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A CONCORRÊNCIA

O Direito Concorrencial é um ramo relativamente recente. Actualmente encontramos em um


estágio mais aprimorado em países como EUA, Canada e Inglaterra, enquanto noutros países nem
sequer é legislado.

Nunca houve, em Angola, estruturas legislativas e administrativas voltadas às questões da


concorrência.

A constituição de 1975 adoptou como princípio estruturante do sistema económico, o princípio da


direcção centralizada e planificada da economia, que funcionava na base de um plano de
cumprimento geral e obrigatório, a ser executado por todos os agentes económicos.

Esta ausência de legislação exprimia-se pela consagração por via constitucional de um projecto de
transição para o socialismo.

Com a Lei constitucional de 1992 a concorrência conheceu suas primeiras raízes.

Esta constituição incumbia ao estado:

 Garantir a liberdade de actuação económica no mercado (art. 9º e 10º)


 O estado deveria coordenar os factores de produção de maneira a evitar ou de resolver os
conflitos;
 Introduzir no jogo das competições individuais o interesse nacional.

Posteriormente foi publicada a lei 6/99 – lei das infracções contra a economia, que criminalizava,
condutas tendentes, dentre outros, a prejudicar o mecanismo da concorrência.

Princípios ordenadores da concorrência1:

 Princípio da liberdade de comércio;


 Princípio da liberdade contratual;
 Princípio da igualdade;
 Princípio da análise económica;
 Princípio da regra razão e
 Princípio da eficiência. (além da maximização do desempenho e dos resultados, maior será a
optimização da actividade económica empresarial e a preservação do bem comum)

O que é concorrência? Em economia concorrência corresponde à situação de lucro de um


mercado em que os diferentes produtores de um determinado bem ou serviço actuam de forma
independente face aos compradores com vista a alcançar um objectivo para o seu negócio,
utilizando diferentes instrumentos, tais como, os preços, qualidade de produtos e serviços após
venda.

Definição legal - existência de empresas independentes entre si, que exerçam a mesma actividade
económica e compitam umas com as outras, em igualdade de circunstancias, para atrair a clientela.
(artigo 3º alínea b), da Lei da concorrência).

1
Helena Prata, Lições de Direito Económico, 1ª Ed. Casa das Ideias, Luanda, 2010, pag. 80
Tipos de concorrência:
 Concorrência Pura ou perfeita;
 Concorrência ilícita;
 Concorrência desleal.

No modelo clássico a concorrência pressupunha a existência de uma pluralidade de agentes


económicos que assumiam, ao lado da oferta, a forma de pequenas unidades económicas e, do lado
da procura, a de consumidores individuais, famílias,… sem possibilidade de influenciar no
mecanismo de formação de preços. (concorrência perfeita). Além disso revestia as características de
indiferenciação dos bens transaccionados; de livre entrada e saída de produtores e consumidores; de
livre e completa informação destes (concorrência pura).

Assim configurado, este modelo apresenta-se como o tipo ideal que funciona como padrão de
aferição de realidades.

Contudo, nos primórdios do sec. XX, era já bem visível o desfasamento entre o modelo e a
realidade. As primeiras revoluções industriais, a massificação da produção industrial, a passagem
da manufactura à maquinofactura e a necessidade de centralização de capitais, alteraram
radicalmente os pressupostos do modelo liberal clássico.

A concorrência gerou fenómenos de concentração, originando o aparecimento de grandes empresas


e grandes agrupamentos de empresas (trusts, carteis, etc.), oligopólios e oligopsónios monopólios e
monopsónios.

A concorrência tende hoje a tornar-se, simultaneamente, mais acesa e com menos protagonistas.
Para melhor defenderem as posições já conquistadas no mercado, as empresas substituem
frequentemente o típicos comportamentos concorrenciais por comportamento de cooperação e
coordenação inter-empresarial que, normalmente degeneram em práticas restritivas da concorrência.

Estando afastada a concorrência pura e perfeita, Fala-se agora de concorrência imperfeita (ilícita e
desleal).

Defesa da Concorrência

A concorrência é representada, por:

 Regras de direito penal destinadas a impedir ou reprimir práticas anti-concorrenciais


particularmente intoleráveis;
 Outras vezes visa os casos em que o comportamento dos sujeitos económicos ofende as
regras da moralidade e da lealdade na actuação dos agentes económicos no mercado

Como o estado defende a concorrência? Combatendo a concorrência ilícita e a concorrência


desleal. Esta é a forma tradicional de protecção da concorrência

Concorrência ilícita – Formas de concorrência criminosa. Ex: Crimes de monopólios consagrados


em algumas leis penais, açambarcamento, alteração fraudulenta de preços…

Concorrência desleal – ofensas as regras usuais da moralidade e lealdade da concorrência. Actos


ou omissão não conforme a honestidade e boa fé em comércio apesar de não serem actos
criminosos.
Práticas restritivas de concorrência: resultante da concorrência desleal

 Abuso da posição dominante;


 Abuso da dependência económica;
 Práticas colectivas proibidas.

1 - Posição dominante: Quando uma empresa actua num mercado no qual não sofra concorrência
significativa ou assuma preponderância relativamente à outros concorrentes.

Abuso da posição dominante:

 Obrigar ou induzir um fornecedor ou consumidor a não estabelecer relações


comerciais com um concorrente;
 Vender, injustificadamente, mercadoria abaixo do preço de custo ou produção;

2 - Dependência Económica: verifica-se quando uma empresa (ou mais de uma) utiliza o poder de
mercado ou ascendente de que dispõem relativamente a outra empresa ou cliente que se encontrem
em relação a ela num estado de dependência por não dispor de alternativa equivalente para o
fornecimento dos bens ou prestação dos serviços em causa.

Abuso da dependência económica

 Impor preços de compra ou vendas não equitativa;


 Ruptura injustificada, total ou parcial de uma relação comercial estabelecida tendo
em consideração as relações comerciais anteriores.

3– Práticas colectivas proibidas: são proibidos os acordos entre empresas, as concertações entre
empresas e as decisões de associações de empresas que tenham por objecto ou como efeito falsear
ou restringir a concorrência do mercado.

São proibidos os acordos que se traduzem em:

 Adoptar uma conduta uniforme ou concertada;


 Fixar os preços de compra e de venda ou interferir na sua determinação;
 Repartir o mercado ou as fontes de abastecimento, através da partilha de clientes,
fornecedores, territórios ou tipos de bens;
 Limitar ou dificultar o acesso de novas empresa no mercado.
 Recusar a compra ou venda de certos bens

O Dumping e o Açambarcamento

Sistemas de defesa da concorrência

Quanto ao tipo de proibição de práticas restritas da concorrência distinguem-se dois modelos:

 Aquele que proíbe as práticas restritivas da concorrência por produzirem um dano potencial
(modelo Preventivo);
 Aquele que reprime apenas as práticas que se traduzem num dano afectivo. (modelo
Repreensivo)
Em Angola existe a ARC – Autoridade Reguladora da Concorrência –incumbida de manter a
concorrência saudável no mercado.

A ARC procura Garantir a observância e o respeito pelas regras da concorrência e a supervisão da


formação dos preços do sector público, privado, cooperativo e associativo, com vista ao
funcionamento eficiente e equilibrado dos mercados.

Outros direitos em matéria económica


a) Os direitos dos consumidores

A produção de bens e serviços destina-se a ser consumida. O objectivo último de toda produção é,
no entanto, a satisfação das necessidades do consumidor final, sendo este, por isso, o principal
destinatário das normas constitucionais de protecção do consumidor.

A primeira Constituição, de 1975, não consagrava os direitos dos consumidores, provavelmente


devido ao tipo de sistema económico que se pretendia construir.

Não havia no direito angolano qualquer conceito legal de consumidor, poder-se-ia afirmar sem
exagero que “consumidor” não fazia parte do vocabulário jurídico “oficial.

A protecção do consumidor veio surgir com a Lei constitucional de 1992.

A protecção do consumidor ganhou ênfase com a entrada em vigor da Lei n.º 15/03 de 22 de Julho
- Lei de Defesa do Consumidor.

Definição: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica a quem sejam fornecidos bens e serviços
ou transmitidos quaisquer direitos e que os utiliza como destinatário final, por quem exerce uma
actividade económica que vise a obtenção de lucros (nº 1 do artigo 3º).

A actual Constituição, não apresenta uma definição de consumidor, porém consagrou como
direito fundamental, os direitos dos consumidores, nos termos do artigo 78º e na al. h) do art. 89º.

Porquê defender o consumidor?

Hoje, constata-se uma cada vez maior sofisticação dos modos de captação de clientela com
recurso a publicidade ou outras formas de promoção de venda que por vezes se mostram
enganosa ou agressivas, justificando-se assim a sua regulação pública.

Mesmo a forma como se organiza a produção, contribui muito para o risco do consumidor.

Assim, de forma a acautelar tal situação, a lei apresenta um catálogo de normas disciplinadoras
deste comportamento de modo a proteger o consumidor, nomeadamente:

 Direito à qualidade de bens e serviços consumidos e à segurança dos produtos;


 O direito à formação ou esclarecimentos e informação;
 O direito à protecção da saúde;
 O direito à protecção da segurança;
 O direito à protecção dos direitos económicos
 O direito à reparação de danos
 Direito à protecção contra a publicidade, oculta e enganosa.
1. Direito à qualidade de bens e serviços consumidos e à segurança dos produtos
a. Ausência de defeitos de funcionamento ou de adulteração ou deterioração das
suas características. Isto não implica que o serviço tenha que ser de qualidade
superior, ou seja, recebe consoante aquilo que paga.
2. O direito à formação e informação
a. Tem que haver uma formação permanente, (nos livros escolares, na rádio, na
televisão, no incentivo às publicações de defesa do consumidor), bem como uma
informação completa e leal sobre os bens e produtos capaz de possibilitar uma
decisão liberal, consciente e responsável.
3. O direito à protecção da saúde
a. Aponta para a especial tutela da saúde do consumidor, regulando os alimentos
quanto à sua produção e venda, os fármacos, os cosméticos, obrigando à proibição
ou à obrigação de advertência específica, como se verifica nas bebidas alcoólicas,
no tabaco, ou até na composição química, relativamente a corantes e conservantes.
4. O direito à protecção da segurança
a. Tem a ver essencialmente com a segurança física, que pode passar pela proibição
de certos produtos, pela obrigatoriedade de certas normas de fabrico.
Características de segurança, ex. Imposição de obrigações no fabrico dos carros
(cinto de segurança).
5. O direito à protecção dos direitos económicos
a. Tem particular incidência na contratação, especialmente no que diz respeito a
contratos – tipo e métodos agressivos na promoção de vendas. Este tipo de contratos,
feitos à distância, ou time sharing, têm merecido especial atenção quer por parte da
legislação nacional assim bem como por parte dos órgãos da UE.
6. O direito à reparação de danos
a. Traduz-se no direito de indemnização dos prejuízos causados pelo fornecimento de
bens ou serviços defeituosos, por assistência deficiente ou por violação do contrato
de fornecimento e, em geral por violação dos direitos do consumidor.
4. Direitos do consumidor e a publicidade - artº 60 nº2:

Aqui a constituição não se limita a estabelecer uma reserva de lei, vai desde logo, em norma
directamente aplicável, proibir todas as formas de publicidade oculta, indirecta ou dolosa. Verifica-
se que a publicidade assenta assim em dois princípios fundamentais:

Princípio da Identificabilidade – significa que a mensagem tem que ser


inequivocamente assinalada, qualquer que seja o meio de difusão, sendo proibida a
publicidade oculta ou indirecta. (ex. é proibido mensagens publicitárias sem que os
destinatários se apercebam da sua natureza).

Princípio da Veracidade – Implica o respeito pela verdade, sendo proibida a


publicidade dolosa (enganosa diz a constituição) que induza ou possa induzir em erro os
seus destinatários.

b) Direito ao trabalho (76º CRA)


A constituição garante o direito ao trabalho, que deve ser entendido aqui como um direito a uma
prestação positiva por parte do Estado, gizando políticas que assegurem o máximo de emprego
possível e a igualdade de oportunidades para os cidadãos.

A constituição consagra ainda um conjunto de direitos aos trabalhadores relativos:

 A retribuição e as formas de prestação do trabalho;


 Assistência no emprego e;
 Finalmente, impõe ao Estado a regulação do mercado de trabalho.

c) Direito do ambiente (39º, 89º nº 1 alínea h) da CRA)

Entre os direitos e deveres fundamentais, a constituição reconhece o direito ao ambiente. A


protecção do ambiente abrange tanto o elemento natural, como o elemento construído, ou seja,
não apenas a conservação dos ecossistemas mas também a integração dos elementos económicos e
sociais.

O direito ao ambiente compreende:

 O direito a uma acção positiva do Estado, que pode consistir, na preservação dos espaços
naturais e da intervenção dos espaços degradados;

 Inclui o ordenamento da implantação urbana e industrial, da exploração agrícola e florestal;

 Inclui ainda uma proibição de acções atentatórias do ambiente quer por parte do Estado,
quer por parte de outros agentes económicos, conferindo aos cidadãos o direito de exigir
uma indemnização pelos prejuízos, que tais acções tiverem causado. Ex: derrame do
petróleo no mar de Cabinda.

Os custos de poluição, assim como a sua prevenção, podem ser integrados nos custos de produção,
existindo mesmo, em alguns ordenamentos jurídicos, o princípio do poluidor pagador.

O direito do ambiente vincula ainda os particulares, consagrando o dever de o defender, podendo


traduzir-se num dever geral de abstenção (dever de não provocar danos ao ambiente) ou de acção
(dever de impedir acções que atentem contra o ambiente e exigir do Estado determinadas
prestação).

Em suma pode-se dizer que o direito ao ambiente é:

 Um direito subjectivo individual: dever geral de abstenção (vertente negativa); direito a


exigir do Estado determinadas prestações (vertente positiva);

 Um dever individual e de grupo;

Tarefa do Estado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Helena Prata, Lições de Direito Económico, 1ª Ed. Casa das Ideias, Luanda, 2010, pag. 80
MONCADA, Luís Cabral, O Direito Económico, 6a edição Coimbra, 2012.

ALMEIDA, Carlos Ferreira de, Os Direitos dos Consumidores, livraria Almedida, Lisboa, 1982.
CANOTILHO, J. J. Gomes e MOREIRA, Vital, Constituição da República Anotada, 4ª ed., Vol. I,
Coimbra, Coimbra Editora, 2007.
MIRANDA, Jorge e MEDEIROS, Rui, Constituição Portuguesa Anotada, Tomo I, Coimbra
Editora, 2005
VAZ, Manuel Afonso, A Ordem Económica Portuguesa, 4ª edição, Coimbra editora, 1998

LEGISLAÇÃO
Constituição da República de Angola
Lei nº 05/18 de 10 de Maio – Lei da Concorrência
Lei nº 15/03 de 22 de Julho – Lei de Defesa do Consumidor
Lei nº 05/98 de 19 de Junho – Lei de Bases do Ambiente

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