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Isaías João Daniel

Etnoconhecimento do Uso Medicinal de Gengibre (Zingiber officinale) da População do


Bairro Agostinho Neto-Chimoio

Licenciatura em Ensino de Biologia Com Habilitações em Gestão de Laboratório

Universidade Púnguè
Chimoio
2022
Isaías João Daniel

Etnoconhecimento do Uso Medicinal de Gengibre (Zingiber officinale) da População do


Bairro Agostinho Neto-Chimoio

Projecto científico a ser apresentado na Faculdade de


Ciências Agrárias e Biológicas, para avaliação, sob a
orientação do PhD. Eduardo Mulima

Universidade Púnguè
Chimoio
2022
Índice
1.Introdução ................................................................................................................................................ 1

1.1. Justificativas da escolha do tema ................................................................................................... 2

1.2. Problematização ............................................................................................................................... 2


1.3. Hipóteses ........................................................................................................................................... 3
1.3.1.Hipótese nula .............................................................................................................................. 3
1.3.2.Hipótese alternativa ................................................................................................................... 3
1.4. Objectivos ......................................................................................................................................... 3
1.4.1.Objectivo geral ........................................................................................................................... 3
1.4.2.Objectivos específicos ................................................................................................................ 4
2.Fundamentação teórica ........................................................................................................................... 5

2.1. Conhecimento tradicional ............................................................................................................... 5


2.2.Etnobiologia ....................................................................................................................................... 6
2.3.Gengibre (Zingiber officinale) ......................................................................................................... 9
2.3.1.Caraterização botânica do gengibre ......................................................................................... 9
2.3.3. Origem e Distribuição ............................................................................................................. 10
2.3.4. Descrição Geral ....................................................................................................................... 10
2.4.Composição do gengibre................................................................................................................. 10
3.Metodologia de pesquisa........................................................................................................................ 12

3.1. Abordagem de pesquisa ................................................................................................................. 12


4.Delimitação do tema .............................................................................................................................. 14

5.Enquadramento do tema ....................................................................................................................... 14

6.Descrição da área de estudo .................................................................................................................. 14

7.Orçamento .......................................................................................................................................... 15
8.Cronograma........................................................................................................................................ 15
9.Referencias Bibliográficas ................................................................................................................. 16
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1.Introdução
A utilização de plantas medicinais para tratamento, cura e prevenção de doenças é uma
das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade, e com base na evolução
histórica do uso de plantas medicinais, a Organização Mundial de Saúde (OMS), em
1978, passou a reconhecer a fitoterapia como terapia alternativa de enfermidades
humanas e hoje a fitoterapia é considerada uma terapia complementar (Alvareng et al,
2017).
Uma dessas plantas muito utilizadas na medicina tradicional e que nos dias de hoje tem
vindo a ser muito procurada pelas suas propriedades é o Gengibre (Zingiber officinale),
ele tem merecido atenção da indústria farmacêutica, sendo que algumas de suas
propriedades farmacológicas já foram testadas e comprovadas, como, por exemplo, as
relacionadas ao tratamento de problemas gastrointestinais e suas ações antimicrobiana,
anti-inflamatória, diurética, antioxidante e também na diminuição e controle da glicemia
e do colesterol (Cutrim et al., 2019).
O etnoconhecimento pode ser definido como um conjunto de saberes e tradições
adquiridos na vida cotidiana de um povo ou comunidade local, transmitidos de forma
dinâmica e mutável entre as gerações, podendo assim passar por transformações e
adaptações ao longo do tempo (Diegues & Arruda, 2001). Este conceito de
etnoconhecimento está presente no uso de plantas medicinais, desde a escolha e obtenção
da espécie, às formas de uso, receitas e aplicação, sendo uma forma de conservação do
conhecimento popular/tradicional.
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1.1.Justificativas da escolha do tema


A manutenção do conhecimento tradicional ocorre principalmente pela oralidade, de
modo que quando perdido, dificilmente será recuperado. Contudo, evidencia-se a
importância de estudos relacionados ao etnoconhecimento e ao potencial fitoterápico de
espécies vegetais como uma importante ferramenta de registro e resgate deste
conhecimento, além da sua contribuição para as pesquisas farmacêuticas (Santos et al.,
2018).

O interesse de desenvolver esta pesquisa, deve-se a preocupação do pesquisador com as


doenças que a comunidade tem enfrentado como a gripe, renite, pneumonia, gastrite
hipertensão e dentre outras doenças. E de acordo com as informações vulgares sobre o
poder terapêutico do gengibre despertou o interesse do pesquisador a avaliar o
conhecimento da população a cerca do uso medicinal do Gengibre, ajudar a promover a
saúde pública através dos conhecimentos que provenham da própria comunidade,
contribuir para o desenvolvimento da Ciência farmacêutica em união com a comunidade
bem como preservar este conhecimento para as futuras gerações pois bem como realça
DIEGUES & ARRUDA (2001), a perda do conhecimento tradicional atrelado a perda da
diversidade biológica influi negactivamente na conservação dos recursos naturais para as
futuras gerações.

1.2. Problematização
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 80% da população
africana usa a medicina tradicional para suprir as suas necessidades de saúde,
em Moçambique as plantas medicinais constituem um valioso instrumento da medicina
tradicional, sendo largamente utilizadas nas zonas rurais como principal fonte de
medicamentos para os cuidados de saúde primários (Conde et al., 2014). Mas nem todas
as pessoas nas comunidades rurais Moçambicanas sabem fazer o uso das plantas
medicinais e ou tem acesso a medicina convencional, e como consequência, a maioria
delas sofrem com doenças como a gastrite, gripes, cólicas intestinais, hipertensão,
hipotensão, Malária, diarreia, obesidade, renite pneumonia e dentre outras doenças. E por
vezes, por falta de método alternativo para o tratamento dessas doenças deixam passar
naturalmente e por vezes chega-se ao agravamento.

Muitos bairros da cidade de Chimoio incluindo o bairro Agostinho Neto vem enfrentando
muitas das doenças acima citadas, e para o tratamento destas doenças alguns moradores
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recorrem aos medicamentos convencionais, outros usam plantas medicinais como


tratamento alternativo, enquanto que outros não sabem e não fazem o seu uso. Outros
deixam as doenças passarem naturalmente e por vezes chega-se ao agravamento devido
a distância de cerca de 6-7 km entre o Bairro Agostinho Neto e os Hospitais (Eduardo
Mondlane, Vila nova e 1⁰ de Maio), por falta de medicamentos e também por falta de
conhecimento do uso medicinal das plantas. Pois as plantas medicinais são aquelas que
possuem compostos activos em sua composição com poder de aliviar ou curar doenças
em conformidades com tradição de uso por diferentes comunidades e culturas (Lorenzi
& Mato, 2008 citado por Penha, 2021).

Para beneficiar as diferentes comunidades Moçambicanas e do mundo no acesso ao


conhecimento tradicional do uso medicinal do Gengibre, torna-se importante avaliar o
conhecimento da população do bairro Agostinho Neto para a dispersão do mesmo.

Perante o cenário acima referenciado, levanta-se a seguinte questão de partida:

“Que conhecimento a população de Agostinho Neto-Chimoio tem sobre a aplicação


medicinal do Gengibre?”.

1.3. Hipóteses
1.3.1.Hipótese nula
➢ A população do bairro Agostinho Neto conhece a aplicação medicinal do
gengibre.

1.3.2.Hipótese alternativa
➢ A população do bairro Agostinho Neto não conhece a aplicação medicinal do
gengibre.

1.4. Objectivos
1.4.1.Objectivo geral
➢ Avaliar o conhecimento da população do bairro Agostinho Neto-Chimoio sobre a
aplicação medicinal do Gengibre.
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1.4.2.Objectivos específicos
➢ Descrever o modo de preparo, doenças que cura e frequência de uso do Gengibre;

➢ Identificar as fontes de aquisição de conhecimento do uso medicinal de Gengibre.

➢ Comparar a fiabilidade do uso medicinal do Gengibre no uso convencional e


tradicional
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2.Fundamentação teórica
Aspectos conceituais

2.1. Conhecimento tradicional


A expressão “conhecimento tradicional” está impregnada de sentidos e, por se tratar de
termo ainda recente na literatura, apresenta várias denominações, embora a maioria se
mostre imprecisa, não havendo, portanto, um consenso entre os teóricos da área sobre seu
real significado (Eloy, 2014 citado por Santos et al., 2018),. Além de possuir múltiplos
conceitos, o conhecimento tradicional também é designado por vários termos, que se
associam em geral ao tipo de comunidade detentora, tais como: “Conhecimento Local”
(LK, Local Knowledge), “Conhecimento Ecológico Tradicional” (TEK, Traditional
Ecological Knowledge), “Conhecimento Indígena” (LK, Indigenous Knowledge),
“Conhecimento Ecológico e Sistemas de Manejo Tradicionais” (TEKMS, Traditional
Ecological Knowledge and Management Systems), “Conhecimento dos Habitantes
Rurais” (Rural Peoples Knowledge), “Conhecimento dos Produtores” (FK, Farmers
Knowledge) e “Conhecimento Comunitário” (Community Knowledge). Entretanto, tais
termos apesar de serem distintos abordam o mesmo significado.
Dos diversos campos dos conhecimentos tradicionais, os conhecimentos medicinais e
ambientais sobre as plantas medicinais têm instigado maior interesse nas diferentes
esferas da sociedade (Silva, 2015). E esses conhecimentos possibilitam a busca por novos
princípios ativos para a produção e desenvolvimento de medicamentos, o registro de
conhecimento que poderiam ser perdidos com o tempo e estudos botânicos e ecológicos
das espécies utilizadas, valorizando e fortalecendo a difusão dos diversos tipos de
conhecimentos para a sociedade.

O homem é e sempre foi dependente do uso dos recursos vegetais para a sua
sobrevivência. Essa utilização vai desde as necessidades mais básicas, tais como alimento
e medicina, até as finalidades mágicas, ritualísticas e simbólicas. Entretanto, ele não é só
dependente, mas também manipulador de paisagens, e responsável por uma parte da
coevolução com as plantas (Boscolo, 2013). Também argumenta que os homens são
dependentes dos vegetais como recursos imprescindíveis a sua sobrevivência, e que as
diferentes culturas apresentam um conhecimento tradicional quanto à utilização de
plantas para os mais diversos fins. Percebendo-se, então, a atual relação entre a sociedade
e a natureza, considera-se de grande relevância a compreensão e a documentação de como
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as comunidades locais compreendem o ambiente a sua volta e, por meio de seu


conhecimento secular, de como interagem com o mesmo, pois, uma vez perdido, o saber
oriundo das populações locais se torna irrecuperável (Albuquerque & Andrade, 2002).
Da mesma forma, GUARIM & MORAIS (2003) advertem que os recursos naturais, caso
extintos, não mais se encontrarão disponíveis para as gerações posteriores.

O conhecimento tradicional pode ser compreendido como o conjunto de conhecimentos


e saber-fazer sobre o meio natural, bem como a respeito do mundo sobrenatural,
repassado oralmente ao longo das gerações, onde somente pode ser analisado e
interpretado de maneira correta considerando a situação cultural em que é originado
(Diegues & Arruda, 2001).
Determinados autores inferem que o conhecimento tradicional pode ser complemento do
conhecimento científico ao prover experiências práticas pela vivência nos ecossistemas
e, assim, responder a mudanças nestes ecossistemas (Hanazaki, 2002).

Segundo SILVA (2015), relação entre o conhecimento popular e o conhecimento


científico pode ser enquadrada dentro da visão dialética que prevê a transformação e a
educação das ideias. O conhecimento popular, por um lado, associado com plantas
mágicas e religiosas, leva a questionamentos na tentativa de se dar uma compreensão
mais racional ao método terapêutico. Por outro lado, o conhecimento científico estabelece
uma relação racional entre o uso das plantas medicinais e a cura das doenças. A síntese
entre esses dois pontos de vista é alcançada quando os pesquisadores, em busca de novas
fontes de substâncias biologicamente ativas, vão até a população para eventuais,
levantamentos etnobotânicos e, a partir destes, realizarem pesquisas laboratoriais. Assim
é que as comunidades locais e seus conhecimentos, construídos historicamente em relação
às plantas medicinais, podem ser valorizados num projeto que, por exemplo, resgate esse
conhecimento e acrescente formas avançadas de integração com outros mercados porque
o povo nunca abandonou as plantas como medicinais.

2.2.Etnobiologia
Etnobiologia é essencialmente o estudo do conhecimento e das conceituações
desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia. Em outras palavras, é o
estudo do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a
determinados ambientes. Neste sentido, a etnobiologia relaciona-se com a ecologia
humana, mas enfatiza as categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos em
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estudo (Posey, 1987 citado por Timm, 2012).


Dentro da etnobiologia, vários campos podem ser definidos, partindo da visão
compartimentada da ciência sobre o mundo natural, tais como a etnozoologia, a
etnobotânica, a etnoecologia, a etnoentomologia e assim por diante, da mesma forma
como se pode estudar diferentes povos a partir de uma abordagem dos conhecimentos
medicinais e farmacêuticos que possuem etc. (Albuquerque, 2005).

De acordo com ALCORN (1995), citado por SILVA (2015) A etnobotânica objetiva
analisar as interações planta/homem coexistentes nos ecossistemas dinâmicos, com
elementos de significação social e cultural, aliando simultaneamente, aspectos culturais e
ambientais, visto que analisa a inter-relação entre as pessoas e as plantas do seu entorno.

A etnobotânica é a ciência que estuda o uso das plantas pelos povos. O termo foi utilizado
pela primeira vez em 1895 por John William Harshberger, botânico americano
especializado em geografia vegetal, ecologia e patologia vegetal, que apontou as várias
maneiras pelas quais a etnobotânica poderia ser útil a investigação científica. Seu caráter
versátil possibilita o desenvolvimento de estudos em várias direções, associando-os a
fatores culturais e ambientais, e aos conhecimentos gerados sobre as plantas e a utilização
destas (Maciel et al, 2002).

Para ALBUQUERQUE (2005), a etnobiologia refere-se ao estudo do conhecimento e das


conceituações desenvolvidas por qualquer cultura sobre o mundo vivo e os
acontecimentos biológicos. Sendo este um campo de vasta magnitude, a etnobotânica
insere-se no domínio mais amplo da etnobiologia.

Segundo POSEY (1987) citado por RIBEIROA (2015) Define Etnobiologia como estudo
do saber e conceituações acerca da biologia; através da ecologia humana, enfatiza
categorias e conceitos cognitivos em um determinado grupo de estudo. Existe a
necessidade de uma visão interdisciplinar que relacione os mundos natural, simbólico e
social estabelecidos por diferentes culturas.

Informações etnobotânicas sobre as sociedades humanas, passadas e presentes, e suas


associações ecológicas, genéticas, evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas,
remetem à importância de conservação das espécies vegetais e da cultura humana. É
opinião dos cientistas, a necessidade de integração entre elas, como papel pertinente no
desenvolvimento dos povos “Soares et al., 2015”. Congregada com a botânica e a
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antropologia, a etnobotânica é uma ciência interdisciplinar que reúne conhecimentos


farmacológicos, médicos, ecológicos e de linguística que juntos fornecem uma linha de
pesquisa distintas ao estudo da etnobotânica. Para muitos estudiosos, as pesquisas
etnobotânicas contribuem em particular para o desenvolvimento planejado da região onde
são realizadas, tendo o homem como um importante agente de mudanças tanto na
vegetação, como na evolução desta, uma vez que, sempre foi dependente do meio
botânico para a sua sobrevivência, manipulando-o para suprir suas necessidades mais
urgentes, mas também, seu uso na magia e medicina, no uso empírico ou simbólico, nos
ritos gerenciadores de sua vida e mantenedores de sua ordem social.

A etnobotânica é a ciência que estuda as plantas e suas interações entre populações


humanas, assim como investiga novos recursos vegetais. Este ramo da ciência desponta
como o campo interdisciplinar que compreende o estudo e a interpretação do
conhecimento, a significação cultural, o manejo e os usos tradicionais dos elementos da
flora (Cabellero, 1979 citado por Ribeiroa, 2015).

Ressalta-se que a etnobotânica vem, cada vez mais, nos últimos anos, despertando o
interesse de pesquisadores, pois suas implicações ideológicas, ecológicas, biológicas e
fisiológicas dão uma relevância expressiva ao seu crescente progresso metodológico e
conceitual (Jorge & Morais, 2003).

Atualmente de acordo com HAMILTON et al. (2003) citado por TIMM (2012), é uma
disciplina que estimula o resgate do conhecimento tradicional, a preservação da flora e o
desenvolvimento dentro da sustentabilidade, notadamente, nos países tropicais e
subtropicais, cujas populações das áreas rurais dependem em parte das plantas e dos seus
produtos para se manterem. Portanto, tal disciplina constitui um elo entre o saber popular
e o científico.

Informações acerca do conhecimento ecológico local, registradas por meio de estudos


etnobotânicos, têm um papel significante no que se refere ao resgate e à valorização da
cultura local, de modo que estes estudos representam a oportunidade de integrar os
saberes edificados por uma população tradicional aos conhecimentos acadêmicos sobre
os fenômenos e processos naturais (Melo et al., 2008), contribuindo, desta maneira, para
investigações interdisciplinares, priorizando as espécies e o conhecimento tradicional
“Oliveira, 2010”.
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2.3.Gengibre (Zingiber officinale)


Gengibre (Zingiber officinale) foi primeiramente descrito, em 1807, pelo botânico inglês
William Roscoe (1753-1813). Está inserido na família Zingiberaceae, grupo tropical
especialmente abundante na região Indo-Malásia que engloba mais de 1200 espécies de
plantas incluídas em 53 gêneros. O gênero Zingiber inclui aproximadamente 85 espécies.
O nome deste gênero, Zingiber, deriva de uma palavra em sânscrito que significa em
forma de “chifre” em referência às protuberâncias na superfície do rizoma (Grandis et al.,
2015).

2.3.1.Caraterização botânica do gengibre


O gengibre é uma planta perene herbácea cultivada anualmente, constituída por um caule
subterrâneo espesso com raízes fibrosas que emergem dos ramos dos rizomas após cerca
de 6 semanas da sua plantação. O crescimento vegetativo é maximizado até ao início da
floração, entre Setembro e Outubro, em que ocorre o início da maturação dos rizomas e
o aumento do desenvolvimento do tecido fibroso. O gengibre pertence à família das
Zingiberaceae e é provavelmente originário da Índia, onde é cultivado a nível comercial.
A família Zingiberaceae diferencia-se de outras famílias da ordem Zingiberales pelas suas
propriedades aromáticas, sendo considerada a maior família da ordem Zingiberales, com
53 géneros e mais de 1200 espécies. Considerada como uma especiaria ou como uma erva
fresca na cozinha, é também usada na medicina tradicional para tratar várias doenças
(Soares et al., 2015).

2.3.2.Sistemática do gengibre

Reino: Pantae
Filo: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Zingiberales
Família: Zingiberaceae Lindl., 1835,
Género: Zingiber P. Moller, 1754
Espécie: Zingiber officinale Roscoe, 1807
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2.3.3. Origem e Distribuição


O gengibre é uma erva rizomática originária do sudoeste da Ásia e do Arquipélago
Malaio, onde a sua cultura tem grande importância, não somente para o consumo local da
população indígena, como também para a exportação, destinada a países ocidentais que
o consomem em grandes quantidades (Elpo & Negrelle, 2004).

2.3.4. Descrição Geral


O gengibre é uma planta herbácea, perene, de rizoma articulado, septante, carnoso,
revestido de epiderme rugosa e de cor pardacenta. Na parte superior, possui pequenos
tubérculos anelados, resultantes da base de antigos caules aéreos. Na parte inferior, possui
muitas raízes adventícias, cilíndricas, carnosas e de cor brancacentas. Os caules são
eretos, formados por muitas folhas dísticas, sendo as basilares simples com bainhas
glabras e estriadas no sentido longitudinal. As bainhas superiores são amplexicaules na
base e terminam com um limbo, linear e lanceolado. As inflorescências com espigas
ovóides ou elipsóides formam-se no ápice dos pedúnculos que saem do rizoma, revestidos
por escamas invaginantes e imbricadas, obtusas, decrescentes da base para o ápice. As
flores apresentam-se zigomorfas, hermafroditas, com coloração amarelo-esverdeado. As
brácteas florais orbiculares possuem cálice e corola denteados que envolvem uma só flor.
O fruto é uma cápsula que se abre em três lóculos e abriga sementes azuladas com
albúmen carnoso (Soares et al., 2015).

2.4.Composição do gengibre
A composição do gengibre pode variar de acordo com a localização geográfica em que
foi cultivado, mas em geral o gengibre tem como componentes principais óleos essenciais
(de 1% a 3% do composto) principalmente de sesquiterpenos, são responsáveis pelo
cheiro marcante e característico do gengibre, e pela ação terapêutica antimicrobiana que
é característica do rizoma fresco, além de outros constituintes como d-canfeno,
felandreno, zingibereno, cineol, citral, borneal, gingerol e resinas. O gengibre é também
uma importante fonte de açúcares, proteínas, vitaminas do complexo B e vitamina C,
minerais, hidratos de carbono, gorduras, ceras, oleoresinas extraíveis e a enzima
zingibaína que colaboram para o bom funcionamento do organismo humano e na
prevenção de doenças (Silva et al, 2017).

A composição química do gengibre pode sofrer alterações de acordo com o local onde é
cultivado, mesmo sendo da mesma espécie. Entre os compostos voláteis destacam-se os
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hidrocarbonetos sesquiterpénicos, como, o zingibereno (35%), curcumeno (18%),


farneseno (10%) que são responsáveis pelos efeitos fitoterápicos. Já entre os compostos
não voláteis temos os gingeróis, soagóis e paradóis, além do zingerone causador do sabor
picante. O outro componente é o 6-gingerol, ele impede a proliferação de células
cancerígenas induzindo a apoptose das mesmas assim como o ciclo normal das células
G1. A principal propriedade farmacológica atribuída a essa planta é no combate de
problemas gastrointestinais, como náuseas, vômitos, dores de estômago, diarreia,
flatulência e úlceras gástricas, causadas principalmente em situações de gravidez, em
casos de quimioterapia e ainda no pós-operatório (Conceição, 2013).

Estudos mostram que o gengibre possui ainda ações terapêuticas como, antimicrobiana,
anti-inflamatória, antipirética, diurética, antioxidante, hepatoprotetor, diminuição e
controle da glicemia e do colesterol (Palatty et al, 2013).

O gengibre é responsável pela inibição de diversos agentes inflamatórios como as


prostaglandinas, os tromboxanos e os leucotrienos “Silva et al, 2017”.

Tabela1: Composição nutricional de Gengibre

Tabela2: Composição vitamínica do gengibre


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3.Metodologia de pesquisa
3.1. Abordagem de pesquisa
Quanto aos objetivos da pesquisa será uma pesquisa descritiva-exploratória onde irá
se investigar e compreender em profundidade a aplicação, a percepção, intuição,
descrições e interpretações do Uso Medicinal de Gengibre usando subjectividade de
diferentes indivíduos em sua total riqueza, com fidelidade na forma de registo.

Quanto à natureza da pesquisa será uma pesquisa qualitativa pois os dados serao não-
metricos e somente se preocupará em aprofundar o conhecimento dos moradores do
bairro agostinho Neto no uso medicinal de Gengibre.

Quanto à escolha do objeto de estudo será um estudo de casos onde ira explorar o
conhecimento da população sobre o uso medicinal de Gengibre para ajudar a comunidade
a compreender a aplicação medicinal desta planta.

Quanto à técnica de coleta de dados

Entrevista

Será uma conversa realizada face a face pelo pesquisador junto ao entrevistado com base
em formulários padronizados, para se obter informações sobre o uso medicinal Gengibre
“Cervo & Bervian, 2002”. A entrevista será estruturada onde as questões e a ordem em que
elas comparecem são exatamente as mesmas para todos os respondentes, também vai ser
semi-estruturada onde a forma de perguntar (a estrutura da pergunta) e a ordem em que
as questões são feitas irão variar de acordo com as características de determinados
entrevistados (Oliveira, 2011).

Para participar na entrevista terá como requisito inicial ser morador/a do bairro Agostinho
Neto que faça uso, cultivo ou venda do gengibre, que esteja disposto a participar da
pesquisa, que seja jovem, adulto, idoso, medico tradicional ou enfermeiro do hospital de
Vila Nova e 1⁰ de Maio e Eduardo Mondlane.
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Amostragem

A amostragem será probabilística onde cada elemento da população (que esteja na faixa
de jovem, adulto, idoso, médico tradicional ou enfermeiro do hospital Vila Nova, 1⁰ de
Maio e Eduardo Mondlane) poderá ser selecionado para compor a amostra e terá uma
chance conhecida e diferente de zero. E será Aleatória simples onde existirá uma igual
probabilidade, de cada elemento da população ser escolhido (Malhotra, 2001). A amostra
será de 200 pessoas que inclui jovem, adulto, idoso, médico tradicional enfermeiro do
hospital Tambara 2, 1⁰ de Maio e Eduardo Mondlane.
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4.Delimitação do tema
O presente trabalho intitulado “ Etnoconhecimento do Uso Medicinal de Gengibre da
População no Bairro Agostinho Neto-Chimoio” na província de Manica ira decorrer num
período de 4 meses (Dezembro-Fevereiro), o público-alvo para esta pesquisa serão jovem,
adulto, idoso, médico tradicional enfermeiro do hospital Tambara 2, 1⁰ de Maio e Eduardo
Mondlane do género masculino e feminino.

5.Enquadramento do tema
O presente tema “Etnoconhecimento do Uso Medicinal de Gengibre pela População no
Bairro Agostinho Neto-Chimoio” enquadra-se no plano curricular do curso de
licenciatura de ensino de biologia nas Cadeiras de Botânica, Educação ambiental e saúde
pública, na medicina quando se trata de patologia etnofármacologia, e na sociologia.

6.Descrição da área de estudo


O estudo será desenvolvido no Bairro Agostinho-Neto, na Cidade de Chimoio, na
Província de Manica, onde são realizadas actividades como: Agricultura, comercio,
pastorícia, sendo a Agricultura a base de sustento para a maioria da população. A Cidade
de Chimoio tem predominância do clima quente e temperado. O Bairro Agostinho-Neto
está rodeado de quintas, fazendas, Instituto politécnicos Domingos Thaimo, HCB, e estas
infra-estruturas por sua vez geram muita atração que culmina na urbanização do bairro.
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7.Orçamento

Designação Quantidade Preço unitário Preço total

Nota de entrevista 1 130 130

Caderno 2 100 200

Impressão 100 3 300

Encadernação 45 2 90

Passagem 5 15 75

8.Cronograma

Actividades Meses

1 Novembro

2 Dezembro X

3 Janeiro X

4 Fevereiro X
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9.Referencias Bibliográficas
➢ ALBUQUERQUE, U. P.; ANDRADE, L. H. C. Conhecimento botânico
tradicional e conservação em uma área de caatinga no estado de Pernambuco.
Brasil, 2002.
➢ ALBUQUERQUE, U. P. Introdução à Etnobotânica. 2. ed. Rio de Janeiro:
Interciência. Brasil, 2005.
➢ ALVARENG, Ferreira de Caroline. Uso de plantas medicinais para o tratamento
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➢ BOSCOLO, O. H.. Para comer, para beber ou para remédio? Categorias de uso
múltiplo em Etnobotânica. Brasil, Edição Especial Ciências da Saúde e
Biológicas, 2013.
➢ CASSAS, F et al. Canteiros de plantas medicinais, condimentares e tóxicas como
ferramenta de promoção à saúde no jardim botânico de Diadema. Brasil. Revista
Ciência em Extensão, 2016.
➢ CARVALHO, D. S. Preservação dos saberes tradicionais de plantas medicinais
no assentamento. Brasil, 2019.
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contribuições para o conhecimento da flora medicinal de Moçambique. História,
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e Rosmarinusofficinalis (Alecrim). Revista Virtual de Química, 2019.
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officinale ROSCOE: ASPECTOS BOTÂNICOS E ECOLÓGICOS. Brasil, 2004.
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Gengibre (Zingiber officinale Roscoe) e do Maracujá Amarelo (Passiflora edulis
Sims). Brasil, Rev. de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, 2015.

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