Você está na página 1de 11
COMPORTAMENTO DE CAVALOS ESTABULADOS DO EXERCITO BRASILEIRO EM BRASILIA Manceto J. M. Rezennz,! Coyczpra McManus," Ropaico Duarte Marrs Lrzawo De Puta GUIMARAES DE OLIvETRA.” Jos Axerico Soares Garcia! E HELDER Louvanpint! 1. Professor adjuuto da Faculdade de Agronomia ¢ Medicina Veterindna, Universidade de Brasilia, Campus Uiveritrio Darey Ribeiro, Caixa Postal (04508, CEP: 70.910.970, Brasilia, DF. E-mail. jesparcin dnb be 2. Bolsisa de PIBIC, Faculdade de Agronomin © Medica Vetriniria, Universidade de Brose, 70910-900, Brasilia, DF RESUMO. Avaliou-se 0 comportamento de 36 cavalos estabulados, das racas Brasileiro de Hipismo, Lusitano, Puro Sangue Inglés e Mestigos, nas condigdes em que sto criados no 1® Regiment de Cavalaria da Guarda do Minis- terio do Exéreito no Distrito Federal. Os animais foram ob- servados 24 horas por dia, durante seis dias, fazendo-se anotacdes, de dez em dez minutos, do comportamento de cada animal, mostrando que as quatro ragas estudadas ti- taham varios distirbios de comportamento. Os cavales da saga Lusitano apresentaram a menor incidéncia, ¢ 0s da raga ‘Mestigo, a menor. Com exceeiio da raca Lusitano, verificou- se o aumento da atividade durante o dia reduziu a incidéncia de distirbios no comportamento dos animais. Os animais da raga Lusitano mostraram-se mais adaptados as condi- 0,01), Esse com- portamento foi observado sempre que o cavalo es tava com fome, Os cavalos das quatro ragas estudadas pas- saram parte do seu tempo parado (Tabela 2), seja na frente, no meio ou no fundo da baia, Os animais, Lusitanos, Mestigos, Puro Sangue Inglés e Brasileira de Hipismo passaram 53,60%, 40,18%, 39,35% e 34.42% de seu tempo parado dentro da baia, res- pectivamente. Trata-se de ociosidade que é uma ca- racteristica de eqiiinos estabulados. Como no ha nada para fazer, os animais ficam simplesmente pa- rados na posigao quadripedal. Comparando as ra- as Brasileiro de Hipismo, Puro Sangue Inglés ¢ Mestigos, nota-se que a redugdo da atividade fisiea fora da baia aumentou significativamente (P<0,01) a incidéncia de distirbios de comportamento. As sai- das dos animais Mestigos e dos Puro Sangue Inglés ‘ocorreram em apenas um periodo: das 6 as 18 horas e das 5 ds 21 horas, respectivamente (Figura 5). Ciencia Animal Brasileira, ¥. 7, n. 3, p. 827-337, juliset. 2006 334 REZENDE, M, J. M eta 5 10 { 2°3. 45678901 12:13 14 + Mesticolerossbred “© PSVEngiish Thoroughbred 15 16 17 18 19 20 21 2 2m FIGURAS. Distribuigio das “saidas da baia” 20 longo de 24 horas em dois grupos genéticos Segundo MeGREEVY etal. (1995), além de os distirbios orais serem motivados pelo tédio, tam- bbém so causados pela alta motivagao alimentar que corre quando uma quantidade de fibrainsuticiente & oferecida ao cavalo. A Figura 6 mostra que, durante o dia, hd uma relagdo entre 0 consumo de alimento eo distirbio oral “morder grade/muro” com os animais, Mestigos. Quando o animal nao esta comendo ov quando o teor de fibra da alimentago nio é suficien- te,aincidéncia do distirbio oral aumenta Como a grade eo muro das baias niio sao fei- tos de madeira sim de ferro e alvenatia, respeetiva- 25 20 15 10 o mente, 0 rseo de 0 cavalo engolir algum corpo estra- ho é minimo. Portanto, neste estudo, o principal pro- ‘blema associado a0 habito de morder a grade/nmuro é o desgaste excessivo dos dentes. JOHNSON et al. (1998) observaram que uma proporgao alta de con- centradona dieta aumentou a ineidéncia de distirbios orais de comportamento, tais como morder grade! muro, lamber cocho/grade e comer a cama, A distribuigdo do comportamento “aerofagia’ ao longo de 24 horas em animais Mestigos esta apre- sentada na Figura 7. —*comendo ragdaolumoso e+ mordondo grade!mur0 12.3.4 5 6 7 8 O 10111213 1415 16 17 18 19 20 21 22 23.26 horas FIGURA 6. Distribuigao dos comportamentos “comendo ragao'volumoso” emanimais Mestigos. Gléncia Animal Brasileira, ¥. 7, m. 3, p. 327-337, juliset. 2006 nordendo grade/muro” a0 longo de 24 horas, Comportamento de cavalos estabulados do exéxcito brasileiro ema Brasilia 335 25 20 6 * 10 5 0 1.2.3.4 56 7 & 9 1011 1213.14 98 1617 18 19.20 21 2223 24 FIGURA 7. Distribuiggo do comportament: Apenas os animais Mestigos apresentaram 0 comportamento aerofagia (Figura 7), Nota-se que este comportamento ocorreu predominantemente & noite. Segundo TURNER et al. (1984), as causas da aerofagia parecem estar relacionadas ao tédio e a frustragéo. Como os cavalos mestigos fiearam mais ociosos que os das demais sagas estudadas, é pro- vavel que o tédio esteja estimulando varios distirbi os de comportamento, como a aerofigia, por exem- plo. Animais que apresentam esse comportamento tendem a perder peso e a sofier crises de célicas, pela quantidade de ar engolido, Existem varios m todos para se reduzir a incidéncia de aerofagia, Uim método simples é colocar uma faixa ou uma coleira a0 redor do pescogo do animal, de modo que, quan- do ele contraira musculatura do pescogo na tentati- va de engolir o ar, uma grande pressdo é exercida sobre seu pescogo (HOUPT, 1986), Antes de tomar qualquer medida para soluci- onarum detenminado distirbio de comportamento, é importante determinara causa do distizbio. Seo comportamento é destrutivo ou perigoso, ele preci- sa ser corrigido (McCALL, 1993). 0 tratador deve saber se o manejo dos cavalos foi aterado, pois uma anilise cuidadosa pode ligar o distiirbio a0 novo manejo. Mediante a determinagao da freqiiéneia do comportamento — junto com informagdes sobre 0 manejo da propriedade em relacao a alimentagio (tipo e horarios), 4s instalagdes (baias), aos exerei- cios, ea proximidade entre os cavalos— ea compa- Horas ‘aerofagia” ao longo de 24 horas em animais Mesticos. ragdo do comportamento de um animal com o dos outros, pode-se avaliar se o manejo estimula ou nao © aparecimento dos) distirbio(s). No presente estudo, 0 comportamento dos animais estabulados apresentou algumas particulari- dades que precisam ser mais estudadas e compre~ endidas. S6 assim sera possivel adequar a criaglo e ‘omanejo desses animais, de modo a garantir o bem- estar. O tipo de comportamento mostrado pelos ca- valos indica uma necessidade de mudangas no ma- nejo e na alimentaglo, para dimimuira incidéneia de distirbios de comportamento, CONCLUSOES Os animais das quatro ragas estudadas apre~ sentaram varios distirbios de comportamento, tipi- cos de cavalos estabulados, sendo os cavalos das ragas Lusitano e Mestigo com os menores ¢ maiores indices, respectivamente. Vale ressaltar que 0s ani- ‘mais da raga Lusitano mostraram-se mais adaptados ais condigdes de criagio no 1° Regimento de Cavs Jaria da Guarda (1° RCG) do Ministério do Exéreito ‘no Distrito Federal Medidas relativas ao manejo dos animais, como intuito de evitar uma incidéneia alta de distar- bios no comportamento dos cavalos estabulados in- cluem umestudo detalhado da rotina do animal, con- siderando aatividade fisica e o manejo nutricional. Ciencia Animal Brasileira, ¥. 7, n. 3, p. 827-337, juliset. 2006 336 REZENDE, M, J. M eta REFERENCIAS ARCHER, M. Preliminary studies onthe palatability of grasses, legumes and herbs to horses. Veterinary Record, v. 89, p. 236-39, 1971. BAER, K. L. Observation effects on learning in horses. Applied Animal Ethology, v. 11, 0.1, p 123-129, 1983. CROWELL-DAVIS, 8. L.; HOUPT, K. A Coprophagy by foals: effect of age and possible functions. Equine Veterinary Journal, v. 17,1. 1, p. 17-19, 1985 DANTZER, R.; GONYOU, H.W.; CURTIS, S. E.; KELLEY, K.W. Changes in serum cortisol reveal function differences in frustration-induced chain chewing in pigs. Physiology & Behavior, v. 39, 3, p. 775-777, 1987. DUNCAN, P. Time budgets of Camargue horses Behavior. v. 72, n. 1, p. 26-47, 1980 GOLOUBEEE B. Distirbio do comportamento ali- mentar. In; GOLOUBEFF, B. Abdome agudo eqiiino. 1. ed, Sao Paulo: Livraria Varela, 1993. p. 17-21 HOUPT, K. A. Stable vices and trailer problems Veterinary Clinics of North America: Equine Practice, v. 2,n. 3, p. 623-633, 1986. JACKSON, S. A.; RICH, V.A.; RASLTON, S. L.; ANDERSON, E. M. Feeding behavior and feed efficiency in groups ofhorsesasa function of feeding frequency and the use of alfafa hay cubes. Journal of Animal Science, v. 59 (Suppl. 1), p. 152-153, 1984, JOHNSON, K.G; TYRREL, J.; ROWE, J. Bs PETCHICK, WD. Behavioural changes in stabled horses given nontherapeutic levels of virginiamycin. Equine Veterinary Journal, v. 30, n. 2, p. 139- 143, 1998. Ciencia Animal Brasileira, . 7, n. 3, p. 327-337, juliset. 2006 KILLEY-WORTHINGTON, M. 1983 Stereotypes in horses, Equine Practice, v. 5, 1985. p. 23-40. KRZAK, W. E.; GONYOU, H. W.; LAWRENCE, L. M. Wood chewing by stabled horses: diurnal pattern and effects of exercise. Journal of Animal Selence, v, 69, a. 4, p. 1053-1058, 1991. LEE BOYD, M.S. Behavior problems of equids in zoos. Veterinary clinics of North America: Equine Practice. v. 2.n. 3, p. 653-665, 1986. LEWIS, L. D. Problemas associados com a alimen- tagiio, In: LEWIS, L. D. Alimentagao e cuidados com o cavalo. 1. ed. Stio Paulo: Editora Roca, 1985, p. 91-122. MeCALL, C. Solving behavior problems in horses. Equine Practice, v. 15,1. 8, p. 30-31, 1993 McGREEVY, P.D.; CRIPPS, P.J.; FRENCH, N.P.: GREEN, L.E.; NICOL, C. J. Management factors associated with stereotypic and redirected behavior in Thoroughbred horse. Equine Veterinary Journal, v. 27, n. 2, p. 86-91, 1995. McGREEVY, P; NICOL, C. Physiological and behavioral consequences associated with short-term prevention of crib-biting in horses. Physiology & Behavior, v. 65,n. 1, p. 15-23, 1998 RALSTON, S. L. Feeding behavior. Veterinary Clinics of North America: Equine Practice, a. 3, p. 609-621, 1986, RALSTON, 8. L.; VANDENBROCK, B.; BAI- LE, C.A. Feed intake pattems and associated blood glucose, free fatty acid and insulin changes in ponies. Journal of Animal Science, v. 49, p. 838-843, 1979, SAS — Statistical Analysis System, SAS User’s Guide. v.8, Cary: North Carolin, 1999 Comportamento de cavalos estabulados do exéxcito brasileiro ema Brasilia 337 SCHURG W.A.; PULSE, R. E.; HOLTAN, D.W. Use of various quantities and forms oftrye grass straw in horse diets. Journal of Animal Science, v.47, 1, 5, p. 1287-1291, 1978 SOAVE, O., BRAND, C. D. Coprophagy in animals: a review. Cornell Veterinary, v. 81, p.357- 364, 1991. TURNER, A. S., WHITE, N., ISMAY, J. Modified Forssell’s operation for crib biting in the horse. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 184, n. 3, p. 309-312, 1984, WILLARD, J. G; WILLARD, J.C.; WOLFRAM, S.A. Effect of diet on cecal pH and feeding behavior of horses. Journal of Animal Science, v.45, n. | p. 87-93, 1977. Protocolado em 24 mar. 2005. Aceito em: 14 jun. 2006. Ciencia Animal Brasileira, ¥. 7, n. 3, p. 827-337, juliset. 2006

Você também pode gostar