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Original
Milton Shintaku
Doutor em Ciência da Informação pela Universidade de
Brasília (UnB)
Instituto Brasileiro de Informação em
Ciências e Tecnologia (IBICT),
Brasília, Brasil
shintaku@ibict.br, doutor,
https://orcid.org/0000-0002-6476-4953
A lista completa com informações dos autores está no final do artigo
RESUMO
Objetivo: Propor um conceito e uma tipologia para os dados jurídicos, com vistas à Agenda 2030.
Método: A investigação é exploratória para preencher as lacunas que existem quanto ao conceito e à caracterização dos
dados jurídicos. É aplicada no contexto jurídico, que é o cerne da informação jurídica. A abordagem é qualitativa para a
descrição da tipologia desses dados, assentada em modelo pré-existente.
Resultado: Apresenta uma estrutura em oito categorias, com tipologia original, para a caracterização das classes dos
dados jurídicos.
Conclusões: O conceito e a tipologia propostos para os dados jurídicos trazem contribuições, tanto para o campo da
Ciência da Informação, como para o campo do Direito, no que diz respeito à análise das classes que envolvem a gestão,
o uso e reúso desses dados, e viabilizam a apuração das métricas intentadas nas metas dos Objetivos da Agenda 2030,
proporcionando uma justiça que caminha em direção à informação jurídica sustentável.
PALAVRAS-CHAVE: Dados jurídicos. Ciência da Informação. Agenda 2030. Informação jurídica sustentável.
ABSTRACT
Objective: To propose a concept and typology for legal data with a view to the 2030 Agenda.
Methods: The investigation is exploratory to fill the gaps that exist regarding the concept and characterization of legal
data. It is applied in the legal context that is the core of legal information. A qualitative approach is adopted to describe the
typology of these data, based on a pre-existing model.
Results: Presents a structure in eight categories with an original typology for characterizing the classes of legal data.
Conclusions: The concept and typology proposed for legal data bring contributions, both to the field of Information Science
and to the field of Law, regarding the analysis of the classes that involve the management, use and reuse of these data,
and make it possible to determine the metrics intended for the Goals of the 2030 Agenda, providing justice that moves
towards sustainable legal information.
KEYWORDS: Legal data. Information Science. 2030 Agenda. Sustainable legal information.
2 METODOLOGIA
A investigação, quanto aos objetivos, é exploratória para preencher as lacunas que
existem quanto ao conceito e à caracterização dos dados jurídicos. Quanto à natureza, trata-
Wilkinson et al. (2016) mostram que os princípios FAIR devem ser aplicados não
apenas aos dados, mas também aos metadados que os descrevem. Os autores
propuseram a adoção desses princípios como forma de tornar dados e metadados
acessíveis e organizados. Assim, como pode-se notar, com exceção de dois itens, os
demais 13 itens fazem referência tanto aos dados, como aos metadados. E os dois itens
que não abordam questões sobre os dados e metadados estão relacionados a princípios
que devem ser aplicados aos do protocolo de acesso.
2O processo de FAIRificação consiste em recuperar dados não FAIR; analisar os dados recuperados; definir
o modelo semântico; tornar os dados vinculáveis; atribuir licença; definir metadados para o conjunto de dados
e implantar recurso de dados FAIR (https://www.go-fair.org/fair-principles/fairification-process/).
5 RESULTADOS
Conceitua-se dados jurídicos como todo e qualquer dado gerado ou usado por
desembargadores, juízes, promotores, defensores, procuradores, advogados e pelo corpo
administrativo, no ambiente jurídico, tratado ou aceito como evidência por essas diversas
audiências que dele possam se utilizar para propor e produzir resultados jurídicos. Podem
ser usados e aplicados em pesquisas jurídicas, pesquisas acadêmicas, processos judiciais
e aplicativos com foco processual e na melhoria do negócio.
Destaca-se a usabilidade desta tipologia proposta na apuração e acompanhamento
das métricas dos indicadores das metas dos ODS. O direito deve ser para todas e todos,
por isso deve prover uma justiça equânime. Para tanto, a atribuição de tipologia adequada
aos dados jurídicos permite o acompanhamento de sua origem, sua gestão e possível
atribuição nos metadados a qual objetivo, ou quais objetivos, os dados estão contribuindo
para alcançar da Agenda 2030.
A partir desse entendimento, propõe-se uma tipologia para os dados jurídicos
inspirada na pesquisa de Sayão e Sales (2020) sobre dados de pesquisa (Figura 2):
Diante do exposto, pode-se afirmar que a razão que fará de um dado qualquer, um
dado jurídico, é o seu uso e reúso dentro de um contexto jurídico. E o que fará um dado
jurídico se transformar em informação jurídica sustentável é o mesmo processo que
transforma qualquer dado em informação, isto é, a atribuição de metadados através de um
processo de curadoria que possibilite a gestão desse dado, contextualizando-o e o tornando
significativo para o uso e reúso de ampla audiência.
A tipologia proposta para os dados jurídicos pôde ser integralmente adaptada à
classificação anteriormente atribuída aos dados de pesquisa, isso porque, em última
análise, os dados jurídicos são dados que, como os de outra área, também podem ser
utilizados como dados de pesquisa, não apenas na ambiência jurídica, mas também em
pesquisas de outras áreas, como a social, a econômica e a ambiental, preconizadas na
Agenda 2030. Tanto as instituições que dão origem aos dados jurídicos, como as que usam
e reusam esses dados, necessitam da informação jurídica sustentável, bem gerenciada,
para que possa ser materializada em novos conhecimentos.
A proposta revelou a descrição de classes originais e descritivas que podem ser
aplicadas a qualquer tipo de objeto digital, que se configurem como dados no domínio
jurídico. Contudo, salienta-se que para que os dados jurídicos se concretizem em dados
legíveis, acionáveis por máquina, acessados como informações jurídicas sustentáveis,
confiáveis, e apresentem aportes para alcançar os objetivos da Agenda 2030, seus
metadados devem seguir os princípios FAIR.
Outras questões a serem assinaladas, são: (i) a preocupação e o interesse do CNJ
com a integração das metas do Poder Judiciário com as metas e indicadores dos ODS da
Agenda 2030, registradas na Portaria CNJ nº 133, de 28 de setembro de 2018. Essa
normativa criou o Comitê Interinstitucional para precipuamente fazer a interlocução das
demandas do Poder Judiciário com os órgãos e atores que contribuem para o plano de
ação da Agenda 2030; (ii) elaborar relatórios estatísticos semestrais de dados, metas e
indicadores do Poder Judiciário relacionados à Agenda 2030 que integrarão a publicação
“Justiça em Números”; e (iii) manter repositório das pesquisas acadêmicas e judiciárias
relacionadas à Agenda 2030 (BRASIL, 2018).
Conclui-se que o resultado apresentado traz contribuições tanto para o campo da
Ciência da Informação, como para o campo do Direito, no que diz respeito à análise das
classes que envolvem a gestão, o uso e reúso dos dados jurídicos e viabiliza informações
REFERÊNCIAS
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NOTAS
CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA
Concepção e elaboração do manuscrito: C.M.M. Viola; L. F. Sales
Coleta de dados: C.M.M. Viola
Análise de dados: C.M.M. Viola
FINANCIAMENTO
Não se aplica.
CONFLITO DE INTERESSES
Não se aplica.
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PUBLISHER
Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação.
Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de
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da universidade.
EDITORES
Edgar Bisset Alvarez, Ana Clara Cândido, Patrícia Neubert, Genilson Geraldo, Jônatas Edison da
Silva, Mayara Madeira Trevisol.
HISTÓRICO
Recebido em:29–05-2023 - Aprovado em:23–10-2023 - Publicado em: 27-01-2024.