ESA - CONGRESSO NACIONAL SOBRE O NOVO CPC - ETAPA VALE DO ITAJAÍ
TEMA: MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS NO NOVO CPC
O tema tem adquirindo grande importância, em razão do aumento do emprego da tutela
executiva atípica no cumprimento de prestações pecuniárias (ex. apreensão de passaporte, retenção de CNH, bloqueio de cartão de crédito etc.). As normas de processo civil sofreram alterações históricas, passando pela fase de meras indicações de objetivos, para fase previsão de cada etapa em que o procedimento é desenvolvido e até chegar na presente fase em que há uma forma de legislar mais ampla, através da ideia de cláusula aberta, através da ideia de abertura sistêmicas para o preenchimento diante do caso concreto. O modelo tradicional de regramento pormenorizado de cada ato e procedimento do processo civil é concebido a partir da ideia de que o juiz não merece confiança, razão pela qual se deve estabelecer minuciosamente o que ele pode fazer e até onde ele pode fazer para praticar qualquer ato dentro do processo. Por consequência, no campo do direito processual, estava sempre presente a ideia da execução típica. O juiz não pode fazer o que ele quer para realizar o direito, ele está limitado à lei e a lei diz o que ele pode fazer para realizar direitos. No campo da execução, tal modelo se tornou ultrapassado, inefetivo, porque a lei, evidentemente, não pode dispor de todas as situações da vida cotidiana. Isso, somada a ideia de limitação do juiz à lei, faz com que a satisfação do crédito não seja possível em várias situações. Em um modelo patrimonialista e liberal, tal situação tinha certa razão de ser. Porém, a evolução do estado para além de interesse econômico, tornou necessária a reflexão se tal modelo oferecia um resposta adequada. Ocorre que em um modelo social em que as prestações vão além da relação crédito e débito, exigindo o cumprimento de determinações como a entregar de medicamentos, a realização de cirurgias e a reforma de penitenciárias, a visão patrimonialista de crédito e débito se tornou insuficiente. Por tal razão, as obrigações de fazer e de não fazer já contam, desde 94 no antigo CPC, com instrumento que vão além dessa percepção e rompem a lógica da execução típica, prevendo tutela atípica. Esse modelo foi estendido às obrigações de entregar coisa, seja determinada ou indeterminada. A partir disso, a legislação processual brasileira passou a ter uma dualidade de sistemas. Enquanto que prestações de fazer, de não fazer e de entrega de coisa tinha um modelo mais avançado por seguir um modelo atípico de execução, em que o juiz poderia ordenar, sob pena do emprego de uma técnica de coerção, nas obrigações pecuniárias o juiz continuava adstrito a um modelo típico, limitado pela previsão legal. Houve uma melhora em 2005 com a unificação dos procedimentos de execução das obrigações pecuniárias (processo sincrético), de modo que não há mais processo de conhecimento e, após, a necessidade do ajuizamento de um novo processo, só que para execução da sentença anteriormente obtida. Todavia, na prática, o modelo novo ainda seguia a mesma lógica do modelo antigo, pois, após a condenação do réu, o autor deve requerer ao juiz o cumprimento de sentença – do contrário, não há medidas de satisfação. O novo CPC de 2015 reproduz, no campo da execução, em grande medida o modelo antigo de satisfação, sendo que apenas a regra do art. 139, IV, do CPC, que trata dos poderes do juiz, traz grande inovação, na medida em que diz que o juiz pode aplicar para o cumprimento, para a efetivação de suas decisões judiciais, inclusive para decisões que imponham prestação pecuniária, qualquer medida de indução ou sub- rogação. Para o professor, esse dispositivo (art. 139, IV) é a verdadeira regra de efetivação do direito brasileiro atual em matéria de satisfação de prestação de fato. Esse é o princípio fundamental da parte do código referente à execução. Isso porque o juiz não condena ninguém a coisa nenhuma, pois condenar não é ordenar, o juiz não dar ordem para ninguém ao condenar. A sentença condenatória nada mais é do que uma mistura de sentença declaratória com sentença constitutiva (declarar um dívida e altera a situação do réu para devedor). Tanto que o juiz não pode de ofício dar cumprimento à sentença condenatória, devendo aguardar requerimento da parte nesse sentido. O professor critica veementemente o modelo de desenvolvimento da fase de execução movida apenas por atividade do autor, porquanto tal modelo torna necessário que o autor peticione duas vezes ao juízo para que determine que o devedor pague a dívida (na primeira, o credor obtém sentença, sendo que apenas na segunda vez é que obterá o que quer desde o começo, que é o pagamento). Inclusive, Arenhart critica o instituto da prescrição intercorrente, pois entende que é absurdo a compreensão de que a falta pedido de cumprimento de sentença configuraria inércia de quem ajuizou ação pedindo o pagamento de dívida e obteve sentença condenatória do devedor. A efetividade do processo civil brasileiro depende da superação do modelo das tutelas executivas típicas, que se encontraria no art. 139 do CPC. Deve-se entender que as sentença condenatórias emitem ordem, que pode ser efetivada por mecanismo de sub- rogação ou mecanismo de indução. A mesma racionalidade das prestações de fazer, de não fazer e de entregar coisa deve ser aplicada as prestações pecuniárias. As escolhas das técnicas de coerção pelo juiz não são aleatórias, devendo este empregar as máximas da maior efetividade (da execução) e que, na presença de dois mecanismo de igual efetividade, deve ser escolhido o que gerar a menor onerosidade possível ao devedor. Nesse modelo, não há razão para supor que juiz não possa impor uma obrigação de fazer para satisfazer uma obrigação pecuniária Como regra geral, não violação de direito fundamental do devedor na restrição de um direito para se tutelar uma execução de prestação pecuniária, afinal, não há direito fundamental para dirigir veículo automotor (suspensão de CNH) e viaja ao exterior (retenção de passaporte); eventualmente pode ocorrer ofensa a direito fundamental quando o devedor utilizar o carro para ir ao trabalho, ou quando precisar do passaporte para viajar a trabalho. De toda forma, são mecanismos válidos, úteis e legítimos para implementação de direito, bem como, em várias situações, serão os melhores mecanismos para se obter a satisfação do crédito. O professor Arenhart ressalta a existência de um desvio de finalidade da multa coercitiva, que acaba constituindo em uma “indenização” ao devedor pelo longo período que passou sem receber o crédito, e não em uma técnica de dissuasão do devedor. Por conta disso, faz-se necessário o uso de mecanismos que possibilitem uma resposta rápida e efetiva. Um exemplo é a intervenção em empresa, que consiste em um gravame capaz de convencer o executado do prejuízo da resistência de satisfazer o crédito exequendo. Tal técnica coercitiva (intervenção em empresa) não é novidade e possui níveis de gradação, sendo que alguns são regrados pelo CPC (ex. expropriação de parcelo de lucro ou de rendimento) e, portanto, passíveis de serem utilizados no direito processual civil moderno, embora não exista o costume de aplicá-los. Embora exista alguma dificuldade de operacionalização, tais técnicas, em dadas circunstâncias, terão maior eficiência e efetividade do que expropriação sub-rogatória tradicional e pode leva a um resultado muito mais útil dentro de um processo civil como aquele que se almeja dentro da legislação processual civil moderna.