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Selda Alfredo Mafume

Funções do Poder Descentralizado

Licenciatura em História

Universidade-Save

Massinga

2023
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Selda Alfredo Mafume

Funções do Poder Descentralizado

Licenciatura em História

Trabalho de pesquisa da cadeira de História de


Moçambique da Independência a Actualidade a
ser apresentado na Faculdade de Educação e
Psicologia para efeitos de avaliação.

Docente: MSc. Samuel Bauque

Universidade-Save

Massinga

2023
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Índice
CAPITULO I...........................................................................................................................4

1.1.Introdução..........................................................................................................................4

1.2.Objectivos..........................................................................................................................5

1.2.1.Geral...............................................................................................................................5

1.2.2.Especificos.....................................................................................................................5

1.3.Metodologia......................................................................................................................5

CAPITULO II: REVISÃO DA LITERATURA.....................................................................6

2.1.Funções do Poder Descentralizado...................................................................................6

2.1.1.Descentralização do Poder.............................................................................................6

2.1.2.Princípio da dupla subordinação das direcções provinciais...........................................7

2.2.Democracia e Municipalização em Moçambique.............................................................7

2.2.1.Autarquias Locais...........................................................................................................9

2.2.1.1.Características das Autarquias Locais.........................................................................9

2.2.1.2.Órgãos representativos................................................................................................9

2.2.2.O gradualismo na implementação das Autarquias em Moçambique...........................10

2.3.Participação Local...........................................................................................................11

3.Conclusão...........................................................................................................................12

4.Referências Bibliográficas.................................................................................................13
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CAPITULO I

1.1.Introdução

O trabalho aborda sobre as Funções do Poder Descentralizado em Moçambique, descrito com


base na fundamentação das reformas politicas para desconcentração do poder em províncias,
distritos e postos administrativos, sendo vigente a participação dos cidadãos nas tomadas e
resoluções de problemas locais e criação de autarquias locais em todo território nacional,
abrangido eficazmente a democratização e municipalização. O trabalho visa analisar os
relatos, documentários circunscritos em prol ao gradualismo do poder em Moçambique a
partir da democratização e municipalização.

A descentralização é um meio de criar espaços para as pessoas e organizações da sociedade


civil participarem activamente no processo de desenvolvimento, na medida em que tende a
desenvolver capacidade de resposta das instituições do governo e ajuda a desenvolver
recursos locais, favorecer o crescimento e a criar emprego. A descentralização também está
ligada ao processo de construção da nação, com objectivo de aumentar o sentimento das
populações de pertença ao Estado e à nação, e figura uma condição necessária, mas não
suficiente para assegurar por si só a participação comunitária no processo decisório. De ponto
de vista teórico e normativo a descentralização assegura a consolidação da democracia, a
promoção do desenvolvimento local e participação comunitária no processo decisório. Esse
pressuposto tem orientado as reformas da descentralização politica e administrativa em
Moçambique.

As reformas levadas a cabo no âmbito da governação local e descentralização pelo governo


moçambicanos visam principalmente aproximar o governo dos cidadãos, garantindo, a sua
participação e inclusão nos processos governativos, e consequentemente a provisão de bens e
serviços de forma eficiente, eficaz e de acordo com as preferências dos cidadãos.

As reformas da descentralização tem em vista ampliação da expansão do bem-estar das


comunidades, garantir a extensão de cobertura social, assegurar a participação dos grupos
desfavorecidos e vulneráveis no acesso a renda e no processo de desenvolvimento assente nos
padrões de eficácia e eficiência, como a boa governação, combate a corrupção,
desenvolvimento e crescimento económico, descentralização e desconcentração.
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1.2.Objectivos

1.2.1.Geral
 Analisar as Funções do Poder Descentralizado em Moçambique.

1.2.2.Especificos
 Identificar o processo de Descentralização em Moçambique;
 Descrever as dinâmicas do processo de municipalização em Moçambique;
 Relacionar Democracia e Municipalização em Moçambique em prol da participação
pública.

1.3.Metodologia
A postura metodológica adoptada na realização deste trabalho, como forma de garantir a
confiabilidade das informações apresentadas, para estruturação de um estudo é pesquisa
bibliográfica, visando a consulta de obras em artigos, livros, dissertações sobre a
Descentralização do poder em Moçambique, reconcentração e processo de municipalização.
Baseado em autores como Cistac (2006), Forquilha, (2007, 2008, 2010 e 2015) e Fernandes
(2007). A revisão e análise dos textos, baseou-se nas normas de publicação de trabalhos
científicos da Universidade Save.
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CAPITULO II: REVISÃO DA LITERATURA

2.1.Funções do Poder Descentralizado

2.1.1.Descentralização do Poder
Segundo Rondinelli et al. (1983), a descentralização pode referir-se à transferência de
autoridade e de recursos para os agentes do Estado central situados a vários níveis (província,
distrito). (Manor, 1999; Adamolekun, 1999), denominando-se descentralização
administrativa, também conhecida por desconcentração. A descentralização pode também
significar transferência de poder e recursos para unidades subnacionais que são eleitas, têm
uma personalidade jurídica e são substancialmente independentes do Estado central (Manor,
1999; Adamolekun, 1999). Esta forma de descentralização é conhecida por descentralização
política e nela enquadra-se a municipalização.
Uma descentralização política, implicando uma devolução de poderes para as 53 autarquias
locais e uma descentralização administrativa, significando uma simples desconcentração para
o resto dos órgãos da administração local, nomeadamente os distritos, maioritariamente, nas
zonas rurais, cujo quadro jurídico-legal se encontra na Lei 8/2003, sobre os órgãos locais do
Estado (Forquilha, 2010: 31-32). As reformas políticas, económicas e sociais implementadas
desde 1987, como lançamento do PRE, consolidadas pela adopção de uma nova Constituição
a 2 de Novembro de 1990, e o fim da guerra civil em 1992, criaram condições favoráveis para
o desenvolvimento do processo de descentralização político-administrativo (Idem, 2010).
Segundo Fernandes (2007) as condições favoráveis criadas pela constituição de 1990 e o pelo
fim da guerra civil, levaram o Governo de Moçambique aprovar o PROL, através da Lei nº
3/94 de 13 de Setembro que tinha como objectivo reformular o sistema de administração local
do Estado vigente e a sua transformação em órgãos locais com personalidade jurídica própria,
dotados de autonomia administrativa, financeira e patrimonial. O programa previa a divisão
administrativa do país em 128 (cento e vinte oito) distritos municipais rurais e 23 (Vinte e
três) distritos municipais urbanos, dirigidos por três órgãos municipais (presidente, assembleia
e conselho municipal), eleitos por sufrágio directo, secreto e universal.
O modelo da descentralização vigente em Moçambique está consubstanciado essencialmente
em duas vertentes: a descentralização administrativa, no âmbito da lei dos órgãos do Estado
(Lei nº 8/2003, de 19 de Maio) e a descentralização política, no contexto não só de criação das
autarquias locais (Lei nº 2/97, de 18 de Fevereiro), como também da aprovação do chamado
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pacote de descentralização, que preconiza a eleição de governadores provinciais (Leis nº S


3/2019, 4/2019, 5/2019, 6/2019, 7/2019, todas de 31 de Maio, e o Decreto nº 2/2020, de 8 de
Janeiro). Essas reformas visam essencialmente garantir a paz douradora, consolidar a
democracia e permitir ou aprofundar a participação do cidadão no centro de decisão política
(Forquilha, 2008).
É nesse sentido, que a administração moçambicana estrutura-se pelo princípio da
descentralização e desconcentração para encorpar a actuação de vários poderes que subsistem
no panorama político nacional. O que consequentemente, promove a modernização e a
eficácia dos serviços públicos e aproximação dos serviços aos cidadãos (Forquilha, 2008).
O processo de descentralização em Moçambique actualmente está assente em duas vertentes:
Desconcentração, através da Lei nº 8/2003, de 19 de Maio e devolução, no contexto da
criação das autarquias locais (Lei nº 2/97, de 18 de Fevereiro), como também da aprovação do
chamado pacote de descentralização, que preconiza a eleição de governadores provinciais. É
no âmbito da devolução ou descentralização politica que assiste-se em Moçambique o
desencadear do processo de autarquização através da Lei nº 2/97, que criou condições legais
para implantação de 33 municípios (Forquilha, 2008).

2.1.2.Princípio da dupla subordinação das direcções provinciais


Para Cistac (2006) na organização administrativa de Moçambique verifica-se um princípio de
dupla subordinação das direcções provinciais em relação aos governos provinciais e aos
ministérios respectivos, representando um forte obstáculo para a materialização de uma
governação local coordenada e unida, resultando em vários conflitos no quadro da aplicação
administrativo, comparando com um facto caricato de uma mulher com dois maridos. Para ele
este sistema perturbou o desenvolvimento do espírito de iniciativa nos níveis inferiores de
governação, pois tinha o poder de decisão, mas faltava-lhes os recursos técnicos e financeiros,
levando a fragilização e deficiente gestão de instituições locais que repercutiu na qualidade de
serviços prestados à população.

2.2.Democracia e Municipalização em Moçambique


Desde os anos 1990, as reformas de descentralização sempre estiveram associadas à ideia do
reforço da democracia e tidas como sendo capazes de favorecer a emergência de novos
actores, a mobilização da sociedade civil, a construção do campo político local e a renovação
das práticas participativas, que também contribuíram para o processo da descentralização
(Fernandes, 2007).
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As primeiras eleições multipartidárias, para a Presidência e Assembleia da República,


realizadas no mês de Outubro de 1994, igualmente criaram condições de pacificação e
democratização necessárias para dar início ao processo de descentralização no país. Algumas
reflexões teóricas apontam que através dessas eleições, verificou-se que a Renamo conseguiu
obter resultados eleitorais potencialmente ameaçadoras, na óptica da Frelimo, para a sua
hegemonia política no âmbito local (principalmente no Centro e Norte do país), num cenário
de eleições municipais. Por essa razão, e também por divergências manifestadas pelo partido
Renamo sobre o teor da legislação que visava regulamentar a primeira lei sobre autarquias
locais, acabou-se por proceder-se à alteração da constituição moçambicana, a qual passou a
incluir um novo capítulo sobre o poder local (Fernandes, 2007).
Daloz & Quantin (1997), a municipalização surge como um elemento importante do processo
de institucionalização democrática e da melhoria da provisão de serviços públicos a nível
local. Partia-se da ideia segundo a qual a descentralização, no geral, e a municipalização, em
particular, aumentariam a eficiência das autoridades políticas locais e conduziriam à melhoria
da governação, o que, por sua vez, traria serviços públicos em quantidade e qualidade (Crook
& Manor, 2000).
O processo de municipalização é recente em Moçambique e enquadra-se numa série de
reformas políticas que tiveram o seu início com a aprovação da nova Constituição em 1990 e
o fim da guerra civil em 1992. Contudo, a introdução das reformas de municipalização não foi
um processo linear. As reformas traduziam significativamente as dinâmicas políticas do
processo político moçambicano, caracterizadas por uma forte correlação de forças
protagonizada, essencialmente, pelos antigos beligerantes, nomeadamente a Frelimo e a
Renamo (Forquilha, 2015).
Assim, a primeira tentativa de municipalização do País, no contexto da Constituição de 1990,
ocorreu em 1994, com a aprovação da Lei 3/94, relativa aos distritos municipais, pelo então
Parlamento monopartidário. No entanto, depois das primeiras eleições gerais, realizadas em
1994, em que, contrariamente ao que seria de esperar, os resultados mostraram um apoio
significativo de um segmento do eleitorado à Renamo, particularmente nas zonas rurais, o
assunto das reformas de municipalização voltou à discussão, resultando na emenda
constitucional de 1996, que introduziu a questão do poder local e, subsequentemente, a
revogação da Lei 3/94 e a aprovação da Lei 2/97, que estabeleceu o quadro jurídico-legal da
criação das autarquias locais. Foi neste contexto que foram realizadas as primeiras eleições
autárquicas nas 33 autarquias locais, em 1998 (Forquilha, 2015).
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Segundo Forquilha (2015), Moçambique tem vindo a consolidar a sua experiência de


municipalização, através da rotinização de eleições municipais e a criação de novas autarquias
locais, com base no princípio do gradualismo, também não é menos verdade que este processo
tem sido marcado por grandes desafios, particularmente do ponto de vista da governação
municipal. Com efeito, o processo de municipalização traz consigo, entre outros, dois grandes
desafios.
 O primeiro tem que ver com a questão da democracia local: reforçar as práticas
participativas a nível local, através do processo de municipalização;
 O segundo desafio refere-se, principalmente, à questão de serviços básicos: traduzir a
municipalização no melhoramento de serviços básicos e condições de vida dos
munícipes (Forquilha, 2015).

2.2.1.Autarquias Locais
Autarquias locais são pessoas públicas dotadas de órgãos representativos próprios, que visam
a prossecução dos interesses das populações respectivas sem prejuízo dos interesses nacionais
e da participação do Estado, são os Municípios (Cidades e Vilas) e as povoações
(Circunscrição territorial do Posto Administrativo) (Alves & Cossa, 1998).

2.2.1.1.Características das Autarquias Locais


 Tutela Administrativa: estão sob tutela do Estado (Legalidade e meritocracia dos
actos MAE, MFP e MPF);
 Poder Regulamentar: têm poder para regulamentar sobre matérias no âmbito das
suas atribuições, respeitando os limites constitucionais e tutelares;
 Princípio da Legalidade: agem com estrito fundamento na Lei (Alves & Cossa,
1998).

2.2.1.2.Órgãos representativos
De acordo com Alves & Cossa (1997) estes órgãos caracterizam-se da seguinte forma:
 Assembleia Municipal (AM) é um órgão representativo com poderes deliberativos
cujos membros são eleitos democraticamente pelo eleitorado da respectiva autarquia.
O número de membros é calculado em função do número de eleitores da respectiva
autarquia que é dirigida por uma mesa da Assembleia, composta por um presidente,
um vice-presidente e um secretário eleitos pelos membros da respectiva Assembleia
através do voto secreto. Possui cinco sessões ordinárias por ano, convocadas pelo seu
presidente. A primeira deve ser para aprovação de contas do ano anterior e a última
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para aprovação de planos de actividades e orçamento para o ano seguinte. Podem


existir também, sessões extraordinárias, onde apenas deve-se discutir assuntos
indicados na agenda apresentados no acto de convocação.
 O Presidente do Conselho Municipal (PCM) é o órgão executivo singular eleito
democraticamente pelos cidadãos eleitores residentes na respectiva área autárquica.
 O Conselho Municipal (CM) é um órgão executivo que tem o poder de executar as
decisões e declarações da Assembleia Municipal. Este órgão é composto pelo
presidente do Conselho Municipal e por vereadores escolhidos e nomeados pelo
respectivo presidente, o número é proporcional ao número de habitantes da autarquia.
Os indivíduos que compõem o Conselho Municipal não podem exercer as funções de
membro de mesa da Assembleia de voto, do pessoal ou funcionário dirigente do
ministério de tutela, de agente ou funcionário de Município ou de serviços de
povoação.

2.2.2.O gradualismo na implementação das Autarquias em Moçambique

A descentralização política moçambicana é dependente do gradualismo baseado em duas


lógicas. A primeira relativa ao processo progressivo de extensão do poder local pelo território
nacional, isto é, a devolução do poder às comunidades locais através da criação de novas
entidades com autonomia jurídica própria – autarcização. A segunda referente ao processo de
transferência de funções e competências, de forma faseada, do poder central-através de seus
órgãos locais para os órgãos do poder local, ou seja, às Autarquias Locais (Cistac, 2012).

Ainda que as lógicas do princípio de gradualismo se fundamentem em factores objetivos


(Cistac, 2012), tomando em consideração o pacote normativo, na prática, as razões e critérios
do gradualismo limitam sobremaneira o processo de descentralização política em curso e,
quiçá, ao aprofundamento da democracia participativa.

O princípio do gradualismo estabelecido pelo legislador limita sem


dúvida a afirmação, o desenvolvimento do princípio constitucional do
poder local, limita a participação de todos os cidadãos na promoção
democrática do desenvolvimento da sua comunidade, bem como priva
os cidadãos de terem as mesmas oportunidades de aprofundamento e
consolidação da democracia, através da participação nas eleições
autárquicas (Chiziane, 2011, p. 54).
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Portanto, o gradualismo enquanto um princípio operacional da descentralização política, falta-


lhe conformidade e transparência metodológica, o que permite a excessiva dependência pela
iniciativa governamental na dispersão do poder político e, consequentemente, captura da
dinâmica descentralizadora pelo poder central. Não é por acaso que passadas várias décadas
depois do processo de descentralização política, até aqui, ainda não se tem em vista alguma
Autarquia de categoria de povoação (Cistac, 2012).

A dinâmica do processo de descentralização territorial é orientada pelo princípio do


“gradualismo” que encontra a sua aplicação tanto ao nível do processo de criação das
autarquias locais como ao nível da transferência das competências do Estado para autarquias
locais (Idem, 2012).

2.3.Participação Local
As eleições municipais são uma das faces mais visíveis da participação local associada ao
processo de municipalização. Desde a criação das autarquias locais em 1997, houve eleições
locais quatro vezes (1998, 2003, 2008 e 2913). Quando se olha para estes processos eleitorais
municipais, numa perspectiva comparativa em relação aos processos eleitorais gerais em
Moçambique (1994, 1999, 2004, 2009 e 2014), constata-se que os eleitores vão cada vez mais
às urnas nas eleições municipais do que nas eleições gerais (Forquilha, 2015).
Mas a participação não se resume unicamente às eleições, diz também respeito ao
envolvimento dos munícipes em acções de consultas para elaboração dos planos, orçamentos
e tomada de decisões importantes para a sua vida. Todavia, esse envolvimento exige, por sua
vez, que as autoridades municipais desenhem e institucionalizem mecanismos que permitam
que os munícipes se sintam parte dos processos de tomada de decisões municipais. Em alguns
municípios, tais como Maputo e Dondo, houve a implementação de programas de
participação e orçamentação participativa e fóruns de participação pública (ANAMM &
Banco Mundial, 2009).
Um levantamento de base feito em cinco municípios em 2006 (Chimoio, Vilankulo, Guruè,
Monapo e Nacala-Porto) mostrou que as formas colectivas de participação municipal (como,
por exemplo, participar em reuniões do bairro, juntar-se a outros munícipes para levantar
questões importantes da vida do município, participar em manifestações, protestos ou greves)
não são usadas com frequência pelos munícipes (Brito et al., 2007). Por exemplo, o
levantamento acima referido mostrou que cerca de 56% dos inquiridos afirmaram nunca se ter
juntado a outros munícipes para debater e discutir questões importantes do município.
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De facto, como mencionámos, a ligação entre os eleitos municipais e os munícipes é


claramente fraca, mas não acontece por acaso. Uma das razões para esta fraca ligação é o
sistema eleitoral de representação proporcional vigente em Moçambique, não só para as
eleições gerais como para as locais (Brito et al., 2007).

3.Conclusão

A descentralização é um meio de criar espaços para as pessoas e organizações da sociedade


civil participarem activamente no processo de desenvolvimento, na medida em que tende a
desenvolver capacidade de resposta das instituições do governo e ajuda a desenvolver
recursos locais, favorecer o crescimento e a criar emprego. A Constituição estabelece que a
descentralização tem como objectivo organizar a participação dos cidadãos na solução dos
problemas próprios da sua comunidade, promover o desenvolvimento local, o
aprofundamento e a consolidação da democracia, no quadro da unidade do Estado
Moçambicano, e que apoia-se na iniciativa e na capacidade das populações e actua em estreita
colaboração com as organizações de participação dos cidadãos.

A descentralização do poder em Moçambique subdivide-se em municipalização, para o


aprofundamento do processo democrático, gerando benefícios em termos do reforço da
participação política e da oferta de serviços públicos de qualidade que dependem, em grande
medida, das dinâmicas políticas a nível macro, sendo provincial e nacional.

O processo de implementação das reformas da descentralização política, ainda não teve um


impacto significativo na constituição e desenvolvimento de arenas políticas locais, capazes de
promover o envolvimento e participação da comunidade na formulação de políticas públicas
locais. Com efeito, num contexto em que o Estado está menos institucionalizado, sem uma
política e uma estratégia de municipalização claras e mecanismos coerentes com vista à
maximização do potencial tributário dos municípios, a municipalização não só não alarga a
base de participação política local como não aproxima as autoridades municipais dos
munícipes e reproduz, a nível local, uma governação centralizada, pouco inclusiva, menos
transparente, com implicações em termos de provisão dos serviços básicos a nível local.

A forte dependência dos municípios em relação às transferências do Estado central e às


doações, por um lado, e a forte influência das máquinas partidárias sobre os eleitos
municipais, por outro, enfraquecem os mecanismos de prestação de contas a nível municipal,
facto que contribui para a redução da consciência da cidadania municipal.
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4.Referências Bibliográficas

Adamolekun, L. (1999). Decentralization, subnational Governments, and Intergovernmental


Relations. In: Public Administration in Africa. Boulder and Oxford: Westview Press.

Alves, Armando Teixeira & Cossa, Benedito Ruben. (1998). Guião das Autarquias Locais.
Maputo.

ANAMM & Banco Mundial (2009). Desenvolvimento Municipal em Moçambique: Lições da


Primeira Década. Maputo: ANAMM.

Brito, L., Pereira, J. & Forquilha, S. (2007). Municipal Survey for 2006 Baseline Data.
Chimoio, Gurué, Nacala-Porto, Monapo and Vilankulo. Maputo: USAID.

Chiziane. E. (2011), O Retorno à Concentração e Centralização do Poder Administrativo

em Moçambique, Maputo.

Crook, R. & Manor, J. (2000). Democratic Decentralization. Washington, D.C.: Banco


Mundial.

Cistac, Gilles. (2006). O processo de descentralização em Moçambique. Maputo.

Cistac. G (2012). Moçambique: Institucionalização, organização e problemas do poder

local. Lisboa

Daloz, J.-P. & Quantin, P. (1997). Transitions Democratiques Africaines: Dynamiques Et


Contraintes (1990 - 1994). Paris: Karthala.

Fernandes, Tiago Matos. (2007). Descentralizar é fragmentar? Riscos de pluralismo


administrativo para unidade do Estado em Moçambique, Revisa Critica de Ciências Sociais,
Maputo, p. 151-164.

Forquilha, S. (2008). Remendo novo em pano velho: o impacto das reformas de


descentralização no processo de governação local em Moçambique. In Cidadania e
Governação. IESE. Maputo. P. 71-89.
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Forquilha, S. (2015). Municipalização em Moçambique: lógicas e dinâmicas políticas.

Manor, J. (1999). The Political Economy of Democratic Decentralization. Washington, D.C.:


Banco Mundial.

Rondinelli, D., Nellis, J. & Cheema, G. S. (1983). Decentralization in Developing Countries.


A Review of Recent Experience. Washington, D.C.: Banco Mundial.

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