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CAPÍTULO XXX
PESQUISA-FORMAÇÃO
MULTIRREFERENCIAL NA
CIBERCULTURA: perspectivas teórico-metodo-
lógicas em pesquisas na pós-graduação
Cristiane Ribeiro Barbosa da Silva 11
Manuela Carvalho Rodrigues 12
Wellinson Périklys Monteiro Nascimento 13
Leonardo Zenha14
Introdução
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e redes sociais. Desse modo, torna-se importante tecer diálogos sobre
as potencialidades dos artefatos tecnológicos digitais que reconfiguram
práticas sociais e estabelecem rupturas na construção de modos outros
de pensar as ações formativas nos ambientes formais e informais de
aprendizagens.
Como professores-pesquisadores, implicados, corroboramos
que a educação não pode ir na contramão desse cenário sociotécnico,
tampouco, pode ser alheia ao atual cenário social e político. Pois, com-
partilhamos do pensamento freireano que “Educar é um ato essencial-
mente político” (FREIRE, 2021). Entendemos que como ato político é
necessário, enquanto sujeitos, que possamos assumir posicionamentos
crítico-coerentes às demandas sociais urgentes, a saber: aumento dos
crimes de racismo e da violência contra a mulher; questões relacionadas
às populações tradicionais, às pessoas negras e aos grupos LGBTQIA+,
além do desemprego e da fome, entre outros. Posto isso, buscamos tecer
diálogos epistemológicos e metodológicos com rigor outro em nossas
pesquisas de mestrado intencionalmente engajadas em romper com o
instituído pelo paradigma moderno de fazer e pensar o conhecimento
científico (MACEDO, 2009; ARDOINO, 1998).
Desse modo, o presente artigo tem como objetivo apresentar
o recorte metodológico de três pesquisas, em andamento, vinculadas
aos programas de pós-graduação Currículo e Gestão da Escola Bási-
ca (PPEB) e de pós-graduação em Educação e Cultura (PPGEDUC), e
ao grupo de pesquisa Gràos-Experiências educativas mediadas pelas
TICs. Este último, criado desde 2017, fruto de trajetórias de ensino/pes-
quisa/extensão entre diferentes pesquisadores. Para tanto, acionamos a
pesquisa-formação multirreferencial, como promotora de rompimento
epistemológico e metodológico, na perspectiva emancipacionista de
superação das dicotomias de fazer e pensar a pesquisa em educação,
contrapondo-se à visão fragmentada, reducionista e simplificadora da
Ciência moderna.
Neste sentido, traremos as seguintes pesquisas, a saber: i) De-
colonialidade no ensino-aprendizagem da língua Inglesa: Uma tessi-
tura na pesquisa-formação multirreferencial com alunos do 1º ano do
ensino médio integrado que versa sobre o Ensino da LI com usos das
TD na perspectiva decolonial para rompimentos de práticas coloniais/
modernas; ii) A pesquisa-formação na cibercultura para um currículo
que respeite a diversidade: contradições cotidianas, orientação sexual
e identidade de gênero dos estudantes LGBTQIA+, que discute de que
maneira o uso de dispositivos on-line possibilitam atos de currícu-
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lo que respeitem a diversidade; e iii) Ambiências educativas em rede
com sujeitos transgênero: Itinerâncias de uma pesquisa formação na
cibercultura a qual tem como lócus o contexto não-formal de ensino
com pessoas transgênero, relacionando às possibilidades que surgem
das performatividades proporcionadas pelas redes sociais online para a
prática pedagógica e a construção de relações afetuosas com pessoas da
sigla T, ou seja transgênero.
Para tanto, este artigo está organizado em três seções, além desta
introdução e das referências. Na primeira seção apresentamos e dis-
cutimos os processos investigativos na pesquisa-formação multirre-
ferencial no atual cenário cibercultural. Na segunda seção, aborda-se
a itinerância metodológica de cada uma das três pesquisas. Essa seção
está organizada em três subseções, em que cada subseção discorre sobre
os caminhos das pesquisas ancoradas no método da pesquisa-formação
na cibercultura inspirado na abordagem multirreferencial. Na terceira e
última seção, trazemos algumas considerações sobre o trabalho.
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Este modo de conceber o fazerpensar15 a pesquisa qualitativa
em educação afasta-se dos modelos clássicos racionalistas de produzir
conhecimento da ciência, quando se requer a neutralidade, racionali-
dade e, sobretudo, rejeita a complexidade dos fenômenos. Salienta-se
que a multirreferencialidade não dispensa o rigor, mas adota um rigor
fundamentado em outras bases epistêmicas e metodológicas. Assim,
destaca-se que a educação tem sido uma área de emergência de pesqui-
sas com abordagem multirreferencial, a exemplo diversos projetos do
GPDOC – Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura do PROPED/
UERJ e do Grupo de Pesquisa GRÀOS – Experiências Educativas Me-
diadas pelas TICs, vinculado à Universidade Federal do Pará (UFPA) e
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Esses grupos desen-
volvem pesquisas que acolhem o método da pesquisa-formação na ci-
bercultura (SANTOS, 2019), com inspiração multirreferencial, a fim de
compreender e interpretar os fenômenos contemporâneos que incitam o
entrelaçamento da pesquisa com a prática pedagógica. Nesse sentido, o
mesmo autora recomenda que:
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todos-todos (interatividade), ao invés de um-todos (lógica transmisso-
ra). Assim sendo, o ensino se dá pela itinerância, ou seja, um movimen-
to complexo de implicação e formação coletiva no contextos sociotéc-
nicos-culturais.
É importante ressaltar que na implicação no campo e nas
ambiências formativas diversas são engendrados dispositivos formativos
não tomados somente como disparadores de produção de dados, mas
como: “uma ação disparadora elaborada ao longo da pesquisa para
promover interações, aprendizagens e a emergência de informações
que promovam o encontro do pesquisador com as narrativas”
(MARTINS; SANTOS, 2019, p. 42). Esta ação pode ocorrer por meio
de um vídeo, uma postagem nas redes, um fórum de discussão, entre
outras maneiras inventivas de oportunizar a interação entre os sujeitos
culturais (sujeitos-pesquisadores e sujeitos-aprendentes). Desse modo,
surgirão as narrativas textuais, audiovisuais e imagéticas – as autoria
dos praticantes culturais – embebidas de sentidos, significações,
experiências formativas e autoformativas.
A pesquisa-formação na cibercultura por ser um processo cole-
tivo e dialógico atribui às narrativas centralidade no devir, com os pra-
ticantes adquirindo tanta relevância quanto o referencial teórico. Nesse
sentido, o pesquisador precisa fazer de si um membro do grupo, com es-
cuta atenta e sensível aos sentidos e significações, assim como, aquele
que aciona dispositivos diversos a partir da intencionalidade formativa.
Santos (2019) declara que tanto os dispositivos de pesquisa quanto a
ação docente se constroem no processo a partir da autoria do pesquisa-
dor. Ademais, as autoras Martins e Santos (2019) orientam:
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pesquisas. Desse processo envolto de subjetividades emergem as
noções subsunçoras que são “as categorias analíticas, frutos da análise
e interpretação dialógica entre empiria e teoria num processo de
aprendizagem significativa” (SANTOS, 2019, p. 124). Elas são oriundas
da implicação do pesquisador por meio da escuta atenta à emergência
das múltiplas linguagens e significações.
Portanto, as noções subsunçoras surgem do esforço do pesqui-
sador em compreender e interpretar o que foi de mais significativo no
devir com os praticantes culturais, dentro de um processo dialógico
do pesquisador com a empiria e teoria, aberta às múltiplas referências.
Cabe salientar que as pesquisas apresentadas nas próximas seções por
estarem em andamento, ainda não apresentam as noções subsunçosas
descritas. Todavia, serão assinaladas nossas itinerâncias metodológicas.
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vistas a entender como as TD contribuem para rompimentos de práticas
modernas/coloniais presentes no atual contexto da cibercultura.
Acionamos a pesquisa-formação na cibercultura (SANTOS,
2019), em consonância com a multirreferencialidade (ARDOINO,
1998), no processo de aprendizagemensino da LI (língua não neutra),
reabilitando a visão complexa dos fenômenos sociais no âmbito da edu-
cação. Ainda, no mesmo nível de importância, trazemos à cena o pen-
samento/giro decolonial como o movimento político, epistemológico,
teórico e prático de resistência à lógica moderna/colonial, capitalista e
patriarcal (BALLESTRIN, 2013; GROSFOGUEL, 2008). Haja vista
que estas relações encontram-se entretecidas na nossa sociedade, assim
sendo, torna-se relevante trazer estas problematizações para espaços
formativos a fim de promover movimentos de insurgência, (re)existên-
cia e (des)construção de conhecimentos plurais no atual cenário político
e social.
Destaca-se que a educação e a decolonialidade se interseccionam
devido ao caráter político-pedagógico, como bem deseja o pensamento
decolonial. Por conseguinte, dialogam com a pedagogia suleadora de
Paulo Freire, para quem “a educação é ato político” (FREIRE, 2021, p.
40). Em concordância com pensamento freireano, salientamos que todo
o processo de aprendizagemensino é um ato político, portanto ensinar-
-aprender uma/outras língua(s) perpassa o caráter de não neutralida-
de, afinal corroboramos com a premissa que nenhuma língua é neutra,
“pois não existem línguas neutras: todas as línguas estão vinculadas
a uma cultura e todo ensino tem implicações ideológicas” (JORGE,
2009, p. 163). Entendemos ser necessária e urgente atitudes/posturas
outras visando à desobediência epistêmica e a transgressão do instituí-
do pela lógica do pensamento do sistema mundo-moderno e capitalista
colonial/patriarcal (GROSFOGUEL, 2008) que mantém suas lógicas
de poder por meio das colonialidades.
Neste movimento de rompimento epistêmico adotamos o méto-
do da pesquisa-formação na cibercultura para desenvolver esta pesquisa
em educação com/pelo (s) uso (s) das TD, considerando o atual cenário
sociotécnico e cultural – a cibercultura – oportunizada pelo ciberespaço
(LÉVY, 1999). Esse é espaço virtual de vasta circulação de informações
e conhecimentos, em que produzimos e compartilhamos sentidos e sig-
nificados nas múltiplas relações sociotécnicas estabelecidas na/da/pela
implicação dos sujeitos, praticantes culturais, nos processos de aprendi-
zagem, formação, docência e pesquisa nos ambientes tecnológicos nas
ambiências formativas (SANTOS, 2019).
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Ademais, o método pesquisa-formação na cibercultura concebe
o professor-pesquisador implicado no campo de sua pesquisa, como
aquele que “aprende enquanto ensina e que ensina enquanto aprende”
(SANTOS, 2019, p. 104). Assim, fazerpensar a pesquisa-formação na
cibercultura é, sobretudo, reavivar a articulação indissociável entre o
ensino e a pesquisa. Por conseguinte, esse método propõe-se à pesquisa
em educação, considerando o atual cenário sociotécnico, apartando-se
da visão fragmentada e reducionista das pesquisas de natureza positi-
vistas, ou seja, aquelas que apregoam a objetividade, racionalidade e
neutralidade do pesquisador. Posto isso, tomamos nossa prática peda-
gógica como ação dialógica de formação mútua/contínua e indissociá-
vel do devir da práticateoria da construção do conhecimento em edu-
cação, mas especificamente no ensinoaprendizagem da LI no contexto
da educação formal. Entendemos o professor-pesquisador como um
praticante cultural que pesquisa e se forma ao pesquisar a sua própria
prática pedagógica.
Desse modo, o nosso campo de pesquisa é uma sala de aula com
alunos adolescentes, entre 15 a 16 anos. Esses praticantes culturais
cursam o primeiro ano do Ensino Médio Integrado do curso de Desen-
volvimento de Sistemas, em uma instituição pública, vinculada à rede
federal de ensino. Quanto às professoras-pesquisadoras, somos duas
profissionais licenciadas em Letras – com habilitação em LI – servido-
ras públicas, implicadas no tema em propor tensionar o ensino da LI às
questões decoloniais como: o racismo, as diversas formas de preconcei-
tos, a violência contra a mulher e outros marcadores de exclusão e dis-
criminação social, sem negligenciar, tampouco diminuir a importância
dos componentes do currículo formal delineados para ensino-aprendi-
zagem da língua Inglesa. Para tanto, acionamos ambiências formativas
pelos usos inventivos das TD, para que os praticantes culturais se fa-
çam autores de narrativas audiovisuais, imagéticas e textuais. Essas tão
caras para opção metodológica da pesquisa-formação na cibercultura.
Em nossa itinerância metodológica acionamos dispositivos for-
mativos com/pelo uso de aplicativos (Apps) em diferentes interfaces:
Diário de pesquisa (Google docs); Grupo de trocas de mensagens ins-
tantânea (WhatsApp); Portfólios de aprendizagem (Padlets); Capturas
de telas (prints) e áudios; além da observação participante e escuta sen-
sível. Deste modo, criamos ambiências formativas por meio da brico-
lagem16 de dispositivos móveis, nos usos inventivos desses aplicativos
16 Conceito surgido a partir da visão de complexidade e de imprevisibilidade do domínio
cultural. Segundo Lévi-Strauss (cf. Um rigor outro sobre a qualidade na pesquisa qualitativa:
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durante as aulas de LI, fazendo emergir “metodologias autorais, nas
quais a formação de si ganha centralidade, buscando a superação da
dicotomia sujeito-objeto preconizada por epistemologias positivistas
modernas (SANTOS; RIBEIRO; FERNANDES; 2020).
Nosso campo iniciou-se na retomada das atividades presenciais
no ano de 2022, contudo permanecemos nossas atividades em Ensino
Remoto Emergencial (ERE), pois uma das professoras implicadas na
pesquisa por fazer parte do grupo risco, suas aulas do componente cur-
ricular de LI continuram sendo ministradas nas/pelas TD, nos espaços
multirreferenciais das redes. Salienta-se que o cenário de pandemia do
COVID-19 nos convocou a assumir posturas decoloniais diante do au-
mento dos crimes de racismo e da intolerância, da violência contra a
mulher e outros grupos sociais minoritários e em relação ao crescimen-
to das desigualdade sociais.
Subsequentemente, observamos no entrelaçamento da Linguísti-
ca Aplicada Crítica (LAC) do pensamento decolonial e da metodologia
da pesquisa-formação na cibercultura, o estabelecimento dos diálogos
epistemológicos para desenvolvimento de ambiências formativas com
o objetivo de questionar as colonialidades que constituem e incidem
sobre as nossas subjetividades (falantes não-nativos do idioma), e na
manutenção do status quo do Norte Global sobre o Sul Global17. Acio-
namos as tecnologias para promover a autoria/formação, na tentativa
de rompimento do modus operandi18 da modernidade/colonialidade, a
fim de que os sujeitos possam assumir posturas e atitudes que desafiam
a lógica euro-norte-americana moderna/capitalista, colonial/patriarcal,
à vistas de provocar brechas e fissuras nas colonialidades do poder, do
ser e, também da linguagem.
A pesquisa-formação-multirreferencial por se tratar de metodo-
lógica aberta, ela nos permite a bricolagem tanto de dispositivos dispa-
radores quanto a criação de ambiências formativas. Desse modo, passa-
remos a ilustrar uma de nossas ações formativas: Nos momentos iniciais
da aula do dia 22 de junho de 2022, disponibilizamos via o grupo de
WhatsApp, um link que direcionava os alunos-praticantes culturais ao
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vídeo: “Respect & Inclusion at Deloitte”19, solicitamos, primeiramente,
que cada praticante assistisse o vídeo individualmente em seus disposi-
tivos móveis, com objetivo de identificar a temática central do vídeo.
Em seguida, acessassem o link do Google Meet para nosso encontro
virtual para iniciarmos nossa conversa inicial sobre suas apreensões.
Os alunos, ao acessar e adentrar a videoconferência expressan-
do-se espontaneamente que haviam gostado do vídeo, mas que queriam
ver mais um vez. Então, decidimos assisti-lo em conjunto para prestar
atenção em mais detalhes. Pedimos que, além da temática central do
vídeo, observassem atentamente as mensagens, a relação da linguagem
verbal e não verbais, e as expressões faciais das pessoas para ampliar
a compreensão da mensagem e as significações. Destacamos que o
próprio título já nos indicavam palavras transparentes/cognatas “Res-
peito e Inclusão”. Salientamos que a escolha por esse vídeo se deu,
primeiramente, por abordar questões raciais, estereótipos/preconceitos,
o respeito e inclusão, em consonância com as questões decoloniais.
Ademais, este é um dispositivo bastante comum entre esses praticantes
ciberculturais.
Após a reprodução, os alunos atribuíram algumas apreensões
sobre as temáticas de modo mais amplo. Em seguida, dispomos em tela
um pôster-campanha produzido por alunos e parceiros da Universidade
do Estado da California San Marcos/USA. No pôster trazia a seguinte
mensagem verbal: “There is more to me than what you see, beyond the
stereotype, there is history”20, que em tradução livre: “Há mais para
mim do que você pode ver, além do estereótipo há uma história”. Além
da linguagem verbal, o pôster também tinha a imagem de uma jovem
negra, com uma expressão facial séria e tanto descontente. Essa jovem
segurava uma outra imagem (que está sendo aparentemente rasgado
pela jovem), nela há uma mulher branca, com corpo “pintado” com
tinta preta, trajes de festa, taça de bebida nas mãos e bastante sorriden-
te. Logo, perguntamos sobre que relação eles faziam entre o vídeo do
início da aula e o pôster-campanha, emergindo falas sobre preconceito,
questão racial e a apropriação cultural. Instigamos que os alunos pen-
sasse sobre o ato da jovem está rasgando a imagem, a qual ela segura-
va, o que isso representava/significava, ainda que eles tentassem fazer
alguma relação com algum fato recente vinculadas nas redes sociais ou
mídias. Nosso objetivo em fazer relação com fatos atuais, é justamente
19 Pedimos que o acesse o vídeo para melhor compreensão da (https://www.youtube.com/
watch?v=7G0OUHnCudw&t=200s, acesso em 23/06/2022)
20 Podemos ter acesso dos posteres no (< https://www.csusm.edu/cicsc/projects/beyond-the-
-stereotype.html.> acesso em 23/06/2022)
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fazer com que eles compreendam a relevância em abordar temáticas
como raça, preconceito, discriminação e respeito.
Ademais, como professoras implicadas, apoiando-nos nas ati-
tudes transgressoras de bell hooks21 (2013), quem defende que uma
pedagogia engajada para prática da liberdade, os alunos não devem
ser únicos a serem chamados a partilhar, narrar ou a confessar, que
o espaço formativo (Google meet) é um local tanto para crescimento
do professor quanto do aluno. Assim sendo, tomadas pelas ideias de
hooks, resgatamos em nossas memorias situações que agimos baseados
em estereótipos, o quanto isso foi embaraçoso, sobretudo destacamos
atitudes como que as relatadas demostram que somos educados para
padronizar, classificar e homogeneizar. Acreditamos por meio de atitu-
de transgressora, conseguimos acessar mais os alunos e deixá-los mais
abertos para produzir suas narrativas, sobretudo produzir rompimento
em prol de posturas-outras. Ao término da aula, estimulamos que os
praticantes produzissem seus próprios conteúdos autorais, ou seja, seus
posteres-campanhas, utilizando dos aplicativos, a língua alvo e os re-
cursos verbais e não verbais, e que estas autorias poderiam ser compar-
tilhadas. Desse modo, orientamos que os praticantes publicassem suas
produções no Padlet (que é um tipo de mural interativo em que os alu-
nos organizam seus trabalhos e compartilhar entre os colegas da turma);
mas também, publicasse nas suas próprias redes sociais. A estratégia de
criação e publicação dessa autoria nas/pelas redes sociais, nas ambiên-
cias digitais, tem como intuito promover os diálogos formativos para
além da sala de aula e incentivar a autoria dos alunos.
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segregar, marginalizar e discriminar discentes, contribuindo para a for-
mação e autoformação ao proporcionar que docente/discente produzam
práticas formativas a partir do uso das tecnologias digitais.
Como professora-pesquisadora-formadora, imbricada no espaço
pesquisado, no qual exerço as funções de docente e coordenadora pe-
dagógica, em turnos alternados, percebi que nos últimos anos ocorrera
o aumento significativo de estudantes LGBTQIA+(lê-se lésbicas, gays,
bissexuais, travestis, transexuais, queer, assexuados e intersexuais) que
passaram a recorrer a coordenação para relatar medos, angústias e hos-
tilidades sofridas em casa e na escola. A LGBTfobia, compreendida
enquanto sentimento de aversão ou ódio àqueles que fogem do padrão
heteronormativo, passou a ser uma constante nos relatos desses jovens.
Somado a isso, cada vez mais, jovens passaram a se conectar a
internet através do uso dos seus smartphones, cujo dispositivo tecnoló-
gico passou a ser utilizado por alguns docentes para a pesquisa e reso-
lução de atividades por meio do aplicativo Google Forms. Conforme o
PAINEL TIC COVID-19, ocorrendo o aumento significativo do uso da
internet, em virtude das aulas remotas, durante o período pandêmico
mais agudo, no qual cerca de “83% dos usuários que frequentam escola
ou universidade realizaram atividades ou pesquisas escolares pela inter-
net” (CGI.BR, 2022, p. 6).
Diante do exposto, este estudo está sendo desenvolvido a par-
tir do método de pesquisa-formação na cibercultura multirreferencial e
com os cotidianos, pensando a docência numa perspectiva que possibi-
lite maior interação com os sujeitos a partir de práticas formativas que
fomentem e ressignifiquem aprendizagens. Conforme Santos (2019, p.
103), “contrariando as noções clássicas de pesquisa, o pesquisador não
é um sujeito neutro, não implicado, que vê os outros sujeitos como se-
res ‘pesquisados’. Na pesquisa-formação, todos são sujeitos, todos são
potencialmente pesquisadores, ninguém é objeto”. Ao mesmo tempo
em que o educador pesquisa/ensina, ele também aprende e altera o seu
profissionalformativo, instigando educandos a também experimenta-
rem esse processo formação, através da aprendizagem colaborativa, da
criação de dispositivos autorais e de atos de currículo que dialoguem
com a pluralidade dos saberes voltados para uma sociedade que respeite
a diversidade.
Ao repensar o currículo para além da perspectiva tradicional que
o compreende enquanto gama de conhecimentos planejados, definidos
e orientados (LOPES; MACEDO, 2011, p. 20), passa a se considerá-lo
em outros espaçostempos de aprendizagem, usando dispositivos on-li-
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ne e dialogando com a diversidade. Essa perspectiva possibilita a alte-
ração de discursos cristalizados sobre identidade de gênero e orientação
sexual. Para Foucault (1996, p. 10), “o discurso não é simplesmente
aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por
que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar”.
Desse modo, esta pesquisa teve a preocupação de suscitar na es-
cola a luta por um currículo que respeitasse a diversidade sexual, ques-
tão ainda permeada de interdições no ambiente escolar, bem como, a
desconstrução dos discursos impregnados pela LGTBfobia e heteror-
matividade ainda vigentes.
Por meio das tessituras das narrativas acadêmico-científicas e
das narrativas extraídas do cotidiano escolar, está sendo construída essa
itinerância metodológica22 que busca o rompimento epistemológico da
lógica cartesiana e positivista de se fazer pesquisa, ao abolir o dicoto-
mismo existente entre pesquisador e objeto ou, ainda, entre o pesqui-
sador e os sujeitos da pesquisa. Na pesquisa-formação o pesquisador
está implicado com os sujeitos e o seu objeto de estudo, ou seja, com o
seu campo de pesquisa. Conforme Santos (2019, p. 102), “Optamos por
uma concepção de pesquisa baseada na implicação do pesquisador com
o campo de pesquisa, construindo juntamente com os sujeitos envolvi-
dos o conhecimento e o próprio método”. Partindo-se dessa proposição
para iniciar a descrição metodológica do estudo supracitado.
A pesquisa decorre dos saberes-fazeres da escola pública Esta-
dual de Ensino Fundamental e Médio Júlia Seffer, localizada em um
bairro periférico, na cidade de Ananindeua-Pará, região metropolitana
da capital Belém. Escola na qual atuo desde 2008, exercendo as funções
de professora das séries iniciais e, a partir de 2012, de coordenadora
pedagógica do ensino médio, algo que me proporcionou a possibilidade
de refletir sobre a minha prática enquanto educadora, diante dos desa-
fios que passaram a emergir no cerne da escola, nos últimos anos, refe-
rente às questões relacionadas as narrativas de estudantes LGBTQIA+,
em especial, ocorridas na sala da coordenação.
Como consequência, esse espaço tornou-se, demasiado, pequeno
e o tempo insuficiente para que eu pudesse escutar tantos alunos que se
sentiam acolhidos pelo simples fato de serem ouvidos. Compreendi que
a partir dessas escutas era necessário intervir de alguma maneira, pois
os (as) estudantes com orientações que diferem do padrão heteronorma-
22 Pesquisa em andamento do Projeto de Dissertação do Mestrado “A pesquisa-formação na
cibercultura para um currículo que respeite a diversidade: contradições cotidianas, orientação
sexual e identidade de gênero dos estudantes LGBTQIA+”, do Programa de Pós-Graduação
em Currículo e Gestão da Escola Básica (PPEB), da Universidade Federal do Pará (UFPA).
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tivo eram constantemente cerceados (as) e desrespeitados (as) no inte-
rior da escola, em relação às suas condutas originais (maneira de falar,
andar, expressar-se, outros) quando em demonstração de afeto e carinho
a pessoas do mesmo sexo. Intervenções pontuais mediante a casos de
homofobia, rodas de conversa e assembleias foram realizadas em todas
as turmas da escola, contando com o apoio da direção.
No ano de 2022, com o reinício das aulas presenciais, após o pe-
ríodo de aulas mediada pelo digital em rede, as questões como a LGBT-
fobia ressurgem de maneira mais explícita no espaço escolar. Conse-
quentemente, os alunos dos terceiros anos do Ensino Médio começaram
a reivindicar que algo devesse ser feito por parte da gestão. Diante desse
contexto e observada a imersão dos jovens na cultura contemporânea,
vi a oportunidade de pensar num dispositivo que pudesse contemplar
essa questão, surgindo na escola o projeto “Juntos contra a LGBT-
fobia”, com o objetivo de analisar a relevância do uso de dispositivos
on-line para contribuir com atos de currículo que respeitassem a diver-
sidade. Dessa maneira, o projeto procurou alicerçar práticas formativas
construídas num movimento de interação das tecnologias digitais, com
os artefatos digitais, acessando o ciberespaço, usados como dispositivo
disparador para discussão inicial através de rodas de conversa pela rede
social de vídeos Youtube. Isso feito, corroborando com Santos (2019, p.
107) que afirma ser “necessário criar dispositivos de pesquisa capazes
de agregar cenários de aprendizagem e de formação”.
No primeiro encontro, dois vídeos foram apresentados: 1) o
vídeo intitulado “Entrevista sobre mortes de homossexuais nos anos
80” (NASCIMENTO, 2020), que reflete o pensamento da sociedade
na década de 1980 em relação à homossexualidade, em que a maioria
das pessoas entrevistadas consideram correto assassinar as pessoas que
não se encaixam no padrão heteronormativo. 2) documentário “(Sobre)
Vivências”, dos diretores Leonidas Taschetto e Gabriel Celestino, re-
sultado do Grupo de Pesquisa Psicologia e Educação- (TECNOPOÉTI-
CAS, 2018), no qual quatorzes pessoas falam sobre suas trajetórias de
vida marcadas pela descoberta de suas sexualidade, pelos preconceitos
em relação a sua identidade de gênero e orientação sexual, enfim, por
fazerem parte da população LGBTQIA+.
Dessas rodas de conversa promovidas a partir da apresentação de
vídeos do Youtube, muitas narrativas foram retratadas pelos estudantes,
com pequenos depoimentos escritos sobre as suas percepções relacio-
nadas à temática, decorrente de conversas e, algumas demonstrações es-
pontâneas sobre a orientação sexual e identidade de gênero desses esco-
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lares. Após esse momento inicial foi organizado um grupo no Whatsapp
para facilitar a comunicação com os educandos. Por essa rede e através
do Google Forms, aplicativo para pesquisa e coleta de informações do
Google, pude analisar a percepção da turma sobre a LGBTfobia, por
meio de um pequeno formulário contendo seis questões: E-mail? Qual
o seu nome completo? Você sabe o que é homofobia? Qual das respos-
tas, abaixo, na sua opinião, explica o que é ser homofóbico (múltipla
escolha)? Você já teve alguma atitude homofóbica, ou seja, teve algum
sentimento ruim, desrespeitou ou ofendeu alguém em decorrência dessa
pessoa sentir atração pelo mesmo sexo ou gênero? Caso já tenha tido
alguma atitude homofóbica, explique qual?
Os praticantes-culturais imersos no ciberespaço, por meio da
aprendizagem colaborativa, discutiram sobre a criação de dispositivos
que dialogassem com a questão da sexualidade a partir de atos de currí-
culo capazes de transformar discursos LGBTfóbicos. Foram sugeridos
a construção de panfleto on-line, livro on-line, podcast, vídeo gravado
na rede Tik Tok, momentos formativos e divulgação do projeto nas re-
des sociais. Os dados que estão sendo produzidos na pesquisa advém
das rodas de conversas realizadas, motivadas por informações das redes
sociais, das conversas individuais, das conversas em grupo, das conver-
sas informais, dos formulários do Google Forms. Esses dispositivos
possibilitam a discussão da temática assinalando posicionamentos ao
pensar/fazer práticas formativas que possam proporcionar aos estudan-
tes novas aprendizagens, a partir do ciberespaço.
Num processo de ruptura epistemológica, o método de pesqui-
sa-formação na cibercultura multirreferencial e com os cotidianos,
proporciona o entrelaçamento com o tema pesquisado, sem roteiros
fechados que privilegiem apenas os saberes científicos, oportuinzando-
-me, enquanto educadora-pesquisadora, não somente a possibilidade da
pesquisa, como também a autoformação e a formação dos envolvidos,
desafiando a construção coletiva de atos de currículo a partir do uso de
saberes vividos/sentidos e dos dispositivos tecnológicos que permitem
a mobilidade móvel e ubíqua no ciberespaço.
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litam a produção de atos de currículo (MACEDO, 2013) que permitem
aos educadores e também aos educandos produzirem espaços/tempos
formativos, com inclusão da performatividade gerada pelos processos
de midiatização da transgeneridade como constituintes de saberes váli-
dos e geradores de opções didáticas e pedagógicas.
Os sujeitos de pesquisa são pessoas transgênero, travestis e pes-
soas não-binárias que estão inseridas em escolas nas quais desenvolvo
trabalho como educador. A determinação por realizar a pesquisa com
múltiplos espaços se deu em razão da posição das pessoas da sigla T
– que ocupam ambientes formativos institucionais – pautar o assujei-
tamento para conseguirem mediar e construir acordos de permanên-
cia, em contraponto aos ditames dos padrões machistas, heterosexistas,
transfóbicos e coloniais e o enfrentamento necessário para a produção
de novas relações queer, inclusivas e cidadãs (ANDRADE, 2015).
As plataformas digitais e redes sociais online se mostram pro-
fícuas para que as pessoas trans possam encontrar informações sobre
gênero e sexualidade. Da mesma forma que, refúgio para usar seus no-
mes identitários, bem como se relacionarem com outros indivíduos que
apresentem situações similares, construindo redes de afeto e de prote-
ção, podendo experimentar e performar novas expressões de gênero,
além de produzirem saberes de formas livres, que podem ser relaciona-
dos ao cotidiano por parte dos agentes sociais nas escolas.
Entender que sujeitos transgênero forjam suas práticas curricu-
lares cotidianamente, inventam currículos em ato, práticas formativas
(MACEDO, 2013; FERREIRA, 2021) é importante para que possamos
procurar e/ou construir os etnométodos mais apropriados a esses atores
sociais (COULON, 2017) o que nos permitirá ter contato mais próximo
com os mesmos.
Para tal, estamos construindo uma cartografia digital (SANTOS,
2019) utilizando a observação em tela com vídeos da plataforma You-
tube com perfis de pessoas transgênero que explicam suas vivências,
além de realizar conversas nas plataformas Whatsapp e Instagram com
alguns indivíduos que se identificam como transgênero para termos
um panorama sobre os processos formativos online pelos quais passa o
sujeito transgênero, utilizando a metodologia Análise de Conversação
(RECUERO, 2012).
O passo subsequente será a construção do dispositivo (SANTOS,
2019) denominado “Rodas de diálogos TRANSAmazônicos”, com re-
ferência tanto à microrregião que se construiu a partir da implementa-
ção da rodovia Transmazônica, localizada no município de Altamira-PA
- 508 -
(a qual residem tanto o pesquisador quando os sujeitos da pesquisa)
quanto a metáfora ao prefixo “trans”: de transgênero.
O dispositivo procura proporcionar diálogos a partir da necessi-
dade de informar tanto pessoas trans sobre seus direitos e possibilidades
de cidadania no que se refere às vivências escolares, quanto construir
pontes de diálogo com pessoas que se denominam cisgênero, tendo em
comum que são professores e professoras, no intuito de promover for-
mas humanizadas de se lidar com estudantes da sigla T em sala de aula.
Porém, como se trata de tema que enfrenta grande resistência por parte
da coordenação e direção das escolas, definiu-se por promover ambiên-
cias formativas não-formais, sem vínculo com a instituição escolar em
termos legais de cooperação.
A mediação pelo meio digital em rede no dispositivo se cons-
truirá da seguinte forma: almejamos construir os encontros tendo como
tema gerador (FREIRE, 2019) demandas relacionadas aos cotidianos
desses sujeitos no espaço/tempo escola. A partir disso, procuraremos
construir possibilidades que visem contribuir para a superação dessa
problemática utilizando as redes socias online para tal. Entre elas, es-
pecialmente WhatsApp e Instagram, já que são as mais usadas pelos
praticantes culturais com os quais temos contato.
Apesar da pesquisa estar em processo de desenvolvimento, al-
gumas questões começaram a emergir. A primeira delas, surgida da
observação em tela, é que boa parte d@s influencers digitais trans –
com maior visibilidade nas plataformas – são pessoas que residem no
Centro-Sul do Brasil, notadamente brancas e de classe média, de modo
que não vivenciam os desafios de ser trans no Norte do país, tampouco
da classe social de maior vulnerabilidade. Foge a esse padrão apenas a
influencer Leona, belenense que ganhou notoriedade ainda no final dos
anos 2000 com vídeos no Youtube em formato de sátira inspirados em
novelas mexicanas.
Além disso, a questão de como tais conteúdos chegaram até as
pessoas que diferem da sigla T, como boa parte dos professores o é,
ainda representa um dos desafios. Haja vista que, “furar a bolha” digital
é um problema cada vez mais recorrente no atual cenário de polarização
em que as redes sociais online, por meio das modificações algorítmicas
(LEMOS, 2021) impedem que conteúdos que não fazem parte de seus
interesses lhes alcance com facilidade.
Contudo, é desafio interessante, uma vez que professor@s, por
terem contato com diversas personalidades em seus cotidianos, podem
tornar esses conhecimentos e saberes mais próximos e fazer com que
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haja maior inclusão de estudantes T, sendo aliados em potencial para
possibilitar que sejam agentes eficazes na construção de relações de
afeto e sensibilidade.
Considerações
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característica compreender os indivíduos no mundo e em sua relação
com o mundo, com toda a sua complexidade, assim como, explorar suas
itinerâncias, errâncias e surpresas nos diferentes aconteceres. Portanto,
é uma epistemologia aberta, porém sem perder o rigor da pesquisa. É,
sobretudo, uma tentativa de rompimento com o paradigma hegemôni-
co, vigente, de produção de conhecimento.
Por último, quanto as três pesquisas com temáticas que ora se
aproximam ora se afastam com o foco na educação, na escola e no
ensino. Esses estudos trazem as questões decoloniais: o preconceito
e a homofobia LGBTQIA+ (colonialidade, raça, gênero, sexualidade,
cidadania...), dentro e fora das instituições. Este recorte configura, pre-
liminarmente, a nossa posição socialmente engajada diante do mundo
controverso e complexo, buscando, por vezes, um raio de esperança
como um ato não niilista e muito menos uma posição de resolutivida-
de, mas cientes das opressões impostas pela História e pelas relações
sociais vigentes. Inferimos que essa forma de pesquisa, comprometida
com o social, na/pela ação implicada do pesquisador no campo, propõe-
-se junto com todos à (re)existência e à (des)construção como algo vivo
pulsante ou como diria nosso prezado educador Paulo Freire: uma práti-
ca de liberdade crítica diante do espaço/tempo no mundo que vivemos.
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