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Políticas de Saúde

Autores: Profa. Ângela Cristina Puzzi Fernandes


Profa. Giseli Panigassi
Prof. Alexandre Juan Lucas
Colaboradoras: Profa. Raquel Machado C. Coutinho
Profa. Marília Tavares Coutinho da Costa Patrão
Professores conteudistas: Ângela Cristina Puzzi Fernandes /
Giseli Panigassi / Alexandre Juan Lucas

Ângela Cristina Puzzi Fernandes

É especialista em Ergonomia, Administração Hospitalar e Saúde do Trabalhador, mestre pela Faculdade de Ciências
Médicas da Unicamp e doutora pela USP. Voluntária há mais de vinte anos, presta serviços na comunidade da Vila
Brandina, em Campinas. Atua há mais de três décadas como enfermeira e foi coordenadora de um serviço de saúde
ocupacional. Fundou o grupo de enfermeiros do trabalho de Campinas e região. Foi conselheira da Associação Nacional
de Enfermeiros do Trabalho. Atuou como professora titular do Curso de Graduação e Pós‑graduação em Enfermagem
da UNIP e professora convidada do Curso de Pós‑Graduação da Escola de Enfermagem da USP e da PUC de Goiânia.

Giseli Panigassi

É nutricionista com aperfeiçoamento em Saúde pela CNPq/Unicamp (1991), aprimoramento em Saúde Pública
pela Fundap/Unicamp (1992), especializações em Saúde Pública pelo Ministério da Saúde/Unicamp (1993) e em
Epidemiologia pela Unicamp (1994), mestre em Saúde Coletiva pela Unicamp (2000) e doutora em Saúde Coletiva pela
Unicamp (2005). Como sanitarista, sempre trabalhou em serviços públicos com foco no ensino e na pesquisa. Atuou
como professora titular da UNIP.

Alexandre Juan Lucas

É enfermeiro formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), mestre e doutor em Bioética pelo Centro
Universitário São Camilo, pós‑doutor em Bioética pela Universidade de Brasília e especialista em Gerenciamento dos
Serviços de Enfermagem pela Unifesp, em Educação Profissional pela Ensp/FioCruz e em Enfermagem do Trabalho
pela Uniban. É fiscal do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren‑SP) e professor titular do curso de
graduação e pós‑graduação em Enfermagem da UNIP.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

F363p Fernandes, Ângela Cristina Puzzi.

Políticas de Saúde. / Ângela Cristina Puzzi Fernandes, Giseli


Panigassi; Alexandre Juan Lucas. São Paulo: Editora Sol, 2023.

152 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN, 1517-9230.

1. Políticas de saúde. 2. Seguridade social. 3. Sistema Único de


Saúde. I. Panigassi, Giseli. II. Lucas, Alexandre Juan. III. Título.

CDU 614

U517.25 – 23

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
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Reitora

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Vice-Reitora de Graduação

Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo


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Vice-Reitor de Extensão

Prof. Fábio Romeu de Carvalho


Vice-Reitor de Planejamento

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Vice-Reitora das Unidades Universitárias

Profa. Silvia Gomes Miessa


Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal

Profa. Laura Ancona Lee


Vice-Reitora de Relações Internacionais

Prof. Marcus Vinícius Mathias


Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária

UNIP EaD
Profa. Elisabete Brihy
Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto
Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar

Material Didático
Comissão editorial:
Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
Profa. Dra. Ronilda Ribeiro

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista
Profa. M. Deise Alcantara Carreiro
Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes

Projeto gráfico: Revisão:


Prof. Alexandre Ponzetto Lucas Ricardi
Jaci Albuquerque
Sumário
Políticas de Saúde

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 11

Unidade I
1 POLÍTICA E POLÍTICAS PÚBLICAS............................................................................................................... 13
2 SEGURIDADE SOCIAL: HISTÓRIA DA SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL..................................... 15
2.1 Saúde pública.......................................................................................................................................... 15
2.1.1 Período colonial e imperial.................................................................................................................. 16
2.1.2 Início da República.................................................................................................................................. 17
2.1.3 Previdência Social.................................................................................................................................... 33
2.1.4 Assistência social..................................................................................................................................... 40
3 SEGURIDADE SOCIAL NA ATUALIDADE: COMPOSIÇÃO E NORMATIZAÇÃO............................. 43
3.1 Seguridade Social.................................................................................................................................. 43
3.2 Saúde pública.......................................................................................................................................... 46
3.3 Previdência Social................................................................................................................................. 49
3.4 Assistência social................................................................................................................................... 53
4 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)............................................................................................................. 54
4.1 A reforma sanitária brasileira........................................................................................................... 55
4.2 Definição................................................................................................................................................... 56
4.3 Legislação básica................................................................................................................................... 57
4.4 Normas operacionais básicas........................................................................................................... 58
4.5 Princípios do SUS.................................................................................................................................. 58
4.6 O Pacto pela Saúde............................................................................................................................... 60
4.6.1 O Pacto em Defesa do SUS.................................................................................................................. 61
4.7 O custeio do SUS................................................................................................................................... 62
4.7.1 Bloco da assistência farmacêutica................................................................................................... 64
4.7.2 Bloco da atenção básica....................................................................................................................... 65
4.7.3 Bloco da atenção de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar.................. 65
4.7.4 Bloco de gestão do SUS........................................................................................................................ 66
4.7.5 Bloco de vigilância sanitária............................................................................................................... 67
4.8 O controle social do SUS.................................................................................................................... 68
4.9 Os gestores do SUS............................................................................................................................... 71
4.10 Conselhos de saúde............................................................................................................................ 73
4.10.1 O Conass e o Conasems...................................................................................................................... 74
4.11 Ações, programas e políticas do SUS.......................................................................................... 75
4.11.1 Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).............................................................. 77
4.11.2 Unidades de pronto atendimento (UPA 24 horas)................................................................... 77
4.11.3 Programa Aqui Tem Farmácia Popular.......................................................................................... 78
4.11.4 Centros de Atenção Psicossocial (Caps)....................................................................................... 78
4.11.5 Política Nacional de Saúde Bucal.................................................................................................... 80
4.11.6 Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD)............................................................... 80
4.11.7 Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária..................................................... 81
4.11.8 Plano Diretor de Vigilância Sanitária (PDVisa)........................................................................... 82
4.11.9 Política de Educação Permanente em Saúde............................................................................. 83
4.11.10 Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN).......................................................... 83
4.11.11 Política Nacional de Assistência Farmacêutica........................................................................ 84

Unidade II
5 POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SAÚDE..............................................................................102
5.1 Promoção da saúde............................................................................................................................102
5.1.1 Declaração de Alma‑Ata.....................................................................................................................102
5.1.2 Carta de Ottawa.....................................................................................................................................103
5.1.3 Outras conferências..............................................................................................................................105
5.2 A Política Nacional de Promoção da Saúde no Brasil: normatização............................107
5.3 Municípios saudáveis.........................................................................................................................109
6 MODELOS E SISTEMAS DE ATENÇÃO À SAÚDE..................................................................................110
6.1 Definição, características e composição....................................................................................110
6.2 Modelos de sistemas de atenção à saúde.................................................................................112
6.2.1 Modelo universalista............................................................................................................................ 113
6.2.2 Modelo do seguro social..................................................................................................................... 113
6.2.3 Modelo de seguros privados............................................................................................................. 113
6.2.4 Modelo assistencialista........................................................................................................................113
6.2.5 O modelo do SUS...................................................................................................................................113
6.2.6 Modelos de sistemas de atenção à saúde no mundo.............................................................115
7 ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE.......................................................................................................................119
7.1 Fundamentos da Atenção Básica à Saúde................................................................................119
7.1.1 Prevenção primária.............................................................................................................................. 120
7.1.2 Prevenção secundária......................................................................................................................... 120
7.1.3 Prevenção terciária.............................................................................................................................. 120
7.1.4 Prevenção quaternária........................................................................................................................121
7.1.5 Prevenção primordial...........................................................................................................................121
7.2 Normatização da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB).......................................121
7.3 Responsabilidades das esferas gestoras em Atenção Básica.............................................122
7.4 Estratégia Saúde da Família............................................................................................................123
7.4.1 Características, contexto e finalidades........................................................................................ 123
7.4.2 Equipes de saúde.................................................................................................................................. 124
7.4.3 Gestão da ESF......................................................................................................................................... 125
7.4.4 Programa Médicos pelo Brasil......................................................................................................... 125
7.4.5 Política Nacional de Saúde Bucal – Brasil Sorridente............................................................ 127
7.5 A Política Nacional de Humanização (PNH) do SUS: HumanizaSUS.............................128
8 SISTEMA DE SAÚDE SUPLEMENTAR.......................................................................................................132
8.1 Criação do sistema de saúde suplementar...............................................................................132
8.2 Regulamentação do sistema de saúde suplementar............................................................135
8.3 Regulação no setor saúde...............................................................................................................135
8.4 Definições de termos relacionados à saúde suplementar..................................................137
8.5 Sistema de Saúde Suplementar no contexto da saúde pública.......................................138
8.6 Política de Qualificação da Saúde Suplementar.....................................................................140
APRESENTAÇÃO

O maior castigo para os que não se interessam por política é que serão
governados pelos que se interessam.

Arnold Toynbee

Prezado(a) aluno(a)

Nesta disciplina, abordaremos os conceitos de seguridade, previdência e assistência social e também


do Sistema Único de Saúde (SUS). Veremos ainda a política nacional de assistência à saúde, os modelos
e sistemas de atenção e a atenção básica à saúde.

Vamos embarcar num grande desafio, que é fazê‑lo(a) compreender a importância desses conceitos
e de um sistema de saúde que promova e preserve o bem‑estar de todos embasado em leis e normas que
veremos no desenvolvimento do conteúdo. Isso é importante para quebrar o pensamento equivocado
de que tudo que é gratuito não pode ser oferecido com qualidade.

Sabemos que o profissional de saúde tem uma missão: pôr em prática o bem‑estar evocado,
superando a limitação de apenas viver ou de só controlar a doença (sem combater suas causas) e adotar
práticas protetivas e preventivas, sempre de menor custo e mais eficientes.

Nesta disciplina, os conteúdos foram desenvolvidos visando construir o conhecimento. Como diz
Paulo Freire em suas obras, ensinar não é somente transmitir o saber; a missão do professor é possibilitar
a criação e a produção de conhecimento. Pensando nisso, a proposta aqui é perseguirmos juntos os
seguintes objetivos:

• conhecer e compreender os conceitos sobre políticas e sistemas de saúde, enfocando a realidade


brasileira em sua trajetória histórica e em suas características atuais;

• abarcar os principais marcos históricos da saúde, com destaque para a evolução do sistema de
saúde no Brasil;

• examinar e comparar sistemas de saúde e modelos de atenção de diferentes países;

• avaliar e interpretar as conferências, as plataformas e as declarações dos principais organismos


nacionais e internacionais, norteadores das políticas de saúde no mundo;

• conhecer o SUS e distinguir seus modelos de atenção à saúde, financiamento e alocação de


recursos;

• conhecer a Política Nacional de Atenção Básica e reconhecer sua importância e abrangência;

9
• entender a complexidade do campo da saúde coletiva, com apoio numa análise política que permita
refletir sobre estratégias de transformação das estruturas tradicionais na assistência à saúde;

• compreender como se dá a regulação e a complementariedade do setor privado de saúde no país.

No conteúdo desta disciplina, veremos o conceito de política e políticas públicas e a contextualização


histórica da seguridade social, da saúde pública e da assistência social no Brasil desde o período colonial,
passando pela promulgação da Constituição Federal de 1988 e a implementação do Sistema Único
de Saúde (SUS) até os dias atuais. Estudaremos os princípios doutrinários e organizativos do SUS e as
principais políticas e programas de saúde no SUS.

Na sequência, conheceremos o conceito de promoção da saúde, sua aplicação e as principais


conferências internacionais de saúde e a normatização nacional para a promoção da saúde, os
principais modelos de atenção e assistência à saúde, a definição de atenção básica, os níveis de
atenção à saúde, a normatização da política de atenção básica e seus programas, a política nacional
de humanização e o sistema de saúde suplementar.

Esperamos que, ao final deste livro‑texto, você tenha clareza do processo histórico da saúde, suas
lutas e conquistas, podendo, assim, compreender e valorizar a participação do profissional de saúde
e tornando‑se, de fato, um ator protagonista na permanente construção de modelos de atenção que
promovam e protejam a saúde da população.

10
INTRODUÇÃO

A avaliação do estado de saúde das populações dependeu, durante longo período de tempo,
quase que exclusivamente dos indicadores derivados de dados de mortalidade, mas esses índices
perderam progressivamente a capacidade de medir a saúde em decorrência da forte redução das
taxas de mortalidade, do aumento da sobrevida e da crescente prevalência de doenças crônicas, de
baixa letalidade, mas altamente incapacitantes. O novo espectro do problema passou a requerer,
para adequada mensuração dos níveis de saúde, a construção de indicadores de incidência e
prevalência de doenças, de lesões por acidentes e violências e de transtornos mentais e deficiências
físicas. A presença simultânea de várias doenças no mesmo indivíduo, fenômeno que se intensifica
com o aumento de sobrevida da população, demandou a elaboração de índices de comorbidades
(CHARLSON et al., 1994).

O novo contexto também deixa claro que ter uma doença diagnosticada não se acompanha,
necessariamente, do mesmo grau de prejuízo nos níveis de saúde e de autonomia na realização
de tarefas cotidianas. O impacto da doença em provocar limitações e incapacidades passa a ser
dimensionado por instrumentos que avaliam a preservação das atividades da vida diária e da qualidade
de vida em saúde.

Sabemos que as desigualdades sociais em saúde são registradas de longa data, tendo seu estudo
sido retomado com ênfase, nas últimas décadas, diante da verificação da persistência ou ampliação dos
diferenciais de saúde entre os segmentos sociais (WHO, 2002; GWATKIN, 2000).

Convidamos a todos para a leitura nessa jornada do conhecimento sobre as políticas de saúde
adotadas em nosso país.

11
POLÍTICAS DE SAÚDE

Unidade I
1 POLÍTICA E POLÍTICAS PÚBLICAS

Se vamos estudar políticas de saúde, então a pergunta é: Você sabe o que é política?

A palavra “política” se origina da palavra grega “pólis”, que significa “cidade”, pois na antiguidade, na
Grécia, demonstrava a ação empreendida pelos cidadãos nas cidades‑estados gregas para a convivência
das pessoas e para com as cidades‑estados vizinhas.

Na explicação de Aristóteles, em sua obra Política, a política é um meio para alcançar a felicidade dos
cidadãos; para isso, os governantes devem ser justos e as leis obedecidas.

Assim, podemos dizer que a política busca o consenso para uma convivência harmoniosa e pacífica
na comunidade, sendo necessária, uma vez que vivemos em sociedade e porque o respeito à diferença
de pensamento é essencial para o bom convívio.

A política está inserida em todos os contextos na sociedade, nas organizações, instituições, profissões
e comunidades. Desse modo, as pessoas na sociedade podem fazer política quando desejam melhorias
nos contextos sociais, econômicos, entre outros. Cabe ressaltar que nas democracias os cidadãos podem
(e devem) participar da política por meio da participação em grupos, associações, conselhos, sindicatos
e partidos, e também individualmente.

Então, podemos afirmar que a política é uma ciência e uma atividade desempenhada por todo
cidadão quando exerce seus direitos em assuntos públicos através da sua opinião e também do seu
voto, na escolha dos seus representantes, os quais irão elaborar as leis, executá‑las e julgar mediante as
mesmas leis.

Como afirma Aristóteles (s.d., p. 55):

Mas, para que um Estado seja bem organizado politicamente, não basta
que tenha boas leis, se não cuidar da sua execução. A submissão às leis
existentes é a primeira parte de uma boa ordem; a segunda é o valor
intrínseco das leis a que se está submetido. Com efeito, pode‑se obedecer
a más leis, o que acontece de duas maneiras: ou porque as circunstâncias
não permitem melhores, ou porque elas são simplesmente boas em si, sem
convir às circunstâncias.

13
Unidade I

Então, em resumo, a política é a ciência que busca mecanismos para a construção coletiva do
bem comum.

Vamos fazer outra pergunta: Você se interessa por política?

Há uma frase que diz que aqueles que não se interessam por política serão governados pelos que se
interessam. Gostaríamos de complementá‑la escrevendo “e os que se interessam nem sempre são os que
sabem o que é melhor para a maioria”.

Na atualidade, muitas pessoas dizem não “gostar” ou “concordar” com a forma como é feita a política
por alguns, mas neste caso não se trata de política no seu verdadeiro conceito, mas sim de “politicagem”,
quando a política se dá por meio de interesses próprios e de troca de favores em detrimento dos interesses
coletivos para realização pessoal ou é insignificante para a sociedade. Por essa razão, neste livro‑texto
trataremos de política em seu conceito e aplicação.

O termo “políticas públicas” pode até soar como uma redundância, uma vez que o governo seria o
principal responsável pelas ações políticas na sociedade, entretanto, as políticas públicas são demandadas
pelos cidadãos na sociedade organizada, que elenca as prioridades e as repassa aos seus representantes
(deputados e senadores), que irão elaborar as leis e políticas necessárias, cabendo ao governo, entre as
suas várias atribuições, garantir a implementação das políticas públicas para o bem‑estar da sociedade.
Portanto, a política é uma doutrina relativa à organização dos Estados e o responsável por essa
organização é o governo.

Com a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, ambas ocorridas na Europa na segunda metade
do século XVIII, o ideal de direitos humanos e de seguridade e a organização da sociedade foram se
tornando mais complexos e abrangentes, uma vez que a maioria da população estava no campo e a
política era decidida apenas por um pequeno grupo de pessoas que pertenciam à mesma classe social,
os aristocratas. Com a industrialização, houve o êxodo rural, as cidades tiveram seu crescimento com
mais pessoas e ocorreu a organização do trabalho mecanizado, a implementação de novas tecnologias
e uma nova configuração social com a burguesia e a classe operária.

Diante desse cenário, havia duras condições de trabalho nas fábricas, com o trabalho de homens,
mulheres, crianças e idosos por até 18 horas diárias, sem folgas e sem nenhuma perspectiva de
aposentadoria e seguridade em casos de adoecimento ou morte. Por esse motivo, os operários passaram
a se organizar em sindicatos e associações a fim de reivindicar melhores condições de trabalho e de
vida; por conseguinte, os burgueses começaram a exigir dos governos garantias e facilidades para seus
negócios. Deste modo se originou a construção das primeiras políticas públicas no final do século XVIII
e no século XIX, e assim foram implementadas as políticas públicas de cidadania, saúde, educação,
seguridade, segurança e política econômica, fiscal e monetária, entre outras, primeiramente nos países
europeus e depois em diversas nações em outros continentes.

Por isso, é preciso compreender o que é política, política pública e os conceitos de


seguridade, previdência, saúde e assistência social para podermos compreender o cenário atual e
desempenharmos com responsabilidade nossas atividades na área. No caso da saúde, por exemplo,
14
POLÍTICAS DE SAÚDE

a política tem o objetivo de organizar todos os setores, públicos e privados, em seus diversos
níveis, para atender às necessidades de saúde da população.

Exemplo de aplicação

Vamos refletir: Quais são as necessidades de saúde? Elas são diferentes das necessidades da doença?
Um indivíduo saudável é apenas um indivíduo livre de doenças?

Para a Organização Mundial da Saúde, a OMS (World Health Organization – WHO, na língua
inglesa), saúde é o estado de completo bem‑estar físico, mental e social, e não simplesmente a
ausência de doença.

O conceito de saúde é muito mais amplo do que o conceito de doença. Um cidadão que apresenta
sinais e sintomas como dor, febre e tosse é considerado doente e precisa de assistência médica e
de saúde, e provavelmente necessitará de tratamento curativo para restabelecer seu estado físico,
pois, se retomarmos a história da humanidade, vamos encontrar o foco no tratamento, na cura e na
contenção da propagação das doenças transmissíveis. Esse é o enfoque para o tratamento ao cidadão
doente, correto?

Agora vamos usar a definição da OMS para exemplificar um cidadão saudável: ele teria que, além
de estar livre de doenças, ter um completo bem‑estar físico, mental e social; precisaria sentir‑se bem,
morar bem, comer bem, trabalhar bem, enfim, viver bem, para não adoecer, e se adoecer, ter um pronto
restabelecimento. Essa visão de saúde é algo recente e abrange o foco na proteção, promoção da saúde
e prevenção de doenças.

Para melhor definir e estabelecer o objeto de estudo deste trabalho – as políticas públicas em
saúde –, é necessário identificar a história e o exato contexto em que a saúde pública se insere, enquanto
atribuição dos entes públicos (a União, os estados e os municípios), consideradas as correspondentes
disposições constitucionais, de onde precisamente decorrem todas as diretrizes que dão suporte e
fundamento àquelas políticas.

2 SEGURIDADE SOCIAL: HISTÓRIA DA SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL

Para compreender o atual cenário das políticas de seguridade social, é preciso compreender o
contexto histórico da saúde pública, previdência e assistência social no Brasil.

2.1 Saúde pública

Desde o período do descobrimento do Brasil, passando pelo período colonial, pelo período imperial
e pelo início da República, as ações em saúde pública eram realizadas de forma bastante desorganizada,
seja pela centralização das decisões na Corte, pela grande extensão territorial, pelo atraso tecnológico
ou pela falta de políticas efetivas, consistentes e coordenadas.

15
Unidade I

Quadro 1

Períodos da história do Brasil


Ano Período
Antes de 1500 Pré-Descobrimento
1500 a 1822 Colônia
1822 a 1889 Império
Depois de 1889 República

2.1.1 Período colonial e imperial

Muito antes de 1500 já viviam no Brasil diversos povos indígenas que possuíam suas línguas,
tradições e culturas próprias. A partir de então, com o início da colonização portuguesa, vieram para o
país degredados, aventureiros e náufragos, e foram trazidos para cá à força os diversos povos africanos
que foram escravizados.

Em 1543, foi fundada na capitania de São Vicente, na então vila de Santos, hoje cidade de Santos,
no litoral de São Paulo, pelo fidalgo português Brás Cubas, a primeira santa casa, a Santa Casa de
Misericórdia de Santos. Seguindo o modelo português de saúde na época e dirigida a princípio pela
irmandade jesuíta para atendimento aos doentes, o local foi escolhido por se tratar do principal ponto
de entrada no país por conta do porto. A instituição contava com poucos recursos humanos, materiais
e financeiros.

Esse modelo de assistência foi se difundindo em todo o país durante o período colonial. Não havia
no Brasil nenhum modelo de atenção à saúde da população; basicamente, a atenção à saúde limitava‑se
aos próprios recursos da terra, com o uso de plantas medicinais e ervas por meio de conhecimentos
empíricos como chás, infusões, unguentos, entre outros, realizados por pajés, por curandeiros e
posteriormente pelos primeiros boticários. Aqueles que possuíam recursos podiam ser atendidos em
seu domicílio por raríssimos médicos formados no exterior; já os que não possuíam quase nenhum
recurso – mais de 95% da população – eram atendidos por religiosos nas Santas Casas ou outras
instituições de saúde e assistência, ou por curandeiros, ou ainda ficavam à mercê da sorte. Destacamos
que as taxas de adoecimento e mortalidade eram muito altas em todas as faixas etárias.

Até a chegada da família real ao Brasil, em 1808, as medidas adotadas eram bastante incipientes,
praticamente sem significativas repercussões na saúde pública da colônia. A partir dessa data, foi
iniciada a organização sanitária mínima para a cidade do Rio de Janeiro, que se tornara a capital do
país. Até o ano de 1850, as atividades de saúde pública eram limitadas ao controle de entrada e saída de
diversos produtos: como alimentos, animais, mobiliário e diversas mercadorias pelos navios nos portos,
principalmente no Rio de Janeiro, e as demais questões sanitárias eram verificadas pelas chamadas
juntas municipais.

Foi justamente em 1808 que se deu a criação da primeira organização nacional de saúde pública no
Brasil: em 27 de fevereiro foi instaurado o cargo de provedor‑mor de Saúde da Corte e do Estado do
Brasil (embrião do Serviço de Saúde dos Portos, com delegados nos estados). Havia uma carência imensa
16
POLÍTICAS DE SAÚDE

de recursos como hospitais, unidades de saúde, médicos e demais profissionais de saúde com a devida
formação acadêmica.

É importante destacar que em fevereiro de 1808, na sua chegada, dom João VI fundou na Bahia
o Colégio Médico‑Cirúrgico no Real Hospital Militar da cidade de Salvador, e no mês de novembro do
mesmo ano foi criada a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro, anexa ao Real Hospital Militar, dando
origem à primeira escola de medicina do país.

A carência de profissionais médicos no Brasil Colônia e no Brasil Império era enorme. Por exemplo,
no Rio de Janeiro, em 1789, só existiam quatro médicos exercendo a profissão, e nos demais estados
brasileiros, à época, eram inexistentes (SALLES, 1971). Somente após a proclamação da Independência
do Brasil (em 1822) foi promulgada, em 30 de agosto de 1828, a Lei de Municipalização dos Serviços
de Saúde, com a criação das Juntas Municipais (com as funções antes exercidas pelo físico‑mor, pelo
cirurgião‑mor e seus delegados). No mesmo ano, ocorreu a criação da Inspeção de Saúde Pública do
Porto do Rio de Janeiro.

No período imperial, que se seguiu à proclamação da Independência, são dignos de registros os


seguintes eventos:

• 1837: foi introduzida a vacinação compulsória contra a varíola nas crianças;


• 1846: foi organizado o Instituto Vacínico do Império;
• 1878: tornou‑se obrigatória a desinfecção terminal dos casos de morte por doenças contagiosas.

É interessante observar que, de 1850 ao fim daquele século, em razão dos reflexos da revolução
industrial inglesa no Brasil, motivados principalmente pelos interesses dos grandes cafeicultores, que
começaram a investir no setor industrial, começaram as mudanças sociais, com reflexos na saúde
pública: crescimento de centros urbanos, em razão do deslocamento da população rural, movida
pela expectativa de melhores condições de sobrevivência, o que gerou condições propícias para o
surgimento de graves surtos de doenças epidêmicas, como a tuberculose. Assim, em 1878, tornou‑se
obrigatória a desinfecção terminal dos casos de morte por doenças contagiosas, a critério da autoridade
sanitária, e foi editado o Decreto n. 7.027, de 6 de setembro de 1878, que tratou de providências sobre
a desinfecção das casas e estabelecimentos públicos ou particulares.

2.1.2 Início da República

Na Europa, na passagem do século XIX para o XX, dá‑se paulatinamente a implantação da


administração científica (utilização da estatística e epidemiologia como instrumentos de mensuração
dos fenômenos sociais).

Nesse período, as epidemias de doenças transmissíveis, em particular a febre amarela e a malária,


produziram um impacto dramático de mortalidade nas cidades e nos principais canteiros de obras
localizados nos países ditos periféricos, causando prejuízo ao comércio e dificultando a expansão
do capitalismo.
17
Unidade I

A solução adotada foi o incentivo público às pesquisas biomédicas, sobretudo àquelas dirigidas às
doenças tropicais e à formação de equipes de trabalho organizadas em moldes militares, capazes de
intervir com disciplina e eficácia quando necessário. Foram, então, criadas as campanhas sanitárias.
O sucesso dessas campanhas sanitárias destacou‑se tanto por seus resultados no controle de processos
epidêmicos como pelo exemplo de articulação entre o conhecimento científico, a competência técnica
e a organização do processo de trabalho em saúde.

No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro, capital do país, apresentava um quadro sanitário
caótico caracterizado pela presença de diversas doenças graves, como a varíola, a malária, a febre
amarela e, posteriormente, a peste, o que acabou gerando sérias consequências tanto para a saúde
coletiva quanto para outros setores, como o do comércio exterior, visto que os navios estrangeiros não
mais queriam atracar no porto do Rio de Janeiro. Ainda nesse mesmo contexto, foi criado, em 1900, o
Instituto Soroterápico Federal, para a fabricação de soros e vacinas contra a peste.

O Rio de Janeiro, no início do século XX, era conhecido como o “túmulo dos estrangeiros”.
O presidente Rodrigues Alves, priorizando o saneamento e a reforma urbana, nomeou o engenheiro
Pereira Passos para a Prefeitura e o sanitarista Oswaldo Cruz para a Diretoria‑Geral de Saúde Pública
(que hoje seria equivalente ao Ministério da Saúde), iniciando uma nova era para a higiene nacional,
inclusive com a ampliação das atividades do Instituto Soroterápico Federal, que passou a se dedicar
também à pesquisa básica e à qualificação de recursos humanos.

Quadro 2

Presidentes do Brasil até 1964


1889-1891 Mar. Deodoro da Fonseca
1891-1894 Mar. Floriano Peixoto
1894-1898 Prudente de Morais
1898-1902 Campos Sales
1902-1906 Rodrigues Alves
1906-1909 Afonso Penna
1909-1910 Nilo Peçanha
1910-1914 Mar. Hermes da Fonseca
1914-1918 Wenceslau Brás
1918-1919 Delfim Moreira
1919-1922 Epitácio Pessoa
1922-1926 Arthur Bernardes
1926-1930 Washington Luís
1930-1945 Getúlio Vargas
1946-1951 General Dutra
1951-1954 Getúlio Vargas
1954-1955 João Café Filho
1956-1961 Juscelino Kubitschek
1961-1961 Jânio Quadros
1961-1964 João Goulart – Jango

18
POLÍTICAS DE SAÚDE

Observação

Oswaldo Cruz, bacteriologista formado no Instituto Pasteur, teve


um importante papel na saúde do Brasil. Seu trabalho como sanitarista
foi marcado pelas batalhas contra as doenças transmissíveis no
início do século XX.

Nessa época, foram realizadas memoráveis campanhas de saneamento, sendo adotados métodos
militares na sua execução. A primeira foi contra a febre amarela, que entre 1897 e 1906 matou
quatro mil imigrantes.

A então capital do Brasil, a cidade do Rio de Janeiro, foi dividida em distritos sanitários, administrados
por delegados de saúde, sendo implantada uma polícia sanitária, que adotava medidas rigorosas para
o combate à febre amarela, multando proprietários de imóveis insalubres e os intimando a demoli‑los
ou reformá‑los.

As brigadas mata‑mosquitos percorriam a cidade, limpando calhas e telhados, exigindo providências


para a proteção de caixas‑d’água, colocando petróleo em ralos e bueiros e acabando com depósitos de
larvas e mosquitos. Oswaldo Cruz baseou o combate à febre amarela no êxito da campanha realizada
pelos americanos em Havana e em algumas experiências realizadas no Brasil, que comprovavam o
acerto da teoria do médico cubano Carlos Finlay de que o transmissor da doença era um mosquito
(o Aedes aegypti, na época conhecido como Stegomyia fasciata ou Culex aegypti). Em seguida, Oswaldo
Cruz iniciou sua luta contra a peste bubônica. A campanha previa a notificação compulsória dos
casos, isolamento e aplicação do soro fabricado em Manguinhos (onde hoje está situada a Fundação
Oswaldo Cruz) nos doentes, vacinação nas áreas mais problemáticas, como a zona portuária, bem como
a desratização da cidade. Com a percepção de que havia relação entre os ratos e os mosquitos na
proliferação das doenças, foi tomada a decisão de pagar por roedor capturado. Surgiram, assim, os
inúmeros compradores de “gabirus”, que percorriam a cidade, o que só agravou a situação. Mas, em
poucos meses, a incidência de peste bubônica diminuiu com o extermínio dos ratos, hospedeiros das
pulgas que transmitiam a doença.

Ainda em 1904, foi instituída a Reforma Oswaldo Cruz, com a criação do Serviço de Profilaxia da
Febre Amarela e a Inspetoria de Isolamento e Desinfecção, com responsabilidade de combate à malária e
à peste no Rio de Janeiro. Assim, tornou‑se obrigatória, em toda a República, a vacinação e a revacinação
contra a varíola. Foi criada, também, a Diretoria‑Geral de Saúde Pública, para atender aos problemas de
saúde da capital do país e prosseguir na defesa sanitária dos portos brasileiros.

Nesse mesmo ano, uma epidemia de varíola assolou a capital, e somente nos cinco primeiros meses
1.800 pessoas foram internadas no Hospital São Sebastião, pois embora uma lei prevendo imunização
compulsória das crianças contra a doença estivesse em vigor desde 1837, ela nunca foi cumprida.

19
Unidade I

Foi ainda naquele ano, em 13 de novembro, que eclodiu a Revolta da Vacina, mas os fatos que
deram origem àquele triste evento começaram a ocorrer meses antes: em 29 de junho, o governo
enviou ao Congresso o projeto reinstaurando a obrigatoriedade de vacinação antivariólica, com
a previsão de vacinação antes dos seis meses de idade e para todos os militares, revacinação de
sete em sete anos e exigência de atestado de imunização para candidatos a quaisquer cargos ou
funções públicas e também para quem quisesse se casar, viajar ou matricular‑se numa escola;
foram também outorgados à polícia sanitária poderes para convocar todos os moradores de uma
área de foco a se imunizarem, e quem se recusasse seria submetido a observação médica em
local apropriado, pagando as despesas de estadia; o projeto estipulava ainda punições e multas
para médicos que emitissem atestados falsos de vacinação e revacinação, obrigava os diretores de
colégios a obedecerem às disposições sobre imunização dos estudantes e instituía a comunicação
de todos os registros de nascimento.

Ocorreu que essas medidas enfrentaram grande resistência da população, oposição esta que
era estimulada pelos jornais, sendo, até mesmo, organizada a Liga Contra a Vacinação Obrigatória.
Como resultado, a população se levantou contra o governo e ocorreram choques com a polícia,
greves, barricadas, quebra‑quebras e tiroteios nas ruas, levando, inclusive, à decretação do estado
de sítio. Apenas no dia 16 o Governo Federal conseguiu derrotar a Revolta, mas suspendeu a
obrigatoriedade da vacina.

Lembrete

Em 1904, o presidente Rodrigues Alves determinou a vacinação


contra varíola como obrigatória. As manifestações populares contrárias
e os conflitos com as autoridades sanitárias ficaram conhecidos como a
Revolta da Vacina.

Em 1907, deu‑se a criação do Instituto de Patologia Experimental de Manguinhos (atual Instituto


Oswaldo Cruz), sendo estabelecidas normas e estratégias para o controle dos mosquitos, vetores da
febre amarela.

Nesse mesmo ano, a febre amarela foi erradicada do Rio de Janeiro e Oswaldo Cruz recebeu,
em setembro, a medalha de ouro pelo trabalho de saneamento do Rio de Janeiro no IV Congresso
Internacional de Higiene e Demografia de Berlim.

No ano seguinte, em 1908, entretanto, uma violenta epidemia de varíola levou a população
em massa aos postos de vacinação. Nesse mesmo ano, Oswaldo Cruz reformou o Código Sanitário e
reestruturou todos os órgãos de saúde e higiene do país.

Em 1909, Oswaldo Cruz deixou a Diretoria‑Geral de Saúde Pública, passando a dedicar‑se apenas
ao Instituto de Manguinhos, que fora rebatizado com o seu nome. Nesse ano, também foi erradicada
a febre amarela no Pará e realizada a campanha de saneamento na Amazônia, que permitiu o término
20
POLÍTICAS DE SAÚDE

das obras da Estrada de Ferro Madeira‑Mamoré, cuja construção havia sido interrompida pelo grande
número de mortes entre os operários, tendo sido determinadas as seguintes medidas profiláticas e
preventivas: exame médico minucioso; fornecimento de quinino durante a viagem; exames periódicos
nos empregados; fornecimento diário de quinino; desconto dos dias em que o trabalhador não ingerisse
o medicamento; gratificação para o operário que passasse três meses sem sofrer nenhum acesso de
malária; construção de galpões telados para alojamento do pessoal; fornecimento de água fervida; uso
de calçados; e definição de locais determinados para a defecação.

Ainda em 1909, Carlos Chagas descobriu a doença provocada pelo Tripanosoma cruzi, que, então,
passou a se chamar doença de Chagas.

Em 14 de fevereiro de 1917, Carlos Chagas assumiu a direção do Instituto Oswaldo Cruz. No ano
seguinte, foram criados dois órgãos de saúde pública de relevância:

• Serviço da Quinina Oficial (profilático da malária);

• Serviço de Profilaxia Rural, subordinado à Inspetoria de serviços de profilaxia.

Em 1920, Carlos Chagas reorganizou os serviços de saúde pública, com a criação do Departamento
Nacional de saúde pública (DNSP), e foi editado o Decreto n. 3.987, de 2 de janeiro de 1920. Nesse ano
ocorreu, também, a aprovação do regulamento para o Departamento Nacional de Saúde Pública.

Finalmente, em 1921, foi instituída a Reforma Carlos Chagas, que ampliou as atividades de cooperação
com estados, por meio da Diretoria de Saneamento e da Profilaxia Rural.

Observação

Carlos Justiniano Ribeiro Chagas, 1879‑934, brasileiro de Minas Gerais,


foi um importante médico sanitarista atuante no combate à malária e a
outras doenças tropicais.

Entretanto, somente a partir da década de 1930 foram adotadas as primeiras tentativas de organização
e implantação de medidas na área da saúde pública, com alguma eficácia, como a criação de diversos
órgãos, visando basicamente à prevenção e ao controle de doenças. Mas nesse período a implantação da
saúde preventiva, especialmente, ainda enfrentou grandes dificuldades pelas seguintes razões:

• desenvolvimento científico, tecnológico e industrial limitado;

• expansão da assistência médica vinculada à lógica de mercado;

• processo (lento) de formação de uma consciência dos direitos de cidadania.

21
Unidade I

Foi criado, em 1930, o Ministério dos negócios da Educação e Saúde Pública, tendo os serviços
sido relacionados com a saúde pública transferidos para o novo ministério e reativado o Serviço de
Profilaxia de Febre Amarela, em virtude da epidemia de 1927‑1928, no Rio de Janeiro, e da dispersão do
mosquito transmissor.

O médico‑sanitarista João de Barros Barreto assumiu, em 1931, a diretoria do Serviço Sanitário


Estadual de São Paulo, em cuja gestão foi formada a Secretaria Estadual de Educação e Saúde Pública.

Deu‑se, em 1932, a instituição do ensino e a pesquisa científica no campo da administração, com a


formação do Instituto de Organização Racional do Trabalho (Idort).

Em 1936, uma comissão chefiada por Evandro Chagas chegou ao Pará com uma equipe de
médicos e farmacêuticos, tendo constatado que a Amazônia era um campo vasto para pesquisa
nas áreas médica e científica. Sugeriu, então, a criação de um instituto de pesquisa para ampliar
os estudos de doenças regionais, como malária, leishmaniose e filariose, do que resultou a criação,
em 11 de novembro, do Instituto de Patologia Experimental do Norte (Ipen), atual Instituto Evandro
Chagas (IEC).

A Reforma Barros Barreto instituiu‑se em 1941, e se destacam as seguintes ações:

• instituição de órgãos normativos e supletivos destinados a orientar a assistência sanitária


e hospitalar;

• inauguração de órgãos executivos de ação direta contra as endemias mais importantes (malária,
febre amarela, peste);

• fortalecimento do Instituto Oswaldo Cruz, como referência nacional;

• descentralização das atividades normativas e executivas por oito regiões sanitárias;

• destaque aos programas de abastecimento de água e construção de esgotos, no âmbito da


saúde pública;

• atenção aos problemas das doenças degenerativas e mentais com a criação de serviços especializados
de âmbito nacional (Instituto Nacional do Câncer).

Nos anos que se seguem são dignos de nota os seguintes eventos:

Década de 1940:

• 1942

— Autorização do então Ministério da Educação e Saúde a organizar o Serviço Especial


de Saúde Pública (Sesp), em cooperação com o Institute of Interamerican Affairs, do
governo americano.

22
POLÍTICAS DE SAÚDE

— Assinatura do convênio básico, que estabelecia o desenvolvimento de atividades de saneamento,


profilaxia da malária e assistência médico‑sanitária às populações da Amazônia, onde se
extraía a borracha necessária ao esforço de guerra.

— Realização da I Conferência Nacional de Saúde.

• 1943

— Criação da Campanha Contra a Bouba e implantação dos Postos Experimentais de Combate à


Esquistossomose (Catende/PE) e ao Tracoma (Jacarezinho/PR).

• 1944

— Formação do Serviço Nacional de Helmintoses (em especial a esquistossomose e a ancilostomose).

• 1948

— Instalação do Centro de Estudos do Instituto Oswaldo Cruz, em Bambuí/MG, que desenvolveu


os primeiros estudos para o controle da doença de Chagas, e criação do primeiro Conselho de
Saúde (considerado por William Wech o marco inicial da saúde pública moderna).

— Criação, em 7 de abril de 1948, da Organização Mundial de Saúde, que é uma agência especializada
em saúde subordinada à Organização das Nações Unidas; sua sede é em Genebra, na Suíça.

Década de 1950:

• 1953

— Inauguração do Ministério da Saúde, regulamentado pelo Decreto n. 34.596, de 16 de novembro


de 1953.

— Instituição da obrigatoriedade da iodação do sal de cozinha destinado a consumo alimentar


nas regiões de bócio endêmico no país.

• 1954

— Edição da Lei n. 2.312, de 3 de setembro de 1954, que estabeleceu normas gerais sobre a defesa
e proteção da saúde.

No cenário mundial, logo após a Segunda Guerra Mundial, instalou‑se o período conhecido como
Guerra Fria, que foi um conflito no campo ideológico, já que não ocorreu um embate militar declarado e
direto entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

23
Unidade I

Havia uma preocupação crescente em relação à proliferação dos regimes comunista e socialista
no mundo, especialmente na América Latina, o que punha em risco os interesses e a hegemonia do
capitalismo, especialmente do americano, nesta região.

No Brasil, no ano de 1960, a capital do país foi transferida do Rio de Janeiro para a recém‑inaugurada
Brasília.

Em 1961, assumiu a presidência da República Jânio da Silva Quadros. Seu mandato durou
aproximadamente sete meses até sua renúncia.

A partir de agosto 1961, assumiu o presidente João Goulart, que pretendeu desenvolver uma
política externa independente do apoio das superpotências da Guerra Fria (Estados Unidos e União
Soviética). Ele fortaleceu os movimentos sindicais, estudantis, camponeses e populares. Além desses
fatos, o então presidente promoveu uma aproximação política entre o Brasil e a União Soviética, o que
desencadeou atritos com as lideranças políticas, econômicas e militares do Brasil.

Foi exatamente neste contexto que as Forças Armadas brasileiras, em 31 de março de 1964, instalaram
um regime militar, com o aval dos Estados Unidos (um processo que se repetiu na maioria dos países da
América Latina).

O regime militar, instaurado em 1964, contava com suportes políticos extremamente fortes.
A maioria da burguesia defendia a internacionalização da economia e das finanças brasileiras, ampliando o
processo que era ainda obstaculizado, segundo os capitalistas, pela proposta populista de fortalecimento
das empresas estatais e de economia mista pelo governo de João Goulart. Houve o fortalecimento do
poder executivo e o esvaziamento do poder legislativo, e foram editados Atos Institucionais (sendo o
principal deles o de n. 5, de 1968), que limitavam as liberdades individuais e constitucionais.

O êxito da atuação do Executivo justificava‑se, na área econômica, com o chamado “milagre


econômico brasileiro”, movido a capital estrangeiro.

Na saúde pública, somente a partir da década de 1960 é que realmente começaram a ser implantadas
normas, que, destinadas a acompanhar o aumento da produção e do consumo de bens e serviços,
tiveram repercussões, como a regulamentação da iodação do sal e das águas de consumo humano e a
reforma do laboratório de análises, com a criação do Instituto Nacional de Controle da Qualidade em
Saúde (INCQS), estimulado pela implantação do Programa Nacional de Imunização, com o controle
sanitário das vacinas.

Na década de 1960 são destacados os seguintes eventos na saúde pública brasileira:

• 1961

— Início da produção, no Brasil, da vacina liofilizada contra a varíola, em substituição à tradicional,


que era pouco estável, por ser fabricada em forma de linfa.

24
POLÍTICAS DE SAÚDE

— Realização das primeiras campanhas com a vacina oral contra a poliomielite: projetos
experimentais em Petrópolis/RJ e Santo André/SP.

— Introdução da técnica de diagnóstico laboratorial da poliomielite, no Instituto Oswaldo Cruz (IOC).

— Regulamentação do Código Nacional de Saúde, Lei Federal n. 2.312, de 3 de setembro de 1954,


estabelecendo as Normas Gerais sobre Defesa e Proteção da Saúde.

• 1962

— É instituída a Campanha Nacional contra a varíola, coordenada pelo Departamento Nacional


de Saúde, com a organização de operações de vacinação em diversos estados, mediante
mobilização de recursos locais.

— Ocorre o primeiro ensaio para administração da vacina BCG intradérmica no Brasil.

• 1965

— É instituída a Campanha de Erradicação da Malária e a Campanha de Erradicação da Varíola.

• 1967

— É promulgado o Decreto‑lei n. 200/1967, estabelecendo as competências do Ministério da Saúde:

— formulação e coordenação da Política Nacional de Saúde;

— responsabilidade pelas atividades médicas ambulatoriais e ações preventivas em geral;

— controle de drogas e medicamentos e alimentos;

— pesquisa médico‑sanitária.

• 1969

— O Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp) passou a denominar‑se Fundação de Serviços de


Saúde Pública (FSESP) e organizou o sistema de notificação de algumas doenças transmissíveis,
prioritariamente aquelas passíveis de controle por meio de programas de vacinação, além de
criar o Boletim Epidemiológico.

— Deu‑se a criação da Divisão Nacional de Epidemiologia e Estatística da Saúde (DNEES), no


Departamento de Profilaxia e Controle de Doenças.

— Ocorreu a instalação das unidades de Vigilância Epidemiológica da Varíola, em âmbito federal.

25
Unidade I

— Foi instituída a Fundação Oswaldo Cruz, congregando inicialmente o então Instituto Oswaldo
Cruz, a Fundação de Recursos Humanos para a Saúde, posteriormente Escola Nacional de
Saúde Pública (ENSP), e o Instituto Fernandes Figueira (as demais unidades que hoje compõem
a Fiocruz foram incorporadas ao longo dos anos).

No ano de 1970 foi criada a Superintendência de Campanhas da Saúde Pública (Sucam), com a
atribuição de executar as atividades de erradicação e controle de endemias, sucedendo o Departamento
Nacional de Endemias Rurais (DNERu) e a campanha de erradicação da malária.

Em 1975, a instituição, ainda no papel, do Sistema Nacional de Saúde estabelecia de forma


sistemática o campo de ação na área de saúde, dos setores públicos e privados, para o desenvolvimento
das atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde. O documento reconhecia e oficializava a
dicotomia da questão da saúde, afirmando que a medicina curativa seria de competência do Ministério
da Previdência, e a medicina preventiva, de responsabilidade do Ministério da Saúde. No entanto, o
Governo Federal destinou poucos recursos ao Ministério da Saúde, que foi incapaz de desenvolver as
ações de saúde pública propostas, o que significou, na prática, uma clara opção pela medicina curativa,
que era mais cara e que, no entanto, contava com recursos garantidos através da contribuição dos
trabalhadores para o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

É importante destacar que os trabalhadores com carteira assinada e seus dependentes tinham
acesso a estes serviços de saúde por meio das contribuições para o Instituto Nacional de Previdência
Social (INPS), ao passo que aqueles que não tinham carteira assinada permaneciam sem acesso a esses
serviços de saúde, ou seja, nem todos eram abrangidos pelo sistema de saúde vigente à época. Assim, o
Ministério da Saúde tornou‑se muito mais um órgão burocrato‑normativo do que um órgão executivo
de política de saúde.

Observação

A medicina curativa atua quando a doença já se instalou no paciente,


devendo ser tratada a partir de então; entretanto, a saúde é entendida
primordialmente como qualidade de vida e ausência de doença.

Tendo como referência as recomendações internacionais e a necessidade de expandir cobertura,


iniciou‑se, em 1976, o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS), que,
concebido na Secretaria de Planejamento da Presidência da República, constituiu o primeiro programa
de medicina simplificada do nível federal e permitiu a entrada de técnicos provenientes do movimento
sanitário nos órgãos de governo. O programa foi estendido a todo o território nacional, o que resultou
numa grande expansão da rede ambulatorial pública.

Neste período, o modelo econômico implantado pelo regime militar entrou em crise, basicamente
por duas razões:

26
POLÍTICAS DE SAÚDE

• período de crise internacional pelo qual passou o capitalismo;

• diminuição do fluxo de capital estrangeiro para mover a economia nacional; logo, o país diminuiu
seu ritmo de crescimento, que deixou de ser sustentável.

A ideia de que era preciso fazer “crescer o bolo” (a economia) para depois redistribuí‑lo para a
população não se confirmou no plano social, pois os pobres ficaram mais pobres e os ricos, mais ricos,
sendo o Brasil um dos países que apresentam um dos maiores índices em nível mundial de concentração
de renda para poucos habitantes e de uma grande desigualdade social.

A população, com baixos salários, contidos pela política econômica, passou a conviver com o
desemprego e as suas graves consequências sociais. Houve o aumento da desigualdade social e da
mortalidade infantil e o crescimento de favelas.

É exatamente nesse contexto que o modelo de saúde começou a mostrar seus entraves:

• Por ter priorizado a medicina curativa, o modelo proposto revelou‑se incapaz de solucionar os
principais problemas de saúde coletiva, como as endemias e as epidemias, e os indicadores de
saúde (mortalidade infantil, por exemplo).

• Passou‑se a registrar a ocorrência de aumentos constantes dos custos da medicina curativa,


centrada na atenção médico‑hospitalar de complexidade crescente.

• Houve a diminuição do crescimento econômico com a respectiva repercussão na arrecadação do


sistema previdenciário, reduzindo as suas receitas.

• Revelou‑se, também, a incapacidade do sistema em atender a uma população cada vez maior de
pessoas sem carteira assinada e contribuição previdenciária, que foram excluídas do sistema.

• A esse quadro, acrescentam‑se os desvios de verba do sistema previdenciário para cobrir despesas
de outros setores e para a realização de obras por parte do Governo Federal.

• Finalmente, todo esse quadro de crise foi agravado pelo não repasse da União de recursos do
Tesouro Nacional para o sistema previdenciário, assumindo, assim, a condição de inadimplente no
custeio tripartite do sistema (empregador, empregado e União).

Assim, o modelo entrou em crise, principalmente pelas seguintes razões:

• escassez de recursos para a sua manutenção;

• aumento dos custos operacionais;

• descrédito social em resolver a agenda da saúde.


27
Unidade I

Veja a seguir os principais eventos de saúde na década de 1970:

• 1971

— Instituição do Plano Nacional de Controle da Poliomielite.

— Criação da Central de Medicamentos (Ceme).

— Início da organização do sistema de produção e distribuição de medicamentos essenciais,


inclusive produtos imunobiológicos.

• 1975

— Realização da Campanha Nacional de Vacinação contra a meningite meningocócica.

— Início da implantação do sistema nacional de registro de doses de vacinas aplicadas.

• 1976

— Regulamentação da Lei Federal n. 6.259/75, que dispôs sobre a organização das Ações de
Vigilância Epidemiológica e o Programa Nacional de Imunizações e estabeleceu normas
relativas à notificação compulsória de doenças.

— Implantação do Sistema de Informações sobre Mortalidade.

— Estabelecimento das doenças de notificação compulsória.

— Implantação do sistema nacional de vigilância de casos suspeitos de poliomielite.

— Criação da Secretaria Nacional de Ações Básicas de Saúde (SNABS) e a Secretaria Nacional de


Programas Especiais de Saúde (SNPES).

— Realização da Campanha de Vacinação contra a Meningite Meningocócica (Sucam e FSESP).

• 1977

— Registro das últimas ocorrências de casos de varíola no mundo.

— Definição das vacinas obrigatórias para os menores de um ano em todo o território nacional.

• 1979

— Certificação, pela OMS, da erradicação global da varíola.

— Implantação, pela Fiocruz, do concentrado viral para diluição da vacina contra sarampo.

28
POLÍTICAS DE SAÚDE

• 1980

— Extinção da obrigatoriedade da vacinação contra a varíola.

— Lançamento do Plano de Ação contra a Poliomielite, estabelecendo a campanha nacional com


os dias nacionais de vacinação e demonstração do impacto epidemiológico dos dias nacionais
de vacinação contra a poliomielite, realizados em 14 de junho e 16 de agosto, pela drástica
redução da incidência da doença, em todas as regiões do país.

Para tentar conter custos e combater fraudes, o governo criou o Conselho Consultivo de
Administração da Saúde Previdenciária (Conasp), ligado ao Inamps, que passou a absorver em postos
de importância alguns profissionais da área técnica ligados ao movimento sanitário, o que permitiu dar
início à ruptura, por dentro, da dominância dos anéis burocráticos previdenciários.

Com a adoção da nova estratégia, iniciou‑se uma fiscalização mais rigorosa da prestação de contas
dos prestadores de serviços credenciados, combatendo‑se as fraudes. O plano propunha, também, a
reversão gradual do modelo médico‑assistencial, visando:

• aumento da produtividade do sistema;

• melhoria da qualidade da atenção;

• equalização dos serviços prestados às populações urbanas e rurais;

• eliminação da capacidade ociosa do setor público;

• hierarquização;

• criação do domicílio sanitário;

• montagem de um sistema de auditoria médico‑assistencial;

• revisão dos mecanismos de financiamento do FAS.

O Conasp encontrou oposição da Federação Brasileira de Hospitais e de Medicina de Grupo, que via
nessa tentativa a perda da sua hegemonia dentro do sistema e a perda do seu status. Para se mencionar
a forma desses grupos atuarem, basta citar que eles se opuseram e conseguiram derrotar dentro do
governo, com a ajuda de parlamentares, um dos projetos mais interessantes de modelo sanitário, o
Prev‑Saúde, que depois de seguidas distorções acabou por ser arquivado. No entanto, isso não impediu
que o Conasp implantasse e apoiasse projetos pilotos de novos modelos assistenciais, destacando
o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (Piass) no nordeste.

Devido ao agravamento da crise financeira, o sistema redescobriu, quinze anos depois, a existência
do setor público de saúde e a necessidade de se investir nesse setor, que trabalhava com um custo
menor e atendendo a uma grande parcela da população carente de assistência.

29
Unidade I

Assim, em 1983, foram criadas as Ações Integradas de Saúde (AIS), um projeto interministerial
(previdência‑saúde‑educação), visando a um novo modelo assistencial que incorporava o setor público,
procurando integrar ações curativo‑preventivas e educativas ao mesmo tempo.

Nesse contexto, cujo período coincidiu com o movimento de transição democrática, com eleição
direta para governadores e a vitória da oposição em quase todos os estados nas primeiras eleições
democráticas do período, em 1982, a Previdência Social passou a comprar e pagar serviços prestados
por estados, municípios e hospitais filantrópicos, públicos e universitários.

Apenas em meados da década de 1980, com o movimento de redemocratização do país, foram


criadas as condições sociais e políticas necessárias para as mudanças que viriam a seguir e que
foram fortalecidas principalmente pelo movimento pela Reforma Sanitária, até o advento da
VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, quando surgiram as bases para a criação do Sistema
Único de Saúde, o SUS.

O movimento denominado Diretas Já, de 1985, e a eleição de Tancredo Neves para a presidência da
República marcaram o fim do regime militar, gerando diversos movimentos sociais, incluindo a área de
saúde, que culminaram com a criação das Associações dos Secretários de Saúde Estaduais (Conass) ou
Municipais (Conasems).

A partir da grande mobilização nacional por ocasião da realização da VIII Conferência Nacional
de Saúde (Congresso Nacional, 1986) resultaram as bases da reforma sanitária e do Sistema Único
Descentralizado de Saúde (Suds), que depois passaria a se chamar Sistema Único de Saúde (SUS).

Observação

As Diretas Já foram um movimento político democrático com diversas


manifestações populares em muitas cidades brasileiras no ano de 1984
para que ocorressem eleições diretas para presidência da República.
Entretanto, ocorreram eleições indiretas, nas quais o presidente Tancredo
Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral, composto por deputados federais.
Após o adoecimento e morte de Tancredo, assumiu a presidência seu vice,
José Sarney, para um mandato de seis anos, e somente em 1989 houve
eleições diretas para presidente da República. Esses fatos ocorreram
concomitantemente com a eleição da Assembleia Nacional Constituinte
em 1986 e a promulgação da nova Constituição em 1988.

É preciso fazer um pequeno recorte nessa sequência para entender como era o modelo de saúde no
Brasil, um modelo médico neoliberal que procurou se articular naquele momento de crise.

O setor médico privado, que se beneficiou do modelo médico‑privatista durante quinze anos a
partir de 1964, tendo recebido nesse período vultosos recursos do setor público e financiamentos subsidiados,
30
POLÍTICAS DE SAÚDE

cresceu e desenvolveu‑se. A partir do momento em que o setor público entrou em crise, o setor privado
começou a perceber que não poderia mais se manter e se nutrir do setor público e passou a formular
novas alternativas para sua estruturação. Direcionou, então, o seu modelo de atenção médica para
parcelas da população, a classe média e categorias de assalariados e seus dependentes, procurando
através da poupança desses setores sociais organizar uma nova base estrutural. Desse modo, foi
concebido um subsistema de atenção médica supletiva, composto de cinco modalidades assistenciais:

• medicina de grupo;

• cooperativas médicas;

• autogestão;

• seguro‑saúde;

• plano de administração.

Com pequenas diferenças entre si, estas modalidades se baseavam em contribuições mensais dos
beneficiários, em contrapartida pela prestação de determinados serviços. Esses serviços e benefícios
eram pré‑determinados, com prazos de carências, além de específicas exclusões – por exemplo, a não
cobertura do tratamento de doenças infecciosas.

O subsistema de atenção médico‑supletiva cresceu vertiginosamente na década de 1980, de tal


modo que, no ano de 1989, chegou a cobrir 31.140.000 brasileiros, correspondentes a 22% da população
total, e apresentou um volume de faturamento estimado de US$ 2.423.500.000,00 (MENDES, 1993).

Esse sistema baseou‑se num universalismo excludente, beneficiando e fornecendo atenção médica
somente para aquela parcela da população que tinha condições financeiras de arcar com o sistema,
não beneficiando a população como um todo e sem a preocupação de investir em saúde preventiva
e na mudança de indicadores de saúde. Enquanto isso, cabia ao subsistema público atender à grande
maioria da população, que em 1990 era estimada em aproximadamente 120 milhões de brasileiros, com
os minguados recursos dos Governos Federal, Estadual e Municipal.

Mediante a participação efetiva da sociedade e especificamente dos profissionais de saúde


na VIII Conferência Nacional de Saúde, durante a Reforma Sanitária, finalmente em 1988 houve a
promulgação da Constituição Federal, que é a Carta Magna, ou seja, a lei maior do país. Nela ficou
legalmente estabelecido que a saúde pública é um direito de todos e dever do Estado, criando‑se, assim,
as condições necessárias ao surgimento de leis e mecanismos de controle e participação social, para dar
cumprimento aos princípios constitucionais que visavam garantir os direitos sociais e individuais. Assim,
foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS).

Em cumprimento às disposições constitucionais, o Governo Federal editou a Lei Federal n. 8.080, de


19 de setembro de 1990, e a Lei Federal n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, conhecidas como Leis
Orgânicas da Saúde, que regulamentavam o SUS, criado pela Constituição de 1988.

31
Unidade I

Os principais eventos em saúde na década de 1980 são apresentados a seguir:

• 1981

— Execução do Plano de Ação Contra o Sarampo, por intermédio de campanhas estaduais


de vacinação.

— Inauguração do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), da Fiocruz.

• 1984

— A Organização Pan‑Americana da Saúde (Opas) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef) recomendam a adoção da estratégia de dias nacionais de vacinação, que passa a ser
adotada pelos países latino‑americanos.

— Dá‑se, em 1984, a introdução, em alguns estados, da estratégia de multivacinação utilizando


a mobilização para os dias nacionais de vacinação contra a poliomielite.

• 1985

— É instituído o Programa de Controle de Acidentes Ofídicos

— Dá‑se a publicação e distribuição da primeira edição do Guia de Vigilância Epidemiológica.

• 1986

— É aprovado o Plano de Ação para a Erradicação da Poliomielite no Brasil.

— É criado o personagem símbolo da erradicação da poliomielite, o Zé Gotinha, e é publicado o


documento A Marca de um Compromisso.

— É realizada a publicação e distribuição da primeira edição do Manual de Procedimentos


para Vacinação.

• 1987

— Criação do Programa de Desenvolvimento de Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde


(Suds) nos estados, que depois passou a chamar‑se SUS.

• 1988

— Promulgação da Constituição Federal de 1988, criando o Sistema único de Saúde (SUS).

32
POLÍTICAS DE SAÚDE

— Em 1988, o Conselho Nacional de Saúde (CNS), do Ministério da Saúde, publicou a Resolução


n. 01/88, determinando que toda instituição de saúde com pesquisas em seres humanos
credenciada pelo CNS deveria ter um Comitê de Ética em Pesquisa para analisar e autorizar
tais procedimentos e orientar os pesquisadores quanto aos aspectos éticos e de segurança
biológica.

• 1989

— Ocorrência do último caso de poliomielite no Brasil.

— Elaboração do documento PNI 15 anos, uma análise crítica.

— Início do controle da hepatite B, com a realização de vacinação na Amazônia Ocidental.

Saiba mais

A Organização Pan‑Americana da Saúde é o mais antigo organismo


internacional de saúde pública. Criada em 2 de dezembro de 1902, com sede
em Washington, D.C., capital dos Estados Unidos da América, é dedicada
a melhorar as condições de saúde dos países das Américas por meio de
transferência de tecnologia e conhecimento.

Aprofunde seus conhecimentos sobre a organização, acesse:

Disponível em: http://www.paho.org/pt. Acesso em: 4 jan. 2023.

2.1.3 Previdência Social

A Previdência Social constitui instrumento fundamental no conjunto de medidas sociais e protetivas


do trabalhador e de sua família, pois:

• constitui um conjunto de medidas protetivas relacionadas à saúde pública e ao bem‑estar


social, com repercussão não apenas para o beneficiário direto (o trabalhador), mas de sua família
(dependentes), e, por isso, para toda a sociedade, em face dos reflexos dos benefícios legais que
garantem, por exemplo, a aposentadoria e a pensão (proteção e assistência à velhice ou invalidez)
e a indenização temporária ou definitiva (em casos de acidente ou morte);

• constitui, também, um importante e eficaz mecanismo de distribuição de rendas e de política


econômica, na medida em que é financiada por todo o conjunto dos agentes econômicos, de
acordo com suas atividades econômicas, guardando, inclusive, certa proporcionalidade com a
capacidade financeira de cada um deles (empregados e trabalhadores autônomos; pequenas e
médias empresas; as grandes corporações e as instituições financeiras).

33
Unidade I

A Lei Federal n. 4.682, de 24 de janeiro de 1923, é considerada o marco inicial – ou, pelo menos,
a primeira iniciativa realmente importante – na instituição da Previdência Social Pública no Brasil.
Denominada Lei Eloy Chaves em homenagem ao seu criador, instituiu a Caixa de Aposentadoria e
Pensões (CAP) para os empregados (e seus dependentes) das empresas de estrada de ferro.

Lembrete
A Lei Eloy Chaves, publicada em 1923, consolidou a base do sistema
previdenciário brasileiro, com a criação da Caixa de Aposentadorias e
Pensões (CAP) para os empregados das empresas ferroviárias.

Além da aposentadoria (benefício pago ao trabalhador quando se afastava definitivamente do


trabalho por idade, tempo de serviço ou invalidez) e pensão (paga aos dependentes do trabalhador após
sua morte), as Caixas concediam, também, assistência médica, aproximando, por isso, aquele sistema
das regras previdenciárias atuais.

As CAPs foram, em seguida, estendidas aos demais trabalhadores (empregados do serviço público,
serviços portuários, serviços telegráficos, de água, energia, transporte aéreo e mineração, entre
tantos outros), mas tinham basicamente duas limitações que dificultavam sua abrangência para
todos os trabalhadores: eram organizadas apenas por empresas (e não por categorias profissionais)
e não se estendiam aos trabalhadores rurais (condição imposta pela classe política dominante, para
aprovação da lei).

O fato de serem limitadas no âmbito das empresas impedia que as CAPs tivessem segurados em
quantidade suficiente e pudessem captar recursos em volume, permitindo o funcionamento eficiente
das Caixas criadas. Por isso, com a crescente urbanização, a evolução da organização dos trabalhadores
(inclusive com a participação dos trabalhadores imigrantes europeus) e a industrialização (ainda que
incipiente) surgiram as condições necessárias para mudanças no sistema, permitindo, assim, a criação dos
Institutos e Aposentadoria e Pensões (IAP), implantados no governo Getúlio Vargas e que correspondiam
a autarquias de extensão nacional, centralizadas pelo Governo Federal.

As CAPs foram fundidas, surgindo, a partir de 1933, os IAPs, nos quais a filiação dos trabalhadores
passou a se dar não mais por empresa, mas por categoria profissional, possibilitando, assim, o crescimento
do sistema previdenciário. Em sequência foram, então, sendo criados os IAPs dos marítimos, dos
comerciários, dos bancários e dos industriários, dos servidores do Estado, dos empregados do transporte
e cargas, entre outros.

Lembrete
Em junho de 1933 foi criado o primeiro Instituto de Aposentadoria e
Pensões (IAP), que passou a organizar as contribuições dos trabalhadores
por categoria profissional, enquanto nas extintas CAPs eram organizadas por
empresas.
34
POLÍTICAS DE SAÚDE

Os IAPs também apresentavam problemas: havia diferenças entre os sistemas de benefícios dos vários
IAPs, criando dificuldades de adaptação quando os trabalhadores mudavam de categoria profissional,
alterando a filiação previdenciária, ao migrarem de um para outro instituto.

Eles foram finalmente uniformizados com a edição da Lei Federal n. 3.807, de 26 de agosto de 1960
(chamada de Lei Orgânica da Previdência Social), que uniformizou os planos de prestação e de custeio
e as estruturas administrativas dos IAPs, o que, na prática, resultou na uniformização dos diferentes
regimes de Previdência Social então existentes no Brasil (exceto para os funcionários públicos e militares).

Na sequência, em 21 de novembro de 1966, foi editado o Decreto‑lei n. 72, que reuniu os IAPs
existentes e criou o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

A Lei Complementar n. 11, de 25 de maio de 1971, instituiu o Programa de Assistência do Trabalhador


Rural (Prorural). Em 1975, a Previdência Social foi estendida aos trabalhadores rurais e a seus
dependentes, sendo, também, garantido o seguro de acidentes do trabalho.

Com a criação, em 1974, do Ministério da Previdência e Assistência Social, em 1º de maio de 1974,


a Previdência Social finalmente atingiu a condição de Ministério (até então vinculado ao Ministério do
Trabalho e Previdência Social).

Nessa época, os serviços de saúde pública, previdência social e assistência social enfrentavam
grandes dificuldades de administração, organização e racionalização, pois estavam distribuídos entre
vários órgãos:

• Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que era responsável:

— pelo pagamento dos benefícios em dinheiro;

— pela prestação de assistência médica e outros serviços aos trabalhadores urbanos e seus
dependentes;

— pela arrecadação das contribuições devidas pelos segurados e empregadores.

• Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), cujas atribuições, extensíveis aos


trabalhadores e empregadores rurais, e seus dependentes, eram:

— concessão de benefícios pecuniários;

— prestação de assistência médica e outros serviços.

• Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (Ipase), que prestava


assistência médica aos funcionários públicos federais e da pensão e outros benefícios pecuniários
para os seus dependentes.

35
Unidade I

Observação

A aposentadoria dos funcionários públicos federais era paga diretamente


pelos cofres públicos, independentemente de suas contribuições.

• Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA), encarregada da:

— prestação de assistência à maternidade, à infância e à adolescência;

— assistência social em geral aos grupos carentes da população.

• Fundação Nacional do Bem‑Estar do Menor (Funabem), com a finalidade de implementar a


Política Nacional de Bem‑Estar do Menor, através da elaboração de diretrizes políticas e técnicas,
sendo criadas, a nível estadual, as Febem, órgãos executivos responsáveis pela prática das
orientações elaboradas pela Funabem, através do atendimento direto dos menores.

• Central de Medicamentos (Ceme), encarregada do fornecimento subsidiado ou gratuito de


medicamentos, principalmente aos beneficiários da Previdência Social.

• Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (Dataprev), responsável pela


prestação de serviços na área de informática para a Previdência Social Pública.

Com a Lei n. 6.439, de 1º de setembro de 1977, foi instituído o Sistema Nacional de Previdência e
Assistência Social (Sinpas), que determinou as seguintes mudanças no sistema:

• criou o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) e o Instituto de


Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (Iapas);

• extinguiu o Funrural e o Ipase;

• promoveu alterações no INPS, retirando as atribuições relativas à prestação da assistência médica


e à arrecadação de contribuições, e conferindo‑lhe as atribuições relativas aos pagamentos, então
a cargo do Funrural e do Ipase;

• realizou mudanças nas atribuições da LBA;

• criou o Fundo de Previdência e Assistência Social (FPAS).

Em razão dessas medidas, o Sinpas, vinculado e administrado pelo Ministério da Previdência e


Assistência Social, foi constituído pelos seguintes órgãos, com as respectivas atribuições:

36
POLÍTICAS DE SAÚDE

• Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), com as atribuições de conceder e dar


manutenção aos benefícios (prestações em dinheiro), inclusive em casos de acidente do trabalho,
compreendendo a Previdência Social urbana, a rural, a dos funcionários públicos federais e aos
maiores de 70 anos e inválidos.

• Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), com as atribuições


de prestar serviços de:

— assistência médica aos trabalhadores urbanos e rurais, funcionários públicos estatutários e


dependentes, além dos maiores de 70 anos e inválidos, no gozo do recebimento da renda
mensal vitalícia;

— execução dos programas especiais de assistência médica antes mantidos pela LBA e destinados
às populações carentes (beneficiárias ou não da Previdência Social, em determinadas regiões,
mediante convênios com entidades públicas que assegurem ao Inamps os recursos necessários).

• Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA), cujas atribuições passaram a ser:

— prestação de serviços de Assistência Social à população carente, mediante programas de


desenvolvimento social e de atendimento às pessoas, independentemente da vinculação destas
a outra entidade do Sinpas;

— prestação de serviços de assistência complementar, não prestados pelo INPS ou pelo Inamps
aos seus beneficiários.

• Fundação Nacional para o Bem‑Estar do Menor (Funabem), responsável pela promoção da


Política Nacional do Menor.

• Central de Medicamentos (Ceme), responsável por:

— distribuição de medicamentos, gratuitamente ou a baixo custo, principalmente a beneficiários


da Previdência Social;

— realização de atividades de estímulo à pesquisa científica com subsídios a entidades de pesquisa


na área farmacêutica.

Observação

O Ceme não constituía uma entidade do Sinpas, mas um órgão


autônomo do Ministério da Previdência e Assistência Social.

37
Unidade I

• Instituto de Administração Financeira de Previdência e Assistência Social (Iapas), que


assumiu as atribuições do INPS, Funrural, Ipase e demais entidades que integravam o Sinpas, como:

— arrecadar, cobrar e fiscalizar as contribuições devidas àquelas entidades;

— administrar os recursos das entidades do Sinpas de acordo com o Plano Plurianual de Custeio,
inclusive as aplicações patrimoniais e financeiras aprovadas pelo colegiado que administra o
respectivo Fundo.

Quadro 3

Órgão Função
Instituto Nacional da Previdência Social (INPS) Conceder e controlar a manutenção de benefícios
Instituto de Administração Financeira da Previdência Arrecadar, fiscalizar e cobrar as contribuições
Social (Iapas) previdenciárias
Instituto Nacional de Assistência Médica da Prestar assistência médica
Previdência Social (Inamps)
Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Funabem) Prestar assistência ao bem-estar do menor
Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA) Prestar assistência às pessoas carentes
Central de Medicamentos (Ceme) Distribuir medicamentos às pessoas carentes
Empresa de Processamento de Dados da Previdência Prestar o serviço de processamento de dados
Social (Datapreve)

Finalmente, ainda no âmbito do sistema previdenciário e antes do advento da Constituição Federal


de 1988, foi editado o Decreto‑lei n. 2.283, de 27 de fevereiro de 1986 (revogado e substituído pelo
Decreto‑lei n. 2.284, de 10 de março de 1986), que instituiu o seguro‑desemprego.

Em 1988, foi promulgada a Constituição Federal. Como já exposto, foram definidas disposições
específicas (artigos 194 a 204), abrangendo exatamente as três áreas integrantes da seguridade social
(saúde pública, previdência social e assistência social).

Seguiu‑se, então, a chamada reforma administrativa, sendo editado o Decreto n. 99.350, de 27 de


junho de 1990, que unificou o Ministério do Trabalho e o da Previdência e Assistência Social, sendo
criado o Ministério do Trabalho e da Previdência Social (MTPS).

Ao MTPS foram vinculados a Dataprev e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), organizado
na forma de autarquia, resultante da fusão do Iapas e do INPS, assumindo as atribuições de arrecadar e
cobrar as contribuições, bem como de pagar os benefícios.

Em seguida, em 24 de julho de 1991, foram publicadas duas leis fundamentais ao funcionamento da


Previdência Social (e que se encontram ainda vigentes):

• Lei Federal n. 8.212/1991, que dispõe sobre a organização e o custeio da Previdência Social;

• Lei Federal n. 8.213/1991, que dispõe os benefícios da Previdência Social.

38
POLÍTICAS DE SAÚDE

Desse modo, foram ocorrendo mudanças que deram os atuais contornos à seguridade social no
Brasil após a Constituição de 1988:

• Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes
e cria o SUS.

• Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão
do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde.

• Lei n. 8.689, de 27 de julho de 1993, que extinguiu o Inamps, transferindo as atribuições do


órgão para o SUS.

• Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a Assistência Social, instituindo o Fundo
Nacional de Assistência Social.

• Lei n. 9.649, de 27 de maio de 1998 (conversão da Medida Provisória n. 1.651‑43/1998), que


extinguiu a LBA e o Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência (CBIA), sucessor da Funabem.

• Lei n. 9.876, de 26 de novembro de 1999, que promoveu alterações nas Leis n. 8.212/1991 e
8.213/1991 e criou o “fator previdenciário”.

• Lei n. 9.983, de 14 de julho de 2000, que promoveu alterações no Código Penal, instituindo tipos
penais relacionados à Previdência Social e à atuação dos agentes públicos.

• Lei Complementar n. 108 e Lei Complementar n. 109, de 29 de maio de 2001, que tratam da
previdência complementar.

• Lei n. 10.666, de 8 de maio de 2003, que dispõe sobre a concessão da aposentadoria especial ao
cooperado de cooperativa de trabalho ou de produção.

• Lei n. 10.683, de 28 de maio de 2003 (conversão da Medida Provisória n. 103, de 1º de janeiro de


2003), que reestruturou a administração pública, passando o MPAS a se denominar Ministério
da Previdência Social (MPS), e a Assistência Social passou para o Ministério da Assistência e
Promoção Social (atualmente Ministério da Cidadania).

• Emenda Constitucional n. 41, de 19 de dezembro de 2003, que, em relação ao Regime Próprio de


Previdência Social (RPPS), referente aos funcionários públicos federais:

— criou subtetos e determinou o fim da integralidade e paridade entre os servidores públicos


ativos e os inativos;

— criou também um redutor para pensões;

— instituiu a contribuição de inativos, pensionistas e criou o abono de permanência.


39
Unidade I

• Emenda Constitucional n. 47, de 5 de julho de 2005, com alterações basicamente no regime


previdenciário dos funcionários públicos (alterações na Emenda Constitucional n. 41/2003).

• Lei n. 11.457, de 16 de março de 2007, que transferiu para a Secretaria da Receita Federal do
Brasil (SRFB) a competência para arrecadar e fiscalizar as contribuições previdenciárias.

• Decreto n. 6.214, de 26 de setembro de 2007, regulamentando o benefício de prestação continuada


da Assistência Social devido à pessoa com deficiência e ao idoso de que trata a Lei n. 8.742/1993.

• Lei Complementar n. 142, de 8 de maio de 2013, que regulamenta o § 1º do artigo 201 da


Constituição Federal, no tocante à aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime
Geral de Previdência Social (RGPS).

• Lei Complementar n. 150, de 1º de junho de 2015, que dispõe sobre o contrato de trabalho do
empregado doméstico.

• Lei n. 13.183, de 4 de novembro de 2015, que:

— trata da associação do segurado especial em cooperativa de crédito rural;

— assegura pagamento do seguro‑defeso para familiar que exerça atividade de apoio à pesca;

— estabelece regra de inscrição no regime de previdência complementar dos servidores públicos


federais titulares de cargo efetivo;

— dispõe sobre o pagamento de empréstimos realizados por participantes e assistidos com


entidades fechadas e abertas de previdência complementar.

2.1.4 Assistência social

A alteridade, a solidariedade, a caridade e a benemerência constituem práticas históricas, sempre


ligadas à ideia de que se deve prestar auxílio aos incapazes e aos mais pobres, mas apenas no século XX
assumiu, no Brasil, a condição de política pública de solidariedade social. Tanto é que, pelo menos até
1930, a pobreza não era entendida como uma questão social, mas sim “caso de polícia”. Somente em
1938 foi criado o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), ligado ao Ministério da Educação e Saúde,
constituindo a primeira iniciativa brasileira, no âmbito da organização da Assistência Social.

Contando com o apoio da Federação das Associações Comerciais e da Confederação Nacional da


Indústria, a primeira grande instituição de Assistência Social foi a Legião Brasileira de Assistência (LBA),
fundada em 28 de agosto de 1942, pela então primeira‑dama Darcy Vargas, para prestar assistência
e apoio às famílias dos expedicionários brasileiros (os soldados enviados à Segunda Guerra Mundial,
conhecidos como “pracinhas”).

40
POLÍTICAS DE SAÚDE

A LBA, que tradicionalmente era presidida pelas primeiras‑damas, foi instalada no Rio de Janeiro,
então capital do país, e com o fim da guerra, passou a prestar assistência às famílias necessitadas
em geral, tendo sido, com o Decreto‑lei n. 593/1969, transformada de sociedade civil em fundação,
passando a adotar o nome Fundação Legião Brasileira de Assistência, mas mantendo a sigla LBA e se
vinculando ao Ministério do Trabalho e Previdência Social.

Durante o regime militar, sob o governo do general Ernesto Geisel, foi criado, em 1º de maio de 1974,
o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), que tinha, em sua estrutura, uma Secretaria de
Assistência Social, de caráter consultivo e que viria, na época, a se constituir em importante órgão na
formulação de política de combate à pobreza.

Na sequência, através da Lei Federal n. 6.439, de 1º de setembro de 1977, a LBA foi transferida para
o Ministério da Previdência e Assistência Social.

Coube à Constituição Federal de 1988 elevar a assistência social à condição de Política Social
Nacional, colocando‑a, juntamente à saúde pública e a previdência social, como componente da
seguridade social. atualmente, as questões de assistência social são desenvolvidas pelo Ministério
da Cidadania.

Veja a seguir o desenvolvimento da legislação em Assistência Social após a Constituição de 1988:

• Lei n. 7.853, de 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência e sua
integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência (Corde),
institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação
do Ministério Público, define crimes e dá outras providências.

• Decreto n. 99.244, de 10 de maio de 1990, através do qual a LBA passa a se vincular ao Ministério
da Ação Social.

• Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.

• Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social
(é denominada Lei Orgânica da Assistência Social), tendo suas disposições regulamentadas pelo
Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999 (Regulamento da Previdência Social), pelo Decreto
n. 6.214, de 26 de setembro de 2007 (que trata do benefício de prestação continuada da
Assistência Social devido à pessoa com deficiência e ao idoso de que trata a Lei n. 8.742, de
7 de dezembro de 1993 e a Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003; e acresce parágrafo ao
artigo 162 do Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999), e pelo Decreto n. 7.788, de 15 de agosto
de 2012 (regulamento do Fundo Nacional de Assistência Social).

• Lei n. 8.160, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a caracterização de símbolo que permita a
identificação de pessoas com deficiência auditiva.

41
Unidade I

• Lei n. 8.842, de 4 de janeiro de 1994, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso e cria o
Conselho Nacional do Idoso.

• Medida Provisória n. 813, de 1º de janeiro de 1995 (várias vezes reeditada, até finalmente ser
convertida na Lei n. 9.649, de 27 de maio de 1998), que extinguiu a LBA.

• Lei n. 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dispõe sobre a prioridade de atendimento para
idosos e pessoas com deficiência.

• Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso.

• Lei n. 10.836, de 9 de janeiro de 2004 (conversão da Medida Provisória n. 132/2003), que cria o
Programa Bolsa Família, atualmente chamado de Auxílio Brasil.

• Lei n. 12.852, de 5 de agosto de 2013, que institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os
direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema
Nacional de Juventude (Sinajuve).

• Resolução n. 145, de 15 de outubro de 2004, do CNAS, que aprova a Política Nacional de


Assistência Social.

Saiba mais

Os documentários a seguir podem propiciar um contexto histórico e


político dos conteúdos desta unidade:

A HISTÓRIA da saúde pública no Brasil – 500 anos na busca de soluções.


Direção: Sylvia Jardim. Brasil: Ministério da Saúde e Fiocruz, 2015. 17 min.
Disponível em: https://bityli.com/Qe5QB. Acesso em: 15 dez. 2022.

DOCUMENTÁRIO: SUS – 30 ANOS. Direção: Henrique Siqueira. Brasil:


Conselho Federal de Enfermagem, 2018. 20 min. Disponível em:
https://bityli.com/gIskJ. Acesso em: 15 dez. 2022.

Em resumo, a saúde pública no Brasil, sob a perspectiva histórica, pode ser dividida em três grandes
etapas:

• Do descobrimento até 1923 (Lei Eloy Chaves): este período é basicamente caracterizado
pela centralização e pela desorganização administrativa, iniciado com o descobrimento do
Brasil, passando pelo Período Colonial e pelo Império, até chegar ao início da República. São, de
qualquer forma, dignas de notas (e louvor) algumas das iniciativas adotadas nesse período.

42
POLÍTICAS DE SAÚDE

Mas, de qualquer modo, as medidas de saúde pública implementadas traziam sempre a marca
das iniciativas isoladas, nem sempre concatenadas entre si, fundamentadas basicamente na
filantropia.

• De 1923 a 1988 (promulgação da Constituição Federal): com o advento da Lei Eloy Chaves,
em 1923 (quando foram criadas as Caixas de Aposentadoria e Pensão), seguidas (e substituídas)
pelos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP), estes seriam substituídos (em 1960) pelo
INPS, paralelamente à criação do Ministério da Saúde (em 1953, com suas finalidades mais bem
definidas em 1967) e o Sistema Nacional de Saúde (em 1975). O sistema de saúde público foi
adotando contornos vinculados às políticas de previdenciárias, inclusive quanto à parte de seu
custeio e manutenção.

• De 1988 aos dias atuais (vigência da Constituição Federal): assim, somente com o
advento da Constituição Federal, em 1988, sucedida pela legislação complementar (Lei
n. 8.080/1990, Lei n. 8.142/1990, Emenda Constitucional n. 29/2000, Decreto n. 7.508/2011 e
Lei Complementar n. 141/2012) é que, finalmente, foram traçadas as bases legais atuais de
funcionamento do SUS.

3 SEGURIDADE SOCIAL NA ATUALIDADE: COMPOSIÇÃO E NORMATIZAÇÃO

3.1 Seguridade Social

A Constituição Federal de 1988, ao tratar do Título VIII (da Ordem Social), divide‑o em nove
capítulos, dedicando o capítulo II à seguridade social, subdividindo‑o nas Seções I (Disposições
Gerais – artigos 194 e 195), e II (Da Saúde – artigos 196 a 200), III (Da Previdência Social – artigos 201
e 202) e IV (Da Assistência Social – artigos 203 e 204) (BRASIL, 1988). Esta estrutura é adotada pela
Constituição Federal justamente porque a saúde pública, a previdência social e a assistência social são
três componentes da seguridade social.

Efetivamente, a Constituição Federal dispõe sobre a seguridade social:

Art. 194. A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações


de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os
direitos relativos à Saúde, à Previdência e à Assistência Social.

Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a


Seguridade Social, com base nos seguintes objetivos:

I – universalidade da cobertura e do atendimento;

II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações


urbanas e rurais;

III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;


43
Unidade I

IV – irredutibilidade do valor dos benefícios;

V – equidade na forma de participação no custeio;

VI – diversidade da base de financiamento;

VII – caráter democrático e descentralizado da administração, mediante


gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores,
dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela
Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

Art. 195. A Seguridade Social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais:

I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma


da lei, incidentes sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 20,
de 1998)

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados,


a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998)

b) a receita ou o faturamento; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 20,


de 1998)

c) o lucro; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998)

II – do trabalhador e dos demais segurados da Previdência Social, não


incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo
regime geral de Previdência Social de que trata o art. 201; (Redação dada
pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998)

III – sobre a receita de concursos de prognósticos;

IV – do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele


equiparar. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 42, de 19.12.2003)

§ 1º – As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas


à Seguridade Social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando
o orçamento da União.

44
POLÍTICAS DE SAÚDE

§ 2º – A proposta de orçamento da Seguridade Social será elaborada de


forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, Previdência Social
e Assistência Social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas
na lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada área a gestão
de seus recursos.

§ 3º – A pessoa jurídica em débito com o sistema da Seguridade Social, como


estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.

§ 4º – A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção


ou expansão da Seguridade Social, obedecido ao disposto no art. 154, I.

§ 5º – Nenhum benefício ou serviço da Seguridade Social poderá ser criado,


majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total.

§ 6º – As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas


após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver
instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art.150, III, “b”.

§ 7º – São isentas de contribuição para a Seguridade Social as entidades


beneficentes de Assistência Social que atendam às exigências estabelecidas
em lei.

§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador


artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades
em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão
para a Seguridade Social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o
resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos
termos da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo


poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da
atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da
empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho. (Redação dada
pela Emenda Constitucional n. 47, de 2005.)

§ 10. A lei definirá os critérios de transferência de recursos para o sistema


único de saúde e ações de Assistência Social da União para os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, e dos Estados para os Municípios, observada
a respectiva contrapartida de recursos. (Incluído pela Emenda Constitucional
n. 20, de 1998.)

§ 11. É vedada a concessão de remissão ou anistia das contribuições


sociais de que tratam os incisos I, a, e II deste artigo, para débitos em

45
Unidade I

montante superior ao fixado em lei complementar. (Incluído pela Emenda


Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as


contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não
cumulativas. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 42, de 19.12.2003.)

§ 13. Aplica‑se o disposto no § 12 inclusive na hipótese de substituição


gradual, total ou parcial, da contribuição incidente na forma do inciso I,
a, pela incidente sobre a receita ou o faturamento. (Incluído pela Emenda
Constitucional n. 42, de 19.12.2003) (BRASIL, 1988).

A CF, no caput do seu artigo 194, define seguridade social e a desdobra em três componentes:

• saúde pública;

• previdência social;

• assistência social.

Nos seus incisos I a VII, a Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabelece as diretrizes que orientam
os mecanismos da seguridade social:

• universalidade da cobertura e do atendimento;

• uniformidade e equivalência dos serviços, independentemente de onde se encontre instalado o


beneficiário (na cidade ou no campo);

• seletividade e distributividade.

• administração democrática, descentralizada e quadripartite – que se encontram presentes


na implantação e gestão dos órgãos que prestam os serviços, de saúde, assistenciais ou
previdenciários.

Ainda dispondo sobre seguridade social, a Constituição Federal, na sequência, no seu artigo 195,
trata, em linhas gerais, do seu financiamento e transfere à lei a prerrogativa da definição dos critérios
de transferência dos recursos para as ações de Assistência Social e para o Sistema Único de Saúde (que
é mencionado pela primeira vez e de forma expressa).

3.2 Saúde pública

A saúde pública é a primeira componente da seguridade social e tem suas diretrizes especificamente
expressas nos artigos 196 a 200 da CF:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de

46
POLÍTICAS DE SAÚDE

outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para


sua promoção, proteção e recuperação.

Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo


ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação,
fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou
através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede


regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado
de acordo com as seguintes diretrizes:

I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,


sem prejuízo dos serviços assistenciais;

III – participação da comunidade.

§ 1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com
recursos do orçamento da Seguridade Social, da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (Parágrafo único
renumerado para § 1º pela Emenda Constitucional n. 29, de 2000.)

§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão,


anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursos mínimos
derivados da aplicação de percentuais calculados sobre: (Incluído pela
Emenda Constitucional n. 29, de 2000)

I – no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar


prevista no § 3º; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 29, de 2000)

II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação


dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os
arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que
forem transferidas aos respectivos Municípios; (Incluído pela Emenda
Constitucional n. 29, de 2000)

III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação


dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os
arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º. (Incluído pela Emenda Constitucional
n. 29, de 2000.)

47
Unidade I

§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos,
estabelecerá: (Incluído pela Emenda Constitucional n. 29, de 2000)

I – os percentuais de que trata o § 2º; (Incluído pela Emenda Constitucional


n. 29, de 2000)

II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados


aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados
a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das
disparidades regionais; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 29, de 2000)

III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde


nas esferas federal, estadual, distrital e municipal; (Incluído pela Emenda
Constitucional n. 29, de 2000)

IV – as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União. (Incluído


pela Emenda Constitucional n. 29, de 2000.)

§ 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes


comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de
processo seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de suas
atribuições e requisitos específicos para sua atuação. (Incluído pela Emenda
Constitucional n. 51, de 2006.)

§ 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional


nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação
das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às
endemias, competindo à União, nos termos da lei, prestar assistência
financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,
para o cumprimento do referido piso salarial.

§ 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º do art. 169


da Constituição Federal, o servidor que exerça funções equivalentes às de
agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá
perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos,
fixados em lei, para o seu exercício. (Incluído pela Emenda Constitucional
n. 51, de 2006.)

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§ 1º – As instituições privadas poderão participar de forma complementar


do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de
direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e
as sem fins lucrativos.
48
POLÍTICAS DE SAÚDE

§ 2º – É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções


às instituições privadas com fins lucrativos.

§ 3º – É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou


capitais estrangeiros na assistência à saúde no país, salvo nos casos
previstos em lei.

§ 4º – A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção


de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e
tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue
e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização (BRASIL, 1988).

No artigo 200, os parágrafos 1º a 6º tratam das fontes e regras de financiamento do sistema único de
saúde. E nos seus incisos I a VIII enumera as competências do serviço único de saúde, e prevê também a
possibilidade de que a lei estabeleça outras atribuições. Enquanto o artigo 199 prevê a possibilidade da
atuação da iniciativa privada na saúde pública, segundo as condições que estabelece.

Lembrete

Saúde é um estado de completo bem‑estar físico, mental e social, que


consiste não apenas na ausência de doença ou de enfermidade.

3.3 Previdência Social

A Previdência Social, a segunda componente da seguridade social, foi contemplada pela CF com as
seguintes disposições:

Art. 201. A Previdência Social será organizada sob a forma de regime geral,
de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
(Redação dada pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998)

I – cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;


(Redação dada pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998)

II – proteção à maternidade, especialmente à gestante; (Redação dada pela


Emenda Constitucional n. 20, de 1998)

III – proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;


(Redação dada pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998)

49
Unidade I

IV – salário‑família e auxílio‑reclusão para os dependentes dos


segurados de baixa renda; (Redação dada pela Emenda Constitucional
n. 20, de 1998)

V – pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou


companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º. (Redação dada
pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão


de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de Previdência Social,
ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de segurados
portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar.
(Redação dada pela Emenda Constitucional n. 47, de 2005.)

§ 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o


rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário
mínimo. (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 3º Todos os salários de contribuição considerados para o cálculo de


benefício serão devidamente atualizados, na forma da lei. (Redação dada
pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 4º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar‑lhes,


em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei.
(Redação dada pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 5º É vedada a filiação ao regime geral de Previdência Social, na


qualidade de segurado facultativo, de pessoa participante de regime
próprio de Previdência. (Redação dada pela Emenda Constitucional
n. 20, de 1998.)

§ 6º A gratificação natalina dos aposentados e pensionistas terá por base o


valor dos proventos do mês de dezembro de cada ano. (Redação dada pela
Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de Previdência Social,


nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições: (Redação dada pela
Emenda Constitucional n. 20, de 1998)

I – trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de


contribuição, se mulher; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998)

50
POLÍTICAS DE SAÚDE

II – sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade,


se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais
de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de
economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o
pescador artesanal. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998)

§ 8º Os requisitos a que se refere o inciso I do parágrafo anterior serão


reduzidos em cinco anos, para o professor que comprove exclusivamente
tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil
e no ensino fundamental e médio. (Incluído pela Emenda Constitucional
n. 20, de 1998.)

§ 9º Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do


tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada,
rural e urbana, hipótese em que os diversos regimes de Previdência Social
se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei.
(Incluído pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 10. Lei disciplinará a cobertura do risco de acidente do trabalho, a ser


atendida concorrentemente pelo regime geral de Previdência Social e pelo
setor privado. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados


ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente
repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei. (Incluído pela
Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 12. Lei disporá sobre sistema especial de inclusão previdenciária para


atender os trabalhadores de baixa renda e àqueles sem renda própria que
se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua
residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda, garantindo‑lhes
acesso a benefícios de valor igual a um salário mínimo. (Redação dada pela
Emenda Constitucional n. 47, de 2005.)

§ 13. O sistema especial de inclusão previdenciária de que trata o § 12


deste artigo terá alíquotas e carências inferiores às vigentes para os demais
segurados do regime geral de Previdência Social. (Incluído pela Emenda
Constitucional n. 47, de 2005.)

Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e


organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de Previdência
Social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o
benefício contratado, e regulado por lei complementar. (Redação dada pela
Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)
51
Unidade I

§ 1° A lei complementar de que trata este artigo assegurará ao participante


de planos de benefícios de entidades de previdência privada o pleno acesso
às informações relativas à gestão de seus respectivos planos. (Redação dada
pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 2° As contribuições do empregador, os benefícios e as condições


contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios
das entidades de previdência privada não integram o contrato de trabalho
dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não
integram a remuneração dos participantes, nos termos da lei. (Redação dada
pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 3º É vedado o aporte de recursos à entidade de previdência privada pela


União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, fundações,
empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades
públicas, salvo na qualidade de patrocinador, situação na qual, em hipótese
alguma, sua contribuição normal poderá exceder a do segurado. (Incluído
pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 4º Lei complementar disciplinará a relação entre a União, Estados, Distrito


Federal ou Municípios, inclusive suas autarquias, fundações, sociedades
de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente,
enquanto patrocinadoras de entidades fechadas de previdência privada, e
suas respectivas entidades fechadas de previdência privada. (Incluído pela
Emenda Constitucional n. 20, de 1998.)

§ 5º A lei complementar de que trata o parágrafo anterior aplicar‑se‑á,


no que couber, às empresas privadas permissionárias ou concessionárias
de prestação de serviços públicos, quando patrocinadoras de entidades
fechadas de previdência privada. (Incluído pela Emenda Constitucional
n. 20, de 1998.)

§ 6º A lei complementar a que se refere o § 4° deste artigo estabelecerá


os requisitos para a designação dos membros das diretorias das entidades
fechadas de previdência privada e disciplinará a inserção dos participantes
nos colegiados e instâncias de decisão em que seus interesses sejam objeto
de discussão e deliberação. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 20, de
1998) (BRASIL, 1988).

52
POLÍTICAS DE SAÚDE

3.4 Assistência social

Finalmente, a Constituição Federal, ao tratar da assistência social, a terceira componente da


seguridade social, determinou:

Art. 203. A Assistência Social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à Seguridade Social, e tem por objetivos:

I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

II – o amparo às crianças e adolescentes carentes;

III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;

IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a


promoção de sua integração à vida comunitária;

V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora


de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à
própria manutenção ou de tê‑la provida por sua família, conforme dispuser
a lei.

Art. 204. As ações governamentais na área da Assistência Social serão


realizadas com recursos do orçamento da Seguridade Social, previstos no art.
195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes:

I – descentralização político‑administrativa, cabendo a coordenação e as


normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos
programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades
beneficentes e de Assistência Social;

II – participação da população, por meio de organizações representativas, na


formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis.

Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a


programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por
cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no
pagamento de: (Incluído pela Emenda Constitucional n. 42, de 19.12.2003)

I – despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído pela Emenda


Constitucional n. 42, de 19.12.2003)

II – serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 42, de


19.12.2003)
53
Unidade I

III – qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos


investimentos ou ações apoiados. (Incluído pela Emenda Constitucional
n. 42, de 19.12.2003) (BRASIL, 1988).

É importante estabelecer a relação entre a saúde pública, a previdência social e a assistência social
enquanto mecanismos integrantes da seguridade social e inseri‑las no contexto da Constituição Federal,
pois os funcionamentos dos correspondentes mecanismos de políticas públicas se darão exatamente
com base nestas disposições constitucionais. Assim, ao tratarmos das políticas de saúde pública, será
sempre possível analisá‑las sob a perspectiva das disposições constitucionais e inseri‑las no conjunto
das diretrizes que orientam a seguridade social. Nesse contexto, qualquer discussão acerca desse tema
terá na Constituição Federal os parâmetros e diretrizes a serem observados e seguidos.

4 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)

Você já percebeu que usa o SUS o tempo todo? Erra quem considera o SUS apenas atendimento.

Vamos compreender o SUS com toda a sua grandeza, na atenção ao cidadão, incluindo as
características sanitárias e de vigilância epidemiológica. Quer exemplos?

• Ao receber uma vacina na rede pública de saúde, você está usando o SUS.

• Todas as vezes que você come alguma coisa, você está usando o SUS, pois alguém fiscalizou o
alimento que você come, concorda?

• Todo medicamento que você ingere, a água que você consome, o lixo que é produzido e descartado,
as suas opções de lazer, os cuidados no tratamento de água e esgoto e a coleta de lixo de seu
município, tudo isso é observado pelo SUS.

• Quando uma pessoa vítima de um acidente é atendida pelo Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (Samu), está usando o SUS.

• E quando uma pessoa retira medicamentos, ou faz testes para detecção de HIV, sífilis e hepatites,
ou ainda quando retira preservativos gratuitamente na unidade de saúde, está usando o SUS.

Então, vamos entender melhor o Sistema Único de Saúde?

Quando abordamos o SUS, precisamos diferenciar os termos:

• sistema: significa todas as formas de organização de recursos humanos, materiais e financeiros


que um país possui;

• único: independentemente de qualquer lugar do país, todo o Brasil utiliza um único sistema de
saúde público, que estabelece direitos e conquistas para o país e para todos os brasileiros.

Então, antes das definições e legislação desse sistema, é preciso entender seu contexto histórico.

54
POLÍTICAS DE SAÚDE

4.1 A reforma sanitária brasileira

O fim da década de 1980 foi marcado, no Brasil, por movimentos sociais pela redemocratização do
país e pela melhoria das condições da saúde da população.

Em 1985, foi criada a Nova República e ocorreu a primeira eleição indireta de um presidente não
militar desde 1964. Nessa época, paralelamente, crescia e ganhava representatividade o Movimento
Sanitarista Brasileiro, que correspondia à luta pela reestruturação do nosso sistema de saúde, patrocinado
pelos profissionais de saúde, usuários, políticos e lideranças populares.

É considerada um marco desse movimento a VIII Conferência Nacional de Saúde em Brasília, realizada
em 1986, cujas propostas foram defendidas na Assembleia Nacional Constituinte criada em 1987.

A nova Constituição brasileira, promulgada em 1988, incorporou grande parte dessas ideias e
garantiu o direito à saúde para todo cidadão, transformando‑a num dever do Estado, através da criação
de um sistema de acesso universal e igualitário, com ações voltadas para sua promoção, proteção
e recuperação (BRASIL, 1988; PEREIRA et al., 2009).

A Reforma Sanitária Brasileira foi proposta num momento de intensas mudanças e sempre pretendeu
ser mais do que apenas uma reforma setorial. Almejava‑se, desde seus primórdios, que pudesse servir à
democracia e à consolidação da cidadania no país.

A realidade social, na década de 1980, era de exclusão da maior parte dos cidadãos do direito à saúde,
que se constituía na assistência prestada pelo Instituto Nacional de Previdência Social, restrita aos
trabalhadores que para ele contribuíam, prevalecendo a lógica contraprestacional e a cidadania regulada.

Ainda na década de 1980, ganhou força no país o movimento da Reforma Sanitária, observando‑se
o recrudescimento dos movimentos populares. No Distrito Federal, o Programa Integrado de Saúde
Escolar (Pise) adotou a odontologia simplificada em toda a sua rede, com produção de equipamentos e
insumos, sendo referência para todo o país.

O Prevsaúde, embora não sendo aprovado, propôs a efetivação da saúde bucal como uma das cinco
principais ofertas das unidades de saúde.

No Conselho Consultivo da Administração da Saúde Previdenciária (Conasp), o Programa de Ações


Integradas de Saúde (Pais) propiciou, para vários municípios, a incorporação de recursos para a aquisição
de equipamentos odontológicos nas escolas de primeiro grau e subsidiou os salários dos profissionais.

As Ações Integradas de Saúde (AIS) significaram um avanço nos processos incipientes de


municipalização da saúde e participação da população junto ao sistema de saúde.

Em 1983, como decorrência das eleições diretas para governadores, surgiram alguns programas de
saúde baseados nos princípios da reforma sanitária.

55
Unidade I

Com a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, foram estabelecidas as bases
para a reestruturação do sistema de saúde brasileiro. A criação do Sistema Unificado Descentralizado
de Saúde (Suds) significou a intenção do Governo Federal em dar início à implantação do SUS. Sua
principal característica foi a estadualização das ações, por meio da fusão das Secretarias Estaduais de
Saúde com as diretorias regionais do Inamps.

Na Constituição Federal, promulgada em 1988, foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS). Nela, a
saúde foi definida como “um direito de todos e um dever do Estado”.

A Reforma Sanitária constitui um importante movimento na gestação das atuais Políticas de Saúde
Pública, pois:

• buscou reverter a lógica da assistência à saúde com a adoção dos seguintes princípios:

— universalização do direito à saúde;

— integralização das ações de cunho preventivo e curativo, desenvolvidas pelos Ministérios da


Saúde e da Previdência separadamente;

— inversão da entrada do paciente no sistema, que em vez de buscar o hospital quando já


estiver doente, busca a prevenção, ou seja, atua do preventivo para o curativo, promovendo,
portanto, a saúde;

— descentralização da gestão administrativa e financeira;

— promoção da participação e do controle social.

• tratou de denunciar e combater a forma de organização do sistema, caracterizado por crises,


gastos, privilégios e concentração de renda.

4.2 Definição

Como o próprio nome informa, trata‑se de um sistema de saúde, no qual sistema deve ser entendido
como um conjunto coordenado de instituições das três esferas da administração pública (federal,
estadual e municipal), que participam com seus respectivos órgãos e entidades, aos quais se juntam,
também, entidades de natureza privada (hospitais, clínicas, laboratórios etc.), vinculadas através de
contratos de prestação de serviços e convênios.

O SUS é um sistema, instituído pela Constituição Federal de 1988 como política de estado e não
pode ser classificado apenas como um serviço ou uma instituição, mas sim um conjunto de unidades,
de serviços e ações coordenadas, visando a um fim comum, qual seja a realização de atividades, cujos
objetivos são a promoção, a proteção e a recuperação e reabilitação da saúde, bem como a prevenção
de doenças e agravos.

56
POLÍTICAS DE SAÚDE

Além de ser um sistema, é, também, um sistema único, pois o SUS é regido por uma doutrina única
e pelos mesmos princípios doutrinários e organizativos em todo o território nacional, compreendendo
as três esferas da administração pública: a federal, a estadual e a municipal.

Trata‑se do maior sistema público de saúde em termos de abrangência, pois atende a mais de
200 milhões de cidadãos brasileiros e estrangeiros que aqui residem.

O SUS atende o ser humano em todo seu ciclo vital, desde antes do nascimento, durante a gestação
nas ações de acompanhamento de pré‑natal, até após a morte, quando do processo de doação e
transplante de órgãos.

4.3 Legislação básica

Basicamente, é a legislação que rege o funcionamento do SUS:

• Constituição Federal (BRASIL, 1988), que, no seu Título VIII – Da Ordem Social, traz:

— Capítulo I – Disposição Geral (artigo 193);

— Capítulo II – Da Seguridade Social: Seção I – Disposições Gerais (artigos 194 e 195); Seção II –
Da Saúde (artigos 196 a 200); Seção III – Da Previdência Social (artigos 201 e 202) e
Seção IV – Da Assistência Social (artigos 203 e 204).

• Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção
e recuperação da saúde; a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes.

• Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão
do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde.

• Decreto n. 1.651, de 28 de setembro de 1995, que regulamenta o Sistema Nacional de Auditoria


no âmbito do SUS.

• Decreto n. 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamenta a Lei n. 8.080, de 19 de setembro de


1990, para dispor sobre:

— a organização do SUS;

— o planejamento da saúde;

— a assistência à saúde;

— a articulação interfederativa.

57
Unidade I

4.4 Normas operacionais básicas

Além dessas normas, que constituem a legislação básica do SUS, o sistema é também regido
pelas Normas Operacionais Básicas (NOB), cujo objetivo é operacionalizar o sistema, detalhando as
responsabilidades e atribuições das três esferas da Administração Pública. São as seguintes:

• Com a Norma Operacional Básica 01/91 foram criados:

— a Autorização de Internação Hospitalar (AIH);

— o Sistema de Informação Hospitalar (SIH);

— o Fator de Estímulo à Municipalização (FIM);

— os Conselhos Estaduais e Municipais.

• Com a Norma Operacional Básica 01/93 foram adotadas as seguintes providências:

— Procedimentos e instrumentos operacionais foram definidos, visando ao aprimoramento das


condições de gestão, para estabelecer comando único do SUS nas três esferas da Administração
Pública. Assim, Comissões Intergestores, o Fator de Apoio do Estado (FAE), o Fator de Apoio ao
Município (FAM) e o Sistema de Informação Laboratorial (SAI) foram criados.

• A Norma Operacional Básica 01/96 buscou aperfeiçoar a gestão dos serviços de saúde e a
organização do sistema, definindo especialmente a responsabilidade do município, pelas condições
de saúde da sua população e organizando os serviços sob sua gestão.

• A edição da Norma Operacional Básica SUS 01/2001‑2 foi motivada pela constatação da
existência de municípios que, por serem pequenos, não reúnem condições de gestão do sistema
de funcionamento completo e existência de outros municípios que se encontram na situação de
polos de atração regional, para onde se deslocam as populações dos pequenos municípios
próximos. Tratou‑se, assim, do processo de regionalização da assistência médica nessas condições,
além de promover outros ajustes e regulamentações em tais situações.

4.5 Princípios do SUS

A organização e o funcionamento do SUS são baseados em princípios doutrinários e organizativos.

Princípios doutrinários:

• Universalidade: a atenção à saúde é assegurada para todas as pessoas, ou seja, todos os cidadãos
têm direito a todos os serviços de saúde, públicos ou contratados. Esse princípio doutrinário se
fundamenta na disposição constitucional de que a saúde é um direito de cidadania e um dever do
Estado (no sentido de governo federal, estadual e municipal).
58
POLÍTICAS DE SAÚDE

• Equidade: todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades,
até o limite do que o sistema puder oferecer, independentemente de onde more o cidadão, sem
privilégios ou restrições, atendendo a todos, principalmente aqueles que mais necessitam.

• Integralidade: funda‑se na proposição de que o ser humano é um ser integral, biopsicossocial,


devendo ser atendido com essa visão integral, desde seu nascimento até a morte, por um sistema
de saúde também integral e voltado à promoção e recuperação da sua saúde, que realiza desde
um curativo simples até um transplante cardíaco, procedimento extremamente complexo.

Princípios organizativos:

• Regionalização e hierarquização:

— A organização dos serviços deve se dar em crescentes níveis de complexidades, observada a


delimitação geográfica regional e definição da população a ser atendida.

— A população deve ter acesso à rede através dos serviços de nível primário de atenção,
qualificados para resolver os principais problemas demandados no sistema de saúde. Os
demais problemas deverão ser referenciados, ou seja, encaminhados para os serviços de maior
complexidade tecnológica.

• Resolubilidade: constitui na exigência de que o serviço de saúde esteja capacitado para


enfrentar e resolver, no nível da sua competência, o problema que lhe seja proposto. Assim,
quando o cidadão procura o serviço, ou quando surge um problema que cause impacto coletivo
na saúde, o serviço correspondente deverá resolvê‑lo. Algumas pessoas costumam chamar de
resolutividade, mas a palavra encontrada nos dicionários é resolubilidade.

• Descentralização: os serviços e as ações devem ser distribuídos, entre os vários níveis de governo,
sob a premissa básica de que quanto mais perto do fato for tomada a decisão, maior é a chance
de acerto. Assim, o município, o estado e a União devem ser responsabilizados de acordo com
suas respectivas áreas de abrangência, devendo, entretanto, o sistema ser conduzido para que
as atribuições dos vários níveis de governo se direcionem ao reforço do poder municipal sobre a
saúde, no sentido da “municipalização da saúde”.

• Participação popular: é assegurada à população, por meio de suas entidades representativas, o


direito, constitucionalmente estabelecido, de participar do processo de formulação das políticas
de saúde e no controle da sua execução, em todos os níveis de decisão (federal, estadual ou
municipal). Essa participação pode dar nos Conselhos de Saúde (com representações paritárias)
ou em conferências periódicas de saúde (municipal, estadual e nacional), com o objetivo de definir
as prioridades e as linhas de ação sobre saúde.

Além dos princípios doutrinários e organizativos, o SUS também possui na sua estruturação a
complementariedade do setor privado.

59
Unidade I

• Complementariedade do setor privado: constitui na possibilidade de contratação de serviços


privados, quando verificada a insuficiência do setor público. Essa contratação é regida por três
condições básicas:

— O contrato ou convênio deve ser celebrado com observância das normas de direito público, o
que assegura a prevalência do interesse público sobre o particular.

— A instituição privada deve observar os princípios básicos e as normas técnicas do SUS,


prevalecendo, assim, os princípios doutrinários do SUS (como a universalidade e a equidade),
de forma que o serviço privado preste o atendimento à semelhança do serviço público, pois,
uma vez contratado, o serviço privado atua em nome do serviço público.

— A contratação de serviços privados deve também obedecer aos princípios organizacionais,


assegurando a integração dos serviços privados com a mesma lógica organizativa do SUS
(como a regionalização e a hierarquização serviços). Então, como consequência e para
plena observância desses princípios, em cada região deverá estar claramente estabelecida a
organização, considerando‑se os serviços públicos e privados.

4.6 O Pacto pela Saúde

O Pacto pela Saúde é assim definido, segundo publicação constante da página eletrônica do Conselho
Nacional de Saúde:

O Pacto pela Saúde é um conjunto de reformas institucionais do SUS


pactuado entre as três esferas de gestão (União, estados e municípios)
com o objetivo de promover inovações nos processos e instrumentos de
gestão, visando alcançar maior eficiência e qualidade das respostas do
Sistema Único de Saúde. Ao mesmo tempo, o Pacto pela Saúde redefine as
responsabilidades de cada gestor em função das necessidades de saúde da
população e na busca da equidade social (BRASIL, 2006).

A implementação do Pacto pela Saúde se dá pela adesão de municípios, estados e União ao Termo
de Compromisso de Gestão (TCG). O TCG substitui os processos de habilitação das várias formas de
gestão anteriormente vigentes e estabelece metas e compromissos para cada ente da federação, sendo
renovado anualmente. Entre as prioridades definidas estão a redução da mortalidade infantil e materna,
o controle das doenças emergentes e endemias (como dengue e hanseníase) e a redução da mortalidade
por câncer de colo de útero e da mama, entre outras (BRASIL, 2006).

As formas de transferência dos recursos federais para estados e municípios também foram modificadas
pelo Pacto pela Saúde, passando a ser integradas em cinco grandes blocos de financiamento (atenção
básica, média e alta complexidade da assistência, vigilância em saúde, assistência farmacêutica e gestão
do SUS) (BRASIL, 2006).

60
POLÍTICAS DE SAÚDE

As diretrizes dos Pactos pela Saúde são iniciativa do Ministério da Saúde em parceria com o Conass
e o Conasems, cujo objetivo é difundir políticas, instrumentos e orientações para apoiar a gestão na
implantação de inovações advindas com o Pacto pela Saúde. A série de diretrizes e livros contendo os
pactos pela saúde é um instrumento de cooperação com gestão da saúde que assume, com adesão
ao pacto, responsabilidades pela saúde da população, em busca da equidade social. Uma forma de
utilizar o conteúdo da Série Pactos pela Saúde é fazer a análise dos objetivos dos pactos e conhecer as
responsabilidades de cada esfera de governo (BRASIL, 2006).

O Pacto pela Saúde foi formalizado pela Portaria/GM n. 399, de 22 de fevereiro de 2006, do
Ministério da Saúde, que divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova as
diretrizes operacionais do referido pacto. A aludida portaria é composta dos seguintes anexos:

• Anexo I – Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS

• Anexo II – Diretrizes Operacionais do Pacto pela Saúde em 2006 – Consolidação do SUS:

— gestão do trabalho

— educação na saúde

Observação

Competências do Gabinete do Ministro (GM): assistir o Ministro de Estado


em sua representação política e social e ocupar-se das relações públicas e do
preparo e do despacho de seu expediente; supervisionar a publicação dos
atos oficiais de competência do Ministério; e coordenar as atividades de
cerimonial e de apoio à organização de solenidades oficiais no âmbito
do Ministério.

4.6.1 O Pacto em Defesa do SUS

O Pacto em Defesa do SUS envolve ações concretas e articuladas pelas três instâncias federativas
no sentido de:

• reforçar o SUS como política de Estado mais do que política de governos;

• defender os princípios constitucionais (que são os fundamentais) dessa política pública.

No Pacto em Defesa do SUS foi definida como prioridade a implementação de um projeto


permanente de mobilização social com a finalidade de:

• mostrar a saúde como direito de cidadania e o SUS como sistema público universal garantidor
desses direitos;
61
Unidade I

• alcançar, no curto prazo, a regulamentação da Emenda Constitucional n. 29, pelo Congresso


Nacional (tem como objetivo estabilizar o financiamento do setor saúde com recursos das três
esferas de governo, provenientes da aplicação de percentuais das receitas estabelecidos em lei);

• garantir, no longo prazo, o incremento dos recursos orçamentários e financeiros para a saúde;

• aprovar o orçamento do SUS, composto dos orçamentos das três esferas de gestão, explicitando
o compromisso de cada uma delas;

• elaborar e divulgar a carta dos direitos dos usuários do SUS.

Saiba mais

Sobre o Pacto pela Saúde, acesse:

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Pactos


pela Saúde: série pactos pela saúde 2006. Brasília, 2006. Disponível em:
https://cutt.ly/u0Q9CQs. Acesso em: 7 jun. 2022.

4.7 O custeio do SUS

Todos os recursos que sustentam as políticas públicas são procedentes de impostos e tributos. Os
recursos para a saúde pública foram definidos pela Emenda Constitucional n. 29, de 13 de setembro de
2000, que alterou os artigos 34, 35, 156, 160, 167 e 198 da Constituição Federal e estabeleceu:

• a participação concorrente da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios no


financiamento das ações e serviços de saúde pública;

• limites mínimos de aplicação em saúde para cada ente federativo:

— União: os gastos devem ser iguais ao do ano anterior, corrigidos pela variação nominal do
Produto Interno Bruto (PIB);

— estados: estão obrigados a garantir que 12% de suas receitas sejam destinadas ao
financiamento da saúde pública;

— municípios: estão obrigados a aplicar pelo menos 15% de suas receitas.

Em razão da Emenda Constitucional n. 29/2000, foi editada a Lei Complementar n. 141, de 13 de


janeiro de 2012, que regulamenta o § 3º do artigo 198 da Constituição Federal, para:

62
POLÍTICAS DE SAÚDE

• dispor sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, estados, Distrito
Federal e municípios em ações e serviços públicos de saúde;

• estabelecer os critérios de rateio dos recursos de transferências para a saúde e as normas de


fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas três esferas de governo.

A Lei Complementar n. 141/2012 foi regulamentada pelo Decreto n. 7.827, de 16 de outubro


de 2012, que:

• dispõe sobre os procedimentos de condicionamento e restabelecimento das transferências de


recursos provenientes das receitas de que tratam o inciso II do caput do artigo 158, as alíneas “a”
e “b” do inciso I e o inciso II do caput do artigo 159 da Constituição Federal;

• dispõe sobre os procedimentos de suspensão e restabelecimento das transferências voluntárias da


União, nos casos de descumprimento da aplicação dos recursos em ações e serviços públicos de
saúde de que trata a Lei Complementar n. 141/2012.

Os recursos do SUS são geridos e administrados pelos entes federativos, através de seus
respectivos fundos:

• Fundo Nacional de Saúde (FNS):

— recebe recursos da União;

— é administrado pelo Ministério da Saúde.

• Fundo Estadual de Saúde:

— recebe recursos dos Governos Estaduais e da União;

— é administrado pela Secretaria Estadual de Saúde;

— é fiscalizado pelo Conselho Estadual de Saúde.

• Fundo Municipal de Saúde:

— recebe recursos do Governo Municipal, Estadual e da União;

— é administrado pela Secretaria Municipal de Saúde;

— é fiscalizado pelo Conselho Municipal de Saúde.

As transferências de recursos se dão de três formas:

63
Unidade I

• Transferência regular e automática (transferência fundo a fundo): ocorre de maneira


obrigatória. Tipicamente, correspondem às transferências do Fundo Nacional de Saúde (FNS) para
os Fundos Estaduais e Municipais.

• Remuneração por serviços realizados: correspondem aos pagamentos dos serviços hospitalares
e ambulatoriais executados por instituições cadastradas no SUS. O pagamento efetiva‑se,
diretamente, mediante a apresentação, ao FNS, da fatura dos serviços prestados, calculada com
base nas tabelas de procedimentos do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA) e do Sistema
de Informações Hospitalares (SIH), disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, mas sujeita à
disponibilidade de limites financeiros e condicionada a requisitos (dados da região: população,
frequência e distribuição de doenças ou estrutura da rede de saúde).

• Convênios: são acordos firmados para financiamento de projetos específicos (por exemplo:
reformas de hospitais ou compras de equipamentos), observando‑se que:

— estes convênios podem ser realizados das seguintes formas: pelo Ministério da Saúde com
órgãos ou entidades federais, estaduais ou municipais, com entidades filantrópicas ou
com organizações não governamentais;

— o repasse de recursos se dá ao longo do cumprimento do convênio, na medida do cumprimento


das etapas especificadas no respectivo cronograma.

Considerado o ente federativo da União (o Governo Federal), o SUS é custeado por cinco blocos de
financiamento, definidos no Pacto pela Saúde:

• bloco da assistência farmacêutica;

• bloco da atenção básica;

• bloco da atenção de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar;

• bloco de gestão do SUS;

• bloco de Vigilância Sanitária.

É importante tratar, ainda que brevemente, de cada um desses blocos, para identificar os requisitos
e as condições exigidas para o custeio do sistema.

4.7.1 Bloco da assistência farmacêutica

É constituído por três componentes:

• o componente assistência farmacêutica básica destina‑se à aquisição de medicamentos e


insumos de assistência farmacêutica para a atenção básica em saúde e às ações relacionadas a
64
POLÍTICAS DE SAÚDE

agravos e programas de saúde específicos, inseridos na rede de cuidados da atenção básica, sendo
composto de uma parte financeira fixa e de uma parte financeira variável;

• o componente assistência farmacêutica estratégica aplica‑se ao custeio de ações de assistência


farmacêutica nos seguintes programas estratégicos de saúde:

— controle de endemias;

— antirretrovirais do Programa IST e Aids;

— sangue, hemoderivados e imunobiológicos.

• o componente medicamentos de dispensação excepcional reserva‑se ao financiamento do


Programa de Medicamentos de Dispensação Excepcional para aquisição e distribuição do grupo
de medicamentos da tabela de procedimentos ambulatoriais.

4.7.2 Bloco da atenção básica

É formado por dois componentes:

• o Piso de Atenção Básica Fixo (PAB Fixo) é empregado ao custeio de ações de atenção básica
à saúde cujos recursos são transferidos mensalmente, de forma regular e automática, do Fundo
Nacional de Saúde (FNS) aos fundos de Saúde dos Municípios e do Distrito Federal;

• o Piso da Atenção Básica Variável (PAB Variável) é constituído por recursos destinados ao
custeio de estratégias realizadas no âmbito da atenção básica em Saúde e que são transferidos
do FNS aos Fundos de Saúde dos Municípios e Distrito Federal mediante adesão e implementação
das ações às quais se destinam, desde que constantes nos respectivos planos de saúde.

Observação

Com a aprovação do Pacto pela Saúde, os recursos de custeio das ações


de assistência farmacêutica e de vigilância sanitária, que antes integravam o
PAB Variável, passaram a compor os blocos de Financiamento da Assistência
Farmacêutica e da Vigilância em Saúde, respectivamente.

4.7.3 Bloco da atenção de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar

É constituído por dois componentes:

• O Limite Financeiro da Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar (MAC)


aplica‑se ao financiamento de procedimentos e de incentivos permanentes, sendo transferidos
mensalmente para custeio de ações de média e alta complexidade em saúde. Os recursos federais
65
Unidade I

deste componente serão transferidos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) aos fundos de saúde dos
estados, municípios e Distrito Federal conforme a Programação Pactuada e Integrada (PPI) da
assistência, publicada em ato normativo específico.

• O Fundo de Ações Estratégicas e Compensação (Faec) abrange recursos atribuídos ao custeio


dos seguintes procedimentos:
— os regulados pela Central Nacional de Regulação da Alta Complexidade (CNRAC);

— os transplantes e os procedimentos vinculados;

— as ações estratégicas ou emergenciais, de caráter temporário, realizadas com prazo pré‑definido;

— os novos procedimentos não relacionados aos constantes da tabela vigente ou que não
possuam parâmetros para permitir a definição de limite de financiamento, sendo que esses
últimos serão custeados pelo Faec por um período de seis meses para permitir a formação da
série histórica necessária à sua agregação ao componente MAC.

Observação

Os outros recursos destinados ao custeio de procedimentos atualmente


financiados por meio do Faec serão incorporados ao MAC dos estados,
municípios e Distrito Federal conforme ato normativo específico, observando
as pactuações da Comissão Intergestores Tripartite (CIT).

4.7.4 Bloco de gestão do SUS

Destina‑se ao fortalecimento da gestão do SUS para custeio de ações específicas relacionadas à


organização e ampliação do acesso aos serviços de saúde.

Os recursos federais que o integram são constituídos pelos seguintes componentes:

• A Qualificação da Gestão do SUS dá‑se mediante a adesão ao Pacto pela Saúde, por meio da
assinatura do Termo de Compromisso de Gestão, com incentivo específico para cada ação que
integra. São elas:

— regulação, controle, avaliação, auditoria e monitoramento;

— planejamento e orçamento;

— programação;

— regionalização;

66
POLÍTICAS DE SAÚDE

— gestão do trabalho;

— educação em saúde;

— incentivo à participação e ao controle social;

— informação e informática em saúde;

— estruturação de serviços e organização de ações de assistência farmacêutica;

— outros que vierem a ser instituídos por meio de ato normativo específico.

• A Implantação de Ações e Serviços de Saúde é efetivada em parcela única, respeitando os


critérios estabelecidos em cada política específica, atualmente designados:

— implantação de centros de atenção psicossocial;

— qualificação de centros de atenção psicossocial;

— fixação de residências terapêuticas em saúde mental;

— fomento para ações de redução de danos em centros de atenção psicossocial para álcool e
outras drogas (caps ad);

— inclusão social pelo trabalho para pessoas com transtornos mentais e outros transtornos
decorrentes do uso de álcool e outras drogas;

— inserção de centros de especialidades odontológicas (ceo);

— estabelecimento do serviço de atendimento móvel de urgência (samu);

— reestruturação dos hospitais colônias de hanseníase;

— implantação de centros de referência em saúde do trabalhador;

— adesão à contratualização dos hospitais de ensino;

— outros que vierem a ser instituídos por meio de ato normativo para fins de implantação de
políticas específicas.

4.7.5 Bloco de vigilância sanitária

Os recursos financeiros correspondentes às ações de vigilância em saúde agrupam as ações da


vigilância epidemiológica, ambiental e sanitária, tendo dois componentes:
67
Unidade I

• Vigilância sanitária, constituída pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelas
vigilâncias sanitárias estaduais, distritais e municipais; e o Termo de Ajuste e Metas (TAM) pelo
Piso da Atenção Básica em Vigilância Sanitária (PAB Visa).

• Vigilância epidemiológica e ambiental em saúde, cujo financiamento é transferido, em parcelas


mensais, diretamente do Fundo Nacional de Saúde (FNS) para os fundos estaduais e municipais de
saúde, observadas as seguintes condições:

— o valor das transferências mensais para estados, municípios e Distrito Federal, bem como seu
respectivo limite financeiro, é estabelecido em portaria específica, de acordo com valores
pactuados na Comissão Intergestores Bipartite (CIB);

— integram ainda o componente vigilância epidemiológica e ambiental os recursos destinados às


seguintes finalidades, com repasses específicos:

— o fortalecimento da gestão da vigilância em saúde nos estados e municípios (Vigi SUS II);

— as campanhas de vacinação e o incentivo do Programa IST/Aids.

Os recursos reservados à contratação de agentes de campo para as ações de combate ao Aedes


aegypti serão incorporados ao componente de vigilância epidemiológica e ambiental quando o gestor
comprovar a efetiva contratação dos agentes de campo.

Os valores correspondentes ao componente de vigilância epidemiológica e ambiental destinados às


Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde podem ser revistos pela CIB, levando em consideração
as responsabilidades assumidas, as modificações do perfil epidemiológico ou outros parâmetros
pactuados, desde que observados os valores mínimos a serem destinados aos municípios estabelecidos
na Portaria n. 1.172/04.

4.8 O controle social do SUS

A participação da sociedade na gestão do SUS está prevista no inciso III do artigo 198 da Constituição
Federal de 1988, como uma das diretrizes do funcionamento do sistema (constituindo, como já se viu,
um dos princípios organizativos do SUS), que trata também da Lei n. 8.080/1990 e da Lei n. 8.142/1990,
além do Decreto n. 7.508/2011, que regulamenta a Lei n. 8.080/1990 (BRASIL, 2013).

Assim, a sociedade, por meio dos conselhos de saúde, passou a exercer o controle social:

• participando do planejamento das políticas públicas e da gestão do sistema de saúde;

• fiscalizando as ações do governo e verificando o cumprimento das leis relacionadas ao SUS;

68
POLÍTICAS DE SAÚDE

• analisando as aplicações financeiras realizadas pelos municípios ou pelos estados no gerenciamento


da saúde.

Também os estados e os municípios passaram, desde 1990, a constituir os seus próprios conselhos
de saúde, havendo hoje no Brasil, além do Conselho Nacional de Saúde (CNS), os conselhos estaduais de
saúde, o Conselho do Distrito Federal e milhares de conselhos municipais, além de conselhos distritais
sanitários indígenas, entre outros.

Como já destacamos, o SUS tem por princípio organizativo a participação popular na sua gestão,
podendo, inclusive, por disposição constitucional expressa, participar do processo de formulação das
políticas de saúde e no controle da sua execução, em todos os níveis de decisão (federal, estadual ou
municipal). Essa participação dá‑se de variadas formas (nos conselhos de saúde, de representações
paritárias, ou em conferências periódicas de saúde), com o objetivo de definir prioridades e as linhas de
ação sobre saúde.

Neste contexto, é oportuno destacar o Participa SUS, que é a denominação que identifica a política da
Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP) do SUS, a qual busca promover o fortalecimento
da gestão participativa, incorporando outras ferramentas de gestão, como a escuta dos cidadãos, o
monitoramento e a avaliação da gestão do SUS, além da auditoria, sob enfoque ampliado.

O Participa SUS compreende todos os mecanismos de deliberação e de gestão compartilhados, com


ênfase no controle social, realizado por meio dos conselhos e conferências de saúde, na participação e
mobilização popular e no funcionamento de ouvidorias e pesquisas sobre a satisfação dos usuários do
SUS. Inclui, ainda, ações de educação popular em saúde, difusão dos direitos dos usuários e estratégias
de promoção de equidade em saúde para as populações em condições de desigualdade.

Essa política é orientada pelas seguintes diretrizes:

• reafirmação dos pressupostos da reforma sanitária sobre o direito universal à saúde, como
responsabilidade do Estado;

• construção de um pacto de promoção da gestão estratégica e participativa entre as três esferas


de governo;

• ampliação dos mecanismos de participação popular nos processos de gestão do SUS, de forma a
garantir sua consolidação como política de inclusão social e conquista popular;

• adoção de mecanismos e práticas de gestão participativa, nas três esferas de gestão do SUS,
envolvendo gestores, prestadores de serviços, trabalhadores de saúde e usuários do SUS.

A Lei n. 8.142/1990 trata da participação também da comunidade na gestão do SUS, nos seguintes
termos:

69
Unidade I

Art. 1° O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n° 8.080, de 19


de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das
funções do Poder Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas:

I – a Conferência de Saúde; e

II – o Conselho de Saúde.

§ 1° A Conferência de Saúde reunir‑se‑á a cada quatro anos com a


representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde
e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis
correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente,
por esta ou pelo Conselho de Saúde.

§ 2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão


colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço,
profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no
controle da execução da política de saúde na instância correspondente,
inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão
homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada
esfera do governo.

§ 3° O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho


Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) terão representação
no Conselho Nacional de Saúde.

§ 4° A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e Conferências


será paritária em relação ao conjunto dos demais segmentos.

§ 5° As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde terão sua


organização e normas de funcionamento definidas em regimento próprio,
aprovadas pelo respectivo conselho (BRASIL, 1990c).

Constituem, pois, previsões legais expressas, no âmbito da participação popular no SUS:

• a previsão da existência e funcionamento da Conferência de Saúde (com reuniões periódicas


e objetivos próprios) e dos Conselhos de Saúde (com regras específicas de organização,
funcionamento e atribuições);

• as previsões de existência do Conass e do Conasems.

70
POLÍTICAS DE SAÚDE

Quadro 4 – Conferências Nacionais de Saúde de 1941 a 2019

Ano Conferência
1941 1ª CNS
1950 2ª CNS
1963 3ª CNS
1967 4ª CNS
1975 5ª CNS
1977 6ª CNS
1980 7ª CNS
1986 8ª CNS
1992 9ª CNS
1996 10ª CNS
2000 11ª CNS
2003 12ª CNS
2007 13ª CNS
2011 14ª CNS
2015 15ª CNS
2019 16ª CNS

4.9 Os gestores do SUS

A gestão do SUS pode ser assim esquematizada (BRASIL, 2003):

Estrutura Institucional e Decisória do SUS

Comissão Colegiado
Gestor Intergestores Participativo

Esfera Ministério Comissão Conselho


Nacional da Saúde Tripartite Nacional

Esfera Secretarias Conselho


Estadual Estaduais Estadual
Comissão
Bipartite
Esfera Secretarias Conselho
Municipal Municipais Municipal

Figura 1

O Ministério da Saúde é composto de órgãos que assim se inter‑relacionams(BRASIL, 2012):

71
Unidade I

Órgãos colegiados
Subordinação Ministro
Órgãos subordinados
da Saúde Conselho Nacional de Saúde
Vinculação Conselho de Saúde Suplementar

Gabinete do Secretaria
Ministro Executiva

Consultoria Departamento
Jurídica Nacional de
Auditoria do SUS

Secretaria de Secretaria de Gestão do Secretaria de Secretaria de Ciência,


Secretaria de Gestão
Atenção à Trabalho e da Educação Vigilância na Tecnologia e Insumos
Participativa
Saúde na Saúde Saúde Estratégicos

Fundações Públicas Autarquias Empresa Pública Sociedade de Economia Mista


Fundação Nacional de Saúde Agência Nacional de Empresa Brasileira Hospital N. S. da Conceição S/A
Fundação Oswaldo Cruz Vigilância Sanitária de Hemoderivados Hospital Fêmina S/A
Agência Nacional de e Biotecnologia Hospital Cristo Redentor S/A
Saúde Suplementar

Figura 2

Este esquema permite visualizar os seguintes arranjos administrativos e respectivas características:

• a gestão se dá no âmbito das três esferas da administração pública: federal, estadual e municipal;

• a gestão, na esfera federal, é encabeçada pelo Ministério da Saúde; na estadual, pelas secretarias
estaduais de saúde; e na municipal, pelas secretarias municipais de saúde.

A Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e a Comissão Intergestores Bipartite (CIB)

Compõem, também, a gestão do SUS as Comissões Intergestores Tripartite (CIT) e a Comissão


Intergestores Bipartite (CIB), com as seguintes características, respectivamente:

• Comissões Intergestores Tripartite (CIT):

— são formadas por 15 membros, sendo cinco representantes do Ministério da Saúde; cinco
do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e cinco do Conselho Nacional de
Secretarias Municipais de Saúde (Conasems);

— a atuação de estados, Distrito Federal e municípios é regional (um preposto, ou seja, um


representante para cada uma das cinco regiões do país);

— definem as diretrizes, estratégias, programas, projetos e alocação de recursos do SUS.

72
POLÍTICAS DE SAÚDE

• Comissão Intergestores Bipartite (CIB):

— é constituída paritariamente por representantes da Secretaria Estadual de Saúde e das


Secretarias Municipais de Saúde (estes indicados pelo Conselho de Secretários Municipais de
Saúde – Cosems);

— incluem, obrigatoriamente, o secretário de Saúde da capital do estado.

4.10 Conselhos de saúde

Os Conselhos de Saúde são órgãos colegiados deliberativos e permanentes do SUS, existentes em


cada esfera de governo e integrantes da estrutura básica do Ministério da Saúde, das Secretarias de
Saúde dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, com composição, organização e competência
fixadas pela Lei Federal n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Atuam na formulação e proposição
de estratégias, e no controle da execução das políticas de saúde, inclusive em seus aspectos econômicos
e financeiros. Suas decisões devem ser homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído, em
cada esfera de governo.

As regras para composição dos Conselhos de Saúde são, também, estabelecidas no texto legal,
devendo incluir delegados do governo, prestadores de serviços, trabalhadores de saúde e usuários, sendo
a representação dos usuários paritária (50%) em relação ao conjunto dos demais segmentos. A criação
dos conselhos deve ser objeto de lei ou decreto, em âmbito municipal ou estadual.

O Conselho Nacional de Saúde (regulado pelo Decreto n. 99.438, de 1990) estabeleceu recomendações
para constituição e estruturação dos conselhos estaduais e municipais de saúde, quais sejam:

• garantia de representatividade, com a escolha dos representantes feita pelos próprios segmentos;

• distribuição da composição, sendo 50% usuários, 25% trabalhadores de saúde e 25% gestores e
prestadores de serviços;

• eleição do presidente entre os membros do Conselho;

• os conselheiros são indicados pelas entidades a que pertencem, mediante discussão ampliada
entre os pares ou outras entidades e movimentos afins;

• recomenda‑se, ainda, que não haja coincidência de mandatos entre membros dos conselhos
e governantes, como forma de minimizar as possibilidades de rupturas bruscas nas políticas
implementadas.

Desde a edição das Leis Orgânicas da Saúde (Leis n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, e n. 8.142,
de 28 de dezembro de 1990), a existência e o funcionamento dos Conselhos de Saúde são requisitos
para a habilitação e o recebimento dos recursos federais repassados fundo a fundo aos municípios. Essa
exigência foi reforçada pela Emenda Constitucional n. 29, de 2000.
73
Unidade I

4.10.1 O Conass e o Conasems

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), cuja Diretoria é eleita anualmente, reúne os
secretários de Saúde dos estados e do Distrito Federal e seus substitutos legais, tendo por finalidades:

• promover o intercâmbio de experiências e informações entre seus membros, assegurando a


implementação dos princípios e diretrizes constitucionais e da legislação complementar da saúde
brasileira, na implementação de ações e serviços de saúde;

• promover o pleno exercício das responsabilidades das secretarias de saúde, no que diz respeito às
políticas de saúde, junto aos órgãos dos governos federal e municipal, ao poder legislativo e
às entidades da sociedade;

• realizar diligência no sentido de que as secretarias de saúde dos estados e do distrito federal
participem da formulação e tomada de decisões que digam respeito ao desenvolvimento dos
sistemas de saúde nas unidades federadas, em conjunto com o ministério da saúde (ms);

• assegurar às secretarias municipais de saúde ou órgãos municipais equivalentes, por meio da


direção do conselho ou associação de secretários municipais de Saúde de cada unidade federada,
a participação em todas as decisões que digam respeito ao desenvolvimento dos sistemas
municipais ou intermunicipais de saúde;

• encaminhar aos órgãos competentes propostas para equacionar os problemas da área de saúde em
todo o território nacional, estimulando e intercambiando experiências quanto ao funcionamento
dos conselhos de saúde, promovendo estudos e propondo soluções aos problemas relativos ao
desenvolvimento da área da saúde;

• orientar e promover a realização de congressos, conferências, seminários e outros encontros para


o aperfeiçoamento das atividades do setor de saúde;

• manter intercâmbio com órgãos e entidades nacionais e estrangeiras de interesse para o


setor saúde.

O Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) é uma entidade não
governamental, sem fins lucrativos, criada com o objetivo de representar as secretarias municipais de
saúde. Sua importância no cenário político brasileiro deve‑se à constatação de que cabe, prioritariamente,
ao município a prestação de serviços de saúde, com a cooperação técnica e financeira dos estados e
da União e cuja conclusão é baseada no entendimento de que é no município onde as necessidades
de saúde da população podem ser dimensionadas de perto. Tem como atribuições institucionais
as atuações:

• na formulação de políticas públicas intersetoriais e de saúde;

• na disputa política em espaços nacionais de pactuação federativa e de implementação


compartilhada das políticas públicas;

74
POLÍTICAS DE SAÚDE

• no intercâmbio de experiências entre os municípios e com outros países e na propagação dos


princípios da universalidade, equidade e integralidade da saúde.

Reúne representantes das 5.568 secretarias municipais de saúde do Brasil e participa do Conselho
Nacional de Saúde (CNS), órgão deliberativo do SUS, e da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), que
possui a representação dos três entes federados: o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional dos
Secretários de Saúde (Conass) e o Conasems.

O Conasems mantém, ainda, os núcleos temáticos, espaços onde secretários municipais de saúde e
assessores reúnem‑se para discutir políticas, realizar estudos e preparar informações e pareceres para
decisão dos colegiados.

Os participantes dos núcleos temáticos têm assento nas comissões e grupos de trabalho tripartites
do SUS.

O Conasems realiza o Congresso Anual Conasems, que reúne, presencialmente, todos os secretários
municipais de saúde para discutir temas do interesse dos gestores municipais, definir orientações para o
trabalho de representação do Conasems e, a cada dois anos, eleger a diretoria do órgão.

4.11 Ações, programas e políticas do SUS

Destacamos algumas ações, programas e políticas desenvolvidas pelo Ministério da Saúde:

• Da Secretaria Executiva:

— Cartão Nacional de Saúde

— Saúde Digital

— Programa Telessaúde

— Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi‑SUS)

— Programa Nacional de Gestão de Custos

• Da Atenção Primária em Saúde:

— Estratégia de Saúde da Família

— Programa de Saúde Bucal

— Banco de Leite Humano

— Rede Cegonha
75
Unidade I

— Cuida Mais Brasil, voltado à saúde da mulher e materno‑infantil

— Centro de Atenção Psicossocial

— Programa de Volta para Casa

— Programa Saúde na Escola

— Programa Academia da Saúde

— Programa Mais Médicos

— Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares

• Da Atenção Especializada à Saúde:

— Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu)

— Unidade de Pronto‑Atendimento 24 horas (UPA 24h)

— Doação de Sangue

— Sistema Nacional de Transplantes

— Plano de Expansão da Radioterapia no SUS

— Atenção Domiciliar

— Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP)

— HumanizaSUS

— Programa Nacional de Controle do Tabagismo

— Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social na Área de Saúde (Cebas)

— Força Nacional do SUS

• Da Vigilância em Saúde:

— Programa Nacional de Imunizações

— Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública

— Programa de Qualificação das Ações de Vigilância em Saúde

76
POLÍTICAS DE SAÚDE

• Trabalho e Educação na Saúde:

— Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde

— Sistema de Monitoramento da Educação na Saúde

— Residências em Saúde

— Ambientes Virtuais de Aprendizagem

• Da Ciência e Tecnologia:

— Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

— Programa Pesquisa para o SUS

— Programa Farmácia Popular do Brasil (Aqui Tem Farmácia Popular)

— Programa Nacional de Qualificação da Assistência Farmacêutica no Sistema Único de Saúde

— QualiSUS‑Rede

4.11.1 Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu)

É um programa com a função de prestar o socorro à população em casos de emergências. Atende às


urgências e emergências traumáticas, clínicas, pediátricas, cirúrgicas, gineco‑obstétricas e psiquiátricas.
Funciona 24 horas por dia e é composto de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares
de enfermagem e motoristas (socorristas). O serviço é prestado em qualquer lugar: residências, locais de
trabalho e ruas.

É acionado por chamada telefônica gratuita, atendida por profissionais técnicos na Central de
Regulação, que identificam o caso e imediatamente o transferem para o médico regulador, que faz o
diagnóstico da situação e inicia o atendimento no mesmo instante, orientando o paciente, ou a pessoa
que fez a chamada, sobre as primeiras ações e avalia a necessidade de encaminhamento para uma
unidade de pronto‑socorro ou aos hospitais públicos, nesse caso reservando leito para que o atendimento
tenha continuidade. Pode ser acionado por meio do número 192 e é o principal componente da Política
Nacional de Atenção às Urgências.

4.11.2 Unidades de pronto atendimento (UPA 24 horas)

São unidades de complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde e as portas de


urgência hospitalares. Fazem parte do atendimento pré‑hospitalar fixo (diferente do Samu, que é
móvel‑ambulância).

77
Unidade I

Seu funcionamento está diretamente relacionado ao Samu, pois este organiza o fluxo de
atendimento pré‑hospitalar de urgência e emergência e encaminha o paciente ao serviço de saúde
adequado à situação.

Essas unidades se organizam de acordo com o número de habitantes da população de cobertura da


região assistida, conforme a tabela a seguir (distribuição de unidades de pronto atendimento de acordo
com a região de cobertura):

Tabela 1

População da Número de atendimentos Número mínimo de Número mínimo de


Unidade região de cobertura médicos em 24 horas médicos por plantão leitos para observação
50.000 a 100.000 2 médicos (1 pediatra e 1
UPA Porte I 50 a 150 pacientes 5 a 8 leitos
habitantes clínico geral)
UPA Porte II 100.001 a 200.000 4 médicos (entre pediatras
151 a 300 pacientes 9 a 12 leitos
habitantes e clínicos gerais)
UPA Porte III 200.001 a 300.000 6 médicos (entre pediatras
301 a 450 pacientes 13 a 20 leitos
habitantes e clínicos gerais)

Fonte: Brasil (2008).

4.11.3 Programa Aqui Tem Farmácia Popular

Criado em 2004 com o nome Farmácia Popular do Brasil para ampliar o acesso da população aos
medicamentos essenciais, que são vendidos a preço de custo aos cidadãos em unidades próprias. Em
2017 foi extinto, permanecendo o programa Aqui Tem Farmácia Popular.

São farmácias credenciadas que realizam a entrega dos medicamentos e a venda com até 90% de
desconto de 107 itens para as doenças mais comuns na população brasileira, entre eles analgésicos,
anti‑hipertensivos, medicamentos para diabetes e anticoncepcionais.

4.11.4 Centros de Atenção Psicossocial (Caps)

É um programa de atenção à saúde mental, com valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica
Brasileira e serviços criados para substituir os hospitais psiquiátricos. Tem como funções:

• prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando as internações em hospitais


psiquiátricos;

• promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais através das ações intersetoriais;

• regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação e dar
suporte à atenção à saúde mental na rede básica.

78
POLÍTICAS DE SAÚDE

Os Caps têm base territorial e comunitária do SUS, referenciais no tratamento das pessoas que
sofrem com transtornos mentais (psicoses, neuroses graves e demais quadros), cuja severidade e/ou
persistência justifiquem sua permanência em um dispositivo de cuidado intensivo, comunitário,
personalizado e promotor de vida.

O objetivo dos Caps é oferecer atendimento à população de sua base territorial, realizando:

• acompanhamento clínico;

• reinserção social dos usuários, pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e
fortalecimento dos laços familiares e comunitários.

É um serviço de atendimento de saúde mental criado para ser substitutivo às internações em


hospitais psiquiátricos.

Existem diferentes tipos de Caps, segundo seu porte e clientela:

• Caps I:

— atendimento diário de adultos com transtornos mentais severos e persistentes;

— destinado a municípios com população entre 20 mil e 70 mil habitantes.

• Caps II:

— atendimento diário de adultos com transtornos mentais severos e persistentes;

— destinado a municípios com população com mais de 70 mil habitantes.

• Caps III:

— atendimento diário e noturno (24 horas), com funcionamento todos os dias da semana, para
adultos com transtornos mentais severos e persistentes;

— destinado às grandes cidades, com mais de 70 mil habitantes.

• Caps i:

— atendimento diário a crianças e adolescentes com transtornos mentais.

• Caps AD:

— atendimento diário da população com transtornos decorrentes do uso de álcool e outras


drogas.
79
Unidade I

4.11.5 Política Nacional de Saúde Bucal

O Brasil Sorridente integra a Política Nacional de Saúde Bucal pelo acesso a serviços odontológicos
de forma gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS). Esses serviços são ofertados em unidades de
Estratégia de Saúde Família (ESF), unidades odontológicas móveis (UOM), centros de especialidades
odontológicas (CEO) e hospitais. Além desses serviços, o Brasil Sorridente conta com laboratórios
regionais de prótese dentária (LRPD), que colaboram com a confecção laboratorial de próteses dentárias,
servindo de apoio para ESF, UOM e CEO.

O Brasil Sorridente tem interface com diversas ações e programas do Ministério da Saúde, como o
Brasil Sorridente Indígena, Programa Saúde na Escola, Plano Nacional para Pessoas com Deficiência,
Fluoretação das Águas de Abastecimento Público, entre outras.

Os centros de especialidades odontológicas (CEO) são um serviço de referência para as unidades


básicas de saúde. Eles são integrados ao processo de planejamento local (regional), com oferta, pelo
menos, das seguintes especialidades odontológicas:

• cirurgia oral menor;

• atendimento a pacientes com necessidades especiais;

• periodontia (tratamento de doenças na gengiva);

• endodontia (tratamento de canal) e diagnóstico oral, com ênfase na identificação do câncer


de boca.

Existem três tipos de CEO, conforme sua capacidade assistencial:

• CEO tipo I, com três cadeiras odontológicas;

• CEO tipo II, com quatro a seis cadeiras odontológicas;

• CEO tipo III, com sete ou mais cadeiras odontológicas.

Os CEOs constituem serviços que visam à ampliação da capacidade assistencial do SUS quanto às
ações de média complexidade em saúde bucal, na busca da promoção da integralidade na atenção à
saúde bucal.

4.11.6 Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD)

Tem o objetivo de reduzir o número de óbitos e a incidência da doença no Brasil, envolvendo ações
permanentes e intersetoriais, uma vez que não existem evidências técnicas de que seja possível a
erradicação do mosquito transmissor Aedes aegypti em curto prazo.

80
POLÍTICAS DE SAÚDE

Foi implantado em 2002 e desenvolve, em parcerias com estados e municípios, campanhas de


comunicação e mobilização social visando à prevenção e ao controle do mosquito transmissor,
eliminando potenciais criadouros do vetor em ambiente doméstico e tratando com larvicidas apenas
aqueles onde ações alternativas não puderam ser adotadas.

O PNCD está organizado segundo diretrizes de ações, das quais destacam‑se:

• o fortalecimento da vigilância epidemiológica, de modo a ampliar a capacidade de detecção


precoce de casos da doença;

• a integração do combate à dengue na Atenção Básica, articulada com os programas de agentes


comunitários de saúde (Pacs), Estratégia Saúde da Família e ações de saneamento ambiental
visando à redução de criadouros; esta diretriz tem o objetivo de estabelecer parcerias com vistas
à instalação de uma rede de pontos de recolhimento e destinação adequada de pneus inservíveis
(os ecopontos).

O Aedes aegypti tem algumas características específicas que favorecem sua disseminação e dificultam
o seu combate:

• é um mosquito altamente endófilo, utilizando, na maioria das vezes, os depósitos de água


domiciliares e outros artefatos como seus principais criadouros;

• aproximadamente 70% dos criadouros estão no interior dos domicílios; neste caso, as ações de
saneamento domiciliar são de grande importância para o controle do mosquito, e ações simples,
como a vedação de caixas-d’água e outros possíveis depósitos de água e a desobstrução de calhas,
são importantes para o controle do vetor.

A principal prioridade do programa é evitar a ocorrência de óbitos, diante da situação epidemiológica


do país, onde os sorotipos de dengue DEN‑1, DEN‑2 e DEN‑3 circulam simultaneamente. Ainda
não existe uma vacina para dengue no país, e estudos são desenvolvidos para uma vacina eficaz na
prevenção da doença.

4.11.7 Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária

A malária é uma doença infecciosa aguda, cujo agente etiológico é o parasita do gênero Plasmodium,
transmitida pela picada de fêmeas de mosquito do gênero Anopheles meigen que se infectam ao sugar
sangue de indivíduos doentes, infectando outras pessoas.

Os sintomas desse agravo são pouco específicos, sendo os mais comuns: febre alta acompanhada
de calafrios, sudorese abundante e cefaleia. Alguns pacientes podem manifestar, no início da doença,
outros sintomas, principalmente náuseas, vômitos, astenia, fadiga e anorexia.

81
Unidade I

Mais de 99% dos casos de malária anualmente diagnosticados no Brasil estão concentrados nos
nove estados que compõem a Amazônia Legal (Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará,
Rondônia, Roraima e Tocantins).

Ainda não existe uma vacina para a malária. No Brasil, 3,5 milhões de suspeitos/ano foram submetidos
ao diagnóstico laboratorial nas unidades do SUS no ano de 2006, dos quais 450 mil foram positivos para
malária, sendo‑lhes administrado imediatamente o tratamento específico para a cura da doença.

O Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária (PNCM) tem como objetivos gerais:

• reduzir a morbimortalidade por malária;

• reduzir a transmissão em áreas urbanas da Amazônia;

• manter a ausência de transmissão nas áreas onde a doença foi interrompida.

Para garantir o controle da doença, a redução das formas graves e a mortalidade por ela provocada,
o PNCM tem proporcionado apoio sistemático à estruturação dos serviços de saúde para o diagnóstico
e tratamento adequado e oportuno.

Outros componentes importantes do PNCM são:

• fortalecimento da vigilância epidemiológica, da educação em saúde e do controle seletivo de


vetores;

• capacitação de profissionais de saúde para desenvolverem as ações de prevenção e controle da


malária nas unidades de saúde do SUS.

Nos últimos anos, tem sido observado o considerável avanço no controle da malária e o fortalecimento
da parceria entre as três esferas de governo, estabelecida a partir do processo de descentralização das
ações de vigilância em saúde, com a permanente articulação intermunicipal promovida pelos gestores.

4.11.8 Plano Diretor de Vigilância Sanitária (PDVisa)

O Plano Diretor de Vigilância Sanitária é o instrumento através do qual são eleitas as prioridades em
Vigilância Sanitária, tendo sua origem e fundamentos na I Conferência Nacional de Vigilância Sanitária.

É resultado de discussões, desde março de 2005, envolvendo as três esferas de governo, e buscou
observar as visões e experiências dos gestores, profissionais de saúde e conselheiros do SUS envolvidos
nesse processo.

Esse Plano aborda as diretrizes para o fortalecimento do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS)
e sua efetiva consolidação como parte integrante do SUS, agregando‑as em cinco eixos, a saber:

82
POLÍTICAS DE SAÚDE

• organização e gestão do SNVS, no âmbito do SUS;

• ação regulatória: vigilância de produtos, de serviços e de ambientes;

• vigilância sanitária no contexto da atenção integral à saúde;

• produção do conhecimento, pesquisa e desenvolvimento tecnológico;

• construção da consciência sanitária: mobilização, participação e controle social.

4.11.9 Política de Educação Permanente em Saúde

A Política de Educação Permanente para o SUS é regida pelos seguintes princípios:

• articulação entre educação e trabalho no SUS;

• produção de processos e práticas de desenvolvimento nos locais de serviço;

• mudança nas práticas de formação e de saúde, tendo em vista a integralidade e humanização da


atenção à saúde;

• articulação entre ensino, gestão, atenção, participação popular e controle social em saúde e
produção de conhecimento para o desenvolvimento da capacidade pedagógica dos serviços e do
sistema de saúde.

O foco da Educação Permanente em Saúde são os processos de trabalho e as equipes (atenção,


gestão, participação e controle social), possibilitando a construção de um novo estilo de gestão, no qual
os pactos para reorganizar o trabalho sejam construídos coletivamente e os diferentes profissionais
passem a ser sujeitos da produção de alternativas para a superação de problemas.

A Política de Educação Permanente foi aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde, pactuada na
Comissão Intergestores Tripartite e instituída pela Portaria MS/GM n. 198, de 13 de fevereiro de 2004,
alterada pela Portaria MS/GM n. 1.996, de 20 de agosto de 2007, que introduziu novas diretrizes,
processos e instância para a implantação dessa política.

4.11.10 Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN)

Aprovada pela Portaria MS/GM n. 710, de 10 de julho de 1999, refere‑se ao reconhecimento do


direito humano universal à alimentação e à nutrição e tem por objetivos:

• assegurar a garantia da qualidade dos alimentos colocados para o consumo no país;

• realizar a promoção de práticas alimentares saudáveis;

83
Unidade I

• disseminar a adoção de práticas que garantam a prevenção e o controle dos distúrbios


nutricionais;

• garantir o acesso universal aos alimentos.

4.11.11 Política Nacional de Assistência Farmacêutica

Aprovada pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 338, de 6 de maio de 2004, a Política
Nacional de Assistência Farmacêutica envolve um conjunto de ações voltadas à promoção, à proteção e
à recuperação da saúde, garantindo os princípios da universalidade, integralidade e equidade.

Pretende servir de orientação às demais políticas intersetoriais, como as políticas de Medicamentos,


de Ciência, Tecnologia e Inovação, de Desenvolvimento Industrial e de Formação de Pessoal envolvendo
os setores público e privado de Atenção à Saúde.

Saiba mais

Para melhorar a compreensão dos conteúdos desta unidade, sugerimos


a seguinte leitura:

CARVALHO, G. A saúde pública no Brasil. Estudos Avançados, São Paulo,


v. 27, n. 78, p. 7-26, 2013. Disponível em: https://cutt.ly/I0POoHT. Acesso
em: 19 dez. 2022.

MERCADANTE, A. O. (coord.). Evolução das políticas e do sistema de


saúde. In: FINKELMAN, J. (org.). Caminhos da saúde no Brasil. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2002.

SIQUEIRA, J. E. de. 25 anos do SUS: o que há para comemorar?


O Mundo da Saúde, São Paulo, v. 37, n. 1, p. 56-64, 2013. Disponível em:
https://cutt.ly/N0POhx3. Acesso em: 19 dez. 2022.

Veja a seguir um resumo das atividades desenvolvidas pelo SUS nos anos de 1990 a 2021:

• 1990

— Transferência das atribuições, do acervo e dos recursos orçamentários da Sucam para a FSESP,
que passou a denominar‑se Fundação Nacional de Saúde (FNS).

— A Lei n. 8.029, de 1º de abril de 1990, autorizou o Poder Executivo a instituir a Fundação


Nacional de Saúde (FNS), mediante incorporação da FSESP e da Sucam.

84
POLÍTICAS DE SAÚDE

— A Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, instituiu o SUS, definindo seus objetivos, competências
e atribuições; princípios e diretrizes; organização, direção e gestão; criou o subsistema de
atenção à saúde indígena; regulou a prestação de serviços privados de assistência à saúde;
e definiu políticas de recursos humanos, financiamento, gestão financeira, planejamento e
orçamento.

— A Lei n. 8.101, de 6 de dezembro de 1990, incorporou à Fundação Nacional de Saúde (FNS) as


atividades de informática do SUS, desenvolvidas pela Empresa de Processamento de Dados da
Previdência Social (Dataprev).

— A Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, introduziu a gestão participativa no SUS, forma de


alocação dos recursos oriundos do Fundo Nacional de Saúde.

• 1991

— Intensificação da vacinação de recém‑nascidos com a BCG‑ID (BCG intradérmica) nas


maternidades de grande porte.

— Introdução da vacinação contra a febre amarela na rotina dos serviços permanentes de


vacinação nas áreas endêmicas.

— Implantação e ampliação da vacinação contra a hepatite B na Amazônia Ocidental.

— Instituição, através do Decreto n. 100, de 16 de abril de 1991, da Fundação Nacional de


Saúde (FNS).

— Estruturação da rede de atenção básica em saúde com o Programa de Agentes Comunitários


de Saúde.

— Início do Plano de Eliminação do Tétano Neonatal, com vacinação de mulheres em idade fértil
nos municípios de risco.

• 1992

— Efetivação do Plano Nacional de Eliminação do Sarampo, com a realização de campanha


nacional de vacinação em menores de 15 anos.

— Instituição da vacina contra a hepatite B para grupos de alto risco de infecção pelo vírus HB
em todo o país.

• 1993

— Descentralização e municipalização dos serviços e extinção do Instituto Nacional de Assistência


Médica da Previdência Social (Inamps).
85
Unidade I

• 1994

— Obtenção, pelo Brasil, do Certificado Internacional de Erradicação da Transmissão Autóctone


do Poliovírus Selvagem.

— Estruturação da Saúde da Família com equipes multidisciplinares atuando nas comunidades.

• 1995

— Lançamento do Projeto para Redução da Mortalidade na Infância (PRMI), integrante do


Programa Comunidade Solidária.

— Regulamentação do Sistema Nacional de Auditoria no âmbito do SUS.

• 1996

— Realização de campanha nacional de vacinação contra a hepatite B, envolvendo escolares e


odontólogos, esses últimos em parceria com o Conselho Nacional de Odontologia.

— Acesso e distribuição de medicamentos aos portadores de HIV/Aids.

— Redefinição do modelo de gestão do SUS que disciplina as relações entre União, estados,
municípios e Distrito Federal.

— Publicação da Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 196, de 10 de outubro de 1996,


que aprova diretrizes e normas reguladoras de pesquisas envolvendo seres humanos (Revoga a
Resolução CNS n. 01/1988).

• 1997

— Estabelecimento da vacina monovalente contra a rubéola no pós‑aborto e no pós‑parto.

— Criação do Piso de Atenção Básica (PAB) e repasse de recursos ao gestor municipal, por pessoa,
para o atendimento à Saúde.

— Criação do Disque Saúde.

• 1998

— Implantação da vacina contra o Haemophilus influenzae tipo B, para menores de um ano, em


todo o país.

86
POLÍTICAS DE SAÚDE

— Responsabilização direta dos municípios pela execução da vacinação, na rede de serviços, a


partir da sua habilitação às condições de gestão estabelecidas pela NOB/96: Gestão Plena de
Atenção Básica e Gestão Plena do Sistema Municipal.

— Implantação do Sistema Nacional de Transplantes.

— Início do Plano Estratégico de Mobilização Comunitária para o Combate à Dengue.

• 1999

— Regulamentação da NOB/SUS n. 1/1996 no que se refere às competências dos três níveis de


governo na área de epidemiologia e controle de doenças.

— Definição da sistemática de financiamento (Portaria GM/MS n. 1.399, de 15 de dezembro de 1999).

— Criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), uma nova etapa no registro e
fiscalização de medicamentos e alimentos.

— Criação da Política Nacional dos Medicamentos Genéricos.

• 2000

— Estabelecimento dos procedimentos e as responsabilidades relativas ao Controle e Vigilância


da Qualidade da Água para Consumo Humano e seu padrão de potabilidade (Portaria GM/MS
n. 1.469, de 29 de dezembro de 2000).

— Criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar – Regulamentação do setor privado


de saúde.

• 2001

— A Lei Federal n. 10.216 dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais.

— Aprovação da Norma Operacional de Assistência à Saúde (Noas‑SUS 1/2001), que ampliou


a responsabilidade dos municípios na atenção básica, definiu o processo de regionalização
da assistência, criou mecanismos para o fortalecimento da capacidade de gestão do SUS e
procedeu à atualização dos critérios de habilitação de estados e municípios (Portaria GM/MS
n. 95, de 2 de janeiro de 2001).

— Regulamentação da Portaria GM/MS n. 1.399/99, no que se refere às competências da União,


estados, municípios e Distrito Federal na área de Vigilância Ambiental em Saúde (Instrução
Normativa Funasa n. 1, de 25 de setembro de 2001).

— Definição da relação de doenças de notificação compulsória em todo o território nacional


(Portaria GM/MS n. 1.943, de 18 de outubro de 2001).
87
Unidade I

— Adoção da vacinação obrigatória de trabalhadores das áreas portuárias, aeroportuárias, de


terminais e passagens de fronteira (Portaria GM/MS n. 1.986, de 25 de outubro de 2001).

• 2002

— Inclusão das ações de epidemiologia e controle de doenças na gestão da atenção básica de


saúde (Portaria GM/MS n. 44, de 3 de janeiro de 2002).

— Instituição, no âmbito do SUS, do Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites
Virais, a ser desenvolvido pelos três níveis de gestão; definindo as competências e atribuições
relativas à implantação/gestão do Programa em cada nível de direção do SUS; estabelecendo
níveis assistenciais; delegando à Funasa a coordenação do Sistema Epidemiológico das
Hepatites Virais e o uso de imunobiológicos para a prevenção das hepatites virais, entre outras
providências (Portaria GM/MS n. 263, de 5 de fevereiro de 2002).

— Instituição, no âmbito do Ministério da Saúde, da Comissão de Biossegurança em Saúde


(Portaria GM/MS n. 343, de 19 de fevereiro de 2002).

— Aprovação da Norma Operacional de Assistência à Saúde (Noas‑SUS n. 01/2002), que ampliou as


responsabilidades dos municípios na Atenção Básica; estabeleceu o processo de regionalização
como estratégia de hierarquização dos serviços de saúde e de busca de maior equidade; criou
mecanismos para o fortalecimento da capacidade de gestão do Sistema Único de Saúde e
procedeu à atualização dos critérios de habilitação de estados e municípios (Portaria GM/MS
n. 373, de 27 de fevereiro de 2002).

— Alterações na Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispôs sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento correspondentes.

— Regulamentação da assistência domiciliar no âmbito do SUS e outras providências (Lei


n. 10.424, de 15 de abril de 2002).

— Instituição do Dia Nacional da Mobilização contra a Dengue (Portaria GM/MS n. 1.346, de


24 de julho de 2002).

— Criação do Programa Nacional de Controle da Dengue (Portaria GM/MS n. 1.347, de 24 de


julho de 2002).

— Formação do Cartão Nacional de Saúde – Cartão SUS (Portaria GM/MS n. 1.560, de 29 de


agosto de 2002).

— Concepção do Comitê Nacional de Mobilização Contra a Dengue (Portaria Funasa n. 408, de


12 de setembro de 2002).

88
POLÍTICAS DE SAÚDE

— Definição do parâmetro que caracteriza situação de iminente perigo à saúde pública pela
presença do mosquito transmissor da dengue (Portaria Funasa n. 559, de 4 de dezembro de 2002).

— Instituição do Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária (Portaria Funasa n. 663,


de 27 de dezembro de 2002).

— Criação das seguintes Políticas Nacionais: de Saúde da Pessoa com Deficiência, de Atenção à
Saúde dos Povos Indígenas e de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências.

• 2003

— Criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

— Criação do programa De Volta para Casa, que contribui com o processo de reinserção social de
pessoas com história de internação psiquiátrica.

— Formulação do Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS com os objetivos


de promover as pesquisas científico‑tecnológicas que atendam às necessidades do Sistema
Único de Saúde (SUS); reconhecer e premiar os méritos dos pesquisadores responsáveis pela
condução de pesquisas básicas e aplicadas com elevado potencial de utilização pelo SUS; e
divulgar nacional e internacionalmente os resultados dos trabalhos premiados e selecionados
(Portaria GM/MS n. 1.419, de 24 de julho de 2003).

— Criação do Comitê Interministerial da Inclusão Social de Catadores de Lixo (Decreto s/n, de


11 de setembro de 2003).

— Constituição do Comitê Nacional de Mobilização contra a Dengue (Portaria GM/MS n. 2.001,


de 17 de outubro de 2003).

— Instituição do Programa Nacional para Prevenção e Controle das Hepatites Virais e o Comitê
Técnico de Acompanhamento e Assessoramento do Programa (Portaria GM/MS n. 2.080, de
31 de outubro de 2003).

• 2004

— Implantação das Políticas Nacionais de Atenção Integral à Saúde da Mulher, de Humanização


do SUS e de Saúde do Trabalhador.

— Criação do programa Brasil Sorridente, um conjunto de ações para melhorar as condições de


saúde bucal.

— Criação do programa Farmácia Popular do Brasil.

— Criação da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobras).


89
Unidade I

• 2005

— Início da Política Nacional de Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos.

— Publicação do Plano Nacional de Saúde.

• 2006

— Criação dos Pactos pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão estabelecidos pelos gestores das
esferas federal, estadual e municipal, com objetivos e metas compartilhadas.

— Início da Política de Saúde da Pessoa Idosa.

• 2007

— Início da Política Nacional sobre o Álcool e veiculação de campanhas sobre o uso abusivo.

• 2008

— Ação efetiva para regulamentação da Emenda Constitucional n. 29, que trata do financiamento
das ações e serviços públicos de saúde.

• 2009

— Lançamento da Campanha Nacional de Prevenção à Influenza H1N1.

— Início da Política Nacional da Saúde do Homem.

— Inauguração do centro de estudo para produção de células‑tronco.

• 2010

— Criação do primeiro cadastro nacional de pesquisas clínicas realizadas em seres humanos.

— Criação da Universidade Aberta do SUS.

— Criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena.

— Instituição, em todo o território nacional, do Calendário de Vacinação para os Povos Indígenas


(Portaria GM/MS n. 1.946, de 19 de julho de 2010).

— Instituição do Programa Pró‑Catador (Decreto n. 7.405, de 23 de dezembro de 2010).

90
POLÍTICAS DE SAÚDE

• 2011

— Criação da Estratégia Rede Cegonha.

— Regulamentação da Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre a organização


do SUS.

— Implantação do Plano Nacional de Enfrentamento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis.

— Regulamentação do Cartão Nacional de Saúde.

— Início do Programa Saúde Não Tem Preço.

— Estabelecimento das diretrizes, competências e atribuições do Programa Nacional de Apoio


ao Controle da Qualidade da Água para Consumo Humano (Portaria Funasa n. 177, de 21 de
março de 2011).

Observação

Presentemente, de forma esquemática, o Ministério da Saúde é


composto de órgãos que se inter‑relacionam (BRASIL, 2012), conforme
se verá a seguir.

• 2012

— Sanção da Lei Complementar n. 141/12, que traz em seu texto os percentuais mínimos a serem
investidos pelas esferas de governo nas ações e serviços de saúde e deixa claro, em seu texto,
quais são as ações e serviços de saúde.

— Publicação da Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 466, de 12 de dezembro de 2012,


que aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos
(Revoga a Resolução CNS n. 196/1996).

• 2013

— Publicação da Portaria GM/MS n. 252, de 19 de fevereiro de 2013, que institui a Rede de


Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do SUS.

— Publicação da Portaria GM/MS n. 529, de 1º de abril de 2013, que institui o Programa Nacional
de Segurança do Paciente (PNSP).

— Publicação da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Anvisa n. 36, de 25 de julho de 2013, que
institui ações para a Segurança do Paciente em Serviços de Saúde e dá outras providências.
91
Unidade I

— Publicação da Portaria GM/MS n. 3.390, de 30 de dezembro de 2013, que institui a Política


Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP) no âmbito do SUS, estabelecendo as diretrizes para
a reorganização do componente hospitalar da Rede de Atenção à Saúde (RAS).

• 2014

— Publicação da Portaria GM/MS n. 142, de 27 de janeiro de 2014, que institui, no âmbito do


Sistema Único de Saúde (SUS), o Incentivo de Qualificação da Gestão Hospitalar (IGH) de que
trata a Portaria n. 3.410/GM/MS, de 30 de dezembro de 2013, a qual estabelece as diretrizes para
a contratualização de hospitais no âmbito do SUS, em consonância com a Política Nacional de
Atenção Hospitalar (PNHOSP).

• 2015

— Publicação da Emenda Constitucional n. 86/15, que altera o art. 198 da Constituição Federal,
deixando claro o valor mínimo a ser investido pelas esferas de governo e o valor mínimo de
15% para a União (recursos próprios).

— Publicação da Lei n. 13.097/15, que altera o artigo 23 da Lei Orgânica da Saúde (Lei n. 8.080/90),
passando a ser permitida a participação direta e indireta de capital estrangeiro na assistência
à saúde no Brasil, e inclui o art. 53A na citada LOS.

— Publicação da Portaria GM/MS n. 1.646, de 2 de outubro de 2015, que institui o Cadastro


Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).

• 2016

— Publicação da Portaria GM/MS n. 2.567, de 25 de novembro de 2016, que dispõe sobre a


participação complementar da iniciativa privada na execução de ações e serviços de saúde e o
credenciamento de prestadores de serviços de saúde no SUS.

• 2017

— Criação da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) – Portaria MS/GM n. 2.436, de 21 de


setembro de 2017.

— Publicação da Portaria GM/MS n. 895, de 31 de março de 2017, que institui o cuidado


progressivo ao paciente crítico ou grave com os critérios de elegibilidade para admissão e
alta, de classificação e de habilitação de leitos de terapia intensiva adulto, pediátrico, UCO,
queimados e cuidados intermediários adulto e pediátrico no âmbito do SUS.

— Publicação da Portaria de Consolidação GM/MS n. 1, que consolida as normas sobre os direitos


e deveres dos usuários da saúde, a organização e o funcionamento do Sistema.

92
POLÍTICAS DE SAÚDE

— Publicação da Portaria de Consolidação GM/MS n. 2, que consolida a Política Nacional de


Atenção Hospitalar (PNHOSP) no âmbito do SUS e institui a consolidação das normas sobre
as políticas nacionais de saúde do SUS, em seu Capítulo II – Das Políticas de Organização
da Atenção à Saúde, Seção I – Das Políticas Gerais de Organização da Atenção à Saúde,
Art. 6º – inciso IV, Anexo XXIV (p. 142‑145), estabelecendo as diretrizes para a organização do
componente hospitalar da Rede de Atenção à Saúde (RAS).

— Publicação da Portaria de Consolidação GM/MS n. 3, que consolida as normas sobre as


redes do SUS.

— Publicação da Portaria de Consolidação GM/MS n. 4, que consolida as normas sobre os sistemas


e os subsistemas do SUS.

— Publicação da Portaria de Consolidação GM/MS n. 5, que consolida as normas sobre as ações e


os serviços de saúde do SUS.

— Publicação da Portaria de Consolidação GM/MS n. 6, que consolida as normas sobre o


financiamento e a transferência dos recursos federais para as ações e os serviços de
saúde do SUS.

• 2018

— Publicação da Portaria MS/SAS n. 288, de 12 de março de 2018, que redefine a operacionalização


do cadastramento de serviços de atendimento pré‑hospitalar móvel de urgência e o elenco de
profissionais que compõem as equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu
192) no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).

• 2019

— Publicação da Portaria MS/SAES n. 1.399, de 17 de dezembro de 2019, que redefine os critérios


e parâmetros referenciais para a habilitação de estabelecimentos de saúde na alta complexidade
em oncologia no âmbito do SUS.

• 2020

— Atendimento às pessoas com Sars‑Cov‑19 (Covid‑19).

— Publicação da Portaria n. 2.796/GM/MS, de 13 de outubro de 2020, que autoriza, temporariamente,


a utilização dos leitos de Hospitais de Pequeno Porte (HPP) para cuidados prolongados e
estabelece recurso financeiro do Bloco de Manutenção das Ações e Serviços Públicos de Saúde –
Grupo Coronavírus (Covid‑19) a ser disponibilizado a estados e municípios.

93
Unidade I

• 2021

— Autorização e aplicação das vacinas para Sars‑Cov‑19 (Covid‑19).

— Publicação da Portaria MS/SAS n. 225, de 10 de março de 2021, que altera a Portaria


n. 688/SAS/MS, de 6 de abril de 2017, a qual reformula o Regulamento Técnico da Central
Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) e das centrais estaduais de regulação
de alta complexidade (Cerac);

— Portaria GM/MS n. 829, de 28 de abril de 2021, que dispõe sobre o procedimento para
autorização de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto e Pediátrico Covid‑19, em
caráter excepcional e temporário, para o atendimento exclusivo de pacientes com síndrome
respiratória aguda grave SRAG/Covid‑19.

94
POLÍTICAS DE SAÚDE

Resumo

O tema saúde pública evoca a questão da própria finalidade do Estado.


Cabe a ele promover o bem‑estar social, que, de acordo com o desenho
dado pela Constituição Federal, no seu título que trata da ordem social,
remete ao conceito de seguridade social.

Assim, entender as três componentes da seguridade social (previdência,


saúde pública e assistência social), segundo sua estruturação constitucional,
nos possibilita a compreensão da estruturação dos órgãos e entidades
envolvidos e a discriminação de funções, responsabilidades e atribuições
desses órgãos e entidades.

Quanto à saúde pública, é importante destacar o que está garantido


no artigo 196 da Constituição Federal, que estabelece que a saúde é
direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação. Assim, somente com o advento da Constituição
Federal, em 1988, sucedida pela regulamentação da Lei n. 8.080/1990,
da Lei n. 8.142/1990, da Emenda Constitucional n. 29/2000, do Decreto
n. 7.508/2011 e da Lei Complementar n. 141/2012, é que, finalmente, foram
traçadas as bases legais atuais de funcionamento do SUS.

O texto constitucional demonstra claramente que a concepção do


SUS está baseada na formulação de um modelo de saúde voltado para as
necessidades da população, procurando resgatar o compromisso do Estado
para com o bem‑estar social, especialmente no que se refere à saúde
coletiva, consolidando‑a como um dos direitos da cidadania.

O SUS, com o seu modelo operacional, propôs a sua forma de organização


e de funcionamento, determinando seus princípios, objetivos e atribuições,
inclusive quanto à vigilância sanitária, vigilância epidemiológica, saúde
do trabalhador, assistência farmacêutica, atribuições, financiamento e
participação da iniciativa privada.

Para sua implantação e operacionalização, o SUS foi fundamentado


em princípios doutrinários (universalidade, equidade e integralidade) e em
princípios organizativos (hierarquização, resolubilidade, descentralização e
participação popular).

95
Unidade I

É importante, ainda, destacar o Pacto da Saúde, de 2006, caracterizado


pela instituição de metas a serem atingidas para diminuir as doenças ou
riscos de grupos populacionais: saúde do idoso; câncer de colo uterino e
mama; mortalidade infantil e materna; doenças emergentes e endemias;
promoção à saúde; atenção básica à saúde (principalmente na Estratégia de
Saúde da Família) e os Pactos em defesa dos SUS – defesa e fortalecimento
dos princípios do SUS.

O Pacto pela Vida, de 2008, acrescentou as seguintes prioridades: saúde


do trabalhador; saúde mental; fortalecimento da capacidade de resposta do
sistema de saúde às pessoas com deficiência; atenção integral às pessoas
em situação ou risco de violência e saúde do homem.

No ano de 2013, foi instituída a Política Nacional de Segurança do


Paciente, importante marco para evitar erros profissionais decorrentes da
assistência à saúde.

Já em 2017, todas as políticas, programas e ações do SUS foram reunidas


e compiladas nas Portarias de Consolidação de 1 a 6, facilitando a pesquisa
sobre estas temáticas e a legislação correspondente.

96
POLÍTICAS DE SAÚDE

Exercícios

Questão 1. Em relação à seguridade social no Brasil, avalie as afirmativas.

I – Na estrututura adotada na Constituição Federal, de 1988, a saúde pública, a Previdência Social e


a assistência social são os três componentes da seguridade social.

II – Segundo a Constituição Federal, de 1988, a seguridade social compreende um conjunto de


ações autônomas, estanques e independentes, de iniciativa exclusiva dos poderes públicos, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

III – Entre as diretrizes expressas na Constituição Federal, de 1988, que orientam os mecanismos
da seguridade social, temos a variabilidade e a desigualdade dos serviços em função do local em que o
beneficiário esteja instalado (na cidade ou no campo).

É correto o que se afirma em:

A) I, apenas.

B) II, apenas.

C) III, apenas.

D) I e III, apenas.

E) I, II e III.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: a Constituição Federal, de 1988, ao tratar do Título VIII (da Ordem Social), divide‑o
em 9 capítulos, dedicando o capítulo II à seguridade social, subdividindo‑o nas seções I (Disposições
Gerais – artigos 194 e 195), II (Da Saúde – artigos 196 a 200), III (Da Previdência Social – artigos 201
e 202) e IV (Da Assistência Social – artigos 203 e 204).

Logo, a Constituição Federal, dispondo sobre a seguridade social, no caput do seu artigo 194, define-a
e a desdobra em três componentes:

97
Unidade I

• Saúde pública

• Previdência Social

• Assistência social

II – Afirmativa incorreta.

Justificativa: no artigo 194 da Constituição Federal, de 1998, em relação à seguridade social, temos
o que segue:

“Art. 194. A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social.”

II – Afirmativa incorreta.

Justificativa: nos seus incisos I a VII, a Constituição Federal, de 1988, estabelece as diretrizes que
orientam os mecanismos da seguridade social, mostrados a seguir:

• Universalidade da cobertura e do atendimento.

• Uniformidade e equivalência dos serviços, independentemente de onde se encontre instalado o


beneficiário (na cidade ou no campo).

• Seletividade e distributividade.

• Administração democrática, descentralizada e quadripartite, que se encontram na implantação e


na gestão dos órgãos que prestam os serviços de saúde, assistenciais ou previdenciários.

Questão 2. Leia o texto a seguir.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do
mundo, abrangendo desde o simples atendimento para a avaliação da pressão arterial, por meio da
atenção primária, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda
a população do país.

Com a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema público de saúde, sem
discriminação. A atenção integral à saúde, e não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um
direito de todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de
vida, visando à prevenção e à promoção da saúde.

A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser solidária e participativa entre os três entes da
Federação: a União, os Estados e os Municípios.
98
POLÍTICAS DE SAÚDE

A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tanto ações quanto os serviços de saúde. Engloba a
atenção primária, a média e a alta complexidades, os serviços de urgência e de emergência, a atenção
hospitalar, as ações, os serviços das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental e a assistência
farmacêutica.

Adaptado de: https://bityli.com/aKpYJpbBZ. Acesso em: 10 jan. 2023.

Em relação ao Sistema Único de Saúde (SUS), avalie as afirmativas:

I – O SUS é composto pelo Ministério da Saúde, pelos estados e pelos municípios, conforme determina
a Constituição Federal, de 1988, sendo que cada ente tem suas corresponsabilidades.

II – Os princípios doutrinários do SUS são universalidade, equidade e integralidade.

III – Os princípios organizativos do SUS são regionalização e hierarquização, resolubilidade,


descentralização e participação popular.

É correto o que se afirma em:

A) I, apenas.

B) II, apenas.

C) III, apenas.

D) I e III, apenas.

E) I, II e III.

Resposta correta: alternativa E.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: segundo o texto, no que se refere ao SUS, “a gestão das ações e dos serviços de saúde
deve ser solidária e participativa entre os três entes da Federação: a União, os estados e os municípios”.
Logo, o SUS é composto pelo Ministério da Saúde, estados e municípios, conforme determina a
Constituição Federal, de 1988, sendo que cada ente tem suas corresponsabilidades, conforme mostra
o quadro a seguir.

99
Unidade I

Quadro 5

Ministério Secretaria Estadual Secretaria Municipal


da Saúde de Saúde (SES) de Saúde (SMS)
Gestor nacional do SUS, Participa da formulação Planeja, organiza.
formula, normatiza, fiscaliza, das políticas e ações controla, avalia e
monitora e avalia políticas e de saúde, presta apoio executa as ações e
ações, em articulação com o aos municípios em serviços de saúde em
Conselho Nacional de Saúde. articulação com o articulação com o
Atua no âmbito da Comissão conselho estadual e conselho municipal
Intergestores Tripartite para participa da Comissão e a esfera estadual
pactuar o Plano Nacional de Intergestores Bipartite para aprovar e
Saúde. Integram sua estrutura: (CIB) para aprovar e implantar o plano
Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, implementar o plano municipal de saúde.
Hemobrás, Inca, Into e oito estadual de saúde.
hospitais federais.

Disponível em: https://bityli.com/aKpYJpbBZ. Acesso em: 10 jan. 2023.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: os princípios doutrinários do SUS são os explicados a seguir.

• Universalidade. A atenção à saúde é assegurada para todas as pessoas, todos os cidadãos, que
têm direito a todos os serviços de saúde, públicos ou contratados. Esse princípio doutrinário
fundamenta-se na disposição constitucional de que a saúde é um direito do cidadão e um dever
do Estado (nas esferas federal, estadual e municipal).

• Equidade. Todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades, até o
limite do que o sistema puder oferecer, sem privilégios ou restrições. O atendimento deve ser dado
a todos, principalmente àqueles que mais necessitam. Esse princípio visa a diminuir desigualdades,
investindo-se mais onde há maiores carências.

• Integralidade. Esse princípio funda-se na proposição de que o ser humano é um ser integral,
biopsicossocial, e deve ser atendido, desde o seu nascimento até a sua morte, por um sistema de
saúde também integral, voltado à promoção e à recuperação da sua saúde, que realiza desde um
curativo simples a um procedimento extremamente complexo.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: os princípios organizativos do SUS são os explicados a seguir.

• Regionalização e hierarquização. A organização dos serviços deve se dar em crescentes níveis


de complexidades, observadas a delimitação geográfica regional e a definição da população a
ser atendida. A população deve ter acesso à rede por meio dos serviços de nível primário de
atenção, qualificados para resolver os principais problemas demandados no sistema de saúde.

100
POLÍTICAS DE SAÚDE

Os demais problemas devem ser referenciados, ou seja, encaminhados para os serviços de maior
complexidade tecnológica.

• Resolubilidade. Esse princípio constitui-se na exigência de que o serviço de saúde esteja capacitado
para enfrentar e resolver, no nível da sua competência, o problema que lhe seja proposto.

• Descentralização. Os serviços e as ações devem ser distribuídos entre os vários níveis de governo,
sob a premissa básica de que quanto mais perto do fato for tomada a decisão, maior será a chance
de acerto. Assim, o município, o estado e a União devem ser responsabilizados de acordo com suas
respectivas áreas de abrangência, devendo, entretanto, o sistema ser conduzido no sentido de que
as atribuições dos vários níveis de governo se direcionem ao reforço do poder municipal sobre a
saúde (“municipalização da saúde”).

• Participação popular. É assegurada à população, por meio de suas entidades representativas, o


direito, constitucionalmente estabelecido, de participar do processo de formulação das políticas
de saúde e do controle da sua execução, em todos os níveis de decisão (federal, estadual ou
municipal). Essa participação pode se dar nos conselhos de saúde (com representações paritárias)
ou nas conferências periódicas de saúde, com o objetivo de definir as prioridades e as linhas de
ação sobre saúde.

101

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