Você está na página 1de 22

1

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO


NÚCLEO DE TECNOLOGIAS PARA EDUCAÇÃO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ENSINO

VILMÁRIA NEVES DA SILVA

A INSERÇÃO DA POESIA SOCIAL DE FERREIRA GULLAR NO 9° ANO DO


ENSINO FUNDAMENTAL PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR CRÍTICO

BALSAS
2022
2

VILMÁRIA NEVES DA SILVA

A INSERÇÃO DA POESIA SOCIAL DE FERREIRA GULLAR NO 9° ANO DO


ENSINO FUNDAMENTAL PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR CRÍTICO

Artigo apresentado ao Curso de Especialização


em Literatura e Ensino, da Universidade Estadual
do Maranhão, Núcleo de Tecnologia para
Educação, como requisito para a obtenção do grau
de Especialista em Literatura e Ensino.

Orientador (a): Profa. Me. Ana Carla Vale Lago

BALSAS
2022
3

Ficha catalográfica vem no verso da folha de rosto.


A solicitação deve ser feita através do link:
https://forms.gle/XiRAajMoft1xvw8n6
O prazo de recebimento são de 05 dias uteis.
4

VILMÁRIA NEVES DA SILVA

A INSERÇÃO DA POESIA SOCIAL DE FERREIRA GULLAR NO 9° ANO DO


ENSINO FUNDAMENTAL PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR CRÍTICO
Artigo apresentado ao Curso de
Especialização em Literatura e Ensino, da
Universidade Estadual do Maranhão, Núcleo
de Tecnologia para Educação, como
requisito para a obtenção do grau de
Especialista em Literatura e Ensino.

Aprovado em: ____/___/____.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Prof. Nome do orientador (Orientador)
Titulação

________________________________________
1º Examinador

________________________________________
2ºExaminador
5
3

A INSERÇÃO DA POESIA SOCIAL DE FERREIRA GULLAR NO 9° ANO DO


ENSINO FUNDAMENTAL PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR CRÍTICO

Vilmária Neves da Silva1


RESUMO

O presente artigo aborda a revisão bibliográfica sobre a inserção da poesia social de


Ferreira Gullar no 9° ano do Ensino Fundamental para a formação do leitor crítico, pois
a escola deve ofertar aos discentes, atividades que contribuam para o desenvolvimento do
letramento literário dos mesmos. É importante que, no âmbito escolar essas atividades
incluam os textos poéticos, onde os alunos possam envolver-se com as ideias, temas e
discussões propostas no texto lido. Nessa perspectiva, acredita-se que a poesia gullariana
sirva para desafiar e atrair os alunos para a prática de leitura poética. Dessa forma, tornou-
se necessário direcionar a abordagem acerca do objeto de estudo, com base no material
teórico, fundamentada em artigos científicos, livros e diretrizes que apontam caminhos
que podem contribuir na aquisição não somente da habilidade de leitura pelo discente,
mas para que este possa fazer parte do contexto social no qual está inserido,
compreendendo e agindo de forma efetiva, crítica e participativa.

Palavras-chave: Poesia social. Leitor crítico. Ferreira Gullar.

ABSTRACT

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Keys words: Poesia social. Leitor crítico. Ferreira Gullar.

¹Aluna do Curso de Pós-Graduação em Educação Especial/Educação Inclusiva, da Universidade Estadual


do Maranhão, Núcleo de Tecnologia para Educação. vilmaria.alice@hotmail.com
6
4

1 INTRODUÇÃO

A poesia social possui uma grande relevância para a formação crítico-reflexiva


dos discentes, pois esta abre caminhos para a leitura, compreensão e interpretação em
suas vertentes textuais permitindo o encontro entre realidade e fantasia despertando a
reflexão e ampla crítica dos valores e vivências na sociedade em que vivemos. O presente
artigo apresenta um estudo significativo e relevante sobre a inserção da poesia social do
poeta Ferreira Gullar nos anos finais do Ensino Fundamental com o intuito de contribuir
para a formação do leitor crítico dentro e fora do contexto de sala de aula.

Nesse contexto, a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017, p. 138)


versa que o campo artístico-literário trata de possibilitar o contato com as manifestações
artísticas em geral e, de forma particular e especial com a arte literária e de oferecer as
condições para que se possa reconhecer, valorizar e fruir essas manifestações. O que torna
claro a importância da leitura literária em suas diversas vertentes na formação dos
discentes ao longo de sua vida escolar.

Partindo desta premissa, o estudo aponta possibilidades de construção de um


ambiente escolar capacitador e transformador através da leitura poética onde poderá haver
trocas de experiências e reflexões trazendo maior desenvolvimento e aprendizado
significativo aos discentes, ajudando-os na transformação de si mesmo e da realidade na
qual estão inseridos, melhorando a relação destes com a literatura e consequentemente
compreensão daquilo que lê.

Assim, a poesia de Ferreira Gullar abarca esta intenção, pois a qualidade e


importância da poesia gullariana em suas múltiplas faces e temas vêm de encontro ao que
se pretende atingir em sala de aula, o gosto e interesse pela leitura, reflexão e análise
crítica sobre aquilo que lê, instigando, desafiando os discentes cotidianamente no
ambiente escolar, levando-os a um olhar diferenciado sobre o mundo ao seu redor e, de
forma gradativa, inseri-lo no universo da leitura onde poderá relacioná-la à sociedade
onde vive e a seus próprios pensamentos.

O artigo constitui-se de revisão bibliográfica, com método qualitativo, através de


leitura, pesquisas e análises bibliográficas, realizadas em materiais distintos,
aprofundando a pesquisa no objeto de estudo, apoiando-se em artigos científicos,
documentos oficiais como a BNCC e DCE e livros de autores como Cândido, Kleiman,
75

Zilberman, entre outros pensadores que elaboraram trabalhos pertinentes ao assunto com
relevância e de fundamental importância na formação de leitores críticos no âmbito
escolar.

Dessa forma, este estudo objetiva conhecer a importância da leitura poética na


formação de leitores críticos no contexto escolar, baseando-se na poesia social de Ferreira
Gullar, assim como reconhecer o hábito da leitura poética em sala de aula como ação
prazerosa e motivadora, verificar a importância do uso da poesia nas práticas pedagógicas
como aprofundamento e ampliação de conhecimentos e enriquecimento vocabular bem
como incentivar a leitura apreciativa e interpretativa da poesia de Ferreira Gullar no
cotidiano escolar para instigar, desafiar e atrair o interesse do discente por diversos
âmbitos.

2. Poesia social: ferramenta de ensino e reflexão crítica

Poesia, conforme E-Dicionário de Termos Literários (EDTL), do grego


“POIESIS” (substantivo, gênero feminino) significa “ação de fazer”, que, dentre
outros conceitos, cita:[...] III. Falando-se de inteligência: 1. Ação de compor obras
poéticas. 2. Faculdade de compor obras poéticas, arte da poesia, donde abstratamente a
poesia. 3. Obra poética, poema, poesia. 4. Gênero poético, isto é, a tragédia e a comédia.
Souza (2007, p. 27) apresenta uma síntese de significados sobre o termo poesia, na
qual ele pontua: 1. Gênero de literatura caracterizado pelo uso do verso, da linguagem
metrificada, oposto ao gênero chamado prosa (significado que prevaleceu na Antiguidade
clássica e no Classicismo moderno [...] admite ainda, 2. Literatura em geral, englobando
tanto manifestações em linguagem metrificada quanto não-metrificada, desde que em tais
manifestações se reconheçam propriedades consideradas artísticas e/ou ficcionais [...]
Sendo assim, este termo apresenta definições, que ao longo dos estudos, não são
nada estáveis. De acordo com Santos e Morais (2021, p. 33), “na antiguidade grega, a
palavra poesia surgiu como sinônimo de literatura, associada à linguagem em verso
metrificado. As autoras complementam que com os avanços dos estudos, esta passou a
designar manifestações com efeitos estéticos – linguagem trabalhada, sem a
obrigatoriedade da metrificação no poema, estando presente também nos textos em prosa.

Analisando tais conceitos e definições relacionados à poesia, é possível observar


que esta vai muito além do que se concebem como criação poética onde apresentaria
68

somente o âmago do poeta, os sentimentos abstratos e a preocupação com a estética, pois


há outra vertente da criação poética, a poesia social. Aquela que traz em sua composição
problemas sociais e políticos existentes na sociedade. Neste ensejo, Pereira da Silva
(1836, p.237) complementa que:

A poesia é considerada no nosso século como o representante dos povos, como


uma arte moral, que muito influi sobre a civilização, a sociabilidade e os
costumes; sua importância na prática das virtudes, seus esforços a favor da
liberdade e da glória lhe marcam um lugar elevado entre as artes, que honram
uma nação.

Dessa forma, a poesia social é uma vertente da literatura poética em que valores
políticos e sociais são ressaltados e destacados para atingir o leitor, o que é
complementado por Cândido (2011, p. 183), “disso resulta uma literatura empenhada que
parte de posições éticas, políticas, religiosas ou simplesmente humanística. [...] Onde o
autor parte de uma certa visão da realidade e a manifesta com tonalidade crítica”. Nessa
vertente, o grande representante da poesia social é Ferreira Gullar.

Sendo assim, é possível destacar que entre as principais características da poesia


social estão a relevância de acontecimentos do cotidiano, realidade política, denúncia
social, crítica constante, linguagem de fácil acesso e engajamento social. A ideia seria
utilizar dos versos para protesto, contestação a fim de fazer denúncias sociais. Dessa
forma, a poética social, faz com que o poeta seja influenciado pelo contexto social em
que está inserido, pelos problemas que envolvem a sociedade através de um olhar crítico-
reflexivo.

A leitura poética adentra os campos fictícios e da fantasia que imitam a realidade


trazendo importantes elementos, reflexões e argumentos acerca do mundo que nos rodeia.
A poesia social é um exemplo que necessita ser lida, discutida e analisada em sala de aula
com os estudantes que se encontram em uma faixa etária de formação do senso crítico,
de descobertas e firmação de sua identidade, como os alunos que cursam o 9° ano.
Conforme afirma Delgado (2016, p. 05), “o texto poético moderno costuma caracterizar-
se pela sua capacidade de associação e de síntese, com abundância de metáforas e de
outras figuras literárias”, o que faz com que os discentes aflorem seus pensamentos e
reflexões acerca do que leem.
9
7

Neste contexto, Cândido (1999, p. 83, cap. II) diz que “a fantasia quase nunca é pura.
Ela se refere constantemente a alguma realidade: fenômeno natural, paisagem,
sentimento, fato, desejo de explicação, costumes, problemas humanos, etc.” Sendo assim,
é fundamental que o discente consiga aliar a arte à realidade fazendo inferências entre as
mesmas apegando-se às metáforas e pistas deixadas pelo autor. Cândido acrescenta ainda
“eis por que surge a indagação sobre o vínculo entre fantasia e realidade, que pode servir
de entrada para pensar na função da literatura. (1999, p. 83, cap. II)

2.1 A importância de trabalhar a poesia social no Ensino Fundamental

No âmbito escolar, a Base Nacional Comum Curricular, BNCC (BRASIL, 2017,


p. 138) orienta quanto às habilidades adquiridas no ensino de Língua Portuguesa nos anos
finais no que se refere ao campo artístico-literário que:

Para que a função utilitária da literatura – e da arte em geral – possa dar lugar
à sua dimensão humanizadora, transformadora e mobilizadora, é preciso supor
– e, portanto, garantir a formação de – um leitor-fruidor, ou seja, de um sujeito
que seja capaz de se implicar na leitura dos textos, de “desvendar” suas
múltiplas camadas de sentido, de responder às suas demandas e de firmar
pactos de leitura.

Nesse sentido, a BNCC (BRASIL, 2017, p. 139) destaca ainda que, “a relevância
desse campo para o exercício da empatia e do diálogo, tendo em vista a potência da arte
e da literatura como expedientes que permitem o contato com diversificados valores,
comportamentos, crenças, desejos e conflitos [...]”, o que contribui, dentro do
desenvolvimento intelectual do discente, para o reconhecimento e compreensão de modos
diferentes de ser e estar no mundo, respeitando aquilo que é diverso.
Nesta perspectiva, a poesia em sala de aula estimula a aprendizagem em seus mais
variados âmbitos, como a leitura, escrita, interpretação, compreensão, reflexão,
criticidade, o despertar das emoções e faz com que o aluno exercite mais a sua mente
desenvolvendo um melhor vocabulário, ampliando seu universo de palavras e
consequentemente, tornando-se um leitor assíduo.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais, DCE (PARANÁ, 2008, p.
57) “a literatura, como produção humana, está intrinsecamente ligada à vida social”. O
que se associa ao que Cândido (1972) apud DCE (PARANÁ, 2008, p. 57) afirma: “a
literatura é vista como arte que transforma/humaniza o homem e a sociedade”. Por isso é
importante o professor/escola inserir a arte poética e literária no ambiente de ensino
10
8

também como leitura apreciativa e prazerosa visando a uma ação que integre o cotidiano
dos discentes de forma contínua e transformadora.
Desta maneira, Cândido (1972) apud DCE (2008, p.58) postula que “a função
social, por sua vez, é a forma como a literatura retrata os diversos segmentos da sociedade,
é a representação social e humana”. Por esse âmbito, o aluno amplia seu universo, sua
experiência cultural ao lê uma obra e absorver seus sentidos modificando-a também de
acordo com a sua compreensão, claro que, de uma forma que seja aceitável dentro de suas
possibilidades de interpretação.
Ao inserir o texto poético social em sala de aula, o professor instiga o aluno a
pensar, estimulando-o a preencher as lacunas deixadas nos textos pelo autor utilizando
seus conhecimentos de mundo e experiências de vida para interpretá-lo relacionando-o à
realidade. Em consonância ao DCE (2008, p. 75), “aluno é o leitor e como leitor, é ele
quem atribui significados ao que lê, é ele quem traz vida ao que lê, de acordo com seus
conhecimentos prévios, linguísticos, de mundo”. O que vem de encontro com Sousa
(2020, p. 73) quando esta afirma “de todas as significações provisórias de que se tem
conhecimento, hoje há uma certeza: literatura é o texto que permite o encontro de mundos:
o mundo criado no texto e o do leitor.”

Segundo as DCEs (PARANÁ, 2008, p.59) “o texto traz lacunas, vazios, que serão
preenchidos conforme o conhecimento de mundo, as experiências de vida, as ideologias,
as crenças, os valores, etc. que o leitor carrega consigo”. Dessa forma, o texto literário
exige maior raciocínio e percepção do leitor, pois presume que ele decifre as várias
interpretações que lhe são oferecidas, levando-o a ler, pensar e compreender o que está
lendo.
Nas palavras do próprio Gullar “a poesia lida com o teu lado de vida verdadeiro,
com o teu lado de existência: com o amor, com o afeto, com a morte, com a perda. A
poesia é permanente porque lida com o que é permanente no ser humano”. E ainda
complementa que “eu sempre procurei passar pros jovens, depois, quando eu já estava
mais experimentado, essa ideia da pluralidade, sempre a ideia da pluralidade”. O que
vem de encontro à faixa etária dos alunos que estão no Ensino Fundamental anos finais,
formando suas personalidades e a visão crítica do mundo à sua volta.

2.2 A formação do leitor crítico a partir da poesia social


11
9

Para a autora Kleiman (2013 p.16,17), “a leitura não é apenas o entendimento de


um leitor inserido na cultura letrada, mas uma relação de aspectos sociais e culturais que
perpassam pela atividade intelectual em que o leitor utiliza diversas estratégias baseadas
em seu conhecimento linguístico, sociocultural e enciclopédico”. Assim, a leitura é um
processo de interação entre leitor-texto-contexto cabendo aos professores ofertar essa
base de conhecimentos necessários para que o leitor possa processar e construir o
significado do texto.

Kleiman (1989, p. 158 Cap. III) versa ainda que “a complexa interação entre leitor
e autor para depreender o significado do texto no ato da leitura, a multiplicidade de
leituras possíveis de um mesmo texto apontam a necessidade de postular processos
interativos dinâmicos, criativos [...] Dessa forma, é essencial que o professor utilize
metodologias e práticas pedagógicas que incentivem seus alunos ao hábito de ler, não
impondo inicialmente leituras consideradas difíceis, mas se atendo ao seu público leitor
priorizando leituras que os envolvam de forma prazerosa e como ressalta Chartier (1998)
seja por meio do livro impresso ou mesmo o eletrônico por meio de telas virtuais e
interativas.

Nessa perspectiva, é importante destacar a orientação de Zilberman (1991, p. 116)


em sua obra “A leitura e o ensino da literatura” onde faz uma reflexão sobre o tipo de
texto que pode circular na sala de aula, que inicia com uma questão de ordem conceitual
cabendo, de um lado, descrever e avaliar previamente os materiais de leitura, que não se
limitam ao livro, e por outro lado, compreender as razões que determinam a preferência
pelo texto escrito, especialmente o de natureza artística, vale dizer, a obra literária.

As autoras Horellou-Lafarge & Segré (2010, p. 80, cap. III) destacam que “na
escola, ler é considerado um dever e também reconhecido como uma distração útil”. Neste
ensejo, as autoras corroboram para o fato de que é interessante pensar e utilizar estratégias
que possam atrair a atenção dos discentes quanto à leitura, como o uso inicialmente de
linguagens mais simples, mais acessíveis, utilizando textos poéticos que dialogam com o
universo dos alunos e que a partir do contexto em que estão inseridos possam conhecer
novos olhares e fazer paralelos com as suas realidades.

A escola dá condições de adquirir as aptidões necessárias para ler, é a instância


essencial que dá legitimidade às leituras, mas, devido às normas que transmite,
às coerções diretas e indiretas que exerce, corre o risco, ao mesmo tempo, de
criar entraves a uma necessidade de leitura ainda frágil. (2010, p. 89, cap. III).
12
10

Em vista disso, Sagrilo (2009, p. 1011), complementa que “a linguagem,


justamente, pode se tornar um empecilho à realização da leitura. Quando o leitor real não
se identifica com o tipo de leitor desenhado no vazio do texto, pode acontecer que a leitura
seja abandonada e que não haja interação entre leitor texto”. Por isso torna - se
fundamental escolher textos em que os discentes possam vivenciá-los, reconhecer-se nos
personagens ou relacioná-los a sua vivência para que levantem temas e discutam-nos de
forma prazerosa e carreguem este hábito para além dos muros da escola. A poesia social
é uma ferramenta essencial neste sentido, pois estimula a leitura, o pensar e as reflexões
para compreendê-la fazendo inferências com o contexto em que os discentes estão
inseridos.
Assim, é válida a discussão acerca da leitura prescrita na escola, o que se leva a
refletir sobre o papel do professor-mediador frente a este desafio, o rompimento de
barreiras que atravancam o gosto pela leitura bem como a busca por novas formas de
apresentar esse novo mundo para os discentes. O acesso à leitura e ao conhecimento da
literatura é um direito desse cidadão em formação, porque a linguagem é o principal
mediador entre o homem e o mundo (ZILBERMAN, 2010, p. 212)
É importante salientar que o contato dos discentes com as obras a serem lidas, em
um primeiro momento, deve ser mais cuidadoso para que sintam-se interessados pela
leitura e não a vejam como enfadonha. “O primeiro olhar para o texto literário, tanto para
os alunos de Ensino Fundamental como do Ensino Médio, deve ser de sensibilizado, de
identificação” (DCE, 2008, p. 75).
Dessa forma, é necessário ler no âmbito escolar, abrir espaço para as discussões, e
indagações em sala de aula, instigar a curiosidade do leitor e estimular o respeito às
diferentes visões e colocações acerca daquilo que se discute. Nesse sentido, a escola
precisa ser um ambiente formador onde a apreensão de conteúdos deva necessariamente
inserir o aluno no dia-a-dia das questões sociais marcantes e em um universo cultural
maior. Em consonância com o que diz Zilberman (1991, p. 18), ensino e leitura são
atividades que, também, se confundem, constituindo-se, desde então, no fundamento do
processo de socialização do indivíduo.
Assim, de acordo com a faixa etária dos alunos do 9° ano do Ensino Fundamental
onde estes se encontram em constante processo de formação intelectual e de firmação da
personalidade, é pertinente a inserção da poesia social como estratégia desenvolvimento
da leitura crítica e consequentemente na formação leitora dos discentes, pois Ferreira
Gullar, como o poeta das indagações, tem muito a contribuir nesse contexto com a sua
13
11

obra de denúncias e reflexões acerca dos problemas sociais. Zilberman (1991, p.18)
ressalta que “a própria ação de ensinar a ler e escrever leva o indivíduo a aceitar o fato de
que lhe cabe assimilar os valores da sociedade. Ao que complementa Delgado (2016, p.
04) de forma sucinta que:

A fim de que o trabalho com poesia na escola seja entendido em toda a sua
complexidade e importância, faz-se necessário compreendê-la como
linguagem na sua carga máxima de significado e de reflexão, poesia-pensante,
mas também ritmo, dança, música, sentimento, emoção, revolução, poesia que
tem função social, poesia de caráter humanizador, ético, capaz de mudar o
mundo. E para tudo isso é necessário que haja o contato, senão estaríamos
falando às paredes, devido ao quase inexistente contato que o aluno tem na
escola com esse tipo de gênero literário.

Por esse âmbito, a leitura poética proporciona autonomia e criticidade, fatores


primordiais na formação do leitor, bem como o prazer de ler e a capacidade de criar
relações entre o que é lido e vivido, entre texto e contexto, visto que ensinar a ler vai
muito além da decodificação, pois é fundamental que se tenha um objetivo de leitura, seja
para localizar uma informação específica, seguir comandos e instruções, para ampliar os
conhecimentos sobre determinados assuntos ou até mesmo uma leitura apreciativa e
prazerosa ou indagadora.
Kleiman (1989) afirma que durante a leitura, o leitor proficiente levanta hipóteses
sobre o texto, segundo suas experiências, vivências e saberes, que são trazidos e
mobilizados por ele, na interação com o autor, para extrair e construir significados do
texto. A autora ressalta ainda a importância da construção de hipóteses, pois segundo a
mesma, “uma hipótese sobre o texto é uma expectativa antecipada, que o leitor forma a
respeito do conteúdo do texto, com base no gênero a que este pertence”, por conseguinte
“o leitor testa essas hipóteses à medida que vai encontrando novas informações; ele se
engaja na atividade e responde ao texto, revisando ou confirmando suas hipóteses
iniciais”.
Nessa perspectiva, é preciso que o leitor conheça o gênero textual, a sua estrutura e
função social, o que contribuirá para que este compreenda os sentidos e significados de
determinados textos, fazendo com que a leitura se torne também uma situação
comunicativa. Assim, Sagrilo (2009, p. 1010), afirma que “ao escrever, o autor é exposto
às influências do leitor, mas é o leitor em contato com o produto que sai modificado. O
ato da produção e da recepção literária é um diálogo”. Por isso, é importante centrar na
oralidade, na análise da linguagem dos textos, na produção, pois as discussões através da
14
12

leitura fazem com que o leitor dialogue com o texto, compreenda-o sobre sua visão,
tornando-se o leitor um coautor do texto lido.

Dessa forma, é indispensável trazer o aluno para o universo da leitura com gosto,
de forma atrativa, em que este possa mergulhar no enredo das obras, desvendando seus
personagens e investigando as pistas deixadas pelo narrador, analisando temas sociais e
discutindo-os, além de construir pensamento crítico do universo pluricultural que os
textos oferecem. Nesse sentido, Kleiman (1989, p.175) esclarece que precisamos de
textos que permitem o envolvimento do aluno como sujeito que infere, reflete, avalia [...].
A poesia social cumpre esse papel de forma satisfatória e efetiva.

3. Apontamentos metodológicos para trabalhar a poesia social de Ferreira Gullar


em sala de aula

Ferreira Gullar, maranhense indagador, é um dos poetas mais relevantes da


literatura brasileira. As suas obras multifacetadas ficaram marcadas principalmente pelas
questões políticas e sociais, pois são únicas e engajadas socialmente, trazendo à tona
visões e reflexões pertinentes no que tange a sociedade e seus diversos aspectos sem
deixar a singularidade própria da construção poética de lado. O que se confirma nas
palavras do próprio poeta, em sua obra “Indagações de hoje” apud Sártori (2014, p. 27),
“é nessa relação com o processo social, com o problema da fome, da reforma agrária, do
imperialismo, do favelado, que minha linguagem foi se constituindo” (Gullar, 1989, p.
132).
Assim, fica evidente a importância de inserir e trabalhar o texto poético com mais
afinco e direcionamento em sala de aula ofertando aos alunos obras de qualidade e que
possuam uma variedade temática para que possam adquirir conhecimentos com leituras
diversificadas e sob o olhar crítico do autor. Nesse viés, a obra multifacetada de Ferreira
Gullar encaixa-se perfeitamente, instigando os discentes a refletirem tendo como base sua
visão crítica em variados contextos. Nesse sentido, cabem aqui as reflexões de Santos e
Moraes (2021, p. 47) quando dizem “o que especifica um autor é a sua capacidade de
manejar, reordenar a palavra, dotá-la de especificidades únicas que tornam a obra
inesgotável”. Elas ressaltam ainda, “o que especifica um autor é a sua capacidade de dotar
a obra de plurissignificação, permitindo olhares e modos diferentes de interpretação.
15
13

No que tange à poesia social de Ferreira Gullar, este produziu com louvor,
propriedade e indagações diversas poesias e poemas onde discute temas relevantes e que
continuam atuais. Alguns de seus textos poéticos como “Poema sujo”, que é um de seus
principais poemas, “Não há vagas”, “Poema brasileiro”, “Homem comum”, dentre vários
outros proporcionam ao discentes a leitura e o estudo poético de cunho social aguçando
assim a sensibilidade para a percepção da realidade, fazendo uma leitura interativa ao
mesmo passo que o aluno traça um paralelo entre o texto lido e a sua vida.

Por esse viés, é pertinente conhecer poemas, já anteriormente citados, do autor,


seguidos por algumas sugestões pedagógicas de como tais poemas podem contribuir para
o desenvolvimento da leitura crítica, instigando o aluno a pensar, refletir e extrair
informações e pistas apontadas pelo autor sobre a temática em questão e as inferências
que este faz ao longo de seus versos em relação às questões sociais envolvidas. Os pontos
que precedem a uma boa leitura de poema sempre precisam estar em pauta como a época
em que foi publicado ou produzido, dados biográficos do autor, contexto histórico e
temática abordado no poema.

O poema “Não há vagas” possui um contexto relativamente social onde apresenta


diversos problemas coletivos e de ordem pública, recorrentes em nosso país, que, segundo
o eu-lírico, de fato são muito mais relevantes do que o próprio poema. Assim, Luft (2009,
p. 14) reforça que “em sua composição poética, Gullar reuniu as impressões que a
vivência do choque deixou em sua condição de cidadão consciente e preocupado com os
destinos do país, especialmente quanto aos interesses da classe operária.

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne [...]
16
14

Ao apresentar e instigar a leitura apreciativa do poema aos discentes é importante


que o professor siga alguns passos que precedem a leitura, como os apontados por Cosson
(2009) em sua obra “Letramento Literário: Teoria e Prática”, onde o autor cita quatro
etapas importantes durante a inserção de um texto literário em sala de aula. São elas a
motivação, a introdução, leitura e a interpretação. Segundo o autor, a motivação é a
preparação do aluno para que ele “entre” no texto com uma temática relacionada ao texto
literário. A introdução, por sua vez, é a apresentação do autor e da obra seguida da leitura
do texto em si, que deve ter um acompanhamento do professor. A interpretação se dá em
dois momentos, um interior e outro exterior. O momento interior é a decifração, o
encontro do leitor com a obra, já o momento exterior é a construção de sentido, as
inferências que o aluno faz durante a leitura com seus conhecimentos de mundo. Cada
momento é importante para o contato do discente com a obra apresentada.

Por esse âmbito, o poema citado acima pode ser desenvolvido em sala de aula
fazendo uma intertextualidade com o gênero notícia, onde é possível discutir com os
discentes sobre os temas “desemprego”, “inflação”, entre outros que são veiculados
diariamente em noticiários jornalísticos e em seguida apresentá-los o poema, onde é
importante ressaltar dados importantes sobre o autor e sua trajetória e o contexto em que
escreveu o texto que será lido. É importante que o professor acompanhe a leitura dos
discentes e observe as dificuldades encontradas pelos mesmos como vocabulário,
entonação e ritmo de leitura.

Durante o processo de interpretação feito pelos discentes é fundamental refletir


com os mesmos sobre a linguagem e estrutura do poema e as figuras de palavras que
compõem o texto poético. Por conseguinte, pode-se lançar questionamentos aos discentes
que os levem a pensar no contexto do poema, seus sentidos e fazer inferências com a
realidade que os rodeiam, o que Cosson (2009) denomina como interpretação externa.

Indagações como: “Por que o poeta cita preços de alimentos e serviços


indispensáveis ao nosso consumo diário e diz que os mesmos não cabem no poema?”,
“Pode se fazer uma relação entre o tamanho do poema e o tamanho da inflação no país?”,
“Qual a correlação entre as expressões “salário de fome”, “não há vagas”, “poema
fechado” com os termos “desemprego” e “alta inflação”? Nesse sentido, é interessante o
professor fazer uma interdisciplinaridade e explanar sobre as questões econômicas do país
sempre instigando/provocando o aluno a refletir e buscar respostas no poema analisado e
15
17

começar a pensar o mundo a sua volta, a realidade econômica de sua família e porque a
situação do país chega ao ponto descrito no poema.

Outro poema igualmente relevante de Gullar para analisar e levantar discussões


em sala de aula é o “Poema brasileiro”, o qual também de cunho social apresenta de forma
poética aquilo que poderia ser lido como uma notícia de jornal. É como se as pessoas não
se importassem com a vida. O poeta cita o estado do Piauí e situações recorrentes por lá
como exemplo de algo ruim que poderá se expandir por todo o território nacional. O que
leva a crer que aqueles que deveriam impedir que tais fatos acontecessem ou erradicá-los
parecem não se importar, surgindo, nesse caso, uma crítica a fatores políticos.

Poema brasileiro

No Piauí de cada 100 crianças que nascem


78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
De cada cem crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade
No Piauí
De cada 100 crianças
Que nascem
78 morrem
Antes
De completar
8 anos de idade
[...]

O poema acima pode fazer parte de diversos contextos de ensino, desde o literário
até o gênero midiático/jornalístico, pois o mesmo pode ser interpretado como uma notícia
comum de jornal que se transformou em poema. Neste caso, é fundamental levantar
hipóteses sobre a estrutura do poema (a disposições dos versos), juntamente com os
discentes, pensando o que o poeta quis retratar. Kleiman (1989, p. 94) fala que quando o
conhecimento do leitor interage com as informações do texto, uma das fontes necessárias
para a depreensão do tema é o conhecimento que o leitor tem sobre a estrutura do texto.
Nesse sentido a autora complementa que “a familiaridade com um tipo de texto facilita a
depreensão do tema” (Kleiman,1989, p. 94).

Dessa forma, quanto à construção dos versos, pode-se questionar aos discentes
“Porque há a repetição de versos de forma enfática e a que essa repetição nos remete
16
18

quando a relacionamos com uma notícia?” Qual a mensagem implícita do poeta agregada
aos versos: “No Piauí de cada 100 crianças que nascem / 78 morrem antes de completar
8 anos de idade?”, “Porque o problema do estado do Piauí parece não se resolver, quais
fatores impedem a solução?”, dentre outras infinidades de hipóteses e questionamentos
que vão surgindo de acordo com as percepções dos discentes, desde que instigados pelo
professor. Como destaca Zilberman (2008, p.), “assim, o leitor configura-se como
parceiro do texto, concretizando o processo dialógico que fundamenta a leitura”.

É importante salientar, que o trabalho com este poema pode se dá através de


pesquisas prévias realizadas pelos discentes acerca de informações sobre o Estado do
Piauí e suas taxas de natalidade e mortalidade e quais as principais dificuldades
socioeconômicas enfrentadas pelo estado. Dessa forma, abre-se a motivação temática
para discutir o poema e tornar a leitura deste significativa e por outro lado instigar o aluno
a observar criticamente os problemas que afligem seu país. Após as discussões sobre este
poema, os discentes poderão criar seus próprios poemas, transformando temas relevantes
que poderiam ser noticiados e veiculados em mídias diversas, em versos, onde dariam
ênfase de forma crítica no que mais lhe chamam atenção.

Destaca-se ainda, o poema “Homem comum” cuja linguagem também é acessível


aos alunos de 9° ano, pois apresenta fatos, vivências e lutas diárias que são comuns a
todas as pessoas e por isso mesmo, o eu-lírico se solidariza colocando-se a disposição dos
outros para lutarem juntos por um mundo melhor e passar por todas as dificuldades e
experiências de forma mais branda.

Homem Comum
Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento
[...]
Sou como você
feito de coisas lembradas
e esquecidas
rostos e
mãos, o guarda-sol vermelho ao meio-dia
em Pastos-Bons
[...]
Quanto ao poema em questão, este pode ser relacionado a fatos históricos de nosso
país, como a ditadura militar, o que possibilita envolver os alunos em pesquisas sobre a
19
17

biografia do autor quanto aos acontecimentos e nomes citados na construção poética. É


fundamental esmiuçar o poema para que os alunos consigam perceber as críticas e
questões sociais citados no mesmo de forma implícita e explícita. Como diz Kleiman
(1989, p. 57) “é justamente através de informações que não estão explícitas que o aluno
pode compreender o texto; compreendendo o implícito, ele passa a compreender melhor
o explícito”.

Seguindo as outras premissas, são sempre importantes as indagações que levem os


discentes a abrirem os leques de possibilidades de interpretações e visões sobre aquilo
que estão a analisar. Questionamentos como: “Quem é e como é o homem comum?” “De
quem ele difere?”, “O que se opõe a esse homem?”, “Qual é a força do homem comum?”,
“O que ele pode conseguir com ela?” Outras indagações podem ser feitas também quanto
a disposição das palavras nos versos e a estrutura final do poema.
No poema em análise é possível compreender a busca do eu-lírico por sua
identidade e no caminho desse objetivo ele separa recursos materiais (representados pela
carne) e imateriais (representados pela memória). E assim, ele se constitui das
experiências que vivia e se aproxima do leitor de forma direta, como se pode observar
nos versos: “Sou como você feito de coisas lembradas e esquecidas”. O que configura
que as inquietações humanas são transversais a todos. Neste contexto, é possível construir
oficinas de teatro para trabalhar o poema de forma mais profunda em sala de aula, onde
os discentes podem representar esse homem comum de acordo com a sua visão, o que seu
olhar diz sobre o poema.

O teatro pode ser sob a forma de diálogos entre homens comuns que se aproximam,
se identificam por vivências inerentes, mas ao mesmo tempo apresentam suas
singularidades. Caberá aos discentes construir esta análise fazendo referentes a eles
mesmos e de forma crítica preparar o discurso de cada personagem.

Com base no exposto, é possível demonstrar que universo literário possui também
uma visão humanista, onde há a preocupação com o homem e sua condição no mundo,
pois a exemplo de Gullar que utiliza sua arte a favor da crítica social, prova que esta
também pode ter um caráter utilitário. Então, a partir do estudo de poemas dessa natureza
os discentes deverão perceber que a Literatura não é alheia aos diversos fenômenos
históricos que marcaram nossa sociedade em diferentes épocas e diferentes contextos e
isto contribuirá para seu crescimento intelectual e vocabular.
18
20

O professor precisa atentar-se ao fato de que todos os apontamentos metodológicos


aqui citados precisam ser desenvolvidos por etapas a fim de aguçar e inserir a leitura
poética em sala de aula de forma satisfatória e engajada com discentes.

4 Considerações finais

Neste estudo, compreende-se o quão a poesia social se aproxima da realidade dos


discentes, o quanto aborda assuntos que permeiam a vida dos mesmos. E de forma
dinâmica, é cabível a discussão de temas relevantes, abrindo horizontes para que os alunos
aprendam a perceber o mundo com um olhar crítico, reflitam sobre suas escolhas, seu
lugar no mundo e saibam direcionar seus pensamentos para agir de forma ativa e mudar
a sua realidade e dos que estão à sua volta.

É importante frisar que é somente no meio escolar que muitos alunos têm contato
com a leitura literária de um modo geral e se a escola não possui tal hábito, o acesso à
leitura poética torna-se escassa, o que faz com que o discente não tenha interesse em ler
poesias ou pouco compreende sua linguagem, abordagens e temas quando se depara com
este gênero.
A poesia social do poeta maranhense Ferreira Gullar alia a arte aos temas mais
variados que circundam nossa sociedade. Autor multifacetado, que através do fazer
poético, pode contribuir na aquisição não somente da habilidade de leitura pelo discente,
mas para que este possa fazer parte do contexto social no qual está inserido,
compreendendo e agindo de forma efetiva, crítica e participativa.

Através de práticas pedagógicas criativas, é percebível que a leitura poética é


essencial para determinados alunos, atentando-se para as suas faixas etárias e para o
estímulo à leitura também fora da escola, para discussões fundamentadas onde o aluno
aprende a posicionar-se, a explorar o texto por âmbitos diferentes relacionando-o à
realidade, ampliar seus conhecimentos e consequentemente ascender como ser humano.

Diante do exposto, por meio da leitura, os discentes poderão apresentar melhoras


significativas na aquisição de habilidades e competências como a compreensão e
interpretação textual, enriquecimento vocabular e novos conhecimentos, além da melhora
na expressão oral. Nessa perspectiva, percebe-se que a poesia gullariana serve para
desafiar e atrair os alunos para a prática de leitura poética.
21

REFERÊNCIAS

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília,


MEC/CONSED/UNDIME, 2017.
CÂNDIDO, Antônio. A literatura e a formação do homem. Remate de Males: Revista
do Departamento de Teoria Literária, São Paulo, n. esp., p. 81-89, 1999.
_________. Direito à Literatura. In: CANDIDO, Antônio. Vários Escritos. 5. ed. Rio
de Janeiro: Ouro sobre azul, 2011.

CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores, e bibliotecas na Europa


entre os séculos XIV e XVII. Trad. Mary Del Priore – Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 2ª ed. 1998.

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Editora


Contexto, 2009. Resumo. Autora. Laura Silveira Botelho UFJF. Laura Silveira
Botelho. São Paulo: Editora contexto, 2009.
DELGADO, Eloísa de Almeida. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de
Educação. A Poesia no Processo Educativo. In: Os desafios da escola pública
paranaense na perspectiva do professor PDE: Produção Didático-pedagógica,
Curitiba: SEED/PR., Vol. I, 2016. ISBN 978-85-8015-093-3.

E-Dicionário de Termos Literários (EDTL). Porto Editora. Disponível


em https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/poesia Acesso em 22 de
agosto de 2022.
GULLAR, Ferreira. Ferreira Gullar Conta Tudo. Entrevista concedida a Weydson
Barros Leal. Jornal de poesia, setembro de 2005. Disponível em
http://www.jornaldepoesia.jor.br/gular01.html
HORELLOU-LAFARGE, C.; SEGRÉ, M. Sociologia da leitura. Trad. de Mauro Gama.
Cotia: Ateliê Editorial, 2010. (Título original Sociologia de La lecture).
KLEIMAN, A. B. Texto e Leitor: Aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes
Editores, 2013. Revista Ceale
__________. Leitura: ensino e pesquisa. Campinas, SP: Pontes 1989
LUFT, Gabriela . O poeta, o poema e a militância poética: a produção de Ferreira
Gullar em "Dentro da noite veloz". Inventário (UFBA) , v. 1, p. 1-15, 2009.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua


Portuguesa para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio.
Curitiba: SEED, 2008. Disponível em:
https://www.educacao.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2019-
12/dce_port.pdf
22

PEREIRA DA SILVA, J. M. Estudos sobre a literatura. Niterói: Revista brasiliense,


ciências, letras e artes. (p. 214 – 268)

SAGRILO, Simone Gonzales. Estética da recepção e sociologia da leitura – uma obra,


vários olhares. In: CELLI – COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E
LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais. Maringá, 2009, p. 1004-1013.

SANTOS, Silvana Pantoja dos; MORAES, Solange Santana Guimarães. Introdução à


teoria da literatura. São Luís: UEMAnet, 2021.

SARTORI, Helena Dirce. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de


Educação. Os Desafios da Escola Pública Paranaense na Perspectiva do Professor
PDE: Produção Didático-pedagógica, Curitiba: SEED/PR., Vol. II, 2014.

SOUSA, S. de M. B. Formação inicial de professores de Língua Portuguesa: a


preocupação em formar formadores de leitores de textos literários. 2020. 197 f. Tese
(Doutorado em Linguística Aplicada) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São
Leopoldo, RS, 2020.

SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da literatura. 10.ed. São Paulo: Ática, 2007

ZILBERMAN, Regina. A leitura e o ensino de literatura. 1. ed. Curitiba: IBPEX, 2010.


___________. A leitura e o ensino da literatura. 2º Ed. São Paulo: Contexto, 1991.
___________. Recepção e leitura no horizonte da literatura. Revista Cielo. Vol. 10.
NÚMERO 1 JANEIRO-JUNHO 2008 p. 85-97

Você também pode gostar