Você está na página 1de 12
Comite Editorial de Lingwagem ‘Anna Christina Benes Ciévdia Lemos Vovio dviges Maria Morato Macia Cecilia P. Souree-Silve Sandoval Nonato Gomes Slos Sebastio Cari Leite Goagalves Conselho Baltoral de Linguagem ‘Adair Bonini (URSC) ‘Amado Cortina (UNESP — Araragusta) liana Ribeizo de Mello (UEMG) Heronides Melo Moura (UPSC) Ingedore Granfeld Villaga Koch (UNICAMP) Liz Carlos Travaglia (UFU) Maria ca Conceigdo A. de Paiva (UFR) ‘Maia das Gragas Soares Rodrigues (UFRN) ‘Maria Eduarda Giering (UNISINOS) Maria Helena de Moura Neves (UPM/UNESD ~ Araracuats) ‘Maidngela Rios de Olvera (UFF) ‘Mali Quadros Leite (USP) ‘Méniea Magalies Cavaleante (UFC) Regina Cla Fernandes Cruz (UFPA) le Ctalogagio na Publicagéo (CIP) (Camara Beaslera do Livro, SP Broil) Lingufstica textual interfaces edlitagdes:homenagem a Inge= ‘doe Grind Vilage Koch / Edson Rosa Franclsco de Souza, [Eduardo Penhavel, Marcos Rogério intra, ~StoPaulo Corte, 207 ‘Varios astores Bibliograa, SN 978.5.259-2575.7 1. Andlse do dicureo 2. Koch, lagedore Grinfel Villog 3 Linguistics Sousa son Rosa Francco de Penkavel Eduardo, IL Cintra, Maseos Rogério, Indios para catlogo sstemstco: 4 Lingolstien textual 415, SRK 235 CAPITULO 11 Linguistica Textual e Andlise do Discurso Francisco Alves Filho Universidade Pedercl do Piaui!UEPI Consideragées iniciais Neste capitulo, fazemof'vérins discusstes acerca das inter-relagSes entre Linguistica de Texto e Anélise do Discurso, procurando vislumbrar aspectos que, do ponto de vista teérico e analitico, aproximam-nas e/ou as distanciam, | °% jogando luz sobre as relagdes de interdependéncia entre ambas, mas também sobre 0s graus de indeterminagao entre texto e discurso, Tentando dar conta? destes objetivos, focamos a discussio mais diretamente acerca das nogdes de texto ¢ discurso, da questo da significagtio ¢ da referonciagtio, dos debates sobre género de texto € género do discurso ¢ do problema da autoria, Hoje parece no restar dividas sobre a real necessidade de haver uma cigneia da Tinguagem especificamente voltada para estudar 0 texto, dado ser este a forma especifica de manifestagdo da linguagem, Como presenciamos todos 0s dias, falamos através de textos; sebemnos o que os outros pensam e defender por intermédio de textos; € sto 0s textos que contém indicios bastante relevantes para compreendermos fendmenos cognitivos, discursivos e sociais decisivos 26 SOUZA. PENHAVEL CONTRA fes.00 em nossas vidas. Enfim, os textos constituem 0s dados imediatos, do ponto “| de vista sociointeracional, da existéncia ¢ do funcionamento da linguagem ¢ interagiio humanas. Contudo, conquanto seja ficil reconhecer 0s textos na vida cotidiana, toma-se uma empreitada extremamente complexa conceitué-los © teoricamente e, desde 0 advento da informatica e da intemet, dclimité-los ‘empiricamente.' Nesse sentido, os textos se parecem coin 0 tempo, naquilo {que sobre ele disse Jorge Luis Borges (1999): tio fécil de ser reconhevid © e experienciado, mas de tio dificil conceituagao. Certos desta dificuldade © teérica, tentaremos aqui abordar algumas de suas causas e implicagbes, 1. Linguistica de Texto e Anélise do Discurso: to perto e to longe uma da outra ‘So muitas as ciéncias socisis, humanas elinguisticas que, desde 1960, tem dedicado atengdo ao texto, & fala ao discurso, No campo dos estudos a Tinguagem, temos, dentre outras, a Sociolinguistica, a Pragmtica, a Lin- agulsticn de Texto, a Andlise da Conversagao © a Anélise do Discurso. Neste panorama geral, tanto a Linguistica de Texto (doravante LT) como * de dizer. Num polo deste conjunto de escolhas se encontram aqueles que so prototipicas de uma postura de autoria; no outro polo acham-se aquelas que se insurgem contra a estabilidade desta postura de autora, Miller (2009 [1984], discutindo especificamente a questio dos géne- 10s, formula assim a relaglo entre o, particular e 0 recorrente: os génercs nos oferecem efeitos sociais previsiveis aos quais podemos acomodar nos- sas intengdes paticulares. Ou seja, as intengdes particulares parocem nilo ser expressas de modo caracteristicamente particular, jé que necessitardo ser expressas numa lingua (social) ¢ em textos que participam de generes (também sociais). A questo central & que, com 0 uso da linguagem, nada pode ser absolutamente individnal, jf que a linguagem é constitutivamente social, mas, por outro lado, @ linguagem nao existiria sem que cada indlivi- duo dela fizesse uso. Parece, entGo, que assumir a autoria de um texto exige cexpressar ¢ textualizar intengBes particulares em propésitos comunicatives compartilhados por grupos. ‘Com a questio formulada deste modo, supomos ser impossivel fazer ‘uma cisio completa entre os sentidos historicamente pré-consirul construgo textual situacional. Imaginamos que a relagto entre 0 sentido pré-construido ¢ 0 ato de construgio dos sentidos & de natureza recursivs: 3. Vers ete esprit # roo de uno-auo, defend por Fev (1970, LngutsTiCa TexTUAL as construimos textos com base em sentidos pré-constnuidos historicamente, nas 05 pré-construidos somente existem porque houve construgées de sen- tido particulates, Nao nos parece haver razio para optar por um ou outro. / Talvex a relaglo entre discurso e texio possa ser observada também | de modo recursive: um discurso, diga-se, uma posiglo ideolégica social, ‘getalmente foi construido através de posigdes materializadas em textos par- ticulares, mas também cada novo texto se apoia em discursos j4 postos em ciroulagdo na sociedade. Mas esta formulagdo, assim aparentemente simples « clara, esconde enormes complexidades, sendo ume delas explicar como cfetivamente, na prética, tal recursividade ocorr. Para nés, parece razoavelmente convincente a explicago formulada no cireulo de Bakhtin, ¢ sistematizada por Faraco (2009), de que o sujeito € a0 mesmo tempo social e singular, Ble € social pelo fato de perceber a realidade e falar sobre cla premido pelas experiéncias compatiliadas no seio dos grupos sociais; também ¢ social porque, imerso no coléquio universal, fala com palavras de outtem; contudo, o sujetto € singular porque ocupa um lugar na vida social que somente ele (¢ ninguém mais) ocupa, 0 que 0 habilita a responder de um modo singular, segundo um excedente de visio ‘que somente ele possui. £ realmente espantoso a grande maioria dos textos patecerem ser 20 mesmo teinpo singularese inicos, mas reconhecidamente pertencentes a uma classe de-textos, isto é, a um género, - Em relagao ao papel do sujeito, poderiamos formular duas tendéncias, erais: na AD, tende-se a pesquisar mais 0 lado social do sujeito, vendo os papéis que ele ocupa nas formants discursivas e como estas guiam suas agbes e discurso. Ao analisar textos e discursos, os analistas de discurso buscam caracterizar o sujeito em termos de filiagdo deste a formagbes discursivas e caracterizar 0 discurso em termos de posicionamentos socioideol6gicos. Em ET tende-se a pesquisar 0 sujeito interagindo numa situago par- ticular de comunicagio de acordo com estratégias sociocognitivas por ele acionadas, importando pouco a qual formacZo discursiva o sujeito se filia, ‘Em contrapartda, valorizam-se estratégias de producéo e de compreensao (processamento textual) recorrentemente usadas por diversos usuarios, independentemente de sua formaglo discursiva. Em LT investiga-se como um sujeito age pragmatica e cognitivamente a fim de construir sentidos para SOUZA. PENHAVEL INTRA fs textos que cria, mas sem levar em conta a influéncia de sua formagéo discursiva para esta construgdo. ‘ Mas estas tendéncias nao podem ser vistas como dicotémicas, porque tanto hé analistas de discurso que admitem 0 caréter estratégico do sujeito, ‘como ha linguistas de texto que admitem a natureza socioideol6gica do sujeito, 8. ConsideragGes finais ‘Neste capitulo discutimos virias questdes relacionadas a0 texto € 20 discurso, obscrvando como a Linguistica de Texto ¢ a Anilise do Discurso oferecem conceituagées teéricas © propostas metodolégicas para o trata~ ‘mento de virios fenémenos que dizem interesse &s duas correntes. Pelo que vimos, a LT e AD se constituem como duas correntes que tanto se atraem como se distanciam uma da outra. A atrago decorre do compartilhamento de concepetes gerais sobre a significagio © o papel da lingua na vida so- cial. O distanciamento advém da busca por interface com éreas do saber diferentes: a LT fazendo interface com a Psicologia Cognitiva; a AD se apoiando na Psicandlise. Parece nfo restar muita diivida de que os objetos de estudos das duas Areas — 0 texto € © discurso —, embora possann ser, do ponto de vista teérico & metodolégico, tratados como fendmenos diferentes, do ponte de vista empirico, carregam consigo virios pontos dé intersegao, a exemplo da significagio, referenciagao © da autotia, ¢ © Referéncias ADAM, 1-M. Elements de lingnstque tetelle, Lidge: Mardaga, 1990 _Lingistigue Textil: De ons de discourses Paris: Nathan, 1999. “ALVES FILHO, F, A autoria nas cokunas de opinido assinadas da Fotha de S. Paulo, 2005, 168 f. Tese (Doutorado em Linguistica) — Instituto de Bstudos de Linguagem, Universidade de Campinas, Campinas, 2005, Uunguisnca TexTUAL 25 A eutoria institucional em editorais de joa. Aifa: Revista de Lingutstca, Sio Paulo, v.50, a. 1, p. 77-89, 2006, Disponivel em: . Acesso em: 26 mat. 2012, ‘Sua casinha é meu palicio: por uma concepefo dalégice de referenciagéo, Linguegem em (Dis)eurso, Pallioga, v. 10,0. 1, p. 207-26, jan /ar, 2010 BAKHTIN, M/VOLOSHINOY. Marxismo e filosofia da linguagem. Sto Paulo: AnnaBlume/Hucitee, 1997 (1929/1930) BAKHTIN, M. Os géneros do discurso, In: Estéviea da eriagio verbal. S80 Paulo Martins Fontes, 1979 [1953] BEAUGRANDE, R. de. New foundations for a Science of text and discourse: cognition, communication and freedom of acess of to knowledge and society: New Jersey: Ablex Publishing Corporation, 1997s. Linguistica Textual: para novas margens? In; ANTOS, G.;TIBTZ, H.(Bds). 0 futuro da linguistica textual: radighes, transformagbes, tendéacias. Tabingen: Niemeyer RGL 188, 1997. p. 1-12 BORGES, J. L, Borges oral, Sio Paulo: Globo, 1999. DERRIDA, J; RONELL, A. The law of genre, Critical Inquiry, Chieago, v. 7, n 1, p. 55-81, Autumn, 1980. DEVITT, A.J. Writing genres. Eprbondale: Southem Ilinois University Press, 204 PARACO, C. A. Linguagem e didtogo: as idcias linguisticas do Cireulo de Bakhtin, ‘Sto Paulo: Paribola, 2009. PAVERO, L. Lis KOCH, I. V. Lingus 1993. ca Textual: introdugo, $0 Paulo: Cortez, FOUCAULT, M. 4 ordem do discurso. Sao Paulo: Eaigdes Loyola, 1970, KOCH, I. V. 0 fexio € a consirugdo dos sents SA0 Paulo: Coatexto, 1997, ___. Desvendando os segredos do texto, Sto Paulo: Cortez, 2002, Introduce a Linguistica Textual. Sio Paulo: Martins Fontes, 2004, MAINGUENEAU, D. Novas rendéncias em andlise do discurso. Campinas: Pontes, 1989, Progmitica para o discurso Iteririo, Sto Paulo; Martins Fontes, 1996, 356 SOUZA. PENHAVEL + INTRA MARCUSCHI,L.A. Lingiistioa de rexto: 0 que€ ¢ como se faz. Recife: UFPE, 1983. MARCUSCIII, L. A. Aspectos linguistics, sociais © cognitivas na producto de sentido, Trabalho spreseatado na XVI Jornada de Estudos Linguisticos do GELNE, Fortaleza, 1998, Mimeografado. Produpdo textual, andlise de géneros e compreensat. Sio Paulo: Parébola, 2009. MILLER, C. Género como aco social. In: MILLER, C.; DIONISIO, A. HOFFNAGEL, J. (Orgs). Género textual, agéncia e tecnologia. Recife: Editora Universitéria da UFPE, 2009. MONDADA, Ly DUBOIS, D. Construgdo dos objetos de discurso ¢ catogorizagio: uma abordagem dos processos de referenciayio, In: CAVALCANTE, M. Mi RODRIGUES, B. B.; CIULLA, A. (Ores.). Referenciagdo. S60 Paulo: Contexto, 2008. p. 17-52. pECHEUX, M. Andlise automitica do discurso (AAA-69). In: GADET, F; HAK, T. (Orgs.). Por uma andlise automética do discurso: uina introdugao & obra de Michel Pcheux. Campinas: Editora da Unicamp, 1990, POSSENTI, S. Discurso, estilo ¢ subjetividade, Sto Paulo: Martins Fontes, 1993. ROIO, R. Géneros do discurso e géneros textunis: quests tedricas e aplicadas In: MEURER, J. L; BONINI, A; MOTTA-ROTH, D. (Orgs.). Géneras: teorias, métods, debates, So Paulo: Paribola, 2005. VAN DUK, T. A. Disciplines of discourse. In: Handbook of discourse analysis London: Academic Press, 19858. ____. Dimensions of discourse. In: Handbook of discourse analysis. London: ‘Academic Press, 1985b. ¥ 2. VIRTANEN, T. Issues of text typology: Narrative — a basic type of text? Text — Tnterdiscplinary Journal for the Study of Discourse, Hague (Netherlands), v.12, 0, 12, p. 293-310, 1992,

Você também pode gostar