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Gestão Autárquica
2021/2022
Índice
Conclusão ........................................................................................................ 29
Bibliografia........................................................................................................ 30
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Sumário
Abstract
This paper aims to present the main guidelines that lead the implementation of the
Administrative Reform of the Parish Territory and its repercussion on public life
In 2011, in the context of the financial crisis, Portugal signed the Memorandum of
Understanding, a document that opened the doors to the discussion of local
government reform. Thus, the Green Paper on Local Administration Reform
emerged, which based its action on 4 axes of intervention, highlighting the axis of
Territorial Organization, namely the administrative reform of the parishes. The
government's objective was to reduce spending, and it opted to reduce the number
of parishes through processes of aggregation. From 4,259 parishes, Portugal now
has 3,092 parishes, fulfilling the provisions of Law No. 22/2012 and Law No. 11-
A/2013, thus proceeding to the much publicized Administrative Reorganization of the
Parish Territory.
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1. O poder local
O poder local está incluído na Parte III, Título VIII da CRP. O artigo 235º
da CRP dita que a organização democrática do Estado abrange a existência de
autarquias locais, que carateriza como sendo pessoas coletivas territoriais, com
órgãos representativos que visam a prossecução de interesses próprios das
populações respetivas.
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Freguesia Município Região Administrativa
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conseguir que os munícipes se envolvam na política e voltem a acreditar na
utilidade da democracia local.
Pouco mais se sabe durante este período, apenas que a freguesia esteve
sempre associada à sua origem eclesiástica e surge originalmente a partir da
divisão eclesiástica paroquial, tendo, por isso, o nome de paróquia até início do
século XX. As paróquias eclesiásticas obedeciam à Igreja e administravam o
território nacional, de forma mais próxima das comunidades, sob orientação de
um pároco. Com uma história institucional muito curta, pode-se dizer que as
freguesias foram uma importação do modelo paroquial para a organização
territorial administrativa (Monteiro, 2015: 12; 48).
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deste Decreto estipulava a criação das Juntas de Paróquia, ou seja, cada
paróquia devia ter uma junta, que era nomeada pelos vizinhos e com a
responsabilidade de gestão de todos os assuntos de interesse somente local
(Oliveira, 1993: 38). Apesar deste decreto, foi aqui que se iniciou um caminho
instável, com avanços e recuos, para a história das freguesias.
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tornaram num poder político organizado ou reconhecido de maneira jurídica
pelas instituições estatais (Costa, 2018: 30).
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Pauleta (1997: 147) distingue quatro tipos de freguesias, consoante as
diversidades geográficas, sociais, económicas e demográficas das pessoas que
constituem a freguesia: as freguesias rurais; as freguesias das sedes dos
municípios; as freguesias sediadas nas áreas urbanas em expansão; e as
freguesias das grandes cidades.
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infraestruturas rurais e urbanas, infraestruturas pré-escolares e escolas
primárias, cemitérios, canis públicos e terrenos baldios, poderes partilhados na
gestão de emergências, planeamento, desenvolvimento comunitário e diversas
declarações e atestados exigidos pelos cidadãos. Porém, as freguesias e os
respetivos executivos são confrontados com a falta de recursos humanos e
financeiros que lhes impedem de prosseguir as suas atividades na totalidade
(Tavares e Rodrigues, 2015: 959).
Contudo, tal não foi materializado pois nas eleições legislativas de 2011,
o Partido Socialista perdeu e ficou em funções o XIX Governo Constitucional -
2011-2015, liderado por Pedro Passos Coelho, do Partido Social Democrata.
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Perante o cenário de crise financeira, aumento drástico da dívida pública
portuguesa e queda do PIB, o XIX Governo Constitucional foi obrigado a assinar,
em maio de 2011, o “Memorando de Entendimento sobre as condicionalidades
de política económica” (MdE), com três instituições internacionais, o Fundo
Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, para
o resgate de Portugal.
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ter verificado que o problema era o número de municípios, mas sim o quadro de
gestão municipal.
Oliveira (2011: 9), num estudo apresentado por si, concluiu que a
existência de 4.259 freguesias não era um número assim tão excessivo, como
referia o MdE, tendo em conta a dimensão do território português. A conclusão
foi que apenas 11 municípios possuíam mais de 40 freguesias e que, em média,
cada município tinha menos de 14 freguesias, o que não pode ser considerado
um problema grave e que obrigue a uma reforma nos moldes que estavam a ser
previstos.
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freguesias, pela sua aglomeração, criando novas freguesias, de maior dimensão
e escala, e sempre de acordo com as suas tipologias e defendendo as
especificidades de cada território. Como metodologia, ficou estipulada a
definição de uma Matriz de Critérios e o debate com as comunidades, com o
governo como promotor deste diálogo (Governo de Portugal, 2011: 10-11).
Organização do Território
Democracia Local
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O Documento Verde definiu ainda uma matriz de critérios, tanto
demográficos como geográficos, e dividia os municípios em três tipos: os
municípios de nível 1, densamente povoados com mais de 500 habitantes por
km2, onde se contavam 37 municípios e 643 freguesias; os de nível 2,
medianamente povoados, entre os 100 e os 500 habitantes por km2, onde se
contavam 88 municípios e 1336 freguesias; e, por fim, os de nível 3, baixamente
povoados, com menos de 100 habitantes por km2, que totalizavam 183
municípios e 2280 freguesias (Governo de Portugal, 2011: 22).
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Na sequência da elaboração do Documento Verde, apesar da oposição
dos restantes partidos, o governo fez a Proposta de Lei n.º 44/XII, onde
inicialmente explicava os motivos do processo da Reforma Administrativa do
Território das Freguesias, seguida de uma proposta de lei que estabelecia a
“obrigatoriedade da reorganização administrativa do território das freguesias”.
Assim, a 31 de maio de 2012, entrou em vigor a Lei n.º 22/2012, aprovada pelo
PSD-CDS, com o objetivo de regular o regime jurídico da reorganização
administrativa territorial autárquica. Esta lei estabeleceu os objetivos, os
princípios e os parâmetros da reorganização administrativa territorial autárquica,
definindo ainda como é que iria decorrer a participação das autarquias locais na
concretização da reforma (Monteiro, 2015: 63).
A Lei n.º 22/2012 determinou ainda que a reforma territorial das freguesias
fosse deliberada por cada assembleia municipal, com a participação das
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assembleias de freguesias. Esta deliberação, que recebeu o nome de pronúncia,
estava obrigada a respeitar os parâmetros legais de agregação de freguesias e
a respeitar os princípios e orientações estratégicas da reforma territorial,
expressamente previstos na mesma lei (artigo 11.º, n.º 1).
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freguesias que nela se agregaram, como manda o artigo 9.º n.º 1 (Delgado, 2016:
41).
O artigo 13.º, a Lei n.º 22/2012, previa a criação da Unidade Técnica para
a Reorganização Administrativa do Território (UTRAT), que deveria funcionar
quando a assembleia municipal não desse qualquer parecer acerca da fusão das
freguesias e ficaria encarregue de apresentar na Assembleia da República
propostas relativas à reorganização administrativa do território das freguesias,
caso estas não se pronunciassem – o que efetivamente aconteceu, pois, as
assembleias não concordavam com a reforma administrativa. Os municípios que
desejassem concretizar processos de fusão, deviam apresentar a respetiva
proposta à Assembleia da República.
Contudo, a lei prosseguiu e pouco tempo depois surge a Lei n.º 11-
A/2013, para garantir o cumprimento da obrigação de reorganização
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administrativa do território das freguesias e que materializou a reforma territorial
prevista na lei.
Gato (2014: 25) critica que, apesar de se ter notado uma redução de
27,42% do número total de freguesias do país, essa redução não foi efetivada
nos municípios com maior número de freguesias, como se verifica no município
de Barcelos, que é aquele constituído com o maior número de freguesias do
país. Neste município, apesar de a reforma ter obrigado a uma redução de 28
freguesias, existem ainda 61 freguesias, com uma área e população muito
reduzidas.
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Figura 3 - Municípios abrangidos pela Reforma Administrativa do Território das
Freguesias. Fonte: Monteiro, 2015: 59.
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Nos municípios que rejeitaram apresentar uma pronúncia no sentido da
agregação territorial, a reforma foi feita de forma “top-down”, ou seja, de cima
para baixo e de forma coercitiva, o que é assumido como um dos fatores que
prejudicaram a implementação da reforma. É defendido que, quando o órgão
deliberativo, neste caso a assembleia municipal, não expressa a sua vontade em
determinado sentido, o Governo Central não tem direito de, por via
administrativa, avançar contra a vontade das autarquias locais, violando os
princípios fundamentais do estado de direito democrático, assim como
desrespeita profundamente as populações e a sua identidade (Duarte, 2016: 32).
Duarte (2016: 31) refere que a ideia de agregação das freguesias foi mais
bem recebida pelos cidadãos e atores políticos nos meios urbanos, onde as
pessoas se conseguem deslocar de forma mais fácil, ou nos casos onde se
verificou a duplicação de ofertas de serviços públicos, o que não aconteceu nas
freguesias do meio rural.
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especiais. O grande problema deste tipo de reformas é que raramente são feitas
a pensar no cidadão e, por isso, este não é ouvido devidamente, apesar de ser
ele que vive e convive na freguesia. Segundo Silva (2014: 12), a lei poderia ter
sido uma oportunidade de mudança para as freguesias, mas falhou ao sê-lo
precisamente por não ter dedicado algum tempo a ouvir as bases e os seus
problemas. A identidade e a história das freguesias não foram tidas em conta em
todo o processo de reforma.
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É minimamente questionável de que forma é que a reforma contribuiu para
a redução de cargos e salários, uma vez que com as agregações territoriais,
subiu não só o número de presidentes de junta a “tempo inteiro” e a “meio
tempo”, em cerca de 2%, mas também a sua remuneração. Assim, não se
encontra justificação para implementação apressada e verticalizada da
reorganização levada a cabo pelo Governo, sob o pretexto de alcançar
economias de gama e redução de custos (Silva, 2014: 8).
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consensos, firmar-se com a certeza de que é necessário, útil e com
interesse para o bem dos portugueses e a sublimação dos seus
problemas” (ANAFRE, 2012: 3).
A utilidade das freguesias não deve ser colocada em causa, algo que foi
feito com a reforma administrativa, principalmente nos meios rurais, onde as
freguesias são mais valorizadas pelas comunidades do que nos meios urbanos.
Inquéritos feitos à população mostram que a maioria vê as freguesias como
autarquias úteis para a satisfação de algumas tarefas públicas e que estas
devem ser privilegiadas por assumirem o papel de administração de proximidade
(Sousa, 2013: 95).
5. Fragmentação vs Agregação
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custos na produção de serviços e aumentar a eficiência governamental (Costa,
2018: 25).
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qualidade e tornam-se financeiramente sustentáveis (Tavares e Rodrigues,
2015: 961-962).
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De forma sintética, apesar da sua aplicação, a eficácia das agregações
territoriais enquanto reforma territorial não está comprovada, não havendo
suporte empírico que verifique a sua utilidade (Duarte, 2016: 18). Não há estudos
que garantam que a agregação de municípios ou freguesias contribua para a
poupança financeira, sendo necessário ter em consideração que o próprio
processo de agregação terá custos imprescindíveis de integração. Além disso,
os serviços prestados nem sempre se tornam mais eficientes e, por vezes, as
agregações dão origem a uma maior insatisfação dos cidadãos, tal como
sucedeu em Portugal, assim como ao aumento dos níveis da abstenção. O autor
reforça ainda que, aquando da agregação, as populações receiam a perda da
identidade, podendo relações comunitárias ficarem sem efeito (Duarte, 2016:
19).
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pronunciou sobre a agregação das freguesias, tendo sido a UTRAT a
desenvolver propostas de reorganização administrativa do território das
freguesias (UTRAT, 2012: 1-2).
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Debilitou o espírito de proximidade e colocou problemas à sua mobilidade.
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Conclusão
No mês de maio, foi aprovada uma lei-quadro das freguesias que permite
que estas se possam desagregar segundo os parâmetros definidos, sendo que
as freguesias podem apenas voltar às condições anteriores e não criar novas ou
diferentes uniões de freguesia.
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Bibliografia
Livros e Artigos
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em Políticas Públicas. Escola de Sociologia e Políticas Públicas, ISCTE–IUL
Instituto Universitário de Lisboa.
Relvas, M.; Júlio, P. (2015). O outro lado da governação. Porto Editora: Porto.
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Silva, S. T.; Gonçalves, F. C. (2019). As recentes reformas do poder local em
Portugal: pretexto para uma reflexão sobre a autonomia local no século XXI.
Revista Iberoamericana de Gobierno Local, 14, 1-33.
Tavares, A. F.; Rodrigues, M. (2015). The Economic and Political Impacts of Top-
Down Territorial Reforms: The Case of Sub-City Governments. Government
Studies, 41 (6), 956-976.
Legislação utilizada
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