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Conhecimento

1º O que entendes por epistemologia? A Epistemologia é o Ramo da filosofia que


procura responder ao desafio cético que não é possível conhecer, investiga se o
conhecimento (proposicional) é possível, se as crenças estão justificadas.

2- Apresente uma formulação do problema de definição do conhecimento? Justifique


a sua pertinência filosófica?
O que é o conhecimento? Quais as condições suficientes e necessárias para definir que
há conhecimento? É importante para a filosofia definir o conceito de conhecimento,
para podermos dizer que temos conhecimento, que sabemos, ou não. Para isso tem de
se definir as condições necessárias e suficientes para a existência do conhecimento.
Crença, verdadeira e justificada são as condições necessárias e cumulativamente são
suficientes para haver conhecimento, segundo a teoria CVJ.

Diferentes sentidos de conhecer:


 Saber-que ou conhecimento proposicional: saber que se expressa em
pensamentos que são portadores de valor de verdade. (factos ou verdades).
Exemplo: Sei que o lince-ibérico é uma espécie protegida.

 Conhecimento por contacto: conhecimento que implica estar ou ter estado em


contacto direto com o objeto (coisas ou lugares). Exemplo: Conheço o centro
histórico do Porto, porque já lá estive.

 Saber-como ou conhecimento por aptidão: saber relacionado com aptidões ou


habilidades intelectuais, físicas ou práticas (saber fazer). Exemplo: Sei dançar.

DEFINIÇÃO TRADICIONAL DO CONHECIMENTO:


 Desde Platão que define conhecimento (Conhecimento proposicional) como
sendo crença verdadeira justificada – teoria CVJ ou definição tripartida.
Segundo esta teoria são necessários 3 requisitos para haver conhecimento.

1)Crença e conhecimento:

 Se alguém sabe que uma preposição é verdadeira então tem de acreditar que é
verdadeira – todo o conhecimento tem, por isso, de ser crença.
 Crença (representação, ideia ou convicção) é uma condição necessária para o
conhecimento, mas não é uma condição suficiente.

“Não há conhecimento sem crença, mas pode haver crença sem conhecimento”
Por exemplo: S acredita que o lince ibérico é uma ave.
É uma crença, mas não é conhecimento porque o lince ibérico é um mamífero, é uma
crença falsa.
A crença pode ser verdadeira ou falsa.
2)Verdade e conhecimento:
 Para haver conhecimento é necessário que a nossa crença seja verdadeira.
 É redundante falar em conhecimento verdadeiro, do mesmo modo que é
errado dizer que existe conhecimento falso, porque todo o conhecimento é
crença verdadeira.
 A verdade é uma condição necessária para haver conhecimento, mas não é
uma condição suficiente.

Por exemplo: um apostador de corridas de cavalos tenta apostar no cavalo vencedor,


nas vezes que o cavalo ganha, teve sorte. Acertou por acaso, não tem justificação para
a sua crença. A crença que o cavalo vai ganhar é verdadeira, mas não é conhecimento.
É uma crença verdadeira não justificada.

3)Justificação e conhecimento:
 Para haver conhecimento têm de existir provas que sustentem essa crença
verdadeira.
 Uma crença verdadeira injustificada não constitui conhecimento, também uma
crença falsa justificada não é conhecimento.
 A justificação é condição necessária para o conhecimento, mas não é uma
condição suficiente.

Conclusão: De acordo com a teoria CVJ há 3 elementos epistémicos básicos para que
alguém possa dizer que sabe e conhece – crença, verdade e justificação. As 3 em
conjunto(cumulativas) são suficientes para dizermos que alguém sabe ou conhece.

Há conhecimento (S sabe que P) se, e somente se:


S acreditar que P.
P for verdadeira.
S tiver justificação para acreditar que P.
Contraexemplos de Gettier:
 Para Gettier, ainda que, um individuo possa ter uma crença verdadeira
justificada pode não ter conhecimento. Estas 3 condições são necessárias, mas
podem não ser suficientes.
 Demonstrou através de contraexemplos que as 3 condições defendidas não são
suficientes para existir conhecimento.

Contraexemplos:
1)O jogo de Alemanha e Inglaterra está a dar na TV no café da minha rua,
Ouço muita gente a bater palmas e acredito que a Inglaterra acabou de marcar e de
facto marcou. A minha crença é verdadeira e também justificada porque ouvi os
aplausos.
No entanto, os aplausos vinham de um bar em frente onde estava a decorrer um
concurso de karaoke. A crença é verdadeira, mas foi sorte, foi justificada
acidentalmente, logo não é conhecimento. É uma crença, verdadeira e justificada, mas
não é conhecimento.

2) Estou a olhar pela janela da sala de aulas e vejo uma vaca no pátio da escola. No
entanto o que estou a ver é um carrinho de compras do supermercado disfarçado de
vaca para ser usado no carnaval. No entanto, por trás do carrinho está mesmo uma
vaca que fugiu de um quintal ao lado, mas que eu não consigo ver. Eu tenho uma
crença verdadeira, por sorte, que é justificada acidentalmente, logo não é
conhecimento.

3) No filme da Star Wars, os rebeldes estão encurralados, e em frente à única saída


está um exército inimigo. O chefe dos rebeldes vê no lado oposto dessa saída o herói
Luke skywalker e acredita que ele entrou por ali e que deve haver uma saída ali. E de
facto havia ali uma saída. Na verdade Luke Skywalker não estava lá foi apenas uma
imagem projetada. Temos uma crença verdadeira que foi justificada por acidente, mas
não é conhecimento.

 É necessário encontrar uma quarta condição para determinar o que é


conhecimento, mas Gettier não diz qual é a quarta condição.
Ceticismo
Ceticismo: É uma corrente filosófica que nega, total ou parcialmente, a
possibilidade do conhecimento.
Põe em causa a justificação das nossas crenças. Temos crenças e algumas são
verdadeiras, mas saber se uma crença é conhecimento, se está justificada, está fora
das nossas possibilidades, nós não conseguimos. Logo, não temos conhecimento.
Suspendemos os nossos juízos em relação à verdade e falsidade, ou seja, não
sabemos se alguma coisa é verdade ou falsidade. Não sabemos nada.

Ceticismo Localizado (moderado): não podemos ter conhecimento sobre certas


categorias de factos (do futuro, de Deus, das outras mentes etc)
Ceticismo Global (radical): (ceticismo pirrónico ou pirronismo): Não podemos saber o
que quer que seja acerca do mundo. Nenhuma das nossas crenças está
suficientemente justificada para ser conhecimento.
Argumento do ceticismo

Se S sabe que P, então não é possível que S esteja enganado em relação a P.


É possível que S esteja enganado acerca de P.
Logo, S não sabe que P.

Modus Tollens
A B B .ˑ. A
Por exemplo: Sabemos que mudou a hora esta noite, olhamos para o relógio e
achamos que está atrasado uma hora. Se sabemos que o relógio está uma hora
atrasado, então não é possível estarmos enganados.
Segundo o ceticismo há boas razões para estarmos enganados: alguém pode ter
acertado o relógio sem nós sabermos ou afinal a hora só mudava no fim de semana
seguinte. Logo a crença pode ser objeto de dúvida. O sujeito cognoscente (o sujeito
que conhece) pode não estar em condições de afirmar que o relógio (objeto
cognoscível- que pode ser conhecido) está atrasado.
Representação fenomenológica do conhecimento
Sujeito Objeto

Cognoscente Cognoscível
Apreendemos as
Características do objeto
Representação mental
Tal como Gettier os defensores do ceticismo não questionam que para haver
conhecimento tem de existir crença verdadeira justificada. Eles concordam, mas:
 Gettier dizia que faltava uma 4ª condição.
 Os defensores do Ceticismo - Duvidam é da justificação das nossas crenças.
Nenhuma crença está suficientemente justificada, nenhuma crença é imune à
dúvida.

Argumentos a favor do ceticismo:


1º Argumento da regressão infinita
Para uma crença se tornar conhecimento ela tem de ser justificada. A própria
justificação também é uma crença, logo também necessita de justificação e assim
sucessivamente. Cria-se assim uma regressão infinita na justificação das nossas
crenças pois a cadeia não tem fim.
Por exemplo: O restaurante indiano da minha rua não está a servir o pão indiano
“puri”(crença A) esta crença é justificada por estarmos no Ramadão (crença B) e na
minha crença o cozinheiro não trabalha no Ramadão (crença C).Como é que sei que
estamos no ramadão? Porque no calendário diz que estamos no ramadão.(crença D)
Assim temos 3 alternativas quando pretendemos justificar uma crença por intermédio
de outras crenças:

Petição de princípio: é uma falácia informal -estamos a justificar a Crença A com a


Crença A.
Como nenhuma destas 3 alternativas resolve a questão logo nenhuma das nossas
crenças está justificada e logo não existe conhecimento.
Chama-se a esta situação Trilema de Münchhausen ou Trilema de Fries ou Trilema de
Agripa
Nota: o Barão de Münchhausen contava as suas aventuras de forma exagerada, numa
delas contou que ficou atolado num pântano com o seu cavalo e que se salvou porque
puxou-se a si próprio com o seu cavalo pelos seus cabelos.

Conclusão: “S não sabe que P porque nenhuma das suas crenças está justificada”
Se as nossas crenças não estão justificadas, não há conhecimento.

2º Argumento da ilusão dos sentidos (VISÃO AUDIÇÃO, TATO, PALADAR,OLFATO)


Habitualmente, nós confiamos nos nossos sentidos, mas, por vezes, eles enganam-nos.
Exemplo de ilusões:
 Às vezes parece que reconhecemos um amigo à distância, e descobrimos
depois que estamos a acenar a um desconhecido.
 Um lápis parcialmente submerso em água pode parecer curvo.
 Uma maçã pode ter um sabor amargo se acabámos de comer algo muito doce;
 Os nossos pés dentro de água parecem maiores.

Temos dois tipos de realismo;

1. Realismo direto ou ingénuo ou do senso comum : a maioria das pessoas


acredita que o mundo exterior existe e é real, há pessoas, casas, arvores etc e
esse mundo existe fora das nossas mentes e é mais ou menos como nós o
vemos e sentimos/percecionamos.
Pintura de Odeith parece que tem 3 dimensões, é uma ilusão.
2. Realismo indireto ou critico
Os objetos existem independentemente das nossas mentes e continuam a existir
mesmo que ninguém os esteja a ver, mas não são exatamente como nós os
percecionamos/ vemos.
Temos a ilusão (quando o mundo não é como percecionamos) e a alucinação (quando
vemos coisas que não estão lá, exemplo ver água se estivermos muitos dias no deserto)

Conclusão:
O argumento da ilusão dos sentidos afirma que, porque os nossos sentidos nos
enganam por vezes, nunca podemos ter a certeza, que não nos estão a enganar num
dado momento, podem-nos levar à ilusão e ao erro.
Assim as crenças justificadas por intermediários percetuais (sentidos) não estão
justificadas.

3º Argumento do sonho
Chuang Tzu (filósofo chinês) sonhou que era uma borboleta a voar alegremente.
Depois de acordar, ele questionou se era um homem que teria acabado de sonhar que
era uma borboleta, ou se era uma borboleta que teria começado a sonhar que era um
homem.
 As ilusões dos sonhos parecem ser tão credíveis como a informação que
recebemos quando estamos acordados.
 As experiências sensoriais que sentimos nos sonhos, são idênticas as que temos
quando estamos acordados. Se não é possível distinguir o sono da vigília
(acordado) então existe a possibilidade de engano.

Conclusão: o argumento do sonho permite concluir que não sabemos seja o que for
com base nos nossos sentidos (experiências sensoriais)

4º Argumento do cérebro numa cuba


Um cientista maluco poderia remover o cérebro de uma pessoa enquanto ela dorme
(tu por ex), deixá-lo num recipiente, num líquido que lhe dê nutrientes, e ligar os seus
neurónios a um supercomputador que lhes forneça impulsos elétricos idênticos aos
que o cérebro normalmente recebe. A pessoa a quem o cérebro pertence quando
acorda tem a ilusão de que tudo está perfeitamente normal, parece haver pessoas,
objetos, paredes, ruas, etc; mas realmente tudo isto é o resultado de impulsos
elétricos do computador para os terminais nervosos do cérebro.
A vítima do cientista maluco pode mexer o seu braço(ilusório), em direção ao manual
de filosofia também ele ilusório.

Conclusão: Como é que nós sabemos que o nosso cérebro não está numa cuba?
Parece que não sabemos o que quer que seja, nem a existência do nosso corpo, nem
do mundo.

Se S sabe P, então S sabe que não é um cérebro numa cuba.


S não sabe que não é um cérebro numa cuba.
Logo, S não sabe P

Quais são as objeções ao ceticismo?


O ceticismo é autorrefutante (refuta-se /contesta-se a sim próprio) – poderá alguém
afirmar ter conhecimento que não há conhecimento? Porque, se podemos afirmar que
nada sabemos é porque sabemos precisamente isso, ou seja, que nada sabemos.
Sabemos alguma coisa.

Enuncie o problema da possibilidade de conhecimento, justificando a sua pertinência


filosófica.
Poderemos afirmar que existe conhecimento? Podemos averiguar se temos capacidade de
entender e aprender o mundo, podemos afirmar que conhecemos? Ou está fora das nossas
possibilidades afirmar que temos conhecimento. É importante para a filosofia saber se
conseguimos justificar as nossas crenças verdadeiras. Para termos a possibilidade de dizer que
temos conhecimento, que sabemos que. De acordo com a teoria CVJ de Platão basta que
tenhamos Crença verdadeira e justificada para termos conhecimento, para Gettier estes 3
requisitos são necessários, mas falta uma 4ª condição para haver conhecimento. Para os
céticos, também para haver conhecimento é necessária crença verdadeira e justificada, o
problema é que entendem que não conseguimos justificar as crenças, logo não há
conhecimento.

Fundacionalismo (Racionalismo e Empirismo)


Qual a principal fonte de Racionalismo: é a Razão (o pensamento)

aquisição e justificação Empirismo: é a Experiência (sentidos e n/ experiência em


do conhecimento? relação ao mundo)

Chamamos racionalismo às teorias epistemológicas que identificam como fonte do


conhecimento o pensamento ou razão.
 O Racionalismo despreza o papel dos sentidos e defende que o conhecimento deve
satisfazer dois critérios:
1. necessidade lógica
2. universalidade (válido para todos)

• O Racionalismo pressupõe a natureza dedutiva do saber a partir de primeiros


princípios ou crenças fundacionais ou crenças básicas
1. Infalíveis (não podem estar erradas)
2. Indubitáveis (não podem ser postas em dúvida).
3. Irrefutáveis (são absolutamente verdadeiras)
Estas crenças são os pilares a partir dos quais se deve erguer todo o conhecimento.
Estas crenças sustêm(suportam) as demais crenças (crenças não básicas)

• Os Racionalistas apoiam o Fundacionalismo e o Infalibilismo:


Fundacionalismo: O conhecimento é um sistema de crenças cuja justificação são as crenças
básicas ou fundacionais que são autojustificadas.
Infalibilismo: As crenças básicas ou fundacionais que suportam todo o sistema de crenças têm
de ser infalíveis, indubitáveis e irrefutáveis.

Para os Racionalistas uma crença está justificada se e só se essa justificação representar uma
prova incontestável.
Relação entre o Fundacionalismo e Coerentismo
Enquanto que para o Fundacionalismo a justificação de uma crença vem de uma relação de
suporte das crenças básicas para com as crenças não básicas
Enquanto que para o Coerentismo a justificação de uma crença depende das relações de
suporte mútuo que uma crença estabelece com as outras crenças.
Ou seja, metaforicamente o conhecimento é para o Fundacionalismo um edifício construído
sobre alicerces sólidos
E para o Coerentismo é um barco ou um avião cuja força e estabilidade vem de todas as suas
partes em conjunto.

Figura do Racionalismo, para René Descartes “A Razão é a única fonte capaz de garantir
conhecimento, absolutamente seguro, ou seja, crenças verdadeiras e justificadas capazes de
resistir a qualquer dúvida.

Conhecimento à priori e a posteriori


a priori a posteriori
Baseia-se no pensamento e na razão. Temos de recorrer à observação e
experimentação
Racional Empírico
É um conhecimento certo Não é absolutamente certo (é
contingente)

Ex: Se A é maior que B e B é maior que C, Ex: A tem 5 m e 1 cm. (tem de se medir)
logo A é maior que C. A língua oficial do Brasil é
portuguesa
O Diâmetro de um círculo é maior do que o raio
O Triangulo tem 3 ângulos Este bolo é de chocolate
Curiosidade: os eixos cartesianos do x e Y foram propostos pelo matemático e filósofo
Descartes

Descartes
A dúvida metódica
Tem como objetivo um conhecimento indubitável, isto é, de encontrar uma Crença Básica
que servisse de fundamento ao edifício do conhecimento. A Crença Básica tem de ser de tal
modo evidente que nem a mais extrema dúvida a pusesse em causa, recorre à própria dúvida
como método para provar a impossibilidade do ceticismo.
A dúvida é:
• Metódica • Voluntária • Provisória
A dúvida cartesiana é distinta da dúvida cética. O objetivo de Descartes é alcançar certezas e
não permanecer em dúvida, é um meio para atingir a verdade e a certeza e não um fim, como
é para os céticos.
• Universal(abrangente)• Hiperbólica (excessiva)• Sistemática(constantemente em dúvida)
Assim, o que não resistir à dúvida por ser falso ou duvidoso deve ser rejeitado.

Duvida metódica: Desconfiar de todas as crenças e considerá-las provisoriamente falsas, até


encontrar um princípio indubitável.

1º Nível de dúvida
Se os nossos sentidos no enganam, ainda que apenas algumas vezes. Então o melhor é nunca
confiarmos neles: Os sentidos não são infalíveis.
2º Nível de dúvida
Não existem critérios seguros que nos permite distinguir as experiências que temos durante o
sono daquelas que temos quando estamos acordados(vigília): Os sentidos e a experiência não
são indubitáveis.
3º Nível de dúvida
A hipótese de estarmos a ser manipulados por um Cientista ou Génio Maligno / Deus
Enganador não pode ser afastada: As verdades da razão (conhecimento a priori) e a existência
do mundo físico não são indubitáveis.

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