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Isaías João Daniel

Etnoconhecimento do Uso e aplicação Medicinal de Gengibre (Zingiber officinale) da


População do Bairro Agostinho Neto-Chimoio

Licenciatura em Ensino de Biologia Com Habilitações em Gestão de Laboratório

Universidade Púnguè
Chimoio
2023
Isaías João Daniel

Etnoconhecimento do Uso e aplicação Medicinal de Gengibre (Zingiber officinale) da


População do Bairro Agostinho Neto-Chimoio

Projecto científico a ser apresentado na Faculdade de


Ciências Agrárias e Biológicas, para avaliação, sob a
orientação do PhD. Eduardo Mulima

Universidade Púnguè
Chimoio
2023
Índice
1.INTRODUÇÃO...........................................................................................................................1

1.1. Justificativas da escolha do tema.......................................................................................2

1.2. Problematização..................................................................................................................2

1.3. Hipóteses..............................................................................................................................3

1.3.1.Hipótese nula..................................................................................................................3

1.3.2.Hipótese alternativa......................................................................................................3

1.4. Objectivos............................................................................................................................3

1.4.1. Objectivo geral..............................................................................................................3

1.4.2. Objectivos específicos...................................................................................................4

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................................5

2.1. Conhecimento tradicional..................................................................................................5

2.2.Etnobiologia..........................................................................................................................6

2.3.Gengibre (Zingiber officinale)............................................................................................9

2.3.1.Caraterização botânica do gengibre............................................................................9

2.3.3. Origem e Distribuição................................................................................................10

2.3.4. Descrição Geral...........................................................................................................10

2.4.Composição do gengibre....................................................................................................10

3. METODOLOGIA DE PESQUISA........................................................................................12

3.1. Abordagem de pesquisa....................................................................................................12

3.1.1. Quanto aos objetivos da pesquisa.............................................................................12

3.1.2. Quanto à natureza da pesquisa.................................................................................12

3.1.3. Quanto à escolha do objeto de estudo.......................................................................12


3.1.4. Quanto à técnica de coleta de dados.........................................................................12

4.DELIMITAÇÃO DO TEMA...................................................................................................14

5.ENQUADRAMENTO DO TEMA..........................................................................................14

6.DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO.................................................................................14

7.ORÇAMENTO......................................................................................................................15

8.CRONOGRAMA..................................................................................................................15

9.Referencias Bibliográficas....................................................................................................16
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1.INTRODUÇÃO
A utilização de plantas medicinais para tratamento, cura e prevenção de doenças é uma
das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade. E com base na evolução
histórica do uso de plantas medicinais, a Organização Mundial de Saúde (OMS), em
1978, passou a reconhecer a fitoterapia como terapia alternativa de enfermidades
humanas e hoje a fitoterapia é considerada uma terapia complementar (Alvareng et al,
2017).
Uma dessas plantas muito utilizadas na medicina tradicional e que nos dias de hoje tem
vindo a ser muito procurada pelas suas propriedades é o Gengibre (Zingiber officinale),
que tem merecido atenção da indústria farmacêutica. Sendo que algumas de suas
propriedades farmacológicas já foram testadas e comprovadas, como, por exemplo, as
relacionadas ao tratamento de problemas gastrointestinais e suas ações antimicrobiana,
anti-inflamatória, diurética, antioxidante e também na diminuição e controle da glicemia
e do colesterol (Cutrim et al., 2019).
A noção dessas propriedades não é geralmente conhecida pelas comunidades, mas a
comunidade faz o uso e aplicação medicinal do gengibre de forma empírica e para a
transmissão deste conhecimento aplica-se o etnoconhecimento. O etnoconhecimento
pode ser definido como um conjunto de saberes e tradições adquiridos na vida cotidiana
de um povo ou comunidade local, transmitidos de forma dinâmica e mutável entre as
gerações, podendo assim passar por transformações e adaptações ao longo do tempo
(Diegues & Arruda, 2001). Este conceito de etnoconhecimento está presente no uso de
plantas medicinais, desde a escolha e obtenção da espécie, às formas de uso, receitas e
aplicação, sendo uma forma de conservação do conhecimento popular/tradicional.
2

1.1. Justificativas da escolha do tema


A manutenção do conhecimento tradicional ocorre principalmente pela oralidade, de
modo que quando perdido, dificilmente será recuperado. Então, evidencia-se a
importância de estudos relacionados ao etnoconhecimento e ao potencial fitoterápico de
espécies vegetais como uma importante ferramenta de registro e resgate deste
conhecimento, além da sua contribuição para as pesquisas farmacêuticas (Santos et al.,
2018).

O interesse de desenvolver esta pesquisa, deve-se principalmente pela ocorrência de


casos de doenças que a comunidade tem enfrentado como o caso da gripe, renite,
pneumonia, gastrite hipertensão e dentre outras doenças. E de acordo com as
informações vulgares sobre o poder terapêutico do gengibre despertou o interesse do
pesquisador a avaliar o conhecimento da população a cerca do uso medicinal do
Gengibre de modo a ajudar a promover a saúde pública através dos conhecimentos que
provenham da própria comunidade. E preservar este conhecimento para as futuras
gerações pois bem como realça DIEGUES & ARRUDA (2001), a perda do
conhecimento tradicional atrelado a perda da diversidade biológica influi
negactivamente na conservação dos recursos naturais para as futuras gerações.

1.2. Problematização
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 80% da população
africana usa a medicina tradicional para suprir as suas necessidades de saúde (Conde
et al., 2014). Em Moçambique as plantas medicinais constituem um valioso instrumento
da medicina tradicional, sendo largamente utilizadas nas zonas rurais como principal
fonte de medicamentos para os cuidados de saúde primários (Conde et al., 2014). Este
conhecimento não é de todas as pessoas nas comunidades rurais Moçambicanas e como
consequência, a maioria delas sofrem com doenças como a gastrite, gripes, cólicas
intestinais, hipertensão, hipotensão, Malária, cólera, diarreia, obesidade, renite
pneumonia e dentre outras doenças. E por vezes, por falta de método alternativo para o
tratamento dessas doenças deixam passar naturalmente e em outros casos o estado de
saúde.

Na africa, e em particular em Moçambique há muita ocorrência de casos de doenças,


como as que estão acima citadas, e geralmente o principal motivo de ocorrência e
3

frequência é a dificuldade de acesso à serviços convencionais de saúde. Das várias


doenças acima citadas, também são enfrentadas nas comunidades da cidade de Chimoio
incluindo no bairro Agostinho Neto que dista cerca de 6-7 km dos hospitais da cidade. E
para o tratamento destas doenças, de acordo com algumas pesquisas informais, alguns
moradores recorrem aos medicamentos convencionais, outros usam plantas medicinais
como tratamento alternativo, enquanto que outros não sabem e não fazem o seu uso.

Outros deixam as doenças passarem naturalmente devido a distância entre o Bairro


Agostinho Neto e os Hospitais da cidade (Eduardo Mondlane, Vila nova e 1 ⁰ de Maio e
provincial), por falta de medicamentos e por falta de conhecimento do uso medicinal
das plantas, e por vezes agravando o estado de saúde. As plantas medicinais são aquelas
que possuem compostos activos em sua composição com poder de aliviar ou curar
doenças em conformidades com tradição de uso por diferentes comunidades e culturas
(Lorenzi & Mato, 2008 citado por Penha, 2021).

Para beneficiar as diferentes comunidades Moçambicanas no acesso ao conhecimento


tradicional do uso medicinal do Gengibre, torna-se importante avaliar o conhecimento
da população do bairro Agostinho Neto para a dispersão do conhecimento sobre o uso e
aplicação medicinal do gengibre.

Perante o cenário acima referenciado, levanta-se a seguinte questão de partida:

“Que conhecimento a população de Agostinho Neto-Chimoio tem sobre a o uso e


aplicação medicinal do Gengibre?”.

1.3. Hipóteses
1.3.1.Hipótese nula
 A população do bairro Agostinho Neto conhece o uso e aplicação medicinal do
gengibre.

1.3.2.Hipótese alternativa
 A população do bairro Agostinho Neto não conhece uso e aplicação medicinal
do gengibre.
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1.4. Objectivos
1.4.1. Objectivo geral
 Avaliar o conhecimento da população do bairro Agostinho Neto-Chimoio sobre
o uso e aplicação medicinal do Gengibre.

1.4.2. Objectivos específicos


 Identificar as fontes de aquisição de conhecimento do uso medicinal de
Gengibre;

 Comparar a fiabilidade do uso medicinal do Gengibre no uso convencional e


tradicional;

 Descrever o modo de preparo, doenças que cura e frequência de uso do


Gengibre.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Aspectos conceituais

2.1. Conhecimento tradicional


A expressão “conhecimento tradicional” está impregnada de sentidos e, por se tratar de
termo ainda recente na literatura, apresenta várias denominações, embora a maioria se
mostre imprecisa, não havendo, portanto, um consenso entre os teóricos da área sobre
seu real significado (Eloy, 2014 citado por Santos et al., 2018),. Além de possuir
múltiplos conceitos, o conhecimento tradicional também é designado por vários termos,
que se associam em geral ao tipo de comunidade detentora, tais como: “Conhecimento
Local” (LK, Local Knowledge), “Conhecimento Ecológico Tradicional” (TEK,
Traditional Ecological Knowledge), “Conhecimento Indígena” (LK, Indigenous
Knowledge), “Conhecimento Ecológico e Sistemas de Manejo Tradicionais” (TEKMS,
Traditional Ecological Knowledge and Management Systems), “Conhecimento dos
Habitantes Rurais” (Rural Peoples Knowledge), “Conhecimento dos Produtores” (FK,
Farmers Knowledge) e “Conhecimento Comunitário” (Community Knowledge).
Entretanto, tais termos apesar de serem distintos abordam o mesmo significado.
Dos diversos campos dos conhecimentos tradicionais, os conhecimentos medicinais e
ambientais sobre as plantas medicinais têm instigado maior interesse nas diferentes
esferas da sociedade (Silva, 2015). E esses conhecimentos possibilitam a busca por
novos princípios ativos para a produção e desenvolvimento de medicamentos, o registro
de conhecimento que poderiam ser perdidos com o tempo e estudos botânicos e
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ecológicos das espécies utilizadas, valorizando e fortalecendo a difusão dos diversos


tipos de conhecimentos para a sociedade.

O homem é e sempre foi dependente do uso dos recursos vegetais para a sua
sobrevivência. Essa utilização vai desde as necessidades mais básicas, tais como
alimento e medicina, até as finalidades mágicas, ritualísticas e simbólicas. Entretanto,
ele não é só dependente, mas também manipulador de paisagens, e responsável por uma
parte da coevolução com as plantas (Boscolo, 2013). Também argumenta que os
homens são dependentes dos vegetais como recursos imprescindíveis a sua
sobrevivência, e que as diferentes culturas apresentam um conhecimento tradicional
quanto à utilização de plantas para os mais diversos fins. Percebendo-se, então, a atual
relação entre a sociedade e a natureza, considera-se de grande relevância a compreensão
e a documentação de como as comunidades locais compreendem o ambiente a sua volta
e, por meio de seu conhecimento secular, de como interagem com o mesmo, pois, uma
vez perdido, o saber oriundo das populações locais se torna irrecuperável (Albuquerque
& Andrade, 2002). Da mesma forma, GUARIM & MORAIS (2003) advertem que os
recursos naturais, caso extintos, não mais se encontrarão disponíveis para as gerações
posteriores.

O conhecimento tradicional pode ser compreendido como o conjunto de conhecimentos


e saber-fazer sobre o meio natural, bem como a respeito do mundo sobrenatural,
repassado oralmente ao longo das gerações, onde somente pode ser analisado e
interpretado de maneira correta considerando a situação cultural em que é originado
(Diegues & Arruda, 2001).
Determinados autores inferem que o conhecimento tradicional pode ser complemento
do conhecimento científico ao prover experiências práticas pela vivência nos
ecossistemas e, assim, responder a mudanças nestes ecossistemas (Hanazaki, 2002).

Segundo SILVA (2015), relação entre o conhecimento popular e o conhecimento


científico pode ser enquadrada dentro da visão dialética que prevê a transformação e a
educação das ideias. O conhecimento popular, por um lado, associado com plantas
mágicas e religiosas, leva a questionamentos na tentativa de se dar uma compreensão
mais racional ao método terapêutico. Por outro lado, o conhecimento científico
estabelece uma relação racional entre o uso das plantas medicinais e a cura das doenças.
A síntese entre esses dois pontos de vista é alcançada quando os pesquisadores, em
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busca de novas fontes de substâncias biologicamente ativas, vão até a população para
eventuais, levantamentos etnobotânicos e, a partir destes, realizarem pesquisas
laboratoriais. Assim é que as comunidades locais e seus conhecimentos, construídos
historicamente em relação às plantas medicinais, podem ser valorizados num projeto
que, por exemplo, resgate esse conhecimento e acrescente formas avançadas de
integração com outros mercados porque o povo nunca abandonou as plantas como
medicinais.

2.2.Etnobiologia
Etnobiologia é essencialmente o estudo do conhecimento e das conceituações
desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia. Em outras palavras, é o
estudo do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a
determinados ambientes. Neste sentido, a etnobiologia relaciona-se com a ecologia
humana, mas enfatiza as categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos em
estudo (Posey, 1987 citado por Timm, 2012).
Dentro da etnobiologia, vários campos podem ser definidos, partindo da visão
compartimentada da ciência sobre o mundo natural, tais como a etnozoologia, a
etnobotânica, a etnoecologia, a etnoentomologia e assim por diante, da mesma forma
como se pode estudar diferentes povos a partir de uma abordagem dos conhecimentos
medicinais e farmacêuticos que possuem etc. (Albuquerque, 2005).

De acordo com ALCORN (1995), citado por SILVA (2015) A etnobotânica objetiva
analisar as interações planta/homem coexistentes nos ecossistemas dinâmicos, com
elementos de significação social e cultural, aliando simultaneamente, aspectos culturais
e ambientais, visto que analisa a inter-relação entre as pessoas e as plantas do seu
entorno.

A etnobotânica é a ciência que estuda o uso das plantas pelos povos. O termo foi
utilizado pela primeira vez em 1895 por John William Harshberger, botânico americano
especializado em geografia vegetal, ecologia e patologia vegetal, que apontou as várias
maneiras pelas quais a etnobotânica poderia ser útil a investigação científica. Seu
caráter versátil possibilita o desenvolvimento de estudos em várias direções,
associando-os a fatores culturais e ambientais, e aos conhecimentos gerados sobre as
plantas e a utilização destas (Maciel et al, 2002).
8

Para ALBUQUERQUE (2005), a etnobiologia refere-se ao estudo do conhecimento e


das conceituações desenvolvidas por qualquer cultura sobre o mundo vivo e os
acontecimentos biológicos. Sendo este um campo de vasta magnitude, a etnobotânica
insere-se no domínio mais amplo da etnobiologia.

Segundo POSEY (1987) citado por RIBEIROA (2015) Define Etnobiologia como
estudo do saber e conceituações acerca da biologia; através da ecologia humana,
enfatiza categorias e conceitos cognitivos em um determinado grupo de estudo. Existe a
necessidade de uma visão interdisciplinar que relacione os mundos natural, simbólico e
social estabelecidos por diferentes culturas.

Informações etnobotânicas sobre as sociedades humanas, passadas e presentes, e suas


associações ecológicas, genéticas, evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas,
remetem à importância de conservação das espécies vegetais e da cultura humana. É
opinião dos cientistas, a necessidade de integração entre elas, como papel pertinente no
desenvolvimento dos povos “Soares et al., 2015”. Congregada com a botânica e a
antropologia, a etnobotânica é uma ciência interdisciplinar que reúne conhecimentos
farmacológicos, médicos, ecológicos e de linguística que juntos fornecem uma linha de
pesquisa distintas ao estudo da etnobotânica. Para muitos estudiosos, as pesquisas
etnobotânicas contribuem em particular para o desenvolvimento planejado da região
onde são realizadas, tendo o homem como um importante agente de mudanças tanto na
vegetação, como na evolução desta, uma vez que, sempre foi dependente do meio
botânico para a sua sobrevivência, manipulando-o para suprir suas necessidades mais
urgentes, mas também, seu uso na magia e medicina, no uso empírico ou simbólico, nos
ritos gerenciadores de sua vida e mantenedores de sua ordem social.

A etnobotânica é a ciência que estuda as plantas e suas interações entre populações


humanas, assim como investiga novos recursos vegetais. Este ramo da ciência desponta
como o campo interdisciplinar que compreende o estudo e a interpretação do
conhecimento, a significação cultural, o manejo e os usos tradicionais dos elementos da
flora (Cabellero, 1979 citado por Ribeiroa, 2015).

Ressalta-se que a etnobotânica vem, cada vez mais, nos últimos anos, despertando o
interesse de pesquisadores, pois suas implicações ideológicas, ecológicas, biológicas e
fisiológicas dão uma relevância expressiva ao seu crescente progresso metodológico e
conceitual (Jorge & Morais, 2003).
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Atualmente de acordo com HAMILTON et al. (2003) citado por TIMM (2012), é uma
disciplina que estimula o resgate do conhecimento tradicional, a preservação da flora e o
desenvolvimento dentro da sustentabilidade, notadamente, nos países tropicais e
subtropicais, cujas populações das áreas rurais dependem em parte das plantas e dos
seus produtos para se manterem. Portanto, tal disciplina constitui um elo entre o saber
popular e o científico.

Informações acerca do conhecimento ecológico local, registradas por meio de estudos


etnobotânicos, têm um papel significante no que se refere ao resgate e à valorização da
cultura local, de modo que estes estudos representam a oportunidade de integrar os
saberes edificados por uma população tradicional aos conhecimentos acadêmicos sobre
os fenômenos e processos naturais (Melo et al., 2008), contribuindo, desta maneira,
para investigações interdisciplinares, priorizando as espécies e o conhecimento
tradicional “Oliveira, 2010”.

2.3.Gengibre (Zingiber officinale)


Gengibre (Zingiber officinale) foi primeiramente descrito, em 1807, pelo botânico
inglês William Roscoe (1753-1813). Está inserido na família Zingiberaceae, grupo
tropical especialmente abundante na região Indo-Malásia que engloba mais de 1200
espécies de plantas incluídas em 53 gêneros. O gênero Zingiber inclui aproximadamente
85 espécies. O nome deste gênero, Zingiber, deriva de uma palavra em sânscrito que
significa em forma de “chifre” em referência às protuberâncias na superfície do rizoma
(Grandis et al., 2015).

2.3.1.Caraterização botânica do gengibre


O gengibre é uma planta perene herbácea cultivada anualmente, constituída por um
caule subterrâneo espesso com raízes fibrosas que emergem dos ramos dos rizomas após
cerca de 6 semanas da sua plantação. O crescimento vegetativo é maximizado até ao
início da floração, entre Setembro e Outubro, em que ocorre o início da maturação dos
rizomas e o aumento do desenvolvimento do tecido fibroso. O gengibre pertence à
família das Zingiberaceae e é provavelmente originário da Índia, onde é cultivado a
nível comercial. A família Zingiberaceae diferencia-se de outras famílias da ordem
Zingiberales pelas suas propriedades aromáticas, sendo considerada a maior família da
ordem Zingiberales, com 53 géneros e mais de 1200 espécies. Considerada como uma
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especiaria ou como uma erva fresca na cozinha, é também usada na medicina tradicional
para tratar várias doenças (Soares et al., 2015).

2.3.2.Sistemática do gengibre

Reino: Pantae

Filo: Magnoliophyta

Classe: Liliopsida

Ordem: Zingiberales

Família: Zingiberaceae Lindl., 1835,

Género: Zingiber P. Moller, 1754

Espécie: Zingiber officinale Roscoe, 1807

2.3.3. Origem e Distribuição


O gengibre é uma erva rizomática originária do sudoeste da Ásia e do Arquipélago
Malaio, onde a sua cultura tem grande importância, não somente para o consumo local
da população indígena, como também para a exportação, destinada a países ocidentais
que o consomem em grandes quantidades (Elpo & Negrelle, 2004).

2.3.4. Descrição Geral


O gengibre é uma planta herbácea, perene, de rizoma articulado, septante, carnoso,
revestido de epiderme rugosa e de cor pardacenta. Na parte superior, possui pequenos
tubérculos anelados, resultantes da base de antigos caules aéreos. Na parte inferior,
possui muitas raízes adventícias, cilíndricas, carnosas e de cor brancacentas. Os caules
são eretos, formados por muitas folhas dísticas, sendo as basilares simples com bainhas
glabras e estriadas no sentido longitudinal. As bainhas superiores são amplexicaules na
base e terminam com um limbo, linear e lanceolado. As inflorescências com espigas
ovóides ou elipsóides formam-se no ápice dos pedúnculos que saem do rizoma,
revestidos por escamas invaginantes e imbricadas, obtusas, decrescentes da base para o
ápice. As flores apresentam-se zigomorfas, hermafroditas, com coloração amarelo-
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esverdeado. As brácteas florais orbiculares possuem cálice e corola denteados que


envolvem uma só flor. O fruto é uma cápsula que se abre em três lóculos e abriga
sementes azuladas com albúmen carnoso (Soares et al., 2015).

2.4.Composição do gengibre
A composição do gengibre pode variar de acordo com a localização geográfica em que
foi cultivado, mas em geral o gengibre tem como componentes principais óleos
essenciais (de 1% a 3% do composto) principalmente de sesquiterpenos, são
responsáveis pelo cheiro marcante e característico do gengibre, e pela ação terapêutica
antimicrobiana que é característica do rizoma fresco, além de outros constituintes como
d-canfeno, felandreno, zingibereno, cineol, citral, borneal, gingerol e resinas. O
gengibre é também uma importante fonte de açúcares, proteínas, vitaminas do complexo
B e vitamina C, minerais, hidratos de carbono, gorduras, ceras, oleoresinas extraíveis e a
enzima zingibaína que colaboram para o bom funcionamento do organismo humano e
na prevenção de doenças (Silva et al, 2017).

A composição química do gengibre pode sofrer alterações de acordo com o local onde é
cultivado, mesmo sendo da mesma espécie. Entre os compostos voláteis destacam-se os
hidrocarbonetos sesquiterpénicos, como, o zingibereno (35%), curcumeno (18%),
farneseno (10%) que são responsáveis pelos efeitos fitoterápicos. Já entre os compostos
não voláteis temos os gingeróis, soagóis e paradóis, além do zingerone causador do
sabor picante. O outro componente é o 6-gingerol, ele impede a proliferação de células
cancerígenas induzindo a apoptose das mesmas assim como o ciclo normal das células
G1. A principal propriedade farmacológica atribuída a essa planta é no combate de
problemas gastrointestinais, como náuseas, vômitos, dores de estômago, diarreia,
flatulência e úlceras gástricas, causadas principalmente em situações de gravidez, em
casos de quimioterapia e ainda no pós-operatório (Conceição, 2013).

Estudos mostram que o gengibre possui ainda ações terapêuticas como, antimicrobiana,
anti-inflamatória, antipirética, diurética, antioxidante, hepatoprotetor, diminuição e
controle da glicemia e do colesterol (Palatty et al, 2013).

O gengibre é responsável pela inibição de diversos agentes inflamatórios como as


prostaglandinas, os tromboxanos e os leucotrienos “Silva et al, 2017”.
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Tabela1: Composição nutricional de Gengibre

Tabel
a2: Composição vitamínica do gengibre

3. METODOLOGIA DE PESQUISA
3.1. Abordagem de pesquisa
3.1.1. Quanto aos objetivos da pesquisa
Será uma pesquisa descritiva-exploratória onde irá investigar e compreender em
profundidade a aplicação, a percepção, intuição, descrições e interpretações do Uso
Medicinal de Gengibre, usando subjectividade de diferentes indivíduos em sua total
riqueza, com fidelidade na forma de registo.

3.1.2. Quanto à natureza da pesquisa

Será uma pesquisa quantitativa que envolve o numero dos intrevistados e qualitativa
com dados não-metricos, se preocupando em aprofundar o conhecimento dos moradores
sobre o uso medicinal de Gengibre.
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3.1.3. Quanto à escolha do objeto de estudo

Será um estudo de casos onde ira explorar o conhecimento da população sobre o uso
medicinal de Gengibre para ajudar as comunidades a compreender a aplicação
medicinal desta planta.

3.1.4. Quanto à técnica de coleta de dados


a) Entrevista

Será uma conversa realizada pessoalmente pelo pesquisador junto ao entrevistado com
base em questionários, para se obter informações sobre o uso medicinal Gengibre
“Cervo & Bervian, 2002”. A entrevista será estruturada e semi-estruturada as quais
ajudarão o pesquisador para a coleta de dados.

b) Amostragem
A amostragem será probabilística onde cada elemento da população do bairro
Agostinho Neto poderá ser selecionado para compor a amostra e terá uma chance
conhecida e diferente de zero. Também farão parte da amostra, os enfermeiros do
hospital da Vila Nova, 1⁰ de Maio e Eduardo Mondlane).

Será uma amostragem probabilística aleatória simples onde existirá uma igual
probabilidade, de cada elemento da população ser escolhido (Malhotra, 2001).

O tamanho da amostra será de 200 pessoas, onde serão entrevistados diferentes grupos
do bairro Agostinho Neto sendo jovens, adultos, idosos e médico tradicionais. A
amostra dos enfermeiros do hospital da Vila nova, 1⁰ de Maio e Eduardo Mondlane será
de três enfermeiros por cada hospital.
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4.DELIMITAÇÃO DO TEMA
O presente trabalho intitulado “Etnoconhecimento do Uso e aplicação Medicinal de
Gengibre da População no Bairro Agostinho Neto-Chimoio” na província de Manica irá
decorrer num período de 3 meses (Março- Maio). O público-alvo para esta pesquisa
serão jovens, adultos, idosos, médico tradicional do Bairro de Agostinho Neto pois a
partir da camada jovem geralmente já tem a capacidade de transmitir os seus
conhecimento e habilidades e cada uma dessas faixas podem ter seu conhecimento e
habilidades diferenciados por isso a inclusão de todos.

Também farão parte, os enfermeiros do hospital da Vila nova, Provincial, 1 ⁰ de Maio e


Eduardo Mondlane pois são os hospitais considerados próximos do bairro em estudo. E
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os enfermeiros ajudarão a identificar as doenças que a comunidade vem queixando nos


últimos 5 anos (com a ajuda dos relatórios), relacionar as doenças que podem ser
tratadas ou aliviadas por gengibre e mencionar os medicamentos convencionais usadas
para as tais doenças para que no final o pesquisador relacione as propriedades dos
medicamentos convencionais e as propriedades fitoterápicas do gengibre.

5.ENQUADRAMENTO DO TEMA
O presente tema “Etnoconhecimento do Uso Medicinal de Gengibre da População do
Bairro Agostinho Neto-Chimoio” enquadra-se no plano curricular do curso de
licenciatura em ensino de biologia com habilitações em gestão de laboratório, bem
como outras áreas relacionadas, que são:

Botânica: desempenha a função importante de reunir informações acerca de todos os


possíveis usos de plantas.

Educação ambiental e saúde pública: ajuda nesta área a promover a consciência


ambiental da população para conservação e valorização da planta gengibre devido o seu
poder terapêutico. Também ajuda as diferentes comunidades na aquisição do
conhecimento das diferentes culturas sobre o uso medicinal do gengibre e assim
adquirindo novos métodos de conservação da saúde.

Antropologia: visto que a antropologia estuda as diferentes culturas, a etnobotânica tem


contribuído não só para resgatar conhecimento tradicional que está em processo de se
perder pelo choque com a cultura dominante, mas também resgatar os próprios valores
das culturas com que entra em contato, (https://pt.wikipedia.org/wiki/Etnobotânica,
acessado em 2023).

Ecologia: a Etnobotânica contribui para o conhecimento da biodiversidade das florestas


tropicais, através do registo e resgate dos hábitos e usos de vários povos que possuem
estreito vínculo com os recursos da flora, (Agostinho, sd).

Na Etnofármacologia: aliando informações adquiridas junto a usuários da flora


medicinal (comunidades e especialistas tradicionais),com estudos químicos e
farmacológicos. Sales et all, 2015),
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6.DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


O estudo será desenvolvido no Bairro Agostinho-Neto, na Cidade de Chimoio, na
Província de Manica, onde são realizadas actividades como: Agricultura, comercio,
pastorícia, sendo a Agricultura a base de sustento para a maioria da população. A
Cidade de Chimoio tem predominância do clima quente e temperado. O Bairro
Agostinho-Neto está rodeado de quintas, fazendas, Instituto politécnicos Domingos
Thaimo, HCB, e estas infra-estruturas por sua vez geram muita atração que culmina na
urbanização do bairro.

7.ORÇAMENTO

Designação Quantidade Preço unitário Preço total (MT)

Nota de entrevista 1 130 130

Caderno 2 100 200

Esferográficas 3 15 45

Impressão do 500 3 1500


questionário (por
página)

Impressão da 50 3 150
monografia (por
página)

Encadernação da 50 45 90
Monografia

Passagem para o 5 (ida e volta) 15 75


local de estudo

TOTAL 2160
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8.CRONOGRAMA

Actividades Meses

1 Março X

2 Abril X

3 Maio X
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9.REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 AGOSTINHO A. B. (sd). ETNOBOTÂNICA: CONHECIMENTOS
TRADICIONAL E CIENTÍFICO.
 ALBUQUERQUE, U. P.; ANDRADE, L. H. C. Conhecimento botânico
tradicional e conservação em uma área de caatinga no estado de Pernambuco.
Brasil, 2002.
 ALBUQUERQUE, U. P. Introdução à Etnobotânica. 2. ed. Rio de Janeiro:
Interciência. Brasil, 2005.
 ALVARENG, Ferreira de Caroline. Uso de plantas medicinais para o
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