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QA5-leitura e Gramática
QA5-leitura e Gramática
12ºano
Nome:__________________________________ Turma:_____ Data: ___/___/______ Avaliação:_________
Lê o texto.
O que é um clássico?
Tal como as estirpes dos ricos, os clássicos não são livros isolados, mas sim mapas e
constelações. Italo Calvino escreveu que um clássico é um livro que está antes de outros
clássicos; mas quem tiver lido primeiro os outros e depois ler aquele reconhece de
imediato o seu lugar na genealogia. Graças a eles descobrimos origens, relações,
dependências. Escondem-se nas dobras uns dos outros: Homero faz parte da genética de
5 Joyce e de Eugenides; o mito platónico da caverna regressa em Alice no País das
Maravilhas e em Matrix; o doutor Frankenstein de Mary Shelley foi imaginado como um
moderno Prometeu; […] O fio das palavras e das metáforas atravessa o tempo,
enovelando as épocas. […]
Mas, voltando a Italo Calvino, os clássicos são livros que, quanto mais acreditamos
10 conhecê-los por ouvir falar, mais novos, inesperados, inéditos são quando os lemos a
sério. Nunca acabam por dizer o que têm de dizer. Naturalmente, isto acontece quando
emocionam e iluminam quem os lê. Não foram os leitores coagidos aqueles que
protegeram esses textos como talismãs nas longas épocas de perigo, mas sim os
apaixonados.
15 Os clássicos são grandes sobreviventes. Na linguagem ultracontemporânea das redes
sociais, poderíamos dizer que o seu poder – a sua riqueza, em termos censitários – se
mede no número dos seus seguidores. São livros que continuam a atrair novos leitores
cem, duzentos, dois mil anos depois de serem escritos. Estão para além das variações do
gosto, das mentalidades, das ideias políticas; das revoluções, dos ciclos mutáveis, do
20 desapego das novas gerações. E nesse trajeto, onde seria tão fácil perder-se, conseguem
aceder ao universo de outros autores, aos quais influenciam. Continuam a subir para os
palcos dos teatros mundiais, são adaptados à linguagem do cinema e emitidos pela
televisão, até se desprenderam da encadernação e da tinta para se mostrarem na Internet.
Cada nova forma de expressão – a publicidade, a manga, o rap, os videojogos – adota-os
25 e realoja-os.
Há uma grande história quase ignorada por trás da sobrevivência dos clássicos mais
antigos, a de todas as pessoas anónimas que conseguiram conservar, por paixão, um
frágil legado de palavras, a história da sua misteriosa lealdade a esses livros. Enquanto os
textos e até as línguas das primeiras civilizações que inventaram a escrita no Crescente
30 Fértil – Mesopotâmia e Egito – ficaram esquecidos no decorrer dos séculos e, no melhor
dos casos, voltaram a ser decifrados muitos séculos depois, a Ilíada e a Odisseia nunca
deixaram de ter leitores. Na Grécia começou uma cadeia de transmissão e tradução que
nunca se quebrou e conseguiu manter viva a possibilidade de recordar e de conversar
através do tempo, da distância e das fronteiras. Nós, leitores de hoje, podemos sentir-nos
sozinhos, no meio da pressa, ao cultivarmos os nossos rituais lentos. Mas temos por trás
uma longa genealogia e não devíamos esquecer que, entre todos, sem nos conhecermos,
protagonizámos um fantástico salvamento.
VALLEJO, Irene, 2021. O Infinito num Junco. Lisboa: Bertrand Editora (pp. 368-370)
1 A enumeração apresentada entre as linhas 5 e 7
(A) comprova, recorrendo a exemplos, a metáfora que identifica os clássicos a «mapas e
constelações» (ll. 1-2).
(B) recorre a uma sequência de metáforas para salientar a importância da Antiguidade
Clássica.
(C) destaca a relação de causa-efeito existente entre diferentes obras.
(D) constitui uma metáfora da passagem do tempo.
6 Na frase «que continuam a atrair novos leitores» (l. 16), a palavra «que» introduz uma oração
(A) subordinada adjetiva relativa restritiva.
(B) subordinada adjetiva relativa explicativa.
(C) subordinada substantiva completiva.
(D) subordinada substantiva relativa.