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AULA III: GOVERNACAO LOCAL

Contextualização

O Estado colonial

Os estados coloniais tiveram em quase todo o continente africano uma característica similar.
Sem homens suficientes para exercer a administração de todo o território, os Europeus
recorreram a colonização indireta que consistia em manter as crenças e tradições dos africanos
e aplicar a dominação política económica.

Neste tipo de administração o poder concentra-se nas mãos de um governador-geral que


representa os interesses da metrópole junto do território colonizado. Abaixo desta figura,
aparecem os chefes regionais que no caso de Moçambique eram chamados Governadores de
Distritos.

Em Moçambique, a administração foi feita pelos régulos, uma estrutura tradicional montada
com o objectivo de controlar a cobrança de impostos, o recrutamento da mão –de-obra e o
cumprimento das instruções das autoridades coloniais.

Na atualidade as mudanças na organização e os processos descentralizadores constituem a


transferência de autoridade de planeamento e na tomada de decisões. No sector publico em
particular, os processos descentralizadores frequentemente tomaram a forma do repasse desse
poder decisório do nível nacional aos níveis sub nacionais. Mas a existência de diversas
experiencias descentralizadoras demostra que estes processos permitem avançar na
construção de realidades completamente diferentes.

Descentralização

Tanto na análise quanto nas praxes politicas tem-se aplicado diferentes usos ao conceito
“descentralização”. O termo cobra uma funcionalidade particular em cada caso de acordo com
as características dos seus usuários. Ou seja, diferentes atores utilizam o conceito de maneiras
particulares. No entanto, encontram-se também elementos comuns as definições
desenvolvidas pelos diferentes autores. Algumas destas características comuns são as
seguintes:

a) Sua aplicação sugere pensar no fortalecimento da esfera “local”.


b) O problema da descentralização é de caracter politico, a implementação eficaz e eficiente
do mesmo é de carácter administrativo.
c) O processo em si não e possível de se atingir de forma isolada e só é variável dentro do
marco de um processo geral de reforma .
d) A conceitualização dicotómica centralização vs descentralização não tem poder, Dai
que formula-se então, como principio de analise que a descentralização tem status de
“meio” (tático e estratégico) para atingir determinados fins que são anteriores e
superiores a ela mesmo.

Desconcentração ou descentralização administrativa

Uma primeira questão básica no estudo do conceito é a distinção entre a descentralização e a


desconcentração. Embora muitos autores concordem com a distinção “formal” destes termos,
alguns os aplicam operacionalmente como sinónimos.

Descentralização implica redistribuição do poder, uma transferência na alocação de decisões. E,


por tanto, melhorar os interesses dos grupos de puder local. Em quanto que, a
desconcentração é a delegação de competências sem deslocamento do poder decisório. No
contraste de ambos os termos há uma notória diferença nas consequências da implementação
de uma ou da outra. É por isso que deve se dar enfase as seguintes ideias:

1. O uso indistinto de ambos os conceitos, longe de representar uma “conclusão”, e a


articulação consciente de um determinado uso da palavra como meio para atingir fins
preciosos e manifestos.
2. O debate teórico poder-se a esquematizar a partir da seguinte questão: o que separa a
desconcentração da descentralização são diferenças de grão ou de qualidade? Ou em
outros termos: qual é a relação que se estabelece entre ambas categorias?.

Tipos de descentralização
a) Descentralização administrativa;
b) Descentralização isolacionista;
c) Descentralização cooperativa.

Descentralização como estratégia descentralizadora

Pode-se considerar a descentralização como um processo definitivamente associado a


democratização?

A resposta a esta interrogação não e direta e nem conclusiva, depende outrossim das definições
adaptadas para cada um dos termos. No entanto, na definição da relação é preciso considerar a
intermediação de outras duas categorias de analise: participação popular e controle social.

A relação entre a descentralização e democracia deve ser examinada levando-se em


consideração que existe um elemento comum que media a descentralização com o “governo”.

A descentralização é, antes de mais nada, uma medida politica ligada a tomada de decisões, e a
sua implementação implica necessariamente numa redefinição das relações de poderes.

A descentralização é organizada segundo uma logica administrativa em que não há uma


demanda direita por parte dos autores sociais.

As principais relações da descentralização

1. Descentralização como deslocamento de conflito;


2. Descentralização como estratégia de redução dos gastos públicos;
3. Descentralização como regulação;
4. Descentralização como estadualização e como municipalização.
5. Descentralização como exclusão na agenda das políticas governamentais.

Exemplos dos principais intervenientes e instrumentos das reformas de descentralização em


Moçambique
As reformas de descentralização constituem um dos elementos mais marcantes de processos
políticos nos anos 1990 na Africa Subsariana com efeito num contexto de estado.

 Em Moçambique, com a aprovação da lei dos órgãos locais de estado (lei 8/2003), as
reformas de descentralização administrativa deram origem a uma serie de instituições de
consulta comunitária(conselho local) visando a integração das populações locais no
processo de busca de soluções de melhoria das condições de vida a nível local.
 Alem disso, a partir de 2006, o governo central tem vindo atribuir aos distritos, fundos
adicionais destinados ao financiamento de iniciativas locais (orçamento de investimento
de iniciativa local).
 PARPA – plano de Acão para a redução da pobreza absoluta;
 CDC – comité de desenvolvimento comunitário;
 GTZ – cooperação técnica Alemã;
 MADER – ministério da agricultura e desenvolvimento rural;
 MAE – ministério da administração estatal;
 PEDD – plano estratégico de desenvolvimento militar;
 PES – plano económico social;
 PESOD – plano económico e social e orçamento distrital;
 PPFD – programa de planificação e finanças descentralizadas;
 PRODER – programa de desenvolvimento rural;
 SADD – sistema de avaliação do desenvolvimento do distrito.

Questões chaves

1. Quais são as diferentes abordagens teóricas para analisar a governação local?


2. Quais são as diferenças principais entre as abordagens teóricas?
3. Qual e a relevância dessas abordagens diferentes para o contexto Moçambicano?
4. Quais são os intervenientes principais da governação local em Moçambique?
5. Como e que estes intervenientes se relacionam e são diferentes uns dos outros?
6. Como podemos compreender as questões de democracia, legitimidade, participação e
responsabilidade nos vários níveis de governação local em Moçambique?
7. Quais são as diferenças entre as varias estruturas de governação local em Moçambique?
BIBLIOGRAFIA

BRAGA, Geraldo Magela; KUNSCH, M.M.K (1993). Comunicação rural: discurso e pratica. Vicosa.
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CHAMBULE, Alfredo (1999). A Organização Administrativa de Moçambique, Faculdade de


Direito-EUM, Maputo.

CASTEL-BRANCO, Nuno. Pode um (estado de desenvolvimento) ser construído em


Moçambique? Uma nota de pesquisa para uma Abordagem de Economia Politica. IESE.
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CANHANGA, Nobre de Jesus Varela (2009). Descentralização fiscal, transferências inter-


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Moçambique”

Organizada pelo IESE”. Maputo.

Imprensa Nacional de Moçambique, (2003). Lei n° 8/2003 de 19 de maio, Maputo.


Docente: Santarém

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