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Legislação Extravagante - Lei 13869/2019

Dos crimes e das penas - Arts. 9º a 12

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Legislação Extravagante
Lei 13869/2019 - Dos crimes e das penas - Arts. 9º a 12

Apresentação
Olá alunos,

Sou o Professor Francisco Ubirajara Camargo Fadel das áreas de Direito Penal,
Direito Processual Penal e Legislação Penal Especial. Tenho graduação em Direito pela UFPR,
com especialização em Ciências Criminais e pós-graduação em Direito Processual pelo IBEJ.
Leciono na graduação do curso de Direito, desde 2003, onde também atuei como coordenador
e coordenador adjunto durante quase quatro anos. Ministro aulas para cursos preparatórios
para concursos públicos, presenciais e online, desde 2011. Atuo também como advogado na
área criminal, inclusive Tribunal do Júri.

Sumário

DOS CRIMES E DAS PENAS.......................................................................................................................... 3

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Legislação Extravagante
Lei 13869/2019 - Dos crimes e das penas - Arts. 9º a 12

DOS CRIMES E DAS PENAS

Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais:
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoável, deixar de:
I. relaxar a prisão manifestamente ilegal;
II. substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória, quando
manifestamente cabível;
III. deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível.
O crime consiste no fato de a autoridade judicial decretar medida privativa de liberdade em de-
sacordo com as hipóteses previstas em lei.
As medidas de privação de liberdade previstas em lei e que podem ser objeto desta infração
são as seguintes:
• Prisão cautelar (prisão temporária, prisão preventiva);
• Prisão para cumprimento da execução provisória da pena;
• Prisão para cumprimento da execução definitiva da pena;
• Medida de segurança detentiva (internação) (art. 96, I, do CP);
• Semiliberdade (art. 120 do ECA);
• Internação (art. 121 do ECA);
• Internação psiquiátrica (art. 6º da Lei nº 10.216/2001).
Sujeito ativo: a autoridade judicial (Juiz, Desembargador, Ministro). Para alguns estudiosos o
verbo decretar tem o significado de “decidir”, “determinar”, “ordenar” e, desta maneira, entendem
que o legislador não quis se limitar à figura do magistrado, podendo ser sujeito ativo da infração o
policial, civil ou militar, o delegado de polícia, dentre outros;
Sujeito passivo: o Estado, bem como a pessoa que teve a sua liberdade privada.
Elemento subjetivo: vem a ser o dolo acrescido do elemento subjetivo especial (finalidade es-
pecífica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho
ou satisfação pessoal). Não há forma culposa.
Necessário atentar que a “manifesta desconformidade” exigida pelo texto do artigo significa
dizer total contrariedade ao texto legal.
Consumação: o crime se consuma com a decretação, ou seja, com a prolação da decisão deter-
minando a medida de privação da liberdade, ainda que ela não se consuma.
Trata-se, portanto, de crime formal, que não depende da produção de resultado naturalístico.
Desse modo, imagine que o juiz decreta a prisão mesmo sendo manifestamente descabida.
Antes que a providência seja cumprida, o indivíduo consegue do Tribunal uma ordem em habeas
corpus cassando a decisão de 1ª instância. Em tese, o crime estará consumado mesmo não tendo
havido a efetiva condução coercitiva.

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Pena: detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, ou seja, trata-se de infração de médio po-
tencial ofensivo, sendo cabível a suspensão condicional do processo. Como a pena é de detenção,
seu regime inicial de cumprimento, em regra, será o semiaberto.
Figuras equiparadas – parágrafo único
Os incisos I e II, do parágrafo único, do art. 9º, da Lei de Abuso de Autoridade, têm por objetivo
principal punir o magistrado que, dentro de prazo razoável, deixa de dar cumprimento adequado ao
disposto no parágrafo 1º, do art. 310 do CPP.
De acordo com o art. 310 do CPP, o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá,
fundamentadamente:
I. relaxar a prisão ilegal; ou
II. converter a prisão em flagrante em prisão preventiva, quando:
estiverem presentes os requisitos do art. 312 do CPP e se revelarem inadequadas ou insuficientes as me-
didas cautelares diversas da prisão; ou
III. conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
I – relaxar a prisão manifestamente ilegal: cabe ao magistrado, logo que verificar que a prisão é ilegal,
relaxá-la, logo, se deixar de relaxar a prisão ilegal o crime estará consumado.
II – substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória,
quando manifestamente cabível: aqui temos duas situações:
• deixar o magistrado de substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa: a prisão preventiva
é uma medida extrema e somente deve ser decretada (ou mantida) se não puder ser substituída por
nenhuma outra medida cautelar. Deste modo fica claro que a prisão processual é a última das medidas
cautelares a ser adotada e somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por
outra medida cautelar (art. 282, § 6º do CPP). O art. 319 do CPP prevê extensa lista de medida caute-
lares diversas da prisão.
• deixar o magistrado de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível: liberdade
provisória é uma medida de contracautela concedida pela autoridade judicial que, ao receber o auto de
prisão em flagrante, constata que a prisão efetuada foi legal, mas que não há motivos para se decretar
a prisão preventiva, motivo pelo qual o detido deverá ser solto, com ou sem a imposição de medidas
cautelares diversas.
• deixar de deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível: referida hipótese
legal tem alcance muito amplo, dando margem a interpretações diversas. Fato é que o habeas corpus
é um instituto muito utilizado, haja ou não prisão, exista ou não ação penal, podendo ser impetrado em
qualquer instância, respeitadas as normas legais.
Liminar em habeas corpus vem a ser a decisão judicial que concede o pedido formulado pelo
impetrante antes do julgamento final da medida.
O inciso III, do parágrafo único, do art. 9º, da Lei de Abuso de Autoridade, pune, em suma, a
demora no julgamento do habeas corpus.
Fato é que haverá grande dúvida e polêmica envolvendo este tipo penal pois não há um conceito
estabelecido de “prazo razoável”. Trata-se de conceito aberto que deverá ser analisado com base
nas peculiaridades do caso concreto.

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As hipóteses do parágrafo único do art. 9º trazem crimes omissivos, crime próprio e crime
omissivo próprio, não admitindo a forma tentada.
Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado manifestamente descabida ou sem prévia
intimação de comparecimento ao juízo:
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
A condução coercitiva consiste em capturar a testemunha, o perito, o ofendido, o investigado
ou o réu e levá-lo, ainda que contra a sua vontade, à presença de uma determinada autoridade para
que seja ouvido, identificado ou pratique outros atos de interesse da investigação ou da ação penal.
Pode ser decretada por magistrado, membro do Ministério Público, autoridade policial, membros
de Comissões Parlamentares de Inquérito.
O STF, recentemente, decidiu que não é válida a condução coercitiva do investigado ou do réu
para interrogatório no âmbito da investigação ou da ação penal.
O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte:
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que,
sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença.
O STF declarou que a expressão “para o interrogatório” prevista no art. 260 do CPP não foi re-
cepcionada pela Constituição Federal.
Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para interroga-
tório, tal conduta poderá dar margem:
a responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade;
a ilicitude das provas obtidas;
a responsabilidade civil do Estado.
STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 13 e 14/6/2018
(Info 906).

Estudo do art. 10
O tipo penal contempla duas hipóteses em que haverá abuso de autoridade na condução coercitiva:
• quando ela for manifestamente descabida; ou
• quando a autoridade judicial não der oportunidade para que a testemunha ou o investigado compareçam
espontaneamente ao juízo.
Cumpre notar que a primeira hipótese engloba a segunda, pois se a testemunha ou o investigado
não foram previamente intimados para comparecerem espontaneamente, essa condução coercitiva
torna-se abusiva, desproporcional, ou seja, é manifestamente descabida já que não houve recusa.
Sujeito ativo: podem cometer a infração magistrados, membros do Ministério Público, a autori-
dade policial, bem como integrantes de Comissões Parlamentares de Inquérito. Note que se o juiz
decretar a condução coercitiva do investigado quando da deflagração de operações policiais haverá
o cometimento da infração aqui analisada, pois o STF, através das ADPF’s 395 e 444 afirmou que
não cabe condução coercitiva nesta hipótese.

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Sujeito passivo: a Administração da Justiça, bem como a testemunha ou o investigado que


submetido ao constrangimento de ser objeto de condução coercitiva indevida. A “investigação” da
infração penal se prolonga durante toda a persecução criminal, que abarca tanto o inquérito policial
quanto a ação penal iniciada com o recebimento da denúncia. O tipo penal não abrange a condução
coercitiva de perito ou do ofendido.
Da intimação prévia: a intimação prévia da testemunha ou do investigado deve ser pessoal.
Elemento subjetivo: Dolo acrescido do elemento subjetivo especial (finalidade específica de
prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação
pessoal).
Consumação: o crime se consuma com a decretação, ou seja, com a prolação da decisão deter-
minando a condução coercitiva, ainda que ela não se consume.
Trata-se, portanto, de crime formal, que não depende da produção de resultado naturalístico.
O crime do art. 10 também é instantâneo, porque se consuma no momento em que o juiz decreta
a condução coercitiva.
É crime comissivo, não sendo possível a modalidade omissiva.
Pena: a pena é de detenção, o regime inicial mais gravoso possível é o semiaberto, ainda que o
sujeito seja reincidente.
A pena mínima é de 1 (um) ano, sendo possível a suspensão condicional do processo.
Competência: a competência para julgamento dependerá das funções desempenhadas pela
autoridade que determinou a condução coercitiva.
Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Sujeito ativo: o delegado de polícia é o autor dessa infração, e em regra ele não goza de foro por
prerrogativa de função. Deste modo, a infração será apurada no Juizado Especial Criminal.
Elemento normativo: a expressão “injustificadamente” exige uma valoração a ser feita pelo ma-
gistrado para ver se essa não comunicação possui algum fundamento.
Elemento subjetivo: é o dolo, consistente na vontade de deixar injustificadamente de comuni-
car imediatamente prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal, ou ainda deixar de
comunicar imediatamente a execução de prisão temporária preventiva à autoridade judiciária que
a decretou. Acrescente-se ao dolo do agente público o elemento subjetivo do injusto “com a fina-
lidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero
capricho ou satisfação pessoal.”
Este fim especial é necessário, caso contrário, não haverá dolo.
Crime omissivo: o delito em análise é omissivo e próprio.
O art. 12 é uma norma penal em branco, pois a Lei afirma que é crime deixar de comunicar in-
justificadamente a prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal. Logo, a norma exige
o complemento normativo para se aferir qual seria esse prazo. Na verdade, esse complemento se
dá pelo Código de Processo Penal que estabelece um prazo de 24 horas. Tem-se que se trata de

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uma norma penal em branco imprópria, em sentido amplo e homogênea, já que é outra lei que traz
o complemento.
Consumação: entende-se que o prazo legal é de 24 horas; após esse prazo, se consuma o abuso
de autoridade se presente o dolo específico.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
I. deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à autoridade judiciária
que a decretou;
II. deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontra à sua família
ou à pessoa por ela indicada;
Os dois incisos estão relacionados ao cumprimento de garantias constitucionais, ou seja, de que
a prisão deve ser comunicada imediatamente à autoridade judiciária, bem como à família do preso
ou à pessoa por ele indicada.
III. deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assinada pela autoridade,
com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas;
A nota de culpa traz o nome da autoridade policial que lavrou o auto de prisão em flagrante, quem
foi o condutor que levou o preso, quem são as testemunhas e qual foi o motivo da prisão.
O preso deve receber a nota de culpa no prazo de 24 horas, por isso trata-se também de um
crime a prazo.
Com a nova lei, o atraso na entrega da nota de culpa, mais que constrangimento ilegal, será
considerado abuso de poder.
IV. prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão preventiva, de medida
de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de
soltura imediatamente após recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial
ou legal.
O crime do inciso IV, diferente dos incisos anteriores e do caput, é um crime permanente, porque
a autoridade prolonga a execução da pena privativa de liberdade, deixando, sem motivo justo, de
executar o alvará de soltura ou de promover a soltura do preso.
Este inciso IV engloba também a hipótese em que o sujeito foi internado e submetido à medida
de segurança detentiva que é a internação em hospital de custódia.
O bem jurídico tutelado é a garantia individual fundamental de toda pessoa de ter sua prisão
comunicada imediatamente ao juiz e à sua família ou pessoa por ela indicada. Em outros termos,
tutela-se a garantia constitucional inserta no inc. LXII, do art. 5.º, da CF/1988.
Tendo em vista a pena cominada para o delito, este é considerado infração de menor potencial
ofensivo, sendo cabíveis a transação penal, bem como a suspensão condicional do processo.

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