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Devemos ter em mente agora, que o que vale não é o ponto de partida ou
de chegada é a caminhada. Aproveitemos o restante do percurso, caminhemos
de mãos dadas.
Devagar e sempre
Ralph Marston
Aula da saudade
Meus queridos formandos esta é uma noite em que vocês, na presença de
amigos, parentes, professores e convidados celebram uma vitória, desde há
muito esperada. Hoje, vocês deixam de ser Turma para ser Amanda, Fabiano,
Carlos, Suelline, Thiago e Amailson...
De hoje por diante, a noção de Turma e o próprio sentido que o Curso
conferiu à vida de vocês, ao longo desses 2 anos, estarão guardados para
sempre em suas Memórias.
Esta memória estará adormecida até o momento em que a Saudade
provocar em vocês a inquietação da lembrança. Esta lembrança proporcionará
a vocês, além do sentimento de pertença, o direcionamento do próprio
exercício da vida profissional.
Mas como um sentimento como a Saudade pode direcionar à nossas
vidas?
A Saudade, meus queridos formandos, é muito mais do que a expressão
de baixa pieguice; um sentimento rasteiro a que recorrem apenas os
apaixonados ou os reacionários, adeptos do status quo. Saudade é a
celebração de um conjunto de valores que enobrecerão cada um de vocês com
relação ao que vocês mesmos construíram ao longo desses anos. Sentir
saudade é reviver o curso em forma de aprendizado, pois saudade é, acima de
tudo, resultado de uma experiência.
A saudade nos faz refletir e, sobretudo, sentir com mais vigor, a
presença de uma ausência; a saudade como uma “máquina do tempo”
possibilita-nos viajar no tempo, o tempo que quisermos.
A saudade, meus queridos formandos, não é fraqueza de ânimo de
encarar corajosamente o presente e mesmo o futuro; pelo contrário, aos
grandes criadores e até inovadores em política, em arte, em ação social nunca
lhes faltou a capacidade de encontrar na saudade estímulos para os seus
arrojos de criação e para suas audácias de renovação.
A saudade de Camões vivida nos Lusíadas revigorou o espírito coletivo
de sua gente fazendo Portugal reeguer-se em 1640;
A saudade do Brasil fez com que José Bonifácio renunciasse as
vantagens que lhe foram oferecidas pela Europa e viesse a ser o grande
organizador do futuro brasileiro;foi a saudade do Brasil que inspirou Gonçalves
Dias escrever no exílio os mais brasileiríssimos versos em “Minha terra tem
Palmeiras”;a saudade da Bahia nunca impediu Rui Barbosa de estar em dia
com os saberes jurídicos de sua época e a se preocupar com o futuro
brasileiro;a saudade de Pernambuco inspirou um de nossos mais estimados
poetas Manuel Bandeira a imortalizar em versos o seu querido Recife;sem a
saudade do tempo de sua meninice, vivida em torno da casa-grande, teria sido
impossível a José Lins do Rego escrever o “Ciclo da cana-de- açúcar e ter
aberto um grande debate acerca do Nordeste agrário.
Tudo isto para lhes mostrar, queridos formandos, que a saudade, do
contrário que dizem, não mata e nem é sentimento reacionário.
Invoco para que todos vocês sintam saudade, pois ela, de hoje por diante,
agirá como um cordão umbilical que os manterá vivos e presentes, embora
ausentes desse espaço, notadamente do espaço do curso.
Como a estes autores acima citados que a “Saudade da Aula” sentida por
vocês, a partir de agora, os cerquem de criatividade e inovação; que as dúvidas
no exercício da profissão sejam banidas pela presença de um “passado
especifico” cheio de lições de Saudade; lições que vocês mesmos foram
atores.
Mas a saudade, meus queridos formandos, só trará aquilo que cada um
de vocês conseguiu dar a si mesmos ao longo desses anos.
A saudade, diferente de nós, não mente. Ela não é mágica. Ela será para
vocês o que vocês fizeram de si mesmos durante esse tempo. A saudade é um
bem particular carregado de sentido coletivo. É por isso que hoje vocês deixam
de ser a Turma Concluinte para desempenhar o Ser de cada um de vocês, a
desenvolver a humanidade que vocês aprenderam.
É chegada a hora da partida, da separação.
É difícil dar adeus, sentir que parte da gente se vai, deixando um vazio,
tolhendo a liberdade do encontro, imprimindo e fortalecendo nossa
incompletude.
Foram poucos anos de convívio, mas que eternizarão em nossas vidas o
brilho impregnado por cada um de vocês. Sangra a partida, desnuda-nos de
afetividade, retalhando e fragmentado o que construímos em pouco tempo.
Portanto, em nome da Saudade criadora e inovadora desejo a todos
vocês um forte abraço cheio de Saudade. Muito obrigado!