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Se OQUEE LER? ‘Ao se pensar aleltura, uma questao que se coloca é: O que ¢ ler? Normalmente, as ‘concepyées sobre o ato de ler novo alem de ‘uma imagem deturpada de ler, Para alguns, ‘saber ler ou o gostar de ler quase sempre ladvém de uma leltura desenvota ou dofato de Se carregar um tivo, ‘Assim, 0 ato de ler ¢ 0 gostar de ler dizem respatto a attudes extemas do leer, Cetcunsentas @ poucos dads observados de ‘comportamento de pessoas. Dieiimente estes limites sa utrapassados. Ealoturatem, entio, conotagéo de uma atividade mecanica, ‘estiingindo-se mais as ag6es dos litores, Pesquisas nessa érea, no entanto, rmestram que “A leitura ndo pode ser contundia ‘com decoaticarso de sinais, com Teprodugéo mecanica” de Informacées ou com respostas Cconvergentes a estimules escrito, ‘pré-elaborados.Estaconuedonada ‘mais faz do que decretar a morte do leitor, transfermando-o mum ‘consumidor passivo de mensagens hido-signifcativas @ Wrelevantes” (SILVA, 198%). Oatodolervaialém das meraspalavras escritas. gostar deer nao se crcunsereve 20 ato de carrogar um li. Muitas vezos, a propria histéia de vida \oleitoroauxlianacompreenséodamensagem sera Istoporque oprocessodeleiuracomaga Damaris Naim Marquez to logo a crianga estabelega os primeiros contatos com © mundo. Ela, através das sensacées, da os primelros’ passos para ‘aprender a'ler. Inicsimente, faz a letura do ‘mundo que a cerca, experimentada pelo tato, pela aucl¢do, cat, visso- a letura sensor. Objetos, pessoas, simbolos, cores, etc. VEO dando pistas a crianga-letorInicia-se alohura ‘de mundo, com suas dferencas defnidas em detalhes pequenos, massulcientes para que a leiturae compreensio se alicercem ppaulatinamente, revelando um prazer bem singular. Percebe-se,entio, que a= aprende a Jermuito antes do ngresso na escola. Pequena ainda, @ crianga interpreta situagses experiencia no dia-a-dia..£, aos povcos, Interioriza signifieados varios, colhides de observagées @ contatos. ‘Um mundo novo se descortina para a ‘rianga ao ingressar na escola, Ela nica uma, ‘outra fase de letur, agora deve aprender a ‘manejar as informagées contidas num texto impresso, a observar que 0 material escrito possul aspectos gritos. fonologicos, lexicos, ‘morfo-sitéticos, seménicos, referencias © textuaisquea auxilam na obten¢ao desentido. ‘Algumas criangas muto cedo conseguem entenderossignticados vansmiidos pelo tet. ‘Aos pouces, acrianga-letortoma-se um ‘elemento ative, oferecendo uma série de ‘contibuigées aotexto.Amedidaque prosseque ‘em sou aprendizado, olor vai assiilando os ‘elementos presentes no texto, quepassamase integrar ao conjunio de ‘conhecimentos adquirides por ele anteriormente, Da mesma forma que 0 texto oferece novas informagoes. 53 20 lelor, este também traz informagées suas para a letra do materia No prosesso de lotura, pode acontecor deotedo atuar sobreos esquemas mentais do lotr iformando-ode pontos quenidaseacham ‘certs al Assim, a compreenséo do materia depende, em parte, des seus esquemas. A cadaleitura, oletor apalica um novo esquema. Pode ocomer de o esquema inicial ser aterado ‘ou permanecer, Algumas vezes, 0 texto ‘medifca-o substancialmente, No entanto, se ccontém informagées.adicionais, estas ‘so Incorporadas imediatamente Para que acompreensio de umtexo se tetve, 6 preciso que aja a interacao entre os fesquemas mentais do letor © os conteudos ‘exprossos rele, Se ocorrer de of contetidos nao se adoquarem aos esquemas do lotr. ‘slo dificimente entenderd 0 que o material ptetondoinformar. Acompreensio|eitoratambém depende daextensdodo patriménio cultural doteter, que se relete nos esquemas mentais susctados pela leitura. Dessa forma, 0 grau de onhecimentos prévios determina uma melhor compreensdo. A proporcao que val lendo © ‘exo, elabora hipdteses, faz provisbes que se ‘vio ampiiando ao longo dalotura,quase sempre apoiadas nos esquemas mentais. Ee utlza, ainda, dados existontes no texto, para provat ‘ou madticar suas hipéteses. O letorapreende o sentido do um text, ‘se perceber 0 significado das palawas ai Presentes. © conjunto das palavras © seus fespectivos significados encontram-se ‘armazenados na mente do leitor, ue deles se utiiza 20 tentar compreender @ mensagem ‘expressa no texto, Durante aletura oletor deve ser capaz de perceber que as palavras nao tém sentido ‘soladamente, pois os sigifcados nascem de lum conjunto delas e as eas so aproendias ddestes conjuntos. Por sua vez, as palavras, ‘segundo suas inlertelagses, do origem novas idéias, dependendo dos detalhes ‘existontes notexde. Assim, ocontextoinguitico 6 importante para o letor na identificagao dos ‘sentidos das palavras. ‘Umoutroaspectoimportantenoprocesso de letura 60 estabelecimento da elagao entie informagao expressa no texto e © ‘contecimento prévi doetor. As experiéncias Anterioces advindas do contextoséclo-cuuah, ‘0s conhecimentos de mundo no 8 auxitam 0 lettor na assimiacéo das novas idéias, na selecao das quejulgar mais importantes, como também 0 ajudam a detectar os detalhes ‘xistontos no texto, de forma a exrair aquelas iddis consideradas como sendo as principals. Oletornioapenas exraiessasidéias principals, mas ainda as organiza, relacionando-2s 30 conhecimentoarteriorquetinhasobre 0 assunio all exposto. Estes conhecimetnos arquivadas hha meméca, quando atvados, dao candiqoes ao leit para compreender o material impresso ‘eoaunllamnaantencipagio de outras imagens ‘que possam vias atiante,notexto. Alem de esses conhecimentos" facilitarem a compreensio, auziliam na elaboragao de ‘dedugGese preenchimentadelacunasnotexto, levando-o a paticipar cooperativamente. do processo de lotura. ‘Algumas vezes, as dificuldades de ‘compreenséo levam o'letor a fazer uso de algumas medidas conetvas na busca de ‘sentido, Alguns se decidem pela redugio do ‘imo da letra; outros partem para a reletura ‘do material; enquanto muitos preferem salar Iwechos do testo, acreditando que encontrar mais adiante, expicacces esclarecedoras: ‘outros ha, ainda, que consutam dieionaros, — colepdes. Estas altemativas dependemde cada letor, pois alguns nem percebem que ndo ‘entenderam o texto ¢ prossequem na leita, GOODMAN (apudFERREIRO, 1967:16) sfirmaque'aleiture,como qualquer atividade humana, € uma conduta Inteligente™, Os leitores’ geraimente transferem suas ‘experiéncias vivenciadas em seu melo para 9 ‘mundo do texto @ passam a desenvolver estratégias' de tal maneira que seja possivel ‘consttur osigniicado. Dependendodocontext, fessas estratégias se desenvolvem © 30 ‘modticam, permitindo aosletoresacenstrugso ‘de esquemas, segundo seus oslorgor para ‘compreender a mencagom, aplicande todo 0 conhecimento disponivel e as imagens claborada, Comumente os leitores. desenvolvern stratégias de predigées, de inferéncias e de ‘selegdo, na busca de sentido. A proporgae que em, avaiam aquelas que parecem ser as ‘mais correlas © se auto-monitoram no uso ddessas estratégias. Assim, cada leo constroh @ reconstréi 0 significado num processo continuo, transtormando 0 ato de ler numa atvidade dinamica em que letortoxo-autor ‘estabelecem elos de trans-apSes ativas. ler, entéoimpica desenvahimentoe apereigoamentodas estretégiasraobtencéo de sentido. Aleitura permite 20 ler mergulhar no texto eseito, controntar e/ouintegrar suas ‘experiéncias e conhecimentos com as o autor. Ler, entao, nao se restringe apenas a0 esto mecanico de decifrar cin Principalmente se desvinculados de experiéncias, fantasias ou necossidades Pessoais: ‘aprendemos a ler vivendo” (WARTING, 1995:14), AVERBUCK (1984) attma que: “a8 preciso dar ao estudante, no que se refere & sua linguagem, Condicées de expressao desimesmo - ounda co auto-conheciment, da Ienticacio dos préprios anseios © da formaco daprépriaconsciénci, de tradupao do mundo que o rodela (compreensio) © de comunicagso ‘come outro” Assim, defende a teitura que fala do ‘mundo do leitor, dos ‘seus sentimentos = ‘emoges -€ desejos; oleitor deve lr historias ‘que digam respotto & sua realiace, leitorpratica constanterentea etwra ‘do mundo e, segundo © contexte, aprende a ‘organizaros conhecimentos que vaiadqutindo, ‘estabelecerelacoes entre suas experiéncias aresoWverconftiosquese apresentam. Quarto mais ricas as experiéncias om termes de TelagSes socials, de condigées materiaic © ‘cultrais, mais possbildades se abrem para ale. No desenvolvimento da realizagéo pessoal, oserhumanonecessta daleturapelo {ato de ela deter algumas fungSes que se felacionam com o cogntvo, 0 afetvo, 0 atv, além da dimensao estatica ec ‘estimuladas poia letura de abras Ierivias © Posticas. Soma-se aestastuncoes especiicas ‘daletura, uma outa, tioimportante quanto as anteriores -afungao social A lotura possibilta ‘ac ndividuo.a abertura de uma isso de mundo diferente, tomando-o receptive ao intercémbio com outras pessoas, capaz o sufciente para aceitar novos principios técricos e cientiicos ‘que se reflerdo em suas aées, A letra possui, assim, uma dimensio ‘quendosecicunscreve apenasadecodticagéo 55 mecanica, sem sgnicago Ela avanga além das paedes das salas de alae se refete na Piéptia concepeao de homem enquanto set feclalenasorledade emque se achainserdo. essa forma, segundo BORDIN! (1986); outras’ vidas @ outros. mundos, ‘brigando-o @ se emocionar, repudiar, @ apaixonarse, todavia, sem nunca perder 0 controle ‘consciente da stiagao de leitura, © ‘que 6, talvez, seu maior atrativo, pols permite um diaioge em ‘guakdade de condibes’.(p.116). Bibliogratia AVERBUCK, Ligia Morrone. Ler. para qué? fe protessores. Letras de 17(1):98-407,mar. 1984 BORDINI, Mara da Gloria, Por uma pedagogia daletura. Letras de Hoje, Porto Alegre, 19 (1):111-118, mar-1986. FERREIRO, Emi & PALACIO, Margarida Gomez, Os processas de letra e oscrt novas perspectives. Trad. Maria. Siveira Porto Alegre, Artes Médicas, 1987. MARTINS, Maria Helena. O que é litre, S20 Paulo, Brasiiense, 1985. SILVA, Ezequiel Theodoro da. O ato de ler: fundamentos psicolégices para uma nova Pedapogia de lelura, So Paulo, Cortez, "1981 “Prcfescra e Onpatanerts de recipe Ogerizio ‘drPnicePocgagen dn UF Mosse Eau, al eredade Fer ge Cols Nous: 1. ote stain bila no rea santo adtao For GOOBMIN cma esrugasunampoexteorapa ‘ihe aclare ar itmae 56

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