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LICENCIATURA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Oficina de Escrita
2023/2024
1º semestre

A metamorfose colonialista e o racismo institucional – origens e


problemáticas

22/01/2024
Andreia Pinto Martins
Nº2023211893
Número de palavras: 888
Docente: Paula Duarte Lopes
LICENCIATURA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O direito à livre circulação constitui uma das quatro liberdades fundamentais da


UE consagradas no Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, que deve,
portanto, rejeitar qualquer proposta no sentido de limitar o número de migrantes da EU.
(Parlamento Europeu, 2014). No entanto, mais de 11 países europeus decidiram voltar
costas ao princípio da livre circulação para combater o terrorismo e a migração, uma
decisão apenas permitida em casos de emergência e exige autorização prévia da
Comissão Europeia, requisitos esses que não são cumpridos nos casos em análise
(Agência Lusa, 2023). Portanto, em defesa da norma e lei internacionais, é do interesse
público a discussão do fecho de fronteiras determinado por 11 integrantes do Espaço
Schengen sem aprovação prévia da Comissão Europeia.

Procurarei, portanto, entender como atua o colonialismo como condicionante


nas relações internacionais modernas, inclusive na génese de políticas “populares”, bem
como analisar a sua posterior conversão em propostas políticas “oficiais”. Busco ainda
salientar o racismo quási-cultural como fomentador de fenómenos de natureza
nacionalista e xenófoba. Por fim, denotarei a importância da intervenção europeia sobre
violações expressas do direito internacional e o papel da manutenção de processos de
integração saudáveis das comunidades migrantes.

É importante compreender primeiro a motivação por detrás das sucessivas


medidas protecionistas. Para as comunidades locais, a medida é fundamental para
impedir a infiltração terrorista provinda do Médio Oriente, e para combater as crescentes
tensões nos centros de acolhimento de refugiados e requerentes de asilo.

O histórico de segregação racial e protecionismo não é recente: desde o


renascimento até ao século XX, a prática imperialista conservou-se – muitas vezes
ignorando até a classificação das civilizações como colonizadores e colonizados (do qual
são exemplos o império napoleónico e o Concerto da europa). Assim, o objetivo político
final europeu, analisando prévios padrões de interação, é a divisão do trabalho para a
defesa da sociedade ocidental e burguesa. (Alarcon, 2010)

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O passado colonialista da Europa estende-se até ao presente – a sua dissolução


foi substituída pela sua metamorfose, a sua transmutação de uma política discriminatória
direta para uma discriminação seletiva, metódica e estrutural. O fim da escravatura, a
libertação das ex-colónias e o “Projeto Terceiro-mundista” moldaram as relações
internacionais nas interações entre ex-dominantes e dominados, e na afirmação dos
países pós-coloniais no jogo moderno da política internacional. O ênfase da ameaça
terrorista para o mundo ocidental e, por conseguinte, para os combatentes da “ameaça
comunista”, após o 11 de Setembro de 2001, transformou as vítimas de políticas externas
americanas agressivas aos olhos do público. O estereótipo étnico ameaçador estabeleceu
no ocidente uma premissa do profiling racial, e a redução dos refugiados e requerentes
de asilo do Médio Oriente à imagem de uma fação social extremista e descontextualizada
suportou a visão mediática ocidental anti-Al ‘Qaeda, antiterrorista, anticomunista e pró-
liberdade. Assim, estabeleceu-se uma comunidade dita imaginária entre as comunidades
locais europeias e as comunidades refugiadas por elas acolhidos, fortemente impactada e
dividida pelo discurso mediático e pró-governamental. O termo imaginária explicita a
base inconsistente do termo comunidade, dado que nenhum dos seus membros pode
conhecer todos os indivíduos com quem constitui a sociedade em que se integra. As
diferenças culturais e a alteridade cultural e social acentuaram as divergências já sentidas
entre os indivíduos de uma comunidade em si fragmentada, fomentado a hostilidade
entre acolhedores e acolhidos. (Pistorello, 2014)

É no sentido deste atrito cultural que se dá a adoção e transformação do


discurso nacionalista popular em discurso nacionalista “oficial” – os produtos culturais
específicos da comunidade, que procuram afirmar-se sobre a cultura “estranha”, são
adotados por constelações políticas e ideológicas. Ou seja, o contacto intercultural
abrasivo faz nascer o nacionalismo popular, que é depois adotado pelos representantes e
grupos de poder que o veiculam politicamente – transferindo o cariz nacionalista popular
para a essência da própria campanha e, no caso da sua ascensão ao poder, para a sua
política governamental.

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Assim, pode aferir-se uma natureza racista, xenófoba e de valor colonial


renovado na tomada de decisões pelas entidades responsáveis pelo controlo de
fronteiras. É de relembrar que a livre circulação de pessoas é um fator determinante para
o desenvolvimento do processo integracionista da EU. A liberdade de movimento no
interior do bloco levantou as problemáticas sobre circulação de cidadãos não
comunitários e, mais especificamente, dos solicitantes de asilo e refugiados, e o sistema
implantado para redimir essas questões não tem se provado eficiente segundo os
objetivos pretendidos. As medidas adotadas desadequam-se no contexto do direito
internacional dos direitos humanos, dada a violação de diversos dispositivos de proteção
aos solicitantes de refúgio e refugiados (Sartoretto, 2015).

Atesta-se, assim, a raiz sociológica, institucionalmente xenófoba e racista, da


crise migratória atual. O sentido da modernização colonialista, o racismo institucional e a
modernização da discriminação colonial levantam crises humanitárias sem precedentes,
que os mecanismos de manutenção dos direitos humanos da UE são incapazes de
solucionar. As vítimas de conflitos de grande escala, que ressentem principalmente o
impacto do colonialismo moderno (agregado ao já notório dano causado pelas economias
extrativas das políticas coloniais que o antecederam) são discriminadas de formas
progressivamente mais agravadas, alimentadas pelo atrito intercultural e sua adoção
pelas vozes políticas das nações que as integram. Assim, o fim da estereotipagem
racial/étnica, bem como a integração saudável e apoiada das comunidades migrantes -
que constituem uma fação essencial para o funcionamento económico da União Europeia
- são a única resolução permanente para a crise migratória atual.

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Bibliografia

Agência Lusa (2023, 17 de novembro). Pelo menos 11 países contrariam leis da


UE com controlos de fronteiras.DNOTICIAS.PT.
https://www.dnoticias.pt/2023/11/17/383352-pelo-menos-11-paises-contrariam-leis-da-
ue-com-controlos-de-fronteiras/

Alarcon, D. (2010, 15 de dezembro). Discurso sobre o colonialismo, de Aimé


Césaire: um texto de combate. 4(2). Revista de Estudos e Pesquisa sobre as Américas.
https://www.researchgate.net/publication/277225427_Discurso_sobre_o_colonialismo_de_Aime
_Cesaire_um_texto_de_combate

Anderson, B. (2008) Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a


difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras. Pierre Bordieu.

Césaire, Aimé (1978) Discurso sobre o colonialismo. Lisboa: Sá da Costa.

Pistorello, Daniela. (2011, março) Comunidade, nação e nacionalismo numa


perspetiva cultural. Resenhas Online, Vitruvius.
https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/10.111/3899. Acesso em mar.
2018

Parlamento Europeu (2014, 16 de janeiro) Resolução do Parlamento Europeu


sobre o respeito do direito fundamental à livre circulação na UE (2013/2960(RSP)),
Respeito pelo direito fundamental à livre circulação na EU. Jornal Oficial da União
Europeia. https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52014IP0037

Sartoretto, L. M. (2015, 4 de novembr o). A livre circulação de pessoas e a


implementação e evolução do Sistema Europeu comum de asilo e sua incapacidade em
harmonizar práticas e dividir responsabilidades por solicitantes de refúgio e refugiados
entre os Estados-membros da União Europeia. Monções: Revista de Relações
Internacionais Da UFGD, 4(8), 111–137.

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https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/moncoes/article/view/41TY - JOUR

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Checklist do trabalho final

(deve constar como última página do trabalho final, devidamente preenchida)

Formatação

✘ folha de rosto devidamente preenchida

✘ documento devidamente formatado de acordo com as linhas orientadoras da FEUC,


devidamente adaptadas a este trabalho«

✘ citações no texto e lista de referências bibliográficas devidamente formatadas de


acordo com as normas da FEUC

✘ texto não excede as 900 palavras (excluindo folha de rosto e lista bibliográfica)

Conteúdo

✘ trabalho tendo como ponto de partida três artigos científicos publicados em revistas
científicas sobre o tema escolhido, podendo utilizar mais referências se relevante

✘ introdução estruturada de acordo com a lógica P-A-P (pertinência, argumento e


percurso)

✘ corpo do texto com a explicação e fundamentação do vosso argumento

✘ conclusão clara, sem introduzir ideias novas, nem recorrer a citações

✘ linguagem científica: cuidada, alicerçada em evidências (autores, factos, dados), com


uma diferenciação clara entre argumento do/a autor/a e argumentos/ideias das
referências utilizadas, com uma estruturação fluida de parágrafos

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