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RESUMO - PALESTRA – SÉRGIO ARENHART

ESA - CONGRESSO NACIONAL SOBRE O NOVO CPC - ETAPA VALE DO ITAJAÍ


TEMA: MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS NO NOVO CPC

O tema tem adquirindo grande importância, em razão do aumento do emprego da tutela


executiva atípica no cumprimento de prestações pecuniárias (ex. apreensão de
passaporte, retenção de CNH, bloqueio de cartão de crédito etc.). As normas de
processo civil sofreram alterações históricas, passando pela fase de meras indicações
de objetivos, para fase previsão de cada etapa em que o procedimento é desenvolvido
e até chegar na presente fase em que há uma forma de legislar mais ampla, através da
ideia de cláusula aberta, através da ideia de abertura sistêmicas para o preenchimento
diante do caso concreto.
O modelo tradicional de regramento pormenorizado de cada ato e procedimento do
processo civil é concebido a partir da ideia de que o juiz não merece confiança, razão
pela qual se deve estabelecer minuciosamente o que ele pode fazer e até onde ele pode
fazer para praticar qualquer ato dentro do processo.
Por consequência, no campo do direito processual, estava sempre presente a ideia da
execução típica. O juiz não pode fazer o que ele quer para realizar o direito, ele está
limitado à lei e a lei diz o que ele pode fazer para realizar direitos. No campo da
execução, tal modelo se tornou ultrapassado, inefetivo, porque a lei, evidentemente, não
pode dispor de todas as situações da vida cotidiana. Isso, somada a ideia de limitação
do juiz à lei, faz com que a satisfação do crédito não seja possível em várias situações.
Em um modelo patrimonialista e liberal, tal situação tinha certa razão de ser. Porém, a
evolução do estado para além de interesse econômico, tornou necessária a reflexão se
tal modelo oferecia um resposta adequada. Ocorre que em um modelo social em que
as prestações vão além da relação crédito e débito, exigindo o cumprimento de
determinações como a entregar de medicamentos, a realização de cirurgias e a reforma
de penitenciárias, a visão patrimonialista de crédito e débito se tornou insuficiente. Por
tal razão, as obrigações de fazer e de não fazer já contam, desde 94 no antigo CPC,
com instrumento que vão além dessa percepção e rompem a lógica da execução típica,
prevendo tutela atípica. Esse modelo foi estendido às obrigações de entregar coisa, seja
determinada ou indeterminada.
A partir disso, a legislação processual brasileira passou a ter uma dualidade de
sistemas. Enquanto que prestações de fazer, de não fazer e de entrega de coisa tinha
um modelo mais avançado por seguir um modelo atípico de execução, em que o juiz
poderia ordenar, sob pena do emprego de uma técnica de coerção, nas obrigações
pecuniárias o juiz continuava adstrito a um modelo típico, limitado pela previsão legal.
Houve uma melhora em 2005 com a unificação dos procedimentos de execução das
obrigações pecuniárias (processo sincrético), de modo que não há mais processo de
conhecimento e, após, a necessidade do ajuizamento de um novo processo, só que
para execução da sentença anteriormente obtida. Todavia, na prática, o modelo novo
ainda seguia a mesma lógica do modelo antigo, pois, após a condenação do réu, o autor
deve requerer ao juiz o cumprimento de sentença – do contrário, não há medidas de
satisfação.
O novo CPC de 2015 reproduz, no campo da execução, em grande medida o modelo
antigo de satisfação, sendo que apenas a regra do art. 139, IV, do CPC, que trata dos
poderes do juiz, traz grande inovação, na medida em que diz que o juiz pode aplicar
para o cumprimento, para a efetivação de suas decisões judiciais, inclusive para
decisões que imponham prestação pecuniária, qualquer medida de indução ou sub-
rogação.
Para o professor, esse dispositivo (art. 139, IV) é a verdadeira regra de efetivação do
direito brasileiro atual em matéria de satisfação de prestação de fato. Esse é o princípio
fundamental da parte do código referente à execução. Isso porque o juiz não condena
ninguém a coisa nenhuma, pois condenar não é ordenar, o juiz não dar ordem para
ninguém ao condenar. A sentença condenatória nada mais é do que uma mistura de
sentença declaratória com sentença constitutiva (declarar um dívida e altera a situação
do réu para devedor). Tanto que o juiz não pode de ofício dar cumprimento à sentença
condenatória, devendo aguardar requerimento da parte nesse sentido.
O professor critica veementemente o modelo de desenvolvimento da fase de execução
movida apenas por atividade do autor, porquanto tal modelo torna necessário que o
autor peticione duas vezes ao juízo para que determine que o devedor pague a dívida
(na primeira, o credor obtém sentença, sendo que apenas na segunda vez é que obterá
o que quer desde o começo, que é o pagamento). Inclusive, Arenhart critica o instituto
da prescrição intercorrente, pois entende que é absurdo a compreensão de que a falta
pedido de cumprimento de sentença configuraria inércia de quem ajuizou ação pedindo
o pagamento de dívida e obteve sentença condenatória do devedor.
A efetividade do processo civil brasileiro depende da superação do modelo das tutelas
executivas típicas, que se encontraria no art. 139 do CPC. Deve-se entender que as
sentença condenatórias emitem ordem, que pode ser efetivada por mecanismo de sub-
rogação ou mecanismo de indução. A mesma racionalidade das prestações de fazer,
de não fazer e de entregar coisa deve ser aplicada as prestações pecuniárias.
As escolhas das técnicas de coerção pelo juiz não são aleatórias, devendo este
empregar as máximas da maior efetividade (da execução) e que, na presença de dois
mecanismo de igual efetividade, deve ser escolhido o que gerar a menor onerosidade
possível ao devedor. Nesse modelo, não há razão para supor que juiz não possa impor
uma obrigação de fazer para satisfazer uma obrigação pecuniária
Como regra geral, não violação de direito fundamental do devedor na restrição de um
direito para se tutelar uma execução de prestação pecuniária, afinal, não há direito
fundamental para dirigir veículo automotor (suspensão de CNH) e viaja ao exterior
(retenção de passaporte); eventualmente pode ocorrer ofensa a direito fundamental
quando o devedor utilizar o carro para ir ao trabalho, ou quando precisar do passaporte
para viajar a trabalho. De toda forma, são mecanismos válidos, úteis e legítimos para
implementação de direito, bem como, em várias situações, serão os melhores
mecanismos para se obter a satisfação do crédito.
O professor Arenhart ressalta a existência de um desvio de finalidade da multa
coercitiva, que acaba constituindo em uma “indenização” ao devedor pelo longo período
que passou sem receber o crédito, e não em uma técnica de dissuasão do devedor. Por
conta disso, faz-se necessário o uso de mecanismos que possibilitem uma resposta
rápida e efetiva. Um exemplo é a intervenção em empresa, que consiste em um
gravame capaz de convencer o executado do prejuízo da resistência de satisfazer o
crédito exequendo. Tal técnica coercitiva (intervenção em empresa) não é novidade e
possui níveis de gradação, sendo que alguns são regrados pelo CPC (ex. expropriação
de parcelo de lucro ou de rendimento) e, portanto, passíveis de serem utilizados no
direito processual civil moderno, embora não exista o costume de aplicá-los. Embora
exista alguma dificuldade de operacionalização, tais técnicas, em dadas circunstâncias,
terão maior eficiência e efetividade do que expropriação sub-rogatória tradicional e pode
leva a um resultado muito mais útil dentro de um processo civil como aquele que se
almeja dentro da legislação processual civil moderna.

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