamento de projectos de infra-estruturas participativas nas comunidades.

1.6. Perspetiva histórica da descentralização em Moçambique


Moçambique localiza-se geograficamente na costa oriental de África. Divide a sua fronteira
norte com a República da Tanzânia; a noroeste com o Malawi e Zâmbia; a Oeste, com o
Zimbabwe; a leste é banhado pelo oceano índico e ao sudoeste com a Suazilândia e África do
Sul. Entretanto, devido a sua localização e relação política na região, integra dentre várias
organizações regionais, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

A tentativa de compreender as dinâmicas sociopolíticas de Moçambique contemporâneo,


remete-nos para uma avaliação das complexidades conjunturais e das ruturas e continuidades
do Estado colonial e do pós-colonial (Meneses, 2009:12) – visto que é a partir dessa
avaliação que se torna possível a compreensão das relações entre o “tradicional” e o
“moderno”, entre o “passado”, o “presente” e o “futuro” no mosaico de conhecimentos do
sistema de administração pública em Moçambique.

1.7. O futuro da descentralização em Moçambique


Em 2024, Moçambique poderá estender o processo de descentralização aos distritos. Vários
analistas alertam que os conflitos no processo de descentralização poderão agravar-se, tendo
em conta que, na prática, os governadores provinciais ficarão sem território para dirigir.
O facto é que o modelo de descentralização em curso em Moçambique está a ser cada vez
mais questionado. O analista Dércio Alfazema acredita que “avançar para os distritos quando
ainda há desafios a nível provincial não é uma medida sensata”.

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Um movimento histórico rumo à descentralização em Moçambique ocorreu em 1998, quando
foram realizadas as primeiras eleições autárquicas em 33 municípios. O processo, no entanto,
continua a ser estendido gradualmente a mais municípios, e em 2019 tiveram lugar as
primeiras eleições das assembleias provinciais.
O Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) observa que houve avanços baseados
em consensos políticos para viabilizar a paz, mas a operacionalização técnica da
descentralização é uma dificuldade a ser superada.
Dércio Alfazema, coordenador da organização, acha que há desafios muito grandes nas
províncias em termos de aprovação e clarificação das leis e das despesas que praticamente
duplicam com a criação das secretarias de Estado e do Governo provincial. “O princípio
básico da descentralização, permitir uma maior participação do cidadão na tomada de
decisão, ainda não está presente nessa descentralização ao nível da província”, explica.
O edil de Quelimane, Manuel de Araújo, acrescenta que “aquilo que é dado pela Constituição
da República tem sido retirado por decretos do Conselho de Ministros”. O autarca salienta
que a descentralização teve vários avanços e, ao mesmo tempo, recuos acentuados em
Moçambique.

1.8. Modelo da descentralização do estado moçambicano


De acordo com o definido no artigo 8º da CRM (1). A República de Moçambique é um
Estado unitário. (2) O Estado orienta-se pelos princípios da descentralização e de
subsidiariedade. (3) O Estado respeita na sua organização e funcionamento a autonomia dos
órgãos de governação provincial, distrital e das autarquias locais
A descentralização compreende: (a) os órgãos de governação descentralizada provincial e
distrital; (b) as autarquias locais. O Estado mantém nas entidades descentralizadas as suas
representações para o exercício de funções exclusivas e de soberania, nos termos definidos
por lei (artigo 268º da CRM).
Os órgãos de governação descentralizada e das autarquias locais gozam de autonomia
administrativa, financeira e patrimonial, nos termos da lei (artigo 269º da CRM).
A descentralização respeita o Estado unitário, a unidade nacional, a soberania, a
indivisibilidade e inalienabilidade do Estado e guia-se pelos princípios da prevalência do
interesse nacional, subsidiariedade e gradualismo.
Constituem igualmente limites à descentralização, as matérias da exclusiva competência dos
orgãos centrais do Estado, nomeadamente:

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(a) As funções de soberania
(b) A normação de matérias de âmbito da lei;
(c) A definição de políticas nacionais;
(d) A realização da política unitária do Estado;
(e) A representação do Estado ao nível provincial, distrital e autárquico;
(f) A definição e organização do território;
(g) A defesa nacional;
(h) A segurança e ordem públicas;
(i) A fiscalização das fronteiras;
(j) A emissão de moeda;
(k) Às relações diplomáticas;
(l) Os recursos minerais e

1.9. Estado unitário


Estado unitário é formado por um único Estado, existindo uma unidade do poder político
interno, cujo exercício ocorre de forma centralizada; qualquer grau de descentralização
depende da concordância do poder central.
O Estado denominado unitário apresenta-se como uma forma de Estado na qual o poder
encontra-se enraizado em um único ente interestatal. Ou seja, é o Estado centralizado cujas
partes que os integram estão a ele vinculadas, não tendo, assim, qualquer autonomia.
É admissível que o Estado unitário promova divisões internas, para fins de administração.
Assim, é possível a divisão administrativa, agora, não a política, cuja presença não
descaracteriza o Estado unitário. Deve estar presente, contudo, a subordinação ao poder
central de qualquer entidade, órgão ou departamento criado para exercer parcela de
atribuições.
O vínculo de subordinação decorre da técnica pela qual se promove a divisão de atribuições,
ou seja, a delegação. O poder central tanto pode promover a desconcentração como regredir
para a posição inicial de concentração absoluta, inclusive, com eliminação da entidade
subordinada até então existente.

1.10. Enquadramento Institucional e Formas de Descentralização


Em Moçambique, coexistem duas concepções e abordagens diferentes da descentralização,
inscritas na constituição moçambicana desde a sua alteração parcial em 1996 e na legislação

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específica (Lei 2/2007, 3/2004): devolução, ou descentralização democrática; e
desconcentração, ou descentralização administrativa.
A primeira é, em termos legais e em termos de políticas, enquadrada como o
desenvolvimento dos municípios. Estes são dotados de uma certa autonomia fiscal e
administrativa e têm eleições regulares para presidentes dos CMs e para as Ams, enquanto os
últimos, os Órgãos Locais do Estado (OLE) central, são instituições subordinadas, com pouca
autonomia, mas com algumas funções administrativas e de gestão desconcentradas.
As duas componentes da descentralização fizeram e fazem parte do discurso político
estabelecido e dos programas de consecutivos governos, inclusive o do actual governo de
Nyusi. Neste programa de governo, fazem parte do Pilar 1 (“consolidação do Estado de
direito democrático, boa governação e descentralização”),60 um dos três pilares que
sustentam a implementação do Plano Quinquenal do Governo. O Programa estaca ainda a
“inovação” do enfoque integrado e intersectorial que procura evitar abordagens governativas
sectoriais ou verticais.

1.11. Estratégia de Descentralização e Gradualismo


Só 14 anos após o início do processo de descentralização em Moçambique, o governo, sob
pressão dos doadores no âmbito do apoio orçamental e do Grupo de trabalho de
Descentralização (GTD), formulou uma Política e Estratégia Nacional de descentralização
(PEND) aprovada em 2012 e presentemente em vigor. A ausência de um documento
estratégico e programático com uma clara hierarquia de objectivos, metas e opções dificultou
a monitoria dos progressos realizados na descentralização e a avaliação do seu impacto,
nomeadamente na prestação de serviços, orçamentação, e gestão financeira e participação dos
cidadãos no governo local.
O termo “gradualismo” desempenhou um papel de relevo no debate da descentralização. Na
sua dimensão técnica e de políticas, significa seguir um caminho cauteloso e sequencial das
etapas da descentralização – ao contrário de uma “abordagem big bang”. Implica a análise e
construção gradual, passo a passo, das experiências adquiridas com uma primeira fase da
descentralização, para evitar os riscos de uma eventual “estrada traiçoeira com buracos”,
sobretudo no que diz respeito à descentralização fiscal (Shah et al., 2004).
Mas, no debate moçambicano, o gradualismo, consagrado na legislação de descentralização,
foi utilizado como abordagem aberta, flexível e descomprometida do governo para a
descentralização, que serviu o propósito da retórica e oportunidades políticas (Buur, 2009).

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1.12. Vantagens e desvantagens da Descentralização
A principal razão que leva os governos pautarem pela desconcentração de competências
assenta na procura em oferecer os serviços públicos com eficiência e qualidade.
Portanto, o governo extrai da descentralização as vantagens e desvantagens:
Às vantagens são:
 Garantia as liberdades locais, servindo de base do sistema pluralista de Administração
Pública, que é por sua vez uma forma de limitação ao poder político;
 Proporciona a participação dos cidadãos na tomada das decisões públicas em que
concernem aos interesses, e a participação é um dos grandes objectivos do Estado
Moderno (art. 2º CRP);
 Proporcionar, em princípio, soluções mais vantajosas do que a centralização, em
Termos de custo-eficácia.

São desvantagens da descentralização do aparato público, primeiro a:


 Descoordenação no exercício da função administrativa, e, segundo
 Mau uso dos poderes discricionários da Administração por parte de pessoas nem
sempre bem preparadas para os exercer.
A descentralização em qualquer área é uma resposta aos problemas dos sistemas
centralizados. A descentralização no governo, o tema mais estudado, tem sido vista como
uma solução para problemas como o declínio econômico, a incapacidade do governo de
financiar serviços e seu declínio geral no desempenho dos serviços sobrecarregados, as
demandas das minorias por uma maior participação na governança local, o enfraquecimento
da legitimidade do setor público e pressão global e internacional sobre países com sistemas
ineficientes, antidemocráticos e excessivamente centralizados.
A descentralização do governo tem aspectos políticos e administrativos. Sua descentralização
pode ser territorial, transferindo o poder de uma cidade central para outras localidades, e pode
ser funcional, transferindo a tomada de decisão da administração central de qualquer ramo do
governo para funcionários de nível de posição menos elevada, ou alienando a função
inteiramente por meio da privatização. Tem sido chamada de “nova gestão pública” que tem
sido descrita como descentralização, gestão por objetivos, terceirização, competição dentro
do governo e orientação ao cliente.

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2. Conclusão
O debate sobre “governação descentralizada” em Moçambique nos remete a uma profunda
reflexão sobre a primazia da lei sobre ditames do poder político. Ou seja, faz sentido debater
a descentralização se nos predispuzermos, como sociedade política e acadêmica, a fazer re-
engenharia da construção. É indispensável o respeito e observância do primado da lei,
especificamente, o conteúdo da descentralização que emana da fonte legal.
Independentemente dos argumentos esgrimidos em torno da “governação descentralizada”, é
imprescindível que tenhamos a cultura de primazia da lei sobre a vontade política. Para ser
preciso, a descentralização nos tem a todos, como sociedade política e acadêmica, em
permanente reforma individual e colectiva desde o político a nível central, local até ao pacato
cidadão na aldeia para que nos ajustemos à realidade sócio-política de hoje.
Quando se debate descentralização, destaca-se a teoria da administração pública e ela debate
descentralização em três dimensões: descentralização democrática ou devolução,
descentralização administrativa ou desconcentração e descentralização fiscal. No que
concerne à descentralização política ou democrática, ela consiste na devolução de poder
retido pelo governo central para o poder local.

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3. Bibliografia
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2006;
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2014, alcance editores;
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UEM:Maputo, 2001;
CISTAC, G., e CHIZIANE, E. «10 anos de Descentralização em Moçambique: os Caminhos
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MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo Brasileiro. 29 ed. São Paulo: Malheiros,
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