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Políticas em Saúde
Políticas em Saúde
É especialista em Ergonomia, Administração Hospitalar e Saúde do Trabalhador, mestre pela Faculdade de Ciências
Médicas da Unicamp e doutora pela USP. Voluntária há mais de vinte anos, presta serviços na comunidade da Vila
Brandina, em Campinas. Atua há mais de três décadas como enfermeira e foi coordenadora de um serviço de saúde
ocupacional. Fundou o grupo de enfermeiros do trabalho de Campinas e região. Foi conselheira da Associação Nacional
de Enfermeiros do Trabalho. Atuou como professora titular do Curso de Graduação e Pós‑graduação em Enfermagem
da UNIP e professora convidada do Curso de Pós‑Graduação da Escola de Enfermagem da USP e da PUC de Goiânia.
Giseli Panigassi
É nutricionista com aperfeiçoamento em Saúde pela CNPq/Unicamp (1991), aprimoramento em Saúde Pública
pela Fundap/Unicamp (1992), especializações em Saúde Pública pelo Ministério da Saúde/Unicamp (1993) e em
Epidemiologia pela Unicamp (1994), mestre em Saúde Coletiva pela Unicamp (2000) e doutora em Saúde Coletiva pela
Unicamp (2005). Como sanitarista, sempre trabalhou em serviços públicos com foco no ensino e na pesquisa. Atuou
como professora titular da UNIP.
É enfermeiro formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), mestre e doutor em Bioética pelo Centro
Universitário São Camilo, pós‑doutor em Bioética pela Universidade de Brasília e especialista em Gerenciamento dos
Serviços de Enfermagem pela Unifesp, em Educação Profissional pela Ensp/FioCruz e em Enfermagem do Trabalho
pela Uniban. É fiscal do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren‑SP) e professor titular do curso de
graduação e pós‑graduação em Enfermagem da UNIP.
CDU 614
U517.25 – 23
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quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Profa. Sandra Miessa
Reitora
UNIP EaD
Profa. Elisabete Brihy
Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto
Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Material Didático
Comissão editorial:
Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista
Profa. M. Deise Alcantara Carreiro
Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 11
Unidade I
1 POLÍTICA E POLÍTICAS PÚBLICAS............................................................................................................... 13
2 SEGURIDADE SOCIAL: HISTÓRIA DA SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL..................................... 15
2.1 Saúde pública.......................................................................................................................................... 15
2.1.1 Período colonial e imperial.................................................................................................................. 16
2.1.2 Início da República.................................................................................................................................. 17
2.1.3 Previdência Social.................................................................................................................................... 33
2.1.4 Assistência social..................................................................................................................................... 40
3 SEGURIDADE SOCIAL NA ATUALIDADE: COMPOSIÇÃO E NORMATIZAÇÃO............................. 43
3.1 Seguridade Social.................................................................................................................................. 43
3.2 Saúde pública.......................................................................................................................................... 46
3.3 Previdência Social................................................................................................................................. 49
3.4 Assistência social................................................................................................................................... 53
4 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)............................................................................................................. 54
4.1 A reforma sanitária brasileira........................................................................................................... 55
4.2 Definição................................................................................................................................................... 56
4.3 Legislação básica................................................................................................................................... 57
4.4 Normas operacionais básicas........................................................................................................... 58
4.5 Princípios do SUS.................................................................................................................................. 58
4.6 O Pacto pela Saúde............................................................................................................................... 60
4.6.1 O Pacto em Defesa do SUS.................................................................................................................. 61
4.7 O custeio do SUS................................................................................................................................... 62
4.7.1 Bloco da assistência farmacêutica................................................................................................... 64
4.7.2 Bloco da atenção básica....................................................................................................................... 65
4.7.3 Bloco da atenção de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar.................. 65
4.7.4 Bloco de gestão do SUS........................................................................................................................ 66
4.7.5 Bloco de vigilância sanitária............................................................................................................... 67
4.8 O controle social do SUS.................................................................................................................... 68
4.9 Os gestores do SUS............................................................................................................................... 71
4.10 Conselhos de saúde............................................................................................................................ 73
4.10.1 O Conass e o Conasems...................................................................................................................... 74
4.11 Ações, programas e políticas do SUS.......................................................................................... 75
4.11.1 Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).............................................................. 77
4.11.2 Unidades de pronto atendimento (UPA 24 horas)................................................................... 77
4.11.3 Programa Aqui Tem Farmácia Popular.......................................................................................... 78
4.11.4 Centros de Atenção Psicossocial (Caps)....................................................................................... 78
4.11.5 Política Nacional de Saúde Bucal.................................................................................................... 80
4.11.6 Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD)............................................................... 80
4.11.7 Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária..................................................... 81
4.11.8 Plano Diretor de Vigilância Sanitária (PDVisa)........................................................................... 82
4.11.9 Política de Educação Permanente em Saúde............................................................................. 83
4.11.10 Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN).......................................................... 83
4.11.11 Política Nacional de Assistência Farmacêutica........................................................................ 84
Unidade II
5 POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SAÚDE..............................................................................102
5.1 Promoção da saúde............................................................................................................................102
5.1.1 Declaração de Alma‑Ata.....................................................................................................................102
5.1.2 Carta de Ottawa.....................................................................................................................................103
5.1.3 Outras conferências..............................................................................................................................105
5.2 A Política Nacional de Promoção da Saúde no Brasil: normatização............................107
5.3 Municípios saudáveis.........................................................................................................................109
6 MODELOS E SISTEMAS DE ATENÇÃO À SAÚDE..................................................................................110
6.1 Definição, características e composição....................................................................................110
6.2 Modelos de sistemas de atenção à saúde.................................................................................112
6.2.1 Modelo universalista............................................................................................................................ 113
6.2.2 Modelo do seguro social..................................................................................................................... 113
6.2.3 Modelo de seguros privados............................................................................................................. 113
6.2.4 Modelo assistencialista........................................................................................................................113
6.2.5 O modelo do SUS...................................................................................................................................113
6.2.6 Modelos de sistemas de atenção à saúde no mundo.............................................................115
7 ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE.......................................................................................................................119
7.1 Fundamentos da Atenção Básica à Saúde................................................................................119
7.1.1 Prevenção primária.............................................................................................................................. 120
7.1.2 Prevenção secundária......................................................................................................................... 120
7.1.3 Prevenção terciária.............................................................................................................................. 120
7.1.4 Prevenção quaternária........................................................................................................................121
7.1.5 Prevenção primordial...........................................................................................................................121
7.2 Normatização da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB).......................................121
7.3 Responsabilidades das esferas gestoras em Atenção Básica.............................................122
7.4 Estratégia Saúde da Família............................................................................................................123
7.4.1 Características, contexto e finalidades........................................................................................ 123
7.4.2 Equipes de saúde.................................................................................................................................. 124
7.4.3 Gestão da ESF......................................................................................................................................... 125
7.4.4 Programa Médicos pelo Brasil......................................................................................................... 125
7.4.5 Política Nacional de Saúde Bucal – Brasil Sorridente............................................................ 127
7.5 A Política Nacional de Humanização (PNH) do SUS: HumanizaSUS.............................128
8 SISTEMA DE SAÚDE SUPLEMENTAR.......................................................................................................132
8.1 Criação do sistema de saúde suplementar...............................................................................132
8.2 Regulamentação do sistema de saúde suplementar............................................................135
8.3 Regulação no setor saúde...............................................................................................................135
8.4 Definições de termos relacionados à saúde suplementar..................................................137
8.5 Sistema de Saúde Suplementar no contexto da saúde pública.......................................138
8.6 Política de Qualificação da Saúde Suplementar.....................................................................140
APRESENTAÇÃO
O maior castigo para os que não se interessam por política é que serão
governados pelos que se interessam.
Arnold Toynbee
Prezado(a) aluno(a)
Vamos embarcar num grande desafio, que é fazê‑lo(a) compreender a importância desses conceitos
e de um sistema de saúde que promova e preserve o bem‑estar de todos embasado em leis e normas que
veremos no desenvolvimento do conteúdo. Isso é importante para quebrar o pensamento equivocado
de que tudo que é gratuito não pode ser oferecido com qualidade.
Sabemos que o profissional de saúde tem uma missão: pôr em prática o bem‑estar evocado,
superando a limitação de apenas viver ou de só controlar a doença (sem combater suas causas) e adotar
práticas protetivas e preventivas, sempre de menor custo e mais eficientes.
Nesta disciplina, os conteúdos foram desenvolvidos visando construir o conhecimento. Como diz
Paulo Freire em suas obras, ensinar não é somente transmitir o saber; a missão do professor é possibilitar
a criação e a produção de conhecimento. Pensando nisso, a proposta aqui é perseguirmos juntos os
seguintes objetivos:
• abarcar os principais marcos históricos da saúde, com destaque para a evolução do sistema de
saúde no Brasil;
9
• entender a complexidade do campo da saúde coletiva, com apoio numa análise política que permita
refletir sobre estratégias de transformação das estruturas tradicionais na assistência à saúde;
Esperamos que, ao final deste livro‑texto, você tenha clareza do processo histórico da saúde, suas
lutas e conquistas, podendo, assim, compreender e valorizar a participação do profissional de saúde
e tornando‑se, de fato, um ator protagonista na permanente construção de modelos de atenção que
promovam e protejam a saúde da população.
10
INTRODUÇÃO
A avaliação do estado de saúde das populações dependeu, durante longo período de tempo,
quase que exclusivamente dos indicadores derivados de dados de mortalidade, mas esses índices
perderam progressivamente a capacidade de medir a saúde em decorrência da forte redução das
taxas de mortalidade, do aumento da sobrevida e da crescente prevalência de doenças crônicas, de
baixa letalidade, mas altamente incapacitantes. O novo espectro do problema passou a requerer,
para adequada mensuração dos níveis de saúde, a construção de indicadores de incidência e
prevalência de doenças, de lesões por acidentes e violências e de transtornos mentais e deficiências
físicas. A presença simultânea de várias doenças no mesmo indivíduo, fenômeno que se intensifica
com o aumento de sobrevida da população, demandou a elaboração de índices de comorbidades
(CHARLSON et al., 1994).
O novo contexto também deixa claro que ter uma doença diagnosticada não se acompanha,
necessariamente, do mesmo grau de prejuízo nos níveis de saúde e de autonomia na realização
de tarefas cotidianas. O impacto da doença em provocar limitações e incapacidades passa a ser
dimensionado por instrumentos que avaliam a preservação das atividades da vida diária e da qualidade
de vida em saúde.
Sabemos que as desigualdades sociais em saúde são registradas de longa data, tendo seu estudo
sido retomado com ênfase, nas últimas décadas, diante da verificação da persistência ou ampliação dos
diferenciais de saúde entre os segmentos sociais (WHO, 2002; GWATKIN, 2000).
Convidamos a todos para a leitura nessa jornada do conhecimento sobre as políticas de saúde
adotadas em nosso país.
11
POLÍTICAS DE SAÚDE
Unidade I
1 POLÍTICA E POLÍTICAS PÚBLICAS
Se vamos estudar políticas de saúde, então a pergunta é: Você sabe o que é política?
A palavra “política” se origina da palavra grega “pólis”, que significa “cidade”, pois na antiguidade, na
Grécia, demonstrava a ação empreendida pelos cidadãos nas cidades‑estados gregas para a convivência
das pessoas e para com as cidades‑estados vizinhas.
Na explicação de Aristóteles, em sua obra Política, a política é um meio para alcançar a felicidade dos
cidadãos; para isso, os governantes devem ser justos e as leis obedecidas.
Assim, podemos dizer que a política busca o consenso para uma convivência harmoniosa e pacífica
na comunidade, sendo necessária, uma vez que vivemos em sociedade e porque o respeito à diferença
de pensamento é essencial para o bom convívio.
A política está inserida em todos os contextos na sociedade, nas organizações, instituições, profissões
e comunidades. Desse modo, as pessoas na sociedade podem fazer política quando desejam melhorias
nos contextos sociais, econômicos, entre outros. Cabe ressaltar que nas democracias os cidadãos podem
(e devem) participar da política por meio da participação em grupos, associações, conselhos, sindicatos
e partidos, e também individualmente.
Então, podemos afirmar que a política é uma ciência e uma atividade desempenhada por todo
cidadão quando exerce seus direitos em assuntos públicos através da sua opinião e também do seu
voto, na escolha dos seus representantes, os quais irão elaborar as leis, executá‑las e julgar mediante as
mesmas leis.
Mas, para que um Estado seja bem organizado politicamente, não basta
que tenha boas leis, se não cuidar da sua execução. A submissão às leis
existentes é a primeira parte de uma boa ordem; a segunda é o valor
intrínseco das leis a que se está submetido. Com efeito, pode‑se obedecer
a más leis, o que acontece de duas maneiras: ou porque as circunstâncias
não permitem melhores, ou porque elas são simplesmente boas em si, sem
convir às circunstâncias.
13
Unidade I
Então, em resumo, a política é a ciência que busca mecanismos para a construção coletiva do
bem comum.
Há uma frase que diz que aqueles que não se interessam por política serão governados pelos que se
interessam. Gostaríamos de complementá‑la escrevendo “e os que se interessam nem sempre são os que
sabem o que é melhor para a maioria”.
Na atualidade, muitas pessoas dizem não “gostar” ou “concordar” com a forma como é feita a política
por alguns, mas neste caso não se trata de política no seu verdadeiro conceito, mas sim de “politicagem”,
quando a política se dá por meio de interesses próprios e de troca de favores em detrimento dos interesses
coletivos para realização pessoal ou é insignificante para a sociedade. Por essa razão, neste livro‑texto
trataremos de política em seu conceito e aplicação.
O termo “políticas públicas” pode até soar como uma redundância, uma vez que o governo seria o
principal responsável pelas ações políticas na sociedade, entretanto, as políticas públicas são demandadas
pelos cidadãos na sociedade organizada, que elenca as prioridades e as repassa aos seus representantes
(deputados e senadores), que irão elaborar as leis e políticas necessárias, cabendo ao governo, entre as
suas várias atribuições, garantir a implementação das políticas públicas para o bem‑estar da sociedade.
Portanto, a política é uma doutrina relativa à organização dos Estados e o responsável por essa
organização é o governo.
Com a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, ambas ocorridas na Europa na segunda metade
do século XVIII, o ideal de direitos humanos e de seguridade e a organização da sociedade foram se
tornando mais complexos e abrangentes, uma vez que a maioria da população estava no campo e a
política era decidida apenas por um pequeno grupo de pessoas que pertenciam à mesma classe social,
os aristocratas. Com a industrialização, houve o êxodo rural, as cidades tiveram seu crescimento com
mais pessoas e ocorreu a organização do trabalho mecanizado, a implementação de novas tecnologias
e uma nova configuração social com a burguesia e a classe operária.
Diante desse cenário, havia duras condições de trabalho nas fábricas, com o trabalho de homens,
mulheres, crianças e idosos por até 18 horas diárias, sem folgas e sem nenhuma perspectiva de
aposentadoria e seguridade em casos de adoecimento ou morte. Por esse motivo, os operários passaram
a se organizar em sindicatos e associações a fim de reivindicar melhores condições de trabalho e de
vida; por conseguinte, os burgueses começaram a exigir dos governos garantias e facilidades para seus
negócios. Deste modo se originou a construção das primeiras políticas públicas no final do século XVIII
e no século XIX, e assim foram implementadas as políticas públicas de cidadania, saúde, educação,
seguridade, segurança e política econômica, fiscal e monetária, entre outras, primeiramente nos países
europeus e depois em diversas nações em outros continentes.
a política tem o objetivo de organizar todos os setores, públicos e privados, em seus diversos
níveis, para atender às necessidades de saúde da população.
Exemplo de aplicação
Vamos refletir: Quais são as necessidades de saúde? Elas são diferentes das necessidades da doença?
Um indivíduo saudável é apenas um indivíduo livre de doenças?
Para a Organização Mundial da Saúde, a OMS (World Health Organization – WHO, na língua
inglesa), saúde é o estado de completo bem‑estar físico, mental e social, e não simplesmente a
ausência de doença.
O conceito de saúde é muito mais amplo do que o conceito de doença. Um cidadão que apresenta
sinais e sintomas como dor, febre e tosse é considerado doente e precisa de assistência médica e
de saúde, e provavelmente necessitará de tratamento curativo para restabelecer seu estado físico,
pois, se retomarmos a história da humanidade, vamos encontrar o foco no tratamento, na cura e na
contenção da propagação das doenças transmissíveis. Esse é o enfoque para o tratamento ao cidadão
doente, correto?
Agora vamos usar a definição da OMS para exemplificar um cidadão saudável: ele teria que, além
de estar livre de doenças, ter um completo bem‑estar físico, mental e social; precisaria sentir‑se bem,
morar bem, comer bem, trabalhar bem, enfim, viver bem, para não adoecer, e se adoecer, ter um pronto
restabelecimento. Essa visão de saúde é algo recente e abrange o foco na proteção, promoção da saúde
e prevenção de doenças.
Para melhor definir e estabelecer o objeto de estudo deste trabalho – as políticas públicas em
saúde –, é necessário identificar a história e o exato contexto em que a saúde pública se insere, enquanto
atribuição dos entes públicos (a União, os estados e os municípios), consideradas as correspondentes
disposições constitucionais, de onde precisamente decorrem todas as diretrizes que dão suporte e
fundamento àquelas políticas.
Para compreender o atual cenário das políticas de seguridade social, é preciso compreender o
contexto histórico da saúde pública, previdência e assistência social no Brasil.
Desde o período do descobrimento do Brasil, passando pelo período colonial, pelo período imperial
e pelo início da República, as ações em saúde pública eram realizadas de forma bastante desorganizada,
seja pela centralização das decisões na Corte, pela grande extensão territorial, pelo atraso tecnológico
ou pela falta de políticas efetivas, consistentes e coordenadas.
15
Unidade I
Quadro 1
Muito antes de 1500 já viviam no Brasil diversos povos indígenas que possuíam suas línguas,
tradições e culturas próprias. A partir de então, com o início da colonização portuguesa, vieram para o
país degredados, aventureiros e náufragos, e foram trazidos para cá à força os diversos povos africanos
que foram escravizados.
Em 1543, foi fundada na capitania de São Vicente, na então vila de Santos, hoje cidade de Santos,
no litoral de São Paulo, pelo fidalgo português Brás Cubas, a primeira santa casa, a Santa Casa de
Misericórdia de Santos. Seguindo o modelo português de saúde na época e dirigida a princípio pela
irmandade jesuíta para atendimento aos doentes, o local foi escolhido por se tratar do principal ponto
de entrada no país por conta do porto. A instituição contava com poucos recursos humanos, materiais
e financeiros.
Esse modelo de assistência foi se difundindo em todo o país durante o período colonial. Não havia
no Brasil nenhum modelo de atenção à saúde da população; basicamente, a atenção à saúde limitava‑se
aos próprios recursos da terra, com o uso de plantas medicinais e ervas por meio de conhecimentos
empíricos como chás, infusões, unguentos, entre outros, realizados por pajés, por curandeiros e
posteriormente pelos primeiros boticários. Aqueles que possuíam recursos podiam ser atendidos em
seu domicílio por raríssimos médicos formados no exterior; já os que não possuíam quase nenhum
recurso – mais de 95% da população – eram atendidos por religiosos nas Santas Casas ou outras
instituições de saúde e assistência, ou por curandeiros, ou ainda ficavam à mercê da sorte. Destacamos
que as taxas de adoecimento e mortalidade eram muito altas em todas as faixas etárias.
Até a chegada da família real ao Brasil, em 1808, as medidas adotadas eram bastante incipientes,
praticamente sem significativas repercussões na saúde pública da colônia. A partir dessa data, foi
iniciada a organização sanitária mínima para a cidade do Rio de Janeiro, que se tornara a capital do
país. Até o ano de 1850, as atividades de saúde pública eram limitadas ao controle de entrada e saída de
diversos produtos: como alimentos, animais, mobiliário e diversas mercadorias pelos navios nos portos,
principalmente no Rio de Janeiro, e as demais questões sanitárias eram verificadas pelas chamadas
juntas municipais.
Foi justamente em 1808 que se deu a criação da primeira organização nacional de saúde pública no
Brasil: em 27 de fevereiro foi instaurado o cargo de provedor‑mor de Saúde da Corte e do Estado do
Brasil (embrião do Serviço de Saúde dos Portos, com delegados nos estados). Havia uma carência imensa
16
POLÍTICAS DE SAÚDE
de recursos como hospitais, unidades de saúde, médicos e demais profissionais de saúde com a devida
formação acadêmica.
É importante destacar que em fevereiro de 1808, na sua chegada, dom João VI fundou na Bahia
o Colégio Médico‑Cirúrgico no Real Hospital Militar da cidade de Salvador, e no mês de novembro do
mesmo ano foi criada a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro, anexa ao Real Hospital Militar, dando
origem à primeira escola de medicina do país.
A carência de profissionais médicos no Brasil Colônia e no Brasil Império era enorme. Por exemplo,
no Rio de Janeiro, em 1789, só existiam quatro médicos exercendo a profissão, e nos demais estados
brasileiros, à época, eram inexistentes (SALLES, 1971). Somente após a proclamação da Independência
do Brasil (em 1822) foi promulgada, em 30 de agosto de 1828, a Lei de Municipalização dos Serviços
de Saúde, com a criação das Juntas Municipais (com as funções antes exercidas pelo físico‑mor, pelo
cirurgião‑mor e seus delegados). No mesmo ano, ocorreu a criação da Inspeção de Saúde Pública do
Porto do Rio de Janeiro.
É interessante observar que, de 1850 ao fim daquele século, em razão dos reflexos da revolução
industrial inglesa no Brasil, motivados principalmente pelos interesses dos grandes cafeicultores, que
começaram a investir no setor industrial, começaram as mudanças sociais, com reflexos na saúde
pública: crescimento de centros urbanos, em razão do deslocamento da população rural, movida
pela expectativa de melhores condições de sobrevivência, o que gerou condições propícias para o
surgimento de graves surtos de doenças epidêmicas, como a tuberculose. Assim, em 1878, tornou‑se
obrigatória a desinfecção terminal dos casos de morte por doenças contagiosas, a critério da autoridade
sanitária, e foi editado o Decreto n. 7.027, de 6 de setembro de 1878, que tratou de providências sobre
a desinfecção das casas e estabelecimentos públicos ou particulares.
A solução adotada foi o incentivo público às pesquisas biomédicas, sobretudo àquelas dirigidas às
doenças tropicais e à formação de equipes de trabalho organizadas em moldes militares, capazes de
intervir com disciplina e eficácia quando necessário. Foram, então, criadas as campanhas sanitárias.
O sucesso dessas campanhas sanitárias destacou‑se tanto por seus resultados no controle de processos
epidêmicos como pelo exemplo de articulação entre o conhecimento científico, a competência técnica
e a organização do processo de trabalho em saúde.
No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro, capital do país, apresentava um quadro sanitário
caótico caracterizado pela presença de diversas doenças graves, como a varíola, a malária, a febre
amarela e, posteriormente, a peste, o que acabou gerando sérias consequências tanto para a saúde
coletiva quanto para outros setores, como o do comércio exterior, visto que os navios estrangeiros não
mais queriam atracar no porto do Rio de Janeiro. Ainda nesse mesmo contexto, foi criado, em 1900, o
Instituto Soroterápico Federal, para a fabricação de soros e vacinas contra a peste.
O Rio de Janeiro, no início do século XX, era conhecido como o “túmulo dos estrangeiros”.
O presidente Rodrigues Alves, priorizando o saneamento e a reforma urbana, nomeou o engenheiro
Pereira Passos para a Prefeitura e o sanitarista Oswaldo Cruz para a Diretoria‑Geral de Saúde Pública
(que hoje seria equivalente ao Ministério da Saúde), iniciando uma nova era para a higiene nacional,
inclusive com a ampliação das atividades do Instituto Soroterápico Federal, que passou a se dedicar
também à pesquisa básica e à qualificação de recursos humanos.
Quadro 2
18
POLÍTICAS DE SAÚDE
Observação
Nessa época, foram realizadas memoráveis campanhas de saneamento, sendo adotados métodos
militares na sua execução. A primeira foi contra a febre amarela, que entre 1897 e 1906 matou
quatro mil imigrantes.
A então capital do Brasil, a cidade do Rio de Janeiro, foi dividida em distritos sanitários, administrados
por delegados de saúde, sendo implantada uma polícia sanitária, que adotava medidas rigorosas para
o combate à febre amarela, multando proprietários de imóveis insalubres e os intimando a demoli‑los
ou reformá‑los.
Ainda em 1904, foi instituída a Reforma Oswaldo Cruz, com a criação do Serviço de Profilaxia da
Febre Amarela e a Inspetoria de Isolamento e Desinfecção, com responsabilidade de combate à malária e
à peste no Rio de Janeiro. Assim, tornou‑se obrigatória, em toda a República, a vacinação e a revacinação
contra a varíola. Foi criada, também, a Diretoria‑Geral de Saúde Pública, para atender aos problemas de
saúde da capital do país e prosseguir na defesa sanitária dos portos brasileiros.
Nesse mesmo ano, uma epidemia de varíola assolou a capital, e somente nos cinco primeiros meses
1.800 pessoas foram internadas no Hospital São Sebastião, pois embora uma lei prevendo imunização
compulsória das crianças contra a doença estivesse em vigor desde 1837, ela nunca foi cumprida.
19
Unidade I
Foi ainda naquele ano, em 13 de novembro, que eclodiu a Revolta da Vacina, mas os fatos que
deram origem àquele triste evento começaram a ocorrer meses antes: em 29 de junho, o governo
enviou ao Congresso o projeto reinstaurando a obrigatoriedade de vacinação antivariólica, com
a previsão de vacinação antes dos seis meses de idade e para todos os militares, revacinação de
sete em sete anos e exigência de atestado de imunização para candidatos a quaisquer cargos ou
funções públicas e também para quem quisesse se casar, viajar ou matricular‑se numa escola;
foram também outorgados à polícia sanitária poderes para convocar todos os moradores de uma
área de foco a se imunizarem, e quem se recusasse seria submetido a observação médica em
local apropriado, pagando as despesas de estadia; o projeto estipulava ainda punições e multas
para médicos que emitissem atestados falsos de vacinação e revacinação, obrigava os diretores de
colégios a obedecerem às disposições sobre imunização dos estudantes e instituía a comunicação
de todos os registros de nascimento.
Ocorreu que essas medidas enfrentaram grande resistência da população, oposição esta que
era estimulada pelos jornais, sendo, até mesmo, organizada a Liga Contra a Vacinação Obrigatória.
Como resultado, a população se levantou contra o governo e ocorreram choques com a polícia,
greves, barricadas, quebra‑quebras e tiroteios nas ruas, levando, inclusive, à decretação do estado
de sítio. Apenas no dia 16 o Governo Federal conseguiu derrotar a Revolta, mas suspendeu a
obrigatoriedade da vacina.
Lembrete
Nesse mesmo ano, a febre amarela foi erradicada do Rio de Janeiro e Oswaldo Cruz recebeu,
em setembro, a medalha de ouro pelo trabalho de saneamento do Rio de Janeiro no IV Congresso
Internacional de Higiene e Demografia de Berlim.
No ano seguinte, em 1908, entretanto, uma violenta epidemia de varíola levou a população
em massa aos postos de vacinação. Nesse mesmo ano, Oswaldo Cruz reformou o Código Sanitário e
reestruturou todos os órgãos de saúde e higiene do país.
Em 1909, Oswaldo Cruz deixou a Diretoria‑Geral de Saúde Pública, passando a dedicar‑se apenas
ao Instituto de Manguinhos, que fora rebatizado com o seu nome. Nesse ano, também foi erradicada
a febre amarela no Pará e realizada a campanha de saneamento na Amazônia, que permitiu o término
20
POLÍTICAS DE SAÚDE
das obras da Estrada de Ferro Madeira‑Mamoré, cuja construção havia sido interrompida pelo grande
número de mortes entre os operários, tendo sido determinadas as seguintes medidas profiláticas e
preventivas: exame médico minucioso; fornecimento de quinino durante a viagem; exames periódicos
nos empregados; fornecimento diário de quinino; desconto dos dias em que o trabalhador não ingerisse
o medicamento; gratificação para o operário que passasse três meses sem sofrer nenhum acesso de
malária; construção de galpões telados para alojamento do pessoal; fornecimento de água fervida; uso
de calçados; e definição de locais determinados para a defecação.
Ainda em 1909, Carlos Chagas descobriu a doença provocada pelo Tripanosoma cruzi, que, então,
passou a se chamar doença de Chagas.
Em 14 de fevereiro de 1917, Carlos Chagas assumiu a direção do Instituto Oswaldo Cruz. No ano
seguinte, foram criados dois órgãos de saúde pública de relevância:
Em 1920, Carlos Chagas reorganizou os serviços de saúde pública, com a criação do Departamento
Nacional de saúde pública (DNSP), e foi editado o Decreto n. 3.987, de 2 de janeiro de 1920. Nesse ano
ocorreu, também, a aprovação do regulamento para o Departamento Nacional de Saúde Pública.
Finalmente, em 1921, foi instituída a Reforma Carlos Chagas, que ampliou as atividades de cooperação
com estados, por meio da Diretoria de Saneamento e da Profilaxia Rural.
Observação
Entretanto, somente a partir da década de 1930 foram adotadas as primeiras tentativas de organização
e implantação de medidas na área da saúde pública, com alguma eficácia, como a criação de diversos
órgãos, visando basicamente à prevenção e ao controle de doenças. Mas nesse período a implantação da
saúde preventiva, especialmente, ainda enfrentou grandes dificuldades pelas seguintes razões:
21
Unidade I
Foi criado, em 1930, o Ministério dos negócios da Educação e Saúde Pública, tendo os serviços
sido relacionados com a saúde pública transferidos para o novo ministério e reativado o Serviço de
Profilaxia de Febre Amarela, em virtude da epidemia de 1927‑1928, no Rio de Janeiro, e da dispersão do
mosquito transmissor.
Em 1936, uma comissão chefiada por Evandro Chagas chegou ao Pará com uma equipe de
médicos e farmacêuticos, tendo constatado que a Amazônia era um campo vasto para pesquisa
nas áreas médica e científica. Sugeriu, então, a criação de um instituto de pesquisa para ampliar
os estudos de doenças regionais, como malária, leishmaniose e filariose, do que resultou a criação,
em 11 de novembro, do Instituto de Patologia Experimental do Norte (Ipen), atual Instituto Evandro
Chagas (IEC).
• inauguração de órgãos executivos de ação direta contra as endemias mais importantes (malária,
febre amarela, peste);
• atenção aos problemas das doenças degenerativas e mentais com a criação de serviços especializados
de âmbito nacional (Instituto Nacional do Câncer).
Década de 1940:
• 1942
22
POLÍTICAS DE SAÚDE
• 1943
• 1944
• 1948
— Criação, em 7 de abril de 1948, da Organização Mundial de Saúde, que é uma agência especializada
em saúde subordinada à Organização das Nações Unidas; sua sede é em Genebra, na Suíça.
Década de 1950:
• 1953
• 1954
— Edição da Lei n. 2.312, de 3 de setembro de 1954, que estabeleceu normas gerais sobre a defesa
e proteção da saúde.
No cenário mundial, logo após a Segunda Guerra Mundial, instalou‑se o período conhecido como
Guerra Fria, que foi um conflito no campo ideológico, já que não ocorreu um embate militar declarado e
direto entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
23
Unidade I
Havia uma preocupação crescente em relação à proliferação dos regimes comunista e socialista
no mundo, especialmente na América Latina, o que punha em risco os interesses e a hegemonia do
capitalismo, especialmente do americano, nesta região.
No Brasil, no ano de 1960, a capital do país foi transferida do Rio de Janeiro para a recém‑inaugurada
Brasília.
Em 1961, assumiu a presidência da República Jânio da Silva Quadros. Seu mandato durou
aproximadamente sete meses até sua renúncia.
A partir de agosto 1961, assumiu o presidente João Goulart, que pretendeu desenvolver uma
política externa independente do apoio das superpotências da Guerra Fria (Estados Unidos e União
Soviética). Ele fortaleceu os movimentos sindicais, estudantis, camponeses e populares. Além desses
fatos, o então presidente promoveu uma aproximação política entre o Brasil e a União Soviética, o que
desencadeou atritos com as lideranças políticas, econômicas e militares do Brasil.
Foi exatamente neste contexto que as Forças Armadas brasileiras, em 31 de março de 1964, instalaram
um regime militar, com o aval dos Estados Unidos (um processo que se repetiu na maioria dos países da
América Latina).
O regime militar, instaurado em 1964, contava com suportes políticos extremamente fortes.
A maioria da burguesia defendia a internacionalização da economia e das finanças brasileiras, ampliando o
processo que era ainda obstaculizado, segundo os capitalistas, pela proposta populista de fortalecimento
das empresas estatais e de economia mista pelo governo de João Goulart. Houve o fortalecimento do
poder executivo e o esvaziamento do poder legislativo, e foram editados Atos Institucionais (sendo o
principal deles o de n. 5, de 1968), que limitavam as liberdades individuais e constitucionais.
Na saúde pública, somente a partir da década de 1960 é que realmente começaram a ser implantadas
normas, que, destinadas a acompanhar o aumento da produção e do consumo de bens e serviços,
tiveram repercussões, como a regulamentação da iodação do sal e das águas de consumo humano e a
reforma do laboratório de análises, com a criação do Instituto Nacional de Controle da Qualidade em
Saúde (INCQS), estimulado pela implantação do Programa Nacional de Imunização, com o controle
sanitário das vacinas.
• 1961
24
POLÍTICAS DE SAÚDE
— Realização das primeiras campanhas com a vacina oral contra a poliomielite: projetos
experimentais em Petrópolis/RJ e Santo André/SP.
• 1962
• 1965
• 1967
— pesquisa médico‑sanitária.
• 1969
25
Unidade I
— Foi instituída a Fundação Oswaldo Cruz, congregando inicialmente o então Instituto Oswaldo
Cruz, a Fundação de Recursos Humanos para a Saúde, posteriormente Escola Nacional de
Saúde Pública (ENSP), e o Instituto Fernandes Figueira (as demais unidades que hoje compõem
a Fiocruz foram incorporadas ao longo dos anos).
No ano de 1970 foi criada a Superintendência de Campanhas da Saúde Pública (Sucam), com a
atribuição de executar as atividades de erradicação e controle de endemias, sucedendo o Departamento
Nacional de Endemias Rurais (DNERu) e a campanha de erradicação da malária.
É importante destacar que os trabalhadores com carteira assinada e seus dependentes tinham
acesso a estes serviços de saúde por meio das contribuições para o Instituto Nacional de Previdência
Social (INPS), ao passo que aqueles que não tinham carteira assinada permaneciam sem acesso a esses
serviços de saúde, ou seja, nem todos eram abrangidos pelo sistema de saúde vigente à época. Assim, o
Ministério da Saúde tornou‑se muito mais um órgão burocrato‑normativo do que um órgão executivo
de política de saúde.
Observação
Neste período, o modelo econômico implantado pelo regime militar entrou em crise, basicamente
por duas razões:
26
POLÍTICAS DE SAÚDE
• diminuição do fluxo de capital estrangeiro para mover a economia nacional; logo, o país diminuiu
seu ritmo de crescimento, que deixou de ser sustentável.
A ideia de que era preciso fazer “crescer o bolo” (a economia) para depois redistribuí‑lo para a
população não se confirmou no plano social, pois os pobres ficaram mais pobres e os ricos, mais ricos,
sendo o Brasil um dos países que apresentam um dos maiores índices em nível mundial de concentração
de renda para poucos habitantes e de uma grande desigualdade social.
A população, com baixos salários, contidos pela política econômica, passou a conviver com o
desemprego e as suas graves consequências sociais. Houve o aumento da desigualdade social e da
mortalidade infantil e o crescimento de favelas.
É exatamente nesse contexto que o modelo de saúde começou a mostrar seus entraves:
• Por ter priorizado a medicina curativa, o modelo proposto revelou‑se incapaz de solucionar os
principais problemas de saúde coletiva, como as endemias e as epidemias, e os indicadores de
saúde (mortalidade infantil, por exemplo).
• Revelou‑se, também, a incapacidade do sistema em atender a uma população cada vez maior de
pessoas sem carteira assinada e contribuição previdenciária, que foram excluídas do sistema.
• A esse quadro, acrescentam‑se os desvios de verba do sistema previdenciário para cobrir despesas
de outros setores e para a realização de obras por parte do Governo Federal.
• Finalmente, todo esse quadro de crise foi agravado pelo não repasse da União de recursos do
Tesouro Nacional para o sistema previdenciário, assumindo, assim, a condição de inadimplente no
custeio tripartite do sistema (empregador, empregado e União).
• 1971
• 1975
• 1976
— Regulamentação da Lei Federal n. 6.259/75, que dispôs sobre a organização das Ações de
Vigilância Epidemiológica e o Programa Nacional de Imunizações e estabeleceu normas
relativas à notificação compulsória de doenças.
• 1977
— Definição das vacinas obrigatórias para os menores de um ano em todo o território nacional.
• 1979
— Implantação, pela Fiocruz, do concentrado viral para diluição da vacina contra sarampo.
28
POLÍTICAS DE SAÚDE
• 1980
Para tentar conter custos e combater fraudes, o governo criou o Conselho Consultivo de
Administração da Saúde Previdenciária (Conasp), ligado ao Inamps, que passou a absorver em postos
de importância alguns profissionais da área técnica ligados ao movimento sanitário, o que permitiu dar
início à ruptura, por dentro, da dominância dos anéis burocráticos previdenciários.
Com a adoção da nova estratégia, iniciou‑se uma fiscalização mais rigorosa da prestação de contas
dos prestadores de serviços credenciados, combatendo‑se as fraudes. O plano propunha, também, a
reversão gradual do modelo médico‑assistencial, visando:
• hierarquização;
O Conasp encontrou oposição da Federação Brasileira de Hospitais e de Medicina de Grupo, que via
nessa tentativa a perda da sua hegemonia dentro do sistema e a perda do seu status. Para se mencionar
a forma desses grupos atuarem, basta citar que eles se opuseram e conseguiram derrotar dentro do
governo, com a ajuda de parlamentares, um dos projetos mais interessantes de modelo sanitário, o
Prev‑Saúde, que depois de seguidas distorções acabou por ser arquivado. No entanto, isso não impediu
que o Conasp implantasse e apoiasse projetos pilotos de novos modelos assistenciais, destacando
o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (Piass) no nordeste.
Devido ao agravamento da crise financeira, o sistema redescobriu, quinze anos depois, a existência
do setor público de saúde e a necessidade de se investir nesse setor, que trabalhava com um custo
menor e atendendo a uma grande parcela da população carente de assistência.
29
Unidade I
Assim, em 1983, foram criadas as Ações Integradas de Saúde (AIS), um projeto interministerial
(previdência‑saúde‑educação), visando a um novo modelo assistencial que incorporava o setor público,
procurando integrar ações curativo‑preventivas e educativas ao mesmo tempo.
Nesse contexto, cujo período coincidiu com o movimento de transição democrática, com eleição
direta para governadores e a vitória da oposição em quase todos os estados nas primeiras eleições
democráticas do período, em 1982, a Previdência Social passou a comprar e pagar serviços prestados
por estados, municípios e hospitais filantrópicos, públicos e universitários.
O movimento denominado Diretas Já, de 1985, e a eleição de Tancredo Neves para a presidência da
República marcaram o fim do regime militar, gerando diversos movimentos sociais, incluindo a área de
saúde, que culminaram com a criação das Associações dos Secretários de Saúde Estaduais (Conass) ou
Municipais (Conasems).
A partir da grande mobilização nacional por ocasião da realização da VIII Conferência Nacional
de Saúde (Congresso Nacional, 1986) resultaram as bases da reforma sanitária e do Sistema Único
Descentralizado de Saúde (Suds), que depois passaria a se chamar Sistema Único de Saúde (SUS).
Observação
É preciso fazer um pequeno recorte nessa sequência para entender como era o modelo de saúde no
Brasil, um modelo médico neoliberal que procurou se articular naquele momento de crise.
O setor médico privado, que se beneficiou do modelo médico‑privatista durante quinze anos a
partir de 1964, tendo recebido nesse período vultosos recursos do setor público e financiamentos subsidiados,
30
POLÍTICAS DE SAÚDE
cresceu e desenvolveu‑se. A partir do momento em que o setor público entrou em crise, o setor privado
começou a perceber que não poderia mais se manter e se nutrir do setor público e passou a formular
novas alternativas para sua estruturação. Direcionou, então, o seu modelo de atenção médica para
parcelas da população, a classe média e categorias de assalariados e seus dependentes, procurando
através da poupança desses setores sociais organizar uma nova base estrutural. Desse modo, foi
concebido um subsistema de atenção médica supletiva, composto de cinco modalidades assistenciais:
• medicina de grupo;
• cooperativas médicas;
• autogestão;
• seguro‑saúde;
• plano de administração.
Com pequenas diferenças entre si, estas modalidades se baseavam em contribuições mensais dos
beneficiários, em contrapartida pela prestação de determinados serviços. Esses serviços e benefícios
eram pré‑determinados, com prazos de carências, além de específicas exclusões – por exemplo, a não
cobertura do tratamento de doenças infecciosas.
Esse sistema baseou‑se num universalismo excludente, beneficiando e fornecendo atenção médica
somente para aquela parcela da população que tinha condições financeiras de arcar com o sistema,
não beneficiando a população como um todo e sem a preocupação de investir em saúde preventiva
e na mudança de indicadores de saúde. Enquanto isso, cabia ao subsistema público atender à grande
maioria da população, que em 1990 era estimada em aproximadamente 120 milhões de brasileiros, com
os minguados recursos dos Governos Federal, Estadual e Municipal.
31
Unidade I
• 1981
• 1984
— A Organização Pan‑Americana da Saúde (Opas) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef) recomendam a adoção da estratégia de dias nacionais de vacinação, que passa a ser
adotada pelos países latino‑americanos.
• 1985
• 1986
• 1987
• 1988
32
POLÍTICAS DE SAÚDE
• 1989
Saiba mais
33
Unidade I
A Lei Federal n. 4.682, de 24 de janeiro de 1923, é considerada o marco inicial – ou, pelo menos,
a primeira iniciativa realmente importante – na instituição da Previdência Social Pública no Brasil.
Denominada Lei Eloy Chaves em homenagem ao seu criador, instituiu a Caixa de Aposentadoria e
Pensões (CAP) para os empregados (e seus dependentes) das empresas de estrada de ferro.
Lembrete
A Lei Eloy Chaves, publicada em 1923, consolidou a base do sistema
previdenciário brasileiro, com a criação da Caixa de Aposentadorias e
Pensões (CAP) para os empregados das empresas ferroviárias.
As CAPs foram, em seguida, estendidas aos demais trabalhadores (empregados do serviço público,
serviços portuários, serviços telegráficos, de água, energia, transporte aéreo e mineração, entre
tantos outros), mas tinham basicamente duas limitações que dificultavam sua abrangência para
todos os trabalhadores: eram organizadas apenas por empresas (e não por categorias profissionais)
e não se estendiam aos trabalhadores rurais (condição imposta pela classe política dominante, para
aprovação da lei).
O fato de serem limitadas no âmbito das empresas impedia que as CAPs tivessem segurados em
quantidade suficiente e pudessem captar recursos em volume, permitindo o funcionamento eficiente
das Caixas criadas. Por isso, com a crescente urbanização, a evolução da organização dos trabalhadores
(inclusive com a participação dos trabalhadores imigrantes europeus) e a industrialização (ainda que
incipiente) surgiram as condições necessárias para mudanças no sistema, permitindo, assim, a criação dos
Institutos e Aposentadoria e Pensões (IAP), implantados no governo Getúlio Vargas e que correspondiam
a autarquias de extensão nacional, centralizadas pelo Governo Federal.
As CAPs foram fundidas, surgindo, a partir de 1933, os IAPs, nos quais a filiação dos trabalhadores
passou a se dar não mais por empresa, mas por categoria profissional, possibilitando, assim, o crescimento
do sistema previdenciário. Em sequência foram, então, sendo criados os IAPs dos marítimos, dos
comerciários, dos bancários e dos industriários, dos servidores do Estado, dos empregados do transporte
e cargas, entre outros.
Lembrete
Em junho de 1933 foi criado o primeiro Instituto de Aposentadoria e
Pensões (IAP), que passou a organizar as contribuições dos trabalhadores
por categoria profissional, enquanto nas extintas CAPs eram organizadas por
empresas.
34
POLÍTICAS DE SAÚDE
Os IAPs também apresentavam problemas: havia diferenças entre os sistemas de benefícios dos vários
IAPs, criando dificuldades de adaptação quando os trabalhadores mudavam de categoria profissional,
alterando a filiação previdenciária, ao migrarem de um para outro instituto.
Eles foram finalmente uniformizados com a edição da Lei Federal n. 3.807, de 26 de agosto de 1960
(chamada de Lei Orgânica da Previdência Social), que uniformizou os planos de prestação e de custeio
e as estruturas administrativas dos IAPs, o que, na prática, resultou na uniformização dos diferentes
regimes de Previdência Social então existentes no Brasil (exceto para os funcionários públicos e militares).
Na sequência, em 21 de novembro de 1966, foi editado o Decreto‑lei n. 72, que reuniu os IAPs
existentes e criou o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).
Nessa época, os serviços de saúde pública, previdência social e assistência social enfrentavam
grandes dificuldades de administração, organização e racionalização, pois estavam distribuídos entre
vários órgãos:
— pela prestação de assistência médica e outros serviços aos trabalhadores urbanos e seus
dependentes;
35
Unidade I
Observação
Com a Lei n. 6.439, de 1º de setembro de 1977, foi instituído o Sistema Nacional de Previdência e
Assistência Social (Sinpas), que determinou as seguintes mudanças no sistema:
36
POLÍTICAS DE SAÚDE
— execução dos programas especiais de assistência médica antes mantidos pela LBA e destinados
às populações carentes (beneficiárias ou não da Previdência Social, em determinadas regiões,
mediante convênios com entidades públicas que assegurem ao Inamps os recursos necessários).
— prestação de serviços de assistência complementar, não prestados pelo INPS ou pelo Inamps
aos seus beneficiários.
Observação
37
Unidade I
— administrar os recursos das entidades do Sinpas de acordo com o Plano Plurianual de Custeio,
inclusive as aplicações patrimoniais e financeiras aprovadas pelo colegiado que administra o
respectivo Fundo.
Quadro 3
Órgão Função
Instituto Nacional da Previdência Social (INPS) Conceder e controlar a manutenção de benefícios
Instituto de Administração Financeira da Previdência Arrecadar, fiscalizar e cobrar as contribuições
Social (Iapas) previdenciárias
Instituto Nacional de Assistência Médica da Prestar assistência médica
Previdência Social (Inamps)
Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Funabem) Prestar assistência ao bem-estar do menor
Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA) Prestar assistência às pessoas carentes
Central de Medicamentos (Ceme) Distribuir medicamentos às pessoas carentes
Empresa de Processamento de Dados da Previdência Prestar o serviço de processamento de dados
Social (Datapreve)
Em 1988, foi promulgada a Constituição Federal. Como já exposto, foram definidas disposições
específicas (artigos 194 a 204), abrangendo exatamente as três áreas integrantes da seguridade social
(saúde pública, previdência social e assistência social).
Ao MTPS foram vinculados a Dataprev e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), organizado
na forma de autarquia, resultante da fusão do Iapas e do INPS, assumindo as atribuições de arrecadar e
cobrar as contribuições, bem como de pagar os benefícios.
• Lei Federal n. 8.212/1991, que dispõe sobre a organização e o custeio da Previdência Social;
38
POLÍTICAS DE SAÚDE
Desse modo, foram ocorrendo mudanças que deram os atuais contornos à seguridade social no
Brasil após a Constituição de 1988:
• Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes
e cria o SUS.
• Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão
do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde.
• Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a Assistência Social, instituindo o Fundo
Nacional de Assistência Social.
• Lei n. 9.876, de 26 de novembro de 1999, que promoveu alterações nas Leis n. 8.212/1991 e
8.213/1991 e criou o “fator previdenciário”.
• Lei n. 9.983, de 14 de julho de 2000, que promoveu alterações no Código Penal, instituindo tipos
penais relacionados à Previdência Social e à atuação dos agentes públicos.
• Lei Complementar n. 108 e Lei Complementar n. 109, de 29 de maio de 2001, que tratam da
previdência complementar.
• Lei n. 10.666, de 8 de maio de 2003, que dispõe sobre a concessão da aposentadoria especial ao
cooperado de cooperativa de trabalho ou de produção.
• Lei n. 11.457, de 16 de março de 2007, que transferiu para a Secretaria da Receita Federal do
Brasil (SRFB) a competência para arrecadar e fiscalizar as contribuições previdenciárias.
• Lei Complementar n. 150, de 1º de junho de 2015, que dispõe sobre o contrato de trabalho do
empregado doméstico.
— assegura pagamento do seguro‑defeso para familiar que exerça atividade de apoio à pesca;
40
POLÍTICAS DE SAÚDE
A LBA, que tradicionalmente era presidida pelas primeiras‑damas, foi instalada no Rio de Janeiro,
então capital do país, e com o fim da guerra, passou a prestar assistência às famílias necessitadas
em geral, tendo sido, com o Decreto‑lei n. 593/1969, transformada de sociedade civil em fundação,
passando a adotar o nome Fundação Legião Brasileira de Assistência, mas mantendo a sigla LBA e se
vinculando ao Ministério do Trabalho e Previdência Social.
Durante o regime militar, sob o governo do general Ernesto Geisel, foi criado, em 1º de maio de 1974,
o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), que tinha, em sua estrutura, uma Secretaria de
Assistência Social, de caráter consultivo e que viria, na época, a se constituir em importante órgão na
formulação de política de combate à pobreza.
Na sequência, através da Lei Federal n. 6.439, de 1º de setembro de 1977, a LBA foi transferida para
o Ministério da Previdência e Assistência Social.
Coube à Constituição Federal de 1988 elevar a assistência social à condição de Política Social
Nacional, colocando‑a, juntamente à saúde pública e a previdência social, como componente da
seguridade social. atualmente, as questões de assistência social são desenvolvidas pelo Ministério
da Cidadania.
• Lei n. 7.853, de 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência e sua
integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência (Corde),
institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação
do Ministério Público, define crimes e dá outras providências.
• Decreto n. 99.244, de 10 de maio de 1990, através do qual a LBA passa a se vincular ao Ministério
da Ação Social.
• Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.
• Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social
(é denominada Lei Orgânica da Assistência Social), tendo suas disposições regulamentadas pelo
Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999 (Regulamento da Previdência Social), pelo Decreto
n. 6.214, de 26 de setembro de 2007 (que trata do benefício de prestação continuada da
Assistência Social devido à pessoa com deficiência e ao idoso de que trata a Lei n. 8.742, de
7 de dezembro de 1993 e a Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003; e acresce parágrafo ao
artigo 162 do Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999), e pelo Decreto n. 7.788, de 15 de agosto
de 2012 (regulamento do Fundo Nacional de Assistência Social).
• Lei n. 8.160, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a caracterização de símbolo que permita a
identificação de pessoas com deficiência auditiva.
41
Unidade I
• Lei n. 8.842, de 4 de janeiro de 1994, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso e cria o
Conselho Nacional do Idoso.
• Medida Provisória n. 813, de 1º de janeiro de 1995 (várias vezes reeditada, até finalmente ser
convertida na Lei n. 9.649, de 27 de maio de 1998), que extinguiu a LBA.
• Lei n. 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dispõe sobre a prioridade de atendimento para
idosos e pessoas com deficiência.
• Lei n. 10.836, de 9 de janeiro de 2004 (conversão da Medida Provisória n. 132/2003), que cria o
Programa Bolsa Família, atualmente chamado de Auxílio Brasil.
• Lei n. 12.852, de 5 de agosto de 2013, que institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os
direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema
Nacional de Juventude (Sinajuve).
Saiba mais
Em resumo, a saúde pública no Brasil, sob a perspectiva histórica, pode ser dividida em três grandes
etapas:
• Do descobrimento até 1923 (Lei Eloy Chaves): este período é basicamente caracterizado
pela centralização e pela desorganização administrativa, iniciado com o descobrimento do
Brasil, passando pelo Período Colonial e pelo Império, até chegar ao início da República. São, de
qualquer forma, dignas de notas (e louvor) algumas das iniciativas adotadas nesse período.
42
POLÍTICAS DE SAÚDE
Mas, de qualquer modo, as medidas de saúde pública implementadas traziam sempre a marca
das iniciativas isoladas, nem sempre concatenadas entre si, fundamentadas basicamente na
filantropia.
• De 1923 a 1988 (promulgação da Constituição Federal): com o advento da Lei Eloy Chaves,
em 1923 (quando foram criadas as Caixas de Aposentadoria e Pensão), seguidas (e substituídas)
pelos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP), estes seriam substituídos (em 1960) pelo
INPS, paralelamente à criação do Ministério da Saúde (em 1953, com suas finalidades mais bem
definidas em 1967) e o Sistema Nacional de Saúde (em 1975). O sistema de saúde público foi
adotando contornos vinculados às políticas de previdenciárias, inclusive quanto à parte de seu
custeio e manutenção.
• De 1988 aos dias atuais (vigência da Constituição Federal): assim, somente com o
advento da Constituição Federal, em 1988, sucedida pela legislação complementar (Lei
n. 8.080/1990, Lei n. 8.142/1990, Emenda Constitucional n. 29/2000, Decreto n. 7.508/2011 e
Lei Complementar n. 141/2012) é que, finalmente, foram traçadas as bases legais atuais de
funcionamento do SUS.
A Constituição Federal de 1988, ao tratar do Título VIII (da Ordem Social), divide‑o em nove
capítulos, dedicando o capítulo II à seguridade social, subdividindo‑o nas Seções I (Disposições
Gerais – artigos 194 e 195), e II (Da Saúde – artigos 196 a 200), III (Da Previdência Social – artigos 201
e 202) e IV (Da Assistência Social – artigos 203 e 204) (BRASIL, 1988). Esta estrutura é adotada pela
Constituição Federal justamente porque a saúde pública, a previdência social e a assistência social são
três componentes da seguridade social.
Art. 195. A Seguridade Social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais:
44
POLÍTICAS DE SAÚDE
45
Unidade I
A CF, no caput do seu artigo 194, define seguridade social e a desdobra em três componentes:
• saúde pública;
• previdência social;
• assistência social.
Nos seus incisos I a VII, a Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabelece as diretrizes que orientam
os mecanismos da seguridade social:
• seletividade e distributividade.
Ainda dispondo sobre seguridade social, a Constituição Federal, na sequência, no seu artigo 195,
trata, em linhas gerais, do seu financiamento e transfere à lei a prerrogativa da definição dos critérios
de transferência dos recursos para as ações de Assistência Social e para o Sistema Único de Saúde (que
é mencionado pela primeira vez e de forma expressa).
A saúde pública é a primeira componente da seguridade social e tem suas diretrizes especificamente
expressas nos artigos 196 a 200 da CF:
46
POLÍTICAS DE SAÚDE
§ 1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com
recursos do orçamento da Seguridade Social, da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (Parágrafo único
renumerado para § 1º pela Emenda Constitucional n. 29, de 2000.)
47
Unidade I
§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos,
estabelecerá: (Incluído pela Emenda Constitucional n. 29, de 2000)
No artigo 200, os parágrafos 1º a 6º tratam das fontes e regras de financiamento do sistema único de
saúde. E nos seus incisos I a VIII enumera as competências do serviço único de saúde, e prevê também a
possibilidade de que a lei estabeleça outras atribuições. Enquanto o artigo 199 prevê a possibilidade da
atuação da iniciativa privada na saúde pública, segundo as condições que estabelece.
Lembrete
A Previdência Social, a segunda componente da seguridade social, foi contemplada pela CF com as
seguintes disposições:
Art. 201. A Previdência Social será organizada sob a forma de regime geral,
de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
(Redação dada pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998)
49
Unidade I
50
POLÍTICAS DE SAÚDE
52
POLÍTICAS DE SAÚDE
É importante estabelecer a relação entre a saúde pública, a previdência social e a assistência social
enquanto mecanismos integrantes da seguridade social e inseri‑las no contexto da Constituição Federal,
pois os funcionamentos dos correspondentes mecanismos de políticas públicas se darão exatamente
com base nestas disposições constitucionais. Assim, ao tratarmos das políticas de saúde pública, será
sempre possível analisá‑las sob a perspectiva das disposições constitucionais e inseri‑las no conjunto
das diretrizes que orientam a seguridade social. Nesse contexto, qualquer discussão acerca desse tema
terá na Constituição Federal os parâmetros e diretrizes a serem observados e seguidos.
Você já percebeu que usa o SUS o tempo todo? Erra quem considera o SUS apenas atendimento.
Vamos compreender o SUS com toda a sua grandeza, na atenção ao cidadão, incluindo as
características sanitárias e de vigilância epidemiológica. Quer exemplos?
• Ao receber uma vacina na rede pública de saúde, você está usando o SUS.
• Todas as vezes que você come alguma coisa, você está usando o SUS, pois alguém fiscalizou o
alimento que você come, concorda?
• Todo medicamento que você ingere, a água que você consome, o lixo que é produzido e descartado,
as suas opções de lazer, os cuidados no tratamento de água e esgoto e a coleta de lixo de seu
município, tudo isso é observado pelo SUS.
• Quando uma pessoa vítima de um acidente é atendida pelo Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (Samu), está usando o SUS.
• E quando uma pessoa retira medicamentos, ou faz testes para detecção de HIV, sífilis e hepatites,
ou ainda quando retira preservativos gratuitamente na unidade de saúde, está usando o SUS.
• único: independentemente de qualquer lugar do país, todo o Brasil utiliza um único sistema de
saúde público, que estabelece direitos e conquistas para o país e para todos os brasileiros.
Então, antes das definições e legislação desse sistema, é preciso entender seu contexto histórico.
54
POLÍTICAS DE SAÚDE
O fim da década de 1980 foi marcado, no Brasil, por movimentos sociais pela redemocratização do
país e pela melhoria das condições da saúde da população.
Em 1985, foi criada a Nova República e ocorreu a primeira eleição indireta de um presidente não
militar desde 1964. Nessa época, paralelamente, crescia e ganhava representatividade o Movimento
Sanitarista Brasileiro, que correspondia à luta pela reestruturação do nosso sistema de saúde, patrocinado
pelos profissionais de saúde, usuários, políticos e lideranças populares.
É considerada um marco desse movimento a VIII Conferência Nacional de Saúde em Brasília, realizada
em 1986, cujas propostas foram defendidas na Assembleia Nacional Constituinte criada em 1987.
A nova Constituição brasileira, promulgada em 1988, incorporou grande parte dessas ideias e
garantiu o direito à saúde para todo cidadão, transformando‑a num dever do Estado, através da criação
de um sistema de acesso universal e igualitário, com ações voltadas para sua promoção, proteção
e recuperação (BRASIL, 1988; PEREIRA et al., 2009).
A Reforma Sanitária Brasileira foi proposta num momento de intensas mudanças e sempre pretendeu
ser mais do que apenas uma reforma setorial. Almejava‑se, desde seus primórdios, que pudesse servir à
democracia e à consolidação da cidadania no país.
A realidade social, na década de 1980, era de exclusão da maior parte dos cidadãos do direito à saúde,
que se constituía na assistência prestada pelo Instituto Nacional de Previdência Social, restrita aos
trabalhadores que para ele contribuíam, prevalecendo a lógica contraprestacional e a cidadania regulada.
Ainda na década de 1980, ganhou força no país o movimento da Reforma Sanitária, observando‑se
o recrudescimento dos movimentos populares. No Distrito Federal, o Programa Integrado de Saúde
Escolar (Pise) adotou a odontologia simplificada em toda a sua rede, com produção de equipamentos e
insumos, sendo referência para todo o país.
O Prevsaúde, embora não sendo aprovado, propôs a efetivação da saúde bucal como uma das cinco
principais ofertas das unidades de saúde.
Em 1983, como decorrência das eleições diretas para governadores, surgiram alguns programas de
saúde baseados nos princípios da reforma sanitária.
55
Unidade I
Com a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, foram estabelecidas as bases
para a reestruturação do sistema de saúde brasileiro. A criação do Sistema Unificado Descentralizado
de Saúde (Suds) significou a intenção do Governo Federal em dar início à implantação do SUS. Sua
principal característica foi a estadualização das ações, por meio da fusão das Secretarias Estaduais de
Saúde com as diretorias regionais do Inamps.
Na Constituição Federal, promulgada em 1988, foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS). Nela, a
saúde foi definida como “um direito de todos e um dever do Estado”.
A Reforma Sanitária constitui um importante movimento na gestação das atuais Políticas de Saúde
Pública, pois:
• buscou reverter a lógica da assistência à saúde com a adoção dos seguintes princípios:
4.2 Definição
Como o próprio nome informa, trata‑se de um sistema de saúde, no qual sistema deve ser entendido
como um conjunto coordenado de instituições das três esferas da administração pública (federal,
estadual e municipal), que participam com seus respectivos órgãos e entidades, aos quais se juntam,
também, entidades de natureza privada (hospitais, clínicas, laboratórios etc.), vinculadas através de
contratos de prestação de serviços e convênios.
O SUS é um sistema, instituído pela Constituição Federal de 1988 como política de estado e não
pode ser classificado apenas como um serviço ou uma instituição, mas sim um conjunto de unidades,
de serviços e ações coordenadas, visando a um fim comum, qual seja a realização de atividades, cujos
objetivos são a promoção, a proteção e a recuperação e reabilitação da saúde, bem como a prevenção
de doenças e agravos.
56
POLÍTICAS DE SAÚDE
Além de ser um sistema, é, também, um sistema único, pois o SUS é regido por uma doutrina única
e pelos mesmos princípios doutrinários e organizativos em todo o território nacional, compreendendo
as três esferas da administração pública: a federal, a estadual e a municipal.
Trata‑se do maior sistema público de saúde em termos de abrangência, pois atende a mais de
200 milhões de cidadãos brasileiros e estrangeiros que aqui residem.
O SUS atende o ser humano em todo seu ciclo vital, desde antes do nascimento, durante a gestação
nas ações de acompanhamento de pré‑natal, até após a morte, quando do processo de doação e
transplante de órgãos.
• Constituição Federal (BRASIL, 1988), que, no seu Título VIII – Da Ordem Social, traz:
— Capítulo II – Da Seguridade Social: Seção I – Disposições Gerais (artigos 194 e 195); Seção II –
Da Saúde (artigos 196 a 200); Seção III – Da Previdência Social (artigos 201 e 202) e
Seção IV – Da Assistência Social (artigos 203 e 204).
• Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção
e recuperação da saúde; a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes.
• Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão
do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde.
— a organização do SUS;
— o planejamento da saúde;
— a assistência à saúde;
— a articulação interfederativa.
57
Unidade I
Além dessas normas, que constituem a legislação básica do SUS, o sistema é também regido
pelas Normas Operacionais Básicas (NOB), cujo objetivo é operacionalizar o sistema, detalhando as
responsabilidades e atribuições das três esferas da Administração Pública. São as seguintes:
• A Norma Operacional Básica 01/96 buscou aperfeiçoar a gestão dos serviços de saúde e a
organização do sistema, definindo especialmente a responsabilidade do município, pelas condições
de saúde da sua população e organizando os serviços sob sua gestão.
• A edição da Norma Operacional Básica SUS 01/2001‑2 foi motivada pela constatação da
existência de municípios que, por serem pequenos, não reúnem condições de gestão do sistema
de funcionamento completo e existência de outros municípios que se encontram na situação de
polos de atração regional, para onde se deslocam as populações dos pequenos municípios
próximos. Tratou‑se, assim, do processo de regionalização da assistência médica nessas condições,
além de promover outros ajustes e regulamentações em tais situações.
Princípios doutrinários:
• Universalidade: a atenção à saúde é assegurada para todas as pessoas, ou seja, todos os cidadãos
têm direito a todos os serviços de saúde, públicos ou contratados. Esse princípio doutrinário se
fundamenta na disposição constitucional de que a saúde é um direito de cidadania e um dever do
Estado (no sentido de governo federal, estadual e municipal).
58
POLÍTICAS DE SAÚDE
• Equidade: todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades,
até o limite do que o sistema puder oferecer, independentemente de onde more o cidadão, sem
privilégios ou restrições, atendendo a todos, principalmente aqueles que mais necessitam.
Princípios organizativos:
• Regionalização e hierarquização:
— A população deve ter acesso à rede através dos serviços de nível primário de atenção,
qualificados para resolver os principais problemas demandados no sistema de saúde. Os
demais problemas deverão ser referenciados, ou seja, encaminhados para os serviços de maior
complexidade tecnológica.
• Descentralização: os serviços e as ações devem ser distribuídos, entre os vários níveis de governo,
sob a premissa básica de que quanto mais perto do fato for tomada a decisão, maior é a chance
de acerto. Assim, o município, o estado e a União devem ser responsabilizados de acordo com
suas respectivas áreas de abrangência, devendo, entretanto, o sistema ser conduzido para que
as atribuições dos vários níveis de governo se direcionem ao reforço do poder municipal sobre a
saúde, no sentido da “municipalização da saúde”.
Além dos princípios doutrinários e organizativos, o SUS também possui na sua estruturação a
complementariedade do setor privado.
59
Unidade I
— O contrato ou convênio deve ser celebrado com observância das normas de direito público, o
que assegura a prevalência do interesse público sobre o particular.
O Pacto pela Saúde é assim definido, segundo publicação constante da página eletrônica do Conselho
Nacional de Saúde:
A implementação do Pacto pela Saúde se dá pela adesão de municípios, estados e União ao Termo
de Compromisso de Gestão (TCG). O TCG substitui os processos de habilitação das várias formas de
gestão anteriormente vigentes e estabelece metas e compromissos para cada ente da federação, sendo
renovado anualmente. Entre as prioridades definidas estão a redução da mortalidade infantil e materna,
o controle das doenças emergentes e endemias (como dengue e hanseníase) e a redução da mortalidade
por câncer de colo de útero e da mama, entre outras (BRASIL, 2006).
As formas de transferência dos recursos federais para estados e municípios também foram modificadas
pelo Pacto pela Saúde, passando a ser integradas em cinco grandes blocos de financiamento (atenção
básica, média e alta complexidade da assistência, vigilância em saúde, assistência farmacêutica e gestão
do SUS) (BRASIL, 2006).
60
POLÍTICAS DE SAÚDE
As diretrizes dos Pactos pela Saúde são iniciativa do Ministério da Saúde em parceria com o Conass
e o Conasems, cujo objetivo é difundir políticas, instrumentos e orientações para apoiar a gestão na
implantação de inovações advindas com o Pacto pela Saúde. A série de diretrizes e livros contendo os
pactos pela saúde é um instrumento de cooperação com gestão da saúde que assume, com adesão
ao pacto, responsabilidades pela saúde da população, em busca da equidade social. Uma forma de
utilizar o conteúdo da Série Pactos pela Saúde é fazer a análise dos objetivos dos pactos e conhecer as
responsabilidades de cada esfera de governo (BRASIL, 2006).
O Pacto pela Saúde foi formalizado pela Portaria/GM n. 399, de 22 de fevereiro de 2006, do
Ministério da Saúde, que divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova as
diretrizes operacionais do referido pacto. A aludida portaria é composta dos seguintes anexos:
— gestão do trabalho
— educação na saúde
Observação
O Pacto em Defesa do SUS envolve ações concretas e articuladas pelas três instâncias federativas
no sentido de:
• mostrar a saúde como direito de cidadania e o SUS como sistema público universal garantidor
desses direitos;
61
Unidade I
• garantir, no longo prazo, o incremento dos recursos orçamentários e financeiros para a saúde;
• aprovar o orçamento do SUS, composto dos orçamentos das três esferas de gestão, explicitando
o compromisso de cada uma delas;
Saiba mais
Todos os recursos que sustentam as políticas públicas são procedentes de impostos e tributos. Os
recursos para a saúde pública foram definidos pela Emenda Constitucional n. 29, de 13 de setembro de
2000, que alterou os artigos 34, 35, 156, 160, 167 e 198 da Constituição Federal e estabeleceu:
— União: os gastos devem ser iguais ao do ano anterior, corrigidos pela variação nominal do
Produto Interno Bruto (PIB);
— estados: estão obrigados a garantir que 12% de suas receitas sejam destinadas ao
financiamento da saúde pública;
62
POLÍTICAS DE SAÚDE
• dispor sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, estados, Distrito
Federal e municípios em ações e serviços públicos de saúde;
Os recursos do SUS são geridos e administrados pelos entes federativos, através de seus
respectivos fundos:
63
Unidade I
• Remuneração por serviços realizados: correspondem aos pagamentos dos serviços hospitalares
e ambulatoriais executados por instituições cadastradas no SUS. O pagamento efetiva‑se,
diretamente, mediante a apresentação, ao FNS, da fatura dos serviços prestados, calculada com
base nas tabelas de procedimentos do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA) e do Sistema
de Informações Hospitalares (SIH), disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, mas sujeita à
disponibilidade de limites financeiros e condicionada a requisitos (dados da região: população,
frequência e distribuição de doenças ou estrutura da rede de saúde).
• Convênios: são acordos firmados para financiamento de projetos específicos (por exemplo:
reformas de hospitais ou compras de equipamentos), observando‑se que:
— estes convênios podem ser realizados das seguintes formas: pelo Ministério da Saúde com
órgãos ou entidades federais, estaduais ou municipais, com entidades filantrópicas ou
com organizações não governamentais;
Considerado o ente federativo da União (o Governo Federal), o SUS é custeado por cinco blocos de
financiamento, definidos no Pacto pela Saúde:
É importante tratar, ainda que brevemente, de cada um desses blocos, para identificar os requisitos
e as condições exigidas para o custeio do sistema.
agravos e programas de saúde específicos, inseridos na rede de cuidados da atenção básica, sendo
composto de uma parte financeira fixa e de uma parte financeira variável;
— controle de endemias;
• o Piso de Atenção Básica Fixo (PAB Fixo) é empregado ao custeio de ações de atenção básica
à saúde cujos recursos são transferidos mensalmente, de forma regular e automática, do Fundo
Nacional de Saúde (FNS) aos fundos de Saúde dos Municípios e do Distrito Federal;
• o Piso da Atenção Básica Variável (PAB Variável) é constituído por recursos destinados ao
custeio de estratégias realizadas no âmbito da atenção básica em Saúde e que são transferidos
do FNS aos Fundos de Saúde dos Municípios e Distrito Federal mediante adesão e implementação
das ações às quais se destinam, desde que constantes nos respectivos planos de saúde.
Observação
deste componente serão transferidos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) aos fundos de saúde dos
estados, municípios e Distrito Federal conforme a Programação Pactuada e Integrada (PPI) da
assistência, publicada em ato normativo específico.
— os novos procedimentos não relacionados aos constantes da tabela vigente ou que não
possuam parâmetros para permitir a definição de limite de financiamento, sendo que esses
últimos serão custeados pelo Faec por um período de seis meses para permitir a formação da
série histórica necessária à sua agregação ao componente MAC.
Observação
• A Qualificação da Gestão do SUS dá‑se mediante a adesão ao Pacto pela Saúde, por meio da
assinatura do Termo de Compromisso de Gestão, com incentivo específico para cada ação que
integra. São elas:
— planejamento e orçamento;
— programação;
— regionalização;
66
POLÍTICAS DE SAÚDE
— gestão do trabalho;
— educação em saúde;
— outros que vierem a ser instituídos por meio de ato normativo específico.
— fomento para ações de redução de danos em centros de atenção psicossocial para álcool e
outras drogas (caps ad);
— inclusão social pelo trabalho para pessoas com transtornos mentais e outros transtornos
decorrentes do uso de álcool e outras drogas;
— outros que vierem a ser instituídos por meio de ato normativo para fins de implantação de
políticas específicas.
• Vigilância sanitária, constituída pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelas
vigilâncias sanitárias estaduais, distritais e municipais; e o Termo de Ajuste e Metas (TAM) pelo
Piso da Atenção Básica em Vigilância Sanitária (PAB Visa).
— o valor das transferências mensais para estados, municípios e Distrito Federal, bem como seu
respectivo limite financeiro, é estabelecido em portaria específica, de acordo com valores
pactuados na Comissão Intergestores Bipartite (CIB);
— o fortalecimento da gestão da vigilância em saúde nos estados e municípios (Vigi SUS II);
A participação da sociedade na gestão do SUS está prevista no inciso III do artigo 198 da Constituição
Federal de 1988, como uma das diretrizes do funcionamento do sistema (constituindo, como já se viu,
um dos princípios organizativos do SUS), que trata também da Lei n. 8.080/1990 e da Lei n. 8.142/1990,
além do Decreto n. 7.508/2011, que regulamenta a Lei n. 8.080/1990 (BRASIL, 2013).
Assim, a sociedade, por meio dos conselhos de saúde, passou a exercer o controle social:
68
POLÍTICAS DE SAÚDE
Também os estados e os municípios passaram, desde 1990, a constituir os seus próprios conselhos
de saúde, havendo hoje no Brasil, além do Conselho Nacional de Saúde (CNS), os conselhos estaduais de
saúde, o Conselho do Distrito Federal e milhares de conselhos municipais, além de conselhos distritais
sanitários indígenas, entre outros.
Como já destacamos, o SUS tem por princípio organizativo a participação popular na sua gestão,
podendo, inclusive, por disposição constitucional expressa, participar do processo de formulação das
políticas de saúde e no controle da sua execução, em todos os níveis de decisão (federal, estadual ou
municipal). Essa participação dá‑se de variadas formas (nos conselhos de saúde, de representações
paritárias, ou em conferências periódicas de saúde), com o objetivo de definir prioridades e as linhas de
ação sobre saúde.
Neste contexto, é oportuno destacar o Participa SUS, que é a denominação que identifica a política da
Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP) do SUS, a qual busca promover o fortalecimento
da gestão participativa, incorporando outras ferramentas de gestão, como a escuta dos cidadãos, o
monitoramento e a avaliação da gestão do SUS, além da auditoria, sob enfoque ampliado.
• reafirmação dos pressupostos da reforma sanitária sobre o direito universal à saúde, como
responsabilidade do Estado;
• ampliação dos mecanismos de participação popular nos processos de gestão do SUS, de forma a
garantir sua consolidação como política de inclusão social e conquista popular;
• adoção de mecanismos e práticas de gestão participativa, nas três esferas de gestão do SUS,
envolvendo gestores, prestadores de serviços, trabalhadores de saúde e usuários do SUS.
A Lei n. 8.142/1990 trata da participação também da comunidade na gestão do SUS, nos seguintes
termos:
69
Unidade I
I – a Conferência de Saúde; e
II – o Conselho de Saúde.
70
POLÍTICAS DE SAÚDE
Ano Conferência
1941 1ª CNS
1950 2ª CNS
1963 3ª CNS
1967 4ª CNS
1975 5ª CNS
1977 6ª CNS
1980 7ª CNS
1986 8ª CNS
1992 9ª CNS
1996 10ª CNS
2000 11ª CNS
2003 12ª CNS
2007 13ª CNS
2011 14ª CNS
2015 15ª CNS
2019 16ª CNS
Comissão Colegiado
Gestor Intergestores Participativo
Figura 1
71
Unidade I
Órgãos colegiados
Subordinação Ministro
Órgãos subordinados
da Saúde Conselho Nacional de Saúde
Vinculação Conselho de Saúde Suplementar
Gabinete do Secretaria
Ministro Executiva
Consultoria Departamento
Jurídica Nacional de
Auditoria do SUS
Figura 2
• a gestão se dá no âmbito das três esferas da administração pública: federal, estadual e municipal;
• a gestão, na esfera federal, é encabeçada pelo Ministério da Saúde; na estadual, pelas secretarias
estaduais de saúde; e na municipal, pelas secretarias municipais de saúde.
— são formadas por 15 membros, sendo cinco representantes do Ministério da Saúde; cinco
do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e cinco do Conselho Nacional de
Secretarias Municipais de Saúde (Conasems);
72
POLÍTICAS DE SAÚDE
As regras para composição dos Conselhos de Saúde são, também, estabelecidas no texto legal,
devendo incluir delegados do governo, prestadores de serviços, trabalhadores de saúde e usuários, sendo
a representação dos usuários paritária (50%) em relação ao conjunto dos demais segmentos. A criação
dos conselhos deve ser objeto de lei ou decreto, em âmbito municipal ou estadual.
O Conselho Nacional de Saúde (regulado pelo Decreto n. 99.438, de 1990) estabeleceu recomendações
para constituição e estruturação dos conselhos estaduais e municipais de saúde, quais sejam:
• garantia de representatividade, com a escolha dos representantes feita pelos próprios segmentos;
• distribuição da composição, sendo 50% usuários, 25% trabalhadores de saúde e 25% gestores e
prestadores de serviços;
• os conselheiros são indicados pelas entidades a que pertencem, mediante discussão ampliada
entre os pares ou outras entidades e movimentos afins;
• recomenda‑se, ainda, que não haja coincidência de mandatos entre membros dos conselhos
e governantes, como forma de minimizar as possibilidades de rupturas bruscas nas políticas
implementadas.
Desde a edição das Leis Orgânicas da Saúde (Leis n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, e n. 8.142,
de 28 de dezembro de 1990), a existência e o funcionamento dos Conselhos de Saúde são requisitos
para a habilitação e o recebimento dos recursos federais repassados fundo a fundo aos municípios. Essa
exigência foi reforçada pela Emenda Constitucional n. 29, de 2000.
73
Unidade I
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), cuja Diretoria é eleita anualmente, reúne os
secretários de Saúde dos estados e do Distrito Federal e seus substitutos legais, tendo por finalidades:
• promover o pleno exercício das responsabilidades das secretarias de saúde, no que diz respeito às
políticas de saúde, junto aos órgãos dos governos federal e municipal, ao poder legislativo e
às entidades da sociedade;
• realizar diligência no sentido de que as secretarias de saúde dos estados e do distrito federal
participem da formulação e tomada de decisões que digam respeito ao desenvolvimento dos
sistemas de saúde nas unidades federadas, em conjunto com o ministério da saúde (ms);
• encaminhar aos órgãos competentes propostas para equacionar os problemas da área de saúde em
todo o território nacional, estimulando e intercambiando experiências quanto ao funcionamento
dos conselhos de saúde, promovendo estudos e propondo soluções aos problemas relativos ao
desenvolvimento da área da saúde;
O Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) é uma entidade não
governamental, sem fins lucrativos, criada com o objetivo de representar as secretarias municipais de
saúde. Sua importância no cenário político brasileiro deve‑se à constatação de que cabe, prioritariamente,
ao município a prestação de serviços de saúde, com a cooperação técnica e financeira dos estados e
da União e cuja conclusão é baseada no entendimento de que é no município onde as necessidades
de saúde da população podem ser dimensionadas de perto. Tem como atribuições institucionais
as atuações:
74
POLÍTICAS DE SAÚDE
Reúne representantes das 5.568 secretarias municipais de saúde do Brasil e participa do Conselho
Nacional de Saúde (CNS), órgão deliberativo do SUS, e da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), que
possui a representação dos três entes federados: o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional dos
Secretários de Saúde (Conass) e o Conasems.
O Conasems mantém, ainda, os núcleos temáticos, espaços onde secretários municipais de saúde e
assessores reúnem‑se para discutir políticas, realizar estudos e preparar informações e pareceres para
decisão dos colegiados.
Os participantes dos núcleos temáticos têm assento nas comissões e grupos de trabalho tripartites
do SUS.
O Conasems realiza o Congresso Anual Conasems, que reúne, presencialmente, todos os secretários
municipais de saúde para discutir temas do interesse dos gestores municipais, definir orientações para o
trabalho de representação do Conasems e, a cada dois anos, eleger a diretoria do órgão.
• Da Secretaria Executiva:
— Saúde Digital
— Programa Telessaúde
— Rede Cegonha
75
Unidade I
— Doação de Sangue
— Atenção Domiciliar
— HumanizaSUS
• Da Vigilância em Saúde:
76
POLÍTICAS DE SAÚDE
— Residências em Saúde
• Da Ciência e Tecnologia:
— QualiSUS‑Rede
É acionado por chamada telefônica gratuita, atendida por profissionais técnicos na Central de
Regulação, que identificam o caso e imediatamente o transferem para o médico regulador, que faz o
diagnóstico da situação e inicia o atendimento no mesmo instante, orientando o paciente, ou a pessoa
que fez a chamada, sobre as primeiras ações e avalia a necessidade de encaminhamento para uma
unidade de pronto‑socorro ou aos hospitais públicos, nesse caso reservando leito para que o atendimento
tenha continuidade. Pode ser acionado por meio do número 192 e é o principal componente da Política
Nacional de Atenção às Urgências.
77
Unidade I
Seu funcionamento está diretamente relacionado ao Samu, pois este organiza o fluxo de
atendimento pré‑hospitalar de urgência e emergência e encaminha o paciente ao serviço de saúde
adequado à situação.
Tabela 1
Criado em 2004 com o nome Farmácia Popular do Brasil para ampliar o acesso da população aos
medicamentos essenciais, que são vendidos a preço de custo aos cidadãos em unidades próprias. Em
2017 foi extinto, permanecendo o programa Aqui Tem Farmácia Popular.
São farmácias credenciadas que realizam a entrega dos medicamentos e a venda com até 90% de
desconto de 107 itens para as doenças mais comuns na população brasileira, entre eles analgésicos,
anti‑hipertensivos, medicamentos para diabetes e anticoncepcionais.
É um programa de atenção à saúde mental, com valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica
Brasileira e serviços criados para substituir os hospitais psiquiátricos. Tem como funções:
• promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais através das ações intersetoriais;
• regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação e dar
suporte à atenção à saúde mental na rede básica.
78
POLÍTICAS DE SAÚDE
Os Caps têm base territorial e comunitária do SUS, referenciais no tratamento das pessoas que
sofrem com transtornos mentais (psicoses, neuroses graves e demais quadros), cuja severidade e/ou
persistência justifiquem sua permanência em um dispositivo de cuidado intensivo, comunitário,
personalizado e promotor de vida.
O objetivo dos Caps é oferecer atendimento à população de sua base territorial, realizando:
• acompanhamento clínico;
• reinserção social dos usuários, pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e
fortalecimento dos laços familiares e comunitários.
• Caps I:
• Caps II:
• Caps III:
— atendimento diário e noturno (24 horas), com funcionamento todos os dias da semana, para
adultos com transtornos mentais severos e persistentes;
• Caps i:
• Caps AD:
O Brasil Sorridente integra a Política Nacional de Saúde Bucal pelo acesso a serviços odontológicos
de forma gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS). Esses serviços são ofertados em unidades de
Estratégia de Saúde Família (ESF), unidades odontológicas móveis (UOM), centros de especialidades
odontológicas (CEO) e hospitais. Além desses serviços, o Brasil Sorridente conta com laboratórios
regionais de prótese dentária (LRPD), que colaboram com a confecção laboratorial de próteses dentárias,
servindo de apoio para ESF, UOM e CEO.
O Brasil Sorridente tem interface com diversas ações e programas do Ministério da Saúde, como o
Brasil Sorridente Indígena, Programa Saúde na Escola, Plano Nacional para Pessoas com Deficiência,
Fluoretação das Águas de Abastecimento Público, entre outras.
Os CEOs constituem serviços que visam à ampliação da capacidade assistencial do SUS quanto às
ações de média complexidade em saúde bucal, na busca da promoção da integralidade na atenção à
saúde bucal.
Tem o objetivo de reduzir o número de óbitos e a incidência da doença no Brasil, envolvendo ações
permanentes e intersetoriais, uma vez que não existem evidências técnicas de que seja possível a
erradicação do mosquito transmissor Aedes aegypti em curto prazo.
80
POLÍTICAS DE SAÚDE
O Aedes aegypti tem algumas características específicas que favorecem sua disseminação e dificultam
o seu combate:
• aproximadamente 70% dos criadouros estão no interior dos domicílios; neste caso, as ações de
saneamento domiciliar são de grande importância para o controle do mosquito, e ações simples,
como a vedação de caixas-d’água e outros possíveis depósitos de água e a desobstrução de calhas,
são importantes para o controle do vetor.
A malária é uma doença infecciosa aguda, cujo agente etiológico é o parasita do gênero Plasmodium,
transmitida pela picada de fêmeas de mosquito do gênero Anopheles meigen que se infectam ao sugar
sangue de indivíduos doentes, infectando outras pessoas.
Os sintomas desse agravo são pouco específicos, sendo os mais comuns: febre alta acompanhada
de calafrios, sudorese abundante e cefaleia. Alguns pacientes podem manifestar, no início da doença,
outros sintomas, principalmente náuseas, vômitos, astenia, fadiga e anorexia.
81
Unidade I
Mais de 99% dos casos de malária anualmente diagnosticados no Brasil estão concentrados nos
nove estados que compõem a Amazônia Legal (Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará,
Rondônia, Roraima e Tocantins).
Ainda não existe uma vacina para a malária. No Brasil, 3,5 milhões de suspeitos/ano foram submetidos
ao diagnóstico laboratorial nas unidades do SUS no ano de 2006, dos quais 450 mil foram positivos para
malária, sendo‑lhes administrado imediatamente o tratamento específico para a cura da doença.
O Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária (PNCM) tem como objetivos gerais:
Para garantir o controle da doença, a redução das formas graves e a mortalidade por ela provocada,
o PNCM tem proporcionado apoio sistemático à estruturação dos serviços de saúde para o diagnóstico
e tratamento adequado e oportuno.
Nos últimos anos, tem sido observado o considerável avanço no controle da malária e o fortalecimento
da parceria entre as três esferas de governo, estabelecida a partir do processo de descentralização das
ações de vigilância em saúde, com a permanente articulação intermunicipal promovida pelos gestores.
O Plano Diretor de Vigilância Sanitária é o instrumento através do qual são eleitas as prioridades em
Vigilância Sanitária, tendo sua origem e fundamentos na I Conferência Nacional de Vigilância Sanitária.
É resultado de discussões, desde março de 2005, envolvendo as três esferas de governo, e buscou
observar as visões e experiências dos gestores, profissionais de saúde e conselheiros do SUS envolvidos
nesse processo.
Esse Plano aborda as diretrizes para o fortalecimento do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS)
e sua efetiva consolidação como parte integrante do SUS, agregando‑as em cinco eixos, a saber:
82
POLÍTICAS DE SAÚDE
• articulação entre ensino, gestão, atenção, participação popular e controle social em saúde e
produção de conhecimento para o desenvolvimento da capacidade pedagógica dos serviços e do
sistema de saúde.
A Política de Educação Permanente foi aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde, pactuada na
Comissão Intergestores Tripartite e instituída pela Portaria MS/GM n. 198, de 13 de fevereiro de 2004,
alterada pela Portaria MS/GM n. 1.996, de 20 de agosto de 2007, que introduziu novas diretrizes,
processos e instância para a implantação dessa política.
83
Unidade I
Aprovada pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 338, de 6 de maio de 2004, a Política
Nacional de Assistência Farmacêutica envolve um conjunto de ações voltadas à promoção, à proteção e
à recuperação da saúde, garantindo os princípios da universalidade, integralidade e equidade.
Saiba mais
Veja a seguir um resumo das atividades desenvolvidas pelo SUS nos anos de 1990 a 2021:
• 1990
— Transferência das atribuições, do acervo e dos recursos orçamentários da Sucam para a FSESP,
que passou a denominar‑se Fundação Nacional de Saúde (FNS).
84
POLÍTICAS DE SAÚDE
— A Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, instituiu o SUS, definindo seus objetivos, competências
e atribuições; princípios e diretrizes; organização, direção e gestão; criou o subsistema de
atenção à saúde indígena; regulou a prestação de serviços privados de assistência à saúde;
e definiu políticas de recursos humanos, financiamento, gestão financeira, planejamento e
orçamento.
• 1991
— Início do Plano de Eliminação do Tétano Neonatal, com vacinação de mulheres em idade fértil
nos municípios de risco.
• 1992
— Instituição da vacina contra a hepatite B para grupos de alto risco de infecção pelo vírus HB
em todo o país.
• 1993
• 1994
• 1995
• 1996
— Redefinição do modelo de gestão do SUS que disciplina as relações entre União, estados,
municípios e Distrito Federal.
• 1997
— Criação do Piso de Atenção Básica (PAB) e repasse de recursos ao gestor municipal, por pessoa,
para o atendimento à Saúde.
• 1998
86
POLÍTICAS DE SAÚDE
• 1999
— Criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), uma nova etapa no registro e
fiscalização de medicamentos e alimentos.
• 2000
• 2001
— A Lei Federal n. 10.216 dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais.
• 2002
— Instituição, no âmbito do SUS, do Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites
Virais, a ser desenvolvido pelos três níveis de gestão; definindo as competências e atribuições
relativas à implantação/gestão do Programa em cada nível de direção do SUS; estabelecendo
níveis assistenciais; delegando à Funasa a coordenação do Sistema Epidemiológico das
Hepatites Virais e o uso de imunobiológicos para a prevenção das hepatites virais, entre outras
providências (Portaria GM/MS n. 263, de 5 de fevereiro de 2002).
— Alterações na Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispôs sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento correspondentes.
88
POLÍTICAS DE SAÚDE
— Definição do parâmetro que caracteriza situação de iminente perigo à saúde pública pela
presença do mosquito transmissor da dengue (Portaria Funasa n. 559, de 4 de dezembro de 2002).
— Criação das seguintes Políticas Nacionais: de Saúde da Pessoa com Deficiência, de Atenção à
Saúde dos Povos Indígenas e de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências.
• 2003
— Criação do programa De Volta para Casa, que contribui com o processo de reinserção social de
pessoas com história de internação psiquiátrica.
— Instituição do Programa Nacional para Prevenção e Controle das Hepatites Virais e o Comitê
Técnico de Acompanhamento e Assessoramento do Programa (Portaria GM/MS n. 2.080, de
31 de outubro de 2003).
• 2004
• 2005
• 2006
— Criação dos Pactos pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão estabelecidos pelos gestores das
esferas federal, estadual e municipal, com objetivos e metas compartilhadas.
• 2007
— Início da Política Nacional sobre o Álcool e veiculação de campanhas sobre o uso abusivo.
• 2008
— Ação efetiva para regulamentação da Emenda Constitucional n. 29, que trata do financiamento
das ações e serviços públicos de saúde.
• 2009
• 2010
90
POLÍTICAS DE SAÚDE
• 2011
Observação
• 2012
— Sanção da Lei Complementar n. 141/12, que traz em seu texto os percentuais mínimos a serem
investidos pelas esferas de governo nas ações e serviços de saúde e deixa claro, em seu texto,
quais são as ações e serviços de saúde.
• 2013
— Publicação da Portaria GM/MS n. 529, de 1º de abril de 2013, que institui o Programa Nacional
de Segurança do Paciente (PNSP).
— Publicação da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Anvisa n. 36, de 25 de julho de 2013, que
institui ações para a Segurança do Paciente em Serviços de Saúde e dá outras providências.
91
Unidade I
• 2014
• 2015
— Publicação da Emenda Constitucional n. 86/15, que altera o art. 198 da Constituição Federal,
deixando claro o valor mínimo a ser investido pelas esferas de governo e o valor mínimo de
15% para a União (recursos próprios).
— Publicação da Lei n. 13.097/15, que altera o artigo 23 da Lei Orgânica da Saúde (Lei n. 8.080/90),
passando a ser permitida a participação direta e indireta de capital estrangeiro na assistência
à saúde no Brasil, e inclui o art. 53A na citada LOS.
• 2016
• 2017
92
POLÍTICAS DE SAÚDE
• 2018
• 2019
• 2020
93
Unidade I
• 2021
— Portaria GM/MS n. 829, de 28 de abril de 2021, que dispõe sobre o procedimento para
autorização de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto e Pediátrico Covid‑19, em
caráter excepcional e temporário, para o atendimento exclusivo de pacientes com síndrome
respiratória aguda grave SRAG/Covid‑19.
94
POLÍTICAS DE SAÚDE
Resumo
95
Unidade I
96
POLÍTICAS DE SAÚDE
Exercícios
III – Entre as diretrizes expressas na Constituição Federal, de 1988, que orientam os mecanismos
da seguridade social, temos a variabilidade e a desigualdade dos serviços em função do local em que o
beneficiário esteja instalado (na cidade ou no campo).
A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) III, apenas.
D) I e III, apenas.
E) I, II e III.
I – Afirmativa correta.
Justificativa: a Constituição Federal, de 1988, ao tratar do Título VIII (da Ordem Social), divide‑o
em 9 capítulos, dedicando o capítulo II à seguridade social, subdividindo‑o nas seções I (Disposições
Gerais – artigos 194 e 195), II (Da Saúde – artigos 196 a 200), III (Da Previdência Social – artigos 201
e 202) e IV (Da Assistência Social – artigos 203 e 204).
Logo, a Constituição Federal, dispondo sobre a seguridade social, no caput do seu artigo 194, define-a
e a desdobra em três componentes:
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Unidade I
• Saúde pública
• Previdência Social
• Assistência social
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: no artigo 194 da Constituição Federal, de 1998, em relação à seguridade social, temos
o que segue:
“Art. 194. A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social.”
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: nos seus incisos I a VII, a Constituição Federal, de 1988, estabelece as diretrizes que
orientam os mecanismos da seguridade social, mostrados a seguir:
• Seletividade e distributividade.
O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do
mundo, abrangendo desde o simples atendimento para a avaliação da pressão arterial, por meio da
atenção primária, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda
a população do país.
Com a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema público de saúde, sem
discriminação. A atenção integral à saúde, e não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um
direito de todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de
vida, visando à prevenção e à promoção da saúde.
A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser solidária e participativa entre os três entes da
Federação: a União, os Estados e os Municípios.
98
POLÍTICAS DE SAÚDE
A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tanto ações quanto os serviços de saúde. Engloba a
atenção primária, a média e a alta complexidades, os serviços de urgência e de emergência, a atenção
hospitalar, as ações, os serviços das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental e a assistência
farmacêutica.
I – O SUS é composto pelo Ministério da Saúde, pelos estados e pelos municípios, conforme determina
a Constituição Federal, de 1988, sendo que cada ente tem suas corresponsabilidades.
A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) III, apenas.
D) I e III, apenas.
E) I, II e III.
I – Afirmativa correta.
Justificativa: segundo o texto, no que se refere ao SUS, “a gestão das ações e dos serviços de saúde
deve ser solidária e participativa entre os três entes da Federação: a União, os estados e os municípios”.
Logo, o SUS é composto pelo Ministério da Saúde, estados e municípios, conforme determina a
Constituição Federal, de 1988, sendo que cada ente tem suas corresponsabilidades, conforme mostra
o quadro a seguir.
99
Unidade I
Quadro 5
II – Afirmativa correta.
• Universalidade. A atenção à saúde é assegurada para todas as pessoas, todos os cidadãos, que
têm direito a todos os serviços de saúde, públicos ou contratados. Esse princípio doutrinário
fundamenta-se na disposição constitucional de que a saúde é um direito do cidadão e um dever
do Estado (nas esferas federal, estadual e municipal).
• Equidade. Todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades, até o
limite do que o sistema puder oferecer, sem privilégios ou restrições. O atendimento deve ser dado
a todos, principalmente àqueles que mais necessitam. Esse princípio visa a diminuir desigualdades,
investindo-se mais onde há maiores carências.
• Integralidade. Esse princípio funda-se na proposição de que o ser humano é um ser integral,
biopsicossocial, e deve ser atendido, desde o seu nascimento até a sua morte, por um sistema de
saúde também integral, voltado à promoção e à recuperação da sua saúde, que realiza desde um
curativo simples a um procedimento extremamente complexo.
100
POLÍTICAS DE SAÚDE
Os demais problemas devem ser referenciados, ou seja, encaminhados para os serviços de maior
complexidade tecnológica.
• Resolubilidade. Esse princípio constitui-se na exigência de que o serviço de saúde esteja capacitado
para enfrentar e resolver, no nível da sua competência, o problema que lhe seja proposto.
• Descentralização. Os serviços e as ações devem ser distribuídos entre os vários níveis de governo,
sob a premissa básica de que quanto mais perto do fato for tomada a decisão, maior será a chance
de acerto. Assim, o município, o estado e a União devem ser responsabilizados de acordo com suas
respectivas áreas de abrangência, devendo, entretanto, o sistema ser conduzido no sentido de que
as atribuições dos vários níveis de governo se direcionem ao reforço do poder municipal sobre a
saúde (“municipalização da saúde”).
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