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Módulo 1
Módulo 1
Ficha Catalográfica
M663c
Minas Gerais. Governo do Estado.
Direitos humanos [recurso eletrônico] / Governo do Estado, Lucas
Costa dos Anjos, Tayara Talita Lemos e Thelma Yanagisawa Shimomura
(org.).- Belo Horizonte: Arquivo Público Mineiro, 2018.
48p. ; il. - (Coleção direitos humanos e ditadura; v. 1).
CDD: 323.81044
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Ana Cláudia Ribeiro CRB 6/2868.
Autores: Lucas Costa dos Anjos, Tayara Talita Lemos
Organizadora: Thelma Yanagisawa Shimomura
Setembro de 2018,
Subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos
Sumário
Página
1. O que são Direitos Humanos? Por que é importante falar 09
sobre Direitos Humanos?
1.1 O termo Direitos Humanos 09
1.2 A Dignidade da Pessoa Humana e os fundamentos dos direitos 11
humanos
1.3 Direitos Humanos e Democracia 13
2. Gerações de direitos humanos e afirmação ao longo da História 16
2.1 Classificação em Gerações: o início 16
2.2 Classificação em gerações: o desenvolvimento 18
2.2.1 Primeira Geração 18
2.2.2 Segunda Geração 19
2.2.3 Terceira Geração 23
2.2.4 Quarta e Quinta Gerações: podemos falar em novas 26
gerações?
2.3 Críticas ao uso da classificação em gerações 28
2.4. O Programa Bolsa Família: um exemplo integrador das dimen- 30
sões/gerações
3. Direitos Humanos e Cidadania: participação e controle social 32
4. Sistema internacional de proteção dos direitos humanos 36
4.1. Direito Internacional dos Refugiados 36
4.2. Direito internacional humanitário 37
4.2.1. Direito de Genebra 37
4.2.2. Direito de Haia 38
4.2.3. Direito de Roma 39
4.3. Direito Internacional dos Direitos Humanos 39
4.4. Sistemas regionais de proteção aos direitos humanos 40
4.4.1. Sistema Europeu 40
4.4.2. Sistema interamericano 41
5. Reparações a direitos humanos violados na ditadura: as Comissões 43
da Verdade
Referências bibliográficas 45
9
1 “Este livro foi baseado em GOMES, David Francisco Lopes. Coleção Cadernos de Direitos Hu-
manos: Cadernos Pedagógicos da Escola de Formação em Direitos Humanos de Minas Gerais |
EFDH-MG. Fundamentação em Direitos Humanos e Cidadania V.01. Belo Horizonte: Marginália
Comunicação, 2016.”
10
Da esquerda à direita:
Belo Horizonte, 2016.
Os direitos humanos, na medida em que passam a ser incorporados pela
Hebron, Territórios
Palestinos, 2017. ordem jurídica dos países, assumem a denominação de direitos fundamentais.
Ouro Preto, 2016. Assim, quando a Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada em
Fotografias: Gilvan
1988 e incorporou ao seu texto os direitos humanos como direito à vida, à liberdade,
Borges. Reprodução
autorizada pelo à igualdade, à segurança e à propriedade, juntamente aos seus desdobramentos
autor. – como a liberdade de crença, religião e expressão, a igualdade de gêneros e a
igualdade racial –, houve a consolidação destes como direitos fundamentais
que fazem parte do rol de direitos protegidos pelo País, mesmo que alguns dos
tratados internacionais que tutelam direitos humanos não tenham sido assinados
ou promulgados pelo Brasil. Apesar de diversas teorias tratarem de critérios que
diferenciam o uso de um ou outro termo, quando falamos de direitos humanos
ou direitos fundamentais, estamos falando dos mesmos conteúdos, ou seja, dos
mesmos direitos que cabem a quaisquer pessoas, independentemente de suas
diferenças biológicas, culturais, sociais, políticas, ideológicas.
Como começar a pensar em direitos humanos e a falar sobre a necessidade
de sua proteção? Reflita a partir da tirinha abaixo.
Tiras em quadrinhos
“Armandinho”,
por Alexandre
Beck. Reprodução
autorizada pelo
autor.
11
2 “ Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Muni-
cípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamen-
tos:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
ou diretamente, nos termos desta Constituição.
12
(as que exigem uma atuação mais próxima do Estado, conferindo direitos). Assim,
absorver a ideia de direitos humanos com base em sua afirmação ao longo da
história é fundamental para pensar em formas eficazes de protegê-los e assegurar
que seus titulares usufruam destes direitos com segurança.
As próximas seções deste curso abordarão o tema de forma mais específica e
facilitarão o aprendizado sobre como os direitos humanos afirmaram-se e passaram
a ser considerados pautas que demandam obrigações por parte dos Estados e das
pessoas, ou seja, mandamentos éticos de conduta que regulam a vida em sociedade
e que oferecem padrões de comportamento e de proteção a todos os indivíduos.
Jordânia, 2017.
Fotografia:
Gilvan Borges.
Reprodução
autorizada pelo
autor.
intervenção do Estado.
Isso seria contrário às lutas pela liberdade e não intervenção do Estado,
buscadas na primeira geração?
Na verdade, não. Naquele momento as pessoas lutavam para se livrar das
arbitrariedades da monarquia e de uma intervenção que era herança do modelo
de sociedade que vinha da Idade Média. Agora, era necessário um rearranjo para
conter as desigualdades sociais ad vindas de outras causas. Para tentar remediar
esse quadro, algumas ações começaram a ser realizadas por meio de intervenções
e prestações do Estado para assegurar educação e saúde, proteger o trabalho,
regular a economia. No entanto, essas intervenções eram mais pontuais, pois ainda
predominava a imagem de uma sociedade na qual o Estado não pode intervir.
No início do século XX, as contradições desse novo modelo ainda
predominavam e os efeitos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e da
Revolução Russa (1917) trouxeram modelos de sociedade e de economia diferentes
como reação ao modelo capitalista. Em 1919, a Alemanha também criou uma
nova Constituição, a Constituição de Weimar que levou à prática diversos direitos
sociais, ao mesmo tempo em que consolidava o modelo de Estado Social ou Estado
de bem-estar social, com suas novas concepções de sociedade e de regulação da
economia por parte do Estado. Esse novo modelo foi implantado em diferentes
lugares do mundo, em momentos históricos distintos. A democracia e o Estado de
Belo Horizonte, Direito permaneceram. A diferença é que, agora, havia leis regulando o mercado, a
2017. Fotografia: economia, assegurando educação e saúde, protegendo os trabalhadores.
Leonne Sá Fortes.
É aí que se pode falar em outra dimensão de direitos a ser construída: os
Reprodução
autorizada pelo direitos de segunda geração, que decorreram da luta de classes e das desigualdades
autor. sociais sentidas pela classe operária no século XIX e que se traduzem nos direitos
trabalhistas, econômicos e sociais.
Dizer que todos são iguais perante a
lei resolvia apenas parte dos problemas, pois
reconhecer, do ponto de vista formal, uma
igualdade perante a lei não é a mesma coisa
que dar condições e oportunidades iguais.
Assim, se uma pessoa nasce pobre, dentro
de um contexto de miséria, sujeita à fome,
a várias privações, ela não terá as mesmas
oportunidades de disputar um emprego com
quem teve acesso às melhores escolas, a uma
alimentação equilibrada e a condições sociais
privilegiadas. E isso quase nada tem a ver com
mérito, pois a estrutura de desigualdade social
21
Alcântara, Maranhão, 2018. Fotografia: Leonne Sá Fortes. Reprodução autorizada pelo autor.
Com a intenção de criar uma sociedade com menos privilégios de uns em
Hebron, Territórios relação a outros e de combater os resultados problemáticos que a livre concorrência
Palestinos, 2017. e o livre mercado (conquistas das revoluções burguesas da geração anterior)
Fotografia: geravam, a classe trabalhadora operária se moveu em uma tentativa de luta por
Gilvan Borges.
direitos sociais, que previam mais do que simples abstenções e não intervenções do
Reprodução
autorizada pelo Estado, exigindo desse uma implementação de direitos. Tais direitos deveriam ser
autor. capazes de conter as desigualdades e promover uma vida mais digna, com trabalho,
saúde, moradia e educação.
Desse modo, esses direitos de segunda geração são entendidos como
direitos positivos, que demandam ação por parte do Estado.
Para resumir, podemos entender como exemplos de direitos econômicos
a proibição à formação de cartéis e monopólios, a proibição a preços abusivos,
a proteção aos valores do trabalho e da livre iniciativa, a proteção à liberdade
de escolha profissional e a proibição à concorrência desleal. Como exemplos de
direitos sociais, tem-se a saúde pública, a educação pública, a previdência social, a
assistência social, a moradia e o lazer. Por fim, são exemplos de direitos trabalhistas
a regulamentação da jornada de trabalho, o salário mínimo, o descanso semanal
remunerado, as férias remuneradas e a garantia por tempo de serviço (o FGTS) e
o direito de greve.
23
Campo de
2.2.3 Terceira Geração refugiados de Al
Aroub, Territórios
Os direitos de segunda geração foram capazes de reduzir as desigualdades Palestinos, 2017.
sociais. Entretanto, não puderam lidar com alguns outros problemas muito comuns Fotografia:
Gilvan Borges.
nas sociedades.
Reprodução
Vejamos: quando o Estado Social buscou promover a igualdade material, autorizada pelo
partiu de um padrão de igualdade previamente determinado, isso é, a igualdade autor.
entre indivíduos do sexo masculino, brancos, heterossexuais, adultos, consumidores
ativos e em idade economicamente ativa. Ao promover condições para que todas as
pessoas pudessem viver de acordo com esse padrão, alguns grupos com necessidades
particulares e específicas acabaram sendo deixados de lado, como as mulheres, os
negros, os homossexuais, as crianças, os adolescentes, os idosos, os índios, pessoas
em desvantagem nas relações de consumo. Isso quer dizer que a igualdade material
ainda não era tão adequada como desejável. Assim, as demandas do século XX
passaram a ser objeto de luta de novos movimentos que nasceram na sociedade.
Neste momento do curso você já deve ter percebido que os direitos humanos
são sempre reflexos de construções sociais e que, para serem pensados pelas casas
legislativas (vereadores, deputados, senadores) e para serem transformados em
leis, geralmente passaram por longo processo de luta promovida por movimentos
organizados.
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combatida pela Lei de Cotas, hoje em vigor e que vem mudando esse panorama.
Por outro lado, juntamente com os direitos coletivos, temos outra categoria
de direitos de terceira geração, que podemos chamar de direitos difusos. A
sobrevivência do planeta Terra encontra-se ameaçada diante de vários fatores: a
sociedade altamente industrializada, o fim da água potável, o desequilíbrio dos
ecossistemas, o aquecimento global. Esses problemas direcionam nosso olhar para
um conjunto de direitos que não se identificam com uma única geração de pessoas,
indivíduos ou grupos ou apenas com o momento atual, mas que se referem a
toda e qualquer pessoa, à humanidade que precisa ser protegida e à manutenção
de gerações futuras. Esses direitos, frutos também de lutas dos movimentos
ambientalistas, são difusos, ou seja, se
irradiam para toda a sociedade e visam
assegurar à espécie humana o direito de
viver em um meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
Outra categoria de direitos de
terceira geração é a dos direitos individuais
homogêneos. Já dissemos que as relações
econômicas geram desequilíbrios, uma vez
que os indivíduos acabam em uma situação
de maior fragilidade diante do poder
econômico de grandes empresas. Os direitos
individuais homogêneos pertencem a essas
pessoas na condição de indivíduos (e não
de grupos sociais, nem à humanidade como
um todo), mas relacionam-se a problemas
que afetam a todas as pessoas de modo
semelhante, de modo homogêneo. Um bom
exemplo dessa categoria são os direitos do
consumidor, especificados no Código de
Defesa do Consumidor.
Norberto Bobbio aponta para o fato
de que esses direitos de terceira geração
Uberlândia, 2016. estão ligados àquela dimensão da solidariedade pertinente à Revolução
Fotografia: Gilvan Francesa, uma vez que o direito ao desenvolvimento, à paz internacional,
Borges. Reprodução
a um ambiente protegido e à comunicação são preocupações solidárias
autorizada pelo autor.
com gerações futuras. Em relação a essa geração, para o autor, “o mais
importante deles é o reivindicado pelos movimentos ecológicos: o direito de viver
num ambiente não poluído.” (BOBBIO, 2004, p. 9). O italiano estaria esboçando
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algo vivo e está em curso a cada instante e que o Direito não é uma ciência exata,
cada uma dessas narrativas e teorias contribuiu e ainda contribui para a evolução
da ciência do Direito e do alargamento dos direitos humanos e de sua proteção.
Todas essas teorias e estudos apenas nos ajudam a entender como esses direitos
merecem cada vez mais nossa atenção.
Ao se localizarem as gerações de direitos no tempo e na história, Norberto
Bobbio sugere que tais direitos apresentam-se em gerações, porque se dão como
aspectos da evolução moral e histórica da civilização. Se a técnica também é capaz
de produzir novas situações, a ética jurídica deve ser capaz de efetivar direitos a
elas vinculados. Isso leva a crer que a classificação ou distribuição dos direitos
em gerações poderia se expandir ao longo dos anos e séculos, na medida em que
novos direitos venham a ser afirmados e construídos. É o que fica evidente das
considerações de Bobbio:
Mas, para ele, não é tanto a busca pelos fundamentos o que mais importa,
mas a sua realização e implementação:
É preciso dizer que, quando o autor usa o termo “homem”, não está
excluindo outros gêneros dessa proteção, pois se trata de um uso temporal, uma vez
que foi utilizado na década de 1990 em uma espécie de reflexo da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão; e em 1789, na Revolução Francesa, no contexto
da conquista dos direitos de primeira geração, mas também de um momento em
que a igualdade de gênero não se apresentava de forma tão intensa e disseminada
como nos dias de hoje. Tudo isso, antes ainda de uma revisão de significados e
sentidos dos termos e de um maior cuidado com a proteção de todos os gêneros,
faz-nos também perceber que esse esforço sobre o uso da linguagem adequada
(pessoas, indivíduos, seres humanos ao invés de homem ou homens) também é
sinal dessa evolução dos direitos humanos no tempo, já que afirmar a igualdade
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entre os gêneros faz parte das lutas do nosso tempo, em que combatemos essas
violências específicas.
É certo, portanto, que a afirmação de direitos humanos é um problema
conceitual, filosófico, jurídico, mas também político, que envolve a relação do
indivíduo com o Estado (chama-se relação vertical), dos indivíduos entre si
(denominam-se relações horizontais) e também dos Estados no plano internacional,
como pode evidenciar, apenas a título de exemplo, a situação das pessoas refugiadas
e migrantes na atualidade.
A construção de direitos no plano das normas jurídicas, inserindo-os nos
textos legais, tem suma importância, mas não é suficiente para que tais direitos
sejam concretizados. Para que essa materialização aconteça, é preciso que haja
esforços políticos, judiciais (fala-se aqui da justiça no plano da jurisdição, ou seja, o
trabalho realizado pelos juízes e tribunais, contando com todo o sistema da justiça),
nas relações internacionais (ao se criarem normas internacionais, que devem ser
cumpridas por todos os países e fiscalizadas pelo Direito Internacional) e também
ações por parte da sociedade civil, por meio de seus atos organizados em direção
às demandas que podem surgir no seio social e à maneira de filtrá-las e levá-las às
instituições responsáveis por sua efetivação.
Ora, não há pessoas mais humanas que outras e todas merecem a proteção
do Estado. Até mesmo aquelas consideradas criminosas têm direito à sua defesa
com justiça e ao acesso aos meios de prova que possam servir para que sejam
adequadamente enquadradas na lei e recebam penas justas, previstas pelo
ordenamento jurídico vigente. Isso não quer dizer impunidade. Confira aqui o que
o professor, advogado e ativista de direitos humanos, Renan Quinalha, tem a dizer
sobre o tema.
Quando tratamos esses direitos de forma universalizada, sem considerar
as particularidades regionais de cada povo e civilização, tendemos a fazê-lo sob a
visão da cultura ocidental hegemônica, europeia ou norte-americana, ignorando
as diferenças próprias de cada cultura. Essa postura, muito própria do Ocidente
colonizador, acaba desvalorizando, por exemplo, as dificuldades na efetivação
dos direitos humanos muito básicos em países mais pobres economicamente.
Essa perspectiva, que podemos chamar de colonial, convida-nos a olhar para os
direitos humanos a partir de um olhar decolonial, que, por sinal, tem mais a ver
com a história do Brasil. Essa nova proposta para pensar os direitos nos países que
foram colonizados e que não conseguiram desenvolver-se devido à sua forma de
colonização, seria guiada por um pensamento crítico, que se desenvolve a partir
dos “de baixo”, dos explorados pelo capitalismo. Esse enfoque é voltado para um
pensamento político e teórico que visa desconstruir as visões colonizadoras, que
ignoram as dificuldades de desenvolvimento econômico, industrial, e que, por
outro lado, valorizam as peculiaridades culturais, históricas, políticas dos países
explorados, colonizados.
Diante dessas considerações, acabamos por preferir o termo “dimensões”
ao termo “gerações” de direitos humanos. Isso porque se a nossa visão sobre
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Por meio dessa ação integrada, articulando as várias gerações, dimensões dos
direitos humanos, o Programa Bolsa Família tem conseguido atingir seu objetivo de reduzir
a miséria e enfrentar as desigualdades sociais. Tal exemplo revela como as abordagens
fragmentadas não funcionam na prática. Por isso, é importante compreender-se a relevância
didática da abordagem às gerações, como também os problemas que semelhante visão
carregaria se não existisse uma articulação entre as categorias dos direitos.
7 Essa ideia da política como atividade humana que se dá na pluralidade foi desenvolvida
pela teórica política Hannah Arendt. In: ARENDT, Hannah. A condição humana. Trad. Roberto
Raposo, Rev. Adriano Correia. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010.
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tempo todo.
Por exemplo, participar de uma audiência pública no município, que tem
por objetivo discutir a educação infantil, abordando os debates sobre o Plano
Municipal de Educação, é ali fazer política e exercer o direito e o dever à cidadania.
A participação em um Conselho Municipal ou Estadual – como o da mulher, o de
saúde, o de direitos humanos, o de habitação –, significa participar em um espaço
público e fazer política. Integrar uma organização não governamental (ONG), uma
associação de bairro, é exercer a cidadania.
Preocupar-se com a harmonia da sociedade dentro da qual se vive é,
sobretudo, um exercício de cidadania.
Percebe-se, então, que a construção dos direitos humanos ao longo da
história tem tudo a ver com esse exercício, não é mesmo?
Cada nova luta, nova revolução ou novo movimento social que se empenhou
para conquistar um direito, demonstrou que para se ter direitos humanos é preciso
exercer a cidadania.
Então como definir o que é cidadania?
A partir dessa perspectiva panorâmica, cidadania é o conjunto de ações
que os indivíduos e grupos sociais – os chamados cidadãs e cidadãos – praticam
ao participar da vida em sociedade, construir politicamente os direitos humanos e
consolidar as suas garantias. Tal processo pode acontecer mediante a democracia
representativa (o direito de votar e ser votada, votado) ou a democracia participativa
Buenos Aires, Argentina, 2017. Fotografia: Leo Lopes de Sá. Reprodução autorizada pelo autor.
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Por mais estranho que possa parecer à primeira vista, a proteção internacional
aos direitos humanos também abrange as normas antigamente denominadas
como direito internacional humanitário, direito da guerra ou direito dos conflitos
armados. O uso da força na sociedade internacional somente é admitido, como
regra, em duas situações específicas: em condições de legítima defesa e quando
autorizado por um órgão especializado, o Conselho de Segurança da ONU. Essas
são as normas que determinam os casos em que os países podem recorrer ao uso
da força em suas ações ou de defesa de suas próprias nações. Elas são encontradas
na Carta da Organização das Nações Unidas.
O direito internacional humanitário disciplina conflitos armados depois
do seu início, tanto internos aos países, quanto internacionais. São normas de
direitos humanos que têm como finalidade limitar ou reduzir os efeitos gravosos
dos conflitos armados. Há várias normas firmadas internacionalmente para regular
tais conflitos. Elas se encontram divididas em quatro eixos principais:
4.2.1. Direito de Genebra: são as normas que protegem aqueles que não participam,
ou deixaram de participar, em um conflito armado. Trata-se da categoria de
pessoas protegidas em um conflito, como a população civil de um país em guerra,
as pessoas feridas e enfermas nos campos de batalha, as pessoas náufragas e as
pessoas prisioneiras de guerra.
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A Corte Europeia é formada por 47 juízes: cada país nomeia três pessoas
e uma delas é eleita. Além disso, indivíduos, grupos de indivíduos e ONGs
podem levar petições ao conhecimento da Corte – artigo 34. Nesses casos, devem
comprovar que foram vítimas de violação, para formular uma denúncia. Brasileiros
em Portugal podem buscar auxílio na Corte, por exemplo, já que a vítima não
precisa ter nacionalidade europeia.
Referências bibliográficas
GLOBO. Programa Como Será?. Entrevista sobre Direitos Humanos com Renan
Quinalha, em 31 de março de 2018. Disponível em: <http://g1.globo.com/como-
sera/noticia/2018/03/o-tema-e-direitos-humanos-veja-integra-da-entrevista.html>,
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acesso em 10/06/2018.