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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Faculdade de Filosofia
Departamento de Graduação

Ericson Sembua
Filomena Bombi
Honorato Taela
Madala Nkabinde
Marta Vasco
Manuel Honwana

Descentralização Político-Administrativa em Moçambique


(Licenciatura em Filosofia)

Maputo
Junho de 2023
2

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE


Faculdade de Filosofia
Departamento de Graduação

Ericson Sembua
Filomena Bombi
Honorato Taela
Madala Nkabinde
Marta Vasco
Manuel Honwana

Descentralização Político-Administrativa em Moçambique

Trabalho de investigação científica


apresentado à Unidade Curricular de
Administração e Gestão Pública na Faculdade
de Filosofia da UEM como requisito parcial
de avaliação.

Docentes:
Mestre Salvador Jeremias Nwanatata

Maputo
Junho de 2023
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ÍNDICE

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 4

1. Noção de descentralização...................................................................................................... 5

1.1. Descentralização administrativa .......................................................................................... 5

1.2. Descentralização política ..................................................................................................... 5

2. Contexto histórico de moçambique ........................................................................................ 6

3. Estrutura política e administrativa .......................................................................................... 6

4. Legislação e marco legal da descentralização ........................................................................ 7

5. Descentralização em moçambique ......................................................................................... 9

Vantagens da descentralização ................................................................................................. 10

Desvantagens da descentralização ............................................................................................ 10

CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 11

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 12
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INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como tema Descentralização Político-Administrativa em Moçambique,
abordando de forma incisiva a questão da descentralização em Moçambique.

Ao longo dos anos, o país tem buscado fortalecer e promover a descentralização como um meio
de empoderar as comunidades locais, promover o desenvolvimento regional e garantir uma
maior participação popular na tomada de decisões políticas. No entanto, apesar dos esforços,
ainda há desafios significativos a serem enfrentados. Diante desta realidade, esta pesquisa
funda-se sobre a seguinte questão: como a implementação efectiva da descentralização pode
impactar a governação, o desenvolvimento e a participação política no contexto
moçambicano?

O estudo sobre a descentralização político-administrativa no país permite uma compreensão


mais aprofundada dos fatores e dinâmicas que afetam a governaçào e o desenvolvimento em
Moçambique. Isso pode fornecer um conhecimento valioso para os formuladores de políticas,
acadêmicos e actores envolvidos na promoção da descentralização e na busca por soluções
adaptadas às necessidades e particularidades do país.

O trabalho tem como objectivo geral compreender como a política influencia o


desenvolvimento socioeconômico e a participação política no país. Para atingir tal objectivo,
apresenta-se como objectivos específicos: i) Situar o conceito de descentralização no contexto
histórico e actual do país; ii) analizar a os enunciados da legislação vigente sobre o assunto da
descentralização; iii) avaliar os possíveis efeitos da descentralização na governação, analisando
sua influência na eficácia, eficiência e transparência das instituições políticas e administrativas
a nível local.

Para atender aos objetivos propostos, foi privilegiada uma abordagem metodológica qualitativa,
baseada na análise de conteúdo e na revisão bibliográfica.

O presente trabalho está estruturado da seguinte forma: A primeira parte, busca fornecer uma
noção do conceito de descentralização no âmbito político e administrativo. A Segunda parte
ocupa-se da contextualização histórica e da estrutura política administrativa local. Na quarta
parte, é feita uma análise da legislação vigente sobre o assunto e, de seguida, finaliza com um
estudo dos possíveis impactos, vantagens e desvantagens da descentralização.
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1. Noção de Descentralização
A noção de descentralização pode ser entendida, de forma literal, como o afastamento do centro,
embora não tenha uma forma independente. Para Medici (1994:67—71), no entanto, esse
conceito está directamente vinculado a um determinado objecto, podendo este ser a
administração pública ou as políticas sociais, que quando administradas ou executadas por
diferentes esferas do governo, caracterizam a descentralização como uma transmissão de
comando, execução ou financiamento destas políticas do nível central para o nível intermediário
ou local. A descentralização também é utilizada para denominar a transferência de atribuições
do Estado à iniciativa privada, privatização ou dando concessão de serviços públicos e a
transferência de poder do governo para uma comunidade ou para uma ONG (ABRUCIO,
2006:37).

1.1. Descentralização Administrativa


Em relação ao aspecto administrativo, Abrucio (2006:37—39) afirma que a descentralização
também é tratada como a delegação de funções de órgãos centrais a agências mais autônomas,
o que constitui, por conseguinte, um processo de desconcentração administrativa, com o repasse
de responsabilidades.

1.2. Descentralização Política


No processo político, Abrucio entende a descentralização como a transferência de poder
decisório de um Estado nacional aos governos subnacionais/regionais/provinciais, que: (1)
adquirem autonomia para escolher seus governantes e legisladores; (2) comandam directamente
sua administração; (3) elaboram uma legislação referente às competências que lhes cabem; (4)
cuidam de sua estrutura tributária e financeira.

A importância da autonomia político-administrativa e financeira em um processo de


descentralização é ressaltada por Medici (1994—71) e Junqueira (1997:91—97), onde o
primeiro destaca que tal processo pode não ser completo, em função da ausência de autonomias
pelos órgãos descentralizados. Já o segundo acrescenta que tais autonomias podem aprofundar
a participação da sociedade nos processos democráticos aumentando o controle dos sistemas
decisórios.

De modo geral, o significado de descentralização é a transferência de competências do governo


central para as instâncias locais, podendo haver, transferência de poder e recursos financeiros,
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com o objectivo de reduzir o tamanho da estrutura administrativa, o que agiliza a gestão de


políticas públicas e aproxima o Estado da sociedade.

2. Contexto histórico de Moçambique


Moçambique tem uma história complexa que abrange desde a colonização portuguesa até sua
independência em 1975. Após décadas de opressão colonial, o país enfrentou desafios
significativos na reconstrução pós-guerra e na consolidação de uma estrutura política e
administrativa eficaz. A descentralização político-administrativa tem sido um processo em
curso em Moçambique, visando transferir poder e autoridade do governo central para níveis
subnacionais. Embora a Constituição de 1998 tenha estabelecido as bases para a
descentralização, sua implementação enfrentou obstáculos, como a falta de capacidade
administrativa e recursos financeiros.

A independência de Moçambique, conquistada em 1975, marcou o início de uma nova fase na


história do país. A transição política para um sistema multipartidário e a adoção de políticas de
livre mercado e abertura econômica na década de 1990 trouxeram desafios adicionais. A
descentralização política e administrativa foi introduzida como um meio de fortalecer as
instituições locais, promover a participação política e melhorar a prestação de serviços públicos.
No entanto, a implementação efetiva tem sido lenta, devido a questões como a capacitação
insuficiente dos governos locais e a alocação limitada de recursos para apoiar o processo de
descentralização.

Apesar dos desafios, Moçambique tem avançado na busca pela descentralização. As eleições
multipartidárias regulares permitiram alternância de poder entre os principais partidos políticos,
como a FRELIMO e a RENAMO. No entanto, a descentralização continua sendo um processo
em andamento, e é necessário um compromisso contínuo para fortalecer as estruturas de
governança local, garantir a representatividade e a participação da população e alocar recursos
adequados para a implementação efetiva da descentralização político-administrativa em
Moçambique.

3. Estrutura política e administrativa


A estrutura política e administrativa de Moçambique é baseada em um sistema presidencialista,
onde o presidente é o chefe de Estado e de governo. O poder executivo está concentrado no
presidente, enquanto o poder legislativo é exercido pela Assembleia da República, composta
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por deputados eleitos. O país é dividido em dez províncias, cada uma com um governo
provincial liderado por um governador nomeado pelo presidente. Além disso, existem governos
municipais e de cidade responsáveis pela gestão local. A descentralização político-
administrativa é uma prioridade para fortalecer a governança local, envolver as comunidades e
melhorar a prestação de serviços públicos em níveis provinciais e locais.

A estrutura política e administrativa atual de Moçambique é caracterizada por um sistema


presidencialista com um presidente como chefe de Estado e de governo. A Assembleia da
República é responsável pelo poder legislativo, enquanto o presidente exerce autoridade no
poder executivo. O país é dividido em províncias, cada uma com um governo provincial e
distritos administrados por administradores nomeados. Além disso, existem governos
municipais e de cidade encarregados da gestão local. A descentralização é um aspecto
importante para fortalecer a governança local e melhorar a prestação de serviços públicos.

Moçambique adota um sistema presidencialista, onde o presidente é o líder do país. A


Assembleia da República exerce o poder legislativo, enquanto o presidente tem autoridade no
poder executivo. A administração é dividida em províncias, com governadores nomeados, e
distritos, com administradores nomeados. Há também governos municipais e de cidade para a
gestão local. A descentralização é uma prioridade para fortalecer a governança local e melhorar
a prestação de serviços públicos. É importante ressaltar que a estrutura política e administrativa
pode evoluir ao longo do tempo, conforme as necessidades e circunstâncias do país.

4. Legislação e marco legal da descentralização


A legislação que estabelece a descentralização em Moçambique inclui principalmente a
Constituição da República e a Lei da Descentralização Administrativa. A Constituição
promulgada em 2004, estabelece os princípios e directrizes gerais para a descentralização,
reconhcendo a autonomia das autoridades locais e a necessidade de participação popular na
tomada de decisões. Ela também define as competências e atribuições das diferentes esferas de
gverno.
A lei de descentralização administrativa, aprovada em 2013, é um marco legal importante que
define o quadro institucional da descentralização, conforme explica o documento da
Assembleia da República publicado em 2017.
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Em 30 de setembro de 2013 entrou em vigor a Lei nº 75/ do 2013, de 12 de


Junho de Setembro, que insistiu um novo regime jurídico para as autarquias
locais, o estatuto das entidades intermunicipais, o regime jurídico da
transferência de competências do Estado para as autarquias locais e para as
entidades e o regime jurídico do associativismo autárquico. […] esse regime
jurídico encontrava-se consagrado na Lei nº 169/99, de 19 de Setembro,
relativo ao quadro de competências, assim como o regime jurídico de
funcionamento, dos órgãos dos municípios e das freguesias.

A implementação da descentralização político-administrativa possui valor legal e jurídico


significativo. Essa importância pode ser observada em diversos aspectos:

a) Base constitucional: a descentralização é frequentemente respaldada pela Constituição do


país, que estabelece os princípios e directrizes gerais para a transferência de poder e
responsabilidades para as autoridades locais e regionais. A base constitucional garante
legitimidade e legalidade do processo de descentralização.

b) Definição de competências: a legislação relacionada à descentralização político-


administrativa define as competências, poderes e responsabilidades das autoridades locais e
regionais. No artigo 3.º da Lei nº 75/2013, são enumeradas as tipologias de competências: de
consulta, de planeamento, de investimento, de gestão, de licenciamento e controlo prévio e de
fiscalização. Entretanto ela estabelece os limites e as atribuições específicas de cada nível de
governo, garantindo um quadro legal claro para a tomada de decisões e a prestação de serviços
públicos.
c) Protecção dos direitos e liberdade: a descentralização politica e administrativa contribuiu
para a protecção e promoção dos direitos e liberdade dos cidadãos no país. Através da liderança
local mais próxima, as autoridades descentralizadas tem maior capacidade de responder às
necessidades e demandas específicas das comunidades locais, garantindo a efetivação dos
direitos fundamentais dos cidadãos.

d) Participação dos cidadãos: neste sentido, a descentralização estabeleceu mecanismos e


processos para a participação dos cidadãos na tomada de decisões locais. Ela buscou promover
a inclusão dos cidadãos no processo de governação, permitindo que eles contribuam
activamente para as políticas e programas implementados em suas comunidades.
e) Responsabilização e transparência: a descentralização política e administrativa promoveu
a responsabilização e transparência na gestão dos recursos públicos. A legislação, neste sentido,
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estabelece mecanismos de prestação de contas e transparências, garantindo que as autoridades


locais e regionais sejam responsáveis perante os cidadãos e que a gestão dos recursos seja
realizada de forma transparente e eficiente.

5. Descentralização em Moçambique
A República de Moçambique é um Estado unitário orientado pelos princípios da
descentralização e de subsidiariedade. Este modelo de organização do Estado aprovado na
sequência da revisão pontual da Constituição da República de Moçambique (CRM) pela Lei n.º
1/2018 é uma reforma de grande abrangência que deu início a um processo de transformação
profundo que está e ainda irá produzir enormes repercussões em toda a estrutura do Estado e
do sector público, abrangendo quase todos os Ministérios, incluindo as suas direções e serviços
da administração pública. Até à revisão constitucional, Moçambique era um dos países mais
centralizados do mundo. A implementação do novo quadro legal e a criação dos novos órgãos
de governação descentralizada nos níveis provincial e distrital constitui uma oportunidade de
aproximar o país dos modelos de boa governação internacional. No artigo 8 da Lei nº. 4/2019
refere expressamente que “a descentralização se apoia na iniciativa e na capacidade da
população e actua em estreita com as organizações de participação dos cidadãos" e estabelece
os objectivos da descentralização, designadamente:
a) organizar a participação dos cidadãos na solução de problemas próprios;
b) promover o desenvolvimento local;
c) aprofundar a e consolidar a democracia no quadro da unidade do Estado Moçambicano.

Problemas de incentivo
Direitos de decisão descentralizados permitem o uso de conhecimento específico. Entretanto,
não necessariamente os funcionários tem incentivo para agir a fim de maximizar o valor da
firma. Desenvolver um programa de incentivos para minimizar esse problema muitas vezes é
uma tarefa custosa. A empresa pode utilizar medidas de desempenho individual ou em grupo,
ou monitoramento direto. Entretanto, toda técnica tem custo, e nenhuma delas resolve o
completamente problema.

Custos de coordenação
Se várias áreas funcionais ou divisões da empresa, incluindo franquias, têm autonomia, pode
haver competição interna dentro da organização ou simplesmente falta de coordenação entre as
partes. A meta de cada função pode entrar em conflito com as actividades de outra função,
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prejudicando a organização como um todo. Isso demanda um gerenciamento pela mais alta
gerência, a fim de atingir coordenação entre as partes e alcançar os objetivos da empresa.

Uso menos efetivo de informações centrais


Funcionários mais baixos na hierarquia normalmente não possuem a totalidade das informações
relevantes para tomar decisões. Funcionários de alta hierarquia normalmente são mais
experientes, mais qualificados para decisões que devem ser tomadas, caso possua as
informações necessárias.

O grau de centralização-descentralização de cada organização é afetado por diversos fatores. A


dificuldade das empresas em delegar e descentralizar. A tomada de decisão em uma
organização pode ser centralizada ou descentralizada. A centralização é a maneira na qual a
localização da tomada de decisão está próxima do topo hierárquico da organização. Já a
descentralização propicia que níveis hierárquicos mais baixos tomem decisões. A distribuição
do poder dentro da empresa é concentração de autoridade na cúpula da hierarquia ou sua relativa
dispersão nos demais níveis da empresa. Muitos autores consideram centralização como
sinônimo da concentração da autoridade na cúpula e descentralização como sinônimo da
dispersão da autoridade pelos demais outros níveis da empresa.

Vantagens da descentralização
a) Maior autonomia para os gerentes.
b) Facilidade de avaliar os gerentes.
c) Competição positiva entre as unidades.
d) Criatividade da busca de solicitar.
e) Agilidade na tomada de decisões.

Desvantagens da descentralização
a) Maior heterogeneidade das operações.
b) Tendência ao desperdício e duplicação.
c) Comunicação menos eficiente.
d) Dificuldade de localizar responsáveis.
e) Dificuldade de controle e avaliação.
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CONCLUSÃO

A conclusão a que se chega, no entanto, a partir desta pesquisa, é que a Descentralização


Política & Administrativa Em Moçambique é um fenômeno viável por conta das vantagens que
desta se podem deduzir e, enquanto tal, a sua viabilidade pode causar determinados impactos
na estrutura política, posto que implica a restauração integral e funcional do sistema político e
administrativo. Posto isto, urge salientar que os impactos em referência estão directamente
vinculados às possíveis desvantagens de sua implementação.

O contexto histórico de Moçambique é marcado por factores que realçam a necessidade de uma
política e administração descentralizadas e, por conseguinte, a estrutura política actual, pela
natureza contraproducente de suas operações, estimula no povo e na comunidade académica a
subtil necessidade da implantação da descentralização. Portanto, a descentralização se faz tão
necessária que acaba tendo um marco legal na legislação moçambicana, apesar de possíveis
esforços para a sua não-aplicação integral.

A síntese última do que se conclui para esta pesquisa é que as desvantagens da descentralização
não possuem consistência suficiente para torná-la inviável, isto é, apesar de ter certas
desvantagens, a descentralização continua a ser possível. Por outro lado, as vantagens da
descentralização transcendem a modalidade da possibilidade e passa a torná-la uma
necessidade, isto é, a partir do momento em que as vantagens da descentralização são
consistentes em superação às desvantagens, a sua implementação no país deve ser urgente e
integralmente necessária.
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BIBLIOGRAFIA

ABRUCIO, F. L. (2006). Para Além da Descentralização: os desafios da coordenação


federativa. Rio de Janeiro: FGV.

JUNQUEIRA, L. A. P.; INOJOSA, R. M.; KOMATSU, S. A. (1997). Descentralização e


Intersetorialidade na Gestão Pública. Fortaleza: Caracas.

MEDICI, A. C. (1994). Economia e Financiamento do Setor Saúde. São Paulo: USP.

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