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Mensagem - Introdução
Mensagem - Introdução
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MENSAGEM
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Encontramos, em “Mar Português”, os retratos dos heróis impulsionadores da
expansão portuguesa: os marinheiros que descobriram as terras novas: Diogo Cão,
Bartolomeu Dias, Fernão de Magalhães e o mais ilustre de todos, Vasco da Gama.
Em “Mar Português”, é ainda possível detetar a conceção messiânica que
Fernando Pessoa possui da História já que afirma que o processo de criação implica
Deus como causa primeira, o homem como agente intermediário e a obra como efeito:
“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”.
Os poemas da primeira parte apresentam o valor do mito e do sonho, bem
como as figuras heroicas, já verdadeiros mitos, que contribuíram para a concretização
real desse mesmo sonho. Agora, nesta segunda parte, surge o sonho convertido em
ação, unificando o ato humano e o Destino traçado por Deus.
Esta segunda parte da Mensagem poderia sintetizar-se desta forma: O Infante
(D. Henrique) concebe a ideia de um império marítimo português (“O Infante”);
partem as suas naus em busca de novas terras (“Horizonte”); Diogo Cão toma
oficialmente posse, em nome de Portugal, das terras descobertas (“Padrão”); o
Mostrengo simboliza as dificuldades enfrentadas na aventura marítima (“O
Mostrengo”), mas é simbolicamente vencido por Bartolomeu Dias, ousadia que virá a
pagar com a vida (“Epitáfio de Bartolomeu Dias”); as outras nações europeias lançam-
se também na aventura marítima, mas os seus feitos não passam de uma sombra dos
feitos de Portugal (“Os Colombos”); prosseguem as caravelas do Infante e encontram
as terras do Ocidente, especificamente o Brasil (“Ocidente”); descobertos todos os
novos continentes e ilhas sem fim, procedem os nautas a uma viagem de circum-
navegação, proeza que as forças adversas do universo irão punir (“Fernão de
Magalhães”); obreiros de gestos heroicos, os marinheiros são convertidos em semi-
deuses e ascendem ao Olimpo, como acontecia na Antiguidade (“Ascensão de Vasco
da Gama”); sujeito às leis inexoráveis do tempo, que tudo consome, o império
marítimo português (“Mar Português”) também morre; com a partida de D. Sebastião,
o último navegante do Mar Português, para Alcácer-Quibir – “a noite veio” (“A última
Nau”); mas, ansiosos por se perpetuarem no tempo e no espaço e cientes de que é
esse o seu destino manifesto imploram a Deus que lhes conceda a graça de um
Império que não morra (“Prece”).
Nos 12 poemas de “Mar Português”, historia-se e mitifica-se a saga dos
Descobrimentos. Paralelamente, os Descobrimentos são também um percurso
iniciático de autodescoberta.
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desta terceira parte baseia-se na denúncia da passividade e do desencanto do
presente e na necessidade de fazer renascer Portugal através da construção de um
novo império, o Quinto Império, caracterizado pela expansão eterna e universal da
língua e cultura portuguesas.
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A Mensagem é uma coletânea que reúne poemas de carácter nacionalista e
sebastianista. Na opinião do poeta, havia-se perdido a identidade pessoal, os feitos
heroicos perderam-se com o tempo e só já restava a memória. Então, nada melhor que
recuperar um mito para fazer ressurgir das cinzas uma nação («O mito é o nada que é
tudo», em “Ulisses”). Pessoa acreditava no destino messiânico de Portugal.
Camões cantara os feitos gloriosos dos portugueses, na época dos
Descobrimentos; Fernando Pessoa pretendeu essencialmente enobrecer a maneira
grandiosa que está subjacente à realização dos acontecimentos que engrandeceram a
História nacional. Nesta obra, são enunciados factos históricos, exaltados de uma
maneira que faz ecoar a epopeia, contudo, sentidos por um “eu” que impregna os
poemas de uma subjetividade misturada de uma simbologia que não permite uma
interpretação ingénua dos mesmos. Assim, a Mensagem, apesar de possuir um
carácter lírico, apresenta uma faceta épica, carácter épico-lírico, diferente da de
Camões (que cantava os feitos gloriosos de um herói), pois o poeta modernista
enaltece a heroicidade do ser humano, através da espiritualização progressiva, tirando
partido do mito sebastianista. Através do sonho, poder-se-ia construir um império
perfeito e espiritual que teria como finalidade a construção de uma paz universal.
O sebastianismo é um mito messiânico originado após o desaparecimento do
rei D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir. Apresenta as seguintes características: o
desaparecimento misterioso do rei na batalha de Alcácer-Quibir; incertezas quanto ao
destino de D. Sebastião; as expetativas quanto ao regresso do rei para restaurar a
independência do país. Em momentos de crise, renasce o mito