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Justino Magalhães
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa
justinomagalhaes@ie.ul.pt
Resumo
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Uma história do municipalismo na educação e na cultura
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Com a Revolução Liberal, os concelhos viram aumentar as suas prerrogativas
políticas. Nos termos da Constituição de 1822, eram criados os distritos e em cada
distrito haveria um Administrador Geral, nomeado pelo Rei (Artigo 212). No exercício
das suas funções, o Administrador Geral seria auxiliado pela Junta Administrativa
composta de tantos membros quantas as Câmaras do distrito (Artigo 213). O governo
económico e municipal era exercido pelas Câmaras, em conformidade com a lei (cf.
Artigo 218) e as Câmaras eram compostas por Vereadores eleitos, dos quais o mais
votado seria o Presidente, e por um Procurador e um Escrivão (Artigo 220). Com dados
recolhidos junto das Provedorias, nas contagens e denominações de 1821 e de 1828
(sendo que, desta segunda era esperado sair uma Carta nacional para a instrução),
ressalta a designação de concelho, deixando inferir que o estatuto de concelho era
tomado em consideração na inserção pública dos assuntos socioculturais e muito
particularmente dos da instrução.
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em distritos, concelhos e freguesias. O total de concelhos seria reduzido para 498,
incluindo já 21 concelhos novos. Mas foi na sequência do Código Administrativo de
1836 que, pelo Decreto de 6 de Novembro de 1836, com assinatura de Passos Manuel, o
total de 826 concelhos, até então existentes, foi reduzido para 351, contando já com os
21 entretanto criados. O Código Administrativo de 1836 veio a ser revisto pelo Código
de 1842, promulgado por Costa Cabral.
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despesas com verbas próprias ficavam obrigadas a lançar um imposto especial para a
instrução pública, que poderia atingir os 15% das contribuições gerais directas do
Estado. A partir de 1880, essas verbas deveriam ser depositadas na Caixa Geral de
Depósitos.
Era nos distritos de Guarda e Viseu que mais havia crescido o total de escolas. A
proporção era de 1,49 escolas por 1000 habitantes no distrito da Guarda; 1,12 no distrito
de Viseu; 0,68 nos distritos de Santarém e Lisboa; 0,64 nos distritos de Braga e Viana
do Castelo; 0,51 no distrito de Faro. Mas também, como asseverou Sobral Cid (quando,
em 1914, apresentou no Parlamento a Reorganização da Administração do Ensino
Primário), houve concelhos, designadamente nos distritos de Évora e Faro, que, tendo
receitas privativas para a instrução que excediam os encargos assumidos, não criaram
novas escolas, continuando a manter a proporção de 1 escola para 2000 habitantes (cf.
Cid, 1984, p. 419).
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uma Direcção geral dos serviços de instrução de Lisboa e havia uma inspecção
municipal (cf. Decreto de 26 de setembro de 1891, designadamente art.º 68). A Câmara
tinha fundado bibliotecas escolares e tinha um plano de criação de Escolas Centrais.
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instrução primária. Era esperada uma maior intervenção municipal, na aquisição,
adaptação, construção e administração de edifícios escolares.
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estatuto de complemento, mas, em quadros de fomento, assumiram com propriedade
funções de expansão e caminho próprio. Assim sucedeu entre finais da década de
cinquenta e ao longo da década de sessenta, nas quais a iniciativa municipal ficou
associada à oferta de cursos profissionais, à ampliação e à organização da oferta escolar
e a políticas de fomento da frequência escolar. Notória foi também a intervenção junto
de novos públicos.
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poder tributário é anterior à relação jurídica tributária e situa-se no plano da actividade
normativa. Assim,
Novos desafios
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As circunstâncias históricas criadas pela internacionalização e pela globalização
conferem ao local e ao regional uma identidade e uma coerência renovadas. A educação
e cultura concretizam-se nas comunidades e nos sujeitos, enquadradas pelo
internacional, legitimadas pelo nacional, mas idealizadas e projectadas pelo local e pelo
institucional. Os meios e os processos haverão de ser diversificados, como diversas são
as dificuldades, complexas as decisões, consequentes os modos de decisão e acção. O
município é a instância fundamental nestes novos contextos, projectando, cooperando,
mobilizando. No âmbito da Agenda 21 Local, aprovada no Rio de Janeiro em 1992, têm
vindo a congregar-se e interconectar, em torno de causas prioritárias (como as questões
ecológicas e o desenvolvimento equilibrado entre materialidade e humanitude),
municípios dos mais diversos quadrantes geográficos. Um dos instrumentos de governo
que decorrem da Agenda 21 Local são as Cartas Educativas, a que já aderiu a maioria
dos municípios portugueses.
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Referências bibliográficas:
Caldas, Eugénio de Castro & Loureiro, Manuel dos Santos (1966). Regiões
Homogéneas no Continente Português. Primeiro Ensaio de Delimitação.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
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