Você está na página 1de 2

Estimados alunos, este é um dia extremamente especial, pois aqui comemoramos o fim de um

novo começo. Encaramos aqui a celebração de um processo de mudanças que vem a chegar, a
liberdade de guiarmos nossas vidas de forma independente com todos os ensinamentos
trazidos dessa experiência tão desafiadora que é a escola.

Vivemos nesse ano momentos dolorosos e angustiantes, me lembro bem das conversas
compartilhadas com meus colegas durante o início do ano, todos citando seus receios, suas
expectativas e a apreensão ao entrar numa jornada tão exaustiva, me recordo bem também
dos momentos que só queríamos desistir, pois quando se tem medo, tudo parece mais
assustador do que deveria ser - até as coisas que não são. Agora que já passou, a gente pode
revisitar todo esse espaço com nossos olhos, repensar nos planos desse ano e em todas as
barreiras que tínhamos a enfrentar e o quanto elas já não parecem tão assustadoras quanto
pareciam inicialmente.

E espero que com essa liberdade de trilhar nosso próprio caminho vocês não esqueçam de
manter vivos em si algo muito importante, não só um propósito, pois acreditem, muitos não
possuem e nada de errado poderia existir nisso, mas guardem em si a vontade de experienciar,
de conhecer, de se interessar, de vivenciar as pequenas coisas, como a música, uma comida,
uma risada, um filme, uma aventura, uma paisagem e tantas outras coisas que a efêmera vida
é capaz de fornecer. Pois, são coisas como essas, o amor e a amizade, que fomentam hoje a
saudade presente em tantos que comparecem aqui.

É inestimável a quantidade de aprendizados que ocorreram na nossa escola, quantos


professores trouxeram para nós não apenas conhecimentos teóricos, mas humanos, daqueles
intangíveis, que transcenderam qualquer livro e nos tornaram um pouco mais humanos.
Quantos laços foram criados, quantas risadas compartilhadas, quantos construíram conexões
que levarão para o resto de suas vidas, amizades que tornaram esse processo um pouco mais
leve e fizeram valer a pena cada dia de cansaço, cada aula a tarde, cada pequeno momento.

Não há palavras para descrever o sentimento de poder encontrar um conforto em toda a


confusão que foi o pré, de poder sorrir com seus amigos, de poder reclamar livremente, de
falar sobre filmes, amor, vida e como crescer é tão difícil e complexo, de sentir que esse
sentimento de desamparo e de estar perdido não é unicamente seu. E por um acaso,
estranhamente, saber que os outros também o sentem traz um conforto, um alivio para
solidão humana, saber que esse peso nas costas que parece aumentar todos os anos não pesa
só em você, e que algumas pessoas vão entender e te acolher sem precisar te dizer nada,
apenas te proporcionarão momentos incríveis que te fazem esquecer por um momento que a
vida é cheia de obrigações.

Sentir que alguns eram capazes de te ver, de te ler, de te entender, e para mim, não acho que
só para mim, essa é a razão pela qual apesar de tão difícil a socialização é importante, ela traz
a sensação de pertencer a um lugar, ela torna a solitude um processo que chicoteia um pouco
menos. É na verdade muito difícil passar por esse ciclo sem se culpar tantas vezes, sem se
cobrar, sem sentir que você deveria estar num lugar diferente do que você está, sem sentir
que você deveria ser diferente, você é bombardeado de diferentes informações que as vezes
só geram ainda mais a sensação de estar perdido. Mas, as vezes, tudo que se sente é a
vontade de reviver muitos momentos, de poder brincar mais um pouco, de sentar com seus
colegas e chorar de rir, sentir a barriga doer. Queríamos poder parar o tempo nesses
momentos bons, segurar entre nossos dedos e viver neles para sempre, queríamos morar nos
abraços que recebemos nos momentos tristes, queríamos reassistir as aulas que nos
interessavam ao ponto de não piscar os olhos, queríamos poder voltar aquela sala barulhenta
de alegria, a aquelas brincadeiras idiotas, sentir aquela intimidade boa, lembrar das piadas
internas da sala, dos professores, coordenadores, de toda a equipe, queríamos sentir o
sentimento de ser uma turma muitas vezes, de gritar com toda sua vida nos jogos internos, de
dar a vida por trabalhos escolares, do desespero para fazer os trabalhos em grupo e até da
confusão da imaturidade.

A saudade é um sentimento que quando revisitado traz um misto de sensações, como uma
antítese, alegria e tristeza, amor e ódio, calma e agitação. É uma melancolia profunda, que
muito pode perturbar, mas toda essa dor é um lembrete que estamos vivos, que críamos
espaços de afeto, que cativamos e fomos cativados.

peço-lhes também que a dor dessa ausência, que chamamos de saudade, não seja reprimida
ou sufocada, mas que possa ruminar na mente de cada um presente e ser mantida no âmago,
na essência, naquele espaço fundamentalmente reservado por natureza inconsciente e cerne
que temos para guardar as especiais figuras que transitam em nossa vida.

A falta não é algo a ser preenchido, mas para ser enfrentada. Sentida. Desfrutada.

Com isso, trago as palavras do ilustre Rubem Alves: As coisas que restam sobrevivem num
lugar da alma que se chama saudade. A saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que ela
provou e aprovou. Aprovadas foram as experiências que deram alegria. O que valeu a pena
está destinado à eternidade. A saudade é o rosto da eternidade refletido no rio do tempo.

Você também pode gostar