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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Faculdade de Filosofia
Departamento de Graduação

Manuel Francisco Honwana

Resumo do livro V de “Ética a Nicómaco” – Aristóteles

(Licenciatura em Filosofia)

Maputo
Maio de 2022
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
Faculdade de Filosofia
Departamento de Graduação

Manuel Francisco Honwana

Resumo do livro V de “Ética a Nicómaco” – Aristóteles

Resumo apresentado à Unidade Curricular de


Seminário I, na faculdade de Filosofia da
UEM como requisito parcial de avaliação.

Docentes:
Mestre Nazarete Raice

Maputo
Maio de 2022

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 4

2. LIVRO V DE “ÉTICA A NICÓMACO” – ARISTÓTELES ................................................ 5

I – Sobre a Justiça e a injustiça ................................................................................................... 5

II – Justiça e a injustiça: virtude e vício ..................................................................................... 5

III – Meio termo para a injustiça ................................................................................................ 6

IV – Sobre a Justiça corretiva ..................................................................................................... 6

V – Justiça como retaliação ........................................................................................................ 7

VI – Possibilidade de cometer injustiça sem ser injusto ............................................................ 8

VII – Justiça política ................................................................................................................... 9

VIII – Justiça e intenção ............................................................................................................. 9

IX – Sofrer injustiça voluntariamente ...................................................................................... 10

X – Sobre a equidade ................................................................................................................ 11

XI – Injustiça a si próprio ......................................................................................................... 12

3. CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 13

4. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 14

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1. INTRODUÇÃO
Na história do pensamento. Há diversas formulações a respeito do conceito de Justiça. Há
conceitos que são utilitaristas, outros intencionistas, outros calculistas; e há o
pensamento/conceito aristotélico de justiça. A característica mais importante do pensamento
aristotélico a respeito da Justiça é que a ela é prudencial.

O quinto livro da “Ética a Nicómaco” aborda a questão da justiça e é objecto deste trabalho.
Busca-se neste trabalho explorar de forma sintética o conteúdo deste livro (quinto), que aborda
a justiça como virtude mais excepcional, extremamente importante para vida humana.

O livro é dividido em onze capítulos, e para melhor compreensão de seu conteúdo, foram
atribuídos títulos aos 11 capítulos que são seguidos por alguns comentários interpretativos. Um
exercício que visa fazer uma abordagem sintética, buscando a todo o custo não ignorar aos
elementos mais importantes do pensamento de Aristóteles.

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2. LIVRO V DE “ÉTICA A NICÓMACO” – ARISTÓTELES

I – Sobre a Justiça e a injustiça


O problema abordado neste livro é o da justiça. No primeiro capítulo, é tratada como uma
condição fundamental na qual o homem deseja e age de acordo com o que é justo, sendo
injustiça o seu oposto. Essa condição fundamental é (ou deve ser) notável tanto no desejo como
na acção do homem.

Ora, sendo justiça a observância da lei e o respeito pela igualdade (e injustiça a transgressão da
lei e o desrespeito pela igualdade), ela é considerada a maior e mais completa das virtudes, uma
vez que se entende por justo aquele que deseja, produz e salvaguarda o bem e seus componentes,
não só para si, mas também para o seu próximo ou para a sua comunidade. Essa condição, em
relação à individualidade, ou seja, como disposição de carácter, é denominada virtude ou
excelência; em consideração ao próximo, ganha o sentido de justiça.

II – Justiça e a injustiça: virtude e vício


Neste capítulo, Aristóteles concentra-se na justiça como uma virtude – e na injustiça como um
vício. A injustiça se apresenta de duas formas: 1) um tipo particular, que trata da distribuição
desigual de bens (iniquidade); 2) um tipo mais geral, que envolve a violação da lei e todos os
outros vícios em geral (transgressão da lei).

Aristóteles reitera que “transgressor” e “iníquo” são duas categorias diferentes. “Iniquidade” é
um tipo específico de ilicitude. É uma ânsia por mais bens da vida (honra, dinheiro, segurança,
etc.) do que merecemos.

A justiça particular pode ainda ser dividida em duas formas. A primeira é distributiva (ou seja,
a distribuição adequada de bens em uma comunidade); a segunda é corretiva, no que diz respeito
às interações entre as pessoas. A justiça corretiva pode ser dividida em mais duas categorias:
transações/interações voluntárias e involuntárias. Aristóteles define as transações voluntárias
como principalmente as de negócios: compra, venda, empréstimo, etc.; involuntárias envolvem
violações, como roubo, adultério, agressão, estupro, morte.

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III – Meio termo para a injustiça
Aristóteles pretende definir o termo médio para a injustiça. Ele defende que, uma vez que os
injustos são iníquos, o termo médio deve ser a “igualdade”. Portanto, os justos são a “média de
ouro” em termos de seres sociais e políticos. Aristóteles considera que o justo envolve quatro
termos: duas pessoas envolvidas e duas “questões de interesse”. Isso significa que deve haver
pelo menos duas pessoas envolvidas para que uma questão de justiça surja, e que cada uma das
duas pessoas tem em si uma questão ou necessidade. Todos e tudo nesta equação devem ser
iguais – caso contrário, surgirão discórdia e desigualdade.

Ao falar de distribuição igual, Aristóteles não se refere à igualdade simples, onde todos recebem
exatamente a mesma coisa. Neste caso, é a igualdade baseada no mérito ou no valor. O que
mede o valor/mérito? Aristóteles propõe uma certa proporção matemática expressa como uma
razão dos quatro termos. A proporção é geométrica - uma proporção de linhas.

Tudo isso para dizer que o “justo” é o meio termo, e que representa uma distribuição igualitária
(baseada na proporção adequada) das coisas comuns. Coisas que são “injustas” ou "iníquas"
desafiam essa proporção - o que significa que há mais de um lado e menos do outro.

Aristóteles diz que este é um reflexo preciso das ações na vida: os injustos se apoderam mais
do bem e aqueles que sofrem a injustiça ficam com mais mal do que lhes corresponde. Se algo
(ou alguém) deve ser considerado justo, ele precisaria ter a menor parcela de maldade. Em
outras palavras, ele teria que ter coisas boas e se comportar de forma justa com os outros. Para
corrigir os erros da injustiça, deve haver uma correção da distribuição injusta que causa
sofrimento.

IV – Sobre a Justiça corretiva


Este capítulo trata da “justiça corretiva”. Esse tipo de justiça também tem a ver com igualdade.
Mas a proporção envolvida aqui é "aritmética" (em vez da geométrica que Aristóteles propõe
no Capítulo anterior). Esta equação trata da legalidade e do dano causado. Não importa quem
foi ferido (ou quem está a sofrer). Se um erro foi cometido, a lei deve corrigi-lo.

É trabalho do juiz acertar as coisas — restaurar o equilíbrio da justiça. Ele faz isso punindo (ou
seja, infligindo perda a) uma pessoa que ganhou alguma vantagem com uma acção ilegal.
Aristóteles busca a esclarecer os termos “ganho” e “perda” para que possamos chegar à
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igualdade (que é o meio termo). “Ganho” = mais do bem; “perda” = menos do bem (ou mais
do mal).

Para restabelecer o equilíbrio, a justiça corretiva busca esse meio-termo, o que pode significar
infligir perda a alguém que ganhou algo indevidamente. Aristóteles diz que as pessoas vão a
um juiz para resolver suas disputas porque um juiz deve ser “o justo de alma”. O seu trabalho
é encontrar esse lugar de igualdade para fazer as coisas certas.

Aristóteles usa a geometria novamente para ilustrar como um juiz restaura a igualdade em cada
um de seus casos. Perda e ganho pertencem a transações voluntárias (ou seja, transações
comerciais, que pelo menos duas partes podem entrar voluntariamente).

Obtendo exatamente o que contribuímos, podemos dizer que não perdemos nem ganhamos.
Aristóteles chama isso de distribuição justa: sair com nem mais nem menos, mas com a pele
intacta.

V – Justiça como retaliação


Aristóteles investiga a possibilidade de que a reciprocidade ou retaliação é uma espécie de
justiça. Mas ele chega à conclusão de que a retaliação em uma comunidade não é justiça
distributiva nem corretiva. É uma espécie de justiça “olho por olho”.

E, em alguns casos, a justiça recíproca simplesmente não funciona. Se um rei dá um soco em


um súdito, não está certo que o súdito lhe dê um soco de volta. Aristóteles diz que a
reciprocidade ou retaliação proporcional é um tipo importante de justiça social em comunidades
baseadas na troca. Como a troca mútua é uma espécie de cola que mantém as comunidades
unidas, Aristóteles acrescenta isso à sua proporção geométrica como outra variável a
“retribuição proporcional”.

Ele usa o exemplo de um construtor de casas e de um sapateiro que desejam trocar


bens/serviços. Para que a transação seja justa, eles têm que estabelecer a igualdade
proporcional. Isso significa que eles precisam descobrir quantos sapatos equivalem ao tipo de
serviços de construção de casas em questão aqui. Quando essa igualdade é alcançada, a doação
recíproca pode ocorrer.

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Aristóteles diz que todo trabalho não precisa ser igualmente importante ou valioso para ser
trocado. As partes só precisam estabelecer uma proporção adequada para que todos sejam
felizes. E é assim que as comunidades precisam de pessoas de diferentes ocupações para
prosperar.

Aristóteles aborda a moeda como o grande equalizador nas trocas comerciais. Dessa forma, o
dinheiro fornece uma variável constante com a qual todos os bens e serviços podem ser
comparados. Uma vez que tudo tem um valor monetário proporcional, podemos ver mais
objetivamente o que as coisas são iguais.

A retaliação só pode acontecer quando todas as variáveis são de alguma forma iguais. O
dinheiro ajuda a fazer isso estabilizando a necessidade: garante que uma pessoa possa comprar
o que precisa, em vez de simplesmente esperar que tenha os bens ou serviços certos para trocar.
Aristóteles diz que a igualdade (pelo menos, a nível financeiro) só pode realmente ser alcançada
se todas as coisas tiverem um valor atribuído a elas. Isso mantém a porta aberta para a troca –
e essa é a base fundamental para uma comunidade.

Ele espreme a justiça de volta a essa equação explicando que a comunidade depende da troca;
troca de igualdade; igualdade na capacidade de descobrir o que as coisas valem.

VI – Possibilidade de cometer injustiça sem ser injusto


Aristóteles considera a possibilidade de cometer uma injustiça sem ser uma pessoa injusta.
Então, quão mau é necessário ser para ser chamado de injusto? Primeiro, Aristóteles precisa
descobrir quem é candidato à justiça. É apenas para aqueles a quem a lei se aplica – para aqueles
que vivem em uma comunidade, uma entidade política. Sem comunidade, não há lei – e,
portanto, nenhuma injustiça é possível.

A lei mantém as coisas em equilíbrio — não os humanos. Se os humanos o tomassem em suas


mãos sem a orientação da lei, os governantes sempre se tornariam tiranos. Isso porque os
humanos escolheriam mais o bem e menos o mal para si se fossem deixados por conta própria.

diz que um governante deve ser um "guardião do justo", distribuindo o que é bom de forma
proporcional e justa. Não acumulando todo o bem para si mesmo um governante, sendo justo,
ele ganha honra e privilégio – que são os bens mais elevados.
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VII – Justiça política
A justiça política tem duas partes: natural e convencional. A justiça natural é um conceito geral
que se aplica em todos os lugares. Esta é uma ideia universal de justiça, uma que ninguém em
nenhum lugar discutiria. A justiça convencional é mais particular e específica da comunidade.
Ele regula as transações diárias.

Aristóteles reflete sobre a mutabilidade da justiça. Toda justiça não é realmente meramente
convencional, mudando com valores e crenças? Ele fala um pouco mais dizendo que há um
sentido universal do que é justo — mas que também pode ser variável.

Aristóteles compara a justiça convencional ao comércio de vinho e milho em lugares diferentes.


As medidas dessas mercadorias podem diferir em diferentes reinos. Mas Aristóteles diz que há
um regime que defende a justiça natural, e é o melhor – em que o bem comum é promovido e
os outros em que os virtuosos recebem mérito.

A justiça no sentido geral difere de um sentido mais particular de outras maneiras. O que é justo
por natureza não se torna justiça particular (convencional) até que um ato justo seja feito.
Assim, a justiça natural é uma espécie de ideia universal; a justiça convencional (particular) é
a realização de atos justos, conforme interpretados pela lei. E no caso da injustiça/atos injustos,
aplicam-se as mesmas ideias se aplicam.

VIII – Justiça e intenção


Uma pessoa só pode cometer um acto injusto ou justo se o fizer voluntariamente. Se alguém
cometer um acto injusto involuntariamente, pode ser culpado, mas não considerado totalmente
injusto.Uma rápida recapitulação da acção involuntária: 1) quando uma pessoa age na
ignorância; 2) quando a acção não é de sua escolha; 3) quando a acção é forçada.

Há também ações incidentais — coisas que não pretendemos que sejam justas ou injustas, mas
acabam sendo.

Aristóteles diz que o voluntário é algo previamente deliberado. Ele inclui como involuntárias
as coisas que fazemos na ignorância e na ignorância. São três: 1) quando uma pessoa não
percebe que vai causar dano ou usar um instrumento nocivo; 2) quando a acção não é dirigida
a uma determinada pessoa; 3) o "fim" é inesperado.
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Se em qualquer um desses casos, a pessoa involuntariamente age injustamente e causa dano –
não é o que ele pretendia. Isso só pode ser chamado de erro. Se houver premeditação (ou seja,
deliberação), então o acto é propriamente injusto. E se prejudicarmos alguém intencionalmente,
mas sem deliberação, ainda é injusto. Mas se esses actos de injustiça não acontecem por causa
da maldade e da escolha consciente, o autor não é uma pessoa injusta.

Aristóteles diz que em questões de julgamento, não é o resultado que contestamos. Se há um


corpo caído no chão em uma poça de sangue, sabemos muito bem que temos uma morte
violenta. A questão é quem é o culpado. Qual é a acção justa que vai acertar as coisas?

Quando uma pessoa prejudica por escolha, ela se comporta injustamente. E quando essa pessoa
procura ganhar mais de qualquer coisa através de um acto injusto, ela realmente se torna injusta.
Do outro lado do espectro, uma pessoa pode ser chamada de justa se realizar actos justos
voluntariamente.

Aristóteles também aborda o perdão. Podemos perdoar coisas involuntárias (ou não). Se eles
são feitos sem entendimento, eles podem ser perdoados. Se feito com "paixão", eles podem não
ser perdoados.

IX – Sofrer injustiça voluntariamente


Aristóteles começa com “perplexidades”: se uma pessoa pode sofrer injustiça (ou justiça)
voluntariamente, ou se todo aquele que sofre algo injusto sofre injustiça (o mesmo para a
justiça). Além disso, é possível fazer uma injustiça a si mesmo?

De volta à primeira pergunta: uma pessoa pode sofrer injustiça voluntariamente por alguém que
também está agindo voluntariamente? Aristóteles se pergunta se não devemos acrescentar outra
dimensão à sua definição de injustiça: que ela deve ser feita voluntariamente e contra a vontade
da outra pessoa.

Ele acha que é um bom adendo, já que ninguém realmente deseja ser prejudicado, mesmo que
aja de forma autodestrutiva.

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Ele conclui que não cabe à pessoa que sofre determinar se foi ou não vítima de injustiça. E
assim Aristóteles responde às suas próprias perguntas: sofrer injustiça não pode ser voluntário,
pois ninguém deseja ser prejudicado. Além disso, para que um acto seja injusto, ele deve ter
sido cometido voluntariamente por uma segunda parte. Mais dois detalhes a serem
considerados: 1) Uma pessoa que dá a alguém mais do que merece ser injusta; 2) Ou é a pessoa
que recebe mais do que deveria o injusto?

Aristóteles responde a essas perguntas engajando-se na pergunta anterior sobre se podemos ser
injustos com nós mesmos. Ele diz que se dar mais de nossos próprios bens do que o merecido
é injusto, então somos injustos connosco mesmos. Mas como um acto injusto deve ser contra a
vontade da pessoa não pode haver injustiça auto-infligida.

O receptor também não é injusto, embora seja tecnicamente uma coisa injusta receber mais do
que você vale. E, no entanto, o doador faz uma coisa injusta ao distribuir mais do que uma
pessoa merece.

Em última análise, depende das intenções do doador. Se ele cometeu um erro de julgamento,
então ele próprio não é uma pessoa injusta, embora o acto de dar demais seja injusto. Se ele
julgou corretamente, talvez esteja dando demais na esperança de ganhar mais do que seu
montante de honra. E isso é de alguma forma negativa.

Uma coisa fica muito clara com toda essa hesitação: fazer a coisa certa não é tão fácil quanto
parece. Não é simplesmente escolher a coisa certa a fazer. Também temos que ter a intenção
certa. Também é difícil discernir entre as coisas justas e injustas, porque a lei nos diz como nos
comportar. Mas, como diz Aristóteles, a lei é apenas a “ponta do iceberg“da justiça.
Aristóteles faz uma observação final: a justiça é humana. Onde quer que haja excesso ou
deficiência de coisas boas, aí se aplicam os princípios da justiça.

X – Sobre a equidade
Sobre a equidade e o equitativo. Aristóteles diz que o equitativo é superior ao justo - embora
ambos estejam na mesma categoria. Portanto, não é errado dizer que o equitativo também é o
que é justo. O que é justo nem sempre é o que é justo de acordo com a lei.

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Como a lei geral pode não tratar adequadamente um caso particular, precisamos do que é justo
para corrigi-lo. Então, a equidade surge quando há uma correcção de uma lei para resolver o
que está em falta porque é muito geral.

A lei na época de Aristóteles recorre a decretos que trazem equidade, pois podem ser aplicados
a uma situação específica quando ela surge. Uma pessoa equitativa escolherá a acção justa e
corrigirá a lei quando ela não for perfeita em sua justiça. Ele ainda terá menos para si mesmo
se perceber que isso restaurará o equilíbrio social.

XI – Injustiça a si próprio
Aristóteles introduz neste capítulo, mais perplexidades sobre fazer injustiça a si mesmo.
Embora seja um acto injusto se matar em um ataque de paixão, por exemplo, a questão
permanece: a quem é feita a injustiça?
Aristóteles julga que a injustiça é feita à cidade, já que você não pode voluntariamente fazer
um acto injusto a si mesmo. Sua prova é que o suicídio resulta em uma penalidade e a desonra
recai sobre a pessoa que se mata.

Além disso, a menos que uma pessoa seja totalmente má, ela não pode fazer uma injustiça a si
mesma. Isso ocorre porque ninguém não pode ganhar com uma acção que simultaneamente o
priva de algo tão importante. Lembre-se que para cometer uma injustiça, o homem precisa de
tirar mais do bem para si mesmo. Por conseguinte: questões de justiça requerem a participação
de pelo menos duas pessoas. Além disso, para ser injusto, um acto deve ser: 1) voluntário; 2)
um produto de escolha; 3) não estimulado por ações externas.

Uma pessoa que se aleija é ao mesmo tempo agressor e vítima. Isso significa que não há nenhum
momento de deliberação antes disso que o torne um atacante preventivo. E de qualquer forma,
se uma pessoa que se prejudica comete injustiça a si mesma, isso significa que ela teria sofrido
a injustiça voluntariamente. Isso é um absurdo para Aristóteles. Aristóteles toma outro rumo e
diz que tanto fazer como sofrer uma injustiça. Claro, fazer é pior.

Ele encerra toda a discussão admitindo que há uma maneira pela qual podemos ser injustos com
connosco. E possível que as duas partes da alma — as partes racionais e não racionais —
estejam em conflito uma com a outra.

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3. CONCLUSÃO

Esta obra tem uma abordagem bastante rica sobre a justiça e os fundamentos da acção correcta.
A Justiça é colocada aqui como aquela virtude que pensa o meio termo. Como meio termo, ela
afasta os excessos, afasta aqueles elementos que prejudicam a vida humana.

Por conseguinte, a justiça está preocupada com o benefício de todos – o que chamamos de
“justo”, diz Aristóteles, “é tudo o que produz e mantém a felicidade e suas partes para uma
comunidade política”. Por outras palavras, ao contrário das outras virtudes isoladas, a justiça
visa o benefício dos membros da comunidade. A lei obtém tal justiça exigindo “acções de
acordo com as outras virtudes” e proibindo aquelas associadas a vícios.

Quando qualquer outra virtude é exercida em relação a outras, pode ser classificada
adequadamente como justiça. É por isso que Aristóteles considera a justiça uma espécie de
soma de todas as virtudes.

Este livro levou-nos a reflectir de forma profunda sobre a acção racional e a necessidade de
traduzir os nossos pensamentos em ações, por isso que é tão importante pensar e agir nos dias
de hoje. Por essa razão filosofar é necessário na vida de todo o ser humano.

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4. BIBLIOGRAFIA

ARISTÓTELES. (2009). Ética a Nicómaco. Trad. António de Castro Caeiro. São Paulo: Atlas.

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