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Revisão Bibliográfica
1.2.Os processos de descentralização em Moçambique e políticas de
desenvolvimento local.
Portanto, de acordo com Caetano (1994), esta obra legislativa não foi, em grande
parte, aplicada. Duas razões fundamentais foram a causa deste fracasso. Desde a sua
origem, a organização administrativa das províncias ultramarinas portuguesas era
baseada no princípio da “assimilação” das colónias em geral, e Moçambique, em
especial, à metrópole. Insistia-se para considerar as colónias como simples províncias
ultramarinas às quais aplicava-se, com ligeiras alterações, as leis aprovadas para a parte
continental do império, os critérios da administração e os planos de governo
estabelecidos e traçados pela metrópole.
Nesse sentido, Esta “assimilação forçada” que não tomava em conta as realidades e
especificidades próprias de cada província ultramarina, apenas podia encontrar sérios
problemas na sua implementação.
1
Decreto 1 de Dezembro de 1869, reformando a administração, publicado em, Legislação Colonial 1869,
pp. 595- 603. Sobre este período, vide CISTAC, G., (1997). O Tribunal Administrativo de Moçambique,
Maputo, Faculdade de Direito da UEM, p. 10 s
A segunda razão residia no carácter fortemente centralizado do Estado colonial, não
só pela preservação na metrópole dos centros de decisão sobre as questões consideradas
estratégicas, mas também pelo facto da existência de uma forte centralização interna em
cada província ultramarina, uma vez que o Governador-Geral e o seu governo, detinham
as principais competências sobre a administração do território. Formalmente, existia na
província de Moçambique o que se chamava, na linguagem administrativa, os “corpos
administrativos” (Câmaras municipais, comissões municipais, juntas locais), que
gozavam de uma certa autonomia (Guambe, 1994).
De acordo com Forquilha (2008), No início dos anos 80, o Governo reconheceu,
oficialmente, que o sistema em vigor, até então, era centralizado excessivamente e que o
Estado era sobredimensionado ao nível central e de muito fraca eficácia ao nível das
províncias e distritos. As reformas políticas, económicas e sociais implementadas desde
1987, com o lançamento do Programa de Reabilitação Económica (PRE), consolidados
pela adopção de uma nova Constituição a 2 de Novembro de 1990, e o fim da guerra
civil (assinatura do Acordo de Roma de 4 de Outubro de 1992), criaram condições
favoráveis para o desenvolvimento do processo de descentralização político-
administrativa.
Segundo Guambe (1996), A partir dos anos 90, debates públicos (seminários
provinciais, workshops provinciais e nacionais) viram o dia sobre o tema “da
descentralização e da autonomia dos órgãos locais do Estado”. Em Maio de 1992, o
Governo aprovou o Programa de Reforma dos Órgãos Locais (PROL) que tinha como
objectivo reformar o sistema de administração local do Estado vigente e a sua
transformação em órgãos locais dotados de uma personalidade jurídica própria distinta
da do Estado dotada de uma autonomia administrativa, financeira e patrimonial.
“1. O Poder Local tem como objectivos organizar a participação dos cidadãos na
solução dos problemas próprios da sua comunidade e promover o desenvolvimento
local, o aprofundamento e a consolidação da democracia, no quadro da unidade do
Estado Moçambicano.
1.3.Dupla Subordinação
1.4.O INGD
Com efeito, em 1980, com o objectivo de se dar uma resposta rápida e eficiente a
situações de calamidades naturais, orientando e coordenando os esforços das várias
estruturas do Aparelho de Estado envolvidas no combate às calamidades naturais,
2
Equipe editorial de Conceito.de. (13 de Junho de 2013). Actualizado em 5 de Março de 2021.
Subordinação - O que é, conceito e definição. Conceito.de. https://conceito.de/subordinacao. Acesso
em 01 de Setembro de 2023.
3
Idem
através do Decreto Presidencial nº 44/80, de 03 de Setembro, foi criado o Conselho
Coordenador de Prevenção e Combate às Calamidades Naturais, tendo como Presidente
o Ministro do Plano e Vice-Presidente o Ministro do Comércio Interno4.
Esta situação prevaleceu até 1999, ano em que por via do Decreto Presidencial nº 4/99,
de 10 de Junho, foi extinto o Conselho Coordenador de Prevenção e Combate às
Calamidades Naturais, bem como o seu órgão executivo, o Departamento de Prevenção
e Combate as Calamidades Naturais. No lugar daquele, foi criado pelo Decreto
Presidencial nº 5/99, de 10 de Junho, o Conselho Coordenador de Gestão de
Calamidades (CCGC), cuja composição foi posteriormente alterada pelo Decreto
Presidencial nº 26/2005, de 01 de Dezembro.
4
Refira-se que naquele contexto constitucional, Moçambique não possuía ainda a figura de Primeiro-
Ministro
5
O artigo 5 do Decreto Presidencial nº4/80, de 03 de Setembro, determina que “ para permitir o
funcionamento permanente do Conselho Coordenador de Prevenção e Combate às Calamidades
Naturais (…) é criada na Comissão Nacional do Plano, o Departamento de Prevenção e Combate às
Calamidades Naturais, integrando nomeadamente especialistas em hidrologia, agro-meteorologia e
transporte de superfície”.
6
Artigo 2 do Decreto nº38/99, de 10 de Junho.
7
Artigo 3 do Decreto nº38/99, de 10 de Junho.
que, no essencial, redefiniu a sua natureza e atribuições, tendo-lhe, desde logo, sido
retirada a personalidade jurídica e a autonomia: financeira.
Este quadro veio a ser alterado em 2007, por via do Decreto nº 52/2007, de 27 de
Novembro, que aprovou o actual Estatuto Orgânico do INGC onde, para além de referir
que o INGC é tutelado pelo Ministro que superintende a administração local, devolve-se
a personalidade jurídica ao se estipular que se trata de uma “instituição da administração
pública dotada de personalidade jurídica e autonomia administrativa, vocacionada a
prevenção e mitigação de calamidades naturais”.