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Universidade Estadual do Maranhão-UEMA

Núcleo de Tecnologias para Educação-UEMAnet


Curso de Especialização em Literatura e Ensino
Disciplina: Letramento Literário e Ensino

Vilmária Neves da Silva


Profs. Dra. Marta Helena Piovesan e
Dra. Soraya De Melo Barbosa Sousa
Tutor: Profº. Me. Caio da Silva
Carvalho

Diário de leitura

1. Memórias literárias

Desde que aprendi a ler, tive contato com o mundo da leitura através de gibis e
outras obras infantis que recebia através de doações, presentes de parentes que vinham de
longe e outros através da biblioteca bem pequena (uma prateleira) que havia na escola em
que estudei os anos iniciais.
Durante a adolescência, tive muito incentivo à leitura tanto por minha família, em
especial da minha irmã mais velha, que na época já era professora, quanto por uma
professora dos anos finais do Ensino Fundamental, esta sempre nos envolvia em projetos
de leitura. A minha irmã me presenteou com uma coleção de condensados das principais
obras de Machado de Assis e encantei-me pelas histórias, personagens e estes mesmos
livros eu costumava escolher para análises literárias solicitadas pela professora. Eu
adorava fazer as análises e as peças teatrais baseadas nas histórias lidas.
Em relação ao Ensino Médio, não fiz muitas leituras de obras completas
solicitadas pelos professores, utilizavam mais fragmentos de textos. Mas eu lia os livros
escolhidos por mim fora da escola, poderíamos pegar livros emprestados na biblioteca
pública, que se chamava Farol da Educação e depois já ao final do 3º ano li as obras
solicitadas para realizar o vestibular.
Na graduação, li bastantes obras e a cada novo texto ou nova disciplina, aprendia
a ler de uma maneira diferente tentando desvendar os mistérios da leitura, do autor e
observá-lo sob diversos aspectos. Nesse período, aprendi a ler de uma forma nova que
nunca tinha feito antes. Muitos livros marcaram-me durante o meu percurso de leitora,
“Os miseráveis” de Victor Hugo, “Dom Casmurro” e “Helena” de Machado de Assis,
Capitães de areia, de Jorge Amado, entre outros e na faculdade as obras “O Senhor das
moscas” de William Golding e “A Revolução dos bichos” de George Orwell. Com estas
obras aprendi a fazer a leitura crítica e reflexiva buscando inferências e comparações com
o mundo real.
Ministro aulas de Língua Portuguesa para turmas de 8º e 9º anos e sempre busco
incentivá-los e mostrá-los novas formas de observar o texto, pontos a serem lidos com
mais cuidado e os conhecimentos de mundo que podemos atrelar ao contexto presente no
texto lido que podem ajudar a decifrar e compreendê-lo.
Atualmente sou uma leitora pontual, sempre gosto de ter algo em mãos para ler
em qualquer momento do dia. Tenho lido livros com temáticas referentes à ansiedade,
estresse e outros temas relacionados às questões psicológicas e comportamentais. Alio às
minhas leituras acadêmicas, materiais para planejamento de aulas, leituras para e com
meus alunos em sala de aula. Além das leituras diárias com minha filha.
Acredito que o papel da família e da escola é fundamental para a formação leitora,
pois através das obras que lhe são ofertadas, o discente passa a ter contato com o mundo
literário, tornando-se cada vez mais um leitor ativo e crítico. Pois iniciando pelas leituras
mais simples e atrativas como revistas, gibis entre outros gradualmente chegarão às obras
com enredos mais complexos. Assim, certamente, culminará no letramento literário dos
alunos.

2. Compreensão dos contos

A leitura dos contos “Natal na barca” de Lígia Fagundes Telles e “A casa tomada”
de Julio Cortazar, traz um ar de mistério, de obscuridade quanto às ações dos personagens
envolvidos nas narrativas, o espaço onde os fatos desenvolvem-se e o comportamento das
mesmas diante do que lhes ocorre.
O conto de Lígia Fagundes apresenta uma linguagem mais complexa, cheia de
alegorias, o título pode remeter a diversos sentidos que se consegue depreender no
decorrer da leitura. O texto de Júlio apresenta uma linguagem mais clara e simples. Em
ambos, há muitas descrições dos fatos, do espaço e ambiente, das ações das personagens,
além de apresentá-las ao leitor.
Ao finalizar a leitura, é perceptível o contraste entre os dois textos e os sentidos
que ambos trazem para a reflexão leitora. São enredos bem distintos, personagens
diferentes, porém pode-se observar algo em comum quanto à temática que envolve
mistério, medo, morte e ressurreição, amor a algo ou a alguém, mas com comportamentos
e ações opostas dos personagens.
“O natal na barca” nos traz uma mãe que aparenta características de pessoa sofrida
e que apesar de ter sido abandonada pelo marido, ter perdido um filho de apenas quatro
anos de idade, não se deixa abater e mantém-se apegada à inabalável fé que possui e
vivacidade em seus olhos. Parece se agarrar com todas as forças para proteger aquilo ou
a quem ama. Queria muito ver o filho morto pelo menos mais uma vez e com a sua fé
consegue através de um sonho encontrá-lo junto a Deus. Mas na noite escura, noite de
Natal, dentro de uma barca sob um rio misterioso, ela acredita na recuperação do outro
filho que parece morto em seus braços, mas que ali ressuscita através da fé que possui o
que nos remete ao título do texto e a ideia de renascimento.
Em “A casa tomada”, os personagens, que são irmãos, adoram a casa em que
moram onde guardava as recordações dos familiares e de toda a infância. Não se casaram
e se dedicaram àquele lugar pretendendo morrerem ali, sem que nenhum parente herdasse
a casa. Boa parte do tempo, se dedicam aos afazeres do lugar e às atividades individuais
que faz parte da rotina de cada um. No entanto, deixam que a casa seja tomada por
barulhos misteriosos e deixam-se vencer sem ao menos lutar por aquilo que tanto
veneram. Esses barulhos podem remeter a diversos fatos ou pessoas que desejariam
apropriar-se daquele lugar.
Desse modo ambos os contos instigam a imaginação do leitor explorando o
mistério e obscuridade e nos mostram as ações diferentes dos personagens diante de seus
conflitos. Uma mãe movida pela fé que a mantém firme diante das peças que a vida lhe
prega e os irmãos mostram-se apáticos diante do que lhes rodeiam e não reagem, não
lutam pelo que amam, nem mesmo com a perda própria liberdade. Percebe-se a oposição
na vida dos personagens desde a situação econômica até a forma díspar como veem e
vivem a vida, como contornam os problemas e seguem adiante.
Percebo que o texto nos mostra duas formas de agir diante das dificuldades: com
fé e coragem ou de forma apática, sem atitudes. Podemos remeter tais ações a qualquer
aspecto de nossa vida. Agiremos como a mãe forte e esperançosa ou faremos como os
irmãos que não encaram o problema para resolvê-lo, deixando-o abatê-los?

3. Proposta didática

A leitura dos contos “Natal na barca” de Lígia Fagundes Telles e “A casa tomada”
de Julio Cortazar nos remete a formas diferentes de ver a vida aguçando nossa imaginação
diante dos mistérios expostos. Dessa forma os trariam para a sala de aula, para turmas de
9º ano e 1º ano do Ensino médio. É importante inserir junto aos textos informações sobre
a biografia dos autores e em que circunstâncias tais textos formam escritos.
A inserção dos contos durante duas aulas se daria nas seguintes etapas:
• Leitura calma, minuciosa e individual dos contos, analisando o
vocabulário, pesquisando sobre as palavras desconhecidas;
• Promover a discussão oral sobre as narrativas, os temas identificados,
características físicas e psicológicas dos personagens, o ambiente disposto
em cada conto assim como as ações que se desenrolam em cada um;
• Realizada esta análise, parte-se para a parte escrita onde os discentes
refletirão sobre o comportamento dos personagens diante dos fatos que
lhes sucedem, traçando um paralelo entre ambos, como no quadro abaixo.

Conto A casa tomada Natal na barca


Como encaram a vida?
Como enfrentam os problemas?
Qual o clímax?
Como se dá o desfecho?
E você, discente, com qual
conto e personagem se
identifica, levando em
consideração de como enfrenta
seus desafios no dia a dia?

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