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John Wesley
"Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é
imputada como justiça". (Romanos 4:5)
1. Como um pecador pode ser justificado diante de Deus, o Senhor e Juiz de todos,
não é uma questão de importância comum a todo filho do homem. Ela contém o alicerce de
toda nossa esperança, visto que, enquanto estamos em inimizade com Deus, não pode haver
paz verdadeira, nem alegria sólida, quer no tempo ou na eternidade. Que paz pode existir lá,
enquanto nosso próprio coração nos condena; e muito mais, Ele que é "maior do que nosso
coração, e sabe todas as coisas?". Que alegria sólida, seja neste mundo ou no vindouro,
enquanto "a ira de Deus habita sobre nós?".
2. E, ainda assim, quão pouco esta importante questão tem sido entendida! Que
noções confusas muitos têm com respeito a ela! Na verdade, não apenas confusas, mas
freqüentemente extremamente falsas; contrárias à verdade, como a luz da escuridão; noções
absolutamente inconsistentes com os oráculos de Deus, e com toda a analogia da fé. E desta
forma, errando, concernente ao próprio alicerce, eles não podem possivelmente construir
nelas; pelo menos, não "ouro, prata, ou pedras preciosas", que resistiriam, quando
testados, através do fogo; mas apenas "feno e restolho", que nem são aceitáveis para Deus,
nem de proveito para o homem.
Em Primeiro Lugar, eu vou mostrar qual o alicerce geral de toda esta doutrina da
justificação.
1. Na imagem de Deus o homem foi feito, santo como ele que o criou é santo;
misericordioso, como o Autor de tudo é misericordioso; perfeito, como seu Pai no céu é
perfeito. Como Deus é amor, então o homem, habitando no amor, habita em Deus, e Deus
no homem. Deus o fez para ser uma "imagem de sua própria eternidade"; um retrato
incorruptível do Deus da glória. Ele era, portanto, puro, como Deus é puro, de toda mancha
de pecado. Ele não conhecia o mal, de nenhum tipo ou grau, mas era interior e
exteriormente desprovido de pecado e imaculado. Ele "amou o Senhor seu Deus com todo
seu coração, e com toda sua mente, e alma e força".
2. Ao homem correto e perfeito, Deus deu a lei perfeita, para a qual ele requereu
completa e perfeita obediência. Ele requereu completa obediência em todos os pontos, e
isto para ser executado, sem qualquer interrupção, do momento em que o homem se tornou
uma alma vivente, até o momento que seu julgamento terminasse. Nenhuma redução fora
feita para quem não atingiu o objetivo, e proveu totalmente para toda boa palavra e obra.
3. Para a completa lei do amor que estava escrita em seu coração (contra a qual,
talvez, ele não poderia pecar diretamente), pareceu bom à soberana sabedoria de Deus,
adicionar uma lei concreta: "Tu não deverás comer do fruto da árvore que cresce no meio
do jardim"; anexando esta penalidade nela: "No dia em que comeres dela, tu certamente
morrerás".
7. Neste estado estivemos, mesmo toda a humanidade, quando "Deus assim salvou o
mundo; no que deu seu Unigênito Filho, para que não perecêssemos, mas tivéssemos a
vida eterna". Na plenitude do tempo, Ele foi feito Homem; um outro Líder comum da
humanidade; um segundo Pai geral e Representativo de toda a raça humana. E como tal, foi
que Ele "carregou nossas aflições". "O Senhor colocando sobre Ele as iniqüidades de nós
todos". Então, ele foi "ferido por nossas transgressões, e machucado por nossas
iniqüidades"."Ele fez de Sua alma uma oferta pelo pecado": Ele derramou seu sangue pelos
transgressores: Ele "carregou nossos pecados em seu próprio corpo no madeiro", para que,
através de suas chicotadas, pudéssemos ser curados: E, através desta oblação de si mesmo,
uma vez oferecida, ele redimiu a mim e toda a humanidade; tendo, por meio disto, "feito um
sacrifício e penitência completos, perfeitos e suficientes pelos pecados de todo o mundo".
II
3. É também muito mais fácil tomar por certo, do que provar de algum testemunho
bíblico claro, que a justificação é nos limpar da acusação trazida contra nós pela lei: De
qualquer forma, se esta maneira de falar, forçada e artificial, significar nem mais, nem
menos do que isto, que nós transgredimos a lei de Deus, e por meio disto merecemos a
condenação do inferno, Deus não impõe naqueles que são justificados a punição que eles
mereceriam.
4. Menos do que tudo, a justificação implica que Deus seja enganado com respeito
àqueles aos quais Ele justifica; que Ele pense que eles sejam, o que de fato eles não são;
que Ele os considera de uma maneira diferente do que são. De modo algum isto implica que
Deus julga concernente a nós, contrário à natureza real das coisas; que Ele nos considera
mais do que realmente somos, ou nos acredita mais retos, quando somos pecaminosos.
Certamente que não. O julgamento do todo sábio Deus é sempre de acordo com a verdade.
Nem pode isto consistir sempre com sua sabedoria infalível, pensar que eu sou inocente;
julgar que eu sou reto ou santo, porque outro é assim. Ele não pode mais, deste modo,
confundir-me com Cristo, do que com Davi ou Abraão. Que algum homem a quem Deus
deu entendimento, pese isto, sem preconceito; e que ele não possa deixar de perceber que
tal noção de justificação nem é reconciliável com a razão, nem com as Escrituras.
1. Mas esta é a terceira coisa a ser considerada, ou seja: Quem são aqueles que são
justificados? E o Apóstolo nos diz expressamente, os ímpios: "Ele (ou seja, Deus) justifica
o ímpio"; o ímpio de todo o tipo e grau; e ninguém mais, a não ser o ímpio. Como "aqueles
que são retos não necessitam de arrependimento", então, eles não necessitam de perdão.
Apenas os pecadores têm alguma oportunidade para o perdão: O pecado apenas é que
admita ser perdoado. Perdão, portanto, tem uma referência imediata com o pecado, e, neste
aspecto, com nada mais. É para com nossa "iniqüidade", que o Deus perdoador é
"misericordioso": É da nossa "iniqüidade", que Ele "não se lembra mais".
2. Isto parece não ser, afinal, considerado por aqueles que tão veementemente
afirmam que um homem deva ser santificado, ou seja, santo, antes que ele possa ser
justificado; especialmente, através de tais que afirmam que a santidade ou obediência
universal deva preceder a justificação. (A menos que eles queiram dizer aquela justificação,
do ultimo dia, que está totalmente fora da presente questão). Muito longe disto, que a
própria suposição não é apenas completamente impossível (porque onde não existe amor a
Deus, não existe santidade; e não existe amor a Deus, a não ser da consciência de seu amor
por nós), mas também grosseiramente, e intrinsecamente absurda, e contraditória em si
mesma. Porque não é um santo, mas um pecador que é perdoado, e sob a noção de um
pecador. Deus não justifica o devoto; não aqueles que já são santos, mas o ímpio. Em que
condição ele faz isto, será considerado rapidamente: mas o que quer que seja, ela não pode
ser santidade. Afirmar isto é dizer que o Cordeiro de Deus tira apenas aqueles pecados que
já foram tirados antes.
3. Então, o bom Pastor busca e salva apenas aqueles que já foram encontrados?
Não: Ele busca e salva aqueles que estão perdidos. Ele perdoa aqueles que necessitam de
sua misericórdia redentora. Ele salva da culpa do pecado (e, ao mesmo tempo, do poder);
pecadores de todos os tipos, de todos os graus: homens que, até então, eram totalmente
pecaminosos; nos quais o amor do Pai não estava: e, conseqüentemente, nos quais não
habitava coisa boa; nada bom ou verdadeiramente de temperamento cristão, -- mas todos os
tais que eram maus e abomináveis: o orgulho, ira, amor ao mundo – os frutos genuínos
daquela "mente carnal" que é "inimiga contra Deus".
4. Esses que estão doentes, cujo peso dos pecados é intolerável, são aqueles que
necessitam de Médico; esses que são culpados, e que gemem, sob a ira de Deus, são os que
precisam de perdão. Esses que "já" estão "condenados", não apenas por Deus, mas
também, através de suas próprias consciências, como por meio de milhares de testemunhas,
de todas as suas iniqüidades, tanto em pensamento, palavra e obra, clamam por Aquele que
"justifica o ímpio", através da redenção que está em Jesus; -- o incrédulo, e "aquele que não
pratica as boas obras"; que não pratica coisa alguma que seja boa, que seja
verdadeiramente virtuosa ou santa, mas apenas o que é mal continuamente, antes de ser
justificado. Porque seu coração é necessariamente, essencialmente mal, até que o amor a
Deus seja espalhado nele. E enquanto a árvore é corrupta, assim serão os frutos. "porque
uma árvore má não produz frutos bons".
5. Se for objetado: "Mas um homem antes que seja justificado, pode alimentar o
faminto, ou vestir o nu; e essas são boas obras"; a resposta é fácil: Ele pode realizar essas,
até mesmo antes que seja justificado; e essas são, de certa forma, "boas obras"; elas são,
estritamente falando, boas em si mesmas, ou boas aos olhos de Deus. Todas
verdadeiramente "boas obras" (para usar as palavras de nossa igreja) "sucedendo a
justificação"; e elas são, portanto, boas e "aceitáveis a Deus em Cristo", porque elas
"brotam de uma fé viva verdadeira". Por uma paridade de motivo, todas as "obras feitas
antes da justificação não são boas"; no sentido cristão; "visto que elas não brotam da fé em
Jesus Cristo"; (embora elas possam brotar do mesmo tipo de fé em Deus); "sim, antes,
porque aquelas que não são feitas como Deus tem desejado e ordenado que sejam feitas,
não duvidamos" (por mais estranho que possa parecer a alguns) "que elas tenham a
natureza do pecado".
6. Talvez, aqueles que duvidam disto não tenham considerado devidamente o peso
do motivo que é aqui afirmado; porque nenhuma obra feita antes da justificação poderá ser
verdadeira e propriamente boa. O argumento transcorre plenamente assim: --
• Nenhuma obra que não seja feita, como Deus deseja e ordena que seja feita,
é boa.
• Mas nenhuma obra feita antes da justificação é feita, como Deus deseja e
ordena a eles que seja feita.
• Portanto, nenhuma obra feita antes da justificação é boa.
IV
3. Eu não posso descrever a natureza desta fé, melhor do que nas palavras de nossa
própria igreja: "O único instrumento da salvação" (do qual a justificação é um ramo) "é a
fé; ou seja, a confiança e convicção verdadeiras de que Deus, tanto perdoou nossos
pecados, quanto nos aceitou novamente em Seu favor, pelos méritos da morte e paixão de
Cristo". -- Mas aqui nós devemos prestar atenção, que nós não hesitamos com Deus,
através de uma fé inconstante e indecisa: Porque Pedro fraquejou na fé, quando veio até
Jesus, por sobre as águas, ele correu o risco de afogar-se; assim nós, se ficarmos indecisos
ou em dúvida, é de se temer que possamos afundar como Pedro o fez; não na água, mas no
abismo sem fim do fogo do inferno". (Sermão sobre a Paixão)
"Portanto, tem uma fé segura e constante, não apenas aquela da morte de Cristo
que é acessível a todo o mundo, mas a de que Ele fez um completo e suficiente sacrifício
por 'ti'; uma perfeita limpeza de 'teus' pecados. De modo que tu possas dizer com o
Apóstolo, que Ele amou a 'ti', e deu a si mesmo por 'ti'. Porque isto é fazer Cristo 'teu', e
aplicar Seus méritos em 'ti mesmo'". (sermão sobre o Sacramento, Primeira Parte)
Agora, se sempre existiram tais instâncias, desde o começo do mundo (e não tem
sido milhares e milhares de vezes?), segue-se plenamente que a fé é, no sentido acima, a
única condição da justificação.
9. Tu, ímpio que ouves e lês estas palavras! Tu, pecador vil, desamparado,
miserável! Eu te comprometo, perante Deus, o Juiz de todos, a ires até Ele, com toda a tua
iniqüidade. Presta atenção, tu destróis tua própria alma, declarando, mais ou menos, tua
retidão. Vá, tão completamente pecaminoso, culpado, destruído, merecendo e caindo no
inferno; e tu, então, deverás encontrar favor aos olhos Dele, e saber que Ele justifica o
pecador. Como tal, tu serás trazido junto ao "sangue que borrifa", como um pecador
perdido, desamparado, e condenado. Assim, "olha para Jesus". Lá está "o Cordeiro de
Deus", que "tira teus pecados!". Não advoga obra alguma, retidão alguma que sejam tuas!
Nenhuma humildade, arrependimento, sinceridade! De modo algum. Isto seria, de fato,
negar o Senhor que te comprou. Não: Declara simplesmente, o sangue da promessa, da
redenção paga por tua alma orgulhosa, obstinada, pecadora. Quem és tu, que agora vês e
sentes tanto tua iniqüidade interior quanto exterior? Tu és o homem! Eu quero a ti para meu
Senhor! Eu "te" desafio a seres um filho de Deus, pela fé! O Senhor necessita de ti. Tu que
sentes que és exatamente adequado para o inferno, és exatamente adequado para promover
a glória Dele; a glória de Sua graça livre, justificando o pecaminoso, e aquele que não
praticou as boas obras. Ó vem rapidamente! Crê no Senhor Jesus; e tu, até mesmo tu, serás
reconciliado para Deus.