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CAPÍTULO II

SISTEMAS ECONÓMICOS
A questão dos sistemas económicos, nos remete à problemática da
intervenção do Estado na Economia. A intervenção é um fenómeno
historicamente permanente. Na verdade, desde sempre existiram formas de
intervenção na Economia por parte do Estado, embora qualitativa e
quantitativamente diferente das que são características do Estado de Direito
Social dos nossos dias 1.
Em teoria, é possível descortinar dois sistemas extremos e opostos: O da
Direcção planificada da economia e o da economia livre de mercado.
2.1 - Sistema Económico Socialista
Este sistema é caracterizado pela direcção planificada da economia que
funciona na base de um plano geral e obrigatório, que deverá ser executado
por todos agentes económicos. A entidade que elabora o plano determina a
necessidade dos sujeitos, a sua prioridade, fixa os níveis de produção, e opera
a distribuição dos bens produzidos 2.
Este sistema assenta nos postulados 3:
 Da submissão crescente da autonomia privada à vontade dos poderes
públicos (Estado);
 Do papel activo da norma jurídica na conformação da vida económica.

2.2 - Sistema Económico Capitalista


Na base deste sistema, está o princípio da Economia livre. Este princípio
prescinde de qualquer entidade central; o consumo é determinado por cada
sujeito, a produção é fixada pelos produtores, e a distribuição é feita pela
circulação livre dos bens; as decisões dos agentes ajustam-se através dos
mecanismos de mercado 4.
O modelo jurídico liberal assenta em dois postulados, nomeadamente5:
 A separação absoluta entre o Direito Público e o Privado;
 O predomínio da autonomia da vontade privada na esfera económica.
2.3 – Sistemas mistos
Os sistemas acima sintetizados são simples modelos abstractos de referência
teórica. Na prática eles sofrem adaptações diversas em funções de
1
Luis S. Cabral de Moncada, Direito Económico, Coimbra Editora, 1986, pag. 15,.
2
Helena Prata Garrido Ferreira, Licçoes de Direito Económico, 1ª Ed. Casa das Ideias, Luanda,
2010, pag. 51.
3
Luis S. Cabral de Moncada, ob. cit. Pp 20 e 21.
4
Helena Prata Garrido Ferreira, ob. cit, pag. 51.
5
Luis S. Cabral de Moncada ob. cit, pp 16 e 17.
coordenadas histórico-cultural, de forma a melhor corresponderem às
realidades materiais que visam regular. 6

Assim, podemos fazer a combinação de elementos de um sistema e de outro,


com vista a obtenção de elementos que conduzam a outros sistemas.

No fundo o que se pretende aqui, é enquadrar uma economia de mercado e


uma intervenção alargada do Estado, num cenário mais ou menos harmónico
e funcional7.

Genericamente, pode dizer-se que a constituição consagra um modelo de


economia mista estabelecendo princípios básicos de uma economia de
mercado, impondo ou permitindo a regulação pública de alguns aspectos do
seu funcionamento e salvaguardando os direitos dos trabalhadores e dos
consumidores, enquanto limites ao poder económico público e privado.
Este modelo de equilíbrio entre economia de mercado e interesse público e
social, projecta-se em vários preceitos da constituição. Para garantir a
democracia económica e social que é uma das componentes do Estado de
direito (art. 2º). A constituição faz assentar a organização económica e social
na subordinação do poder económico ao poder político na pluralidade de
sectores de actividade económica e formas de iniciativa (privada, pública e
cooperativa).

2.4 – Modelo da Economia Neutra


A Neutralidade da Constituição ou Constituição aberta, conduziria a não
determinação por via Constitucional da configuração Económica da
Sociedade, isto é, os princípios fundamentais do Direito Económico, não
teriam acento constitucional8.

6
Helena Prata Garrido Ferreira, ob. cit, pag. 51.
7
Helena Prata Garrido Ferreira, ob. cit, pag. 52
8
Ibidem
CAPÍTULO III
CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA
3.1 – Aspectos Gerais
Do ponto de vista material, a Constituição Económica é um conjunto de
normas e princípios constitucionais relativos à economia, ou, sinteticamente,
consiste na ordem constitucional da economia.

Formalmente, é a parte económica da Constituição, onde está contido o


“Ordenamento Essencial da Actividade Económica” desenvolvida pelos
indivíduos, pelas pessoas colectivas ou pelo Estado - (art.º 89.º - 104.º da
CRA).
Este ordenamento é basicamente constituído por: liberdades (89, n.º1, al., b);
direitos (37.º,); deveres (89, n.º1, al., d) e responsabilidades. Neste sentido,
a constituição económica é conformadora das restantes normas da ordem
jurídica económica, sob pena de inconstitucionalidade 9.
Normas estatutárias ou de garantias: são aquelas que garantem as
características básicas do sistema económico. Há normas na Constituição, que
o seu conteúdo, nos ajuda rapidamente perceber, qual o tipo de sistema
económico que vigora no nosso ordenamento jurídico.
Essas normas são de aplicação imediata, por isso tem como destinatários os
cidadãos. Exemplo: nº 1 do art. 92º da CRA.
Normas directivas ou programáticas: são aquelas que apontam as principais
linhas de evolução deste sistema. A sua função é estabelecer os caminhos que
os órgãos estatais deverão trilhar para o atendimento da vontade do
Legislador constituinte.
Normas de conteúdo programático, são aquelas que apesar de possuírem
capacidade de produzir efeitos por sua natureza, necessitam de outra lei que
as regulamente, lei ordinária ou complementar. Por isso, são de aplicação
mediata e destinam-se ao legislador. Exemplo, art. 91.º CRA.

3.2 – A Constituição Económica Angolana


Foi aprovada em 1975 na sequência da proclamação da independência a 11 de
Novembro. O seu texto originário caracterizava-se em matéria de organização
económica pelo facto de garantir as transformações revolucionárias que
tinham como objectivos fundamentais 10:
 O desmantelamento da organização corporativa da economia;

9
Helena Prata Garrido Ferreira, ob. cit, pag. 45
10
Helena Prata Garrido Ferreira, ob. cit, pag. 54.
 A eliminação dos monopólios privados e dos latifúndios;
 O reconhecimento dos direitos económicos e sociais dos trabalhadores.
Além destas transformações a constituição continha também um projecto de
“transição para socialismo, mediante a apropriação colectiva dos principais
meios de produção”.
Esta constituição caracterizou-se basicamente por conjugar os princípios do
mercado, o da planificação da economia (art. 2º, 8º), e da coexistência de
sectores de produção (art. 9º,10º,11º, 12º, 14º, 17º LC) - (art.92º CRA).
Embora o sector privado estivesse constitucionalmente protegido, deixava de
desempenhar o papel predominante na ordem económica constitucional,
atribuindo-se particular importância ao sector público e cooperativo.

Principais características das revisões de normas constitucionais


económicas de 1978, 1988 e 1992.
a. As alterações operadas em 1978 e 198811
A parte económica da constituição sofreu consideráveis alterações no período
que vai de 1978 à 1992.
A constituição de 1978, caracterizou-se por representar a recepção na lei, da
opção pela via socialista de desenvolvimento decidida pelo 1º congresso do
MPLA, Partido do Trabalho.
Desta constituição resultaram, normas e princípios quer de dimensão
preceptiva, quer programática de índole socialista nomeadamente:
 Princípio da reserva pública universal;
 Princípio do dirigismo económico;
 Princípio da Intervenção do Estado (de forma directa e indirectas);
 Principio das nacionalizações e confiscos.
O principio da coexistência de sectores, consagrado no texto original da
constituição (1975), passou a ter um carácter residual e excepcional, adaptado
ao regime então adoptado.
Contudo, a situação política pós revolucionaria não evoluiu em termos
favoráveis as perspectivas constitucionais nessa área. A adesão de Angola as
organizações económicas internacionais serviu de argumento para as
modificações globais e sectoriais que posteriormente vieram a ocorrer. Por
outro lado, a ineficiência e improdutividade do sector público da economia,
provocou graves distorções no sistema socialista, que por sua vez provocou o
aparecimento de um mercado paralelo. Este sistema é ainda caracterizado
pelo desaparecimento daquilo a que hoje se chama bancos de segundo nível.
11
Helena Prata Garrido Ferreira, ob. cit, pag. 55 e ss
Em 1988, na perspectiva de reordenar a economia, publicou-se um conjunto
de leis com objectivo de fazer face as tensões económicas geradas pelo
sistema então vigente, que implantou o chamado programa de Saneamento
Económico e Financeiro (SEF) de onde se destacam as seguintes Leis12:
 8/88- Lei sobre os títulos de tesouro;
 9/88- Lei cambial;
 10/88- Lei dasPrivatizações, 10/94;
 11/88- Lei das empresas públicas (9/95);
 12/88- Lei da planificação;
 13/88- Lei dos investimentos estrangeiros (11/02)
Em resumo, por via da aprovação do denominado pacote legislativo SEF, a
constituição sofreu modificações tão profundas, que se pode falar numa
verdadeira metamorfose ou numa autêntica transfiguração do sentido
primitivo do texto constitucional.
b. A revisão constitucional de 1992. A Constituição Económica actual.
O modelo de economia subjacente
A revisão operada em 1992 veio permitir alterações significantes na ordem
económica.
Completou a descarga ideológica socializante iniciada pelo pacote legislativo
SEF:
 Eliminou o princípio das nacionalizações como princípio ordenador da
economia;
 Diminuiu o papel do planeamento;
 Suprimiu o objectivo do desenvolvimento da propriedade social;
 Foram retirados dos princípios fundamentais, as referencias à
construção de uma sociedade socialista;
 Mantendo-se tão só a referencia à democracia económica e o
aprofundamento da democracia participativa.
A revisão operada em 1992 veio permitir alterações significativas na ordem
económica. Completou a descarga ideológica socializante iniciada pelo SEF,
eliminou o princípio das nacionalizações como princípio ordenador da
economia, diminuiu o papel do planeamento e suprimiu o objectivo do
desenvolvimento da propriedade social. Foram retirados dos princípios
fundamentais as referências à construção de uma sociedade socialista.
Alargou as possibilidades de combinação de formas de apropriação e de
actuação, sobretudo, reforçou a iniciativa privada, ao aumentar o seu

12
Helena Prata Garrido Ferreira, ob. cit, pag. 57.
espaço de actuação, possibilitando o papel do mercado e reduzindo o papel
do plano.

A Constituição 2010, praticamente não traz nada de novo relativamente a


matéria económica, senão simplesmente, questões políticas.
A Revisão pontual da Constituição de 2021, alterou os artigos 14, 37, 100 e
104. Parece ter trouxe de volta o fenómeno das Nacionalizações no

3.3.– A Ordem Económica na Constituição

Artigos da constituição que versam sobre a actividade económica ou seja


onde encontramos o ordenamento essencial da actividade económica.

Ordem económica constitucional vs ordem económica.

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