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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Faculdade de Filosofia
Departamento de Graduação

Isidro Cuamba
Manuel Francisco Honwana

Problemas do agir: Valores e Liberdade em Immanuel Kant

(Licenciatura em Filosofia)

Maputo
Maio de 2022
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
Faculdade de Filosofia
Departamento de Graduação

Isidro Cuamba
Manuel Francisco Honwana

Problemas do agir: Valores e Liberdade em Immanuel Kant

Trabalho de investigação científica


apresentado à Unidade Curricular de
Introdução à na faculdade de Filosofia da
UEM como requisito parcial de avaliação.

Docentes:
Prof. Doutor José Blaunde Patimale
Mestre Domingos Dom Luís
Mestre Fidelino Parruque

Maputo
Maio de 2022
ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 4

2. PROBLEMAS DO AGIR....................................................................................................... 5

2.1 Ética do dever e o Imperativo categórico ...................................................................................... 6

2.2 Valores em Kant ............................................................................................................................ 7

2.3 Liberdade em Kant ........................................................................................................................ 7

3. CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 8

4. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 9
1. INTRODUÇÃO

Uma das principais características da Filosofia é a sua tendência racional, em que a razão é o
principal critério de explicação sobre o mundo e de decisão em relação à conduta por adoptar
perante as situações da vida. Aliás, essa racionalidade crítica do questionamento filosófico, que
implica recusa a todas as formas de dogmatismo, é a principal característica do iluminismo, que
tem como principal defensor o filósofo Immanuel Kant (1724-1804).

Com o objectivo de desenvolver o conhecimento do carácter racional da filosofia, é realizado


o presente trabalho, subordinado ao tema “Os Problemas do agir: Valores e liberdade em
Immanuel Kant”, que visa abordar de forma sintética o pensamento ético deste filósofo,
observando as suas teorias em torno da problemática da acção humana, sua natureza e
finalidade.

Kant, em suas obras, aborda de forma exaustiva a questão dos fundamentos da acção moral, e
para trazer de forma fiel a sua visão, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, explorando
sistematicamente as obras de Immanuel Kant, que serviram de embasamento para todos os
conteúdos patentes neste texto.

O trabalho faz uma abordagem resumida, que explora em um único capítulo, que se apresenta
em três páginas, o tema proposto, esquivando-se de eventual superficialidade, não obstante à
impossibilidade de esgotar o conteúdo da ética kantiana.
2. PROBLEMAS DO AGIR

O pensamento de Immanuel Kant (1724-1804) abordou de forma vasta diversos assuntos


ligados à ética e à moral. Kant se preocupou em basear o seu modelo ético na capacidade
racional do homem em detrimento de qualquer justificação moral religiosa ou mitológica.

Na Fundamentação da Metafísica dos costumes, Kant considera que a única virtude que pode
ser efectivamente considerada como tal é a boa vontade. Deste modo, o filósofo questiona as
acções que têm por objectivo a felicidade ou o alcance de certa finalidade proposta pela vontade
própria ou pelos preceitos religiosos. Tendo como objectivo final a felicidade, por exemplo, a
razão e a moralidade não seriam suficientes para fundamentar o agir do homem. Tendo como
finalidade agradar alguma divindade, seriam igualmente insuficientes. A acção deveria assim,
ter o seu fim em si mesma.

A boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, pela aptidão para
alcançar qualquer finalidade proposta, mas tão somente pelo querer, isto é, em si
mesma e, considerada em si mesma, deve ser avaliada em grau muito mais alto do
que tudo o que por seu intermédio possa ser alcançado em proveito de qualquer
inclinação, ou mesmo, se se quiser, da soma de todas as inclinações (KANT, 1980:
23).

Qualidades como a inteligência, a coragem, astúcia, o discernimento, a força, a riqueza, a saúde,


honra, poder e todas as qualidades dos seres humanos e as vantagens da fortuna, quando
aplicadas a partir de uma vontade de carácter negativo, podem tornar-se prejudiciais ao homem
e à natureza. A boa vontade seria, portanto, um esforço racional do homem, com vista a desejar
as qualidades dos seres humanos e as vantagens da fortuna, de tal modo que elas encontrem a
sua finalidade em si mesmas. Essa seria a condição indispensável para que o homem se torne
digno de felicidade.

Ora, na primeira parte da obra “A Religião nos limites da simples razão”, Kant (2008: 34-36)
defende a propensão natural do homem para o mal, determinada pelo livre arbítrio. Tal
propensão ou inclinação, pode ser classificada em três graus: a fragilidade (fragilitas) da
natureza humana, que contrapõe a vontade como causa suficiente do agir moral; a impureza
(impuritas, improbitas) do coração humano; malignidade (vitiositas, pravitas) ou estado de
corrupção do coração humano. Essa inclinação do homem ao mal constitui uma barreira natural
para a boa vontade.
Entre a boa vontade e maldade radical do homem, Kant introduz o conceito de dever, que
consiste na superação dos instintos que tornam o homem propenso à imoralidade. O dever seria,
para Kant, a obediência à lei moral; acções levada à cabo por autodeterminação e vontade
própria, negando a tendências naturalmente irracionais.

2.1 Ética do dever e o Imperativo categórico

Kant desenvolve a sua ética a partir de alguns conceitos fundamentais como o de autonomia,
boa vontade, de deontologia, de dever e, com destaque, do imperativo categórico. A
investigação de Kant tem como objectivo encontrar a fundamentação racional da moral, que é
traduzida como a submissão da vontade a uma forma racional passível de universalidade.

A ética do dever, ou seja, a deontologia, distancia-se da ética teleológica, na qual a


fundamentação da acção humana tem em vista uma finalidade: a felicidade (eudaimonia),
defendida pelos filósofos clássicos gregos, de modo particular Aristóteles; a ligação a Deus e a
salvação, defendida pelos filósofos medievais; e o utilitarismo, segundo o qual uma vida moral
seria uma vida pautada pela busca pela busca do prazer e pela redução do sofrimento.

Na ética do dever, o valor moral da acção não está na finalidade ou nas consequências da mesma
(felicidade, salvação ou prazer), e sim na pureza dessa acção. As particularidades da ética do
dever são materializadas no imperativo categórico, que é um mandamento da razão expresso
pelo dever. Trata-se de uma lei fundamental da razão prática que aparece nas obras de Kant
formulado e discutido de forma ampla: “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao
mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” (KANT, 2003: 59). O imperativo
categórico, na sua essência, transcende o relativismo moral, em que a conduta ideal é definida
pela subjectiva do homem. Considera, por sua vez, que o homem deve agir de forma que as
suas acções possam ser consideradas uma lei universal susceptível de cumprimento por todos;
ou seja, uma visão colectiva em que o cumprimento correcto do dever é motivado por uma
decisão imparcial e desinteressada, que possa ser reproduzida por todo e qualquer ser racional.

Para Hoffe (2005: 194), o imperativo categórico é o princípio necessário para a vontade humana
conformar-se à razão e, por conseguinte, é fundamentação necessária para uma vontade livre.
Dessa forma, o imperativo categórico é o imperativo da moralidade, pois ― à diferença da
legalidade, a moralidade não pode ser constatada na ação mesma, mas somente em seu
fundamento determinante, no querer.

2.2 Valores em Kant

Valores são juízos sobre algum aspecto da realidade. Ao analisar objectos, sentimentos, acções,
temos a tendência a atribuir valor, de acordo com o grau de importância que atribuímos baseado
na nossa racionalidade. “Valor é a medida da importância de algo” (AUDI, 2006: 972).

Na perspectiva de Immanuel Kant, o que confere valor moral às nossas acções não é o resultado
ou efeito das mesmas, mas sim a pureza da intenção com que elas são levadas a cabo. Ou seja,
a moralidade está presente na intenção e não no valor objectivo dos actos. Os valores, por
definição, são relativos pois dependem da intenção e das particularidades de quem os avalia.
Porém, na perspectiva moral de Kant, a racionalidade do homem deve conduzi-lo a formular
leis que confiram à sua acção um valor universal.

2.3 Liberdade em Kant

Para Kant, liberdade é a faculdade que confere ao individuo a capacidade de definir


racionalmente suas próprias regras. Essa faculdade é independente da sua vontade, e se dá no
conhecimento das leis morais. A liberdade pode ser demostrada como propriedade de vontade
de todos os seres racionais. A Fundamentação da Metafísica dos Costumes apresenta o conceito
de liberdade transcendental como chave de explicação para a autonomia da vontade dos seres
racionais.

De acordo com a perspectiva de Codato (2009: 39), o pensamento ético de Kant, representa o
fim da ontologia, uma vez que, ao afirmar que a conduta do homem é (e deve ser) baseada
somente na sua liberdade, decorrente da sua racionalidade, refuta-se da visão ontológica, que
baseia a acção humana nas propriedades do ser.

A liberdade, portanto, sendo independente de qualquer influencia, leva o homem a agir de


acordo com uma lei colocada por si próprio, submetida a leis morais.
3. CONCLUSÃO

Apesar da reconhecida vastidão do pensamento kantiano em relação ao tema proposto, importa-


nos referir que o presente exercício permitiu a abertura de um imensurável horizonte de
conhecimento por explorar. Permitiu, igualmente, uma maior compreensão da inesgotabilidade
do conhecimento ético patente nas obras de Immanuel Kant.

Esta abordagem sintética da problemática da acção humana, revelou de forma elucidativa a


importância da racionalidade própria da Filosofia para uma vida moralmente valorosa, no
âmbito pessoal, social e profissional.

Através da sua argumentação patente neste trabalho, fica demonstrado que é possível ao
homem, apesar da possibilidade de ser afectado pelos seus sentidos e suas aspirações
individualistas, uma liberdade que lhe permita agir objectivamente de acordo com o imperativo
categórico. Desta maneira, fica claro que a liberdade pressupõe a racionalidade, ou seja, acções
livres são acções puramente racionais e a lei moral é produto da razão humana.

Apesar da riqueza do pensamento kantiano sinteticamente abordado neste trabalho, esperamos


que haja oportunidades futuras para uma análise mais minuciosa, que certamente contribuirá de
forma significativa para formação do nosso pensamento crítico.
4. BIBLIOGRAFIA

AUDI, Robert (Dir.). (2006). Diccionário de Filosofia de Cambridge. 2. ed., São Paulo: Paulus
CODATO, Luciano (2009). Kant e o fim da ontologia. Analytica, v. 13, n. 1. p. 39-64
HÖFFE, Ottfried. (2005). Immanuel Kant. Trad. Christian Viktor Hann. São Paulo: Martins
Fontes.
KANT, Immanuel. (1980). Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Paulo Quintela.
São Paulo: Abril Cultural.
______. (2003). Crítica da razão prática. Trad. Valerio Rohden. São Paulo: Martins Fontes.
______. (2008). Religião nos limites da Simples Razão. Trad. Artur Morão. Covilhã: Lusosofia

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