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PARTE V WINNICOTT cronoLocia 1896: Nasce, em 7 de abril, Donald Woods Winnicott, cacula de uma familia metodi de Plymouth, Inglaterra. “ee 1920: Completa seus estudos de medicina, apés uma interrup¢ao provocada pela Pri meira Guerra Mundial, durante a qual serviu como cirurgiao num navio da mari- nha britanica. Especializa-se em pediatria. 1923: Casa-se com a artista plastica Alice Taylor. Inicia no Hospital Infantil Paddington Green, de Londres, um trabalho como pediatra que duraria quarenta anos. Faz andlise com James Strachey, tradutor inglés das obras de Sigmund Freud. 1926; Melanie Klein se muda para Londres, tornando-se referéncia para andlise de criangas. 1927: Comega sua forma¢ao analitica pela Sociedade Britanica de Psicai childhood, seu primeito livro. de Klein. 1931: Publica Clinical notes on disorder of 1933: £ analisado por Joan Riviere, uma das principais discipulas 1934: Conclui sua formagao como analista de adultos. 1935: Habilita-se como analista de criangas- . nazista. «, fugindo da persestica err Mundial. Winni- 1938; Freud e sua filha Anna se mudam para Londres jo a Segunda Gu “ arendlendo criangas S&P pombardeiot Es- elda maena 1939: Freud morre em 23 de setembro. Tem inte 0 do governo, ades sob ameaga de co sobre 0 PaP cott trabalha como consultor psiquidtric acao de cid radas da familia durante a evacuasa0 de cid au trabalho ted sa experiéncia sera fundamental em seu trabal Constituigao do sujeito. 392 {0 Livro ne onro pa rsicanarise ic de debates Para Klein na teoria freudiana e para disey, 1941: A Sociedade Britanica de Psicandlise promove uma s Valiag cto das teorias de Melani tit suag oimpa i divergéncias com Anna Freud em relagao a andl de criangas, 1945: Ao final desses debates, que fi formam-se tres grupos: os freudianos (ditigidos por Anna Freud), os kleiniany,, 0 “Middle Group”, coordenado por Winnicott, que se manteve equidistante 4, rante as polémicas. Publica o ensaio “Desenvolvimento emocional primitivo iam conhecids como Controvérsias Frevd.kiy 1949: Separa-se de Alice. Escreve o estudo “A mente e sua rela¢ao com 0 Psique-soma’, 1951: Casa-se com Elsie Clare Nimmo Britton, assistente social psiquiatrica que havia colaborado com Winnicott durante os anos da guerra e que posteriormente setor. naria psicanalista. Publica “Objetos transicionais e fendmenos transicionai 1956: Torna-se presidente da Sociedade Britanica de Psicandlise, cargo que exercera até 1959, 1960: Publica “Teoria do relacionamento paterno-infantil” e “A distorgao do ego em ter- mos de verdadeiro e falso self”. 1965: £ eleito pela segunda vez presidente da Sociedade Britanica de Psicanilise, com mandato que duraré até 1968. 1971: Morre em Londres, em 28 de janeiro, em decorréncia de problemas cardiacos. A partir de entao, varios de seus inéditos e escritos publicados em revistas cientifi- cas so reunidos em livro. p.W. WINNICOTT: 0 HOMEM EA OBRA O PEDIATRA E PENSADOR INGLES RENOVOU 0 LEGADO DE FREUD COM CONCEITOS ELABORADOS DURANTE UMA EXPERIENCIA DE QUARENTA ANOS NA CLINICA COM CRIANGAS E ADOLESCENTES por José Outeiral “E muito mais dificil ocupar-se da satide do que da doenga.” OHOMEM Donald Woods Winnicott nasceu em Plymouth, Inglater- fa, em 1896, crescendo em uma Propriedade rural, Gnico meni- no cercado por duas irmas mais velhas. Masud Khan, seu ana- lisando e colega, escreveu que “de foi uma crianca amével, acomodadae um aluno brilhan- te. De Tepente, porém, resolveu Virar tudo de cabega para baixo; ‘2, entao, uma enorme confu- Sa0 nos, cadernos e, durante um ano, . oja um . Suas provas foram péssimas”. Essa talvez seja ur DONALD WINNICOTT rocom cnariv’ vj Winntcort oeanoroeow Os Winnicorr kM 1900. Donan Woo! ve eee (wo CENTHO) HSEUS PAIS. Fnepentes & Bev ~ 1a boa “descrigao” de Winnicott er eR TO 394 €0 Livro we ouro pa rsteananise Clare Winnicott, sua segunda esposa, contou uma passagem da autobiografia de ny. nald, nao publicada e encontrada somente apés sua morte, que revela uma passagem in, is freudiano” dos analistas ingleses. Ele escreveu: 30 cen teressante da vida do “mai ‘Peguei meu taco de criquete (com um tamanho de etrO8, Pols eu nig ¢, izda boneca de minhas irmas. Aquela boneca havig nha mais de 3 anos) e destruio ni Y i se convertido para mim em uma fonte de irritagao, pois meu pai nao deixava de brincar comigo. Ela se chamava Rosie e ele, parodiando uma cangdo popular, me dizia (com, uma voz que me exasperava): Rosie disse a Donald Euteamo Donald disse a Rosie Eu nao creio Assim, pois, eu sabia que tinha de destrogar aquela boneca, e grande partede minha vida se baseou no fato de que eu realmente havia cometido esse ato, sem me conformar em desejé-lo ¢ arquiteta-lo apenas. Provavelmente me senti aliviado quando meu pai, acendendo varios f6sforos seguidos, esquentou o nariz. de cera para modelé-lo e 0 rosto voltou a ser um rosto. Aquela primeira demonstragao do ato de restituigao e reparagao me impressionou e talvez me fez capaz de aceitar 0 fato de que eu, pequeno e querido ser inocente, me havia tornado violento, de maneira direta com a boneca e indiretacom aquele pai que naquele justo momento acabava de entrar em minha vida consciente.” Depois de uma infancia relativamente feliz, de poder “brincar com todasas experién- cias", Donald Winnicott foi para a escola em Cambridge: corria, nadava, praticava ci mo ertigbi, tinha amigos, cantava no coro, fazia parte dos escoteiros, e lia, todasasnoites, uma hist6ria em voz alta para seus companheiros de quarto. Aos 16 anos, ao fraturara clavicula jogando, ele formulou seu desejo de ser médico: “Nao poderia imaginar que to- daa minha vida dependeria dos médicos... resolvi converter-me eu mesmo em médica” Winnicott passou seu primeiro ano de medicina como enfermeiro, em conseqiiéncia da Primeira Guerra Mundial. Algum tempo depois, nao desejando permanecer fora do front enquanto seus colegas e amigos partiam, ele solicitou ingresso e foi aceito na Mart nha de Guerra. Terminado 0 conflito, ele prosseguiu seus estudos médicos em Londres. Nesse tempo contraiu um abscesso pulmonar e ficou trés meses hospitalizado; sob esse periodo, ele escreveu em sua autobiografia: “Estou convencido de que pelo 2° uma vez na vida € necess4rio que o médico tenha estado no hospital como pacien'e” . de Como aconteceu com outros analistas ingleses, Winnicott formulou algums 0- re o func suas idéias durante o periodo de guerra, baseado em suas observacdes 50D cas. umaticas namento mental de pessoas envolvidas no conflito, vivendo experiéncias trat ~ , . 8 Na Segunda Guerra Mundial, ele foi consultor para uma regiao no interior da Ingle" gat querecebia criancas © adolescentes evacuadas del sesouem instituiGbes. Essa experiéncia the social, ao estudar os efeitos da se Londres e que e, permitiu format ma ‘AgAO de crian e, a delingiiéncia é uma tendéncia anti- tendénci, ‘ adolescentes da familia o.. fal “que nfo foi tratada” “te abalhar no ca ‘AMO, ele torng a ied nes i div iniciar uma andli a-8¢ psicanatgn, ; Ino de} Alec ‘ale psicanali: nest Jones, este 0 encaminhou para james Strachey, que ty eer ey que traduziu as o| © com quem se analisou por dez.ano Pras euaandlise depois com Joan Riviere. 5 soci rael - Embora tenha desejado se clinico ge o ler um trabalho de Freud, etr trae, a puscando geFreud do alemao para o ingles, S, tendo retomado ciouem 1923, mes. pital for Childrene 1ou durante cerca de ua formagao psicanalitica se ini moanoem que obteve dois postos como pediatra, um no Queen's Hos; outrono Paddington Green Childrens Hospital; neste ultimo trabalh quarenta anos, organizando um servico para onde acorriam profiss i ionais ingleses e do exterior e que ele, carinhosamente, chamava de “meu snackbar psiqi uidtrico’ “CONSULTA TERAPEUTICA” Sentindo a pressao que resultava de um niimero elevado de criangas e adolescentes que buscavam atendimento, Winnicott dedicou-se a fundo a estudar os meios de utili- zar 0 espa¢o terapéutico da forma mais produtiva e obter os melhores resultados tera- péuticos possiveis. Desenvolveu, entao, 0 “jogo dos rabiscos” ea “consulta terapéutica’, escrevendo que “quando posso, faco a andlise standard, senao faco algo orientado ana- liticamente... e por que nao?”. Clare Winnicott registrou: “Ele se esforcava por tornar a consulta significativa para a crianga, dando-Ihe algu- ma coisa para levar e que pudesse ser utilizada e/ou destruida. Donald se armava de pa- pele, na maioria das vezes, fazia um aviao ou um leque com 0 qual brincava um pouco; depois, dava o brinquedo para a crianga, despedindo-se dela. Jamais se soube de uma ctianca que tivesse rechagado seu gesto.” No campo da psicandlise, Donald Winnicott manteve sempre, durante as contro- Vérsias que envolveram a Sociedade Britanica de Psicandlise e nos anos que se segur- ram, uma posicao independente, nao se envolvendo diretamente com nenhum tes oe 8rupos em contenda; nem com os partidarios de Melanie Klein e, tampouces com Buidores de Anna Freud. Manteve, entretanto, uma relagao satisti no independent group como ele, nesta po- Atéria com ambas. ou middle Como outros analistas, passou a se “localizar Eup recusando-se sempre a liderar os colegas que se colocavany ONT ‘ic40, mantendo um estilo proprio independente. Fol, em reco" veicandlise afiliada da **s,eleito por duas vezes presidente da Sociedade Britanica oe igmund Freud. Donald Associacdo Internacional de Psicandlise, instituigao anes da tradigao freudia- nnicott manteve durante toda a sua vida uma “filiagao" “ 896 {0 tive pe ouro pa psrcanatise na, dos seus primeiros anos de formagao até o final de sua vida. Suas idéias, 5 criativas e inovadoras, foram desenvolvimentos do pensamento psicanalitig, i, Michael Balint, Melanie Klein ™ divi Ofreudia. Wiltteg no, na linha percorrida por Sandor Feren Bion, entre outros. ‘Aconcepgao de que o pen nento de Donald Winnicott represen tou uma n upturg Imento te6, nhecimenty \ nal senao ha. seado na tradi¢ao”. Ele foi, fundamentalmente, um clinico, nunca Pretendendo ser y, im com a criagao freudiana, a psicanilise, antes de representar um reconhec rico e clinico do autor, nos remete & conhecida e antiga resistencia ao co psicanalttico. O préprio Winnicott escreveu que “ninguém pode ser origi mestre, como Melanie Klein ou Lacan, ou um grande te6rico, Para ele, aexpetinn, a clinica eram soberanas e nao pretendia fazer “filosofia’, advertindo, inclusive, em 9 brincar ea realidade, que tomassemos cuidado com os “fil6sofos de poltrona’, Sérvulo Figueira, ao escrever o artigo “Algumas idéias sobre Winnicott” (1990), pas rao primeiro dos dois ntimeros da Revista Brasileira de Psicandlise dedicados a Donald Winnicott, escreveu: “No caso de Winnicott, ser um Englishman significa que ele encarna em sua vida os valores basicos da cultura inglesa na area de organizagao da subjetividade: 0 cultivo da diferenciacao individual e do lado positivo da idiossincrasia, 0 cultivo da indepen- déncia do pensamento e de julgamento, o respeito pela opiniao, pela liberdade e pela autonomia do outro, a valorizagao da experiéncia e da observacao, em suma, 0 cultivo da diferenciagao, O GRUPO DE BLOOMSBURY A formagao cultural e psicana ica de Donald Winnicott aconteceu préxima a um grupo intelectual inglés, conhecido como Bloomsbury. Desse grupo fizeram patte inte Jectuais importantes do periodo conhecido como “eduardiano” (que se seguiu ao perio® “vitoriano’, caracterizado, este tiltimo, entre outros elementos, por uma repressio mo! € sexual das idéias e dos costumes), identificado com uma visao liberal e aberta do 2 ssoais. DO zeram parte pessoas, com um engajamento maior ou menor, om0 Vi" nia e Leonard Woolf, Lytton Strachey, John Maynard Keynes, T. S. Eliot, entre outtos Le tacados participantes, a. Virgin? je Donsld samento € das altitudes e condutas sociais e no respeito As idiossincrasias pe Bloomsbury de diferentes setores do pensamento britanico da 6p e Leonard Woolf, escritores e donos da Hogarth Press, editaram alguns livros 4 . Winnicott, da mesma forma que o fizeram com as obras de Freud em ingles. Ly" ee chey era irmao mais velho de James Strachey, analista de Winnicott e tradutor 425° de Freud do alemao para 0 inglés. erdadei™” Donald participou dessa “atmosfera” de lib telectual e suas idéias representam essa forma de pensar. ast Mey aye Winnicott nao tiveram filhos , ponalde Clare . | m i OS. 20 perceber que sua ava mais dificil, ele registrou que “é muito diftc ' Situagao clinic, ilum homem “ ‘orn stron morrer quand sor" am filho para maté-lo na fanta & Doxler sobrevivera ce, proporcionanay ae (er omtinuidade que os homens conhecem", assima nica sinica aosentira proximidade do fim de sua vida, em 1971, cleescreveu em sua autoh jechamou de Not less than everything, uma descrigao im fia. sgstive morto. Nao era particularmente agrad: ogra ‘aginaria de sua morte: ave tempo (porém apenas um momento na eternidad bom Orme ao na do sobre meu pulmao cheio de agua. Meu coracao nao conseguia fan seu traba- tu er : . iho, pois o sangue j4 ndo podia circular livremente pelos alvéolos Havia felt de ox nio e asfixia. Nao havia por que ficar revolvendo a terra, como dizi Pere Minha vida foi longa. Vej i Ve me pareceu que levou um ¢). Chegado o tempo, eu sabia ia nosso velho jamos um pouco do que aconteceu quando eu orri? Meu pedido havia sido ouvido (meu Deus, faz com que eu viva o momento de morti? minha morte).” Clare Winnicott comentou, sobre esse trecho, que se pode ter uma idéia da capaci- dade de Donald Winnicott para compor, brincando, coma realidade de dentro ede fora, demodo a permitir o individuo suportar a realidade, evitando a negacao e podendo rea- lizar tao plenamente como seja possivel a experiéncia da vida, seja um bebé que nasce ouum velho que morre. AOBRA SONO Deixa penetrar a raiz no centro da tua alma. Aspiraa seiva da fonte infinita de teu inconsciente e conserva teu verdor Donald Winnicott se- com seupensamento, ou yeu) que permita o brit aa ratamos de compree sdrio brincar' near, . cessario brine jn Pe Winnicott é nece i ‘ara conhecer a obra de Wi mo ele escre i of cial co! 5 fa, criar um espaco transicional (ou poten pois, € 86 entdo, t jatividade; de! “So gesto espontaneo e da criatividade: ibilitam. ‘ nica possibi “@experiéncia que sua teoria e sua clinica peteanauise 398 {0 Livro pe ouro pa n edo pensamento de Winnicott que Bode se, ma, & L tatiog muito numerosa a public ere Ontimero de eventos em torno deseu nome uito grande, Ble 6 da sobre ele. O mim ados em revistas psicanaliticas, como a Revisg é ivulgagao das obras ; Hé uma grande divulgag: asestacem publlcadosem nonin E C s seus traball avaliada, pois, além de todos os s nee cao de livros @ artigos, a autores mais cil : y mesma forma, um dos a eee ' 10 leitor buscar as referén Braficas dos ne Brasileira de Psicandlis¢ a ata .crevo. para constatar 0 que es _ , ; ; Quando estudamos os textos de Winnicott, defrontamo-nos com um estilo do qual podemos dizer, como ele préprio referira, Le style, cest Uhomme méme-eo estilo dele €extremamente pessoal ¢ sofisticado e, ao mesmo tempo, simples e natural. Estilo pa. radoxal, mostrando a importancia do paradoxo em sua obra. Ele buscava escrever de forma a ser compreendido pelo “homem comum’, como referiu, e se afastou da escri. ta estilo paper para uma redacao mais “livre”. Praticamente nao citava autores e dzia, brincando, que primeiro escrevia e depois tratava de saber de quem havia “roubado" determinada idéia. As referéncias bibliograficas de seus trabalhos e livros eram organi- zadas por Clare Winnicott, Masud Khan e outros colaboradores. Masud Khan, seu analisando e colaborador, registrou que Winnicott, ao longo dos mais de quarenta anos em que exerceu sua clinica, atendeu cerca de 60 mil pacientes; criangas, adolescentes ¢ suas familias e, também, pacientes adultos, como Harry Gun- trip, analista reconhecido, que com mais de 70 anos o procurou para uma nova anili- se. Seu material clinico enfrentou dificuldades para ser divulgado, pois muitos de seus pacientes pertenciam ao circulo psicanalitico de Londres, como um dos filhos de Mela- nie Klein, o editor Harry Karnac e analistas como Margareth Little, Masud Khan, Harry Guntrip, entre muitos outros, André Green escreveu que o pensamento de Donald Winnicott forma uma red um tecido de fios entrecruzados, distinguindo-se como principais os seguintes: L Teoria da Situacdo Psicanalitica, cujo modelo € 0 setting; 2. Teoria das Pulsoes, 4° int: Z it ivi iv roduz novos conceitos sobre a agressividade (com a nogao de uma destrutividade sem célera) e sobre a sexualidade (com a idéia de “ inino puro” e “ele @ " ‘elemento feminino pu ento masculino puro” }:3. Teoria do Objeto, enfocad ido.e 0 objet transicional; 4, Teoria do tia do Espaco, jet ja pelas relagdes entre 0 a 10 objetivamente percebido: seu corolario € 0 Self, com os conceitos de verdadeiro selfe falso self 5. 12° Pela nogao de drea inte te da sublimacao e da experia, Comunicagao eda Nao-com @nocdo de ambiente facilita déncia a independéncia, subjetivamente concebj ve ‘onal, fo" ‘rmedidria, espaco potencial e transicional,§ ‘a . nela cultural, criada através do brincar; 6. Teoti8 Unicacao; 7, Teori dor (mae suficientemente boa) e a evolugao da dep” “eee Masud Khan, por sua vez, ao escrever o extenso e preci cio: SO prefacio pa Parao P i : conceit livro Da uso fantasiars do objeto transicional ao uso do objet ria a psicandlise, enfoca os seguintes aspecto de tealidade interna ver- res di je 5 : ‘Bressdo, manejoeo brincar mo a pessoa total, ° Numa tentativa de desenvolver e ampliar os esquemas apresent filho, introdutor, ba cerca de quarent psicanalitico; a estruturagao ea formacao d: ‘ados, Julio d " y le Mell a anos, do pensamento de Winnicott no Bras, junto com Luis B. Prego-Silva, do Uruguai, resume o conjunto de contribuica — autorem seu livro O ser eo viver: miestese Teoria do Desenvolvimento, com um estudo pormenorizado da relacéo ma dasinfluéncias da familia e do ambiente, postulando a interacao de a ‘ maturacao com a presenga de um ambiente facilitador, desde uma fase de ier absoluta a independéncia humana. oa Teoria dos Impulsos, em que reestuda os papéis da sexualidade (elemento femininoe elemento masculino) e da agressividade, relacionando-os em seus primérdios ao desen- volvimento motor e questionando a existéncia de um instinto de morte. Aqui também éimportante a nogao de agressividade sem célera, através da qual 0 bebé se desliga da mae num abandono de catexis, sem uma intencionalidade, em si, destrutiva. Teoria do Objeto, que postula a existéncia de um objeto subjetivo (inicial) e de um objeto objetivo (posterior), como também de um objeto transicional, formulando o con- ceito de fenémenos transicionais em psicanilise. Teoria do Espaco, em que formula e existéncia de um espago potencial, de uma zona intermedidria entre a realidade interna ea realidade externa, onde se realizam 0 jogoe obrincar, origem de todas as atividades s6cio-criativo-culturais. Teoria do Self, da polarizacao entre um verdadeiro self, espontane: da alegria e da satide mental, em oposi¢ao ao falso self, artificialmente ct submissao e excessiva adaptacao ao meio. da as formas de comunicagao e umana e da esquizoidia, € on .0 e criativo, fonte ‘onstituido por os seus con- Teoria da Comunicagao, na qual estu ‘ de afirma trarios, e o problema da incomunicabilidade h ue o nticleo do verdadciro self 6 um santudrio invis exterior, olivel, que nunca se comunica com ono setting analitica a ja regress es es iniciais aad J estuda o problema d : jescongelarsittaco' Teoria da Regressao, na qua ando d tapas primitivas de dependéncia absoluta, posstbilit de fracasso ambiental e retomar o desenvolvimento coma) truturagao, signifi sua ruptura parcial firma que ao lad repre 1 novo sentido de viver cao e funcaoe se 1 ou transgressao. ferencia umanejo Teoria do Setting, na qual estuda aes Pelo analista, incluindo a possibilidade de Teoria da Contratransferéncia, na qual a Comum e habitual existe uma outra “verdadel fo da contratrans! mor € ietiva”, sentada pelo a! ra e objetiva’y 400 {0 Livro ve oure na Psieanatise Pelo édio do analista, que se justificam na situagao clinica. O autor também estuda 4 Problema das falhas do analista e da possibilidade de seu uso pelo paciente, Teoria Psicossomiitic fisioldgico, do qua , baseada na existéncia inic al de um psique-somainstintiyg. is tarde, a mente, com suas complexas funds, A doenga psicossomiitica, caracterizada por multip tentativa de retorno (aspecto positive) a situag: Teoria da Tendéncia Anti ih sentada pelo roubo e pela destrutividade, condutas de desafio ao meio que conte se desenvolve, s cisbes, encerraria, contudo, uma ntegragao inicial. p de social, cons ne de uma deprivacao inicial e repre a. radoxalmente, um sinal de esperanga de que 0 individuo ainda confia que o ambiente Possa corrigir aquelas falhas que possibilitaram o surgimento desta tendéncia, Julio de Mello conclui, escrevendo 0 seguinte: “Finalmente, embora se diga que tudo que Winnicott escreveu, em fungao de seu esptrito, ele deixou em elaboracao, em transicionalidade, algumas dessas teorias se mostram muito mais acabadas, com, pletas, como a teorias do desenvolvimento, do setting e do objeto. Outras estado, ainda, em esbogos, como a teoria psicossomatica, a ser posteriormente desenvolvida. Nesse sentido, podemos dizer que ele também esbogou uma teoria dos limites, dos limites do setting, dos limites da analisibilidade, dos limites pessoais ou contratransferen- ciais do analista.” Acredito que uma forma, complementar a dos autores acima referidos, de pensare sistematizar o pensamento ea clinica de Winnicott pode ser feita como se segue, enfo- cando principalmente o desenvolvimento emocional primitivo. Em primeiro lugar, o caminho da dependéncia a independéncia, com este percurso possuindo trés etapas: a) dependéncia absoluta (correspondendo ao conceito de narci- sismo primdrio de Freud e relacionada a mae-ambientelobjeto subjetivamente concebido, momento de ser, experiéncia possibilitada pelo elemento feminino puro); b) dependén- cia relativa (emergencia do campo fusional com a mae, surgimento da mae objetolobjeto objetivamente percebido, mae-outro, ou, como brincava Winnicott, a m/other, momento do fazer, possibilitado pelo elemento masculino puro); ©) caminhando em diregdo ain- dependéncia, enfatizando que esta nunca é absoluta. O individuo sadio nunca se torn isolado, mas se relaciona ao ambiente de tal modo que se pode dizer que o individuoe © ambiente se tornam interdependentes. O conceito de caminhando em dire¢ao it- dependéncia pode ser melhor compreendido se utilizarmos uma metifora criada por Bion: “Quando um navegante se orier ao ird nga a por uma estrela, ele sabe que nao ird alcane Ja, mas tomara seu rumo na diregao da est : , . re- Em segundo lugar, 0 conceito de ndo-integracao e integragao, Esses conceitos 8° ferem, em principio, a satide, enquanto a desintegragao se refere a doenga, como 40, por exemplo, a uma experiéncia traumitica, gm terceiro lugar, 0 conceito de personalizacao. Personalizacao signifi- caaintegracao psique-soma, a consti- tuigao de uma “trama psicossomatica ou seja, a "psique habitando 0 soma”, gsse process0 € possivel quando a mae exerce com 0 bebé a preocupacao ma- terna primdria. Um quarto ponto nos remete a pas- sagem do estado de pré-preocupagao ao estado de preocupacao (concern). Jam Nasconrnovés SSIAS EM TORNO DA SocrEDADR BRITANICA Abram escreve sobre esse momento; — ™ !stesxstse, Wrvsicorr nko se envoryEu com os 001s, “Preocupacdo € 0 termo utilizado por stouinons or Ans have Nason avanccon natin Winnicott a fim de destacar os aspectos — **¥AFtrun, em ire positivos do sentimento de culpa. 0 estdgio de preocupagaoconstitui-se quando o bebé passa a sentir-se preocupado com a mie, que é a quem seu amor implacavel havia sido até entao dirigido. A capacidade do bebé de sentir preocupagao por sua mae marca o episédio do desenvolvimento que é a passagem do pré-remorso para 0 remorso.” Os processos referidos se organizam na medida em que exista a preocupagao mater- na primdria, ou seja, a capacidade de a mae “adoecer sadiamente” quando dos cuida- dos com seu bebé. Esses cuidados sao denominados como as fungoes de holding (sus- tentacao), handling (manejo) e apresentagao de objeto (ou seja, a mae estar disponivel paraas demandas de seu bebé, quando e como ele necesita). E necessério comentar que Winnicott escreveu que nao existe um bebé se nao houver uma mae e, conseqiientemente, nao pode existir uma mae sem um pai, ainda queno imagindrio da mae e referido, eventualmente, ao préprio pai da mae. Conside- To que a mae sé poder exercer a preocupagao materna primdria se houver um pat we ficientemente bom. £ verdade que Winnicott escreveu sobre as relagoes. Pee ent Amdeeo bebe, mas ele intimeras vezes tratou, também, da questao do faa aes: Esta mae, que desenvolve a preocupacao materna primdria, € denominnc® ficientemente boa, mae devotada comum ou ambiente facilitador sean suing goes que Winnicott propoe 0 Se ambientais nas primeiras nta que “o setting E necessério compreender que as modifica ‘erapeutico dizem respeito a pacientes que sofreram falhas a0 tapas do desenvolvimento. Para essas pessoas, André Green a ingeama o de Winnicott 6 uma metéfora de cuidados maternos » Para aa ‘usa posicao de- Banizacao edipica ou para os que chegaram ao estado de aes Freud propoe, € que Pressiva, Winnicott sugere a andlise standard, a andlise eee 402 £0 Livro pe owre pa rsicanarise suas modific se possivel, que esses pacientes possam se he. siar da andlise standard, des de settingvisam Possibilitar Uma das formas de realizar uma leiturg introdutéria da teoria, da téenica € da cling ott pode ser fei de Donald Winn ita através de um modelo que busca incluir os textos funda. mentais de sua obra e suas contribuigoes mais originais. Um “roteiro” apresenta todos 0s in. convenientes de “compactar” uma obra exten. sa, que abrange varias éreas do conhecimenty P: de mais de 200 trabalhos. Poder ser titi icanalitico € que resultou de uma producig | entre. tanto, para os que-desejarem uma introducao ao pensamento winnicottiano. Este “roteiro de leitura’ compreende 16 pontos: Donato x Cian Winntcort convensaM cow 0 * Oautor e a obra: “D.WW. - Uma reflexdo”, Clare Pstcanauisra cis Roce Moxst Kraus (tt Winnicott, em Exploragaes psicanaliticas. 1980), EM DOS EXFOENTES DA ESCOLA PSICANALITICA DESERVOLVIDAAO.mEDOR Dr Metatne KLEIN + O meio ambiente facilitador: “Desenvolvi- mento emocional primitivo” e “Preocupacao em Da pediatriaa psicandlise. materna primari: * “Objetos e fendmenos transicionais”, em Da pediatria a psicandlise. **O papel especular da mae e da familia no desenvolvimento do individuo”, car ea realidade. * O verdadeiro ¢ 0 falso self: “Distorgao do ego em termos de verdadeiro e falso self, em Oambiente e os processos de maturacao. m O brin- **O temor ao colapso”, em Exploragées psicanaliticas. *“Amente e sua relacdo com o psique-soma”, em Da pediatria a psicandlise. * 0 transtorno psicossomAtico: “A doenca psicossomatica em seus aspectos positives € negativos", em Exploragdes psicanaliticas, * As raizes da agressao e o édio na contratransfe transferéncia” e “A agressao e sua rel pediatria a psicandlise. * “Aspectos clinicos e met réncia, Winnicott: “O édio na contra Jago com o desenvolvimento emocional’, em D4 ‘apsicologicos da regressio dentro do setting psicanalitico » em Da pediatria a psicandlise. + Exemplos clinicos de interpretagao: f tcp” es ‘A interpretacao em psicandlise”, em Exploraco psicanaliticas, e Holding e interpretagao, Vinnies T3403 «Registros de andlises com Winnicott: Registro Pessoal de uma andlise com Wi de Margareth Little, e My experience of analysis with Fairbain and Winnj yt ee ij ‘colt, de Har- ry Guntrip. ar: +0 jogo do rabisco”, em Exploragées ps ranaliticas, «“Defesas manfacas”, em Da pediatria a psicandlise, “atendéncia anti-social”, em Da pediatria a psicandlise, «Quso de um objeto”, em Exploragées psicanaliticas. Os textos esto af para serem “usados”, E como um “jogo de rabiscos”, no qual Win- nicott fez alguns tragos e 0 leitor deve fe T Os seus. Desse espaco transicional é que surgirao elementos criativos, espontaneos e concepgées novas, as vezes prenhes de surpresas, indagagoes e paradoxos. Nao tente “entender tudo” em cada trabalho para s6, entao, seguir para outro. Faca como 0s Beatles, de quem Donald Winnicott tanto gostava, e Let it be, ou “deixe estar”, e siga em frente. CONSTITUIGAO DO SI-MESMO E TRANSICIONALIDADE GRANDE TEORICO DAS TRANSICOES, WINNICOTT SE OCUPOU DE MOMENTOS FORMATIVOS QUE LEVAM O INDIV{DUO A PERCEBER AS RELAGOES ENTRE O DENTRO E 0 FORA, 0 EU E 0 NAO-EU por Orestes Forlenza Neto T: aumentado na clientela que nos procu- rao namero de pacientes que se queixam de falta de contornos precisos, dificuldade de sentir prazer na vida e nos relacionamentos, de gran- de vulnerabilidade na auto-estima, tendéncia ase afastar dos contatos para se protegerem de dor insuportavel. Falta-lhes sentido na vida, e vi- vem um grande vazio e uma sensagao de futili- dade, mesmo quando conseguem algum suces- 80 profissional e social. Muitas vezes procuram nas adigdes (4lcool, drogas) aquilo que nao en- contram em si mesmos. Sentem-se alienados co- mo se fossem espectadores da vida. Vivem como Se fossem estranhos a si mesmos, € oulras vezes Sentem que nao habitam o préprio corpo. Asteoriase praticas mais habituais pareciam hao dar conta desses pacientes, que freqiente- Mente sofrem crises psicoticas durante aanilise. anno vemie «tuo Dt avTORIA DE WINTGOTT Des 406 {0 Livro pe ouro pa rarcanatise . j tor Todos esses fatos levaram muitos estudiosos a ret ocupou de mo Ss ati individuo, di Ul momentos formativos do ind ¥ smissa uma maternagem suficien; in) tinha como premissa U Be ‘enters inca que ja havia passado por fases criticas da cong, mar autores como Winnicott, Ee Ele se endo que a teoria desenvolvida py, t Freud (e também por Kle! boa, ou seja, pressupunha uma tituigao do ser. Entretanto, muita cof importante deve se passar até que 0 sujeitg for. a entre 0 Fue 0 ndo-eu, OU aE GUE O eStAKIO do Ev-sou sjs 1 me uma membrana divis alcangado. As perturbagoes desse des n sa no corpo, ameacas de despersonalizacao, angtistias impensaveis, ameacas de desin, tegracdo e despedacamento, de cair para sempre, ¢ falta de coesao psicossomatica, 9 referencial do sujeito, outras vezes, deixa de ser 0 pessoal, ¢ ele elabora um falso seifde. nvolvimento produzem sensagao de falta de fronteiras fensivo e submisso, cujo referencial é 0 de outra pessoa; a0 mesmo tempo, queixa-se de falta de uma diretriz na vida, de continuidade, sua comunicagao € vazia e monotona, E incapaz de aprender com a experiéncia da vida, sente suas fronteiras vulneraveis, te- me se misturar com 0s outros, funciona por imitagao, age de acordo com o que supée que se espera dele. Se for inteligente, usa essa capacidade dissociada de sua existéncia psicossomatica para obter algum sucesso, mas é sempre acompanhado de vazio e fra- casso afetivo. Foio trabalho analitico com esses pacientes, acrescido da observagao de aproxima- damente 60 mil criangas e suas maes (ele veio da pediatria), que permitiu a Winnicott formular um estado de ndo-separacao inicial mae-bebé, na fase de dependéncia absoluta da crianca em relagao aos cuidados maternos. Do seu ponto de vista s6 nos tornamos pessoaem virtude da relacao com outra pessoa, como € 0 caso da relagao mae-bebé nos primérdios da vida. Nesse estado de indiferenciagao mae-bebé, as falhas maternas e as reagoes a elas nao despertam frustragées (fato que é valido para etapas posteriores), mas angtistias de aniquilagao, angustias inomindveis que ameacam a continuidade de ser. Ele, mais que qualquer outro psicanalista, salientou a importancia do corpo. To mando 0 potencial psicossomdtico herdado sob os cuidados de uma mde suficientement® boa, sua @nfase recai no processo de individuagdo, que se inicia numa fase de depe™ déncia absoluta, que corresponderia ao narcisismo primdrio ou estado fusional do be bé com a mae, a tal ponto que, em uma reuniaio da Sociedade Britanica de Psicandlise afirmou: “Nao existe uma coisa como um bebé [.ul; $e Voce me mostrou um bebé, vor certamente me mostra alguém cuidando do bebé.” Mais tarde (1952), ele diria que ° centro de gravidade do ser nao se inicia com a crianga, mas com a monada mde-beb® € que esta € a unidade de estudo dos primérdios, se quisermos saber como se constitu! 0 ser pelas técnicas da mae suficientemente boa, de um holding e um manejo geral m™* 1001 y 407 temos. Portanto, no infcio, 0 ser s6 ¢ possfvel com outro ser . humano. Dy trontinuidade do ser€ 0 sentimento que resulta da fu wrante esta fase, io da mae sufici : iciemtemente como bebé. boa Ele postula que nesta fase selfinfantil € nao-integrado, nao hé vincul maa, . 2 lo corpo e a psique e nao ha lugar para a realidade nao-eu.C: muvee no, que nessa fase tem adapta ‘0m 0 emMpréstimo do ego ma- Ss CAO quase perfeita as necessidades do bebs, se ini “ I i o processo de elaboragao psiquica das fungdes corporais, no ritmo Pr6prio do bi ve. lo beba. mas em necessidades. Essa perfeitaadap. amou de preocupacao materna primaria, que € uma doen- casaudavel da mae que promove uma “sensibilidade especial” {algumas mulheres, contudo, Nessa fase, nao tem sentido falar em pulsdes, tacdo deve-se ao que ele ch em relacao a seu bebé. 40 conseguem esse “adoecimento” por implicag6es pa- tolgicas). Esse apoio materno funciona como uma concha protetora que, com o desen- volvimento do ego infantil, vai sendo gradualmente retirada. O cerne assim protegido inicia o processo de se tornar um ser de dentro para fora. Quando ocorre um fracasso materno, temos as invasdes que provocam reacées por parte do bebé. Hé a ameaca de romper 0 sigilo do silencioso isolamento do icleo do self com ameaca de aniquilagao: so as agonias impensdveis (porque nao existe ego sufi- ciente na crianga para pensé-las). Invasdes intensas e reiteradas levam a sensagao de aniquilacdo do selfe defesas do Lipo falso self que encapsulam o nticleo do verdadeiro self. O individuo se desenvolve, agora, a partir da casca defensiva, com referencial alheio ao seu ser. A reacao promove o enclausuramento do cerne do self, sensacao de aniquilagao, e interrompe o going-on-being. 0 self central € 0 potencial herdado que est4 experimentando, a seu proprio modo evelocidade, uma realidade psiquica e um esquema corporal. A protecdo desse expe- Nlenciar € dada pelos cuidados maternos que facilitam 0 going-on-being, e © potenc fal herdado daré origem ao individuo, determinando o sentido do sere da existéncia autén- tica. A crianca que se desenvolve a partir de seu centro de gravidade, e na o.com base nas invaso Aenare sicdtica), vai invasOes maternas (como ocorre por exemplo no caso da mae narcisica e psic raz se sentir real e sentir que Setornar capaz de apercep¢ao criativa do mundo, 0 que a faz se sentir re: abe deve ser seu protonga- vida vale a pena. A mae narcfsica s6 consegue se ver, seu bebé deve ser seu P sane su sou visto; logo, existo.” Ese Mento ou sua salvacao. O crucial para o bebé & Primatio da identidade. Amide suficientemente boaéa “mae devotada comm’ 6300" € brojegao de objeto interno (mae boa e mae m4, no sentide MeO Prop, orciona a crianga ser-o-seio. Vai ao encontro do gesto enn aexistir realmente Sendo ailusao de onipotencia infantil. O verdadeiro sel/ndo comer éamulher da realidade, nao 0). £ aquela que forne- 408 {0 Livro ve ouro pa Psicanatise se nao houver repetido éxito da mae em encontrar o gesto espontaneo dacrianga ou sua o gesto espontanco encoraja a crianga a desen, alucinagao sensorial. Se correspondid volver seu senso de self (que 60 verdadeiro selfem aga). s levam A cumpligidade @ submisséo onde o gesto da entidas como invasdes, provocam As falhas maternas repetida crianga é substitufdo pelo gesto materno. As falas, Has como aro going-on-being (a claboragio imaginativa das fungoes, inj, |. Quando as reagies as invasdes sao reagdes que fazem c cialmente somaticas e, posteriormente, psiquica eventuais e passageiras, ela sera incorporada ao desenvolvimento, no voltar-se para a realidade. A crianga se recobra e retoma 0 going-on-being. Nessa fase de dependéncia absoluta, Winnicott profere outra de suas frases para- "A crianga cria o seio ¢ ela deve estar l4 onde foi criado.” A mae mantém a ilusao doxai de onipoténcia necessria, e a crianga-é-0-seio. Mais tarde, de acordo com 0 desenvol- vimento do ego infantil, quando este puder lidar com a incompletude, ela iré gradual. mente desiludindo seu bebé. No mais, ela capta as necessidades do bebé e as supre adequadamente, fornecendo a crianga a simplicidade e a monotonia necessarias para 0 going-on-being. No caso de invasoes exces 10 pode produzir um individuo que se desenvolve de seu cerne, mas como uma extensdo da cascae do meio sivas, o estado de narcisismo primario ambiente invasor 0 falso self. O que restou do cerne sera escondido e, diz Winnicott: “O individuo s6 existe por nao ser encontrado”, Como nessa fase nao existe 0 ndo-eu, os fra- cassos ambientais séo sentidos como ameacas a existéncia pessoal, e as angistias que se acompanham sao impensaveis e promovem desde sensagdes de queda livre, desinte- gracdo, fragmentagao, perda da unidade psicossomatica com despersonalizacao, perda do senso de real com exploragao do narcisismo primario, até a perda da capacidade de relagao objetal, com autismo e defesas precoces contra a incompletude que é causadora de inveja patolégica. Quando nao chega a esses extremos, temos a patologia do falso self com hipertrofia da racionalidade que tenta suprir as rupturas da continuidade da exis- tencia, que, sendo uma criagao artific 1, rompe os processos interacionais com 0 soma com sensagoes e sentimentos. O falso self nao pode fazer o sujeito sair do mundo itreal em que vive e, por ter origem na falha ambiental, ele nao é do sujeito: é reativo. e a de dependeéncia relativa. Coma de- silusao gradual por parte da mae, o bebé vai ocupando um espago separado dela e pers0- 10 Eu sou, em que a crianga se reconhece como um ser com um interior e um exterior, e comecaa ter identidade. Ela vai Apés a fase da dependéncia absoluta, segue: nalizado. Nesse ponto surgem o Eue 0 ndo-eu, ea afirma se alocar em seu corpo com uma membrana limitadora, um interior e um sentir-se real. Sentir-se real é mais do que existir, 6 encontrar o caminho proprio de existir e de se rela- cionar consigo mesma e com os outros € ter um selfpara se recolher em relaxamento. para Winnicott, tanto homens como mulhei Tes tem elem, ido ao fazer, © 0 fer os. 0 elemento masculino esta nos. nit obj mic jero suc la nao precisa do ser, permitindo a rela seoemtermos de masculino ¢ feminino nada ten comsett elemento feminino puro permiteaa seu bebe ser.om OU Sea, se apn. njivo sein (OU MAL). A criANGa se forna a seio. Ain, 4. Se apossardo oh. ie nao tem mede d lode seu ectips e, ase impor, nem fazer do bebé algo especial. Ela ko especial. Ela simplesmente fornee Ao de objeto subjetivo do ele ve Hento feminine cca mais simples das experiéneias: a experiencia de sor 19 puro que holding estabele vaca mae ja reconheccu desde a gestagao as mani ee a gestacao as manifestacées sin Bulares de seu f u feto prosseguet iprincipalmente motoras), Sao elas que ™M ap6s 0 Nascimento. A mae-suf, aptar as peculiaridades do ser em desenvolvimento e q peita-as. Nao se confunde com o bebé, nao impde seu gesto, empre cientemente-boa consegue , sta seu sonhar para quea individualidade se constitua, Ainda em gestagao, 0 feto jé tem essa intima-singularidade que Winnicott chama de self nuclear, cujas potencialidades vao ou nao se efetivar no periodo de desenvolvimen- to. Ainda mais, o self nuclear vai se efetivando indefinidamente, mantendo sempre um elemento incomunicad, algo como um santuario ecolégico, sempre como uma reser- va de potencialidades para os processos que vao do nascimento a morte coma singula- ridade especifica daquele ser humano. Durante esse processo, os cuidados do holding incorporados estarao disponiveis para os varios nascimentos: infancia, adolescénc maturidade, decadéncia fisica, velhice e morte. Para Winnicott, a morte faz parte do processo de vida. Existe uma constante transformagao, mas ao mesmo tempo o eie- mento nuclear do selfsingular que da o selo do reconhecimento na diversidade e 0s ges- os que dele brotam nos dao a capacidade de nos surpreendermos. O processo maturacional pode ser obstado pelas invasdes € reagdes, e formam-se prema 1m, que leva ao ocultamento s que levam ao selfatuante, uma copia de algué do verdadciro self, que entao fica privado de experiencia viv Atingido 0 Eu-sou, € necessdrio um grande trabalho para se gem do objeto subjetivamente atingiro Bu sow evoe’ de externa, a pass que pertence a elaboragao da reali apercebido para 0 obje Definigao de self Gere Kalmanovitch) em 1971: “Para mim, o self, que nao 60 ego, 6a pessoa que Suiuma totalidade baseada pees manuatie A ‘empartese 6, na verdad oe aco do interior-exterior no curso do proce: Palmente no inicio), pelo ambiente humane que ocont ido. ivamente p és (Chane Ja por Winnicott as tradutoras de sua obra parse thane somente eu, que POS” eu sou, que o mesmo tempo, oself aga do pte ope nstitufdo dessaas part SSO. miaturativo, tina num senti- deve sé-lo (prine! Jee que de forma auxiliado, come ém, que cuida del 410 £0 Livro ne ouro pa rstcandiise cha localizado no corpo, mas pode, em determ). e na expressio facial da mae, ng 6 selfatinge significativg , depois de bastante incorporacag ativa 0 facilita. Normalmente 0 self: S, di espelho que pode vir a representar 0 rosto di r-se do corpo nos olho mae. Fini nadas circunstanci oci relagao entre a crianga e a soma das identific; e introjecao de representagdes mentais, se organizam em forma de uma realidade inter. na viva. A relacao do menino ou menina com sua prépria organizagao psiquica interna se ivas manifestadas pelo pai e pela mae e por aqueles modifica de acordo com as expect que se tornaram importantes na vida do individuo que até entao cresceu e que continuag crescer da dependéncia e imaturidade para a independéncia, ou capacidade de se identi. ficar com objetos de amor maduros, sem perda da identidade individual. ATRANSICIONALIDADE Apesar de 0 Eu-sou ser atingido pelo processo maturacional, Winnicott deixa claro que as relagoes entre 0 Ewe 0 ndo-eu, entre o sujeito e o mundo em que vive, nao tém fronteiras rigidas. Cada ser cria o mundo e é criado por esse mundo num jogo imaginati- cot nos mostrou que entre o vo incessante. Resumidamente, podemos dizer que Winn Eueo ndo-eu, omundo interno eo externo, o subjetivo e o objetivo, o real eo imaginario, o dentro e 0 fora, o percebido e o criado nao tém limites estanques. Ele é 0 grande te6: co das transigdes. Desde 0 momento em que a crianga vive a ilus@o de onipoténcia, com auxilio da fungao materna na fase denominada dependéncia absoluta, ou dupla depen- déncia (porque depende e desconhece esse fato), a ilusdo proporcionada pela mae da ao bebé a possibilidade de ser o seio, emprestando seu proprio ser para que o bebé “seja”. Mais tarde, quando ela percebe que seu bebé j4 pode ser desiludido em sua onipo- téncia, ela vai retirando os cuidados quase que perfeitos, gradativamente e de acordo com sua sensibilidade; dai a denominagao mae suficientemente boa; caso ela prossiga e mantenha a ilusao de onipoténcia, nao permitir4 que seu bebé descubra os cuidados ambientais e 0 mundo exterior. Embora a onipoténcia va sendo dissolvida, nessa fase de dependéncia chamada de “relativa’, com rumo a independéncia, a ilusdo nao ¢ des- trufda, pois os objetos do relacionamento do bebé (inicialmente mae, pai e, depois, a8 pessoas que sao afetivamente significativas) sao subjetivamente apercebidos, ou sej% sao percebidos e criados simultaneamente. A criai nga esta iniciando a transicionalida- de, ingressando no espaco transicional (ou espago potencial), assim chamado por fazet parte do processo maturacional ligado a transicao da dependéncia absoluta para a de- pendéncia relativa. E observado que nessa etapa a crianga elege um objeto ao qual pa” rece estar particularmente aderida: 6 0 chamado objeto transicional. Winnicott chama atencdo para 0 fato de que nao é importante o objeto que esta sendo utilizado, mas 0 459 que a crianca faz desse objeto. ay Esse objeto vai se localizar na zona intermediéria, n, pee vai permitir que 0 préprio processo de a se objeto éao mesmo. fenpD parte da mae e parte do bebe Habi s mae coloca a disposicao do bebs. Pode ser o ere abitualmente ¢ algy he = upeta, oursiniho de pelticia, ete. Ofato de que venhaa “ints . Ponta do portante quanto a sera primeira posse nao-eu, achad eae cott que esse paradoxo —achado e criado — nao eparacio e reamaeeobe. “ 40 entre ama “Ja tolerado, uma vez . que es. edredom, a Mae nao éta0 reer a0 im ja ‘ ‘innit © criada simultaneamente Diz wi ianca seclaocri devera ser resolvido, mui perguntado a crianga se ela o criou ou oachou, ele deverd ser tolerado, Wuito menos sici é a . lerado, 0 objeto transicional € tratado pela crianga com muito amor, m: Mas também co; m m efeito trangui- e também quand E a e St fe 10 a mae tem de ausentar. Ele nao pode ser substituido, lavado, trocado por outro semelhante, le se », Porque causaria ruptura da experiéncia de familiaridade e continuidade. Eles ajudam a tol tisti A énci: . ‘olerar aangiistia de separagao e a auséncia materna, agressividade; por isso deve ser consistente. A mae aprende que ele t, a " . jizador principalmente por ocasiao do adormecer, Da dependéncia absoluta e identifica priméria (0 bebé e 0 objeto sao uma s6 unidade), através do objeto transicional, o bebé passa a possuir 0 objeto. Diz Winnicott que, se houver afastamento da mae além do toleravel pelo bebé, 0 ob- jeto subjetivo, cuja existéncia depende da eficdcia do objeto externo (a mae suficiente- mente boa), é perdido. Nesse caso, também 0 objeto transicional perde o sentido. Como o objeto transicional representa tanto o préprio bebé como a sua mae, sua perda impli- caperdas de capacidades, e mesmo fungoes do proprio bebé, como a propria criativida- de que da sentido ao estar vivo e sentir-se real. Entretanto, se tudo vai bem, com 0 evoluir do processo de maturagao, 0 objeto tran- sicional sera esquecido; nao é perdido nem pranteado: simplesmente cairé no limbo. Isso significa que a crianga jé estd se adiantando na simbologia cultural e 0 objeto foi substituido pelo espaco potencial ou transicional, onde se localizamas criagdes huma- nas, desde as mais simples até as criagoes culturais (religiao, a! -se apés a posse do objeto tr cebido para o objeto objet rte ea propria ciéncia). ansicional que é a de ivamente percebido. vque é um feixe de suas qualidades Outra etapa importante ini Passar do objeto subjetivamente aper Para Winnicott, 0 relacionar-se leva em co Projegdes"), O uso é relativo ao objeto da realidade, disponivel com i rilhada. é el ealidade compat! efal e amos), ele é 0 objeto da rea’ has (o ser humano que encontram Huueo objeto? torna real poraue o objeto subje- pela agressi- nta 0 objeto subjetivo Winnicott nos brinda com outro paradoxo dizendo ae porque é real. Nessa nova cP nbém destruido € destruido e que e ele é destrufdo F anga, porém é tam mt eae ca destruigao ( tivo que é destruido na fantasia da cri Vidade da crianga em relagdo 4 mae, a : nao retaliar, e deve sobrevive Nao se esquivar). eee 412 €0 Livro pe ouro pa rsicand Essa fase 6 a mais dificil e aflitiva para o par mae-bebé. E sera também par, quer ser humano em parceria com outro si qual. © acy, gnificativo. Apesar da fase er ca g , u da a vida. N6s estamos sempre erin ia jonamento pessoal como os de no, o iéncia evolui onde as yj is bamos de citar, esse processo dura para (0 destruindo nossos objetos, tanto os de relac! nhecimento. £ s6 observar como vivemos € Co! mo a Ses de $0 cn. mundo sao constantemente substitufdas. | A CRIACAO DA EXTERNAL DO MUNDO IDADE CONCEITOS DE ESPAGO POTENCIALE DE FENOMENO E OBJETO TRANSICIONAIS DESCREVEM UM PROCESSO EM QUE A ILUSAO E 0 BRINCARTEM PAPEL, FUNDAMENTAL por Sonia Maria B. A. Parente ma das questdes que interessava a Winnicott era saber como 0 ser humano che- Uz a criar a externalidade do mundo. Considerava que somos seres no mundo e é nele que nos realizamos como pessoas partindo da inscrigdo de um gesto que brota de nosso estilo e forma de ser. A possibilidade de existir um ser que, por sentir-se real e in- tegrado em termos psicossomaticos, pode emprestar um sentido de realidade, criare usar 0s objetos da realidade compartilhada somente ocorre dentro e a partir de deter- minadas condigoes. Se, por um lado, ha o bebé que nasce com um potencial criativo buscando um Encontro, por outro, ha a mae devotada comum, com uma disponibilidade total, de- Senvolvida durante o periodo de gestagao. Quando tudo comega bem, ela pode iden- Uificar-se primariamente com as necessidades do seu bebé, e é possivel o desenvol- vimento de uma drea de superposigiio e comunicagao psiquica entre eles. ' m Processo complexo que, no inicio, se dé num registro de sensagdes corporais endo de Tepresentagoes. ner o pensamento de Winnicott é Um ei ncia para compreet Sees ea rare suficientemente a apel da mae que a0 enfatiza ia do fator maturacional ¢ o papel d bee nfatizar a importancia do fe aemque todos es- ., é ance ais leurs éle inclui nao apenas o pai, mas também os ancestraise a cultur etn . : ! f ‘20 inseridos. Nosso autor reconhece a importancia de considerar ai 414 Co Livre pe ouro pa rstcanatise tribuigao de significad ipo de relagao e aa ig lo. que ltura para compreender 0 tipo aad Soe : o com scu ambiente familiar atribui aos elemen. acrianga em desenvolvimento na relag exercicio de determinadas fungoes psiquj. tos que a cultura the oferece. i por meio do ¢ i : Psiqui. resenragao de objetos que a mae suficientemente boa oferecg = nge apresel suf net acc parae limento das necessidades basicas do ser humano: condigdes favoraveis para o atendim + integracao: permite 0 Eu-sowe 0 inicio d : it cl lo si + personalizacao: permniteo desenvolvimento do si-mesino, toga intelectuais com a experiéncia psicossoniitica e a inscri¢ao do gesto no mundo de realida. de compartilhada; ; * realizacao: permite o inicio das relacdes interpessoais e refere-se ao longo e comple. xo caminho que o ser humano deverd percorrer até chegar ao reconhecimento da existéncia de um mundo que funciona independentemente e com leis préprias, Em Limite e espaco, Davis e Walbridge ressaltam que a fonte da espontaneidade é a liberdade da vida instintiva e que ela depende da sobrevivéncia da mae que nao se vinga, juntamente com o pai que vem a representar 0 ambiente indestrutivel dentro do circulo familiar. “O primeiro e também o maior risco vem dos primeiros momentos de 1a constituigao do si-mesmo; nesmo, isto é, a interagao dos processos integragao — 0 Eu-sou— que trazem agressao e medo e sao possiveis dentro do circuloe seguranga da mae e do pai que proporciona seguranga.” Na clinica dos assim chamados “problemas de aprendizagem”, cujo traco caracteristico € a inibigio intelectual, a teoria da criatividade de Winnicott vem permitindo compreender como falhas no holding, handling e funcao de apresentagao de objetos impli- cam problemas de atencao, concentragao, esqueci- sernevegla mento, coordenagao motora, em um “nao se sentir bem na prépria pele”, bem como sentimentos de té- dio, monotonia, irrealidade, vazio e futilidade. Tem sido possivel, assim, estabelecer relacoes entre dife- rentes graus de inibicao intelectual e vivéncias de de- sintegracao, incapacidade de confiar na realidade ¢, especialmente, nao desenvolvimento da capacidade de brincar, Winnicott, assim como Marion Milner (A loucu- 7a suprimida do homem séio), ambos do Grupo Inde- Pendente de Londres, relaciona o brincar criativo das Pana Wintcorr, 0 CENTRO DA GRAVIDADE DO BER NAO SEINICIACOM ACRIANGA, MAS COM A MinanauAs-arst.Desento pends enino — CHangas coma capacidade de concentragao do adulto- De avronia ne Winicorr Otema do brincar tem relagao direta com o da criaga0 “as gaexternalidade do mundo, Rasta lembrar que, inicialmente.amaeg , -amae ra obedecé pormeio deum longo e complexo pracesso quecta se mate subetive realidad compartilhada. “Setornard um objeto da Winnicott quem ressalta a importaneia a apresentacao do. é io do mundo pela ma meco, através de uma adaplacao quase completa, propicia aa by ie: ao de que o seio det ‘Amae, @ oportunidade assin dizer, sob controle ' o fer bjetivo a capacidade de conceber e ° a noe be ra ail faz parte dele, de que esta, por magico do bebe” (O brincar ¢ a realidade). Relaciona, também, o fenémen criagao do objeto s no da ilusdo que ite a permit we apacidade imaginativa. Pa lesenvolvimento de uso da capacidade imaginativa. Para ele, a palavra criatividade esta ligada nto do , 10 estar vivo, 4 jaatitude com relacao a realidade: 0 a0 ‘colorido de toda a (AO A realidade externa” e que permit le sentir que“a vid: jae digna de ser vivida’. Em contraste, diz ele, “a submissao 6 uma base doentia paraa vider Extabelece, assim, uma diferenciagao entre criatividade artsticae psiquica. Estase refere ao desenvolvimento da capacidade de formar simbolos e encontrar formas de ex pressdo por meio das préprias idéias, no dialogo com 0 mundo de realidade comparti- Ihada. E 0 colorido dado pela maneira pessoal de aprender a realidade externa, devido a0 processo de apercepgao criativa, que organizard, até mesmo, a capacidade de perce- ber o que ser4, posteriormente, a externalidade do mundo. Note-se que Winnicott funda as bases do seu pensamento no ato de criar, pois, tanto o objeto subjetivo quanto o objeto da realidade compartilhada sao frutos da criacao do individuo. Daf a sua afirmacdo: “Objetividade é um termo relativo, porque aquilo que é objetivamente percebido é, por definigao, até certo ponto, subjetivamente concebido.” Reconhecer que a ilusdo ¢ 0 meio de acesso ao real permitiu ao pediatra e psica- nalista inglés desenvolver uma concepgao sobre a constituigdo e desenvolvimento da capacidade simbélica bastante interessante. Na introducao de O brincar ea realidade, da drea de conceptualiza- Ivida por ele no artigo seu ver, foi negli- Winnicott afirma que a experiéncia cultural é uma extensio 40 sobre o desenvolvimento e a experiéncia individuais desenvo ‘onais e fendmenos transicionais’, e que, de 1951, “Objetos transi genciada pelos analistas, mas nao pelos fildsofos e tedlogos. No ca no da transubstanciagao da hosti ule catdlico-romana, para quent 2 0 a, ressalta muito mais 0 ntagdo. O immportane pitulo um do mes- i 6 sagrada eas mo livro, ao fazer referencia ao fendme a sag diferentes interpretagdes dadas pela comunid corpo de Cristo, e para a protestante, para quem aspecto da realidade dessa experiencia do que oaspeeto da repre oie fmbolo. enetrain-se std ligada a de 1003 ; do objeto o represent ara ambas trata-se de . 5 aa formando umn todd, as Note-se como os conceitos em Winnicott inter) nogao de simbolo & sil é M como pérolas formam um colar: oser humane fa ssi ais ums do que o objeto usado. Assit mais i i ito mais o uso que de objeto, Nessa perspectiva, importa muito mais o used pa £0tipo de relacao que estabelece com ele 416 {0 Livro ne oura va psicanatise reafirma a questao do significado e do sentido de realidade da experiencia para ing, viduo e nao a da representagao. Ao longo de toda a sua obra, de diferentes formas e por diferentes vias, Winnicoy fala que o caminho do desenvolvimento criativo ocorre no campo da transicionatidade Mas, a meu ver, € em O brincare a realidade, quando reapresenta o artigo de 1951, que 44 uma forma final a sua teoria da criatividade, aprofundando muitas das nogdes pre. sentes desde A observacao de bebés numa situagao estabelecida (1941), em que descreye © jogo da espatula, (Em Pelos caminhos da ilusdo e do conhecimento, desenvolvo aim. Portancia dessa nogao voltada para o tema do brincar, conhecer e aprender) Ao apontar o caminho a ser percorrido, o da transicionalidade, que se refere a0 lon. g0 € complexo percurso que o “bebé-viajante tem de fazer desde 0 encontro como ob- jeto subjetivo até a criagao do sentido da externalidade do mundo” (tema desenvolvido por mim em Inibi¢do intelectual: 0 paradoxo no sintoma expressando paralisiae busca da criatividade), salienta o carter de acontecimento desse processo ao longo do desenvol- vimento. Na sua complexa viagem, o ser humano necessita constituir a propria subjeti- vidade e, nesse caminhar, criara externalidade do mundo de realidade compartilhada, para estabelecer pontes e, assim, transitar entre ambas. No processo evolutivo, a pri- meira tarefa da mae ¢ permitir 0 acesso do bebé a ilusdo de que o mundo é uma criagio sua, 0 que significa alimentar a sua onipoténcia, e a segunda é favorecer a instauracao de um processo gradativo de desilusao. Isso s6 acontece se, e somente se, a mae respei- taro tempo de tolerancia da crianga em relagao as suas idas e vindas. Toda e qualquer fungao psiquica s6 se de nvolve na presenga do outro, o que aponta para a importan- cia do sentimento de continuidade do ser que permite o acesso as varias dimensdes que 0 compéem devido a sustentagao materna (holding). Winnicott aponta que é a relacao de objeto em termos do elemento feminino pu- ro que permite a constituigao do ser e é também a base para a autodescoberta e para © sentimento de existir. Para ele, “o elemento feminino E, enquanto o masculino FAZ” (0 brincar e a realidade). A medida que se desenvolve a capacidade perceptiva do bebe ligada, também, ao proprio processo maturacional, a nogao de presenga/auséncia Vai sendo adquirida gragas ao estabelecimento do espaco potencial, porque a mae vai € vem dentro do tempo de tolerancia do bebé. (Quando isso nao acontece, ele vive com 0s objetos maus que Melanie Klein tao bem descreveu, pois nado entra no que Winnicott chamou de ciclo benigno da culpa, como veremos adiante.) MOVIMENTO DE CRIAGAO espago potencialé uma possibilidade psiquica que implica a capacidade de tolerat a auséncia da mae e encontrar algo da realidade pelo uso da capacidade imaginativa- “ar entao, a entrada no campo dos fendmenas ¢ obj Is @ objet emo’: ntaéaimportanci cott sali jigarco™ éda ordem do paradoxo, da ambigiidade, ja que 108 transicig a ilusaocome possititis o vazine suportara presenca de uma auséneia. Tom a. Temas. do fendmeno d: nals. O que Winn. ade de obebe poder quia prese Nea dea 0 objeto transicional 6. ‘re que tem jrecriagao e permite aabertina da rela fan algo di tempo D4 Seno primeira momento € a relagao de objeto em termos do elemento feminina pu po, eu-outro, dentro-fora, realidade ne Masi it. Fsse 6, pa ; POT exe eléneia © movin ente 40 de obje 5 a0 de objeto, que poo em marcha, tamt conhecimento, Primeire movime . também, ao do conhec Mento no entre, 1 Va nO espaco inte r a realidad, impulsionando 0 individuo a criagao da exter Pessoal, cria Ao da extern inui alidade ermitindo a continuidade do ser. ©. a0 mesmo ro, no segundo, com a entrada no campo dos fendmenos transicionais, 6 a re 5 ome! - . 6 a relacan de objeto em termos do elemento masculino, apoiado pelo impulso instintivo que 5 . ie impu sionard, ainda mais, a separacao entre Eu e ndo-eu. a £ interessante a idéia e a crenga de Winnicott a respeito da natureza humana. Para ele, o bebé nasce com o que ele denomina de potencial de forca vital. E uma tendéncia inata que depois ird se desmembrar, e o que era a corrente motora se transformara em agressividade. No entanto, nas primeiras experiéncias do bebé, € uma coisa s6. 0 po- tencial libidinal e 0 agressivo s40 mais ou menos 0 mesmo. Os impulsos agressivos, a0 contrario dos libidinais, necessitam da oposicao e consisténcia do ambiente para atua- lizar-se. Quando a crianga nao tem possibilidade de ter essas experiéncias, 0 que pode ocorrer 6 a nao atualizagao e a inibigao do potencial agressivo, o que nao permite a fu- sio entre os impulsos. Para Winnicott, a satide depende dessa fusao. Avertente motora, posteriormente, dard origem a agressividade, Ela existe desde 0 inicio e estd presente ja na participagao muscular do feto no ventre da mae. Depois ra to 6, com a possibilidade de usar 0 objeto da tea- eto telacionar-se com a area do “faze! lidade compartilhada. Aqui ha uma tare! fora da area do controle onipotente. £ preciso qu lacao de objeto para a nogao de uso do objeto. Win! compartilhada que » (*O pensar e a forma fa.a ser conquistada. E preciso colocar 0 obj mda nogao de re- e OCOTTA a Passag ott (1968) afirma: “O Use implica fo sujeito pode usat que 0 objeto é criado num mundo de realidade sia dite Je-mim no sujeite. ie ane R Pode retroalimentar a substan §A0 de simbolos”) _ essividadle enriquece a compreense > Aconcepgao de Winnicott sobre a agt d : senvolvimento da aprendizagem, entendit agoes entre as oria e apropriagdo adas dimensoes ie ao objeto a a como proceso de att sim cham de conhecimentos, e sobre o campo das rel 4a subjetividade e da objetividade. Winnicott e! Walidade de ser ndo-eu ou separado e experi “A telativa a frustragao. A satisfagao dos impulsos acentu! ) bebé conce nfatiza. eincluem a ral sta satisfagoes do id que incluem ja a separagao & 418 {0 Livro ne ouro pa rsicanauise edo elemento masculino, a identificacag plexos.” (0 brincar ea realidade) jetivacao do objeto. Daf por diante, tratando-s precisa basear-se em mecanismos mentais com| ea econhecer que a agressividade esta relacio. la a area do fazer; ele opera assim uma ssividade nao 686 a frustracao, mas Note-se a genialidade de Winnicott ao tr nada coma busca ativa do objeto, portanto, lig subversao em relagio a Freud, pois o motor da agressiviG do objeto, necessitando da oposigao do meio para ser atualiza. orrem retaliagdes ou depressao por parte da mae e ela €especialmentea bus da e exercitada. Quando nao oc! suporta ser destruida e recriada na fantasia da crianga como objeto subjetivo, perma. da pela criang: necendo viva e presente quando é novamente bus esta podera seguir destruindo-a e recriando-a no brincar: “Onde ha confianga e fidedignidade ha também um espago potencial, espaco que pode tornar-se uma rea infinita de separagao e o bebé, a crianga, 0 adolescente eo adulto podem preenché-la criativamente com 0 brincar, que, com 0 tempo, se transfor- ma na fruigao da heranga cultural.” Na época da separacao, para o bebé afortunado, 0 espago potencial é preenchido pelo brincar criativo aliado ao desenvolvimento do pensamento e surge naturalmente do estado relaxado, através do uso dos objetos transicionais, pois ha algo neles que, ao mesmo tempo que separa, une. Segundo ele, ha, ainda, uma evolucao direta dos fend- menos transicionais para o brincar, do brincar para o brincar compartilhado, e deste para as experiéncias culturais. Enfatiza que o brincar tem uma histéria, uma origem e desenvolvimento que co- mega nas primeiras relagées entre mae e bebé, ressaltando, inclusive, a importancia de ser visto, reconhecido e respeitado na prépria singularidade. Em uma nota de rodapé de O brincar ea realidade, Winnicott afirma: “O sentimento de selfsurge na base de um estado nao integrado, que contudo por definicao nao é observado e recordado pelo in- dividuo e que se perde, a menos que seja observado e espelhado de volta por alguémem quem se confia, que justifica a confianga e atende a dependéncia.” Assim, brincar é uma atividade sofisticadissima na criagdo da externalidade do mun- do e condicao para o viver criativo, no qual se desenvolve o pensar, conhecer e aprendet significativos. £ brincando que se aprende a transformar ea usar os objetos do mundo para nele realizar-se e inscrever os proprios gestos, sem perder contato com a propria subjetividade. Por meio do brincar podemos manipular e colorir fendmenos externos com significado e sentimento oniricos, além de podermos dominar aangustia, controlar idéias ou impulsos e, assim, dar escoamento ao ddio e A agressao. Brincar envolve uma atitude positiva diante da vida. Por meio do brincar, podemos fazer coisas, nao simples- mente pensar ou desejar, pois brincar é fazer. O brincar 6 uma experiéncia que envolve Corpo, os objetos, um tempo e um espaco. £ como a vida: tem inicio, meio e fim. "aay gnfim, brincar permite desenvolver a tolerancia a fr cia 8 fru: sividade, inscrever 0 gesto pessoal, usar obje de acordo com a fantasi: stracao, canal f canalizar 8 da realidade ' gurados Assim, aproxima inteng casamento entre 0 que € concebido subjetivamente (pel ercebido na realidade externa, Dest: ; agres. externa que sao transfi 40 © ge 1 imagi Sto realizando um 40) €0 que € objeti- logarcomum mun. e funciona inde : os eso ( ependentemen mas que permite a propria realizacao pessoal. Brincar é, também, abase eee : , ipacidade ‘gem criativo que envolvea auto. vamente P a forma, podemos dia do, que tanto criamos quanto descobrimos; que existe dediscriminagao necessaria ao processo de aprendiz; riaea apropriagao criativa de conhecimentos. Aexperiéncia clinica desenvolvida na perspectiva de Winnicott nos coloca diante de um impasse, pois somos chamados a dar acolhimento a crenga do autor acerca da natureza humana. Ou acreditamos nela ou nao. Nao hé meio termo. Trabalhar nocam- po da transicionalidade, com base na nogao de espaco potencial, significa romper com aidéia de neutralidade e abstinéncia do analista. A bassola que nos permite navegar na aventura de compreender e acompanhar os movimentos psiquicos do paciente é 0 nos- so proprio norte psiquico. Nao hd receitas, conceitos ou técnicas que nos garantam! £ muito mais a dimensao da presenga ética e psicossomatica do analista o que importa. Suportar 0 nao saber respeitar o ritmo, embarcando, assim, na aventura de acompa- nhar alguém que sofre psiquicamente exige nao sé a crenca na natureza humana, como também a capacidade de brincar. EWinnicott quem afirma: “A psicoterapia ¢ efetuada na superposicao de duas dreas lidicas, a do paciente e a do terapeuta.” Quando 0 paciente nao pode brincar, algo pre- pés 0 que a psicoterapia pode cisa ser feito para ajud4-lo a tornar-se capaz de brincar, aj ice ifesta sua criatividade. comecar. O brincar é essencial porque nele o paciente mani A MAE DEVOTADA E SEU BEBE ATEORIA DO DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DE WINNICOTT TEM DOIS ASPECTOS QUE SE CRUZAM: O PROCESSO QUE VAI DA DEPENDENCIA ABSOLUTA A INDEPENDENCIA DO LACTENTE, EO CUIDADO MATERNO por Eloisa Helena Rubello Valler Celeri innicott foi um autor que contribuiu de forma profunda, original e néo-orto- doxa para o pensamento psicanalitico. Seu ponto de partida foi a pediatria e oatendimento clinico de bebés, criangas e seus pais. Ao cuidar das doengas fisicas € emocionais da crianga, ao acompanhar seu crescimento e desenvolvimento, ao refle- tirsobre os fendmenos transferenciais e contratransferenciais que fazem parte dacli- nica psicanalitica com pacientes de todas as idades, especialmente pacientes psicOt Cos e borderlines, ao supervisionar e atender criangas e adolescentes com See anti-sociais, Winnicott foi levado a se defrontar com 0S estdgios mais primitivos do desenvolvimento emocional do bebé, antes de ele conhecer a si mesmo © 208 outros. ca da Sociedade Psicanalitica Ao afirmar, em toi 40, numa reunido cientifi em torno de 1940, fatizar a absoluta Briténica, que um bebe sozinho nao existe, Winnicott pretendeu en ram dependéncia que o bebs tem dos cuidados maternos ¢ evidenciou seu interesse p ‘udo do meio ambiente real da primeira infancia. Sua teoria do desenvolvimento segue dois caminhos, que freq eens Cruzam. Um deles se refere ao crescimento emocional do bebée poe ee Solactente da dependéncia absolutaa independéncia, passando antes P jientemente se entre- 422 {0 vivro ve on 0 pa psteanduise relativa; ou a jornada do principio do prazer ao principio da realidade, e do autoerotising as relagdes objetais. 0 outro caminho se refere ao cuidado materno, suas Caracteristicas de cada fase do desenvolvimento do lactente e adaptagbes as necessidades especificas PROCESSOS DE MATURACAO E AMBIENTE DE FACILITAGAO No inicio do proceso de desenvolvimento emocional, trés aspectos sao conside. rados. De um lado ha a hereditariedade, de outro, 0 ambiente (cuidado materno), que pode apoiar, fathar ou traumatizar. No meio esti o bebé, vivendo, crescendo e acumy. lando experiéncias. Ao nascer, o bebé traz consigo suas tendéncias hereditarias, que incluem o que Win- nicott denominou “os processos de maturagao”, isto é, um impulso biol6gico para a vi- da, para o crescimento e para o desenvolvimento. Mas 0 crescimento fisico e emocional depende, para sua efetivagao, de uma proviséo ambiental, denominada “ambiente de facilitacao", cuja caracteristica é a adaptagao as necessidades, sempre cambiantes, que se originam dos processos de maturagao. Inicialmente, a mae suficientemente boa € o ambiente favoravel. Essa mae reconhe- ce a dependéncia do bebé e se adapta constantemente as suas necessidades, criando um setting onde o bebé pode viver uma experiéncia de onipoténcia e progredir no seu desenvolvimento no sentido da integracao, do crescimento emocional e do actimulo de vivéncias. O ambiente nao faz o lactente crescer, nem determina 0 sentido do cresci- mento. O ambiente, quando suficientemente bom, possibilita o processo de maturagao, isto €, a evolucao do ego e seus mecanismos de defesa, 0 desenvolvimento do self. ahis- téria do id, das pulsdes e de suas vicissitudes. Para desempenhar essa tarefa, a mae, permanecendo adulta, assume a vulnerabi- lidade do bebé, passando a necessitar, ela propria, de amparo. E 0 pai da crianga, sua familia ou o ambiente social préximo que assumem a fungao de ajudé-la a deixar-se envolver pela experiencia de saber quais sao as necessidades do bebé, nos menores & mais sutis detalhes, chegando préximo de se perder nessa identificagao. Essa condi 40, denominada “preocupagao materna primar 4 imen- nao tem nada a ver com sentie? talismo. A mae suficientemente boa ama, mas também se permite odiar seu bebé, sen do, entretanto, capaz de conter seu édio, sem atud-lo e sem se vingar. OINICIO DA VIDA PSIQUICA Segundo a teoria de Winnicott, a vida psiquica comega no momento em que © °° passa a se desenvolver, O lactente est4 em um estado de fuso com a mae, sendo abs” lutamente dependente da provisao fisica e emocional que ela Ihe proporciona. Nessé periodo, a vida do bebé nao pode ser desvinculada desse cuidado, mas o bebe naose4# sorry gag conta, mesmo inconscientemente, de sua dependencia . Pois o sicientemente integrado e maduro, * U ego ainda nao esta 0 ego fraco do lactente, amparado pelo ego materno, torna. amae passa a sustentar fisica e emocionalmente esse bel gencia absoluta. Essa satis’ Se forte, uma vez que he, Satisfazendo a Sua dey cessidades i =< holding) das necessidades egsicas, proporcionado pela adap rante que a satisfacao ou frustragao d: fagdo nao se relaciona a laciona as ne nstintivas. © a a - 0 apoio agao da mae, i ‘as necessidades instintuais, pode frustrar o id, mas inicialmente evita frustraro ego do bebé, pois € mais im- A mae devotada 1 ; }omente sob con- digdo de adaptacao as necessidades do ego € que os impulsos do id, que c : sejam satis- feitos ou frustrados, poderao se tornar experiéncia para 0 individuo. Nao ied Ea satisfagao instintual que possibilita ao bebé ter um selfe sentir-se real. ‘ Sea mae proporciona uma satisfagao instintual ao bebé quando ele nao est prepa- rado, ele a recebe, mas apenas porque foi seduzido, e a experiéncia é vivida como uma submissao, que viola o seu verdadeiro self. A mae suficientemente boa aguarda que o bebé dé sinais de suas necessidades e de sua prontidao para receber a gratificacao ins- tintual, e sé entao providencia sua satisfacao. Quando o cuidado materno mostra-se confiavel, a “continuidade da linha da vi- da’ do bebé se mantém, e ele experimenta uma “continuidade de ser”, pois os proces- sos de desenvolvimento de seu ego nao sofreram excessivas perturbagdes emocionais ou fisicas. Essa é a “ percebidas e corrigidas pela mae, o que proporciona uma sensacao de segurangae de ase do ego”. Um certo grau de falha pode ocorrer, se elas forem ter sido amado. Mas se perturbacdes fundamentais de adaptacao ocorrem (mudangas repetidas namaternagem e rotina, abandono do bebé, comportamento irregular e imprevisivel da mae), a “continuidade de ser” é interrompida, pois 0 bebé passa a ter de reagir as falhas, que sao vividas como invasao. Essa ruptura provoca um enfraquecimento do go e uma ameaga de aniquilamento do self, um sofrimento de qualidade e intensida- de psicéticas. 5 _ ade de recuperar-se dessas falhas num ambien Caso o bebé el rtunidi Coe ee ernaicLd facilmente recuperada, ‘e favordvel, a “continuidade da linha da vid Nos casos extremos 0 bebe deixa de ter cond ° desenvolvimento de um self pessoal), pas: de aniquilamento (breakdown) do seifdo lactente aOR Por objetivo proteger o individuo dessa “agonia inimagin’® | Por Winnicott como uma “agonia impensével” uma agonia tt uigtamente Ae descricao, sendo as ansiedades psicéticas eas defesas OTH gains na clinica 86s 0 aniquilamento ocorrer o mais préxiino que podeme nao poderd ser ig6 a Liga jigdes de “ser” (cond dofesas que tm Adowné descrito ossa capacidade o necessaria para ado a reagir. O result ee. a organizagao de 424 {0 Livro pe ouro pa rsicanarise no o panico jé é uma defesa organizada, esse estado é nomeado como panico, mas mest . a pisédios de imprevisibilidade, que tem por objetivo proteger o bebé de novos & de Asdefesas organizadas contraasagonias impensavels 520 também encontradas co. varios transtornos psicolicos © , Ou eM personalidades auti mo parte do quadro de nao-psicéticas com um elemento esquizdide ; / por falhas da mae confidvel constituem um trauma As invasoes do meio ambiente pois levam o bebé a reagir ao ambiente, antes de ter conseguido desenvolver mecanis- mos psiquicos que possibilitam tornar previsivel 0 imprevisivel, isto 6, antes que o be- bé possa ter condigdes de considerar o que é bom ou mau no ambiente, como projegio sua. Apés a experiencia traumética, defesas sao organizadas, mas o bebé j teve sua continuidade de ser interrompida pela falha ambiental. Como resultado, algum grau de distorgao do desenvolvimento ocorre, levando a uma falha total ou relativa no estabe- lecimento da estrutura do selfe na organizagao do ego. Num estégio posterior, com o ego mais desenvolvido, a crianga passa a ser capazde sentir raiva devido a falha de adaptagao ambiental, que é vivida como uma ruptura na idealizagao do objeto. Onde hé raiva apropriada, a falha nao foi maior que a capacidade do individuo em lidar com ela, nao ocorrendo aniquilamento do self. DESENVOLVIMENTO EGOICO E MAE DEDICADA absoluta, o progresso continuado dos processos Durante o periodo de dependéncia de maturacdo possibilita, quanto ao desenvolvimento egéico, trés realizagoes: + integragao; * personalizacao; * inicio das relagdes objetais. Essas realizag6es sao interdependentes e sobrepostas, e para serem alcangadas de- pendem dos cuidados proporcionados pela mae suficientemente boa, cujas funcoes Winnicott sintetiza como: * holding; © manejo; + apresentagao dos objetos, INTEGRACAO E HOLDING A teoria de Winnicott postula uma nao-integracao primaria do ego do bebé. Log? nas primeiras 24 horas de vida, esse estado ndo-integrado se torna uma integraca0 es truturada com duracao de alguns momentos, que vao se estendendo e tornam-se mais longos, persistentes e complexos. M0 vag Atendéncia a integracao, a principal do tencial herdado do bebé, podendo se revelar . que fazem parte da capacidade de Processo matur, desde lesde que certos determinant holding da mae, sejam rn 1, mae possibilita que motor e sensorial que fazem parte da vid clonal, faz parte do po tai ambien. fornecer uma sustentagao adequad Proporcionados, por fragmentos da atiy lament idade am o narcisi ‘ ismo pri- >. juntamente com 0 apare di ginativa sobre o funciona o surgimento de momentos de integracao, a do bebé e fund: mario comecem a se junta r. Essa realiz, mentos de uma elaboragao im ainda muito dependente. Nos primeiros estagios do desenvolvimento, a inte sociada a determinados estados afet tados excitados”, s 'Bracdo estd mais claramente as- tivos e emocionai: » que Winnicott denominou “es- » tals como os momentos de amamentagao. Gradualmente, a integra- cdo se torna um fato estabelecido, e sé entao se pode dizer que o bebé tem condicoes de se aperceber de que aquele que grita, que chora, que fica triste, que dorme, que se alimenta e que sonha ¢ 0 mesmo individuo. E que as varias figuras de maes que foram sendo construidas em sua mente, através de cada uma dessas experiéncias emocionais, é,na verdade, uma s6 mae. Durante os “momentos calmos” de contato mae-bebé, uma relagao de ego entre os dois participantes dessa dupla se constitui. Esse relacionamento favorece a identifica- a0 do bebé com sua mae, apesar de, do ponto de vista do bebé, ainda nao existir nada além dele proprio, pois a mae é parte dele mesmo. Antes da aquisicao do status de unidade, a partir da nao-integragao, aparece uma série de estados dissociados, por causa da emergéncia de uma integragao parcial. Com 0 tempo, essas dissociagées desaparecem, e a integragao surge como algo totalmente i sa, isto é, estruturado, e os estados dissociados transformam-se em mecanismos de defesa. is pal, aparecendo em determinados uma fracao do self permanece apartada do self princi : , oe | ipos de tendénciasanti-so- momentos que sdo comuns no inicio da infancia, em certos ti Ciais e em estados psicéticos. Em condigées favordveis, perio €sses estados os precursores da capacidaa E ea ndo-integrag: €paraacapacidade de estar 6. £ durante a nao: ime : soal. e responsabilidade. acidade de i ; sendo dos de nao-integragao continuam a ocorret, de adulta para 0 repouso io que 0 in| para o relaxamento pulso eriativo pode 0 holdtingsatis- amie se iden- Surgir e ser sentido como real, verdadeiro ¢ pes Afungao de holding associ -se a confiabilidade i fat6tio nao pode ser ensinado, uma vez. que s°** on — tifcar com o bebe. Através de um holding adequade, fo vn conta a 52 * protege o bebé de agressdes fisiol6gicas, leva nea, auditiva, visual e do 6rgdo vestibulo-cocleat nsibilidade cuté- 426 (0 Livro ne oro va rsteanarise * protege o bebe de invasdes ambientais, uma vez que ela “sabe” da falta de conhe. que nao seja cle MeSMO: cimento de qualquer coi lel apazes de levé-lo a um senti f mento de * protege o bebe de coincidéneias ¢ choques ¢ confusao e angustia « possibilita ao bebe uma transigao giadativa entre estado Calmo © 6 estado exe), tado, entre o sono eo estado desperto cles bebe, modificando-aa cada diaa medida + cria uma rotina espeeifica para aquele que ele cresce ¢ se desenvolve fisica ¢ psiquicamente, ado conduz a Mlegragaio do ego, as falhas ng ao regressiva, que nao €a mesma coisa que Assim como 0 cuidado materno adeq' a condi cuidado levam a desintegragao. E nao-integragao, surge a partir de um estado de integragao, constituindo uma defesa contra 0 retorno a um estado nao-integrado sem um holding materno adequado, que 6 vivido pelo bebé como uma anguistia inimagindvel e que Winnicott descreve como “cair para sempfe” ou “ser feito em pedagos PERSONALIZACAO E MANEJO A psique, que Winnicott define em “A mente e sua relagéo com o psique-soma” (1949) como “elaboragao imaginativa de partes, sentimentos e fungdes somiticas”, ape- sar de apoiada no funcionamento corporal, nao se encontra, desde 0 inicio do desenvol- vimento emocional, firmemente ligada a ele. Com a integragdo periédica do ego, aspectos da psique e do soma se envolvem num proceso de inter-relagao denominado personalizagao. Esse é um processo que necessi- ta de tempo para se tornar permanentemente estabelecido, podendo, mesmo na satide, ser perdido, como ocorre em momentos de f+ yom diga, na falta de sono ou em ansiedade intensa. Ao adquirir a capacidade de habitar 0 propre corpo e apreciar suas fungoes, um desenvolvt- te ToeForo= Kereene mento adicional pode ocorrer, 0 bebé pass? 4 5 teruma membrana limitante (a pele) que se & loca entre o Ewe 0 ndo-eu. O bebé agora tem um interior, uma realidade interna, wm esque’ corporal e um exterior, O bebé torma-se posse dor de um corpo, res ia de seu self. A pat ji A stanie Klein ir de entao, os ensinamentos de Melanie Kl iene! aor r Oronro ne ranrion ve Winnicorrvorareviaruia — a respeito das fantasias primitivas podem © 5 3 ais considerados. Com base nas fungdes corp? 1g (pro” EOATENDIMENTO CLINICO Di HAMS, CHLANGAS & kus pals. NA FOTO, OTERATEUTA INGLES OUSEAVA ie DUAS CRIANGAS, EM POTOCRAFIA DE 1966 de incorporagao (introjegao) e elimina MeO gay jecio,omundo externo (realidade compartithad jega0) cial inte para que a insercao psicossomatic a) passaa ser enriq sno, eo mundo interno € enriquecido pelo cont quecido pelo poten. ato como. mundo externo, °gal 0 ebé necesita de uma mae Cl ca Mt Corpo e suas fungs . ¢ estabel par de se envolver emocionalmente com 0 se S, apresentay , indo 40 OULTO, envolvendo-os num process, ssa fungao constitui o que Winnicott define ando 0 corpo ea psique um apresemtando ; reap ‘0 de inter. como um manejo (handling) ade- a satisfagao de suas necessidades de movi mento eexpressio corporal e da facilitagao de satis : relaca0. quado. Eatravés do cuidado com 0 corpo, d jagdes cutaneas e musculares, quea s afetivas e fisicas ao bebé e de mae oferece experienc smonstra todo oseuamer ace aquisignifica aceitar o bebé e seu corpo sem restrigdes. ‘Um manejo adaptativo deficiente nos estagios mais precoces do desenvolvimento, quando nao corrigido, provoca no lactente angustias inimaginaveis, em razao do atra- so, fracasso ou perda de uma uni 0 firme entre a psique e 0 corpo. Essas falhas apare- cem na clinica psiquiatrica como despersonalizagao. Anecessidade de uma adaptacao ativa e cuidadosa da mae as necessidades do lac- tente nao dura muito tempo, pois rapidamente o bebé se torna capaz de compensar as deficiéncias de sua mae através do surgimento da atividade mental. A me pode come- cara falhar lentamente, pois a atividade mental, que organiza a experiéncia, gragas a0 surgimento do pensamento e outras fungdes organizadoras do contetido psiquico pes- soal (catalogar, classificar, usar o tempo como medida, etc), habilita-o a tolerar as fa- Ihas sem precisar reagir a elas. Além disso, fantasias primitivas sdo enriquecidas pela meméria e se transformam em imaginacao, sonhos e jogos, ¢ surge a fungao de verificacao, que possibilita fazer previsdes, Todas essas aquisi¢des fazem parte dos processos de integracao e ajudam s Preservar a onipoténcia (base da confianga) do bebé durante esse ra Certos tipos de fracasso na maternagem, especialmente um comportamento itregu- ; ; atividade mental. A lar, imprevisivel e torturante da mae, produzem uma hipertrofia da atividad are organizar os cuidados ma- Mente se desvincula do psique-soma, passando a control: ee nto, deveria pertencer & mae, al, seafasta do soma, 6 sentida como cultaoen- lernos, funcao que, nessa etapa do desenvolvimel pares - P nento MeNk ida, entretanto, ato corporal soma), oqued! eavida que, atrafda pelo funcionan Ja mente. Essa vil do bebé passa a se construir em torno di ‘alsa eirreal, pois estd desligada do funcioname ie ecompartiiad Volvimento total do bebé com sua realidade interna e coma 18 jntensas serao as rea i aires e mals intensas Caso meio ambiente ndo adaplado persist malores em asgesdo $8es do bebe, A hiperatividade da mente nao consesuemalsONN ae (em Tio ambiente, ocorrendo estados confusionais ou deficione 'esd0 organica), met

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