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Artigo - Poesia Social - Versão 2 Vilmária Formatado
Artigo - Poesia Social - Versão 2 Vilmária Formatado
BALSAS
2022
2
BALSAS
2022
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BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Nome do orientador (Orientador)
Titulação
________________________________________
1º Examinador
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2ºExaminador
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ABSTRACT
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1 INTRODUÇÃO
Zilberman, entre outros pensadores que elaboraram trabalhos pertinentes ao assunto com
relevância e de fundamental importância na formação de leitores críticos no âmbito
escolar.
Dessa forma, a poesia social é uma vertente da literatura poética em que valores
políticos e sociais são ressaltados e destacados para atingir o leitor, o que é
complementado por Cândido (2011, p. 183), “disso resulta uma literatura empenhada que
parte de posições éticas, políticas, religiosas ou simplesmente humanística. [...] Onde o
autor parte de uma certa visão da realidade e a manifesta com tonalidade crítica”. Nessa
vertente, o grande representante da poesia social é Ferreira Gullar.
Neste contexto, Cândido (1999, p. 83, cap. II) diz que “a fantasia quase nunca é pura.
Ela se refere constantemente a alguma realidade: fenômeno natural, paisagem,
sentimento, fato, desejo de explicação, costumes, problemas humanos, etc.” Sendo assim,
é fundamental que o discente consiga aliar a arte à realidade fazendo inferências entre as
mesmas apegando-se às metáforas e pistas deixadas pelo autor. Cândido acrescenta ainda
“eis por que surge a indagação sobre o vínculo entre fantasia e realidade, que pode servir
de entrada para pensar na função da literatura. (1999, p. 83, cap. II)
Para que a função utilitária da literatura – e da arte em geral – possa dar lugar
à sua dimensão humanizadora, transformadora e mobilizadora, é preciso supor
– e, portanto, garantir a formação de – um leitor-fruidor, ou seja, de um sujeito
que seja capaz de se implicar na leitura dos textos, de “desvendar” suas
múltiplas camadas de sentido, de responder às suas demandas e de firmar
pactos de leitura.
Nesse sentido, a BNCC (BRASIL, 2017, p. 139) destaca ainda que, “a relevância
desse campo para o exercício da empatia e do diálogo, tendo em vista a potência da arte
e da literatura como expedientes que permitem o contato com diversificados valores,
comportamentos, crenças, desejos e conflitos [...]”, o que contribui, dentro do
desenvolvimento intelectual do discente, para o reconhecimento e compreensão de modos
diferentes de ser e estar no mundo, respeitando aquilo que é diverso.
Nesta perspectiva, a poesia em sala de aula estimula a aprendizagem em seus mais
variados âmbitos, como a leitura, escrita, interpretação, compreensão, reflexão,
criticidade, o despertar das emoções e faz com que o aluno exercite mais a sua mente
desenvolvendo um melhor vocabulário, ampliando seu universo de palavras e
consequentemente, tornando-se um leitor assíduo.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais, DCE (PARANÁ, 2008, p.
57) “a literatura, como produção humana, está intrinsecamente ligada à vida social”. O
que se associa ao que Cândido (1972) apud DCE (PARANÁ, 2008, p. 57) afirma: “a
literatura é vista como arte que transforma/humaniza o homem e a sociedade”. Por isso é
importante o professor/escola inserir a arte poética e literária no ambiente de ensino
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também como leitura apreciativa e prazerosa visando a uma ação que integre o cotidiano
dos discentes de forma contínua e transformadora.
Desta maneira, Cândido (1972) apud DCE (2008, p.58) postula que “a função
social, por sua vez, é a forma como a literatura retrata os diversos segmentos da sociedade,
é a representação social e humana”. Por esse âmbito, o aluno amplia seu universo, sua
experiência cultural ao lê uma obra e absorver seus sentidos modificando-a também de
acordo com a sua compreensão, claro que, de uma forma que seja aceitável dentro de suas
possibilidades de interpretação.
Ao inserir o texto poético social em sala de aula, o professor instiga o aluno a
pensar, estimulando-o a preencher as lacunas deixadas nos textos pelo autor utilizando
seus conhecimentos de mundo e experiências de vida para interpretá-lo relacionando-o à
realidade. Em consonância ao DCE (2008, p. 75), “aluno é o leitor e como leitor, é ele
quem atribui significados ao que lê, é ele quem traz vida ao que lê, de acordo com seus
conhecimentos prévios, linguísticos, de mundo”. O que vem de encontro com Sousa
(2020, p. 73) quando esta afirma “de todas as significações provisórias de que se tem
conhecimento, hoje há uma certeza: literatura é o texto que permite o encontro de mundos:
o mundo criado no texto e o do leitor.”
Segundo as DCEs (PARANÁ, 2008, p.59) “o texto traz lacunas, vazios, que serão
preenchidos conforme o conhecimento de mundo, as experiências de vida, as ideologias,
as crenças, os valores, etc. que o leitor carrega consigo”. Dessa forma, o texto literário
exige maior raciocínio e percepção do leitor, pois presume que ele decifre as várias
interpretações que lhe são oferecidas, levando-o a ler, pensar e compreender o que está
lendo.
Nas palavras do próprio Gullar “a poesia lida com o teu lado de vida verdadeiro,
com o teu lado de existência: com o amor, com o afeto, com a morte, com a perda. A
poesia é permanente porque lida com o que é permanente no ser humano”. E ainda
complementa que “eu sempre procurei passar pros jovens, depois, quando eu já estava
mais experimentado, essa ideia da pluralidade, sempre a ideia da pluralidade”. O que
vem de encontro à faixa etária dos alunos que estão no Ensino Fundamental anos finais,
formando suas personalidades e a visão crítica do mundo à sua volta.
Kleiman (1989, p. 158 Cap. III) versa ainda que “a complexa interação entre leitor
e autor para depreender o significado do texto no ato da leitura, a multiplicidade de
leituras possíveis de um mesmo texto apontam a necessidade de postular processos
interativos dinâmicos, criativos [...] Dessa forma, é essencial que o professor utilize
metodologias e práticas pedagógicas que incentivem seus alunos ao hábito de ler, não
impondo inicialmente leituras consideradas difíceis, mas se atendo ao seu público leitor
priorizando leituras que os envolvam de forma prazerosa e como ressalta Chartier (1998)
seja por meio do livro impresso ou mesmo o eletrônico por meio de telas virtuais e
interativas.
As autoras Horellou-Lafarge & Segré (2010, p. 80, cap. III) destacam que “na
escola, ler é considerado um dever e também reconhecido como uma distração útil”. Neste
ensejo, as autoras corroboram para o fato de que é interessante pensar e utilizar estratégias
que possam atrair a atenção dos discentes quanto à leitura, como o uso inicialmente de
linguagens mais simples, mais acessíveis, utilizando textos poéticos que dialogam com o
universo dos alunos e que a partir do contexto em que estão inseridos possam conhecer
novos olhares e fazer paralelos com as suas realidades.
obra de denúncias e reflexões acerca dos problemas sociais. Zilberman (1991, p.18)
ressalta que “a própria ação de ensinar a ler e escrever leva o indivíduo a aceitar o fato de
que lhe cabe assimilar os valores da sociedade. Ao que complementa Delgado (2016, p.
04) de forma sucinta que:
A fim de que o trabalho com poesia na escola seja entendido em toda a sua
complexidade e importância, faz-se necessário compreendê-la como
linguagem na sua carga máxima de significado e de reflexão, poesia-pensante,
mas também ritmo, dança, música, sentimento, emoção, revolução, poesia que
tem função social, poesia de caráter humanizador, ético, capaz de mudar o
mundo. E para tudo isso é necessário que haja o contato, senão estaríamos
falando às paredes, devido ao quase inexistente contato que o aluno tem na
escola com esse tipo de gênero literário.
leitura fazem com que o leitor dialogue com o texto, compreenda-o sobre sua visão,
tornando-se o leitor um coautor do texto lido.
Dessa forma, é indispensável trazer o aluno para o universo da leitura com gosto,
de forma atrativa, em que este possa mergulhar no enredo das obras, desvendando seus
personagens e investigando as pistas deixadas pelo narrador, analisando temas sociais e
discutindo-os, além de construir pensamento crítico do universo pluricultural que os
textos oferecem. Nesse sentido, Kleiman (1989, p.175) esclarece que precisamos de
textos que permitem o envolvimento do aluno como sujeito que infere, reflete, avalia [...].
A poesia social cumpre esse papel de forma satisfatória e efetiva.
No que tange à poesia social de Ferreira Gullar, este produziu com louvor,
propriedade e indagações diversas poesias e poemas onde discute temas relevantes e que
continuam atuais. Alguns de seus textos poéticos como “Poema sujo”, que é um de seus
principais poemas, “Não há vagas”, “Poema brasileiro”, “Homem comum”, dentre vários
outros proporcionam ao discentes a leitura e o estudo poético de cunho social aguçando
assim a sensibilidade para a percepção da realidade, fazendo uma leitura interativa ao
mesmo passo que o aluno traça um paralelo entre o texto lido e a sua vida.
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne [...]
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Por esse âmbito, o poema citado acima pode ser desenvolvido em sala de aula
fazendo uma intertextualidade com o gênero notícia, onde é possível discutir com os
discentes sobre os temas “desemprego”, “inflação”, entre outros que são veiculados
diariamente em noticiários jornalísticos e em seguida apresentá-los o poema, onde é
importante ressaltar dados importantes sobre o autor e sua trajetória e o contexto em que
escreveu o texto que será lido. É importante que o professor acompanhe a leitura dos
discentes e observe as dificuldades encontradas pelos mesmos como vocabulário,
entonação e ritmo de leitura.
começar a pensar o mundo a sua volta, a realidade econômica de sua família e porque a
situação do país chega ao ponto descrito no poema.
Poema brasileiro
No Piauí
De cada cem crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade
No Piauí
De cada 100 crianças
Que nascem
78 morrem
Antes
De completar
8 anos de idade
[...]
O poema acima pode fazer parte de diversos contextos de ensino, desde o literário
até o gênero midiático/jornalístico, pois o mesmo pode ser interpretado como uma notícia
comum de jornal que se transformou em poema. Neste caso, é fundamental levantar
hipóteses sobre a estrutura do poema (a disposições dos versos), juntamente com os
discentes, pensando o que o poeta quis retratar. Kleiman (1989, p. 94) fala que quando o
conhecimento do leitor interage com as informações do texto, uma das fontes necessárias
para a depreensão do tema é o conhecimento que o leitor tem sobre a estrutura do texto.
Nesse sentido a autora complementa que “a familiaridade com um tipo de texto facilita a
depreensão do tema” (Kleiman,1989, p. 94).
Dessa forma, quanto à construção dos versos, pode-se questionar aos discentes
“Porque há a repetição de versos de forma enfática e a que essa repetição nos remete
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quando a relacionamos com uma notícia?” Qual a mensagem implícita do poeta agregada
aos versos: “No Piauí de cada 100 crianças que nascem / 78 morrem antes de completar
8 anos de idade?”, “Porque o problema do estado do Piauí parece não se resolver, quais
fatores impedem a solução?”, dentre outras infinidades de hipóteses e questionamentos
que vão surgindo de acordo com as percepções dos discentes, desde que instigados pelo
professor. Como destaca Zilberman (2008, p.), “assim, o leitor configura-se como
parceiro do texto, concretizando o processo dialógico que fundamenta a leitura”.
Homem Comum
Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento
[...]
Sou como você
feito de coisas lembradas
e esquecidas
rostos e
mãos, o guarda-sol vermelho ao meio-dia
em Pastos-Bons
[...]
Quanto ao poema em questão, este pode ser relacionado a fatos históricos de nosso
país, como a ditadura militar, o que possibilita envolver os alunos em pesquisas sobre a
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O teatro pode ser sob a forma de diálogos entre homens comuns que se aproximam,
se identificam por vivências inerentes, mas ao mesmo tempo apresentam suas
singularidades. Caberá aos discentes construir esta análise fazendo referentes a eles
mesmos e de forma crítica preparar o discurso de cada personagem.
Com base no exposto, é possível demonstrar que universo literário possui também
uma visão humanista, onde há a preocupação com o homem e sua condição no mundo,
pois a exemplo de Gullar que utiliza sua arte a favor da crítica social, prova que esta
também pode ter um caráter utilitário. Então, a partir do estudo de poemas dessa natureza
os discentes deverão perceber que a Literatura não é alheia aos diversos fenômenos
históricos que marcaram nossa sociedade em diferentes épocas e diferentes contextos e
isto contribuirá para seu crescimento intelectual e vocabular.
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4 Considerações finais
É importante frisar que é somente no meio escolar que muitos alunos têm contato
com a leitura literária de um modo geral e se a escola não possui tal hábito, o acesso à
leitura poética torna-se escassa, o que faz com que o discente não tenha interesse em ler
poesias ou pouco compreende sua linguagem, abordagens e temas quando se depara com
este gênero.
A poesia social do poeta maranhense Ferreira Gullar alia a arte aos temas mais
variados que circundam nossa sociedade. Autor multifacetado, que através do fazer
poético, pode contribuir na aquisição não somente da habilidade de leitura pelo discente,
mas para que este possa fazer parte do contexto social no qual está inserido,
compreendendo e agindo de forma efetiva, crítica e participativa.
REFERÊNCIAS
SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da literatura. 10.ed. São Paulo: Ática, 2007