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Faculdade de Filosofia
Departamento de Graduação
Ericson Sembua
Manuel Honwana
Maria Maposse
Rosalina Cossa
(Licenciatura em Filosofia)
Docente:
Mestre Nazarete Justino Raice
Maputo
Março de 2023
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 3
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 10
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 11
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INTRODUÇÃO
Este trabalho versa sobre Os Modelos de Felicidade na Sociedade actual moçambicana em
Brazão Mazula, abordando as suas principais características e o pensamento do autor sobre a
sua forma de manifestação.
Muitas teorias éticas também argumentam que todo o indivíduo tem uma responsabilidade
moral de promover a felicidade e o bem-estar, tanto para si quanto para os outros. Por
conseguinte, a felicidade é uma questão importante na ética porque está ligada ao florescimento
humano, à responsabilidade moral, aos princípios éticos, questões sociais e políticas e
responsabilidade pessoal. Ao compreender o papel da felicidade na teoria e na prática ética,
pode-se trabalhar para promover uma sociedade mais justa, equitativa e satisfatória para todos.
A realização deste trabalho tem como objectivo geral: conhecer os modelos de felicidade
apresentados por Mazula. Para atingir tal intuito, foram definidos como objectivos específicos:
a) caracterizar o pensamento de Mazula sobre felicidade; b) mostrar o pensamento de autores
consultados por Mazula; c) analisar a relação e o grau de aplicabilidade dos modelos de
felicidade de Mazula na realidade actual moçambicana.
Para responder aos objectivos propostos para este trabalho, foi aplicado o método de pesquisa
bibliográfica, procurando, de forma crítica, analisar e interpretar os escritos de variados autores,
com destaque ao autor que é objecto de análise no trabalho.
Brazão Mazula, sob o auxílio de Agostinho de Hipona e de outros filósofos, apresenta três
diferentes modelos de felicidade para a actual sociedade moçambicana, que se manifestam de
três formas distintas. O primeiro modelo de felicidade apresentado por Mazula é o Modelo
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O trabalho está dividido em três partes fundamentais, buscando cada uma delas, abordar e
contextualizar cada modelo de felicidade em Mazula.
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Para fazer-se ao tema da felicidade, Brazão Mazula1 parte do pressuposto cicerano segundo o
qual a filosofia é uma espécie de "sabedoria e arte de viver a traz a felicidade verdadeira"
(CÍCERO apud MAZULA, 2008: 59). Neste pressuposto, a verdadeira felicidade só poderia
ser alcançada por meio de uma vida de virtude, que envolvia o cultivo da sabedoria, coragem,
justiça e moderação. Deste modo, a felicidade não seria apenas uma emoção ou prazer fugaz,
mas sim um estado de ser alcançado por meio de uma vida virtuosa e do cumprimento dos
deveres para consigo mesmo, com a família e com a sociedade como um todo.
Em Agostinho, Mazula busca a concepção de felicidade segundo a qual “a vida feliz consiste
no perfeito conhecimento e na posse ou no gozo de Deus como Bem absoluto e perfeito”
(AGOSTINHO apud MAZULA, 2008: 60). Assim, Agostinho pensa a felicidade como um
estado espiritual de paz interior e contentamento que está enraizado em nosso relacionamento
com Deus e conhecimento d’Ele que só pode ser alcançado amando e servindo a Ele.
Mazula recorda ainda a concepção de outros grandes nomes da filosofia sobre felicidade,
revelando que Sócrates, Platão e Aristóteles entendiam a felicidade como a posse do bem
supremo, e que consistia no aperfeiçoamento do homem como tal, desenvolvendo actividades
que o diferenciam de todas as outras coisas, de tal maneira que “quem quiser viver feliz deve
viver segundo a razão, não segundo a riqueza” (MAZULA, 2008: 59). É então nessas e noutras
concepções de felicidade que Mazula busca a determinação de um modelo para a sociedade
actual moçambicana e as suas formas de manifestação.
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Brazão Mazula nasceu a 18 de Outubro de 1944, em Messumba, província do Niassa, norte de Moçambique. Frequentou o
Ensino Primário na Escola da Missão Anglicana de Messumba de 1951 a 1957, depois de algum tempo na Missão Católica de
Massangulo. Fez o 12º Ano da Escola Normal de Formação de Professores Indígenas na Missão Católica do Marrere, em
Nampula, e no Colégio-Liceu Vasco da Gama, de Nampula. Graduou-se em Filosofia e Teologia, entre 1964 e 1971, no
Seminário Maior de S. Pio X de Lourenço Marques.
Em 1973, é ordenado sacerdote pela diocese de Vila Cabral, hoje Lichinga. De 1973 a 1976 deu aulas no Colégio-Liceu de S.
Teotónio e foi Reitor do Seminário Menor de Cuamba e mais tarde Director daquele Colégio. Depois de ter desistido do
sacerdócio, tornou-se funcionário do Ministério da Educação e Cultura, exercendo várias funções, de 1976 a 1988. Fez
mestrado em Ciências da Educação e, em 1993, obteve o grau de Doutor (PhD) em História e Filosofia da Educação, pela
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), com a classificação máxima. Em 1994, foi indicado pelas forças
políticas para presidir à Comissão nacional de Eleições, dirigindo e organizando as primeiras eleições multipartidárias.
Foi Reitor da Universidade Eduardo Mondlane de 1995-2006. Publicou várias obras, entre as quais “A Universidade na Lupa
de Três Olhos: Ética, Investigação e Paz”, “Pensar a Educação Perfeita: Comemorando Einstein 100 Anos Depois”,
Moçambique: Eleições, Democracia e Desenvolvimento”, “A Utopia de Pensar Educação” e outras. É, actualmente, docente
na Faculdade de Filosofia da UEM, e reitor da UTDEG.
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1. Modelo Discriminatório
Note-se que as aspirações e os valores do povo moçambicano nessa época, embora ilimitados
e paupérrimos, eram os mais genuínos possíveis; era uma forma ética de aspirar a felicidade,
algo que quase não se vive nos dias de hoje, talvez seja por conta dessa crise de valores éticos
que Mazula (ibidem: 75) confessa que "o desafio da [actual] sociedade moçambicana
consistirá [...] em caminhar para um modelo ético de felicidade" e — acrescente-se — esse
modelo deve resgatar os valores aspirados antigamente, aprimorá-los e contextualizá-los para
a actualidade sem restaurar as condições anteriores, mas melhorando as actuais.
Como então se há-de caminhar para um modelo ético de felicidade? – Santo Agostinho, em
Vida Feliz, aposta em algumas condições, as quais já se fez referência, a saber: ciência, cultura
e instrução. Isso significa que a sociedade actual moçambicana precisava de ser educada de tal
modo a absorver valores éticos que o possam guiar no caminho rumo à felicidade.
Essas condições são "um desafio de educar o homem para ser sábio, homem capaz de adquirir
honestamente os bens (a riqueza) e de usa-los com moderação e temperança, porque na
sabedoria está a plenitude, a moderação do espírito e o equilíbrio" (ibidem: 75), deve ser por
esta razão que Adorno crê que essa espécie de educação faz-se por meio da família, da escola
e da universidade, Habermas inclui o direito como sistema de integração social e Mazula
acrescenta a religião como um sistema de valores. Ademais, Habermas observa que tais
sistemas só funcionam plenamente quando coordenam as suas acções.
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Xibalo é um regime de trabalho forçado através do qual a administração colonial fornecia mão-de-obra barata aos colonos
de grandes propriedades.
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2. Modelo Utópico
— Usa a sua posição de direcção e influência para ficar com metade do parque
imobiliário público para fins pessoais e familiares;
Note-se que são exactamente estes e mais pormenores da mesma natureza que caracterizam o
sistema político nacional desde a pós-independência. Mazula (2008: 72) acrescenta que o
Savana "esqueceu-se de dizer que o Orata moçambicano acaba matando, com o objectivo de
queimar arquivos vivos de possível denúncia da sua corrupção". Se mata, no entanto, deve ser
porque, apesar do luxo que exibe, do bem-estar que aparenta, vive inseguro.
3. Modelo Globalizante
O Modelo Globalizante de felicidade é o que cuja natureza "a globalização económica nos
promete na aldeia mundial" (MAZULA, 2008: 94). Este modelo de felicidade é o vigente, pelo
que se faz o caso tanto em Moçambique quanto aos confins do globo terrestre. Diferentemente
da época colonial e da pós-independência (marcados pelos modelos discriminatório e utópico,
respectivamente), a época hodierna ostenta uma cosmovisão e política extremamente viciosas,
resultantes de uma crise de valores que derivam de factos socioeconómicos ainda não
superados, cuja causa acusa a defectiva gestão política.
A forma caduca de felicidade, no modelo globalizante, observa-se no ímpeto cego das pessoas
através do qual coloca-se os bens materiais acima de quaisquer condições e valores. Neste
modelo, nota-se que o dinheiro é o novo deus da época e as várias formas de consegui-lo —
lícitas ou ilícitas — são uma espécie de religião. Um facto curioso é que o dinheiro, tal como
deus, por tanto que se busque e/ou se ache, nunca é suficiente; há sempre a necessidade de ter
mais e mais e, assim, acaba-se sendo escravo do dinheiro como se costuma ser servo de deus.
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CONCLUSÃO
Essa pesquisa postula três modelos de felicidade e suas quatro formas de manifestação na
sociedade moçambicana. Os modelos de felicidade são: o modelo discriminatório, que marcou
a época colonial; o utópico, que marcou a pós-independência; e o globalizante, que é o vigente.
Nesses três modelos, a felicidade se manifesta de forma oratiana, ética, caduca e parasita.
No entanto, das perspectivas de Mazula e seu rol de influências, a conclusão a que se chega
nesta pesquisa é de que a felicidade, para qualquer sociedade e em qualquer moldura espácio-
temporal, é a totalidade virtuosa de prazeres. Contudo, tais prazeres são um estado da alma,
logo, podem variar em circunstâncias determinadas. Por conseguinte, é necessário que o prazer
seja moderado e não extremo, pois, do contrário, a felicidade deixaria de ser a totalidade
virtuosa de prazeres e haveria a totalidade viciosa de prazeres.
Isto posto, saiba-se que a felicidade não se limita apenas à alma como unidade de sentimentos,
mas abrange todas as dimensões em que se pode repartir o homem. Costuma-se dizer que o
homem é composto de Corpo, Alma & Espírito, portanto, a totalidade de prazeres deve abranger
essas três dimensões. Todas as partes constitutivas do homem podem contribuir para a sua
felicidade.
Manifestamente, a actual sociedade moçambicana não é feliz — esse facto é superável. O órgão
que gere e/ou rege a felicidade de uma sociedade é o sistema político a partir de Ciência,
Técnica & Filosofia (ou Educação), mas não resulta num Estado corrupto, caduco e parasita.
A política é um sistema prático; praticar algo significa produzir um comportamento com base
nessa coisa; a felicidade é um comportamento virtuoso; a linguagem de toda a prática é a ética;
portanto, a melhor alternativa para a superação do problema da felicidade seria o modelo ético,
que parece inviabilizado pelo sistema político.
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BIBLIOGRAFIA
Obra Principal:
MAZULA, Brazão. (2008). Ética, Educação e criação da riqueza: uma reflexão
epistemológica. Maputo: Texto editores.
Obras Complementares:
AGOSTINHO. (1998). Solilóquios e A Vida Feliz. Trad. Adaury Fiorotti. São Paulo: Paulus.
CAMPOS, Luís. CANAVEZES, Sara. (2007). Introdução à globalização. Caraça: Instituto
Bento Jesus.