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Livro 1 Ao 4 Os Lobos Do Milenio Sapir Englard
Livro 1 Ao 4 Os Lobos Do Milenio Sapir Englard
Mãe: Mas é mais especial assim! Como uma carta só para você.
Sienna: Eca
Sienna: Duvido
Sienna: ????
Sienna: MICHELLE
Sienna: Olá?
Festas. Deus, eu odiava festas. Não me entenda mal. Elas têm sua
importância. Dar à matilha uma chance de conhecer seu líder? Conhecer,
respeitar e temer seu Alfa?
Essencial.
Mas, normalmente, tínhamos que nos preocupar com apenas dois
eventos por ano. O Baile de Inverno e o Solstício de Verão. Este jantar foi
ideia do meu beta, o Josh.
E, embora eu amasse o pentelho loiro, a última coisa que eu queria
era planejar uma festa extra.
— Então, queremos a plataforma elevada ou não? — Josh perguntou,
andando e olhando para sua prancheta. — Por um lado, dar a você um
lugar acima dos plebeus vai cimentar ainda mais sua superioridade. Por
outro lado, estar no mesmo nível deles tornará sua relação mais
familiar...
— Josh, por favor. — eu rosnei, balançando minha cabeça. —
Podemos falar sobre outra coisa além da disposição dos lugares?
Josh parou, largou a prancheta e me olhou bem nos olhos.
Ele era provavelmente o único lobisomem em toda a matilha que
tinha coragem suficiente para fazer contato visual direto com seu Alfa,
mas isso só acontecia porque quando Josh me encarava, não era um olhar
desafiador. Era o olhar do meu melhor amigo. Eu sabia a diferença.
— Normalmente, você gosta de repassar cada detalhe.
Era verdade. Eu me preocupo com os detalhes. Não sou implicante,
mas se você é o Alfa, tem que ser assertivo o tempo todo, em relação a
tudo.
Mas agora?
— Só não estou no clima. Josh. — eu disse. — Pode ser?
— Claro. É só que... acho que esta noite será boa para você, para a
moral da matilha. E, quem sabe, talvez para alguma garota de sorte... —
Ele sorriu maliciosamente.
— Você está bancando o casamenteiro comigo, de verdade? Ou foi
ideia da Jocelyn?
Notei o corpo de Josh enrijecer com a menção da sua parceira atual.
Ela tinha sido minha na temporada anterior, mas não havia
ressentimentos. Nós dois éramos adultos.
Agora com uma ligação a mais.
Josh se sentou à minha frente, e eu soube pelos braços cruzados, que
ele estava prestes a me dar uma lição de moral, sua marca registrada.
Ótimo.
— Olha. Aiden. — disse ele, agitando os braços animadamente. — Eu
sei que você tem passado por muita coisa ultimamente, cara. A Matilha
da Costa Leste enfrentou muitos desafios nos últimos meses. Agora você
está em outra temporada sem companheira. Cacete, você nem escolheu
uma nova parceira.
Eu senti meu lábio curvar. Josh deve ter notado porque olhou para
baixo e mudou rapidamente de assunto.
— A questão é, — Josh continuou, — você não tem sido você mesmo
ultimamente. Estou dizendo isso não apenas como seu beta, mas como
seu amigo, cara. Estou preocupado com você. Se você não encontrar uma
companheira logo... se sua vida amorosa está desequilibrada, então...
Eu olhei para o lado. Josh estava certo em estar preocupado, quando
os alfas não tinham uma parceira durante a Bruma — mesmo que fosse
uma amizade colorida — a liderança inteira ficava abalada, mas,
eventualmente, todos os alfas tiveram que achar uma parceira ou então
seus poderes enfraqueceriam lentamente e eles seriam substituídos por
um alfa mais forte.
Mas Josh não sabia de tudo.
Eu tinha um segredo que valia a pena guardar nesta temporada. Um
motivo para esperar.
— Entendo sua preocupação, Josh. — eu disse, voltando-me para ele.
— Mas não meta seu nariz em minha vida pessoal, entendeu? Estou
falando agora como seu Alfa.
Então, eu encarei Josh nos olhos. Havia uma tensão palpável entre
nós. Por um segundo, seu olhar permaneceu. E não apenas como meu
amigo.
Ele ousaria desafiar meu domínio?
Mas, finalmente, Josh olhou para baixo e acenou com a cabeça.
— Certo, meu Alfa, — ele disse calmamente.
— Isso. — eu disse, já me sentindo melhor.
Levantei-me e dei a volta na mesa para considerar a prancheta de
Josh, dando uma olhada na disposição dos assentos, uma ideia
começando a tomar forma.
— Se estamos falando de detalhes, há um pequeno ajuste que eu
gostaria de fazer...
Sienna
Mia: Harry e eu
Sienna: O QUÊ?!?
Mia: Mas Si, é melhor você nos enviar atualizações esta noite.
Michelle: ?!?
O pior que poderia acontecer? Ah. Michelle. Você não tem ideia, pensei.
Tínhamos acabado de estacionar e estávamos caminhando em
direção às altas portas da frente da Casa da Matilha.
Todo mundo estava vestido com esmero. A cada passo, eu podia
sentir minha condenação se aproximando.
Eu queria dar meia-volta e correr para casa.
Sim, mesmo de salto. Eu estava tão desesperada.
— Ah, que maravilha para nossa posição na Matilha. — mamãe disse,
alheia. — Mal posso esperar para conhecer o Alfa. Eu juro que se eu fosse
alguns anos mais jovem...
— Mãe, por favor. — Eu implorei. — Pare.
Felizmente, minha mãe rapidamente se distraiu novamente e eu não
tive que explicar por que eu precisava que ela calasse tanto a boca.
A Bruma estava me dando trabalho agora. Durante todo o dia, tentei
reprimi-la, mas agora... Agora a Bruma decidiu que era uma boa hora
para tentar se apossar do meu corpo.
No momento em que estávamos no jantar. Por favor, eu implorei mais
uma vez ao meu corpo aquecido. Eu não tenho tempo para isso.
Foda-se, meu corpo estalou de volta. Ugh. eu estava conversando com
meu corpo agora. Estava perdendo a cabeça. Maldita Bruma.
Uma recepcionista humana nos cumprimentou e nos conduziu até a
sala de jantar.
Lustres, velhos retratos de antigos Alfas com uma dúzia de mesas
com talheres de prata dignos da realeza. Não para um bando de plebeus
como nós.
Quando nos sentamos, percebi que nossa mesa era a mais próxima da
mesa do Alfa.
Coincidência? Lembrei-me do olhar estranho e demorado de Jeremy
quando ele trouxe o convite para nossa casa, mas eu ignorei isso. Sim. Era
uma coincidência. Tinha que ser.
Da minha cadeira, eu finalmente tive uma boa posição para julgar as
outras mulheres presentes.
Eu definitivamente não era a mais bonita, disso eu tinha certeza.
Havia outras mulheres jovens, mais ou menos da idade do Alfa, em seus
vinte e tantos anos, que eram simplesmente deslumbrantes. Com suas
pernas longas e delgadas, seus lábios carnudos e protuberantes e olhos
dourados cintilantes, eu sabia que não havia como comparar.
Eu tinha curvas. meu cabelo vermelho fogo caia descontroladamente
nas minhas costas e meus olhos azuis gelados eram menos comuns, eu
acho, mas o que me faltava em sofisticação, eu sei que compensava, em
intensidade crua.
Ninguém naquela sala brilhava tanto, para melhor ou pior.
—... o que uma garota assim está fazendo aqui — Eu ouvi uma das
mulheres sussurrar para suas amigas. Eles riram.
Vacas maldosas.
Não era como se eles fossem da realeza também. Simplesmente se
enxergavam assim.
Eu sabia exatamente o que eu era, e não era uma loba me arrastando
de quatro, implorando para ser comida por um lobo importante da Casa
da Matilha.
Na verdade, eu representava algo.
Em algum lugar lá fora, havia um companheiro pelo qual valia a pena
esperar. Alguém que olharia nos meus olhos e realmente me veria.
Alguém que, à primeira vista, me amaria. E eu, a ele.
Aqui na Casa da Matilha? Não havia nada para ver.
Eu quase considerei ir embora, ali mesmo, quando notei um dos
meninos em outra mesa olhando meu decote. Não consigo explicar
porque, mas fiquei lisonjeada.
Nesse momento, uma mulher apareceu pela porta e os olhos do
menino se voltaram para ela imediatamente. Todos, até as mulheres,
olhavam para ela. Bronzeada, alta, com um pescoço longo, ela usava seu
vestido vermelho com a graça de uma rainha, não de uma loba.
— É ela! — Selene sussurrou. — Essa é Jocelyn, a ex de Aiden
Norwood. E aí está seu novo homem.
Ao lado de Jocelyn estava um gostosão loiro de cabelo espetado que
todos conheciam. Ele era o Beta do Alfa, seu número dois. Josh Daniels.
Ele a beijou na bochecha e sentou-se ao lado do Alfa.
Eu me perguntei se ele e Aiden ainda poderiam ser amigos, já que
Josh estava namorando Jocelyn agora.
O pensamento não demorou muito porque, a próxima coisa que vi,
foi Selene e Jeremy me pegando pela mão e me conduzindo.
O que?!
Por quê?!
Eu não tinha pedido para ser apresentada a ninguém.
— Jocelyn, você está radiante como sempre, — Selene arrulhou.
— Oh. Selene, assim você me mima. Você está absolutamente
deslumbrante nesse vestido, respondeu Jocelyn. — E quem é essa garota
linda? Sua irmã?
Jocelyn agarrou minha mão e de repente me senti cheia da energia
mais quente e assertiva que se possa imaginar. Tanto que até minha
Bruma deu uma aliviada.
— É um prazer conhecê-la. — Ela sorriu. — Eu sou Jocelyn.
— Sienna. — consegui dizer.
Eu sabia, por aquele toque, que Jocelyn devia ser uma curandeira.
Apesar de sua beleza, ela era duas vezes mais legal do que a maioria das
garotas aqui, mas antes que pudéssemos continuar falando, fomos
interrompidos por suspiros por todos os lados.
Eu me virei para ver a vida da festa, o Sr. Aiden Norwood, Alfa da
Matilha da Costa Leste, entrou no salão.
Ele usava um smoking caro com uma gravata verde escuro, o que
tornava o verde em seus olhos dourados ainda mais evidente. Seu cabelo
negro estava despenteado, como se ele tivesse acabado de sair da cama.
Sua mandíbula estava cerrada, em um sorriso agressivo.
Eu tinha que admitir... só de vê-lo ali foi o suficiente para me deixar
molhada.
— Bem-vindos, meus membros do bando, — ele disse, incapaz de
esconder um pouco do rosnado em sua garganta. — O jantar vai começar
em breve, então, por favor, sentem-se.
Embora sua declaração tenha sido simples, até mesmo como um
cavalheiro, eu senti uma corrente ameaçadora dentro de cada palavra.
Isso me deixou tensa. Isso me deixou com fome.
Isso fez com que a Bruma emergisse de seu sono temporário.
Com um sorriso torto, o Alfa se voltou para seu assento. Eu mal podia
me controlar. Faíscas percorreram meu corpo, colidindo entre minhas
coxas, minha garganta secou, minhas bochechas coraram com o calor
renovado e eu tive que morder meu lábio para evitar ofegar.
Controle-se! Eu gritei dentro da minha cabeça. Você não vai perder o
controle na frente de todos, entendeu?
Aiden se sentou ao lado de Josh e Jocelyn e, para minha surpresa,
conversou calorosamente com os dois. Portanto, os rumores não eram
verdadeiros. Não foi isso que o torturou. Então o que?
Eu sabia uma ou duas coisas sobre tortura agora. A Bruma estava me
destruindo sorrateiramente. Durante a temporada, era de conhecimento
comum que um lobisomem não pareado poderia farejar se alguém por
perto estivesse na Bruma. Se eu não tomasse cuidado, se deixasse minha
Bruma assumir o controle, aqueles homens não acasalados começariam a
me farejar.
Qualquer coisa menos isso, eu implorei mentalmente. Eu não posso
suportar a humilhação. Estar na Bruma em público era como dar ao
mundo um convite para te foder.
Quando o primeiro prato foi servido, o lobisomem solteirão que
servia a nossa mesa me cheirou e seus olhos brilharam, o que significava
que eu comecei a exalar o cheiro de Bruma.
Com o rosto em chamas, estreitei meus olhos em advertência e
segurei seu olhar, mostrando a ele que não estava interessada. Ele era
bonitinho, não me entenda mal, mas eu não estava me reservando para
um garçom em um jantar.
Ele recuou imediatamente — cara inteligente — se distanciando de
mim. Eu estava prestes a soltar um suspiro de alívio quando senti os
olhos de alguém em mim. Não ousei erguer os olhos.
Esse olhar, de onde quer que estivesse vindo, tinha uma atração
poderosa, parecia estar intensificando a Bruma, ampliando-a. Fazendo-
me queimar ainda mais forte, se isso fosse possível.
Eu gemi, incapaz de suportar. Minha calcinha ficou melada de
repente e meu estômago apertou, fazendo todos os outros músculos do
meu corpo ficarem tensos também.
— Você não vai comer?
Quase pulei quando mamãe falou. Eu me virei para dar a ela um
sorriso tenso e assenti, cerrando os dentes.
— Já, já.
Mamãe, sem notar meu desespero, deu de ombros e deu uma
mordida em seu salmão. Parecia delicioso, mas minha fome era fixada em
algo diferente de comida.
Os olhos ainda estavam em mim. Eu podia sentir. E pior, agora eu
podia sentir outros me olhando também. Meu cheiro estava flutuando
por todo o corredor, atraindo a atenção de todos os lobos não acasalados,
exigindo um escape.
Eu não tive escolha.
Eu tinha que me retirar.
Agora.
Levantei-me e murmurei um tenso — com licença. — deixando meu
xale sobre a mesa e sai o mais rápido que pude daquela maldita sala de
jantar. Eu sabia que ia contra as regras pedir licença no meio da refeição,
especialmente na presença do Alfa. Era semelhante a um insulto a Sua
Alteza Real.
Eu não dei a mínima.
Praticamente corri para o banheiro. Felizmente, estava vazio. Eu
tranquei a porta do box e me inclinei em sua parede, respirando
pesadamente, a fina camada de seda que me cobria era demais. Minha
calcinha era demais. Tudo era demais. Antes que eu pudesse me conter,
puxei a bainha do vestido até a cintura. Eu deslizei minha mão sob a
minha calcinha, e com o toque do meu dedo no meu clitóris, quase
explodiu.
Comecei a massagear e não conseguia parar. O calor era totalmente
sufocante, por dentro e por fora, me consumindo.
Eu já tinha me masturbado muitas vezes antes disso. Era a única
maneira de passar por cada Bruma sem perder a cabeça, mas sempre fiz
isso na privacidade do meu quarto.
Nunca estava perto de tantos lobos famintos.
Nunca no banheiro da maldita Casa da Matilha.
Eu não pude segurar o gemido que escapou da minha boca com o
toque dos meus lábios molhados. A tensão, a necessidade, o fogo, era
agonizante. Eu ia explodir — de verdade dessa vez.
Mas então eu ouvi. A porta do banheiro se abriu e os passos ecoaram
no chão de ladrilhos. Não o clique agudo dos saltos femininos. O baque
surdo de... sapatos masculinos.
Eu congelei e meu coração bateu forte no meu peito.
Bem quando eu estava prestes a gritar com quem decidiu entrar no
banheiro e dizer a eles para me deixarem em paz. uma voz profunda e
rouca me deu um soco.
— Consigo farejar seu gozo, fêmea.
Minha respiração parou. Ai. Caralho. O Alfa estava parado do lado de
fora da cabine.
Capítulo 6
A MARCA
Sienna
Michelle: garota!
Sienna: O que é?
Sienna: ???
Selene: Eu falei pra mamãe parar, mas você sabe que ela é tão
intrometida
Sienna: O que é?
Eu não aguentei.
Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, me levantei de um
salto e corri da lanchonete sem me despedir das meninas. Mesmo o ar
frio lá fora não conseguia controlar a raiva crescendo dentro de mim.
Primeiro, ele me marcou sem minha permissão. Ele tirou qualquer
esperança que eu tivesse de encontrar meu verdadeiro companheiro.
Então, ele me chamou como se eu fosse seu animal de estimação. O
mundo estava virando de cabeça para baixo e só eu parecia ser capaz de
ver com clareza.
Por um segundo, pensei que poderia me transformar ali mesmo.
Rasgar minhas roupas no meio de um cruzamento movimentado.
Tornar-me meu eu mais animal e violento.
Era assim que eu queria machucá-lo.
Eu podia imaginar minhas presas rasgando sua garganta.
Mas assim que comecei a me mexer, quando vi os cabelos começando
a brotar em minhas mãos, minhas unhas se alongando, minha espinha se
dobrando, parei.
Não.
Eu iria enfrentar Aiden Norwood cara a cara em sua Casa da Matilha
e colocar um fim nisso de uma vez por todas. Ele era o Alfa, sim, mas isso
não era desculpa.
O Alfa estava prestes a descobrir exatamente com quem ele estava se
metendo.
Capítulo 8
O CONFRONTO
Sienna
Sienna: Claro
Michelle tinha boas intenções, mas era alucinada demais por homem
para entender. Foi por isso que sempre gostei de ter Emily a quem
recorrer.
Eu poderia dizer qualquer coisa a ela, e ela apenas ouviria. Nunca me
senti sendo julgada quando conversava com ela.
A arte na galeria era uma colagem de várias mídias diferentes.
Algumas eram paisagens urbanas, enquanto outras eram retratos
abstratos de pessoas comuns.
Um em particular encapsulou perfeitamente minhas emoções atuais.
Era uma litografia de uma jovem em sua melhor roupa de domingo. Ela
tinha um olhar distante que se conectou comigo, uma confusão de lixo e
objetos variados, que a artista havia colado na tela, jorrando de sua
cabeça.
A porta se abriu atrás de mim e eu senti uma lufada de ar frio atingir
minha pele. O cabelo da minha nuca se arrepiou.
— Que joia escondida, — disse uma voz familiar.
Virei-me para ver Jocelyn, ainda tão radiante quanto no jantar da
Casa da Matilha. Ela havia trocado o vestido e os saltos por jeans e um
casaco de inverno chique.
Eu me perguntei se ela estava usando isso quando entrei para
confrontar Aiden. Eu estava enfurecida demais para reparar. Seu cabelo
castanho ondulado caía em cascata por seus ombros, e o ar fresco do
outono tingia suas bochechas fortes de um rosa sutil que acentuava seus
lábios de cereja.
— Não fique tão surpresa, — disse ela, sentando-se ao meu lado no
banco. — Rastrear lobos faz parte do meu trabalho.
— Você estava procurando por mim? — Eu perguntei, sem saber o
que alguém como Jocelyn iria querer com alguém como eu.
— Eu não seria uma Curandeira lá muito boa se não soubesse que
você precisava de alguém com quem conversar depois do que acabou de
acontecer.
Ela deu um sorriso lindo e de tirar o fôlego que imediatamente me
deixou à vontade. Ela não tinha vindo para me julgar. Ela tinha vindo
para ouvir.
— O que ele te falou? — Eu perguntei, com vergonha de olhar nos
olhos dela.
— Aiden não me disse nada. Mesmo se tivesse dito, seria apenas a
versão dele.
Ela fez uma pausa, esperando que eu dissesse algo, mas eu não tinha
certeza se estava pronta para confiar nela completamente. Afinal, ela era
a ex-amante de Aiden e ainda uma de suas conselheiras de confiança.
— Você conseguiu colocá-lo na coleira, algo que nenhuma mulher
jamais conseguiu fazer.
Eu pisquei.
— Na coleira?
Sua risada se intensificou.
— Você tem noção, não é?
Eu pausei.
— Noção de que?
Ela sorriu maliciosamente, o que estava fora de lugar em seu rosto
normalmente compassivo.
— Está todo mundo falando de você, — ela continuou. — Você é a
primeira mulher a desafiar a Bruma do Alfa.
O que ela quis dizer com 'a primeira'? Certamente, se alguém como eu
conseguia deixá-lo irritado, ele devia estar enlouquecendo com uma
mulher como Jocelyn.
— Não é todo mundo que sofre perigo na temporada? — Eu
perguntei. — Como poderia ser a primeira vez dele?
O sorriso de Jocelyn se alargou.
— A maioria das regras do lobisomem não se aplica aos alfas. Eu curei
alguns ao longo dos anos, e posso te dizer... no meio da temporada? Alfas
tendem a não ser afetados pela Bruma. Eles têm um controle de ferro, e
mesmo se não o tivessem, as mulheres que marcam quase sempre aliviam
sua Bruma antes que fique crítica... Pelo menos em geral...
— Então, o que você está dizendo é que sou a primeira mulher a
rejeitá-lo e agora ele está se sentindo... frustrado?
— Exatamente. — Ela acenou com a cabeça. — Você se tornou uma
espécie de lenda no círculo interno. Depois daquele show no escritório?
Josh e o resto da liderança mal podem esperar para conhecê-la
adequadamente. — Mas, — ela continuou, seu rosto sério, — você não
pode evitar a cama de Aiden para sempre.
— Por que não? — Eu perguntei.
— Porque sua Bruma chegará a um ponto em que ele não poderá
mais controlá-la, e quando chegar no limite, bem...
Ela não precisou entrar em detalhes. Aiden iria me caçar até que ele
conseguisse o que queria. Estremeci ao perceber que tinha perdido toda a
ação sobre meu corpo no segundo que aquele filho da mãe afundou os
dentes em meu pescoço.
— Ele não deveria ter me marcado, — eu disse, irada. — Ele deveria
ter me conhecido primeiro e pedido meu consentimento.
— Honestamente, ele geralmente conhece suas parceiras primeiro, —
respondeu Jocelyn. — Mas você realmente deve ter mexido com os
sentidos dele.
— Mesmo? — Meus olhos se arregalaram de descrença. — Então, por
que essa temporada foi a exceção? Ele ficava entediado com as mulheres
se ajoelhando para ele sempre que queria?
Eu vi um toque de dor nos olhos de Jocelyn e imediatamente me
arrependi do que eu disse. — Me desculpe, eu não quis dizer isso. Eu
estou apenas...
— Está tudo bem. Eu sei que você não quis dizer isso como um
insulto. Estar com o Alfa é um prato cheio, especialmente agora. Aiden
não tem sido ele mesmo nos últimos meses. Tenho certeza de que você já
ouviu falar a respeito, — disse Jocelyn.
— Sim, minha mãe é a fofoqueira da cidade, — eu disse, revirando os
olhos.
— O Alfa tem muito a fazer. E até que ele esteja acasalado, sua força, e
a força de nossa matilha, estará ameaçada.
— Mas Aiden e eu não somos companheiros, — retruquei.
— Talvez, mas ele ainda tem uma Bruma que precisa ser controlada. É
divertido vê-lo se contorcer, eu sei, mas pense na Matilha.
— Isso é mesmo responsabilidade minha? — Eu perguntei, cética.
— Eu também me fiz a mesma pergunta, Sienna. Isso é você quem
decide. Eu posso te dizer isso. Eu amo meu Alfa e só quero o que é bom
para ele. Ele é um bom homem. Você verá se der a ele uma chance de
provar isso.
A conversa não levou o rumo que eu esperava, mas eu poderia dizer
que Jocelyn era sincera em sua preocupação por Aiden.
Ainda assim, isso não desculpou sua atitude e o que ele disse para
mim em seu escritório.
— Vou considerar o que você disse, mas ele precisa ceder também. Ele
tem que me respeitar.
— Deixe-me falar com ele, — respondeu Jocelyn. — Ele vai entrar na
linha se tiver algum juízo. Tenho a sensação de que você é diferente,
Sienna. — E antes que eu percebesse, Jocelyn tinha seus braços em volta
de mim em um abraço reconfortante.
— A gente se vê por aí, — disse ela, levantando-se.
— Sim, eu tenho certeza.
Quando Jocelyn saiu, eu ainda me sentia quente por dentro. Seu
toque de cura realmente fez maravilhas. Se uma mulher como aquela
pudesse ser amante de Aiden, ele não poderia ser de todo mau.
Eu não iria perdoá-lo, ainda não, mas entendia a realidade da minha
situação e, se tivesse que ir até o fim, poderia muito bem me esforçar
para conhecê-lo.
Meu telefone vibrou novamente. Desta vez foi minha mãe.
Mãe: Sienna, você precisa voltar para casa agora mesmo! É uma
emergência.
— Achei que você tinha dito que era emergência, — eu disse, fuzilando
minha mãe com o olhar.
— E estragar a surpresa? Eu estava mostrando ao Sr. Norwood
algumas das fotos de quando você era bebê. Ela não era uma graça?
— Sim, mesmo assim, você poderia dizer que ela cresceu para ser uma
mulher forte e bonita, — ele respondeu, lançando seus hipnotizantes
olhos verdes com listras douradas em minha direção. — Este chá é
delicioso, Sra. Mercer.
— Por favor, me chame de Melissa, — ela respondeu com uma
risadinha. Eu queria vomitar. Minha própria mãe estava mais apaixonada
pelo meu parceiro do que eu. Aposto que ela pensou que eu iria acasalar
com Aiden até o final da temporada, mas eu olhei em seus olhos várias
vezes agora, e o reconhecimento nunca ocorreu.
Ele estava apenas me usando, afinal.
— Se divertiu na parte alta da cidade? — ele perguntou, exibindo um
sorriso diabolicamente bonito. Por que ele se importou? Ele sabia sobre
Jocelyn?
— Foi tudo bem, — eu respondi, tentando não deixar sua aparência
me hipnotizar.
Não ajudou que sua camisa agarrasse cada centímetro de seu peito
largo e braços protuberantes ou que sua calça jeans se ajustasse
confortavelmente em torno de suas pernas poderosas e definidas.
Por seu sorriso maroto, eu poderia dizer que ele sabia que eu estava
lutando para impedir que minha Bruma explodisse. — Acho que nunca
te vi de cabelo preso. Combina com você, especialmente com a marca no
seu pescoço.
Eu tinha esquecido completamente que puxei meu cabelo em um
rabo de cavalo frouxo quando cheguei à galeria. Fios crespos e varridos
pelo vento estavam por toda parte. O suor seco grudou em minhas
têmporas.
Eu estava descabelada e feia, e ele sabia disso. E, claro, o filho da mãe
arrogante estava admirando o seu trabalho.
— O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei, não me
importando com as formalidades. Acho que, depois desta tarde, seria
inútil tentar agir civilizadamente.
— Vim com uma missão, — disse ele, divertido. — Quero conhecer
mais sobre você e sua família. Percebi esta tarde que mal nos
conhecemos.
Claro que não. Você me marcou do nada.
Ainda assim, essa mudança de tato me fez pensar que Jocelyn havia
transmitido minha mensagem de que era melhor ele se preparar. Foi bem
rápido, pensei. Eu cruzei meus braços e dei a ele um olhar irritado.
— E qual é o plano?
Com os olhos arregalados, vi quando ele se levantou e pegou minha
mão.
— Sienna, você gostaria de se juntar a mim para jantar esta noite?
O idiota estava me cortejando e, caramba, estava funcionando.
De repente ele estava tão educado. Provavelmente por causa da
presença da minha mãe. Ela parecia que poderia ter morrido ali mesmo e
ido para o céu. Minhas bochechas coraram e meu coração bateu tão forte
que ele provavelmente ouviu. Fiquei encantada. Profundamente
encantada. Talvez Jocelyn estivesse certa sobre ele.
Talvez Aiden Norwood merecesse uma chance.
— Não estou vestida para a ocasião, — falei, tentando protestar.
— Nem eu, — disse ele, sorrindo. — Nós cuidaremos disso. Vamos?
Talvez possamos, pensei. Mas eu iria torturá-lo. Eu não ia desistir tão
facilmente. Finalmente, eu balancei a cabeça.
— Sim, — respondi. Então, pensando que é melhor limitar minhas
apostas. — Só desta vez. — Aiden riu e balançou a cabeça, divertido pela
minha contenção contínua. Sem outra palavra, ele me conduziu para fora
em seu carro e partimos.
Eu sabia que não deveria deixar o Alfa me pegar. Mas, até então ele
tinha sido educado, calmo, até mesmo um cavalheiro. Para que complicar
as coisas quando elas podiam ser simples?
O caminho foi silencioso e rápido. Aiden parou em uma boutique e
entramos.
Eu ainda estava em guarda, mas achando mais fácil a cada segundo
estar perto dele.
A vendedora deu um sorriso apaixonado. — Em que posso ajudá-lo,
Sr. Norwood? — ela sibilou. Nós duas nos encaramos, e seu sorriso
mudou imediatamente para uma carranca.
Acho que alguém queria o Sr. Norwood só para ela.
Vinte minutos atrás, eu teria deixado ele para ela, mas me senti
estranhamente possessiva por um segundo. Antes que eu pudesse me
conter, meu lábio se curvou em um rosnado.
A vendedora desviou o olhar rapidamente. Eu pisquei. O que havia de
errado comigo? Não valia a pena se preocupar com o alfa. Controle-se,
Sienna!
— Você pode me ajudar a procurar algo? — Eu perguntei a ela,
tentando oferecer uma bandeira branca. Ela assentiu bruscamente e me
levou a uma fileira de lindas peças de seda.
Escolhi um vestido azul marinho e fui para o vestiário. O vestido era
justo, destacando todos os meus atributos e complementando minha
pele de marfim.
A vendedora empurrou um par de sapatos brancos por baixo da
cortina. Eles se encaixaram perfeitamente. Soltei meu cabelo e corri
meus dedos por ele até que tudo estivesse domado.
Dei uma última olhada em mim mesma no espelho antes de sair. Eu
estava ótima.
Os olhos de Aiden não pareciam se mover. Seu olhar fumegante
percorreu meu corpo da cabeça aos pés, demorando-se em meus quadris
e peito por um segundo a mais.
— Você está... de tirar o fôlego, — disse ele, os olhos brilhando.
Minha Bruma, graças a Deus, estava sob controle pela primeira vez.
Não que isso fizesse sentido. Nunca tínhamos compartilhado um
momento como este antes.
Deveria estar em chamas. Mas, em vez disso, me vi corando e
desviando o olhar. Não estava excitada. Foi estranhamente... legal. Quase
fofo. Foi quando percebi que Aiden também havia se trocado.
Ele usava uma calça azul justa que deixava pouco para a imaginação e
uma camisa branca de colarinho feita à medida da perfeição. O homem
era devastadoramente bonito.
Depois que ele pagou pelo vestido e pelos saltos, voltamos para o
carro, dirigindo em direção ao centro da cidade.
Estacionamos em frente ao restaurante mais badalado da cidade e,
depois de abrir minha porta, ele me conduziu para dentro com uma das
mãos na nuca. No momento em que passamos pela porta, os olhos de
todos se voltaram para nós.
Alguns ficaram chocados, outros com inveja, mas eu realmente não
me importei. Eu estava gostando tanto da noite que não havia nada que
pudesse me distrair.
A anfitriã nos levou a uma mesa íntima no canto mais distante, longe
dos olhos curiosos dos outros clientes.
Sentamos um em frente ao outro e meu corpo ficou tenso quando
Aiden se aproximou.
— Tão ruim assim? — ele perguntou.
— Depende, — eu disse, e ele ergueu uma sobrancelha, — de quão
boa é a comida. — E então rimos os dois. E percebi o quanto precisava
aprender sobre o Alfa. Eu nunca pensei que ele fosse capaz de ser tão
descontraído. Ele era um líder. Um homem a ser temido. Mas naquele
momento, não.
Só então, Aiden pegou minha mão.
Eu hesitei por um segundo. Mas então eu o deixei pegar.
Nós dois estávamos no piloto automático, parecia. Não houve
palavras, motivos ou agendas claras para definir o que aconteceu a seguir.
Aiden trouxe minha mão até seus lábios macios e beijou as costas
dela.
Eu respirei em choque, quando seu beijo fez a Bruma entrar em
erupção, espalhando-se pelo meu corpo, fazendo minha pele ficar tensa
com antecipação, inchando meu sexo, umedecendo minha calcinha.
Ele olhou para cima através de seus cílios, olhos cheios de surpresa e
fome aparente, sua Bruma faiscando com a minha.
Nenhum de nós planejou que acontecesse assim. Mas estava
acontecendo. E agora eu não sabia se seríamos capazes de pará-la.
— Sienna, você é...
— Eu sei, — eu respirei, lambendo meus lábios. — Você é muito... Sr.
Norwood.
— Aiden, — ele rosnou de fome — me chame de Aiden.
— Aiden. — Eu provei seu nome na minha boca, fechando meus
olhos e arfando. — Oh Deus, Aiden. Estou com tanto calor.
Ele rosnou mais forte desta vez. — Se continuar assim não vamos
passar nem do couvert.
Na verdade parecia boa ideia, mas algo dentro da minha cabeça
continuava me incomodando, cutucando, tentando me tirar da minha
Bruma. Esta não era uma Bruma normal. Não, era como se eu mal me
reconhecesse agora.
Com um beijo na minha mão, Aiden apagou tudo que eu pensava
como eu. Meu passado. Meus desejos. Meus medos.
Todos eles se foram. Eu estava hipnotizada.
Uma parte de mim sabia que isso era errado, mas eu não queria que o
sentimento parasse. Eu não queria interromper a tensão que crescia
dentro de mim enquanto sentia o cheiro desse homem de dar água na
boca.
Mal notamos quando o garçom que veio anotar nossos pedidos.
Aiden pediu algo chique, mas o único prato que eu queria provar não
estava no menu.
Ele estava sentado à minha frente.
Pare! A voz de Emily estava de volta. Pare, Sienna! Guarde-se para o seu
companheiro!
— Ah, pelo amor de Deus, cale a boca! — Eu disse em voz alta, sem
querer.
Aiden me deu um olhar questionador. — Você está ficando louca?
— Você me deixa louca, — eu respondi sedutoramente, um conjunto
de lábios se abrindo, o outro apertando.
— Então é assim? — ele disse, os olhos brilhando. — Eu pensei que
você queria ser caçada. — Espere, ele pensou que eu queria ser caçada?
Foi isso que ele entendeu da nossa conversa?
Antes que eu pudesse protestar, sua mão enrolou em volta do meu
pulso e levou minha mão ao rosto. Tudo em minha cabeça se espalhou ao
vento.
— Sua pele é tão macia, — ele murmurou, beijando minha palma. —
Tão sedosa e macia. Quero colocar minha língua em cada centímetro do
seu corpo.
Meu rosto corou e eu gemi quando ele deslizou um dos meus dedos
em sua boca.
Algo está errado! Pare!
Como algo pode estar errado?
— Sienna. — O som do meu nome me fez pular. — Mal posso esperar.
Eu quero você agora.
Olhando em seus olhos, eu o queria também. Eu não me importava
onde ou como, mas queria cada centímetro dele. — Pode me levar.
Em um instante, fui arrancado da cadeira e tropecei em uma sala mal
iluminada dos fundos.
Abrindo minhas pernas, ele envolveu suas mãos fortes sob minhas
coxas e me prendeu na parede. Sua boca massageou a mordida.
Eu nunca tinha sido beijada na boca antes na minha vida. Mas nos
últimos dias, meu pescoço estava recebendo atenção mais do que o
suficiente para compensar isso.
Eu gemia de prazer quando uma das mãos de Aiden deslizou entre
minhas pernas, as pontas dos dedos provocando minha coxa.
Ele avançou mais e mais perto até que eu estava pronta para gritar.
— O que você está esperando? — Eu gemi, minhas pernas tremendo.
Seus dedos pressionaram contra minha calcinha molhada e uma onda
de prazer turvou minha visão.
Eu me toquei lá inúmeras vezes. Mas não era nada como sentir as
mãos de um homem, as mãos de Aiden, em mim.
Eu adentrei a Bruma mais forte que já experimentei quando a voz
voltou, clamando em minha mente.
Lembre-se da sua promessa!
Eu saí da minha Bruma como alguém saindo de um transe. O prazer
que senti foi transformado em puro terror quando empurrei Aiden de
cima de mim e corri para fora da porta.
Cheguei à floresta e continuei andando pelo que pareceram
quilômetros. Parei para descansar quando cheguei a uma clareira nas
árvores, mas minha trégua durou pouco. Uma rajada de vento trouxe um
cheiro familiar ao meu nariz.
Era Aiden, e ele estava vindo direto para mim.
Capítulo 11
O ESPECTRO
Sienna
Do outro lado da clareira, outro lobo irrompeu por entre as árvores. Ele
era enorme, o maior lobo que eu já tinha visto, e seus olhos castanhos
dourados estavam fixos em mim.
Eu rosnei, mostrando meus dentes. Eu não me importava se
despertasse sua ira. Ele não me teria. Ele não se incomodou com minha
exibição e se aproximou, tentando me fazer encolher com sua
enormidade.
Mas o medo que se apoderou de mim não teve nada a ver com seu
tamanho ou minha segurança. Tinha tudo a ver com a maneira como ele
podia me controlar agora que eu estava marcada. Lembrei-me de meus
amigos falando sobre isso durante nossa primeira Bruma, mas
obviamente nunca tinha experimentado isso eu mesma.
Durante a temporada, uma fêmea marcada pode ser prejudicada de
forma não natural por seu macho marcador. Basta um toque especial e
ele poderia tornar sua amante tão perigosa quanto ele. No segundo em
que Aiden beijou minha mão no restaurante, foi isso que aconteceu. Eu
vi em seus olhos.
Ele não se importou com os joguinhos, nem de me conquistar de
forma justa. Tudo que ele queria era me comer. Alfa típico.
Talvez fosse só isso que todo o encontro significava. Uma chance de
me ter no meu estado mais indefeso. Uma chance de liberar sua tensão
para que ele pudesse voltar para suas responsabilidades de Alfa.
A voz de Emily tinha sido forte o suficiente para me tirar da Bruma
desta vez, mas e da próxima vez? Como eu poderia escapar de sua cama
se ele tinha tanto poder sobre mim? Aiden se aventurou mais perto,
esquecendo que eu não era uma de suas lobas domesticadas.
Eu não conhecia meu poder total ainda, mas sabia que não o queria
mais perto.
Eu rosnei no fundo do peito do meu lobo. Cai fora, babaca. Cai fora.
Eu enrijeci meus músculos, esperando que ele atacasse.
Nós travamos os olhos, nenhum de nós recuando.
De repente, nossos ouvidos se animaram com o som de patas pisando
no chão da floresta.
Um enorme lobo loiro saltou da linha das árvores atrás de Aiden com
uma matilha de quatro lobos logo atrás. Era Josh, e ele parecia tenso.
Algo estava errado. O que eles estavam fazendo aqui?
O lobo de Josh olhou para Aiden. Fiquei surpresa que nenhum dos
dois os farejou, mas, novamente, estávamos focados nos cheiros um do
outro.
Fosse o que fosse, deve ter sido importante porque, a princípio, Aiden
ficou furioso ao ver seu subordinado. Mas em segundos, ele estava
circulando ao redor de sua Matilha, reunindo-os e se comunicando
através de grunhidos e olhares carregados. Ele era um líder natural.
Eu queria saber mais. Será que tinha a ver comigo?
Mas, ao mesmo tempo, eu não ficaria por aí para descobrir se Aiden
ainda estava em perigo. Eu vi minha oportunidade de escapar e fugi para
a floresta.
Quando os últimos raios de sol se dissiparam entre as árvores, uma
figura cintilante chamou minha atenção enquanto eu corria. Estar na
forma de lobo tornou minha visão muito mais aguçada do que quando eu
era humana, então parei e pude ver com grande clareza uma mulher com
pele branca perolada e olhos nebulosos de roxo elétrico, azul e cinza. Seu
cabelo era preto como breu e caía pelas costas em ondas angelicais.
Levei um momento para perceber que, enquanto eu estava olhando
para ela, ela estava olhando de volta para mim. Seu rosto de porcelana
era hipnotizante.
Achei Jocelyn linda, mas essa mulher a superou sem sombra de
dúvida.
Suas feições e simetria foram formadas com tal perfeição que ela deve
ser algum ser sobrenatural e imortal que desceu à Terra.
Apesar de sua beleza sobrenatural, seu traje era estranhamente
mundano.
Ela usava calças largas com estampas de camuflagem e coturnos para
combinar. Sua blusa era uma camiseta cinza simples com uma jaqueta
jeans desbotada jogada por cima.
Eu pensei que talvez ela fosse uma andarilha, mas ela não tinha uma
mochila ou qualquer outro equipamento com ela.
Além do mais, não havia medo em seus olhos quando ela olhou para
mim. Ela não era um lobisomem, eu senti imediatamente, mas ela não
cheirava como um humano também.
Quem era esta mulher?
De repente, toda a floresta ficou em silêncio e um tom monótono
começou a ecoar em meus ouvidos. Eu balancei minha cabeça, mas não
parou o barulho.
Eu fechei os olhos novamente com a mulher encantadora. Minha
cabeça doía como se estivesse prestes a se abrir. Eu gritei e pensei que
podia ouvir uma criança gritando em uníssono.
Minhas pupilas dilataram e duas sombras pairaram sobre mim. Eu
não poderia dizer se eles estavam me alcançando ou tentando me
machucar, mas em um instante, eles se foram.
Eu olhei de volta para a mulher assim que ela também desapareceu na
noite, lentamente se tornando invisível como um espectro. O zumbido
em meus ouvidos parou e os sons da floresta voltaram.
A lua estava agora ascendendo ao seu trono noturno, e os sons da
floresta se estabeleceram em seus costumes noturnos.
Trotei cautelosamente até onde a mulher estivera e não consegui
encontrar nenhum vestígio dela. Eu coloquei meu focinho no ar, mas
tudo que eu podia sentir o cheiro era o almíscar úmido da floresta e as
criaturas usuais que a habitavam.
Eu realmente tinha visto alguém ou minha mente estava me
pregando uma peça?
Se ela fosse real, o que ela queria comigo? Por que ela se exporia e
simplesmente desapareceria? Nada fazia sentido.
Estremeci ao pensar o que teria acontecido se Josh e os outros lobos
não tivessem aparecido ou se tivessem chegado alguns minutos depois. A
noite toda me lembrou o quão pouco eu sabia sobre parceria e as regras
que governam uma loba uma vez que ela é marcada.
Eu conhecia Bruma há apenas três temporadas, enquanto Aiden era
um amante experiente que conhecia todos os truques.
E acima de tudo, ele era um alfa, então seus poderes eram mais fortes
do que os de um macho típico.
Se eu ia ter alguma chance contra ele, precisava descobrir uma
maneira de mantê-lo longe de mim enquanto nos conhecíamos.
Nada disso colaborava com o fato de que eu estava me guardando
para meu companheiro, e Aiden era a coisa mais distante de um
companheiro que eu poderia imaginar.
De que adiantava ter um alfa se ele não conseguia permanecer no
poder sozinho?
Tudo soou um pouco dramático para mim, como uma desculpa
elaborada para dormir com todo mundo até que ele — decidisse — que
havia encontrado sua companheira.
Eu gostaria de poder lutar contra minha natureza de lobo e nunca
mais ter outra Bruma. Foi o que levou Emily a fazer o que ela fez.
Eu nunca iria querer me tornar humana, mas durante a temporada,
eu tinha inveja de seu estado não afetado.
Mulheres humanas não precisavam aturar essa merda. Elas não
tinham que se submeter a serem marcadas e enganadas para dormir com
alguém, amante ou não. Elas nunca se perdiam de si mesmas.
O uivo de outros lobos me tirou dos meus pensamentos. Mesmo
tendo um parceiro, ainda não era seguro para mim estar sozinha em uma
parte tão remota da floresta.
Apenas os machos mais desesperados e não pareados estavam
rondando tão tarde da noite. Eu sabia me cuidar. Eu tinha literalmente
acabado de desafiar o Alfa, mas sabia que teria problemas se mais de um
aparecesse em busca de satisfação.
Da última vez, tive sorte. Era hora de ir embora.
Eu corri de volta para a floresta, em direção à minha casa.
Eu estava quase no limite da floresta quando me ocorreu que eu tinha
rasgado o vestido que Aiden tinha comprado para mim e jogado fora em
algum lugar ao longo da estrada.
Em outras palavras, eu estaria nua quando voltasse.
Não era exatamente um tabu andar pela cidade na forma de lobo, mas
também não era encorajado.
Eu nunca tinha feito isso antes, mas depois de parar na Casa da
Matilha meio transformada no início do dia, eu percebi que poderia lidar
com alguns olhares de desaprovação.
Ainda assim, não era da minha natureza chamar a atenção, então
peguei estradas alternativas e me mantive nas sombras até chegar à
minha rua.
Quando me aproximei da esquina, as lâmpadas da rua começaram a
pulsar e minha visão ficou turva novamente. Fiquei desorientada, todos
os meus sentidos embotados. O que aquela mulher fez comigo?
Tentei pular a cerca para o nosso quintal, mas prendi minhas patas
traseiras em uma ripa e caí com um baque pesado. Eu olhei para cima
para ver uma figura sombria se aproximando de mim.
Corri para a porta dos fundos e arranhei impotente, minhas patas
incapazes de trabalhar a maçaneta, sem tempo de voltar à forma
humana.
Eu estava encurralada, sem ter para onde correr. Eu queria uivar,
agarrar, lutar, mas estava paralisada de medo.
Capítulo 12
A CONVERSA
Sienna
Michelle: SIENNNAAAA
Erica: É grande?
Sienna: Estou falando sério. Parem com isso
Mia: EXATAMENTE!
Mia: Prometo!
Erica: Prometo!
Michelle:... prometo 😉 ;)
Aiden: é só falar.
Aiden: É complicado.
Usei minha minissaia xadrez vermelha e preta nova em folha, com botas
de couro preto de salto alto, meia-calça preta e um top curto com uma
jaqueta de couro preta por cima.
Pintei minhas unhas para combinar com o vermelho da minha saia e
separei meu cabelo em camadas bagunçadas que caíram pelas minhas
costas e ombros como uma cachoeira de cobre.
Eu apliquei meu delineador, rímel e batom cor de vinho. Para
terminar, coloquei meus brincos de prata preferidos, junto com anéis
combinando. Meu look era de pirigótica e eu estava amando.
Quando as garotas me viram, elas me encheram de elogios.
Michelle até disse que eu era sexy o suficiente para morder, o que
para os lobisomens era o melhor elogio que você poderia receber.
Como Michelle disse no Winston's, Lupin só estava aberto há
algumas semanas, mas todo o hype em torno dele significava que todas as
noites da semana havia longas filas de pessoas esperando para entrar.
Erica, no entanto, tinha conseguido passes VIP — um de seus irmãos
tinha conexões com todos os seguranças do centro, incluindo o do Lupin
— e nós entramos sem ter que esperar.
Sempre me senti um pouco culpada por pular a fila daquele jeito,
especialmente quando as pessoas que estavam esperando faziam cara feia
para você com inveja, mas esta noite eu não me importei.
Eu estava lá para me soltar e esquecer o lobisomem estúpido que
colocou essa marca no meu pescoço.
A entrada do clube tinha um teto baixo que dava a sensação de estar
entrando em uma caverna. A esquerda estava o bar, iluminado por LEDs
que piscavam com a música em padrões suaves.
À
À direita ficava o guarda-volumes, onde deixamos nossos casacos, e
uma escada que levava ao mezanino que dava para a pista de dança.
Era de forma circular e se abria para um átrio, onde grandes gaiolas
pendiam das vigas, abrigando belas dançarinas que se contorciam
sensualmente ao som da música.
Humanos e lobisomens se misturavam no enorme bar enquanto
todos se acotovelavam para pedir suas bebidas. Eu olhei para a pista de
dança, que estava cheia de corpos se esfregando.
O DJ mixava faixas de house de seu palco com vista para a multidão,
ocasionalmente incitando os clientes a fazerem mais barulho.
Michelle abriu caminho até o bar e pediu uma rodada de doses de
vodca.
— Você acha que deveríamos conseguir mais já que estamos aqui? —
ela gritou por cima da música. Já tínhamos começado a beber no táxi,
mas Michelle nunca foi de ir devagar.
— Duas rodadas, pelo menos, — respondeu Mia. — Estou fora do
mercado agora! Vocês ouviram isso, meninos? Você não tem chance com
essa gostosura, — disse ela, sacudindo os quadris.
Bebemos shots no bar antes de encontrar uma mesa de pé para nos
amontoarmos com nosso balde de gelo cheio de licor, gim, tequila, rum e
vodca.
Fazendo a contagem regressiva juntas, cada um de nós pegou um
canudo e chupou o máximo que possível.
Michelle e eu duramos mais, mas eu venci. Ela se considerava a garota
festeira do nosso grupo, então foi um golpe para seu ego.
— Amanhã vai ser uma merda. — Erica deu uma risadinha. — Eu sou
fraca com bebida.
— Então vamos para a pista de dança enquanto você ainda pode ficar
de pé, — gritei, o que não era típico de mim porque eu não era, de forma
alguma, uma boa dançarina.
A única coisa em que eu era boa na vida era pintar, mas tinha ritmo
suficiente para mover meus pés e quadris com a batida.
Abrimos caminho até o meio da sala e começamos a nos exibir.
Os homens começaram a se aproximar de nós e a flertar com Erica, o
que não era problema, já que ela não estava marcada ou acasalada, mas
para minha surpresa, os homens estavam me atacando também.
Eles não me reconheceram ou não se importaram que eu tivesse a
marca do Alfa na base do meu pescoço.
Considerando os eventos recentes com Aiden, concluí, sem sombra
de dúvida, que os homens são porcos e estão dispostos a arriscar
qualquer coisa, incluindo suas vidas, se isso significar transar.
— Não entendo, — gritei por cima da música para Mia depois de
enxotar outro homem. — Estou marcada como você, então por que os
caras ainda estão vindo em cima?
Mia gritou de volta: — Porque minha marca é uma marca de
acasalamento e a sua não.
Novamente, minha inexperiência em ter um amante durante a
temporada significava que eu perdi algum conhecimento comum.
— A marca de acasalamento é um vermelho suave em torno das
bordas, enquanto a sua está mais machucada e roxa. Lobisomens machos
também podem sentir qual é qual, para evitar problemas sérios, — ela
explicou.
Quer eu tivesse uma marca de acasalamento ou não, qualquer um
desses caras teria sérios problemas se Aiden descobrisse que eles estavam
tentando me levar para casa. E eu adorei.
Depois de uma hora, Michelle levou Erica ao banheiro porque ela se
sentiu mal.
Eu fiquei na pista de dança com Mia, jogando meu corpo como se
estivesse em casa no meu quarto sem ninguém olhando.
As bebidas tinham nos atingido fortemente agora.
Mia e eu estávamos constantemente nos agarrando uma à outra para
manter o equilíbrio, e eu estava feliz por ter decidido não usar salto. Do
contrário, certamente teria torcido o tornozelo.
O DJ colocou um reggaeton sensual que fez todos formarem pares.
Um cara veio até mim com um sorriso sugestivo e estendeu a mão.
Ele era um lobisomem sem parceira, que era claramente dominante,
enquanto segurava meu olhar sem problemas.
Ele também era muito gato, com cabelos dourados, olhos escuros
sexy e um físico esguio e talhado.
— Oi, mocinha sexy, — disse ele, pegando minha mão e pressionando
seus lábios perto da minha orelha.
— Oi, — respondi, olhando para Mia com o canto do olho.
Ela me deu uma piscadela e fugiu em direção ao bar, me deixando
sozinha com este lobisomem fofo. Eu não estava querendo muita
privacidade.
Além disso, se ele tentasse qualquer coisa, eu poderia chutar sua
bunda. Eu lutei contra cinco homens sozinha na floresta. O que era um
em um clube cheio de pessoas?
— Qual o seu nome? — ele perguntou, erguendo as sobrancelhas para
mim em um convite aberto.
— Sem nomes, — eu disse. Ele era simplesmente um rosto bonito de
se olhar e um corpo bonito para dançar. Eu queria manter assim.
Eu sei que provavelmente deveria ter recusado. Aiden só precisava dar
uma cheirada na minha pele para saber que outro homem tinha me
tocado. O imbecil. Ele claramente queria muito comer, mas não ia rolar.
Ele me girou e colocou as mãos nos meus quadris, puxando minha
cintura contra sua virilha.
No começo foi divertido ter as mãos de outro homem em mim, mas
quanto mais a música tocava, mais insistente ele se tornava.
Não era como o toque de Aiden, que deixou minha pele em chamas e
me fez querer. Eu não disse nada, mas continuei dançando. Afinal, eu
estava lá para me divertir, não para pegar ninguém.
Senti seu aperto se intensificar quando ele se pressionou contra mim
com mais força, balançando a parte inferior de seu corpo com o meu.
Quando sua ereção por debaixo do jeans cutucou em mim, eu sabia
que era hora de parar.
Tentei me desvencilhar de seu aperto, mas ele não me soltou. Ele
apenas pressionou mais forte e começou a puxar minha saia.
— Solte! — Eu gritei, meu grito abafado pelo baixo.
— Qual é o problema, gatinha? — ele perguntou, tentando continuar
o jogo.
— Vai se foder, cretino! — Eu gritei.
— Por quê? — Sua voz estava sombria de luxúria.
— Estamos nos divertindo.
— Não estou me divertindo com você, — rebati, o coração
martelando no peito. — Então me solta, porra!
De repente, percebi que, enquanto estávamos dançando, ele nos
arrastou em direção à borda da pista de dança e agora me puxou para um
canto escuro na saída dos fundos.
O sangue correu do meu rosto.
— Você devia ter pensado antes de provocar um homem na Bruma,
gata, — ele rosnou, e de repente eu estava do lado de fora no ar frio de
novembro, minha transpiração congelando, o que, junto com a
adrenalina bombeando por mim, fez meu corpo tremer
incontrolavelmente.
Ele me pressionou contra a parede de tijolos do beco vazio, seus olhos
luminosos e cheios de luxúria.
Agora eu não conseguia mais esconder meu pânico. — O que você
pensa que está fazendo?! — Eu gritei.
— Qual é, relaxa, — ele disse, suas mãos me segurando, cavando em
meus lados.
— Eu quero voltar para dentro, — eu atirei de volta.
— Não se preocupe, já voltamos. Vamos apenas ficar aqui um pouco,
aproveitar o ar fresco... nos conhecer.
Ele olhou para mim com uma intenção maliciosa. Eu sabia o que ele
procurava e precisava me afastar dele como pudesse.
— Estou com frio. Eu preciso voltar para as minhas amigas, — eu
respondi, tentando empurrá-lo. Ele se inclinou, tentando me beijar. —
Não!
Ele enfiou a mão no meu seio e o apalpou violentamente.
— Relaxe, querida, eu não vou te machucar.
— Não! — Eu gritei, lutando contra seu aperto.
Tentei dar socos, cotovelos e joelhadas, mas ele era mais forte do que
eu pensava, e os efeitos do álcool me deixaram fraca e descoordenada.
Eu me senti impotente enquanto sua boca e mãos me violavam.
Ele apertou meu peito novamente e eu gritei.
— Pare!
Mas ele não estava parando agora e não estava falando. Ele só tinha
uma coisa em mente.
Ele me ergueu contra a parede e rasgou minha meia-calça, sufocando
minha boca com a mão.
As lágrimas queimaram meus olhos enquanto ele se atrapalhava com
sua braguilha.
Ninguém vai vir me salvar, pensei. As palavras me cortaram como o
vento frio que soprava pelo beco vazio.
Isso foi exatamente o que ela deve ter pensado.
Ninguém vem te salvar
E por um segundo, eu pude vê-la. Emily. Lutando, gritando,
implorando por ajuda.
Fechei os olhos e tentei afastar a imagem, ignorar seus dedos gelados
puxando minha pele, queimando-me com pontadas viscerais de raiva,
arrependimento e impotência.
Eu me senti deixar meu corpo, e quando olhei para baixo, era a forma
de Emily ao invés da minha.
Tentei gritar para o bastardo sair de cima dela, mas nenhum som saiu.
Tentei acertá-lo, mas minhas mãos passaram por seu corpo.
Emily. Não. De novo não. Estou aqui desta vez.
Eu voltei para o meu corpo. Alguém, qualquer um, me ajude!
Lutei para manter minhas pernas fechadas e enfiar minhas mãos
sobre minhas partes íntimas, mas ele usou sua coxa para separar a minha
e puxou minha mão com facilidade.
De repente, um rosnado profundo e horrível encheu o ar, e eu senti o
peso do corpo do meu atacante desaparecer com um grito angustiante.
Eu abri meus olhos e engasguei em choque. Era ele, de verdade?
Capítulo 15
O CONTO DE FADAS
Sienna
— Diga-me novamente por que isso tem que acontecer? — Meu pai
questionou, nem mesmo tentando esconder a preocupação em sua voz.
— Já falamos sobre isso, Peter. — Minha mãe suspirou. — O Alfa não
pode ser o companheiro de Sienna se a mantivermos trancada aqui. Ela
precisa de espaço para respirar.
— Nós não sabemos se ele é meu companheiro, — eu a corrigi.
A escolha de palavras da minha mãe foi dolorosamente irônica,
considerando que eu ficaria muito mais sufocada e confinada na casa de
Aiden do que aqui.
Meu pai me puxou para um abraço de urso. — Eu sei que você tem
que descobrir se ele é seu companheiro ou não, mas isso não significa
que eu não vou ficar muito preocupado com a minha garotinha. Eu
gostaria que você ficasse.
Quanto mais eu pensava sobre isso, mas eu sabia que isso era algo que
eu tinha que fazer, quisesse ou não. Eu nunca saberia se Aiden e eu
tínhamos uma chance real de um relacionamento se eu pelo menos não
desse uma chance, embora eu tivesse minhas dúvidas sobre suas
intenções.
Abracei meus pais com força. — Vocês não precisam se preocupar
comigo. Eu prometo.
— Sim, é claro... você vai ficar bem, — disse mamãe, começando a
chorar. — Minha última filha saindo de casa e acasalando com um Alfa.
Eu não posso acreditar que você está crescida!
Lembrei-me de como meus pais agiram quando Selene se mudou. Foi
exatamente a mesma coisa. Mesmo que ela fosse sua filha de sangue e eu
tivesse sido adotada, isso não fazia a menor diferença para eles.
Isso me fez amá-los ainda mais por isso. Eu ia sentir falta deles. Pais
biológicos ou não, eles eram meus. E talvez minha mãe estivesse sendo
melodramática, mas, agora, eu gostava disso.
— Volto logo, relaxe, — eu disse, abraçando-os uma última vez. O
abraço da minha mãe foi um pouco apertado demais para meu conforto.
Felizmente, uma buzina de carro buzinou do lado de fora, oferecendo
uma fuga.
— Deve ser meu motorista! Eu tenho que ir, mas eu amo muito vocês!
— Eu gritei enquanto saía pela porta.
Lá fora. Josh estava esperando por mim. Ele tinha um sorriso quase
suspeito no rosto. Ele pegou minhas duas malas e as colocou no porta-
malas enquanto eu me sentei no banco do passageiro.
Josh entrou no carro e acelerou o motor como um garoto de
fraternidade prestes a dar um passeio. Embora eu duvidasse que seria um
passeio agradável.
Nós dirigimos em um silêncio constrangedor por um tempo antes de
Josh finalmente virar a cabeça para olhar para mim.
— É um prazer conhecê-la oficialmente, Sienna Mercer, — ele disse
com aquele sorriso estranho. — Eu sou Josh Daniels, o Beta da Matilha
da Costa Leste.
— Sim. eu sei, — eu disse, ainda tentando lê-lo. — Deve ser bom ser
escolhido para essa posição.
— Deve ser bom estar na sua posição também, — Josh disse com um
tom acusatório. — Então, enquanto estamos aqui, por que você não me
diz como você fez isso?
— Desculpe? — Eu sabia que havia algo estranho naquele sorriso
falso.
— Não seja modesta. — Sua voz estava encharcada de sarcasmo agora.
— Você precisa me dizer sua técnica. Como você enganou o Alfa para
marcá-la?
Eu não ia sentar aqui e aceitar essa merda.
— Enganá-lo? Eu nem tive escolha em nada disso. O que lhe dá o
direito de questionar meus motivos?
— Eu sou o Beta. É meio que meu trabalho, e se você está se
aproveitando dele quando ele está em um estado vulnerável, eu serei o
primeiro a saber sobre isso.
— Se você está tão curioso sobre mim, então por que não pergunta ao
seu melhor amigo por que ele me marcou? — Eu atirei de volta.
— Bem, eu faria, mas Aiden se recusa a responder qualquer uma das
minhas perguntas sobre você. — Sua carranca se aprofundou. — Ele tem
sido tão reservado sobre porque ele marcou você. Todo mundo está
perplexo.
Ele olhou para mim. — Eu me ofereci para buscá-la na esperança de
que você me desse uma pista sobre este pequeno relacionamento que
vocês dois começaram.
— Se Aiden não te disse nada, então por que diabos eu contaria?
Talvez você esteja apenas tentando obter informações para usar contra
ele.
Josh massageou sua têmpora em frustração. — Eu realmente deveria
ter deixado Jocelyn lidar com isso. Ela está acostumada a lidar com
pessoas delirantes.
— Isso faz sentido, considerando o histórico de namoro dela, —
retruquei.
Josh estreitou os olhos para mim. — Vou ser franco com você. Eu não
acho que você seja forte ou madura o suficiente para lidar com um
domínio tão poderoso quanto o dele, e não importa se você pensa que é
uma loba durona ou sei lá.
— Você está me subestimando, — eu disse, desafiando-o.
— O tempo vai dizer. Agora saia do meu carro, — Josh disse
presunçosamente.
Durante nossa discussão, não percebi que já havíamos chegado à casa
de Aiden.
Saí do carro de Josh, batendo a porta atrás de mim. Peguei minhas
malas e atravessei a ponte para o meu feriado Bruma do inferno.
Uma coisa era certa, porém. Eu não deixaria Josh ou qualquer outra
pessoa me subestimar.
Quando Aiden abriu a porta, meus olhos foram imediatamente atraídos
para seu peito brilhante sem camisa. Seus músculos incharam com cada
movimento menor.
Minha Bruma começou a brilhar.
Porra, isso já está realmente acontecendo?
Ele tentou me agarrar e me puxar para dentro, mas consegui passar
por baixo de seu corpo enorme e entrar na casa. Ele se achava inteligente,
mas não me pegaria tão facilmente.
— Você pode trazer minha bagagem para o quarto de hóspedes. — Eu
disse timidamente enquanto caminhava pelo saguão, certificando-me de
estar vários passos à frente dele. — Você vai me mostrar o tour ou terei
que fazer tudo sozinha?
— Oh, você tem feito tudo sozinha por muito tempo. É hora de você
deixar outra pessoa te ajudar, — ele disse, sorrindo com aquele sorriso
sexy e irritante.
Eu apenas rolei meus olhos.
— Eu disse a você — nada de sexo. Isso fazia parte do nosso acordo.
— Nós concordamos que não faremos sexo, — ele disse, começando a
fazer uma carranca. — Isso não significa que não podemos nos entregar a
outras atividades.
Apesar de minhas tentativas de suprimi-lo, minha Bruma continuou a
crescer. Eu estava tentando o meu melhor, mas era quase impossível com
seu cheiro por todo o lugar, e com ele sem camisa e suado, a apenas
alguns passos de distância.
Eu poderia muito bem ter apenas me entregado em uma bandeja de
prata.
Isso não significava que eu não lutaria de volta, no entanto. — Aiden,
estou falando sério, — disse. — Eu não vou dormir com você. Não somos
companheiros e também não somos amantes. Preciso do meu próprio
quarto e isso não é negociável.
Nós travamos os olhos em uma batalha de vontades, ambos
afirmando nosso domínio. Recusei-me a recuar, especialmente depois do
que Josh tinha dito. Para minha surpresa, Aiden, rosnando levemente
baixinho, pegou minhas malas e me levou para a sala mais próxima,
jogando-as dentro.
Eu não conseguia acreditar nos meus olhos. Eu realmente tinha
acabado de fazer Aiden se comprometer sobre algo? Eu fiz o Alfa do
Matilha da Costa Leste assumir um compromisso!
Talvez eu tivesse uma chance de sobreviver a isso, afinal. Acontece
que minha empolgação foi minha traição final. No entanto, a Bruma me
atingiu com força total no meio da minha vertigem.
Os sentidos de Aiden explodiram imediatamente, e ele estava na
Bruma. Foda-se, lá vamos nós.
Nós nos encontramos no meio da sala, e seus braços estavam em volta
de mim em meros segundos enquanto minhas mãos estavam agarrando
seus cabelos negros desgrenhados. Ele me empurrou na cama e caiu em
cima de mim.
Ele puxou as alças do meu vestido, expondo meu sutiã, e começou a
chupar minha marca, me deixando louca. Sua boca desceu para os meus
seios e eu engasguei quando senti sua língua e dentes vagando em torno
dos meus mamilos.
Eu queria que ele tirasse minha roupa. Eu queria que nós dois
estivéssemos nus com nossa pele suada se tocando. Era uma forma de
tortura tê-lo tão perto, mas não perto o suficiente. Eu precisava dele
dentro de mim, e precisava agora.
Eu não podia esperar até descobrir se éramos companheiros. Eu tinha
que tê-lo bem aqui, agora, ou ficaria louca.
Merda, fique sob controle, Sienna! Eu finalmente ganhei a vantagem e
fiz com que ele se comprometesse. Eu não poderia simplesmente jogar
isso fora agora.
— Pare! — Eu gritei. — Me larga! Por favor. Dê-me espaço para
pensar.
Aiden parecia exasperado.
— Sienna, você não pode continuar fazendo isso. É uma coisa natural
querer que seus desejos sexuais sejam realizados.
— Saia, — eu ordenei enquanto as lágrimas brotaram em meus olhos.
— Esta é a minha casa, — rosnou Aiden. — Você é só uma convidada
aqui.
— Eu sou sua convidada? — Eu perguntei, engasgada. — Ou eu sou
apenas uma prisioneira da porra do seu ego de Alfa?
Antes que ele pudesse responder, corri para o banheiro e tranquei a
porta.
Tirei minhas roupas e sentei no chuveiro, deixando a água correr pelo
meu rosto, escondendo minhas lágrimas. Eu sabia que estava
amaldiçoada por sempre me sentir assim por causa do passado.
E talvez eu merecesse essa maldição. Alfa ou não, ninguém poderia
tirar esses demônios de mim.
Para piorar as coisas, agora eu tinha que estar perto de Aiden todos os
dias. Eu não poderia passar por isso novamente diariamente. Apenas
alguns minutos se passaram desde que eu cheguei. Se não pudéssemos
sobreviver menos de uma hora juntos, como poderíamos sobreviver às
próximas semanas?
Em dez minutos, tínhamos conseguido lutar, inflamar nossa Bruma e
ter uma sessão de amassos seco e cheio de raiva da qual eu fugi com um
ataque irregular.
Isso não era saudável.
Quando me levantei do chão do chuveiro, percebi uma linha fina de
sangue circulando pelo ralo. Senti uma pontada de esperança no peito.
Minha menstruação.
Eu pulei fora do chuveiro e rapidamente verifiquei meu calendário.
Era aquela época do mês. Minha menstruação significava sem sexo, e sem
sexo significava manter minha virgindade e minha sanidade intacta por
mais uma semana sem ter que enfrentar as tentações de Aiden.
Nunca, em toda a minha vida, senti tanta gratidão pela Mamãe
Natureza.
Capítulo 18
A RUPTURA
Sienna
Michelle: Sienna...
Michelle: sério?
Sienna: Me desculpe, eu realmente não
tenho ideia
Michelle: eu percebi...
Sienna: Aiden
Sienna: e a Bruma
Michelle: entendi
Sienna: O quê?
Michelle: nada
Michelle: Então você vem ou não?
Michelle: Sienna
Estou profundamente envolvido. Não há mais volta agora, não que tenha
existido para mim.
Sienna tinha-me na coleira. Como um cachorro domesticado. Mas ela
me odiava ou sentia algo por mim?
Eu nunca poderia dizer com ela. Se ela finalmente decidiu me
rejeitar...
Porra!
Passei minhas garras na minha mesa, jogando tudo, desde pilhas de
documentos assinados até velhos troféus de esportes, no chão com um
barulho.
Josh se encolheu especialmente quando eu espalhei centenas de
convites do Baile de Natal pela sala, alguns deles batendo no ventilador
de teto e caindo no esquecimento.
— Aquela garota, — eu rosnei. — Eu não posso tirá-la da porra da
minha cabeça. Ela assumiu completamente cada pensamento meu, e isso
está me deixando louco.
— Tenho certeza de que é apenas a Bruma, — disse Josh com cautela,
enquanto tentava recuperar o que restava dos convites.
A maldita Bruma. Parecia sem fim. Eu provoquei Sienna
implacavelmente sobre seu controle, mas a verdade é que eu mal
conseguia me controlar. Quando eu estava na presença dela, todo o resto
parecia turvo — eu não conseguia me concentrar.
Mas para eu me sentir assim quando ela nem estava por perto? Isso
me fez querer arrancar meus olhos.
— Como diabos você está lidando com isso? — Eu perguntei,
andando em círculos. — Jocelyn não distrai você de suas tarefas mais
importantes, se enterra em seu cérebro como um parasita e faz você
querer rasgar algo ao meio, porra?
— Uhhh... — Josh rapidamente puxou um mural vintage da minha
árvore genealógica fora do meu alcance.
Ele parou por um momento para pensar sobre minha pergunta. — Na
verdade, não. — disse ele, parecendo um pouco confuso. — Quer dizer,
Jocelyn é ótima e tudo, mas não posso dizer que senti algo parecido com
o que você está descrevendo.
— Bem, você tem sorte então, — eu rosnei. — Porque isso é uma
tortura.
Meu telefone começou a zumbir no bolso e eu o puxei com cautela,
sabendo exatamente quem seria.
Acordei com uma casa vazia, mas o cheiro de Aiden ainda pairava no ar.
Ele deixou um bilhete preso por um ímã na geladeira. Dizia que ele tinha
saído para algum negócio alfa e ficaria na Casa da Matilha o dia todo e
poderia não chegar em casa para o jantar.
Por algum motivo, um sorriso idiota se espalhou pelo meu rosto
enquanto eu me vestia. Quando me olhei no espelho e puxei meu cabelo
ruivo para trás em um rabo de cavalo, vi minha marca sob uma luz
diferente.
Pela primeira vez, isso não me incomodou ou enfureceu. Na verdade,
eu estava meio orgulhosa disso.
Decidi enviar uma mensagem de texto para Aiden e dizer a ele para
ter um bom dia no trabalho, talvez até paquerar um pouco, mas depois
de algumas mensagens, ele parou de atender e ele não respondeu. Ele
provavelmente estava sobrecarregado de trabalho e teve que desligar o
telefone.
E se eu o surpreendesse na Casa da Matilha para o almoço? Parecia
uma boa ideia, considerando que ele não teria um momento livre de
outra forma, hoje.
Eu estava praticamente radiante e queria tirar meu próprio sorriso
bobo do rosto, mas talvez esse sentimento não fosse tão ruim.
Quando cheguei ao portão, vi o guarda que estava lá da última vez que
atravessei a Casa da Matilha. Ele olhou para mim e ficou branco como
um fantasma. Sem nem mesmo um 'alô', ele abriu o portão e me
conduziu, tentando evitar o contato visual.
— Desculpe pela última vez, — eu disse timidamente, fazendo-o
pular. — Posso ter alguns problemas de controle da raiva.
Com os olhos arregalados, ele sorriu nervosamente, balançando a
cabeça como um boneco quebrado. Talvez eu precise pagar por sua terapia.
Quando eu entrei, peguei o cheiro de Aiden, mas estava um tanto
obscurecido por vários outros cheiros masculinos. Eu me perguntei se ele
poderia me cheirar ou se o meu também estava mascarado? Enquanto
estava farejando o ar, quase esbarrei em Jocelyn.
— Ei, Sienna, — disse ela enquanto sorria. — O que você está fazendo
aqui?
Droga, eu sempre me esquecia de como ela era linda. — Ei, Jocelyn, —
eu disse, sorrindo timidamente de volta.
Eu ainda não tinha certeza se podia confiar nela ou não. Michelle
sempre me dizia que era obscura, mas Jocelyn sempre foi gentil e
prestativa comigo. Normalmente eu confiava no julgamento de Michelle,
mas desta vez não tinha tanta certeza.
Especialmente porque o momento da desconfiança de Michelle em
Jocelyn se aliou ao fato de ela namorar Josh, por quem tenho certeza de
que Michelle tinha uma queda, apesar de nunca ter conhecido
oficialmente.
— Você está aqui por Aiden? — Ela perguntou maliciosamente.
— Ele está ocupado? Sempre posso voltar mais tarde.
— Não, ele está apenas no almoço da matilha.
— Homens apenas — ela disse, revirando os olhos. — Josh também
está lá.
— Parece importante, — eu disse, começando a perder minha
coragem. — Talvez eu não deva interromper.
Jocelyn agarrou meu braço, rindo. — Eu acho que é exatamente o que
você deve fazer. Espere, tente isso.
Ela se inclinou e puxou meu cabelo para baixo do rabo de cavalo,
brigando e bagunçando até ficar com uma aparência sexy de que acabei
de acordar. Droga, sua bela aparência era uma coisa, mas ela também
tinha um cheiro que poderia matar. Era absolutamente inebriante. Ela
puxou para baixo o ombro da minha camisa, expondo minha marca.
— Você tem certeza? — Eu perguntei.
— Sienna, Aiden é louco por você. E se o que Josh tem me contado for
verdade, então ele pode estar literalmente enlouquecendo por sua causa.
Você é provavelmente a loba mais dominante que já conheci, e está
muito sexy agora. Abrace isso! Vá para aquele almoço e mostre a ele sua
força.
Ela me deu um sorriso malicioso e colocou a mão acima do meu
coração.
— Confie em mim... e boa sorte.
Enquanto ela se afastava, senti que realmente podia confiar nela
implicitamente.
Um domínio de fogo começou a queimar dentro de mim assim que
ela me tocou. Era como se ela tivesse ativado algum poder enterrado
dentro de mim.
Com o queixo para cima e o domínio irradiando de todos os meus
poros, eu irrompi pelas pesadas portas da sala de reuniões, caminhando
em direção a Aiden e os outros homens com total confiança.
Todos eles levantaram suas cabeças, perplexos, mandíbulas caindo e
olhos cheios de luxúria, exceto Josh, que apenas fez uma careta.
A Bruma de Aiden chamejou quando ele sentiu meu cheiro, mas havia
um olhar voraz de orgulho e posse em seus olhos que não tinha nada a
ver com a Bruma.
Despertar Aiden na frente de seu bando foi uma das coisas mais
arriscadas que eu já fiz, mas eu poderia dizer que estava funcionando
pelo jeito que ele estava suando e cravando suas garras na mesa.
Foi uma jogada ousada, mas Jocelyn acertou o alvo. Não era qualquer
uma que poderia fazer isso.
Aiden tentou lutar contra sua Bruma, mas pela primeira vez, eu não
queria que ele lutasse. Eu queria que isso o engolisse completamente.
Não era exatamente vingança — eu também o queria — mas estava
aproveitando cada doce segundo de seu desconforto.
Inclinei-me sobre a mesa e lambi meus lábios.
— Senti sua falta quando acordei esta manhã. Comecei a me tocar,
mas não era tão divertido sem você. Seus dedos são muito mais
satisfatórios.
Isso era tudo que ele precisava. Antes mesmo que eu soubesse o que
estava acontecendo, ele me pegou e me jogou na mesa, fazendo com que
o resto de sua matilha se sacudisse.
Ele rastejou sobre mim, rosnando em antecipação, enquanto eu
estava deitada esparramada sobre a mesa à vista de todos os outros.
— Fora, — ele rosnou para sua matilha sem quebrar o contato visual
comigo. — Todo mundo fora AGORA.
O bando rapidamente se levantou da mesa e se dirigiu para a saída,
mas Aiden estava em cima de mim antes mesmo de eles terem saído.
Ele agarrou meus seios através da minha camisa, apertando quase
dolorosamente. Eu o beijei de volta, mas ao contrário dele, eu tinha
controle sobre minha Bruma agora. Consegui provocar sua boca até que
um grunhido explodiu de sua garganta, fazendo seu peito roncar.
Estremeci com a sensação da vibração e ri baixinho. — Ah. alguém
está com raiva, — eu disse sedutoramente.
— Você não tem ideia, — ele rosnou e me beijou novamente. Desta
vez, eu o deixei me beijar tão possessivamente quanto ele queria
enquanto eu envolvia meus braços em volta de seu pescoço e colocava
minhas pernas em volta de sua cintura. Eu agarrei um punhado de seu
cabelo e puxei o mais forte que pude até que ele mostrou suas presas.
— Me morda, porra, — eu ordenei.
— O que? — ele respondeu, perplexo. — Desde quando você...
— Faça o que eu digo a você. Crave seus dentes em mim!
Aiden me pegou e me colocou suavemente na beirada da mesa, me
examinando com preocupação. — Sienna, o que está acontecendo?
— O que você está falando? Você não me quer? — Eu respondi,
irritada.
— Claro que sim, — disse ele. — Mas não assim.
O que eu estava fazendo? Me jogando no Alfa? Esta foi uma ideia tão
idiota.
A dúvida começou a afundar, e tudo o que Jocelyn tinha feito estava
desaparecendo rapidamente. Todas as minhas inseguranças vieram à
tona.
— Você ao menos acha meu cheiro atraente? — Eu cuspi. — E se eu
não fosse sua companheira em potencial? Você prestaria atenção em
mim? Você é um alfa, um pedigree diferente. Sou apenas uma plebeia,
uma garota que foi abandonada pelos pais. Eu não sou ninguém.
Eu comecei a chorar. — Eu não posso estar com alguém que é
superior a mim. Não posso estar em um relacionamento em que sempre
me sinto insignificante e com o fardo de corresponder às suas
expectativas. Isso simplesmente não vai funcionar.
Aiden parecia atordoado, mas ele suavemente colocou a mão na
minha bochecha e olhou diretamente nos meus olhos.
— Sienna, eu não vejo você como uma plebeia que tem que se curvar
a todos os meus caprichos. — Ele sorriu. — Eu vejo você como uma igual.
Agora, era eu que parecia atordoada. Uma igual?
— Olha, não posso explicar, mas... — disse Aiden, franzindo a testa.
— Mas, ultimamente, me sinto conectado a você, ao que você quer. Posso
sentir seus desejos e suas dúvidas como se fossem meus. E eu sei que
você não quer isso aqui... em meu escritório, na mesa de conferência.
Aiden começou a andar agora, claramente nervoso, uma emoção que
eu não pensei que Aiden possuísse.
Isso era estranho como o inferno, e eu me senti completamente
perplexa, sem saber o que viria a seguir nesta peça de um homem só.
— O que estou tentando dizer é... — Ele se virou para mim com uma
explosão de confiança. — Acho que é hora de fugirmos.
Ai. Meu. Deus.
Capítulo 20
A FUGA
Sienna
Sienna: Ei, Selene
Selene: Sienna...
Selene: O QUE
Selene: Mas se você já disse sim, acho que tem sua resposta
Três dias se passaram desde a fuga, e o período posterior foi como descer
do alto, o que significava que minhas emoções estavam uma bagunça.
Às vezes, eu sentia um lampejo de euforia, lembrando-me da emoção
da perseguição, enquanto outras vezes atingia um ponto fraco
emocional, pensando que nunca mais me sentiria assim.
Aiden também sentiu. Ele ficou mais distante nos últimos dias,
enterrando-se no trabalho. Selene convenientemente deixou de fora que
a melhor experiência da minha vida seria seguida por uma sensação
paralisante de mal-estar.
Eu precisava fazer algo para tirar nós dois do medo, então decidi assar
para Aiden sua sobremesa favorita, torta de maçã.
Jocelyn me disse que o Alfa gostava muito de doces e que eu ainda
não tinha usado essa arma em meu arsenal contra ele. Desta vez, porém,
usaria comida para sempre.
Eu me encontrei cantarolando e movendo meus quadris enquanto
vagava pela cozinha, derramando farinha em todos os lugares. Eu não
esperava que um coro de criaturas da floresta aparecesse pela janela e
começasse a me envolver em seda ou algo assim, mas essa sensação? Foi
ótimo pra caralho.
O cronômetro do forno apitou, sinalizando que a torta de maçã
estava pronta. Cheirava a céu. Se eu pudesse ter escolhido um perfume
permanente para mim, seria este. Eu enviei uma mensagem de texto com
entusiasmo para Aiden para ver quando ele estaria em casa. Eu não sabia
quanto tempo eu poderia esperar para ver a expressão em seu rosto.
Sienna: Ei, você está vindo para casa?
Sienna: De novo?
Aiden: Eu sei
Aiden: Não é ideal
Sienna: Ei
— Mmmm. — Soltei o som antes que pudesse detê-lo, antes que meus
olhos pudessem abrir. Era tudo muito... muito delicioso. Como uma
torta de maçã quente.
Meus olhos se abriram. Torta de maçã quente.
Tudo voltou para mim. As lágrimas, a mensagem, o rosnado. E o
homem ao meu lado, ainda enrolado em volta de mim, dormindo
profundamente.
O sol brilhava pelo espaço da janela que a cortina não cobria. — Ei, —
eu disse, cutucando o bíceps de Aiden. Ele parecia tão em paz, tão calmo,
que eu não queria acordá-lo. Esta pode ter sido a primeira vez que ele
ficou mais vulnerável do que eu.
Mas eu sabia que ele havia saído do trabalho mais cedo para ficar
comigo ontem e que tinha que cuidar dos negócios.
Afinal, ele era o Alfa. — Aiden. — Eu o cutuquei novamente, e desta
vez ele se mexeu.
Seus olhos se abriram lentamente e ele soltou um grande suspiro,
esticando os braços no ar. — Bom dia, — disse ele, e então me puxou de
volta para ele.
— Eu não consigo... respirar... — eu disse, rindo e me contorcendo
contra ele. Eu podia senti-lo ficar animado enquanto movia meus
quadris, tentando me libertar, mas ele apenas me segurou com mais
força. — Aiden! — Eu soltei e ele me soltou.
Eu me virei para ficar de frente para ele, para poder sentir sua
respiração em minha bochecha. — Você tem que ir trabalhar, — eu disse
suavemente, tentando esconder minhas emoções.
Eu tinha sido carente o suficiente na noite passada. Eu não queria que
ele pensasse que eu seria assim o tempo todo. E eu não queria pensar isso
de mim também.
— Não, eu não sei, — disse ele, saltando sobre mim. Ele estava
montado em mim agora, prendendo minhas mãos acima da minha
cabeça.
— Você não quer? — Tentei lutar com as mãos dele, tentei me libertar
de suas garras, mas era como se ele fosse o Hulk. Ou um Alfa, pensei,
rindo. Claro que ele era mais forte do que eu, mesmo se eu fosse uma
dominante.
— Tirei o dia de folga. Eu te disse, não deixo minha mulher sozinha.
— Ele se abaixou até o meu pescoço e começou a beijar, passando os
lábios pela minha marca.
Eu imediatamente senti a névoa começar a me atingir. Lentamente
no início, mas continuou crescendo, me importunando para reconhecê-
lo.
— Você vai ter que sair em algum momento, — eu disse como uma
forma de me distrair, para distraí-lo. Eu ainda estava menstruada e ainda
não ia fazer sexo com ele.
Repita isso, eu me ordenei.
Eu ainda estou no meu período. Eu ainda não vou fazer sexo com ele.
Mas então ele agarrou a parte de trás da minha cabeça e me içou para
que estivéssemos sentados peito a peito. Ele arrastou os dedos pelo meu
pescoço, ainda molhado com seus beijos, e pela minha clavícula. Ele os
moveu pelos meus braços, todo o caminho até a ponta dos dedos, e a
suavidade de seu toque me fez querer explodir.
— Aiden... — Eu parei, meus olhos fechando. E então ele estava perto
da minha orelha, mordiscando minha orelha.
— Sim? — ele rosnou. Mas não. Eu tive que pensar em uma distração.
Então eu disse a primeira coisa que me veio à mente.
— Eu fiz torta de maçã.
Josh: 👀lol
Sienna tinha acabado de fazer minha cabeça explodir. Não havia outra
maneira de expressar isso. Claro, eu sabia que ela era gostosa pra cacete.
Essa nunca foi a questão.
Mas sabendo o quão inexperiente ela era, o quão inocente ela parecia
ser, eu não esperava isso. Nem mesmo as garotas que já tinham muita
experiência fizeram eu me sentir assim.
Ela estava no quarto de hóspedes se preparando agora. Eu podia ouvi-
la se mexendo ali, e minha imaginação estava pensando nela se vestindo.
A maneira como seu corpo parecia completamente descoberto, a
maneira como ela parecia enquanto puxava uma calcinha para cima...
Pare, eu me ordenei. Era como se eu não conseguisse me controlar
quando estávamos na mesma casa. Deve ser a Bruma.
Eu coloquei um suéter e depois me dirigi para o corredor, batendo
uma vez na porta que Sienna estava atrás. — Sienna? Pronta?
Nem mesmo um segundo depois, a porta estava se abrindo e lá estava
ela. Em uma blusa preta elegante e jeans, o cabelo ruivo caindo sobre os
ombros. Suas curvas... a maneira como o tecido se agarrou a ela de todas
as maneiras certas... era demais. Eu rosnei, puxando-a para mim.
— Não vamos. Vamos ficar aqui e... — Eu parei, minha sugestão
persistindo entre nossas respirações pesadas.
— Ok, Sr. Alfa. — Ela revirou os olhos. — Como se você pudesse
perder a feira.
Ela estava certa. Eu não podia.
— Se dependesse de mim, ficaríamos aqui o dia todo. Foda-se a
oportunidade de foto. — Eu disse, beijando-a.
— Foda-se a oportunidade de foto, — disse ela de volta, olhando-me
nos olhos. Mas não conseguimos. Porque eu era o Alfa e a feira era o
evento pré-baile de Inverno que reunia toda a comunidade. E o que era
uma comunidade sem seu líder?
Sienna
Respirei fundo e seu rosto encheu minha cabeça. Algo sobre a maneira
como Aiden tinha sido tão aberto comigo, tão cru, deixou todas as
minhas memórias livres. Como se ele tivesse sido capaz de dizer a eles
que estava tudo bem — não precisávamos ter medo, não mais.
A última vez que vi Emily, foi no dia seguinte. Eu não sabia por que
ela estava com tanto frio naquela manhã, por que ela estava hesitante
sobre eu ir.
Ela teve um grande encontro na noite anterior, com o cara que ela
estava por um tempo.
Ela estava nervosa, com certeza, mas tínhamos quinze anos. Que
garota não estava nervosa para ir a um encontro? Eu a ajudei a se
preparar, garantindo que sua roupa fosse sexy o suficiente para chamar
sua atenção.
Eu até trouxe a loção com glitter de Selene, o tipo que, quando
aplicado, deixava um rastro de brilho para trás. Eu ajudei Emily a esfregar
em seu pescoço e peito e então dei a ela um sorriso de aprovação.
— Você tá super comível — eu disse, rindo. E então eu a mandei
embora.
Ela me mandou mensagens algumas vezes quando eu estava jantando
com minha família, dizendo que ele estava sendo muito insensível, muito
agressivo, mas eu não pensei em nada disso. Eu era uma dominante,
então sempre pensei que todos ao meu redor deveriam ser também.
Quer dizer, eu não poderia imaginar um companheiro submisso. Na
minha opinião, essa era a pior opção possível.
Adormeci cedo e, quando acordei na manhã seguinte, meu telefone
mostrou que tinha quatro ligações perdidas dela. Novamente, eu não
liguei muito. Achei que minha amiga quisesse falar sobre como ela teve
seu primeiro beijo ou como ele era sexy. E eu ainda não tinha uma queda
por ninguém, então não fiquei tão chateada por ter perdido as ligações.
Mas então eu apareci na casa dela, como fazia todos os sábados. E sua
mãe me cumprimentou na porta, dizendo que Emily não estava se
sentindo muito bem. Mas eu fui para o quarto dela de qualquer maneira,
a vi escondida sob as cobertas, a maquiagem da noite passada por todo o
rosto.
— O que foi? — Eu perguntei, correndo até ela.
— Nada. — Sua voz estava cortada e seus olhos pareciam vagos. Mas
então eles viraram para mim, e ela empurrou os cobertores de cima dela.
Meus olhos se moveram sobre o brilho em seu peito, mas também vi as
marcas de garras, o rastro de sangue seco.
— Emily! — Eu chorei, agarrando suas mãos. — Você está bem? O que
aconteceu?
— Ele pensou... — ela começou, e seus olhos se encheram de
lágrimas. — Ele também me achou comível.
Eu tinha deixado minha melhor amiga sair com um cara que queria
uma coisa. E quando ela não quis dar a ele, ele pegou de qualquer
maneira.
— Ela foi estuprada, — eu disse, finalmente olhando para Aiden.
Descrevi os detalhes da minha memória em voz alta, pela primeira vez. —
Eu a incentivei a sair com o cara que a estuprou. E eu não estava lá
quando ela pediu ajuda.
Ele estendeu a mão para enxugar uma lágrima que havia caído. —
Não é sua culpa, — disse ele. — Aquele lobisomem de merda é quem
deveria estar chorando.
— Ela se matou. Dois dias depois. — Eu olhei diretamente para
Aiden, querendo ver como ele reagiria. Era algo que eu mantive dentro
por tanto tempo, e eu não sabia como compartilhar isso me faria sentir.
Ele respirou fundo, fechando os olhos. Quando eles abriram
novamente, eles estavam vermelhos. Como se ele estivesse sentindo a
dor junto comigo.
— Eu entendo, — disse ele, e levou minha mão aos lábios. Ele a beijou
suavemente, tão suavemente que me perguntei se, se meus olhos
estivessem fechados, eu teria sentido.
— O que?
— Porque você está mantendo sua virgindade. É sagrado e deve ser
respeitado. Vou respeitar isso, Sienna. Vou respeitar você.
Eles não escrevem livros didáticos para esse tipo de conversa, mas se o
fizessem, essa seria a resposta que toda criança deveria memorizar.
Eu senti a facilidade surgir em mim, como se todo o estresse que eu
estava nervosa em sentir na primeira vez que tive a conversa com Emily
tivesse desaparecido. E foi por causa do homem sentado ao meu lado,
segurando minha mão.
O Alfa.
O Alfa fez meu coração bater mais devagar, me fez sentir em casa em
uma cabine a trinta metros do chão. E quando a roda começou a girar,
quando fomos baixados de volta para onde pertencíamos, não pude
deixar de pensar que Aiden...
Aiden talvez pudesse ser o companheiro que eu procurava.
Capítulo 25
A CONEXÃO
Sienna
Sienna: Mich
Em vez de causar uma cena na noite passada depois que Josh e Michelle
se acasalaram publicamente, Jocelyn apenas aceitou. Ela se levantou à
mesa e ergueu o copo, propondo um brinde ao novo casal. E assim, todos
ficaram à vontade.
A curandeira havia curado.
Mas quando acordei esta manhã, não senti nada curado de forma
alguma. Porque havia um espaço vazio ao meu lado, onde Aiden
geralmente estava. Normalmente eu era a primeira a levantar, então era
mais do que estranho. Ele não tinha acabado de acordar. Ele foi embora.
E então me dei conta: hoje não era um dia qualquer. Hoje era o Baile
de Inverno.
Aiden estaria na Casa da Matilha o dia todo se preparando,
certificando-se de que tudo estava preparado para o maior evento da
cidade do ano. Este foi o baile para o qual todos com mais de dezesseis
anos foram convidados, tanto humanos quanto lobisomens. Era o evento
festivo que reuniu todos para celebrar o ano que passou e para ter
esperança e alegria pelo ano que se aproxima.
E era um espetáculo. Todos se vestiam com esmero, certificando-se
de que seus filhos acompanhantes companheiros fizessem o mesmo. Era o
lugar para ver e ser visto e um evento especialmente popular para os
jovens solteiros em busca de seus companheiros.
Mesmo que nos anos anteriores eu nunca tivesse realmente olhado,
meu subconsciente tinha ficado de olho, só para garantir. Mas este ano
seria diferente. Este ano eu tinha uma mão para segurar — a do Alfa. Se
você tivesse me dito isso há um ano, eu teria rido da sua cara. Mas agora,
o pensamento parecia... certo.
Só então, meu telefone vibrou na mesa de cabeceira. Peguei-o,
olhando para a tela.
Michelle: olá??
Michelle: to batendo!!!
Sienna: Claro
Seu dedo ainda estava sob meu queixo. Parecia que estava lá há horas,
como se tivesse estado lá minha vida toda. Havia algo sobre seu toque, a
maneira como ele permeou minha pele e alcançou todo o caminho. Para
minha mente.
— Calma agora. Não se preocupe.
— Não estou preocupada, — eu disse, tentando manter meu nível de
voz — Mas de onde você me conhece?
— Não nos conhecemos, — disse ela, seus olhos viajando sobre minha
figura e me deixando constrangida por um motivo que não pude explicar.
— Mas eu vim avisá-la. Uma ameaça está se aproximando rapidamente.
— Uma ameaça? O que você está falando?
— Cuidado. Ele não vai descansar até que você seja dele.
— Quem? — Eu sussurrei, de repente me sentindo desconfortável.
Senti a cor sumir do meu rosto quando meus olhos se concentraram nos
dela, tentando encontrar uma resposta dentro deles. Mas não consegui.
Seus olhos eram tão roxos, tão infinitos, que seria necessário uma chave
que eu para poder destrancá-los.
— Você deve saber que tem poderes. Poderes misteriosos.
— Por que... por que você está aqui?
— Eu estou aqui, — ela começou, cada palavra segurando sua própria
força, — pelo Alfa. — Um arrepio percorreu meu corpo, dos dedos dos
pés ao couro cabeludo.
Aiden.
— Mas não seu Alfa, — ela declarou claramente.
— Por que... eu não entendo, — eu disse, confusa. Mas a mulher
apenas desviou o olhar, seus olhos focalizando algo à distância.
Virei minha cabeça para ver o que ela estava olhando, mas não havia
nada lá. Apenas uma calçada vazia.
— Qual o seu nome? — Eu perguntei, voltando-me para ela,
precisando de mais respostas. No entanto, ela não estava mais lá. Era só
eu no beco, sozinha.
Quando comecei a ir embora, parei quando ouvi um sussurro final de
um nome ecoando no ar fresco da noite...
— Eve.
Aiden
Eu ainda estava no bar. Com o Alfa do Milênio. Eu assisti Sienna sair sete
minutos atrás e sabia que algo estava errado. Mas ele continuou falando,
continuou nos pedindo outra rodada de bebidas.
Eu não poderia deixá-lo. Eu sabia disso... mas tinha que saber.
— Você me daria licença por alguns minutos? Meu Beta... aí embaixo,
deixe-me apresentar vocês dois. Ele é um grande parceiro de bebida, —
eu disse, apontando para a parede onde Josh estava se misturando.
— Não há necessidade, — o Alfa do Milênio disse, me impedindo de
dar mais nenhum passo em direção a Josh. — Eu vou com você.
— Eu estava indo para fora, pegar um pouco de ar fresco.
— Eu poderia pegar um pouco também. — Huh. Ele não estava se
mexendo do meu lado.
— Ótimo, — eu disse e o conduzi através do salão de baile e para fora
das portas. Olhei em volta quando saímos, mas não vi ninguém. Tentei
fechar os olhos para senti-la — mas não consegui.
Pense.
Ela parecia chateada. Ela não teria saído do baile, não se não houvesse
um motivo real. Se ela estivesse realmente chateada, brava, ela mudaria.
Na floresta.
— Como você se sente ao ver a floresta? É lindo nesta época do ano.
— Estou pronto para qualquer coisa. — Ele encolheu os ombros.
Então eu virei para a direita, andamos até a orla da floresta e então
continuamos, sentindo o cheiro distinto de carvalho e lama.
— Você está aqui por mim, não está? — Eu perguntei.
— Volte novamente?
— Você vem ao Baile de Inverno sem nenhuma explicação... Desculpe
minha franqueza. Alfa do Milênio, estamos felizes em recebê-lo, mas não
sabemos nada sobre sua visita. E você não saiu do meu lado desde que
chegou aqui. Você está aqui para descobrir algo sobre mim ou para
descobrir algo sobre mim. Isso está certo?
Ele parou de andar, olhando-me bem nos olhos. Eu podia sentir seu
poder através do olhar e sabia que poderia muito bem ter cruzado os
limites. Mas depois de um momento ele piscou e começou a falar.
— Sim. Isso mesmo.
Suspirei. Mas o alívio que senti por estar certo não durou muito. Foi
substituído por mais perguntas.
— Quem te mandou?
— Ninguém me enviou. Mas eu estava ouvindo coisas. Sobre a
possibilidade de seu poder diminuir. — Soltei um grunhido antes que
pudesse me conter.
Alguém em minha matilha estava indo pelas minhas costas,
questionando minha força, para o maldito Alfa do Milênio?!
— De quem? — Eu fervi.
— Isso não é importante. O importante é que estou aqui. Para sentir
você, para ver se o problema potencial é realmente um problema
potencial. — Ele fez uma pausa, olhando para as árvores antes de se virar
para mim. — Você está procurando?
— Procurando?
— Sua companheira.
Então era disso que se tratava. Minha força diminuindo, os rumores
de que eu não era tão dominante como costumava ser porque não tinha
encontrado ninguém.
Mas eu tinha.
— Não há necessidade. Eu já a encontrei.
— Já? — o Alfa do Milênio perguntou ceticamente.
— Eu não sinto isso em você.
Agora eu olhei para o chão. — Ela não sabe ainda. Somos parceiros,
para a temporada. Mas estou indo devagar. Para o bem dela.
Eu poderia jurar que sua expressão se suavizou, apenas por um
segundo. — É por isso que você não consumou. Eu posso sentir isso. Sua
frustração, sua hostilidade. Isso é o que está interferindo no seu domínio.
— Esta noite ia ser a noite, — eu disse sem pensar — Mas ela... ela
fugiu do baile. Algo deve ter acontecido... — E então, naquele momento,
eu a farejei. Tão claro como o cristal, eu tinha certeza de que o aroma era
dela. E ela estava perto.
— Ela está aqui. Ela partiu para a floresta. Eu só... tenho que
encontrá-la. Eu tenho que dizer a ela.
Ele me deu um aceno de cabeça, nada mais, nada menos.
— Obrigado, Alfa do Milênio.
— Aiden. É Raphael. Te vejo lá dentro. — E então ele se virou e
começou a voltar pelo caminho por onde tínhamos vindo. Sem perder
mais um segundo, tirei cada artigo do meu smoking e me mexi, dando
uma cheirada mais profunda.
Soltei um uivo, deixando-a saber que eu estava perto. Mas ela não
respondeu. Então comecei a correr.
Depois de alguns metros, comecei a ver o vermelho de seu pelo na
minha frente. Ela estava cerca de meia milha à frente, então aumentei
meu ritmo. Eu uivei de novo para que ela soubesse que eu estava lá, mas
isso só pareceu fazê-la correr mais rápido.
Em segundos, eu estava atrás dela, mas ela ainda não estava parando.
Não importa o quanto eu uivasse, ela não diminuiu a velocidade ou
parou. Eu não tinha outra escolha, então me lancei para frente e a
agarrei.
Nós caímos por um tempo, seus membros tentando lutar contra
mim, mas quando paramos, eu a prendi embaixo de mim.
Eu rosnei. Mude. Ela balançou a cabeça. Não.
Eu rosnei mais alto. Mude! Mas ela apenas balançou a cabeça com
mais força.
Eu forcei meu aperto em suas mãos e rosnei diretamente em seu
rosto. Seus grandes olhos azuis giraram em um círculo completo.
E então ela começou a mudar. Observei enquanto o pelo desaparecia,
seus membros condensavam e seus músculos se contraíam até a forma
humana.
Ela estava embaixo de mim, nua, de costas no chão lamacento da
floresta. Eu mudei também, segurando-a como humana.
Foi quando vi as lágrimas.
— Você mentiu para mim. Você estava me usando para... convencer o
Alfa do Milênio de que é forte...
— O que? Do que você está falando?
— Josh me disse... ele disse que você sabia que não era meu
companheiro.
— Josh disse o quê?
— Ele disse que você não é meu companheiro. Que você está apenas
fingindo. — Eu agarrei seu rosto em minhas mãos, forçando-a a olhar
diretamente para mim.
— Eu menti para você. Eu admito, eu fiz. Todo esse tempo. — Mais
lágrimas acumularam em seus olhos e seu rosto ficou todo vermelho.
Eu continuei, minha voz falhando um pouco. — Porque eu sabia que
você era minha companheira no segundo em que coloquei os olhos em
você, Sienna Mercer. Eu sabia quando você estava desenhando perto do
rio. E eu soube disso a cada segundo que estivemos juntos desde então.
O vermelho em suas bochechas lentamente desbotou para rosa, e eu
pude ver a compreensão passando por seus olhos. — Se você está
mentindo para mim, Aiden, juro por Deus, vou matá-lo.
Eu ri. Eu não pude evitar. — Eu sei. E é por isso que te amo.
Sienna
Fui atacada com rosas, sim, rosas. Voando pelo ar, atingindo a mim e
Aiden bem no rosto. Isso era típico de cerimônias de acasalamento,
especialmente aquelas que tinham tantos acompanhantes: o ritual de
jogar rosas no casal antes de seu primeiro beijo como companheiros.
— Ok, ok, — o Alfa do Milênio berrou, rindo e erguendo as mãos. —
Está na hora. — A sala ficou em silêncio e as rosas pararam de voar no ar.
— Aiden Norwood. Alfa, você pode beijar sua Sienna.
E então suas mãos grandes envolveram meu pescoço e seu queixo se
inclinou para baixo. Seus lábios macios estavam nos meus em um
instante, e eu pensei que as borboletas dentro de mim fossem explodir.
Todos nos bancos, todos que eu amava, com quem me importava,
todos eles ficaram em segundo plano. Eles não importavam. Não agora.
Quando paramos de nos beijar, Aiden agarrou minha mão e me
puxou de volta para o tapete branco. Ouvimos o que parecia ser uma
torrente interminável de aplausos e gritos de ambos os lados, e isso não
diminuiu até que estávamos na pista de dança.
O DJ mudou dos instrumentais que tocava para a música que Aiden e
eu escolhemos para nossa primeira dança. Tudo começou e Aiden me
girou. Ele pode ser bom em muitas coisas, mas dançar não era uma delas.
Eu estava rindo tanto que pensei que ia desmaiar. E então a música
terminou, e eu vi Michelle e Josh aparecerem atrás de Aiden.
— Ei! — Eu exclamei. Aiden me soltou e Michelle beijou minhas duas
bochechas.
— Eu nem sei. Si. Isso foi um conto de fadas. Parabéns! — ela gritou.
— Obrigada! — Eu gritei de volta. Eu não me importava que
aparecêssemos sem classe. Era o dia da minha cerimônia de
acasalamento e eu poderia gritar se quisesse.
Eu estava prestes a perguntar a Aiden e Josh se eles se importariam se
Michelle e eu dançássemos a nova música, apenas nós, meninas, mas vi
que eles já tinham ido para o bar. Clássico.
Aiden
Sienna: To indo!
Aiden
Fiquei do lado de fora, esperando ansiosamente Sienna. Eu mal podia
esperar para ver a expressão em seu rosto quando ela visse a surpresa. O
carro dela parou na frente e eu dei a volta para abrir a porta para ela.
— Oi, — ela disse, seus olhos brilhando enquanto ela pulava para me
beijar.
— Oi, meu amor, — eu disse, pegando sua mão e a guiando até a loja.
Era um local vazio. A loja de discos que costumava ficar aqui havia
acabado de fechar.
Um amigo meu no ramo imobiliário me contou sobre isso. Ele sabia
que eu estava procurando um espaço.
Abri a porta para ela e observei enquanto seus olhos se arregalaram,
olhando para o piso de madeira e as paredes vazias. — O que é?
— Costumava ser uma loja de discos, — eu disse. — O proprietário se
aposentou e colocou o espaço à venda.
— E daí? Vamos fazer um piquenique aqui?
Eu passei meus braços em torno dela e puxei-a para perto de mim,
inclinando-me para beijar sua bochecha. — Podemos fazer um
piquenique aqui, se quiser.
Ela se virou para que ficássemos cara a cara.
— Aiden Norwood, o que estamos fazendo aqui?
Eu olhei profundamente em seus olhos, tentando esconder o sorriso
puxando meus lábios. — Sienna Mercer-Norwood, achei que você
gostaria de ver sua nova galeria.
Sua boca formou um 'o', mas nenhuma palavra saiu. Então sua cabeça
girou, absorvendo o espaço como se ela estivesse vendo pela primeira
vez. Ela se virou para mim, os olhos ainda arregalados.
— Feliz aniversário de uma semana, Sienna.
Ela gritou — eu nem sabia que sua voz poderia atingir aquela oitava
— e então ela correu ao redor de toda a circunferência da loja, olhando
para cada parede por um momento antes de passar para a próxima.
Algo dentro de mim brotou, algo feito de alegria e amor, de paixão e
familiaridade, como se meu coração finalmente estivesse batendo,
batendo de verdade, pela primeira vez.
Então ela voltou para mim. — Não acredito que você fez isso... por
mim, — disse ela.
— Eu faria qualquer coisa por você.
Ela olhou para o chão e depois para mim. — Há algo que eu quero te
dizer. Eu descobri algo. Sobre meus... meus pais biológicos.
Eu sabia que Sienna tinha sido adotada por seus pais, mas nunca
tínhamos conversado muito sobre isso antes. Eu podia ver o quão
importante isso era para ela, o quanto deixava seu corpo todo tenso,
como se ela estivesse tentando manter a informação dentro de você.
— Eles eram alfas.
Minha mente ficou em branco. Eu pisquei. — Nós estamos? Onde?
Quando?
— Eles se foram agora, mas... na Matilha Texana. Eles eram alfas,
Aiden.
— Eles eram alfas, — eu sussurrei de volta, e tudo começou a fazer
sentido. Seu poder, a maneira como podíamos nos comunicar, a maneira
como ela se sentia, o ajuste mais perfeito. Eu a agarrei e beijei porque
hoje... não poderia ficar melhor.
Sienna
Eu fiquei tão animada com a nova galeria que Aiden insistiu em me dar
algum tempo para conhecê-la sozinha.
Ele provavelmente só quer fugir de todos os meus gritos.
Eu já tinha feito uma parada na casa dos meus pais para pegar alguns
dos meus cadernos e pinturas na garagem. Ele serviu como meu estúdio
improvisado por um tempo, mas agora...
— Eu tenho minha própria merda de galeria — eu disse em voz alta
para ninguém. Eu ainda não conseguia acreditar que era real.
Peguei um dos meus velhos cadernos de desenho e comecei a folhear
as páginas para ver se havia algo com potencial.
Sorri quando vi um esboço inacabado de um homem bonito e
musculoso, parecendo ter o peso do mundo em seus ombros largos.
Foi a primeira vez que conheci Aiden.
Pensei naquele dia no rio. O dia que mudou tudo. Agora tudo estava
tão diferente, mas parecia que tudo tinha acontecido da maneira que
deveria.
Ao passar para a próxima página, meu coração parou.
Era o outro esboço que eu havia desenhado naquele dia. A assombrosa
visão sexual que pairava sobre mim como uma nuvem negra.
Mas quando olhei para ele agora, não me encheu de pavor. Em vez
disso, tive uma sensação de paz.
Pensei em Emily e senti as lágrimas transbordando dos meus olhos.
Eu finalmente encontrei uma maneira de superar o passado. Eu sabia que
Emily ficaria orgulhosa de mim.
Eu esperava que, apenas talvez, ela estivesse lá em cima cuidando de
mim. Talvez minha paz também pudesse ser dela.
Enxuguei as lágrimas e peguei um lápis, em seguida, virei para uma
página em branco.
Um novo começo.
Enquanto estava sentada em minha galeria, observando meu lápis
rabiscar sobre a página em movimentos abstratos, tive um tipo diferente
de determinação. Um que não foi alimentado por nenhuma memória,
passado traumático, arrependimentos ou julgamentos de outra pessoa.
Não, agora minha determinação era para o meu futuro.
Eu tinha uma galeria para preencher — minha própria galeria, com
paredes tão vazias que gritavam possibilidade. Então, prometi a mim
mesma que ficaria aqui desenhando todas as manhãs até não sobrar
espaço na galeria para novos trabalhos.
De repente, senti uma rajada de vento me atingir, mas o frio que veio
com ela durou muito depois de ter passado. Eu deixei a porta aberta? Foi
quando virei para a esquerda. E a vi.
A senhora de olhos roxos.
Ela estava de volta.
— Olá, Sienna. — Ela caminhou em minha direção, cada um de seus
movimentos mais graciosos do que o anterior.
— Você nunca me disse seu nome, — respondi, mantendo minha
guarda alta. Algo sobre estar acasalada com um alfa estava me deixando
mais confiante em mim mesma.
— É Eve, — ela disse, seus olhos roxos brilhando para mim. — Você
estava linda em sua cerimônia de acasalamento.
— Você estava lá?
Ela apenas sorriu. Claro que ela estava lá. Ela estava em toda parte.
Mas eu fiz a pergunta errada...
— Por que você está aqui?
— Estou saindo da cidade. Mas eu queria avisá-la sobre o caminho
perigoso à frente, visto que fui eu que a coloquei nele, — ela respondeu
enigmaticamente.
— Avisar? Qual caminho?
— O caminho para encontrar a verdade sobre seus pais biológicos.
Fiquei atordoada em silêncio, mas Eve continuou falando. — Basta
ter cuidado em quem você confia. Existem aqueles que não pensam nos
seus melhores interesses.
— Como quem? — Eu perguntei, mas Eve já estava deslizando de
volta para a porta. — Como faço para encontrar a verdade?
— Só você pode responder isso, Sienna. Você pode até descobrir que a
resposta já está dentro de você.
Com essas palavras finais, Eve desapareceu, me deixando mais
confusa do que nunca.
Quando meus olhos voltaram para o meu caderno de desenho, aquela
confusão se transformou em um sentimento de mau agouro. O esboço
abstrato no qual eu estava trabalhando quando Eve entrou de repente
tinha uma forma muito clara.
Uma figura sombria com presas alongadas.
Um vampiro.
Livro 2
Sumário
1. Tradições
2. Ninguém Humilha a Matilha
3. Visitantes Inesperados
4. Quanta Audácia
5. Entrando na Fila
6. Aumentando as Apostas
7. Controle de Danos
8. Fricção Aquecida
9. Lavagem de Roupas
10. Hora do Almoço
11. Declarações
12. Pânico no Paraíso
13. Um Tempo a sós
14. Arte Nebulosa
15. O Elevador do Êxtase
16. Perguntas
17. Deixe-me entrar
18. Mémoire
19. Spotlight
20. Restrições
21. Mente Aberta
22. Inseguranças
23. A Ópera
24. Yuletide
25. Correndo
26. Caminhos da Mente
27. Marionetistas
28. Cortado
29. Desperta
30. Família
Capítulo 1
TRADIÇÕES
Sienna
Mãe: Si?
Sienna: Oi
Sienna: Obrigada por perguntar, mãe
Minha mãe estava perdendo amigos por causa do que eu havia feito?
Essa era a última coisa que eu queria que acontecesse.
Eu não tinha a intenção de dividir a matilha. E o que a mídia estava
dizendo sobre mim?
Selene: Irmã, todas as garotas no trabalho pensam que você é
incrível
Selene: exagerei?
A noite anterior foi a primeira que passei sozinha desde que nos
acasalamos.
Eu mal conseguia dormir, fiquei deitada na cama lembrando do que
tinha acontecido no escritório de Aiden. Eu queria poder voltar atrás e
lidar com tudo de outra maneira.
Eu me sentia incompleta quando acordei naquela manhã. Eu mal
conseguia comer. As pontadas de arrependimento suprimiram qualquer
apetite que eu pudesse ter.
Eu não conseguia nem mesmo me obrigar a ir para a Casa da Matilha.
Em vez disso, passei o dia na casa dos meus pais pintando.
Quando eu precisava endireitar minha cabeça, geralmente recuava
para o estúdio anexo à minha galeria, mas esses dois lugares eram
presentes de Aiden, e eu não queria mais deixá-lo perturbar minha
mente.
Mas eu sabia que não poderia evitá-lo para sempre. Não só porque ele
era meu companheiro, mas porque naquela noite era o chá de bebê da
minha irmã.
Ela e seu marido, Jeremy, estavam esperando seu primeiro filho, e
Aiden e eu éramos os padrinhos lunares, então nós dois tínhamos que
comparecer.
Uma hora antes de termos que estar no restaurante, ele parou em
nossa casa. Eu tinha voltado para casa mais cedo, com a intenção de
consertar as coisas e estava esperando por ele na cozinha.
A porta da garagem se abriu e ele entrou com a mesma expressão
indiferente de ontem à noite, antes de eu sair de seu escritório.
Ele me olhou, nem um pouco surpreso em me ver ali. — Você pintou
alguma coisa de que gostou?
— Como você... — Então eu olhei para baixo e vi as pequenas
manchas de tinta seca em minhas calças. — Olha, Aiden, vamos só passar
por essa noite?
— Não acho que vamos ter problemas. Eu adoro bebês.
— Eu nunca disse que não queria um filho. Claramente, você não
ouviu nada do que eu disse.
— Ser minha companheira significa que nossa família não é só você e
eu; é a Matilha toda.
— Isso é engraçado vindo de um homem que nem fala com os
próprios pais. Quanto tempo se passou desde que eles navegaram em
direção ao pôr do sol? Dez anos?
— É complicado, Sienna.
— É isso não é? Acho extremamente hipócrita da sua parte querer
uma família, considerando o pouco esforço que faz para manter contato
com a sua. Eles nem mesmo vieram para a nossa cerimônia de
acasalamento.
— Não vou cometer os mesmos erros que eles. — Ele fez uma pausa,
suspirando. — Se é assim que vai ser, eu não acho que devo ir esta noite.
Você pode dizer a eles que estou ocupado com o trabalho.
— Eu não vou fazer isso porque, ao contrário de você, eu me
preocupo em estar presente com a família, e você vai ser o padrinho
lunar da minha futura sobrinha, então você vai estar lá esta noite, goste
ou não. A Matilha pode ser minha família agora, mas vale para os dois
lados, e Selene é sua família agora também.
Eu não tinha notado até agora, mas minhas mãos estavam fechadas e
minhas unhas estavam cravadas nas minhas palmas.
Não tinha percebido até então que talvez a relação complicada de
Aiden com seus pais fosse a razão de ele ser tão inflexível sobre começar
um relacionamento para o bem da Matilha.
Eles eram a coisa mais próxima de uma família que ele tivera até eu
aparecer.
Talvez esta noite fosse algo bom para ele. Ele podia ver como uma
família saudável funcionava unida.
Eu só esperava que Selene e minha mãe não fossem tão loucas por
bebês a ponto de ficarem do lado de Aiden quando o assunto surgisse, o
que eu sabia que aconteceria.
Nós dois nos transformamos em silêncio. Um contraste gritante com
nossa brincadeira de duas manhãs atrás.
Eu não pude deixar de olhar furtivamente enquanto ele puxava a
calça por cima das coxas rasgadas e da bunda forte e musculosa. Posso ter
ficado com raiva dele, mas ele ainda era meu companheiro, e essa
distância estava me matando.
Eu o queria muito. Cada parte de mim ansiava por seu toque,
fantasiava sobre o gosto de seus lábios.
Quando a Bruma chegou, eu não sabia o que fazer. Aquilo nos
transformou em animais selvagens e completamente enlouquecidos por
sexo. No ano passado, meu sexo praticamente explodia sempre que
Aiden olhava para mim.
— Você vai ficar me olhando a noite toda ou vai terminar de se
arrumar? — ele perguntou, tirando-me do meu devaneio.
— Não se iluda. Eu só queria ter certeza de que sua roupa estava
bonita.
— Então agora sou um tirano e ainda por cima não me visto bem?
— Pare com essa maldade — eu disse, ficando um pouco chateada.
— Ei, Sienna, — disse ele, arrumando a gravata.
— O quê? — Eu disparei, esperando pelo próximo comentário
sarcástico.
— Você está linda.
Por mais que tentasse, não pude evitar de corar. Meu deus, ele era um
idiota, mas eu o amava por isso.
— Depressa, vamos nos atrasar, — eu disse, pegando meu casaco. —
Vejo você no carro.
Michelle: pq?
Michelle: O QUÊ?????
Michelle: e a mãe?
Eu não era idiota. Eu sabia que meus pais não tinham vindo para a cidade
com o desejo de se reconectar.
Depois que Aaron morreu, eles deixaram claro quais eram suas
prioridades. Claro, eu era tão culpado quanto eles por não manter
contato, mas tinha dezoito anos quando eles começaram sua jornada
pelo mundo.
Eu havia perdido meu irmão e precisava deles mais do que nunca. Em
vez de se certificarem de que eu estava bem, eles me entregaram à
Matilha e, ao mesmo tempo, me disseram adeus.
Posso ter sido o alfa, mas não significava que tinha todas as respostas.
Foi um alívio quando acordei e vi que o carro deles havia sumido.
Depois que Sienna foi para a cama ontem à noite, eu esperava algum
tipo de conversa séria, inferno, talvez até um pedido de desculpas. Em
vez disso, acabamos de falar sobre suas viagens e ouvi suas críticas e
elogios a pessoas que nunca havia conhecido antes.
Por que eu estava ficando nervoso com isso? Não é como se eles
fossem ficar para sempre. Dei a eles uma semana no máximo antes que
fossem obrigados a viajar novamente.
Talvez eu os visse novamente em mais dez anos. Até então, eu estava
mais do que satisfeito em receber um ou dois cartões postais aleatórios
que eles mandariam.
Eu poderia lidar com tudo isso mais tarde esta noite, no entanto.
Agora eu estava finalmente sozinho e podia começar a trabalhar na
montanha de papelada que estava na minha mesa.
Quando abri a primeira pasta da pilha, ouvi uma batida suave na
porta do meu quarto.
— Sim? Entre — eu disse.
— Espero não estarmos interrompendo nada, — começou minha
mãe, entrando com meu pai como se fossem os donos do lugar. —
Quando você se livrou das secretárias? Eu me sinto tão rude em aparecer
sem alguém para me anunciar.
— Gosto do que você fez no escritório, filho, — disse meu pai,
examinando a sala. — Você contratou alguém ou fez o trabalho sozinho?
— Eu mesmo fiz. Acho que o papel de parede e as tapeçarias não
combinavam muito comigo.
— Você não jogou fora as tapeçarias, jogou, Addy? Aquelas eram peças
inestimáveis da herança da Matilha.
É claro que essa foi a primeira coisa que lhe veio à mente. Foi ela
quem fez com que eu crescesse conhecendo cada pedaço da tradição e
história da Matilha.
Quando eu era pequeno, ela me fazia recitar os nomes dos últimos
vinte alfas e o que cada um deles tinha feito para contribuir com nossa
Matilha antes que eu pudesse jantar.
— Onde está aquela sua esposa cabeça quente? — perguntou Daniel.
— Não sei, — respondi.
— Eu a controlaria com mais vontade se fosse você, — respondeu ele.
— Ela tem o pavio curto, e não há como adivinhar que outras
'declarações' ela possa fazer
— Eu não sou o dono dela, pai. Ela é uma mulher adulta.
— Bem, de acordo com as notícias, você deve ser o único que acha
isso, — interrompeu minha mãe. — Aquela façanha no festival foi
inescrupulosa. Mesmo estando do outro lado do mundo, nós ficamos
sabendo, pelo amor de deus.
— Ela e eu estamos conversando sobre isso, mãe. Eu não preciso que
vocês interfiram.
— Pelo contrário, acho que é exatamente o que você precisa que
façamos. É claro que ela não tem conceito de dever ou tradição. Daniel,
ajude a explicar ao nosso filho a importância do que está acontecendo.
— Aiden, você tem que perceber que Sienna não cresceu como você.
Sabemos que você não pode escolher com quem acasalar, então não
estamos dizendo que nada disso é culpa sua, mas ela é muito jovem,
filho.
— Ela simplesmente não entende o que significa estar à frente do
grupo. Quando o deixamos no comando, sabíamos que tudo estaria em
boas mãos. Você foi preparado para isso. Ela não foi.
— E daí? Você está dizendo que as coisas não estão em boas mãos? —
Eu perguntei, perplexo.
— Sinceramente, Addy, não estão. Esta família tem sido a cabeça da
Matilha por cinco gerações, e essa garota qualquer pode acabar
manchando todo o nosso legado.
Eu estava farto de seus insultos. Eles eram meus pais, mas havia um
limite que eu não os deixaria ultrapassar.
— É da minha companheira que você está falando, mãe.
— Sim, tenho plena ciência disso. Suas origens humildes são de
conhecimento comum, querido. Não há necessidade de ficar irritado.
— Estamos aqui para ajudá-lo com esse pequeno problema, Aiden. Se
você, sua mãe e eu nos sentarmos com Sienna, sei que podemos fazê-la
entender que a união da Matilha é mais importante do que seus
protestos fantasiosos.
— Pai, eu já disse, estamos trabalhando nisso juntos.
— E você acha que está dando certo? — minha mãe respondeu. —
Você tem 29 anos, Addy. O que você acha que acontece quando o alfa de
uma Matilha chega aos trinta e ainda não tem filhotes? As pessoas
começam a ficar preocupadas. Outros alfas começam a observar seu
território.
— Você precisa colocá-la sob controle e tentar criar uma família,
Aiden. É sua responsabilidade como alfa.
Antes que eu pudesse dizer outra palavra. Josh entrou pela porta, sem
saber da briga que eu estava tendo com meus pais. Ele os viu e então
olhou para mim.
— Eu volto depois — ele disse, começando a recuar.
— Não, eles já estavam saindo, — respondi, feliz por encerrar a
conversa.
— Josh, é você? — perguntou minha mãe, radiante. — Ah, que
homem bonito você se tornou. Eu também ouvi que você acasalou.
— Olá, Sra. Norwood, Sr. Norwood. Sim, já faz um tempo. Na
verdade, é por isso que estou aqui. Aiden, nossas amáveis esposas
escaparam do segurança de Sienna. Meus rapazes estão meio que
perdendo a paciência.
Ótimo, isso era exatamente o que eu precisava agora.
Olhei para minha mãe, que estava prestes a proferir algo presunçoso,
como: "Eu te avisei". Nós nos olhamos, e eu soube imediatamente que ela
não ficaria em silêncio. O momento era bom demais para ela desperdiçá-
lo.
— Sim, parece que você tem total controle sobre sua companheira —
ela disse, mordendo a ponta de seus óculos de sol. — Bem, já que tudo
está sob controle por aqui, acho que podemos encontrar um lugar para
almoçar, Daniel. Você não acha?
— Sim, vamos deixar Aiden em paz. Veremos você e Sienna esta noite,
filho. Manhattans às oito. Sem desculpas.
Fiz questão de acompanhá-los até a porta e a fechei prontamente
após sua saída.
Minha vida estava indo de mal a uma merda completa, mas a primeira
coisa a fazer era ter certeza de que Sienna estava segura.
Esta foi a quarta vez que ela e Michelle escaparam de seus guarda-
costas. Insisti neles desde que aquela mulher estranha, Eve, apareceu no
Baile de Inverno do ano passado e disse a Sienna que ela estava em
perigo.
— Eu não sabia que seus pais estavam na cidade, — disse Josh.
— Eu também não, até ontem à noite. E mal posso esperar que eles
saiam.
— Você... quer falar sobre isso? — disse Josh, claramente se sentindo
um pouco estranho, mas também obrigado a perguntar. A comunicação
interpessoal nunca foi seu ponto forte.
— Está tudo bem, — respondi, para grande alívio de Josh. — No
momento, precisamos descobrir onde nossas esposas estão.
— Como é o horário nobre do brunch, e estamos em uma quinta-
feira, tenho um bom palpite de onde Michelle levou Sienna.
— Ótimo, você pode ir buscá-las? Preciso resolver algumas coisas
aqui.
— Sim, sem problemas. Eu as trarei de volta aqui imediatamente.
— Mande Sienna direto para o meu escritório. Vou ter uma longa
conversa com ela.
Sienna
— Espera aí, você quer dizer que alguém está nos espionando? — Eu
perguntei. — Tipo, agora?
— Não tenho certeza, mas não consigo me livrar dessa sensação
sinistra que começou assim que entramos no táxi.
Eu examinei a área atrás de Sienna e não pude ver nada incomum
além de uma mulher usando tons pastéis fora da estação.
— Si, eu acho que você está sendo paranoica. Além disso, é impossível
reconhecê-la com essa roupa.
Antes que Sienna pudesse responder, meu telefone explodiu com
notificações.
Porra, é o Josh.
Ele não é dos mais espertos, mas ele tinha uma habilidade incrível de
saber quando eu estava aprontando.
— Me dê um segundo. Acho que fomos pegas.
— Nossa sorte ia acabar uma hora, — respondeu Sienna, virando sua
taça de champanhe.
Sienna
Desde aquela viagem de carro com Sienna, minha cabeça tinha virado
uma teia emaranhada de pensamentos e emoções. Tentei meditar, mas
não consegui clarear minha consciência. Sempre que ficava assim, tinha
que apelar pros velhos hábitos.
Eu precisava de uma bebida.
O Housman's era o meu lugar preferido quando eu precisava fugir.
Era um antigo bar escondido em um beco. Não tinha nada do brilho e do
glamour dos bares e clubes populares, mas isso que eu amava nele.
Eu nunca tive que me preocupar com um lobo da Casa da Matilha
entrando pela porta ou qualquer outra pessoa que pudesse me
reconhecer.
A mulher atrás do bar era uma doce senhora chamada Clementine.
Ela me tratava como uma filha, sempre fazendo questão de me agarrar
pela mão e me perguntar como eu estava.
Ela sabia que eu só a visitava quando precisava resolver alguma coisa,
e cara, eu tinha muita coisa para resolver.
Sienna era como uma irmã mais nova para mim. Eu via muito de mim
mesma nela, e quando ela se acasalou com Aiden, meus sentidos de cura
me disseram que ela precisava de alguém para ajudá-la a viver na
Matilha.
Eu cresci naquele mundo e podia ajudá-la de uma forma que sua mãe
e sua irmã não conseguiam.
Claro que a ironia não passou despercebida. Eu tinha 25 anos e não
estava acasalada, praticamente uma solteirona nos anos de lobisomem,
aconselhando uma garota de 20 anos sobre como planejar uma família e
lidar com seu companheiro.
Depois de minhas aventuras fracassadas com Aiden e Josh, eu estava
impaciente para encontrar meu companheiro. A cura era um trabalho
solitário. Fui a quem todos procuraram, mas para onde a Curandeira
deveria ir quando tinha problemas?
Era isso que eu estava tentando descobrir no Housman’s.
Tomei um gole da minha bebida.
Escorreu pela minha garganta e espalhou seu fogo pelo meu peito.
Mas em vez de parar ali, seu calor continuou descendo pelo meu corpo,
estabelecendo-se entre minhas pernas em um inferno inesperado.
Porra, a Bruma está perto.
Enquanto as explosões pulsavam na minha virilha, examinei o bar.
Nenhum dos homens estava me olhando.
A Bruma pode deixar as lobas com tesão, mas ainda deve haver
alguma atração entre os amantes.
Eu me virei e examinei as cabines. O frio na barriga começou a
percorrer todo o meu estômago. Isso não poderia estar certo.
Eu estava olhando para um casal que estava se tocando. Eles não eram
amigos, eu sabia disso, mas por que minha Bruma estava me puxando em
direção a eles?
Eles devem ter sentido o quão excitada eu estava ficando porque a
mulher parou de beijar o pescoço de seu parceiro e olhou em minha
direção.
Nós nos olhamos, e então ela sussurrou no ouvido de seu homem. Ele
me deu uma olhada e sorriu antes de dar sua resposta.
A mulher se levantou e caminhou em minha direção. Ela tinha
cabelos crespos e ruivos e uma linda pele cor de café. Seus quadris
balançavam de um lado para o outro em um ritmo hipnotizante.
Talvez ela queira apenas pedir uma bebida no bar. Olhe para a sua
bebida. Não faça contato visual.
— Meu parceiro e eu não pudemos deixar de notar você.
Merda.
Meu rosto corou quando me virei para encará-la. — Eu sinto muito.
Eu não queria ficar olhando.
— Gostou do que viu? — ela perguntou com um sorriso brincalhão.
Espere, o que ela quer dizer?
Antes que eu pudesse pensar em uma resposta, minha Bruma
explodiu.
Eu agarrei o balcão para me manter de pé. Algo nessa mulher e no seu
homem fez meu corpo derreter. Olhei para o parceiro dela, um
dominante alto e musculoso com cabelos castanhos esvoaçantes e barba
áspera.
Eles eram tão lindos e sexy. Eu nunca tinha feito nada assim antes,
mas nada sobre isso parecia errado.
— Gostei muito, — respondi, tocando a mão da mulher.
Nós três caímos na cama, arrancando as roupas um do outro em um
frenesi acalorado. Eu agarrei o homem e comecei a beijá-lo, mas a
pressão quente dos lábios da mulher em meus seios me fez ofegar.
Antes que eu percebesse, entreguei meu corpo às suas mãos e lábios.
Eu me torci e flexionei sob o intenso prazer que agarrou cada músculo e
terminação nervosa.
Eles se revezaram entrando em mim. Ele com seu pênis e ela com
seus dedos e sua língua.
Senti tudo apertar e uma pressão começar a crescer dentro de mim.
Eu estava com tanto calor, quase delirando. Minha pele estava coberta
de suor e eu mal conseguia recuperar o fôlego.
— Eu vou gozar! — Eu gritei.
Eu agarrei a mulher e puxei seu rosto para o meu. Nós fechamos os
lábios, nossas línguas se tocaram alegremente, sensualmente.
Naquele instante, tudo foi liberado em uma violenta erupção e ondas
de contrações quentes sacudiram meu corpo. Todo o ar saiu correndo
dos meus pulmões e minha boca se abriu, mas não consegui gritar.
Agarrei-me a ela e ela me abraçou, olhando para mim com seus olhos
escuros e reconfortantes.
O orgasmo me deixou completamente mole. Eu me sentia como se
tivesse acabado de correr uma maratona e as únicas partes de mim que
ainda funcionassem eram o coração e os pulmões.
— Você se divertiu? — ela perguntou.
— Você está brincando? — Eu disse, ainda recuperando o fôlego. —
Sim. Eu me diverti muito.
— Bom. Nós também, — ela respondeu, sorrindo. Ela e seu parceiro
deitaram-se um de cada lado meu e acariciaram meu corpo suavemente
com a ponta dos dedos.
Fiquei lá por meia hora e os observei fazer amor enquanto recuperava
minhas forças. Por alguma razão, eu me sentia à vontade com eles de
uma maneira que nunca havia experimentado com nenhum de meus
amantes anteriores.
Quando saí, os dois ofereceram um beijo de despedida.
— Talvez a gente volte a ver você, — disse a mulher, puxando-me para
seu abraço.
Eu a cheirei uma última vez.
Eu não queria ir embora.
— Sim, eu adoraria, — respondi, segurando-a com força.
Josh
— Mãe, este é exatamente o tipo de coisa que eu pedi para você não
fazer.
— Não tenho a menor ideia a que você está se referindo, Addy. Estou
simplesmente organizando um bom almoço para sua companheira e
alguns de seus amigos e familiares.
Ela sempre fez isso, reformulando as coisas para se adequar a sua
visão, sua versão da realidade. Ela fez isso quando Aaron morreu, e ela
estava fazendo de novo agora.
Às vezes eu pensava que ela realmente acreditava, mas sempre houve
uma parte de mim que permaneceu cética. Ela era muito astuta para ser
vítima de tais delírios obstinados.
O almoço foi uma completa surpresa para mim.
Depois que Sienna e eu tivemos nosso momento na câmara do
conselho, conversei com meus pais e eles concordaram em se mudar para
um lugar na cidade. Certamente aliviou a tensão em casa, mas também
significava que eu não poderia controlá-los.
Naquele momento, eu estava observando o refeitório da Casa da
Matilha se transformar com talheres extravagantes e comidas que fariam
você pensar que o Alfa do Milênio estava vindo nos visitar.
— Isso fica aqui, querida, — chamou minha mãe, apontando para um
dos funcionários. — Quem colocou esta colher? Você não viu que está
manchada?
Ela estava tramando alguma coisa, eu tinha certeza disso.
— Addy, xô! Este almoço é só para nós, garotas. Vá cuidar de sua
Matilha.
Eu dei a ela uma última olhada, na esperança de flagrar qualquer
truque que pudesse estar escondido em seus olhos. Sienna pareceu
estranhamente receptiva quando me contou sobre o almoço, então talvez
as duas estivessem dispostas a seguir em frente.
Se fosse esse o caso, eu não iria atrapalhar.
Sienna
Corri minhas mãos sobre minha saia, alisando-a antes de seguir pelo
corredor em direção ao refeitório.
Eu queria usar calças, mas Michelle me convenceu de que seria muito
casual, então coloquei uma meia-calça e encontrei o vestido de inverno
mais pesado que eu tinha.
Ajudou o fato de Aiden manter a Casa da Matilha quentinha durante
os meses de inverno, mas eu ainda estava irritada sabendo que tinha me
trocado por causa de Charlotte.
— Boa tarde, Sra. Norwood, — disse a funcionária ansiosa parada do
lado de fora da porta. Ela era uma jovem garota de olhos arregalados com
cabelo loiro escuro trançado em um coque elegante e duas pintas em sua
bochecha esquerda.
— Existe uma senha? — Eu perguntei depois que ela permaneceu
imóvel.
— Aí, eu sinto muito, eu sou tão boba. Eu estava distraída com seu
vestido. É tão bonito. Ai, meu deus, será que falei demais? Eu sinto
muito. Eu nunca sei quando calar a boca.
— Tudo bem. Não tem problema — eu respondi, sorrindo. —
Obrigada pelo elogio. Eu adorei seu penteado.
— Mesmo? — ela disse, radiante. — Obrigada. Sra. Norwood. É uma
honra conhecê-la. Você é minha ídola.
— Como assim?
— Tudo o que você está fazendo por jovens lobas. Informando-nos
que podemos tomar nossas próprias decisões. É empoderador ver nossa
senhora alfa assumir a postura que você assumiu no festival.
Eu não tinha certeza de como responder. A ideia de ser um modelo
me pegou de surpresa. Selene tinha brincado comigo sobre isso, mas eu
nunca pensei em nada disso.
Além do mais, essa garota deveria ser só alguns anos mais nova do
que eu. Como ela poderia me admirar?
— Obrigado pelas adoráveis palavras, — disse eu, — mas não quero
deixá-los esperando ali.
— Claro, sinto muito ter atrasado você, Sra. Norwood, — ela
respondeu, abrindo a porta.
Eu esperava ver apenas Aiden e seus pais, mas em vez disso fui
recebida por uma mesa cheia de todas as minhas amigas mais próximas e
familiares.
Minha mãe, Selene, Jocelyn, Michelle, Mia... até Erica estava lá.
— Bem, não fique aí parada como um poste, querida. Venha e tome o
seu lugar como nossa convidada de honra.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Eu perguntei, caminhando em
direção à mesa.
— Agora que somos uma família, achei que seria bom para todas nós,
garotas, nos conhecermos. Afinal, todos nós sabemos quem realmente
comanda as coisas na Casa da Matilha — disse Charlotte com um sorriso
brincalhão. — Aqui, sente-se, — disse ela, puxando minha cadeira.
Fiz uma careta para Michelle como se perguntasse — o que é que está
acontecendo, — mas ela apenas deu de ombros.
— Agora, gostaria de fazer um brinde à minha nora, — disse
Charlotte, erguendo o copo.
— Sienna, querida, você passou por tanta coisa na semana passada, e
eu admito que a chegada de Daniel e eu foi... um pouco chocante.
— Eu gostaria de me desculpar por isso. Acho que todos poderíamos
ter nos comportado melhor, por isso organizei este encontro. Acho que é
hora de começarmos do zero, Sienna. A novos começos e ao futuro desta
família.
Todos aplaudiram e brindaram com as taças. Eu acho que Aiden
estava certo; talvez Charlotte tivesse um lado sincero, afinal.
— Selene, querida, quando é o parto? — continuou Charlotte. — Você
está uma grávida tão radiante.
— Ah, obrigada, Charlotte, — Selene respondeu, corando. — Eu dou à
luz em três semanas. Então teremos mais uma mocinha para se juntar a
nós na mesa.
— Tenho certeza de que você também está ansiosa, Melissa.
— Ansiosa é pouco, — disse Selene.
— Ei, tenho sido muito boa em não meter o nariz nas coisas.
— Mãe, você almoça com meu obstetra três vezes por semana.
— Somos amigos médicos, Selene. Nem tudo gira ao seu redor — ela
respondeu com um sorriso culpado. — Mas, para responder à sua
pergunta, Charlotte, mal posso esperar pela chegada da minha primeira
neta.
— O primeiro bebê de muitos, tenho certeza, — respondeu Charlotte.
Quando os garçons saíram com o primeiro prato, Charlotte
continuou sua conversa.
— E, Mia, você já tem um filhotinho, não é?
— Sim, gêmeos, na verdade. Eles estão com quatro meses agora.
— Você deveria tê-los trazido, — disse Michelle. — Eles são os bebês
mais fofos que eu já vi na vida.
— Eles estão com o pai durante a tarde, então se eu estiver checando
muito meu telefone, é por isso.
— É muito corajosa por deixar Kyler e Emmett sozinhos com Harry.
— Eu sei, é por isso que estou voltando em duas horas. Estamos indo
aos poucos.
— E você, Michelle? — disse Charlotte. — As crianças estão no seu
radar?
— Veremos. Josh e eu queremos muito, e agora que a Bruma chegou,
eu não ficaria surpresa se tivesse um anúncio a fazer antes do ano novo.
— Meu Deus, parece que pode haver um bando de pequeninos
correndo por aqui em breve. Erica, quais são seus planos?
— Não estou acasalada, — respondeu Erica, um pouco na defensiva.
— Entendo, — respondeu Charlotte. — Bem, a temporada está
chegando, minha querida. Talvez este seja o seu ano de sorte. Jocelyn,
querida, o que você estava me contando outro dia sobre como a saúde de
uma Matilha se baseia na preservação de sua posteridade?
Eu lancei a Jocelyn um olhar interrogativo.
Ela tinha falado com Charlotte pelas minhas costas? Por que ela não
mencionou nada quando fui vê-la outro dia?
— Eu acho que você está interpretando minhas palavras um pouco
fora do contexto, Charlotte, — respondeu Jocelyn calmamente. — O que
eu disse foi: a consciência coletiva de uma Matilha é melhorada quando
eles sabem que o futuro é estável, e parte dessa estabilidade envolve a
criação de um grupo saudável de filhotes.
— Sim, sim, mas resumindo, ter bebês é bom para a Matilha. Acho
que todos nesta mesa concordam. Você não acha, Sienna?
Eu estava começando a ficar incomodada. Todo esse almoço não era
para nos conhecermos, mas sim para me lembrar de que todas ao meu
redor estavam tendo bebês.
— Claro, — respondi com cautela. — Estou feliz que minhas amigas e
irmã tenham escolhido ter filhos. É uma decisão bem significante.
— Eu concordo plenamente, — respondeu Charlotte. — Muita coisa
pode mudar quando você decide ter filhos ou não.
Ela fez uma pausa para se certificar de que tinha toda a minha
atenção, e de repente eu me senti como se fôssemos as únicas duas
pessoas na sala.
— Outras áreas da sua vida que você pode nem pensar que estão
relacionadas podem ser afetadas. Seu trabalho, seus hobbies... seu
companheiro. Sim, começar uma família é uma decisão muito
significante.
Aquela foi a gota d’água. Eu podia ver que atrás daquela pele de
cordeiro, havia uma loba.
Era impossível um mundo onde ela e eu nos reconciliássemos.
Mesmo se eu engravidasse amanhã, ela não daria a mínima para mim. Ela
só queria ter um neto, um neto Norwood.
— Charlotte, você não precisa fingir que gosta de mim.
— O que você quer dizer querida?
— Este teatrinho não vai funcionar. Você não vai me pressionar a ter
um bebê me cercando de mulheres que querem ser mães. Amo cada uma
dessas mulheres de todo o coração e respeito suas escolhas, mas elas
nunca me pressionariam para começar uma família como você está
tentando fazer agora.
— Quando você vai parar de me ver como uma vilã, Sienna?
— Quando você parar de agir como tal e começar a me respeitar.
— É difícil respeitar uma pessoa que só pensa em si mesma, querida.
— Engraçado — eu respondi. — A única razão pela qual você voltou
aqui foi para se certificar de que o legado de sua família não fosse
manchado por uma novata que não tem medo de ser sincera.
— Sienna. Charlotte, por favor, parem com isso, — implorou Melissa,
pondo-se de pé.
— Tudo bem, você pode pensar que sou horrível, mas sempre serei a
mãe de Aiden e sempre o colocarei em primeiro lugar.
— Isso é o que significa ser acasalado, senhorita. Você faz sacrifícios.
Aiden está fazendo de tudo para atender às suas frívolas exigências, e o
que você fez em troca? O envergonhou na frente de toda a Matilha e o
privou da maior alegria que um lobo pode ter. Você não merece meu filho
e nunca vai merecer.
As palavras de Charlotte me consumiram como ácido enquanto meu
coração afundava em meu estômago. Eu não ia dar a ela a satisfação de
me ver chorar.
— Com licença, senhoras, mas acho que não posso continuar aqui.
Assim que saí do refeitório, corri para o meu escritório e tranquei a
porta.
As lágrimas derramaram e eu deslizei para o chão, incapaz de
controlar a dor que me dominou. Eu não pude evitar, mas senti que havia
um fiapo de verdade nas palavras de Charlotte.
Naquele momento, eu não queria ver ninguém, exceto Aiden. Eu
queria senti-lo e ouvi-lo me dizer que eu era o suficiente, que era sua
companheira e que ele me amaria para sempre.
Capítulo 11
DECLARAÇÕES
Sienna
Meu telefone vibrou sem parar pelo resto da tarde. Todo mundo estava
tentando falar comigo depois que eu fugi do almoço de Charlotte.
Achei que queria ficar sozinha, mas estava completamente enganada.
Eu precisava falar com alguém.
Pensei em Jocelyn, mas ainda não tinha certeza de qual era sua
conexão com Charlotte, e Michelle e Mia não entenderiam o que eu
estava passando.
Eu precisava da minha mãe.
Mãe: Combinado!
Mãe: Te amo, Si. Bjs
Sienna voltou para casa com um humor incomum. Pela primeira vez
desde o Festival, ela parecia à vontade.
Jocelyn já tinha me contado o que aconteceu no almoço, e eu
esperava que Sienna me desse outro ultimato em relação à minha mãe,
mas em vez disso, ela rastejou em meus braços e me perguntou sobre o
meu dia.
Eu não conseguia entender.
Simplesmente deitamos nos braços um do outro e conversamos.
Conversamos sobre tudo e qualquer coisa. Conversamos até o sol nascer.
Foi tão simples e fácil. Era como se reconectar com um velho amigo
depois de passar décadas separados.
Isso me lembrou o quão louco eu era por ela, que companheira
perfeita ela era. Depois de ontem à noite, eu nunca poderia imaginar
uma vida sem ela ao meu lado.
Uma batida forte na minha porta me distraiu dos meus devaneios.
— Addy, a imprensa está aqui para você atualizá-los sobre o novo
Festival.
— Sim, já vou, mãe.
— Bom. É péssimo manter a imprensa esperando. Mentes ociosas
escrevem histórias fantásticas.
Ela sempre tinha que transmitir um pouco de sua sabedoria? Ela sempre
tinha que dar a palavra final?
Caminhei em direção à sala de imprensa com o conflito se formando
em minhas entranhas. Eu não tinha certeza do que queria dizer, mas o
que quer que eu dissesse, precisava aguardar. Um alfa nunca vacila com
suas palavras.
Cheguei para ver minha mãe, meu pai, Sienna e o resto do conselho
flanqueando o pódio em uma linha organizada. Os repórteres se
amontoaram na sala como sardinhas.
Senti seus olhos em mim, rastreando todos os meus movimentos e
expressões faciais.
Minha mãe e meu pai sorriram como se nada tivesse acontecido entre
nós. Então eu flagrei o olhar de Sienna, sua expressão mais reservada,
mas dez vezes mais genuína.
Ia doer, mas eu já tinha decidido.
Coloquei minhas mãos em cada lado do pódio e inclinei-me para o
buquê de microfones apontado para meu rosto.
— Bom dia, — comecei. — Há alguns dias, Sienna e eu anunciamos
que concordamos em reagendar o ritual do Festival da Fertilidade para a
próxima lua cheia. Desde então, divulgamos muito poucas informações a
respeito.
Com o canto do olho, vi minha mãe balançando a cabeça. Tudo
estava indo como ela havia planejado.
— Bem, a razão para isso é porque eu decidi respeitar a decisão de
minha companheira e adiar indefinidamente o ritual.
— Quando Sienna e eu estivermos prontos para começar a ter filhos,
nós avisaremos a Matilha, mas por ora, nossa decisão de começar uma
família não será ditada por nada, exceto por nossos próprios desejos
pessoais. Obrigado.
Uma ladainha de objeções disparou da multidão junto com mãos
ansiosas, mas eu não tinha intenção de responder às suas perguntas.
Tudo o que me importava naquele momento era estar com minha
companheira.
Eu me virei para Sienna, que estava radiante. Ela murmurou um
silencioso "eu te amo" que me encheu de orgulho e alegria.
Todos, incluindo meu conselho, ficaram pasmos. Eu podia ver meus
pais inquietos, seus olhos tremendo, tentando não perder o rumo na
frente das câmeras.
— Encontre-me no meu escritório em dez minutos, — eu disse,
beijando minha mãe na bochecha. — Pai, você também está convidado.
— Os dois estavam furiosos demais para proferir uma resposta adequada,
mas eu não me importava se eles aparecessem.
Peguei Sienna pela mão e dei um beijo suave em seus lábios. — Sinto
muito por ter demorado tanto.
— Ah, Addy! Eu não posso acreditar que você foi tão tolo!
— Esta não é a decisão de um alfa forte, filho. Você está estabelecendo
um precedente perigoso.
Sentei-me em minha cadeira, encarando-os com uma alegria
inesperada. Havia algo de engraçado em como todas as críticas que eles
estavam guardando, acabaram sendo disparadas de uma forma
desesperada.
— O que quer que aquela garota tenha feito com você, — censurou
minha mãe, apontando o dedo para Sienna, — é o resultado de
motivações egoístas. Ela não se importa nem um pouco com a Matilha e
com esta família.
— Sua mãe e eu tentamos tirar você da bagunça que ela criou, mas
você simplesmente mergulhou de cabeça dentro dela. Diga alguma coisa,
inferno.
Eu contemplei as duas figuras fumegantes na minha frente.
Nada que eles pudessem fazer ou dizer me deixaria tão feliz quanto
Sienna.
Nada que eles pudessem fornecer me faria sentir tão completo
quanto eu me sentia quando estava com ela.
— Mãe. pai, desde que vocês chegaram aqui, deixaram uma coisa bem
clara para mim: sua prioridade sempre será proteger o legado de nossa
família. Achei que isso poderia ter mudado quando mamãe ofereceu
aquele almoço, mas estava claramente enganado.
— Vocês estão tão envolvidos com o que é melhor para a família que
não têm ideia do que significa ser família. Sienna é minha companheira.
Ponto final. Fim da história.
— Não há mais ninguém neste mundo com quem eu queira viver. E
nada vai comprometer nossa parceria. Nem vocês, nem a matilha, e
certamente nem se tivermos filhos ou quando tivermos.
— Não espero que vocês entendam, então direi de outra forma: Eu
não quero ver nenhum de vocês mais.
O rosto de meu pai ficou sério e ele apertou a mandíbula. Eu não me
importei se ele estava chateado. Ele mesmo havia causado isso; ambos
tinham.
— Entendo perfeitamente, — disse Daniel, colocando as mãos nos
ombros de minha mãe. — Estou feliz que Aaron não está por perto para
ver que tipo de lobo você se tornou.
Os olhos da minha mãe lacrimejaram enquanto ela me olhava
incrédula, balançando a cabeça. — Addy... Aí, Addy. Estou tão
desapontada.
Eles deixaram a sala rapidamente, mas fizeram questão de fechar a
porta atrás deles com um barulho frio e sem cerimônia.
Qualquer gota de culpa que eu pensei que pudesse ter falhou em se
materializar. A tentativa de meu pai de usar a morte de Aaron em seu
benefício apenas tornou a decisão mais fácil.
Voltei minha atenção para Sienna, que, pela primeira vez na memória
recente, estava sem palavras.
— Eu não fiz isso apenas por você, — eu disse, desconfortável com o
silêncio dela. — Já faz muito tempo que preciso enfrentá-los.
Sienna caminhou em minha direção e deslizou a mão em volta da
minha cintura, puxando-me para um beijo apaixonado. Fechei meus
olhos e me perdi em seu abraço.
Sienna
Sienna: Experimenta
Aiden: emoji
Sienna: Não me faça voltar com a castidade
Sienna: Sim
Sienna: Hoje às 4?
Sienna
Achei que estava sendo bastante razoável, mas Sienna me irritou. Eu não
sabia como ser mais legal.
Eu dei a ela uma saída fácil. Por que ela não aceitou?
Era como se ela não levasse sua posição a sério.
Uma posição que costumava ser preenchida por mim.
Eu precisava de Michelle. Ela sempre soube como me acalmar quando
eu ficava assim.
Michelle: Vem logo pra casa. Eu tenho uma surpresa para você
Sienna
Eu não conseguia acreditar que estava fazendo isso. Josh não iria nem
olhar para isso até de manhã.
Na verdade, pelo jeito que ele estava me importunando, eu não tinha
tanta certeza. Ele realmente se importava em doar para instituições de
caridade ou estava tentando me dar uma bronca na frente de todos.
Tudo porque ele errou e estava tentando fazer as pazes.
Antes de Aiden e eu termos acasalado. Josh e eu já estávamos meio
brigados. Eu o achava um idiota, e ele me achava uma cabeça de vento.
Mas depois que passamos mais tempo juntos, aprendemos a tolerar
um ao outro. Quer dizer, nós fomos obrigados a isso.
Josh não era apenas o melhor amigo de Aiden, mas também estava
acasalado com minha melhor amiga, Michelle. Em outras palavras,
nossos relacionamentos pessoais dependiam de nós dois nos darmos
bem.
E Josh não entendia que eu estava lidando com muitas dúvidas e
inseguranças.
Ninguém entendeu, realmente — eu incluída.
Eu estava dando o meu melhor para ser uma boa Luna, mas precisava
começar a aceitar ajuda.
Razão pela qual decidi que precisava finalmente confrontar meus
problemas em vez de varrê-los para debaixo do tapete.
Sienna: Oi Konstantin
Konstantin: Claro!
Konstantin: Quando você pode?
Erica: Pois é, eles não estão com agenda lotada, tipo, por vários
meses?
Michelle: relaxem
Michelle: chateauuuuu!!!!
Depois que Aiden ajudou a limpar minha mente e lidar com a minha
Bruma, me senti muito mais confiante em tentar outra sessão com
Konstantin.
— Você está pronta para tentar novamente? — ele perguntou,
sentando na minha frente em seu escritório.
— Acho que sim.
Eu respirei fundo.
— Eu tenho certeza.
— Aconteça o que acontecer, não lute. Entende? Você tem que ceder,
— disse Konstantin. — É a única maneira de descobrir o que sua mente
esconde.
— Vou fazer o meu melhor.
— Me dê suas mãos.
Um exuberante jardim cheio de arcos floridos e fontes jorrando abriu o
caminho para uma linda mansão de tijolos. Eu levantei meu vestido
enquanto caminhava em direção a ele, tentando não sujá-lo.
Espere, o que eu estava fazendo? Isso não era real.
Enquanto eu acelerava meu ritmo, meus seios praticamente derramaram
do corpete apertado que os estava impulsionando.
Mais uma vez, isso foi obra da minha própria mente. Tudo na minha
cabeça foi projetado por mim. Da última vez, foi um castelo assustador,
desta vez, uma encantadora propriedade rural no período vitoriano.
Sinceramente, eu preferia este lugar
Quando cheguei à mansão, encontrei Aiden dentro, vestido com um terno
elegante e gravata.
Minha mente, de alguma forma, o tornava ainda mais bonito.
— Para onde? — Eu perguntei, examinando a enorme mansão.
— Este é o seu cérebro, — respondeu ele. — Siga seus instintos. Onde está
dizendo para você ir?
Sem pensar, comecei a subir a grande escadaria, com Aiden seguindo
atrás. Passei por dezenas de portas, mas sabia que nenhuma delas era a que
eu estava procurando.
Corredores tortuosos.
Escadas mais estreitas.
Papéis de parede mudando constantemente.
Este lugar era mais um labirinto do que uma mansão. Eu estava
começando a sentir como se algo estivesse faltando até que me vi parando
abruptamente no meio de um corredor.
— Acho que está aqui, mas não sei por quê, — disse eu, confusa. — Não
há nem portas neste corredor.
Eu instintivamente olhei para o teto e encontrei uma porta do sótão,
ligeiramente entreaberta.
— É muito alto para alcançar. Dê-me um impulso.
Eu esperava de verdade que minha mente tivesse sido cortês o suficiente
para me dar roupas íntimas desta vez.
Quando Aiden me levantou, comecei a sentir um formigamento por todo
o meu corpo.
A maldita Bruma de novo, o mecanismo de defesa do meu corpo. Isso
significa que devemos estar perto.
— Está acontecendo de novo, — choraminguei.
O rosto de Aiden estava perigosamente perto da minha bunda.
— Não lute contra isso. Ceda a tudo o que sua mente lhe disser para fazer
quando entrarmos naquela sala.
Consegui puxar a escada para baixo e subi-la, tentando não pensar em
como estava me sentindo extremamente excitada.
Quando vi o que havia dentro do sótão, meu queixo caiu.
— Que porra é essa?
Acessórios BDSM artigos de madeira enchiam a sala, junto com muitos
chicotes e correntes.
Eu tinha acabado de nos levar a uma maldita masmorra de sexo —
exceto que era no sótão.
A Bruma se espalhou pelo meu corpo como um incêndio. Eu queria
arrancar minhas roupas, e quando olhei para Aiden, parecia que o mesmo
pensamento passava por sua cabeça também.
Aproximei-me de uma das engenhocas de madeira, sem controle do meu
próprio corpo, como se estivesse sonâmbula.
Minha mente prendeu as alças em volta dos meus pulsos.
— O que você está fazendo? — Aiden perguntou com um sorriso
malicioso.
— Sinceramente, não sei, — eu disse, tentando não entrar em pânico.
Outra onda de Bruma me atingiu, e tudo que eu queria era sentir algo.
Sentir qualquer coisa.
— Pegue um chicote, — ordenei.
Capítulo 21
MENTE ABERTA Sienna
Aiden desamarrou meu vestido até que minhas costas estivessem expostas,
enquanto minhas mãos permaneciam amarradas. Minha Bruma, ou melhor,
meu subconsciente, queria tanto isso que doía.
Seus dedos traçaram minhas costas nuas. Havia luxúria em seu toque.
Suas unhas estavam cravadas em minha pele. Eu estava sedenta por algo
maior do que apenas um leve arranhão.
Eu precisava sentir algo real.
— O chicote, — eu disse novamente.
Aiden examinou a variedade de chicotes na parede e escolheu um com
várias tiras. Ele brincou com meu corpo antes de dar uma leve chicotada na
minha bunda.
Ainda não era suficiente.
— Mais forte, — exigi.
— Com prazer, — respondeu ele, com um brilho diabólico nos olhos.
Ele bateu o chicote contra minha carne novamente. Doeu dessa vez, mas
meu corpo queria mais.
— MAIS FORTE, — gritei.
Quando ele desceu o chicote novamente, eu estremeci.
O que eu estava fazendo?
Isso não parecia certo. Aquela não era eu.
E aquele também não parecia Aiden.
O que estava acontecendo na minha cabeça?
Meus desejos mudaram. De repente eu não queria mais isso.
— Aiden, pare, — eu disse, lutando contra as amarras em que me
coloquei.
Mas ele não parou.
Ele me chicoteou com o chicote novamente.
E de novo.
— Aiden, — eu gritei. — Ouça-me!
— Não, não podemos parar.
CHICOTADA
— Temos que continuar...
CHICOTADA
— Precisamos saber
CHICOTADA
Eu estiquei meu pescoço para olhar para Aiden, e não pude nem
reconhecê-lo.
Ele parecia tão intenso e determinado, mas seus lábios estavam curvados
em um sorriso perturbador.
Ele estava gostando disso.
— Não lute contra isso, — ele gritou.
Eu senti algo uivar dentro de mim — meu lobo interior. Ele começou a
ficar cada vez mais alto até abafar todo o resto.
A sala começou a girar Então tudo desapareceu.
Konstantin: Você é.
Sienna: Ok...
Josh
Bati na porta de Aiden e entrei em seu escritório. Tudo que estava em
cima de sua mesa estava espalhado pelo chão, e o almíscar do sexo
pairava no ar.
Ele ainda não tinha vestido a camisa e a gravata estava frouxa no
pescoço.
Pelo menos ele estará de bom humor. Ele acabou de transar.
— Ei, podemos conversar? — Eu perguntei hesitante.
Esses momentos com Aiden sempre foram estranhos. Eu não sabia se
deveria cumprimentá-lo ou me curvar e chamá-lo de meu alfa.
Minha amizade com Aiden começou muito antes de ele se tornar o
alfa da Matilha da Costa Leste, mas na casa da Matilha, a linha entre
nossa amizade e relacionamento profissional era confusa.
— Parece que nós dois tivemos tardes produtivas. — Aiden sorriu.
— Pois é, acho que sim, — eu disse, coçando minha nuca. — Na
verdade, é sobre isso que eu queria falar com você, minha produtividade.
— O quê, vai me dizer que está sobrecarregado? — Aiden riu. —
Porque parece que Michelle estava mantendo você bem ocupado.
— Você fez de Sienna seu novo beta, — eu gritei, incapaz de segurar
mais.
Aiden parecia atordoado.
Ele claramente não esperava aquela explosão.
— Isso tem a ver com a patrulha? — Aiden perguntou.
— Sim, mas não tem a ver só com a patrulha. Eu me um sinto inútil
do caralho quando venho trabalhar e vejo todas as minhas tarefas nas
mãos da Sienna.
— Josh, para falar a verdade, tenho tentado envolver Sienna na minha
vida profissional porque ela tem estado distante ultimamente. Mas ela
também tem sido um grande trunfo para a Casa da Matilha.
— Eu tenho trabalhado tanto para mostrar a você que ainda me
dedico a esta matilha e a você.
— Eu sei, Josh. E eu agradeço. Mas depois do que aconteceu com a
Sienna no festival, preciso provar que esses fanáticos estão errados e
mostrar à matilha o quanto Sienna pode brilhar quando tem a
oportunidade.
Ele suspirou profundamente e recostou-se na cadeira da
escrivaninha.
— Com Sienna, estou começando a ver um novo caminho para nossa
Matilha que eu nunca teria visto por conta própria.
— Claro, mas onde me encaixo nessa visão do futuro? — Eu
perguntei.
Houve um silêncio tenso entre nós.
Não importa se Aiden me perdoou ou não, as coisas estavam
diferentes agora. E isso era difícil de aceitar.
Michelle
— Sienna, aqui!
— Não, aqui, Sra. Norwood!
— Esse vestido é lindo. Quem o desenhou?
— Dê-nos um sorriso!
Um sorriso.
O tapete vermelho se estendeu na minha frente, parecendo que
continuava por um milhão de quilômetros.
Flashes ofuscantes, perguntas invasivas, observadores cobiçando.
Eu poderia lidar com tudo isso.
Sorrir parecia impossível agora.
O que aconteceu com Konstantin estava me consumindo por dentro,
sua presença ainda persistia em minha mente.
Ele estava me usando.
Por quê, eu não tinha certeza, mas ele era poderoso e tinha exercido
algum nível de controle sobre mim que eu nem tinha percebido.
Eu precisava contar a Aiden o que tinha acontecido, mas o Baile de
Inverno não era o lugar. Ou talvez fosse e eu estava com muito medo de
reviver aquilo...
Aiden apertou minha mão. — Sienna, você está bem? Eu sei que isso é
um pouco demais, mas estaremos lá dentro antes que você perceba.
— Não, está tudo bem — você está certo, — eu disse, forçando um
sorriso. — Vamos.
Eu praticamente puxei Aiden ao longo do tapete vermelho, parando o
mínimo de vezes possível. Talvez se apenas entrássemos, tudo seria...
Dez vezes pior.
Quando entramos no Casa da Matilha no topo da escada, todos
pararam o que estavam fazendo e olharam para nós.
Todos.
Eu vi minha mãe puxando a manga do meu pai e apontando para
mim e Aiden, parecendo que ela estava prestes a ter um derrame de
emoção ao ver sua filha fazer sua grande entrada no Baile de Inverno.
Selene sorriu para mim. Eu esperava estar fazendo justiça ao vestido
dela. Honestamente, foi a peça de roupa mais elegante que eu já vi.
Um vestido decotado, longo com lantejoulas douradas, que deve ter
levado semanas para ser feito. Ela até fez para Aiden uma gravata
dourada combinando.
Você realmente deveria ter passado mais tempo no tapete vermelho. Por
que você é tão egoísta, Sienna? Apenas pensando em si mesma.
Meu olhar começou a disparar para frente e para trás entre Mia, Erica,
Josh e Michelle. Eu senti como se todos eles pudessem ler minha mente,
como se conhecessem meus segredos.
Do jeito que Konstantin fez.
Aguenta firme, Sienna.
Eu joguei minha cabeça para o alto e acenei para a multidão,
segurando a mão de Aiden com força com a minha outra mão enquanto
descíamos a escada.
Eu sabia que poderia superar isso com ele ao meu lado.
Ele só está ao seu lado porque não sabe a verdade.
Que pensamentos horríveis que continuavam rastejando em minha
cabeça? Minha ansiedade estava gritando.
Quando chegamos ao fim da escada, a multidão voltou a tagarelar. Eu
tinha que contar a Aiden sobre Konstantin antes de explodir.
— Aiden, eu tenho algo para contar.
— Sienna, tenho que cumprimentar todos os dignitários e resolver
alguns assuntos antes do banquete. Você ficará bem por conta própria
por um tempo?
— Claro, — eu disse, tentando sorrir. — Vou encontrar minha família.
Enquanto ele se afastava, a voz voltou:
Veja, ele não consegue nem ficar perto de você. Ele odeia a maneira como
você tira toda a diversão e festividade da festa com o seu desespero.
— Pare... pare de me atormentar, — eu murmurei, segurando minhas
mãos na minha cabeça.
Quando me virei, Michelle estava parada a poucos centímetros de
mim e quase gritei.
— Ai, meu Deus, Michelle, você me assustou. Mas estou muito feliz
em ver você, — eu disse, aliviada. — Estou quase enlouquecendo.
— Sienna, você esta uma maravilha, — disse Michelle, acariciando
meu cabelo. — E esse vestido - ouro puro.
— Selene que fez. Ela provavelmente faria algo para você se...
— Sua irmã sabe que você é uma vagabunda? — Michelle perguntou
abruptamente com um sorriso meio estranho.
— Como é? — Eu disse, recuando.
— E quanto ao Aiden? Ele sabe onde você tem passado as noites?
— Michelle, não sei o que você viu, mas posso explicar. Na verdade,
eu preciso contar para alguém.
— Me poupe, Sienna. Eu sei quem você realmente é. Seus segredos
não permanecerão assim por muito tempo. Em breve, todos conhecerão
sua verdadeira natureza, — disse ela.
Estreitando os olhos, ela apontou para a festa lotada cheia de minha
família e amigos.
Por que ela estava sendo tão cruel? Aquilo não parecia ser minha
melhor amiga de forma alguma.
A sala começou a parecer que estava se fechando sobre mim.
Todo mundo se tornou um borrão de lágrimas.
Eu não poderia estar ali. Eu não aguentaria.
Então eu corri.
É o que você faz de melhor.
Jocelyn
Tentei conter minha risada quando Nina me empurrou para a biblioteca
e nosso champanhe espirrou no chão.
— Nina, tenha cuidado. Este é um tapete persa. Você sabe como são
caros? — Eu disse, rindo enquanto tentava enxugá-lo com meu vestido.
— Não sabia. Obrigado pela dica. — Nina sorriu. — Mas como vou
colocá-lo na minha bolsa antes de sair?
— Para seus dias de ladra acabaram, — eu disse, puxando-a para baixo
no tapete ao meu lado. — Você está no caminho de Deus agora.
— Hmm, definitivamente isso não é de Deus, — disse ela, puxando-
me para um beijo.
Cada vez que seus lábios tocavam os meus, parecia mágica. Eu
gostaria de poder engarrafar aquele sentimento e usá-lo como um
remédio, porque parecia tornar tudo melhor — pelo menos naquele
momento.
— Tive uma ideia, — anunciei, embriagada. — Aqui, me ajude com
isso.
Arrastei o tapete persa para perto da lareira crepitante e agarrei o
máximo de almofadas e travesseiros que pude encontrar, criando um
covil macio para desabarmos.
Nós seguramos as mãos e caímos para trás, caindo na pilha de
travesseiros em um ataque de risos.
— Obrigado por abandonar a festa comigo. — Eu sorri. — Estou meio
de saco cheio com os bailes de inverno.
— Você não tem que me agradecer. Não sou uma garota que curte
muito multidões — afinal, eu sou uma ladra.
Nós nos viramos e olhamos uma para a outra. Os olhos ômega de
Nina brilhavam com as chamas dançantes e fizeram meu coração
palpitar.
— Meus pais eram ambos ladinos, — eu disse de repente. — Eu nunca
disse isso a ninguém antes.
— É sério? — Nina perguntou, surpresa. — Por que eles foram
exilados?
— Eles eram soldados na milícia da matilha. Eles discordaram de seu
alfa, pessoas inocentes estavam sendo feridas e não podiam mais ser
cúmplices.
— Então eles escolheram ser lobos ômega. Eles passaram a vida
inteira tentando compensar os erros do passado.
— Eles parecem pessoas boas, não como eu, — disse Nina, virando-se.
— Todos cometemos erros, mas eles não nos definem. A Matilha da
Costa Leste reconheceu isso e os acolheu. Eles podem fazer o mesmo por
você.
Pressionei meu corpo contra o de Nina e a beijei novamente.
— Você não precisa mais ficar sozinha.
— Nem você, — disse ela, beijando-me apaixonadamente de volta.
Minha Bruma se acendeu com desejo e comecei a morder seus lábios
enquanto suas mãos acariciavam meus seios.
Eu montei nela e puxei meu vestido pela cabeça enquanto ela tirava o
dela.
O calor do fogo no corpo nu de Nina aqueceu sua pele, e quando
minha própria carne nua tocou a dela, desejei que nos fundíssemos em
um único ser.
Eu belisquei e chupei seus mamilos, provocando um gemido suave.
Eu estava por cima, mas não por muito tempo. Nina gostava de me
dominar...
Ela assumiu o controle, me virando, deitando-me de costas e
afastando meus joelhos.
Ela foi beijando minha barriga até chegar no meu sexo e começou a
sacudir sua língua dentro de mim com tal habilidade que
instantaneamente me deixou molhada.
Comecei a gemer alto, incapaz de me controlar. Eu torcia para que
ninguém estivesse passando lá fora, ou eles poderiam ouvir.
Nina mergulhou seus dedos dentro de mim e começou a massagear
partes do meu sexo que a maioria dos homens nem sabia que existiam.
Enquanto ela movia os dedos ritmicamente, minha Bruma explodiu e
comecei a ter um orgasmo.
— Porra! — Eu gritei em êxtase.
Naquele momento, toda a maldita festa provavelmente poderia me
ouvir.
E eu não me importava nem um pouco.
Aiden
Embora Raphael tenha perdido o evento deste ano, muitos outros alfas
notáveis estavam presentes.
Normalmente ficávamos bêbados com as melhores garrafas de uísque
e trocávamos histórias de caça a noite toda, mas este ano foi diferente.
Eu estava acasalado, e era Sienna, não esses dignitários, com quem eu
queria passar a noite.
— Aiden, seu cachorro velho, finalmente sossegou, hein? — George, o
alfa da matilha canadense, me deu um tapa nas costas. — Eu já estava
ficando preocupado com você sozinho chegando perto dos trinta.
Eu não estava com humor para aturar aquele idiota.
Notei Josh socializando com os outros betas, e uma ideia me ocorreu.
— Você me daria licença por um momento? — Eu disse,
abandonando George e correndo até Josh.
— Josh, precisamos conversar sobre as coisas que você disse no meu
escritório outro dia.
— Ah, Aiden, ouça... Eu estava errado quando disse que você fez de
Sienna seu novo beta, — Josh se desculpou.
— Não, tenho pensado muito sobre o que você disse, e você está
certo. Tenho tirado suas responsabilidades a fim de tornar Sienna mais
envolvida.
Josh parecia atordoado.
— Agora que estou acasalado, não posso viajar tanto quanto antes.
Quero que você seja meu novo embaixador — meu dignitário, que posso
enviar ao exterior em meu lugar quando surgir a oportunidade. O que
acha disso?
— Aiden, não sei o que dizer, seria uma honra, — respondeu Josh,
boquiaberto.
— Ótimo, — eu disse, apertando seu ombro. — Porque eu preciso que
você comece agora. Vá se embebedar com todos aqueles dignitários
estrangeiros em meu lugar e mantenha-os distraídos.
— Se esse é meu dever, então acho que não tenho escolha, — Josh riu.
Enquanto eu inspecionava os alfas, um deles em particular chamou
minha atenção — um homem mais velho com pele marrom e uma túnica
cerimonial amarela. Havia algo familiar sobre ele, mas eu não conseguia
identificá-lo.
— Josh, quem é aquele alfa de manto amarelo?
— Aquele é Mateo, líder da matilha Colombiana.
A matilha Colombiana.
— Josh, venha comigo, — eu disse, imediatamente marchando até
Mateo.
— Mateo, já faz algum tempo que não vejo você no Baile de Inverno,
— cumprimentei-o, esperando que não fosse óbvio que tinha esquecido
quem ele era.
— Aiden, sim, é bom ver você. E uma grande jornada para mim com
nossas Matilhas tão distantes uma da outra, — Mateo disse, apertando
minha mão.
— Eu coincidentemente tive um encontro recentemente com um
membro da sua matilha — bem, um ex-membro na verdade. Eu queria
saber se você poderia esclarecer algo para mim.
Mateo ergueu as sobrancelhas: — Um ex-membro? Um lobo ômega
então. Qual é o nome dele?
— O nome dela é Nina, uma loba. Você a exilou por roubo.
— Receio que você esteja enganado, Aiden... Ninguém com esse
nome, ou por esse crime, jamais foi exilado da matilha colombiana.
Capítulo 25
CORRENDO
Sienna
O ar gelado do inverno feria minha pele nua enquanto eu corria pela rua
com meu vestido e salto alto. Estava difícil de respirar, mas era mais fácil
do que no Baile de Inverno.
Lá, eu não conseguia respirar de jeito nenhum.
Minha mente estava me sufocando e eu precisava clarear a cabeça.
Aquelas vozes... as coisas horríveis que me disseram. Será que estavam
certas? Eu fui a causa da miséria de todos?
O que Michelle disse me assombrou mais — e a maneira como ela
disse, com aquele sorriso estampado no rosto.
Ela não era ela mesma. Não poderia ser...
Ou talvez você simplesmente não queira admitir que ela estava certa.
Você é uma vagabunda.
— PARE, — eu gritei. — Saia da minha cabeça.
As luzes da rua piscaram assustadoramente ao meu redor quando
parei e segurei minha cabeça.
Eu acabei de fazer isso acontecer?
Eu não sabia mais o que era real e o que era fantasia.
Eu estava perdendo o controle da realidade.
A neve começou a cair enquanto eu prosseguia pela rua
inquietantemente silenciosa. Aquilo era real ou era outro truque que
minha mente estava pregando em mim?
Eu me lembrei daquele pesadelo horrível na minha cabeça:
Dançando com Konstantin.
Debaixo das luzes.
Deitado sobre as peles — o lobo de Aiden.
Eu fiquei tonta. Olhei para cima e todas as luzes da rua pareciam estar
me iluminando. Eu estava de volta ao palco.
— Não, — eu disse, balançando minha cabeça. — Aquilo não era real.
Mas parecia real.
Eu precisava estar em algum lugar seguro. Em algum lugar onde eu
pudesse me esconder. Minha galeria.
Corre, Sienna.
Meus calcanhares começaram a bater na neve recém-caída.
Continue correndo.
Nina
Apenas.
Continue.
Correndo.
Não pare. Não olhe para trás.
Meus pés estavam ficando cansados. Eu poderia correr muito mais rápido
se estivesse transformada, mas não poderia fazer isso enquanto carregava um
artefato inestimável.
Merda, o corredor à minha frente estava começando a fechar. Que sorte a
minha.
Eu fui extremamente estúpida por pensar que roubar de uma divindade
seria uma tarefa fácil.
Foda-se. Eu não tinha escolha.
Me transformei em loba, arrancando minhas roupas.
Peguei minha mochila em minhas mandíbulas e corri enlouquecidamente
até a luz no fim do túnel.
Eu estava por um triz.
Pressionei minhas patas traseiras no chão e saltei pela abertura, assim que
as paredes se fecharam atrás de mim.
Eu rolei pela terra e caí em uma pilha na borda de uma floresta.
Eu me transformei em um humano e me levantei, olhando para trás, para
o templo que quase tirou minha vida.
Sorrindo, levantei meu dedo do meio para o céu e mostrei minha língua.
— Chupem, deuses. Sobrevivi para roubar ainda mais.
O ar úmido parecia pegajoso contra meu corpo nu enquanto eu olhava ao
redor, procurando por minha mochila descartada. Eu a encontrei alojada em
um arbusto próximo, enquanto o artefato captava o reflexo da luz do sol
dentro dela.
— Ai está você, — eu disse, puxando meu prêmio.
A Balança de Llinos. Ela não parecia nada demais, mas era feita de ouro
maciço. Uma balança como qualquer outra.
Ela custaria um preço alto no Covil, o maior mercado negro para
lobisomens da América do Sul.
Era um objeto sagrado, supostamente contendo algum tipo de poder
divino, mas eu não acreditava nessa besteira.
Eu acreditava no que eu podia ver. No que eu poderia gastar.
O poder do dólar todo-poderoso foi o que me manteve viva, não orações a
divindades.
Eu coloquei a balança em uma pedra e comecei a incliná-la para frente e
para trás.
— Você vai determinar meu destino? — Eu perguntei ironicamente.
— Não, criança, mas eu vou, — retumbou uma voz profunda, mas
feminina atrás de mim.
Uma figura alta, esguia e encapuzada pairou sobre mim. Embora seu
rosto estivesse obscurecido, seu corpo e características eram andróginos.
— Quem... quem diabos é você? — Eu perguntei, segurando a balança no
meu peito nu.
— Sou eu quem mantém este mundo equilibrado, você alterou esse
equilíbrio, — explicou ela.
As escamas dispararam de meus braços para a mão da mulher e fiquei
paralisada. Não importa o quanto eu tentasse, eu não conseguia me mover.
Será que era uma...
Ela colocou uma pedra em cada lado da balança. — A balança vai
determinar se você viverá ou morrerá.
Eu assisti com horror quando eles balançaram para frente e para trás, até
que finalmente o lado direito caiu.
Meu corpo descongelou e eu caí no chão. — O que... o que isso significa?
— Significa que vou lhe conceder um favor. Você vive, por enquanto.
Mas, para restaurar o equilíbrio, você permanece em dívida comigo até
que cumpra um favor em troca, — ela respondeu.
— E que tipo de favor você está sugerindo? — Eu perguntei, tremendo.
— Qualquer indulgência que atenda às minhas necessidades. Vou visitá-
la novamente quando chegar a hora, — ela disse enquanto desaparecia no ar
denso, me deixando sozinha.
Meu deus, eu parecia uma idiota. Por que eu ficava tão nervosa perto
dela?
É que... eu nunca disse essas palavras a ninguém antes.
E se ela não retribuísse?
A verdade é que eu nem sabia se Nina era minha companheira. Não
tínhamos tido aquele momento de confirmação ainda — aquele
momento de certeza.
Mas, apesar disso, havia uma coisa que se tornava cada vez mais clara
para mim.
— Jocelyn..., — ela começou.
— Nina, acho que estou me apaixonando por você, — deixei escapar.
Ela estava atordoada, completamente silenciosa e imóvel.
Aí, diga alguma coisa — qualquer coisa. Isso é insuportável.
— Eu... eu, bem... — Ela trouxe seu olhar para o meu.
A última coisa que eu queria fazer era assustá-la, mas nossa conexão
era tão forte que eu sabia que ela também sentia.
Quando eu estava com Nina, era como se eu estivesse realmente viva.
Ela acendeu um fogo em meu coração, e estava queimando mais forte a
cada dia.
Ela colocou a mão sobre a minha e apertou. — Jocelyn, eu estou...
A porta da biblioteca se abriu e Aiden invadiu com Josh e um enxame
de soldados.
— Jocelyn, saia de perto dela — Aiden rosnou. — Ela não é quem diz
ser.
— Aiden, que merda você está falando? — Eu exigi. — Você não pode
simplesmente invadir aqui e...
— Ouça, Jocelyn, — Josh avisou. — Ela está mentindo para nós esse
tempo todo.
Dois soldados agarraram Nina e amarraram suas mãos atrás das
costas enquanto eu olhava com horror, incapaz de parar aquela loucura.
— Nina, o que está acontecendo? — Eu disse, engasgando.
— Sinto muito, Jocelyn. Sinto muito, — ela disse, com lágrimas
escorrendo pelo rosto.
Eles a arrastaram para fora da sala enquanto eu me sentava em nossa
pilha de travesseiros, soluçando.
Aiden olhou para mim enquanto fechava a porta, me deixando
sozinha.
Eu sempre acabo sozinha.
Capítulo 26
CAMINHOS DA MENTE
Sienna
— Esse é seu melhor, bonitão? Tem medo de me bater com mais força e
quebrar uma garra?
TOMA!
Merda.
Ok, essa realmente doeu.
Não achei que o beta tivesse coragem.
O sangue escorria pelo meu queixo enquanto eu olhava para Josh.
Aiden estava atrás dele, encostado na parede, deixando sua cadela fazer o
trabalho sujo.
— Quando você vai pular no ringue, Alfa? Não quer sujar as mãos? —
Eu cuspi.
— Por que você não me desamarra e a gente cai no mano a mano.
Uma luta real - não essa besteira de tortura no porão. Alfa versus ômega.
Eu sabia que não deveria provocá-lo - eu era tecnicamente o inimigo,
afinal - mas não pude evitar. Falar demais fazia parte da minha natureza.
Aiden sorriu como um idiota arrogante.
Ele começou a me circundar com as mãos atrás das costas,
perfeitamente composto. Ele estava no controle e sabia disso.
— Você não vai querer deixar isso chegar ao ponto em que eu entre
no ringue, — Aiden desafiou. — Seria uma luta mortal.
Eu me perguntei se esse alfa já havia matado alguém que o cruzou
antes. Sinceramente, eu não queria descobrir.
— Qual era o seu objetivo aqui? — Josh interrompeu. — Por que você
estava manipulando Jocelyn?
— Eu não estava...
Porra, não dê a eles nenhuma informação.
— Jocelyn não teve nada a ver com isso, ok? Ela só me ofereceu uma
boa foda ao longo do caminho.
Sua mentirosa imunda. Você é a pessoa mais baixa de todas, Nina.
— Sua vadia de merda, — Josh gritou, ecoando meus próprios
pensamentos.
Ele balançou o punho para mim novamente, mas desta vez, Aiden o
bloqueou antes que ele pudesse se conectar.
— Que merda é essa? Josh gritou.
— Que merda é essa — digo eu. Desta vez, foram meus pensamentos
ecoando os de Josh.
Por que Aiden parou aquele soco?
Será que ele percebeu que eu estava mentindo sobre meus
verdadeiros sentimentos por Jocelyn?
— Por quê você está aqui? — Aiden perguntou, seu rosto pairando a
apenas alguns centímetros do meu.
— Bem, eu certamente não vim pelas acomodações, — eu disse
sarcasticamente, olhando ao redor para a cela úmida da prisão em que eu
estava algemada. — Vou dar uma estrela pra vocês no Uivo.
— Você é uma ladra, o que significa que ninguém virá atrás de você.
Ninguém se importa se você vive ou morre, — Aiden rosnou. — Então é
melhor você começar a falar, ou vai passar o resto de sua vida solitária e
miserável nesta prisão.
— Vocês servem pelo menos um café da manhã básico?
Aiden chegou perto de me bater, mas em vez disso soltou um rugido
monstruoso e socou a parede de tijolos, deixando um buraco em forma
de punho.
Certo, acho que falei cedo demais sobre entrar no ringue com ele.
Provavelmente estamos em diferentes classes de peso.
— Vamos ver se você tem vontade de conversar depois que eu te
deixar aqui embaixo por dois dias na sua própria sujeira, como a rata
fedorenta que você é, — ele rosnou.
— Parece divertido, — gritei quando ele saiu da cela.
Antes de Josh trancar a porta, ele se inclinou para trás e me encarou.
— O que você fez com Jocelyn... você é realmente desprezível. Espero
que apodreça aqui.
A porta se fechou, deixando-me isolada.
Plateia exigente. Mas ele não estava errado sobre Jocelyn.
Estava me consumindo por dentro saber que eu havia a machucado e
não havia nada que eu pudesse fazer para consertar.
— Eu elogio você por sua resiliência, Nina. Você não é do tipo que se
desestabiliza sob pressão.
Uma figura alta encapuzada emergiu das sombras.
— Ah, ótimo, é você, — eu gemi. — Se estes são os tipos de visitas
conjugais que vou receber, gostaria de revogar meus privilégios de
visitação.
— Seu trabalho ainda não está completo. Você não deve deixar de
manter nosso acordo. Se você perturbar o equilíbrio, seus grilhões aqui
não serão páreo para as correntes que prenderão sua alma na vida após a
morte, — ela respondeu sem se abalar.
Eu balancei a cabeça, cerrando meus dentes. Ela não estava me dando
escolha. Estaríamos unidas até que minha tarefa fosse concluída.
— Você tem as ferramentas necessárias para completar sua missão,
então preste atenção ao meu aviso, não falhe de novo, — ela disse,
desaparecendo no ar.
Senti algo se materializar em meu bolso.
A chave para minhas algemas.
Jocelyn
Eu não tinha ideia se era forte o suficiente para fazer isso, mas tinha que
tentar. Eu fui capaz de absorver a dor de Nina, mas Michelle...
Ela não estava apenas com dor.
Ela estava possuída.
Os curandeiros eram resistentes à possessão — pelo menos foi o que
eu li — mas a teoria era diferente da prática.
Eu olhei para o vórtice rodopiante de móveis da Casa da Matilha que
protegia Michelle de nós chegarmos muito perto.
Selene e alguns outros ficaram presos atrás de um pódio do outro
lado da sala, sem rota de fuga.
Fiz sinal para ela correr quando dei o sinal.
— Josh, preciso que você distraia Michelle enquanto tento chegar
perto.
— Estou cuidando disso, — ele gritou, avançando em direção a ela,
usando suas garras para rasgar qualquer coisa que voasse para ele.
— O beta finalmente deu um passo à frente, — zombou o possuidor
de Michelle. — Mas será que está à altura da ocasião?
Ela ergueu os braços no ar e Josh saltou contra um lustre, quicando
como uma boneca de pano e caindo no chão.
Selene correu para a porta com seu grupo, tentando colocá-los em
segurança.
— Todo mundo corre. Não olhem para trás, — Selene gritou.
— Onde você pensa que está indo?
Selene gritou ao ser puxada para trás, deslizando pelo chão em
direção a Michelle. Eu mergulhei para frente e agarrei a mão dela.
— Jocelyn, por favor, não deixe ir, — ela chorou.
Michelle era muito poderosa. Não tínhamos chance.
Precisamos de um milagre.
Aiden
Michelle gritou de dor, como se algo dentro dela estivesse pegando fogo.
Todos os móveis flutuantes caíram no chão, e ela própria começou a cair
em queda livre.
Josh entrou em ação e a segurou, dando uma cambalhota e
segurando-a com força.
Podemos não ter outra chance.
Eu corri em direção a Michelle. Seu corpo estava se contraindo e ela
estava tentando se livrar de Josh.
— Jocelyn, se apresse. Eu não posso segurá-la por muito mais tempo,
— Josh gritou.
— Selene, tire todo mundo daqui e tranque as portas atrás de você, —
eu ordenei.
Ela assentiu e começou a conduzir os convidados restantes até a
saída.
Eu agarrei o rosto de Michelle enquanto Josh a segurava.
— Tudo bem, garota, vamos trazê-la de volta.
Comecei a absorver o que quer que estivesse dentro de Michelle em
meu corpo. Puta merda, isso é estranho.
Minhas veias começaram a ficar pretas de novo e eu suguei toda a
escuridão até que a energia se infiltrou ao longo do meu cérebro.
Meus olhos escureceram e de repente não consegui ver nada.
Comecei a vomitar, minha fisiologia de curandeira rejeitou o
convidado indesejado.
De repente, cuspi um monte de gosma preta por todo o chão e minha
visão voltou ao normal.
Que merda.
Parecia que tinha acabado de beber um galão de alcatrão.
Michelle estava deitada pacificamente nos braços de Josh.
— Eu... acho que ele se foi.
— Jocelyn... ela não está se movendo, — Josh disse calmamente.
Eu imediatamente senti seu pulso. Ela estava...
Viva.
Graças a deus.
Viva, mas sem vida.
Tentei transferir minha energia para ela, mas seu corpo não aceitava.
A escuridão se foi, mas Michelle estava em coma e eu não tinha ideia
de como trazê-la de volta.
Aiden
O vampiro estava ferido, mas eu senti que seu poder tinha ficado ainda
mais forte. Ele não estava brincando.
— Eu tentei estar em dois lugares ao mesmo tempo. Esse foi meu
erro, mas não se engane, estou por completo aqui agora, — ele fervia.
Eu olhei para o corpo inconsciente de Sienna no meio da galeria. Eu
precisava mantê-lo longe dela a todo custo.
— Sienna.
— Sienna, você tem que acordar.
— Eu preciso de você.
Eu esperava que ela não estivesse muito longe, mas nossa conexão
permanecia estática.
O vampiro disparou em minha direção como uma flecha, me
derrubando e me fazendo derrapar no chão.
Enquanto eu tentava ficar de pé, ele investiu contra mim
repetidamente.
Minhas costelas quebraram com os golpes rápidos e eu gritei de
agonia.
Ele me deixou caído no chão e voltou sua atenção para Sienna.
Não, não o deixe chegar perto dela!
Eu mudei de volta para minha forma humana e lutei para ficar de pé,
segurando meu torso.
— Ei, idiota, se você quer mexer com a cabeça de alguém, por que não
tenta a minha? No momento, estou tendo ótimas ideias sobre como vou
rasgá-lo ao meio.
Ele se virou e zombou de mim por tentar enfrentá-lo em minha
forma humana ferida.
— Se você insiste, Alfa, vou matá-lo primeiro com prazer. Então,
posso repetir a memória de arrancar sua cabeça na mente de Sienna,
várias vezes.
Enquanto o vampiro avançava em minha direção, um lobo rosnou
atrás dele.
Sienna.
Ela o agarrou e cravou suas presas profundamente em seu ombro em
um movimento rápido.
Ele gritou quando ela puxou com toda a força e arrancou um pedaço
de seu corpo, fazendo-o evaporar no ar.
O resto dele começou a desaparecer também, e estava claro que ele
não tinha controle sobre sua desestabilização repentina.
— Não, ainda não, droga. Eu estava tão perto! — Sienna se mexeu e
correu para mim, colocando meu braço em volta do ombro dela,
ajudando-me a me equilibrar. Nós dois o encaramos enquanto ele virava
pó.
— Não vou desaparecer para sempre, Sienna. Eu sempre estarei
dentro de você. Você me convidou para entrar e eu voltarei... —
Konstantin berrou.
Seu corpo evaporou antes que ele pudesse terminar seu discurso.
Sienna me abraçou e se aninhou em meu ombro. Estremeci com as
costelas quebradas, mas não me importei.
Era tão bom abraçá-la, saber que ela estava segura em meus braços.
Sienna
Eu não sabia para que lado me virar — correr para Jocelyn, que estava
jogada no chão, ou para Michelle, que estava acordada.
A Curandeira Lowell zumbia em torno de Michelle.
Eu fiquei parada, congelada, observando.
Por que Aiden havia ido embora? Onde ele estava?
Eu precisava dele. Eu estava sozinha, totalmente invisível.
Ok. Pensa. Como posso ajudar?
Jocelyn!
Corri para a curandeira, que estava caída no chão.
Pressionando um dedo em seu pescoço, tentei encontrar seu pulso.
Mas não havia nada. Minha cabeça pulsava enquanto eu me inclinava
sobre seu rosto para checar se havia ar saindo de seu nariz.
— Ela não está respirando, — eu disse.
Irene se aproximou de Michelle, com Owen logo atrás dela.
Ninguém me notou.
— Ela não está respirando! — Eu repeti, gritando agora.
— Minha primeira responsabilidade é com Michelle, — disse a
Curandeira Lowell. — Jocelyn sabe disso.
Meu sangue parecia água gelada.
Jocelyn acabara de se matar para salvar Michelle?
Como isso aconteceu?
Eu me agachei ao lado de Jocelyn, pegando sua mão na minha.
— Joce! Ei! Vamos, Joce, volte para nós, — disse eu. — Você
conseguiu! Michelle está acordada.
Um momento depois, a Curandeira Lowell estava ao meu lado.
Ela me deu um sorriso e tirou a mão de Jocelyn da minha.
Vamos, Jocelyn.
Vamos, você tem que estar bem.
Jocelyn inalou abruptamente e começou a tossir. Sua cabeça caiu para
o lado, suas pálpebras tremulando brevemente.
Uma onda de alívio tomou conta de mim.
Mas seus olhos permaneceram fechados.
— Temos que levá-la para o Retiro do Curandeiro, — disse a
Curandeira Lowell.
Eu me levantei, me afastando do caminho deles.
Onde estava Aiden? Eu precisava que ele estivesse ali presente.
Olhando em volta, o que vi aqueceu e partiu meu coração ao mesmo
tempo.
Josh estava olhando nos olhos de Michelle; seus próprios olhos
estavam lacrimejando enquanto sua boca se arqueava em um sorriso
dolorido.
Eu sorri para ela, mas meu coração estava apertado.
— Ei — eu disse. — Você voltou.
Ela hesitou. Seu rosto permaneceu em branco, e então ela se virou
para Josh e sorriu.
Ela sabe o que aconteceu?
— Oi, amor — ela disse a ele.
Ele pressionou os dedos dela contra a boca. — Estou aqui, querida.
Estou aqui. Eu sempre estarei ao seu lado.
Aiden
Sienna: ei
Selene: oi mana
Sienna: ah sim
Sienna: espero que dê tudo certo. Ela vai
tomar injeção?
Sienna: aguenta aí ok
Sienna: sim
Claro que minha irmã estava ocupada. Ela tinha um bebê recém-
nascido.
Com um suspiro, tentei Erica.
Sienna: ei erica
Erica: nesta sexta temos todas as aulas e depois vai ter um jogo
Sienna: claro
Sienna: a gente se fala
Mia? Talvez ela recebesse a minha visita para sair com ela e os
gêmeos?
Sienna: kkkkkk
Entrevista?
Eu rolei para baixo, procurando por um latido que esclarecesse o
resto.
Eu cliquei no link.
O vídeo começou.
Michelle estava sentada em sua cama de hospital, com as bochechas
rosadas e bonitas.
Seu vestido de hospital era suspeitamente bem ajustado.
Mas nada conseguia esconder a palidez do rosto de Michelle, ou o
fato de que ela estava mordendo o lábio nervosamente.
Como foi que a imprensa teve permissão para vê-la tão cedo?
— Diga-nos, como você acabou em coma, em primeiro lugar? —
Monica Birch, a repórter, disse. — Quem é essa pessoa de quem todos
temos ouvido falar desde o Baile de Inverno?
— Konstantin? — Michelle respondeu.
Monica acenou com a cabeça. — Que papel Konstantin
desempenhou?
Um músculo saltou na bochecha de Michelle, mas ela sorriu para
Monica.
— Konstantin era… é…
— Um vampyro, — Monica interrompeu. — Que se infiltrou na
matilha. — Suas sobrancelhas se arquearam, em falsa surpresa. — Como
isso é possível?
Michelle sorriu sem jeito para a câmera. Ela olhou para trás em
direção a Monica, que deu a ela um aceno encorajador.
— Muitas pessoas estão culpando o Alfa Norwood por permitir que
Konstantin fizesse todos esses estragos sem controle, — disse Michelle.
— Mas isso não é realmente justo ou preciso.
Meu coração aqueceu em sua defesa de Aiden.
— E por que isto? — Monica perguntou, pressionando.
Michelle parou por um longo tempo antes de dizer em voz baixa: —
Porque foi a companheira dele. Foi culpa de Sienna.
Eu pisquei.
— Sienna Norwood? — Monica engasgou com um choque exagerado.
— Isso mesmo, — disse Michelle. — Ela é quem Konstantin estava
realmente procurando. Algo a ver com seus pais biológicos, que ninguém
nunca conheceu — ou assim me disseram...
Seus olhos caíram e ela começou a mexer no cabelo.
Eu sabia que nunca havia revelado essa informação a Michelle.
Ela só poderia ter aprendido com...
— Konstantin. — Michelle continuou. — Ele a perseguiu... foi assim
que ele acabou me atacando. Eu estava cuidando da minha vida e me
tornei a grande vítima.
Eu assisti, chocada.
Monica se inclinou. — E esse vampyro — ele ainda está solto. Ainda é
um perigo para todos.
Isso foi uma pergunta ou uma afirmação?
O medo cintilou nos olhos de Michelle. Então ela acenou com a
cabeça.
— Isso mesmo. Eu... eu acho que deveria haver algum tipo de anúncio
público para alertar as pessoas para ficarem longe dele.
— O Alfa Norwood não emitiu nenhum tipo de aviso, não é? —
Monica pressionou.
Cravei minhas unhas em minhas palmas.
Michelle balançou a cabeça hesitantemente. — Não, ele não emitiu.
— Portanto, parece que ele está tentando varrer todo o escândalo
para debaixo do tapete, em detrimento da segurança de todos, —
continuou a repórter.
Isso não é verdade!
— Mas não temam meus telespectadores, — disse Monica, dirigindo-
se à câmera. A câmera havia saído de Michelle, mas antes disso, percebi
tristeza em seu rosto.
Eu já tinha visto essa tristeza antes.
No rosto de Emily, a última vez que a vi antes de ela se matar.
Meu estômago doeu de tristeza por minha amiga.
Por ambas.
— O Monica Birch Show não te decepcionará. Estamos aqui para
mantê-lo atualizado sobre a ameaça deste vampyro perigoso e o que isso
significa para a sua segurança e da sua família, — ela disse de forma
tranquilizadora, mas sugerindo interpretações sinistras.
Michelle
Josh entrou na Casa da Matilha por volta das cinco horas para falar
comigo.
— Como está Michelle? — Eu perguntei, sabendo que ela voltaria
para casa naquele dia.
Meu Beta tinha um olhar bobo em seu rosto que eu reconheci bem.
Minha própria Bruma estava fervendo em minhas veias, mas Sienna
parecia tão retraída ultimamente que não estávamos aproveitando a
temporada tanto quanto costumávamos.
Mesmo assim, fiquei satisfeito por Josh. Ele e Michelle haviam
passado por muita coisa ultimamente.
Para dizer o mínimo.
O alívio também me atingiu. Se Michelle estivesse saudável o
suficiente para atividades mais... rigorosas, talvez ela realmente estivesse
se recuperando por completo.
Uma morte a menos na minha consciência.
Passei a Josh uma cópia de um resumo das instruções da Delta Nelson
e recostei-me enquanto ele folheava as páginas.
Josh virou uma página, lendo.
Recebi uma chamada na linha do meu escritório.
— Sayyid Hamdi na linha 1 para você, meu Alfa, — Felix anunciou.
Com outro olhar para Josh, coloquei o telefone no viva-voz.
— Sayyid, — eu disse.
— Nós temos uma dica sobre um caçador de vampyros que pode ter
tido alguns negócios com Konstantin, — ele disse sem rodeios.
— Caçador de vampyros? — Eu ecoei. — Um Caçador Divino?
Meu coração disparou.
Os Caçadores Divinos odiavam lobisomens e eram amplamente
considerados uma organização terrorista.
— Não, embora ele seja um humano, — disse Sayyid. — Bobby
Turner, cara branco, cinquenta e sete anos. Sem antecedentes contra
lobisomens, entretanto, apenas vampyros. Ele é suspeito de matar pelo
menos dois.
— Hm, — eu disse. Vampyros eram raros. E geralmente muito fortes,
embora a maioria não se comparasse a Konstantin. Como um humano —
e alguém que está passando da idade de aposentadoria — este caçador
deveria entender bastante do assunto.
Sayyid continuou: — Ele foi visto pela última vez em um bar de
motoqueiros em Crescent Grove. — Um farfalhar de páginas. — Bar do
Sonny.
Jocelyn
Aiden voltou para casa carrancudo. Decidi não preocupá-lo com meus
problemas, então, em vez disso, persuadi-o a ir para a cama e juntos
assistimos a um filme, aninhados nos braços um do outro.
Na manhã seguinte, ele saiu às sete mais uma vez, uma garrafa
térmica de café na mão.
Eu sentia falta de nossa casa.
Este quarto de hotel era luxuoso, com papel de parede novo e móveis
elegantes e confortáveis, mas parecia estéril e sem vida.
Então, quando ouvi uma batida na porta, dei as boas-vindas.
Era Michelle.
Eu dei um passo para trás quando a vi, lembrando do que ela disse no
programa de Monica Birch.
Ela deve ter lido a expressão no meu rosto, porque ela ficou vermelha.
— Ei, espero que você não esteja com raiva de...
A verdade é que fiquei incrivelmente magoada por Michelle ter me
usado como bode expiatório ao vivo na televisão, mas tentei deixar isso
de lado.
Minha amiga havia praticamente ressuscitado. Eu poderia dar uma
folga para ela por enquanto.
Balançando minha cabeça, eu inalei profundamente.
— Não, — eu menti. — Você estava apenas dizendo a verdade.
Mas o que você fez ainda foi meio ruim.
Michelle tirou um pó compacto da bolsa e passou pó nas maçãs do
rosto.
Pensei ter visto suas mãos tremendo, mas poderia ter sido minha
imaginação, porque um segundo depois ela fechou o estojo e olhou para
mim, com seus olhos castanhos brilhando.
— Bom, — disse ela. — Porque eu tenho novidades. — Ela virou a
cabeça em direção à porta aberta. — Pode entrar agora! — ela chamou.
Espere, ela convidou outra pessoa?
Antes que eu pudesse registrar minha confusão, Monica Birch entrou
no meu quarto de hotel.
Meu queixo caiu.
— Olá, Srta. Mercer -Norwood, — ela disse. Seu sorriso era tão
brilhante, não havia como ser natural.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei.
— Ok, antes de você dizer qualquer coisa, apenas nos escute, —
Michelle disse rapidamente.
Suspirei — mas não tive saída.
— Por favor sente-se.
Fiz um gesto para a mesa redonda de vidro. Michelle e Monica se
sentaram e eu fiz o mesmo.
Monica franziu os lábios, entrelaçando os dedos e me olhando por
cima das unhas meticulosamente cuidadas.
Eu inclinei minha cabeça. — Então? Acabe com o suspense.
— Eu decidi, — disse Michelle, enquanto jogava o cabelo castanho
ondulado por cima do ombro, — trabalhar com Monica em um reality
show que ela me apresentou.
— Um reality show? — Eu ecoei, olhando para frente e para trás entre
elas em descrença.
Elas sorriram em uníssono com o meu choque.
Quando elas se tornaram tão próximas?
— Isso mesmo — Monica entrou na conversa, — Companheiras Reais
da Costa Leste.
Piscando, eu disse: — Entendo.
— É exatamente o que eu sempre quis, Sienna, — disse Michelle, e
por um momento, percebi uma pitada de vulnerabilidade em seus olhos.
Que ideia terrível. Michelle era muito frágil para isso.
Ela conversou com Josh sobre isso? Eu não podia acreditar que ele
toparia.
Mas Josh estava tão distraído ultimamente...
— Depois do sucesso estrondoso de sua estreia, — disse Monica,
sorrindo para Michelle, — Fiquei inspirada a olhar mais de perto todas as
companheiras de nosso Conselho Interno da Costa Leste.
— E eu serei a estrela! Monica diz que sou natural na frente das
câmeras! — Michelle interrompeu.
— Bem, se Sienna concordar, vocês seriam coadjuvantes! — Monica
disse alegremente. — O que é ainda melhor!
— Sim, protagonistas! — Mas o sorriso de Michelle vacilou e o ciúme
cintilou em suas feições.
Muita coisa aconteceu em dois minutos. Fiquei completamente
surpresa.
Como Michelle poderia pensar que essa era uma boa ideia? Ela
precisava descansar e se recuperar depois de tudo o que havia passado,
não ir galopando para algum reality show.
— Olha... Michelle tem certeza de que pensou bem sobre isso? — Eu
perguntei.
— Eu disse a você que Sienna iria relutar, — Monica murmurou para
Michelle. — Mas não tem como fazer o programa sem ela.
Michelle não deveria estar fazendo esse programa. Algo cheira mal
sobre tudo isso.
— Por favor, Si? — Michelle perguntou. — Não é como se fosse uma
coisa insuportável.
— Mas, estou muito ocupada. Eu tenho todas as minhas
responsabilidades da Matilha.
— E prometemos não interferir em nada. Além disso, você recebe
todas as vantagens! Maquiadores, cartas de ãs...
— E-mails de haters, — acrescentei.
— E-mails de haters! Claro que não! — Monica acenou com a mão
desdenhosa.
Michelle se contorceu desconfortavelmente, mas parecia firme.
Eu me perguntei novamente o quanto ela realmente queria isso, e o
quanto Monica estava apenas brincando com o desejo da minha amiga
de ser o centro das atenções.
— Olha, eu disse a Monica que você não gostaria de fazer isso, — disse
Michelle, seu tom marcado pela decepção. — Eu disse a ela que faria o
que ela quisesse. Eu nem me importo. Mas você...
Ela zombou e puxou o compacto de volta, retocando o rosto
novamente.
Era como um pequeno escudo que ela segurava, pronto para desviar
minha recusa em cooperar.
Eu realmente queria dizer não.
Mas eu a observei enquanto ela se arrumava.
Vi como ela estava desesperada.
— Eu sou normal. Eu sou bonita. Estou saudável, — disse. —
Konstantin não deixou nenhuma marca em mim.
Nenhuma marca visível.
Ah, Michelle. Ela estava tão determinada a não deixar ninguém ver o
quão ferida ela estava.
E ela estava prestes a expor tudo isso ao vivo na TV.
Alguém tinha que protegê-la. E Josh e Aiden estavam ocupados
rastreando Konstantin.
Eu falhei com Emily — falhei em estar lá quando ela precisava de
mim.
Eu não poderia decepcionar Michelle também.
— Você quer fazer isso mesmo? — Eu perguntei a ela novamente.
— Mais do que tudo, Sienna. Por favor! — ela disse, com sua voz
aumentando em um gemido.
Suspirei. Se Michelle estava determinada a fazer isso, eu tinha que
concordar. Eu tinha que encontrar uma maneira de reparar tudo o que a
fiz passar.
— Eu topo, — deixei escapar, antes que eu mudasse de ideia.
Michelle se virou para mim então, os olhos arregalados. — É sério?
— É sério? — Monica ecoou igualmente surpresa.
Eu concordei.
— Sim, — eu disse, tentando soar convincente.
— Não consigo acreditar, — disse Michelle, genuinamente
emocionada. — Obrigada, Sienna. Sério. Eu... eu realmente preciso disso
agora.
— Não vou decepcionar você, — eu disse, desejando estar mais
animada.
— Maravilhoso! Você não vai se arrepender, — Monica disse, com os
olhos arregalados.
Ela começou a falar sobre horários e contratos. Tentei ouvir, mas não
pude evitar a sensação de que ela havia preparado uma armadilha
perfeita para eu cair.
E eu não tinha ideia do que esperar em seguida.
Aiden
Sienna: oi
Sienna: o que
Sienna: OHIO???
Sienna: ...
Michelle: ocupada?
Michelle: já almoçou?
Sienna: ...
Sienna: claro
Sienna: Eu também tô
O sol estava nascendo sobre Chicago quando meu voo parou no portão.
Entre o fuso horário e a expectativa sobre a possibilidade de pegar
Konstantin, eu estava estranhamente nervoso.
Mas não havia tempo a perder. Assim que saí do avião, mandei uma
mensagem para Sayyid.
Aiden: e?
Sienna
PLIM
— Dezesseis! — Eu gritei. — Os lobisomens geralmente
experimentam a Bruma pela primeira vez aos dezesseis anos de idade.
— Correto! — Monica cantou.
Era a rodada final da competição, e Michelle e eu estávamos
empatadas com quatro pontos cada.
Blair, que parecia achar que bater na campainha era um tanto
indelicado, só tinha dois pontos e se resignou ao terceiro lugar.
— Ok, Sienna e Michelle, temos uma pergunta final para desempate.
A mulher que responder corretamente receberá o pacote de spa com
tudo incluso!
Eu sorri para Michelle, curtindo a competição amistosa.
Mas seu olhar de resposta foi algo entre um rosnado e uma careta.
Monica estreitou os olhos. — Vamos lá: qual flor é tradicionalmente
associada ao Festival da Chama?
Lírios-de-tigre! Puta merda, essa eu sei!
PLIM!
Minha mão apertou a campainha, mas então fiz uma pausa antes de
falar.
Michelle realmente quer ganhar isso.
Então, deixe-a vencer O que você tá fazendo?
Essa coisa toda era pra ajudar Michelle.
— Hm... petúnias? — Eu disse.
— Ah, infelizmente a resposta está incorreta, — disse Monica. —
Agora. Michelle, se você responder corretamente, você ganha! Mas se
você errar, a pergunta volta para Sienna para mais uma chance!
Ok, Michelle. Você consegue.
Mas minha amiga estava mordendo o lábio inferior.
— Eu acho que... Hm... Lírios-de-calla?
— Errada! — Monica disse, parecendo encantada.
Seus olhos se voltaram para mim. — Ok, Sienna, esta é sua chance de
conquistar a vitória. Se você não acertar, teremos que fazer outra rodada.
A diversão do jogo tinha acabado e eu definitivamente não queria
fazer outra rodada.
— Lírios-de-tigre, — respondi com um suspiro.
— E nós temos uma vencedora! — Monica cantou com um brilho nos
olhos. — Sienna Norwood, a companheira do Alfa!
Michelle parecia estar lutando para não chutar o pódio.
— Essa pergunta era muito difícil, — eu disse, tentando suavizar as
coisas.
Mas o puro veneno em seus olhos quando ela olhou para mim foi o
suficiente para parar minha língua.
— Nunca fui muito boa nesse tipo de jogo, — concordou Blair.
— Então, Sienna, quando você vai aproveitar as vantagens de seu
pacote de spa VIP exclusivo? — Monica perguntou perto de uma câmera.
Olhei para Michelle e Blair e tive uma ideia. — Na verdade, acho que
devemos ir todas juntas. Algum tempo depois de terminar a filmagem.
Será um prazer para mim!
Os lábios de Michelle se curvaram nos cantos e Blair assentiu
graciosamente.
Mas com o canto do olho, vi o olhar de decepção de Monica.
Eu consegui evitar uma explosão com Michelle e garanti que Monica
não pudesse filmar nosso dia no spa.
Toma essa, pensei vitoriosamente.
Mas então Monica sorriu para mim e eu senti um arrepio percorrer
minha espinha.
Aiden
Sienna: Aiden.
Aiden: eu te amo
Sienna: Que droga, Aiden
Sienna: Aiden
Que ótimo.
Eu fechei meu laptop depois de ver a previsão do tempo que me
preocupava.
As chances de algo ruim acontecer são de cerca de um milhão.
Ainda assim, a ansiedade estava embrulhando meu estômago.
Eu descansei minha cabeça na superfície da mesa da cozinha.
Entre me preocupar com Aiden e me preocupar com o fato de que
deveria encontrar Charlotte Norwood esta tarde, eu senti que estava
prestes a vomitar.
Eu gemi na madeira da mesa.
Pelo menos Aiden estaria em casa logo.
Aiden
O cabelo de Sienna fez cócegas no meu peito enquanto ela beijava seu
caminho pelo meu abdômen.
Estávamos ambos nus, nossos corpos brilhando de suor.
A Bruma nos tomou em suas garras escaldantes; minha pele
formigava com eletricidade onde quer que ela me tocasse.
Meu pau estava duro e dolorido de tanto que ela o apertava.
— Aiden, — ela sussurrou, a uma polegada de distância da cabeça
inchada.
— Eu preciso de você. — Então ela colocou em sua boca, engolindo
profundamente.
Seus olhos verdes perfuraram os meus, levando minha Bruma a
alturas cada vez mais vertiginosas.
Então, sem aviso, ela se afastou.
— Cadê você, Aiden? — ela disse, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Você me deixou...
De repente, meu estômago deu uma guinada repentina.
Acordei com um solavanco quando o avião atingiu outra onda de
turbulência.
Sob minhas calças, eu estava duro como uma rocha e desconfortável.
Os olhos de Sienna no meu sonho haviam me penetrado, inflamando
minha Bruma.
Eu tinha que voltar para casa para ficar com minha companheira.
Enquanto isso, a turbulência estava... digamos... estimulante.
O vento sacudiu o casco, fazendo o avião chacoalhar como a pior
montanha-russa do mundo.
Onde estamos? Já deveríamos ter chegado.
Tocando na tela do meu assento, abri o mapa do progresso do avião.
Como assim?
A essa altura, deveríamos estar em West Virginia, a cerca de vinte
minutos de casa.
Mas em vez disso, o GPS estava nos mostrando voando sobre
Nebraska.
Isso não pode estar certo.
Balançando a cabeça e fazendo uma careta, liguei meu celular e ativei
o aplicativo GPS.
Nebraska.
Filho da puta.
O que diabos está acontecendo?
Sem aviso, o avião caiu. Um ruído de trituração veio de meus pés.
Bati no interfone da cabine, mas nada aconteceu.
Sayyid estava acordado e me observando.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei.
Sayyid desafivelou o cinto de segurança e se levantou; corri para
seguir o exemplo.
Fomos até a cabine e abrimos a porta.
Na cadeira do capitão, Bertrand olhava fixamente para fora da janela
do avião.
No assento ao lado dele, o copiloto estava curvado sobre o painel de
controle. O sangue escorria de um corte profundo em sua testa.
Com um gesto mecânico e espasmódico, a cabeça de Bertrand se
virou para mim.
Havia um vazio em seus olhos que me causou um arrepio pela minha
espinha.
— Você nunca deveria ter vindo atrás de mim, — ele disse na voz de
Konstantin. — Adeus, Alfa Norwood.
Ao meu lado, ouvi a respiração aguda de Sayyid.
Olhei pela janela para o campo, que se aproximava rapidamente.
Estávamos caindo.
Capítulo 13
TREM DA MEIA-NOITE PARA LAWRENCE
Aiden
Droga.
Tentei fazer uma ligação e, depois do que pareceu um ano e meio,
consegui entrar em contato com os serviços de emergência por tempo
suficiente para ordenar uma equipe de resgate para o avião.
Então corri para um quiosque para comprar uma passagem para o
primeiro trem de volta a Mahiganote.
Estudando meu itinerário, mordi meu lábio.
Tinha que trocar de trem em Lawrence, Kansas.
Jocelyn estava no Retiro do Curandeiro em Lawrence.
Fiquei tentado a parar e verificar como ela estava.
A vontade de chegar em casa, envolver meus braços em volta de
Sienna...
Encontrar o ectoplasma do vampyro...
Era forte.
Mas Jocelyn era a curandeira da minha matilha...
... uma das pessoas mais leais que já conheci...
... se feriu quando arriscou tudo para ajudar Michelle...
Aiden: não sei se a mensagem vai chegar,
mas vou fazer uma parada em Lawrence
Ver Jocelyn mais cedo naquela manhã foi um choque, eu ainda não havia
me recuperado.
Tentei falar com ela, mas ela saiu correndo.
De jeito nenhum eu poderia deixar aquilo ficar assim, no entanto.
Eu tinha que encontrá-la.
Tinha que falar com ela.
Para tentar explicar.
Então, eu estava do lado de fora da porta de seu quarto, parando entre
batidas insistentes, quando ouvi o telefone tocar em seu quarto.
Pressionando meu ouvido na porta, eu escutei.
— Não, — eu a ouvi dizer. — Não, prefiro não receber visitantes hoje.
Ela diria a eles que eu estava do lado de fora, tentando fazer com que
ela me deixasse entrar?
Os curandeiros aqui não sabiam nada sobre mim.
Eu tinha dado a eles um nome falso com documentos falsos, que eu
tive que fazer um grande favor para conseguir.
Se Jocelyn quisesse, ela poderia estragar tudo isso.
— O que? — ela estava dizendo. — Quem você disse...?
Mas eu não podia fugir. De novo não. Eu tinha que tentar dizer a ela.
Eu esmaguei minha orelha contra a porta.
Ela disse: — Aqui? Tem certeza?
Com quem ela estava falando?
Eu escolhi este lugar porque era o mais próximo que eu poderia
chegar da fronteira do território da MCL sem realmente cruzá-la.
O Alfa me mataria — ou talvez seu Beta o fizesse — se eles me
encontrassem ainda dentro dos limites da Matilha.
Mas também não queria ir muito longe.
E agora... ela estava aqui.
A porta se abriu. Jocelyn me agarrou, me puxando para dentro.
Fiquei tão atordoada que nenhuma palavra veio à mente.
O que quase nunca tinha acontecido comigo.
Os olhos de Jocelyn brilhavam de emoção. — Maldição, Nina. Eu juro
por Deus. Você escolheu o pior momento possível. Você só pode estar
brincando comigo.
— Joce — falei, finalmente encontrando minha voz. — Joce, por favor,
deixe-me explicar.
Mas ela estava me empurrando para o armário.
— Joce, o que você está fazendo?
— Cale a boca, Nina, — ela retrucou.
— Ei, não sei se posso voltar para o armário.
— Só cala a boca e fica aí, e pelo amor de tudo que é sagrado, fica
quieta O pequeno espaço ficou escuro quando ela fechou a porta.
Um batimento cardíaco depois, houve uma batida na porta do lado de
fora.
Prendendo a respiração, ouvi o barulho das dobradiças.
— Oi, — disse um homem. — É tão bom ver você acordada, Jocelyn.
Eu conhecia aquela voz. Meu coração começou a martelar.
— Nossa, — Jocelyn disse, parecendo nervosa enquanto ria. — Eu
realmente não acreditei neles quando disseram que era você, meu Alfa.
As duas últimas palavras soaram um pouco mais altas, como se ela as
estivesse mirando em mim.
Minhas entranhas se transformaram em água.
— Acredita que eu estava na vizinhança? Como você está? — Aiden
Norwood perguntou.
Porque, claro, era ele. Eu reconheci a voz agora.
— Eu estou — bem, — Jocelyn disse. — Ainda estou tentando aceitar
tudo o que aconteceu, eu acho.
Aceitar o quê? Ela tinha se machucado de alguma forma?
Sua voz sufocou e eu me esforcei para ouvir o resto da conversa.
Tentei controlar minha ansiedade crescente.
Então, algo que Jocelyn estava dizendo me deixou em pânico.
— Eu sei que é importante, Aiden, claro que é, mas vou ficar bem.
Sienna depende de você. Não se esqueça disso.
— Ela depende de mim para mantê-la segura, e isso significa matar
Konstantin, — disse Aiden.
Konstantin. Lembrei-me da noite selvagem e terrível do Baile de
Inverno.
Ele havia escapado.
Mas eu tinha ficado. Ajudado. O que era incrível, não?
— Aiden, — Jocelyn disse naquela voz uniforme dela. — Você está se
esquecendo de uma parte importante. Sim, defender Sienna de danos
físicos é... essencial. Mas isso não é tudo que ela precisa.
Não é tudo que ela precisa.
— Sienna tem enfrentado um trauma severo, — Jocelyn continuou.
— Todos nós temos.
Sua voz estava carregada de significado — eu sabia que ela não estava
apenas falando sobre Sienna.
— Ela deve estar mais vulnerável do que nunca, Aiden, — disse
Jocelyn. — Ela precisa de você agora mais do que nunca.
Ela precisa de você agora mais do que nunca.
Jocelyn baixou a voz e ouvi o tilintar de metal.
Eu apurei meus ouvidos para pegar o final de sua frase.
—... diga a ela que ela é forte o suficiente para enfrentar qualquer
coisa.
— Jocelyn... — Aiden parecia impressionado. — Tem certeza?
— Sim, — ouvi sua resposta sussurrada. — Sienna precisa saber que as
pessoas que ela ama não a abandonaram.
A abandonaram.
Fechei meus olhos, pressionando meus dedos na minha boca.
Foi o que eu fiz.
Eu abandonei Jocelyn, quando ela estava se recuperando do ataque de
Konstantin.
Quando ela precisava de mim mais do que nunca.
E agora, ela estava tentando me proteger de novo, apesar de tudo.
Ah, Jocelyn.
Você vai me perdoar?
Sienna
Sayyid: não
Aiden: a lama
Encontrei uma cabine vazia alguns minutos antes do início dos rituais e
me acomodei.
Antes de apertar o botão — gravar, — parei um momento para
endireitar minha blusa Versace e verificar minha maquiagem em um
espelho de bolso.
Meus olhos pareciam brilhantes e um pouco febris. Bem, isso era de
se esperar.
Não conseguia me lembrar da última vez que havia dormido durante
a noite.
Mas não havia tempo para isso agora.
Aquela era a minha hora de brilhar, mesmo que eu tivesse que tirar
minhas garras para fazer isso.
Eu ia dar a eles uma pequena entrevista que eu sabia que eles
gostariam de usar.
— Isso é tão emocionante. Tudo está prestes a começar. Temos três
rituais de velas planejados.
Peguei meu pó compacto e batom.
— Claro, Sienna vai liderar todos eles.
Meu estômago embrulhou desconfortavelmente. Eu ainda não tinha
certeza de por que havia apontado a falta de fertilidade de Sienna na
frente de todos.
Eu estava tão... zangada. Como se houvesse uma fúria constante
fervendo logo abaixo da minha pele.
E quando Monica me disse que Sienna provavelmente nem sabia da
importância por trás do Festival da Chama...
Eu não pensei. Eu tinha falado coisas horríveis sobre minha amiga.
E o que é pior... Eu não havia me arrependido totalmente.
Fiz um show ao retocar meu batom, depois olhei diretamente para a
câmera.
— É uma pena, realmente. Sienna simplesmente não tem os... gostos
sofisticados de sua posição. Quero dizer, essa ideia de chamar a Mia para
fazer o bufê do evento.
Revirei os olhos, fechando o compacto.
— Mas eu acho que é assim que funciona. Estarei lá caso ela estrague
tudo. Sempre posso resolver as coisas se ela precisar de mim.
Piscando para a câmera, eu a desliguei e fui para a sala de jantar,
endireitando meus ombros enquanto ia.
Nunca deixe que eles vejam você vacilar.
Sienna
Michelle
— Josh! — Eu lati.
Seu corpo inteiro estremeceu. Ele se virou e encontrou meus olhos.
Daquela distância, eu não tinha certeza, mas a maneira como ele curvou
um ombro por apenas um segundo — aquilo era culpa, eu poderia
apostar que era.
Hm, eu me pergunto por quê?
Dois dias se passaram desde que eu percebi que Josh tinha pegado a
lama que Konstantin deixou para trás, mas ele não atendia ligações ou
mensagens de texto.
Eu tive que recorrer ao uso do rastreador no celular de Josh,
finalmente alcançando-o em um hotel perto de Winston-Salem.
Eu estava exausto e uma dor de cabeça estava se formando na parte
de trás do meu crânio.
Na noite anterior, Sienna acordou suando frio e correu para o
banheiro para vomitar.
Eu tentei ajudá-la, mas ela apenas me disse para voltar para a cama.
Minha companheira estava sofrendo, e a única maneira de consertar
aquilo era encontrar aquele maldito vampyro.
Josh estava saindo com seu Bronco assim que eu cheguei, mas eu
corri até que ele me visse, gritando.
Eu marchei até ele com os punhos fechados.
Ele não parecia muito melhor do que quando Michelle ainda estava
em coma.
E quando me aproximei, pude sentir o cheiro do álcool.
A preocupação guerreou com a frustração dentro de mim.
Josh claramente não estava bem. Essa coisa toda realmente o
perturbou.
Mas ele também estava me sabotando com suas ações.
E ao fazer isso, ele estava colocando toda a matilha em risco.
Ele precisava se lembrar de seu lugar.
Josh
Aiden: claro
Aiden: está tudo bem?
Michelle: …
Michelle: Você que saiu dirigindo pelo país inteiro com ele
Fiquei preocupado.
Onde é que você se meteu, Josh?
Sienna
Michelle: ei Si
Michelle: Si?
Michelle: ...
Michelle: sim
Michelle:???
Quando cheguei à galeria dela, a placa dizia Fechado, mas a porta estava
destrancada.
Um formigamento inquieto rastejou sobre minhas costas quando
entrei.
— Sienna? — Chamei.
Sem resposta. Eu entrei no local, olhando ao redor.
Tudo parecia normal. Imperturbável.
Eu ouvi um barulho vindo do fundo da galeria.
Por um momento, eu congelei, uma imagem de olhos vermelhos
piscando em minha mente.
Minha respiração acelerou e meu coração martelou no meu peito.
Merda.
— Michelle?
Era Sienna.
Ela veio pela porta da sala dos fundos.
Ela estava um caco.
Maquiagem arruinada por lágrimas, cabelo meio amarrado para trás,
camisa respingada de tinta.
— Meu deus, Si, — eu disse.
Ela tropeçou em minha direção e eu fui até ela, estendendo os braços.
Ela caiu sobre eles, soluçando.
— O que aconteceu? — Eu perguntei, ainda alarmada. — Alguém te
machucou?
Ela balançou a cabeça. — Eu sou um lixo. O maior lixo de todos.
Não importa o quão confusos meus sentimentos em relação a Sienna
estivessem, eu não poderia simplesmente deixá-la sozinha e chateada
assim.
— Bem, isso eu posso consertar, — eu disse, engatando a marcha.
Eu a levei até o banheiro e a ajudei a lavar o rosto.
Eu tinha maquiagem e uma escova de cabelo e comecei a arrumá-la.
— Não podemos deixar você com uma aparência tão assustadora —
eu murmurei enquanto trabalhava.
Sienna sentou-se docilmente, deixando-me limpá-la.
— Ventou pra caramba hoje, né...? — Eu brinquei.
— Não, — ela disse, sua voz suave. — Eu só... meio que perdi minha
calma por um tempo. Eu estava... frustrada com minha pintura.
Eu dei a ela um aceno de cabeça enquanto passei o corretivo ao redor
de seus olhos. — Você e seu temperamento artístico.
— Sim, — disse ela com um sorriso fraco.
Recostei-me e olhei para minha obra. — Muito melhor — eu disse,
então peguei suas duas mãos e as apertei.
Ela olhou para mim; seus olhos estavam brilhantes, mas seu rosto
estava em branco.
— Você tem que deixar tudo para trás, Si, — eu disse.
A última coisa que eu queria fazer era falar sobre o que aconteceu.
Mas ela realmente precisava se recompor.
— Acabou. Ficou tudo para trás, — eu disse a ela.
— Não consigo dormir à noite, — confessou ela, com a voz trêmula.
— Cada vez que fecho os olhos, tudo o que vejo são...
— Olhos vermelhos, — eu terminei por ela.
Não pense nisso. Não pense nisso.
Meu pulso estava acelerado.
— Você tem o mesmo sonho? — Sienna perguntou, surpresa.
— Não como... de uma forma psíquica ou algo assim, — eu disse,
tentando rir disso.
Mas então eu balancei a cabeça. — Mas sempre sinto que alguém está
me observando.
Então eu me cerco de câmeras. Pelo menos eu sei que as pessoas estão
assistindo.
Mas eu não poderia dizer isso. Realmente não podia admitir que fosse
verdade.
— Você realmente acha que Josh e Aiden vão pegá-lo? — ela
perguntou, sua voz baixa.
Eu balancei a cabeça com firmeza. Foi a única coisa que pude fazer. —
Claro que vão.
Sienna desviou o olhar.
Eu dei um pequeno aperto em sua mão. — Agora, vamos. Vamos
almoçar. Aposto que você está morrendo de fome depois de toda essa —
arte.
— Claro, — disse ela, voltando-se para mim com um sorriso. —
Obrigada, Michelle.
— O prazer é meu, — eu disse.
Jocelyn
Depois de saber que Josh tinha acabado na prisão, eu estava pronto para
seguir em frente na investigação sem ele.
No entanto, só naquela noite tive tempo para fazer isso.
— E isso? — Sienna perguntou sem fôlego. Ela estava empoleirada na
minha mesa, nervosamente observando a garrafa de lama como se ela
pudesse pular e atacá-la.
O que, pelo que sabíamos, poderia.
— Sim. Afaste-se, — eu disse a ela enquanto destampava a garrafa.
Nós dois congelamos em antecipação, mas nada aconteceu.
Sienna soltou um suspiro.
— Ok, vamos ver o que essas coisas podem fazer, — eu disse.
Pegando uma pequena bússola, derramei a gosma preta sobre a
superfície.
Então esperamos.
Não fez nada — apenas cobriu a bússola com sujeira.
— O que deveria acontecer? — Sienna perguntou, chegando mais
perto.
— Eu pensei que apontaria para a localização de Konstantin.
— Talvez só precise de algum tempo para funcionar?
Então esperamos.
Cada um de nós orando ansiosamente para que os ponteiros
começassem a girar.
Dez minutos se passaram.
Vinte.
Nada.
O ponteiro ficou apontando na mesma direção: norte.
A menos que Konstantin esteja no norte?
Mas nada aconteceu. Nenhuma indicação de que a lama teve
qualquer efeito na bússola.
Com um suspiro, recostei-me na cadeira.
— Podemos tentar com outra bússola? Ou com... um GPS ou algo
assim? — Sienna perguntou, vindo se sentar na cadeira ao meu lado.
Peguei sua mão e esfreguei contra minha bochecha.
— Não sei. Mas temos que tentar algo.
Ela suspirou. — Eu sei. Mas eu sinto que não estamos chegando a
lugar nenhum com isso.
Eu concordei.
As palavras ficaram no ar.
Konstantin ainda estava lá fora.
Decidido a alcançar minha companheira — a matá-la em sua luxúria
por poder.
E não tínhamos ideia de quando ele poderia atacar novamente.
Capítulo 21
ALGUM DIA VOCÊ VAI RESPIRAR
Sienna
Sienna: Oi Erica
Erica: Sim rs
Eu franzi o rosto para o celular. Erica era amiga de Sienna. Ela nunca
me mandou uma mensagem.
Meu coração disparou.
Erica: É Sienna
Erica: Ela estava fazendo uma transmissão ao vivo para o show
e...
Corri para o rio, sentindo-me livre de uma forma que não sentia há
semanas.
Era tão bom estar na minha forma de lobo novamente.
Eu cheirei o rio antes de vê-lo, mas agora, eu estava em território
familiar.
O ar estava tão frio que praticamente crepitava. A neve abafou os sons
usuais da floresta.
Mas eu estava exatamente onde queria estar. Em meio ao silêncio
pacífico das árvores.
Ser selvagem — um lobo desfrutando de uma corrida pela floresta de
inverno Não a companheira do Alfa, não Sienna Mercer-Norwood — mas
apenas um lobo.
Quando cheguei às margens do rio, pensei imediatamente em Aiden.
Naquele dia em que o desenhei perto deste mesmo lugar.
Nenhum de nós sabia naquele dia que estávamos destinados a ficar
juntos.
Quando tudo ficou tão bagunçado?
Eu queria me aninhar ao lado dele, sentir a força e a segurança que
me cercavam sempre que ele estava por perto.
Eu permaneci na minha forma de lobo, feliz por evitar minha vida
real por mais um tempo.
Para fingir que não tinha acabado de perder a cabeça na frente de
uma plateia ao vivo.
Com um suspiro estremecido, mergulhei meu focinho na água e bebi.
Quando levantei minha cabeça novamente, ouvi um farfalhar nas
folhas.
Meu corpo parou enquanto eu ouvia.
Então, como se eu o tivesse conjurado, ele emergiu sob um raio de sol
do fim da tarde.
Um lobo enorme, seu pelo preto ondulando.
Aiden.
Minhas narinas dilataram. Eu senti cheiro de sangue.
Ele está ferido!
Eu caminhei até ele, choramingando.
Cheirando-o, encontrei o ferimento, um corte profundo em seu
peito.
Ele se virou e me acariciou enquanto eu o lambia, meus olhos se
enchendo de lágrimas.
Ele empurrou sua cabeça para o meu lado e eu esfreguei minha
bochecha ao longo de sua nuca.
Eu queria que nós nos transformássemos de volta para que eu
pudesse dar uma boa olhada no ferimento, mas aquele não era o melhor
lugar.
Nossa casa não fica muito longe.
Não tinha voltado desde que a encontramos queimando, na noite
após a batalha com Konstantin.
Eu cutuquei seu ombro ileso e saí correndo.
Ele seguiu.
Não demorou muito para chegar a nossa casa.
Os andaimes ficavam no lado leste, e folhas de plástico balançavam
nas janelas quebradas.
Eu levei Aiden até a porta e me transformei, então girei a maçaneta.
Aiden se transformou um momento depois.
Conduzi-o para dentro de casa e fechei a porta. Ainda estava
congelando lá dentro, mas pelo menos não havia vento.
Meus mamilos endureceram com o frio.
E olhando para o seu corpo lindo, para ser honesta.
— Sienna, — ele respirou. — Você está bem?
— Eu? Não sou eu que tenho um corte do tamanho do Texas no
peito.
Examinei a ferida e vi que já estava sarando.
Uma onda de alívio brotou em mim, e passei meus braços em volta do
corpo quente e firme de Aiden.
— O que aconteceu com você? — Eu perguntei.
Seus braços me envolveram. — Konstantin.
Meu coração apertou, mas então Aiden continuou.
— Eu o matei.
Minha cabeça se levantou para olhar para ele. Os olhos verdes de
Aiden olharam de volta abertamente, um triunfo sombrio brilhando
neles.
Mas havia algo mais espreitando lá — uma dor sombria que ele estava
tentando esconder.
— É verdade? — Eu perguntei. — Você o matou?
Ele assentiu. — Com minhas próprias mandíbulas.
Soltei um suspiro de alívio, quase perdendo o equilíbrio.
Um peso, muito mais pesado do que eu imaginava, foi tirado de meus
ombros.
— Ele está mesmo morto?
— Está, — disse Aiden, mas então seu rosto se contorceu.
— Ele matou um dos meus homens na luta, — continuou. — Sayyid
Hamdi. Ele levou uma bala por mim. Literalmente.
Eu olhei para ele confusa. — Konstantin atirou em você?
— Isso me surpreendeu também, — disse Aiden. — Eu nunca
imaginei... mas deveria. Cometi muitos erros, Sienna. Sayyid morreu por
causa deles. E você... eu sinto muito por não ter te ajudado.
— O que você está falando? Você matou Konstantin!
Eu quis dizer cada palavra. Eu senti muito a falta de Aiden nos
últimos dias.
Mas Konstantin estava morto.
Para sempre.
— Você é incrível, — eu respirei.
Ele também estava tremendo.
— Venha, vamos levá-lo para um banho quente, — eu disse.
— Só se você vier comigo.
Aiden me beijou, suas mãos segurando meus braços com força.
Libertando-me, eu dei a ele um sorriso mais amplo, então o levei
escada acima para o nosso banheiro.
Passamos por paredes enegrecidas e um carpete arruinado, mas o
banheiro estava relativamente intocado.
Fechei a porta e liguei o chuveiro no máximo.
Aiden me puxou para baixo da água e eu ri, uma explosão de alegria
borbulhando em meu peito.
Konstantin estava morto.
Ele nunca poderia me machucar — nunca poderia machucar ninguém
novamente.
Pressionei meu corpo, já escorregadio com água quente, contra o de
Aiden, envolvendo um braço em volta de seu ombro ileso quando nossos
lábios se encontraram.
Meu corpo ficou vermelho de calor. Tremores irradiaram dos meus
dedos aos pés.
Aiden me puxou para ele pela cintura, sua excitação já evidente —
uma protuberância dura contra meu estômago.
Ele passou a mão pela minha bunda e, em seguida, levantou minha
perna na coxa, expondo meus lábios quentes.
A água ainda corria pelo meu corpo quando ele pressionou a cabeça
contra a minha vulva.
Passei os dedos da minha mão livre sobre sua ferida, descendo por sua
barriga, em seguida, envolvi-os em tomo de seu pênis rígido, apreciando
a umidade da água quente misturada com o calor dele.
Aiden gemeu contra minha boca.
Corri meus dedos para cima e para baixo em seu comprimento,
alisando meu polegar sobre sua cabeça. A mão que segurava minha coxa
apertou e ele me puxou para mais perto.
Sua outra mão segurou meu seio enquanto a água caía em cascata
sobre nós dois.
Eu o puxei um pouco, pressionando pontos sensíveis enquanto
acariciava sua ereção.
Com um grunhido, ele soltou minha perna e agarrou minha mão,
prendendo meu pulso na parede de azulejos.
Ele se curvou e levou um mamilo à boca, depois o outro.
Sua mão livre viajou pelo meu corpo, acariciando a pele úmida da
minha barriga, meu quadril, até meu sexo que estava quente.
Ele mergulhou dois dedos dentro de mim e eu me engasguei.
Colocando e tirando, ele fez meus joelhos fraquejarem enquanto eu
me agarrava a ele.
— Ai, Aiden, eu quero você, — murmurei.
Ele moveu seus lábios para minha boca, sua língua encontrou a
minha enquanto seus dedos me penetravam.
Então ele os tirou, sua mão espalhando minhas pernas e deslizando
sob minha coxa novamente.
Ele pressionou seu pau contra meus lábios, em um pedido silencioso.
Eu balancei minha cabeça para trás, me oferecendo a ele, querendo-o
tanto.
Finalmente, ele se empurrou para dentro de mim e eu gritei enquanto
ele empurrava cada vez mais fundo. O barulho constante do chuveiro se
misturou com meus gemidos de prazer.
— Sienna, — ele sussurrou em meu ouvido.
Ouvir meu nome em sua boca me fez derreter.
Enquanto seus músculos se contraíam, eu senti meus pés levantarem
do chão. Larguei tudo, confiando na força de seus braços.
O calor que jorrava de cima era incomparável com o fogo que ardia
por dentro.
Eu me desmontei. A felicidade arrancou um grito de mim.
Os olhos de Aiden rolaram para trás enquanto seus movimentos se
aceleravam, juntando-se à minha liberação.
Nós gozamos juntos.
O chuveiro nos molhava enquanto tremíamos em êxtase.
Eu me afoguei no êxtase, fui tomada pela sensação.
Durou para sempre... ou assim parecia.
Então, finalmente, voltei a mim mesma, segurada com força nos
braços de Aiden sob o fluxo do chuveiro.
Nós nos enrolamos em enormes toalhas de banho e ficamos no
banheiro para secar, ligando o aquecedor de parede enquanto nos
aconchegávamos no chão de costas para a banheira.
Aiden traçou um dedo sobre as linhas da minha palma. Estávamos
ambos calados e pensativos.
Por seu olhar distraído, percebi que ambos estávamos pensando na
morte de Konstantin. E no assassinato de Sayyid.
O preço terrível que ele pagou para que pudéssemos ser livres.
Diante de tal tragédia, meu colapso anterior parecia totalmente sem
importância.
Pela primeira vez — desde que eu conseguia me lembrar — parecia
que estava pensando com clareza.
Eu estava me punindo por crimes que não eram meus. Eles eram de
Konstantin.
Todo o estresse e ansiedade que consumiram minha vida: o
programa, que me fazia rastejar por Michelle, por Monica, por Charlotte.
Meus medos sobre minha possível infertilidade.
Tudo remontava a Konstantin.
Minha culpa e medo por deixá-lo entrar em minha vida.
Era o mesmo tipo de culpa horrível e equivocada que senti depois da
morte de Emily.
Em algum nível, eu pensei que se eu pudesse me tornar a
companheira perfeita do Alfa, eu evitaria cometer os erros que
permitiram que o vampyro chegasse tão perto de mim.
Mas isso era irracional.
Konstantin mordera Michelle.
Ele se aproximou dela como uma cobra covarde.
Ninguém poderia ter evitado isso, não importa o quanto eu quisesse
acreditar que seria capaz se eu apenas tivesse sido mais vigilante.
Não foi sair com um amigo por mimosas que fez Konstantin nos
atacar.
Não foi a tentativa de me tornar uma artista de sucesso que o fez
invadir minha mente.
Ele usou meu desejo de sucesso contra mim?
Sim.
Mas isso significava que eu merecia perder minha arte para sempre?
Não.
E de repente, enquanto olhava para a parede em branco à nossa
frente, senti a necessidade de pintar.
Eu pintaria um mural ali mesmo. Eu já podia ver em minha mente.
Lobos. Um preto e um castanho-avermelhado — no rio, no inverno.
Eu começaria assim que as reformas fossem feitas.
E eu iria desistir daquele programa idiota.
Eu estava cansada de ser a estrela de Monica. Exausta de ser o saco de
pancadas de Charlotte. E Michelle...
Por mais que eu amasse Michelle, não poderia dar a ela o que ela
queria. Eu não tinha certeza de que alguém pudesse.
Mas eu estava cansada de tentar ser algo que não era.
Agora, com Jocelyn fora, não havia ninguém por perto para me curar.
Então, eu teria que me curar.
Será?
Assim que voltamos para o hotel, fucei minha bolsa de couro preto.
Eu não a carregava desde antes do Festival das Chamas, e tinha
esquecido completamente do pacote fino e embrulhado que ainda estava
aninhado dentro.
Eu o retirei com reverência, desdobrando as camadas de lenço de seda
que o cercavam.
Enfiado no meio estava uma pulseira trabalhada com ornamentos de
prata martelada.
Eu já tinha visto isso muitas vezes antes no pulso da minha amiga e
curandeira.
No centro da pulseira havia um pedaço de papel dobrado.
Lágrimas brilharam em meus olhos quando comecei a ler a
mensagem curta.
Sienna,
Esta pulseira pertenceu à minha avó. Isso me trouxe força mais vezes do
que posso contar.
Que isso lembre você do amor que a cerca.
E de todos aqueles que acreditam em você.
Agora, acabe com todos
Com amor,
Jocelyn.
Monica: …
Michelle
Sienna: Joce!
Sienna: Meu Deus!
Jocelyn: ; )
Sienna: Estou tão feliz que você esteja se
sentindo melhor. Estou feliz que os
curandeiros cuidaram bem de você...
Jocelyn: Sim, bem... eles não são a única coisa que me trouxe
de volta à vida.
Sienna: ?
Sienna: ❤
Fiquei muito feliz em ter notícias sobre Jocelyn novamente. Não sei o
que teria feito se as coisas tivessem piorado.
Naquela noite, Aiden e eu dirigimos para a casa dos meus pais para um
jantar em família.
Mamãe nos cumprimentou na porta com abraços e beijos.
Ela sorriu para Aiden.
— Fiquei muito orgulhosa com tudo o que você disse naquela
reunião, Aiden, — disse ela. Lágrimas brilharam em seus olhos. —
Significou muito.
Então ela me agarrou e me abraçou novamente.
— Eu não tinha ideia de que eles estavam tentando expulsar você, —
ela disse em meu cabelo. — Eu teria esfolado aquela Monica Birch viva se
eu soubesse!
— Eu sei que você teria, mãe, — eu disse, mesmo com ela me
estrangulando.
Depois de me libertar, vi meu pai esperando atrás dela.
Eu sorri para ele e dei-lhe um grande abraço.
— Como você está, querida? — ele perguntou suavemente. — Passou
por muita coisa difícil?
Peguei suas mãos e encontrei seus olhos. — Foram difíceis por um
tempo, mas as coisas estão muito melhores agora.
— Fico feliz, — disse ele, expirando.
Selene e Jeremy entraram no corredor. Jeremy estava segurando a
bebê Vanessa, exibindo-a para Aiden.
— Você nunca para de se preocupar com eles, — papai disse a Jeremy,
passando o braço pelo meu ombro.
— É só a preocupação que muda, — acrescentou ele com uma risada.
Eu estava sorrindo também, mas uma faísca de ansiedade me levou a
deslizar minha mão na de Aiden.
Será que algum dia conheceremos as alegrias e desafios da paternidade?
— Vamos, pessoal, vamos comer, — disse papai, conduzindo-nos para
a sala de jantar.
Meu estômago embrulhou com o cheiro da comida, no entanto, e eu
fiquei para trás.
A náusea estava me incomodando o dia todo.
— Você está bem, irmã? — Selene perguntou, pegando meu braço
quando eu soltei a mão de Aiden, deixando-o ir para que ele pudesse se
oferecer para ajudar a trazer comida da cozinha.
Eu sorri para ela enquanto estávamos no corredor de entrada. —
Acho que sim. Estou me sentindo um pouco tonta hoje. Provavelmente o
resultado de todo aquele estresse.
Selene ergueu uma sobrancelha curiosa. — Você acha? Ou poderia ser
algo mais?
Eu olhei seriamente para ela, genuinamente insegura do que ela
queria dizer.
— Será que você está grávida? — ela se inclinou e sussurrou.
Minha garganta se apertou.
— Não, — eu disse.
Selene balançou a cabeça.
— Hanh não tinha certeza... Talvez você devesse fazer um teste.
Eu zombei, mas meus olhos estavam fixos nos dela.
— Você sabe que quer, — ela sorriu.
— Eu não... eu não tenho um teste para fazer...
— Eu tenho. Um velho que está guardado no bolso lateral da minha
bolsa por tipo, um ano, mas...
Ela agarrou a bolsa e tirou o teste, ainda na embalagem.
Eu pisquei para a coisa. Em sua embalagem, parecia um absorvente
interno.
Mas não era um absorvente interno.
Este pequeno objeto me diria algo muito, muito importante.
E se sair negativo?
Então isso não significa nada. Respire fundo.
Eu respirei fundo, sentindo o cheiro de peixe frito enquanto Aiden o
carregava. Meu estômago embrulhou.
— Ok, tudo bem, — eu disse. Peguei o teste da mão dela.
Enquanto eu caminhava para o banheiro do térreo, ouvi sua risada
fraca.
Isso é bobagem. Eu tranquei a porta e puxei meu jeans. Estou me
sentindo enjoada. Eu não estou grávida!
O resmungo pareceu ajudar a acalmar meus nervos, então continuei
fazendo isso enquanto fazia xixi no teste.
Selene é louca por bebês. Ela está vendo bebês em todos os lugares. Eu não
estou grávida.
Colocando o teste no balcão, recusei-me a olhar para ele enquanto
lavava as mãos.
De qualquer maneira, o teste provavelmente deve estar vencido por estar
na bolsa de Selene por uma década. Não vai mostrar nada.
Independentemente, não estou grávida.
Mas então, depois de mais um minuto, olhei para o visor.
Um sinal de adição rosa.
Puta merda.
Estou grávida.
Livro 4
Anteriormente em Lobos
do Milênio...
Sienna e Aiden estavam tentando ao máximo voltar à vida normal
novamente. Eles estavam até pensando em começar uma família! Mas
com Michelle em coma e Josh enlouquecendo ao lado dela, as tensões
eram altas.
E não ajudou o fato da repórter do Jornal da Matilha, Monica Birch,
estar sempre de olho no Alfa — ela pensava que ele era sua passagem só
de ida rumo à fama.
Depois de convencer o casal a estrelar Companheiras Reais da Costa
Leste, Monica conseguiu capturar todo o drama de Sienna e Aiden para
as câmeras — deixando seu relacionamento difícil.
Enquanto isso, Aiden e Josh saíram para caçar Konstantin e, quando o
encontraram, o destruíram. E Jocelyn, que fazia companhia a Michelle
em coma, decidiu usar a cura proibida para trazê-la de volta — ficando
inconsciente como resultado.
No Baile de Inverno, Sienna foi mais esperta que Monica e encontrou
uma maneira de revelar seus segredos sujos, livrando ela e Aiden do Pack
News de uma vez por todas.
Mas com Jocelyn se recuperando no Retiro dos Curandeiros, a
amizade de Sienna e Michelle em jogo e a crença teimosa de Josh de que
o verdadeiro Konstantin ainda está à solta, há toneladas de perguntas
sem resposta. Sem falar na menstruação de Sienna, que estava atrasada.
Então, vamos às respostas...
Sumário
1. Dois se tornam Três
2. Cuidando de Você
3. A Gruma
4. Sem Parar
5. Partindo pra Cima
6. Oh, Querida
7. Visitantes Surpresa
8. Sentindo de Novo
9. Genes Assustadores
10. Choque e Dor
11. A Caça
12. Chá de Bebê
13. Uma Mordida familiar
14. O Retorno da Ladra
15. Não se Transforme
16. Vazio Interior
17. Quem Sou eu?
18. Pai Esquecido
19. Jantar e Respostas
20. Origens de Sienna
21. Abraço dos Amantes
22. Graças a Você
23. Pai X Pai
24. Fuga da Festa
25. Essa Festa virou um Enterro
26. O Toque Afetuoso
27. Para Lumen!
28. O Banquete de Verão
29. A Vingança é Minha
30. Uma Criança Estranha
Capítulo 1
DOIS SE TORNAM TRÊS
Sienna
— Não vejo a hora de comer. Só você e eu, uma mesa tranquila, uma
garrafa de — bem, não de vinho — mas de alguma coisa... — Eu parei
enquanto nos dirigíamos para o restaurante.
Aiden acenou com a cabeça junto comigo.
— Mhm, um jantar tranquilo. Com certeza. Mal posso esperar.
— Aiden Norwood, — eu disse, virando-me para ele. — Diga-me que
você fez a reserva do jantar para nós e apenas para nós, como eu pedi.
— Só nós. — Ele balançou a cabeça rapidamente, mantendo os olhos
na estrada. — Como você pediu.
— De alguma forma, não estou tão tranquila.
— Sienna, querida, eu faria algo para ir contra seus desejos e forçá-la a
fazer algo para o qual não estava preparada?
Eu olhei para seu perfil novamente, desta vez percebendo seu sorriso.
— Eu não sei, e você?
Dirigimos até o manobrista e Aiden abriu a porta, saindo e
entregando as chaves a ele.
Suspirei, tomando sua falta de resposta como uma indicação do que
eu estava prestes a enfrentar.
Meus desejos por uma noite tranquila com meu companheiro se
dissolveram enquanto eu saía do banco do passageiro, caminhando para
pegar a mão de Aiden.
Ele não me olhou nos olhos, o que significava apenas uma coisa.
Meu querido companheiro estava com medo de ser pego.
Inclinei-me para beijá-lo e percebi que ele ficou surpreso ao ver como
suas sobrancelhas se ergueram.
Assim que me afastei de seus lábios, sussurrei em seu ouvido:
— Eu sei que você está tramando algo, Alfa. — E então eu saí,
andando na frente dele para o restaurante.
Assim que pisei dentro das portas, um coro de — SURPRESA! — soou
por toda a sala.
Mesmo sabendo que algo diferente de uma reserva silenciosa para
dois estava chegando, eu não tinha ideia de que seria uma festa surpresa!
Eu gritei de alegria, observando os rostos de todos que amava ao meu
redor.
Minha mãe e meu pai correram para me abraçar primeiro, seguidos
por Selene e Jeremy, que estava segurando a pequena Vanessa.
Em seguida vieram Michelle e Josh, e depois deles estavam Mia, Harry
e Erica, cada um dos meus velhos amigos esperando pacientemente pela
sua vez de dizer — Feliz aniversário.
Olhei por cima do ombro para Aiden, que não estava nem tentando
esconder o quão satisfeito estava com a surpresa — ou consigo mesmo.
— Peguei você, — ele me disse. — Você pulou!
— Eu não, — eu respondi, cruzando os braços em uma raiva falsa.
A verdade é que eu estava em êxtase. Isso era melhor do que ter um
velho jantar tranquilo qualquer noite.
Depois que todos nós nos sentamos na mesa comprida, os garçons
começaram a nos trazer comida. Parecia um fluxo interminável de prato
após prato, todos cheios de nossos favoritos: antepastos, carpaccios,
massas e pizzas suficientes para durar uma vida inteira.
Eu flagrei o olhar de Aiden através da mesa depois de me encher o
suficiente com carboidratos e água com gás.
Seus olhos brilharam para mim e eu pude ver a travessura por trás
deles. Ele tinha algo diferente de comida em sua mente, ele estava me
olhando com aquele olhar e estava me excitando.
Ele disparou seus olhos para o corredor onde ficavam os banheiros e
então olhou para mim.
Eu balancei a cabeça, entendendo imediatamente.
E então me virei para Selene ao meu lado, dizendo:
— Com licença, — enquanto empurrava minha cadeira para trás da
mesa e me levantava.
Eu andei pelo corredor até o banheiro feminino e, assim que entrei,
chamei.
— Olá?
Não houve resposta. Estava vazio.
Perfeito.
Alguns momentos depois, houve uma batida na porta.
Eu abri, e no segundo que eu abri, Aiden estava em cima de mim.
Ele me empurrou contra a parede, beijando meus lábios primeiro,
depois meu pescoço, raspando seus dentes contra minha pele.
Meus olhos se fecharam em êxtase.
Ele estava se abaixando, massageando-me em todos os lugares
enquanto descia — meus seios, minha cintura, meus quadris — e então
ele estava no cós da minha calça jeans, desabotoando-a.
— Espere, — eu disse a ele. — Tranque a porta.
Ele se levantou e foi até a porta.
— Não há fechadura, — disse ele. — A cabine.
Levamos menos de um segundo para chegar à primeira cabine, e
então começamos como adolescentes.
Pior, como lobisomens adolescentes.
Vários membros, por todo o lugar. Ele estava esfregando minha
calcinha, e então seus dedos mergulharam sob ela e me tocaram sem
nada em seu caminho.
— Oh, Deus, Aiden, — eu gemi.
— Você é tão sexy, — ele rosnou em meu ouvido. — Estou muito
animado para começar uma família com você.
— Você vai ser o pai mais gostoso de todos, — murmurei de volta,
seus dedos se movendo cada vez mais rápido.
Eu estava perdendo o controle, completamente no limite, pronto para
explodir.
— Ah, assim, isso!
Eu voei para fora da borda, meu corpo contra a porta do box. Aiden
me segurou com força, mas continuou movendo os dedos,
desacelerando-os pouco a pouco enquanto eu voltava do meu orgasmo.
— Jesus, — eu disse suavemente, recuperando o fôlego.
— Feliz Aniversário. — Ele sorriu para mim, levando os dedos à boca e
sugando-os até secar.
Michelle
Esperei até Sienna e Aiden terem terminado sua pequena sessão de foda
na cabine ao lado da minha antes de sair do banheiro, dando-lhes alguns
minutos para começarem.
Mas assim que voltei para a mesa, peguei meu copo e bati uma faca
contra ele.
Eu não estava agindo com raiva. Não me interpretem mal, fiquei feliz
por eles.
Mas como ousam manter um segredo como este? Como ousam não
dizer às pessoas que mais os amam que estão prestes a ter uma porra de
um bebê?
— Com licença, pessoal, gostaria de fazer um brinde, — gritei para a
mesa, levantando-me da cadeira. Toda a conversa morreu e todos os
olhos estavam em mim.
— Feliz aniversário para minha querida amiga e seu adorável
companheiro. Sienna e Aiden, eu amo muito vocês.
— Nós amamos você, — Sienna gritou de volta.
— E estou tão animada com tudo que este novo ano vai trazer para
vocês dois! Sienna, estou feliz que você comeu todo aquele espaguete,
porque — todos, ouçam bem quando eu digo isso — agora ela está
comendo por dois! Parabéns, pessoal!
Se eu pudesse ter tirado uma foto do olhar que Sienna e Aiden
trocaram, eu teria.
O choque foi impagável.
Sentei-me novamente, esperando o caos se desenrolar.
Capítulo 2
CUIDANDO DE VOCÊ
Sienna
Mia: HUMMM, OLÁ SIENNA.
Mia: O MAIOR
Michelle: YAAAAS
Michelle: Eu fecho.
Michelle: Sienna?
Meu celular vibrou ao meu lado no banco do passageiro e, uma vez que
começou a vibrar, não parou mais.
Eu podia ver os nomes das minhas amigas aparecendo na tela, um
após o outro, mas eu não tinha coragem de ler as mensagens.
Eu sabia do que se tratava.
E eu ainda não tinha superado o que aconteceu na noite passada.
Depois que Jocelyn disse a Aiden e a mim que havíamos feito isso —
criamos uma nova vida, e ela estava crescendo dentro de mim —
concordamos em manter a notícia para nós mesmos.
Não para sempre, obviamente, mas apenas até termos certeza de que
não haveria complicações.
Não é que eu fosse paranoica nem nada. Eu não pensei que nada de
ruim iria acontecer comigo ou Aiden ou o bebê.
Eu só não queria dar grande importância a nada até que estivéssemos
absolutamente certos de que tudo estava bem.
Então Aiden e eu decidimos esperar mais duas semanas até que o
bebê estivesse na marca de oito semanas antes de contarmos a alguém.
Mas Michelle claramente não estava interessada nesse plano.
Não sei como ela descobriu.
Talvez ela tenha ouvido Aiden e eu conversando sobre isso no
restaurante, embora tenhamos tentado ser superdiscretos sobre isso.
Ou talvez Josh nos ouviu conversando no escritório de Aiden na Casa
da Matilha.
De qualquer forma, não fiquei exatamente surpresa.
Se havia algo que Michelle era boa em fazer, era descobrir coisas e
voltar a atenção para ela. E na noite passada, em nossa festa de
aniversário, ela fez as duas coisas.
Então, sim, eu estava um pouco abalada.
Ao contrário dela, eu não gosto de ter toda essa atenção em mim.
Especialmente porque foi tão inesperado.
Estacionei o carro e peguei meu celular, desligando-o antes mesmo de
ler as mensagens. Estava vibrando durante toda a manhã. Recebi ligações
de minha mãe, Selene e até de Jeremy antes de parar de olhar para a tela.
Antes de lidar com qualquer coisa ou pessoa, precisava de café. E
então eu precisava ficar sozinha para poder resolver isso em paz.
Eu corri para o café, rezando para que ninguém que eu conhecia
estivesse lá dentro. Eu sabia que não poderia lidar com qualquer tipo de
interação animada agora.
Eu exalei quando abri a porta e vi alguns adolescentes, mas ninguém
mais.
— Um latte de baunilha grande, — eu pedi, sorrindo para o barista no
balcão. Paguei e, enquanto esperava minha bebida do outro lado do bar,
não pude deixar de me perguntar se estava exagerando.
Não era como se alguém estivesse fazendo algo errado.
Eles descobriram boas notícias sobre Aiden e eu, e eles amavam Aiden
e eu, então é claro, eles iriam tentar nos parabenizar e comemorar.
Esse era um instinto normal.
Até para Michelle!
Talvez ela não tivesse feito aquilo para chamar atenção. Talvez ela
apenas estivesse genuinamente feliz por mim, sua suposta melhor amiga,
e quisesse ter certeza de que todos os outros me banharam com o mesmo
amor.
Talvez todos estivessem certos. Devíamos estar felizes.
Não, devíamos estar em êxtase.
Devíamos querer comemorar.
Devíamos querer falar sobre isso sem parar.
Mas você estava em êxtase, eu me lembrei. Ontem. Antes que todos
descobrissem.
Suspirei, agradecendo ao barista e pegando minha bebida antes de
voltar para a porta. Minha cabeça estava girando. Eu não sabia o que
pensar.
Tudo que eu sabia era que, hoje, precisava de espaço.
Muito espaço.
Josh
Sienna: sei lá
Sienna: Aiden.
Sienna: Aiden...
Aiden: Onde?
Desde o segundo que Josh entrou pela porta da frente, tudo que ouvi foi
choramingo. Choramingando sobre como o Alfa não o estava ouvindo,
lamentando-se sobre como ninguém o leva a sério — choramingando,
choramingando, choramingando.
Ele ao menos se preocupou em perguntar como foi meu dia?
Como eu estava, sabendo que minha melhor amiga engravidou antes
de mim ?
Não.
Não, ele não se preocupou.
Quer dizer, fui eu quem foi literalmente colocada em coma pelo cara.
Eu deveria ter sido a única reclamando. E mesmo se eu não tivesse sido
colocada em coma por ele, eu deveria ter reclamado! Eu que deveria me
fazer de vítima, não Josh!
— Josh, — eu disse docemente, olhando direto para o meu
companheiro. Seus olhos encontraram os meus e instantaneamente seu
rosto se suavizou. Bom garoto. — Eu preciso que você pare de reclamar,
ok?
— Eu não estou reclamando, Michelle.
— Amor. Você está choramingando como uma vadia. E temos coisas
mais importantes para discutir.
— Mais importante do que um vampyro poderoso vindo atrás de
nossa matilha?
— Sim, — respondi, experimentando o sabor de um pequeno pedaço
de frango. — Como, por exemplo, que Sienna está grávida.
— E daí?
— E daí, — eu rebati. — Ela é a primeira a engravidar. Ela e Aiden
foram os primeiros a ter sua cerimônia de acasalamento, e agora eles são
os primeiros grávidos?!
— Isso não é verdade, sua amiga Mia e seu companheiro se casaram
primeiro e tiveram um filho primeiro.
— VOCÊ NÃO ESTÁ ENTENDENDO! — Eu gritei com ele.
Como ele pode ser tão estúpido?!
Ele caminhou ao redor da ilha da cozinha e, quando estava bem na
minha frente, me olhou bem nos olhos.
— Tudo bem, Michelle. Qual é o ponto?
A calma em seu tom, era como se ele estivesse me tratando com
condescendência.
Ah, nem ferrando.
Minha raiva precisava de um alívio, e cozinhar o jantar simplesmente
não iria ajudar.
— Tire suas calças.
— Como é?
— Tire suas calças. Você me ouviu, — eu disse a ele, começando a
desabotoar minha blusa. Assim que ele viu meu decote saindo do meu
sutiã de renda, ele se apressou para desabotoar o jeans.
E então ele estava em mim, me empurrando contra o balcão, beijando
meu pescoço.
— Você é tão sexy quando é espontânea, — ele rosnou em meu
ouvido.
Mal sabia o pobre menino que não era eu sendo espontânea.
Isso era tudo um plano.
Um plano para parar de chegar em segundo lugar.
Sienna
Sienna: Tô indo.
Selene: ISSOOOO
Depois que deixei mamãe e Selene, tudo em que conseguia pensar era no
que elas disseram sobre a Bruma da gravidez. A Gruma, eles a chamavam.
Meu corpo estava uma bagunça de excitação e nervosismo. Aiden e eu
já sentíamos a Bruma mais do que todos os outros. Ele era um Alfa e eu
era dominante, o que significava que nossa luxúria já estava disparada.
Então, o que mais está para acontecer conosco?
Estacionei em nossa garagem e me dirigi para a porta da frente,
pronta para destrancá-la com minha chave, mas assim que coloquei a
chave na fechadura, algo aconteceu.
Era como um choque, de alguma forma frio e quente ao mesmo
tempo, explodindo no meu sexo.
E quando explodiu, deixou arrepios percorrendo cada centímetro do
meu corpo.
Senti cada uma das minhas células vibrarem e todos os fios de cabelo
da minha pele se arrepiarem.
Arrepios percorreram meus membros.
Meus mamilos esticaram e endureceram, ficando ainda mais duros
quando sentiram a renda apertada do meu sutiã em torno deles.
E meu sexo?
Essa foi uma outra história.
Eu estava molhada, pulsando, ansiando de tesão.
E tinha passado apenas um maldito segundo.
Com a mão trêmula, empurrei a porta. Mas eu não me mexi. Eu
estava com medo do que poderia acontecer se eu causasse qualquer tipo
de atrito em qualquer lugar, e meu jeans fosse apertado o suficiente para
ser uma ameaça.
— AIDEN! — Eu gritei e, alguns momentos depois, ele estava
caminhando em minha direção. A visão dele sozinho foi o suficiente para
me empurrar até o limite.
Assim que nossos olhos se encontraram, eu pude sentir a mudança.
Isso o atingiu.
Pra valer.
Suas pupilas dilataram, seus lábios cerraram-se, seus bíceps
pressionados contra o tecido de sua camiseta fina. Observei enquanto
seus músculos se contraíam, enquanto suas bochechas ficavam rosadas.
Jeans justos ou não, eu não podia esperar mais um segundo.
Corri para ele. investindo contra ele, jogando-o no chão. E então não
éramos amigos — não, não mais. Éramos exércitos. Em guerra um com o
outro.
Era uma batalha de quem poderia rasgar suas roupas primeiro, quem
poderia abrir caminho por cima, quem poderia fazer a si mesmo sentir
exatamente o que tinha que sentir na hora certa. Normalmente, eu sou
muito generosa — mas agora não.
Agora, eu estava focada em uma coisa e apenas uma coisa.
Minha própria libertação.
Ele forçou seu caminho em cima de mim, e eu estava espalhando
minhas pernas o máximo que podiam, puxando seus quadris para o meu
sexo, fazendo seu pau duro me esfregar mais forte.
Apenas a renda da minha calcinha nos separava, mas ainda assim, era
demais.
Então minhas mãos deixaram suas costas, onde minhas unhas
estavam arranhando ele, e foram para minha calcinha. Sem pensar
muito, eu separei a renda, até que tudo o que restou foram fragmentos.
Agora estávamos pele a pele, e ele estava se esfregando contra mim,
batendo no meu clitóris a cada movimento para cima.
— PORRA! — Eu rosnei, precisando de mais.
Mais.
Mais.
Mais.
Sem aviso, ele se empurrou dentro de mim. Me enchendo,
bombeando para dentro e para fora sem nenhum sinal de ternura. Eu
abri meus olhos, observando seu rosto. A expressão nele era de luxúria
pura.
Foi primitivo.
Selvagem.
E, ainda assim, ele continuou a meter com mais força.
— AAAHHHHH! — Eu gritei quando senti meu corpo se
aproximando da borda.
Ele ficava cada vez maior e conforme meu sexo apertava e o prazer
aumentava, eu estava meio apavorada com o que estava esperando por
mim do outro lado.
Eu nunca tinha escalado uma montanha tão grande antes.
Nunca senti tanto aperto, tanto prazer, tanta necessidade.
— Eu quero ver você gritar, — Aiden rosnou na minha cara, gotas de
cuspe caindo em mim enquanto ele falava. Era o quão intenso ele estava
falando.
E isso me excitou.
Isso me levou ao meu limite.
Ultrapassou o limite.
E então, antes que eu pudesse entender meus sentimentos, Aiden
começou a bombear com mais força e esfregar meu clitóris com o dedo
ao mesmo tempo.
Já era.
Eu estava voando.
Voando, voando, voando — descendo uma queda sem fim, meu corpo
inteiro tremendo de euforia. Foi a mais doce injeção de pecado, queimando de
dentro para fora, me incendiando. Não consegui abrir os olhos. Não consegui
emitir nenhum som. Eu não conseguia respirar.
Eu ficaria assim para sempre?
Pega na queda livre de uma liberação deliciosa, incontrolável e
incomparável?
Mas então o orgasmo começou a diminuir e eu fui capaz de recuperar
o fôlego, capaz de mover meus braços e minhas pernas. Envolvi minhas
mãos nas costas de Aiden enquanto ele desacelerava seus movimentos e
saía de mim.
Ele tinha terminado também, mas eu perdi. Porque eu estava tão
perdida em minha própria queda livre.
Levei minhas mãos ao rosto dele e percebi que estavam vermelhas de
sangue. Eu levantei minha cabeça e verifiquei suas costas, ofegante.
Eu arranhei sua pele imediatamente.
— Meu deus, eu fiz você sangrar! Isso dói? Você está bem?
Mas Aiden apenas riu, rolando de cima de mim e caindo de costas.
— Eu não sei o que foi isso. Mas puta merda, — ele disse.
— Puta merda, — eu repeti. E então rolei minha cabeça, virando-me
para encará-lo. Ele virou a cabeça para mim também. — Essa é a Gruma,
— informei a ele.
— O quê?
— A Gruma. É a Bruma que atinge apenas uma lobisomem grávida e
seu companheiro, então ninguém mais sente...
De repente, a mesma eletricidade estourou no meu sexo novamente.
Meu corpo inteiro estava formigando, pegando fogo, precisando de
mais satisfação.
Eu olhei para Aiden. Seus olhos estavam selvagens com a mesma
paixão.
Lá vamos nós de novo.
No segundo seguinte, ele estava me carregando para o sofá, me
virando e me penetrando por trás. Metendo, metendo, metendo.
Parando.
Passou. Tive alguns minutos para respirar.
E então, BANG!
Mais eletricidade.
Mais fogo.
Transamos na cozinha, na despensa e no chão da sala de jantar.
Nós transamos no chuveiro, na frente do espelho e na varanda do
quintal.
Comi manteiga de amendoim em seu abdômen e ele pingou cera de
vela no meu peito.
Nada estava fora dos limites.
Nada era demais.
A sensação de satisfação era a única coisa que importava. Era um
esporte de equipe, e nós dois iríamos ganhar prêmios de melhores da
temporada. Porque não podíamos parar — nem mesmo se quiséssemos
— mas a cada rodada era diferente.
A Gruma continuava a mesma, mas a gente estava melhorando.
E puta merda, minha mãe e Selene estavam certas.
Eu estava sentindo isso o suficiente para toda a porra da matilha.
Josh
Depois que Michelle contou o que viu esta manhã, fizemos amor como
se não fizéssemos há meses. Foi suave, terno, urgente e durou pelo que
pareceram horas.
— Isso foi incrível, — eu murmurei em seu ouvido quando estávamos
abraçados depois, a felicidade pós-sexo nos absorvendo completamente.
— Foi. Realmente me fez esquecer... você sabe...
— Ainda temos que lidar com isso, Mich. Vou falar com Aiden. Vamos
elaborar um plano de ataque...
Michelle se sentou na cama, olhando para mim e cruzando os braços.
— Não, não, de jeito nenhum, Josh. Vocês não vão tirar eu e Sienna
disso. Nós somos as únicas que foram consumidas por ele! — Suspirei. —
Eu não quero colocar você em perigo, amor. Se aquele vampyro colocar
um dedo em você de novo, eu não seria capaz de me perdoar.
— Bem, que bom que não me importo muito com o seu perdão a si
mesmo, — ela respondeu. — Porque Sienna e eu fazemos parte disso,
goste você ou não. E estaremos lá para o planejamento. Estaremos lá a
cada passo do caminho.
Sienna
Mia: MDS
Michelle: Sim?
Sienna: SIM!
Eu estava andando com Nina por pelo menos três horas, e depois da
nossa primeira conversa — aquela em que ela disse que não se importava
com o que Aiden fizesse com ela, que ela não podia sair do meu lado —
tinha sido principalmente silêncio.
Não achei que nenhuma de nós soubesse o que dizer.
Hoje foi um dos dias mais estranhos que já tive.
Tanta coisa aconteceu em um período de tempo tão curto e sem
qualquer aviso real. Fui expulsa do Retiro dos Curandeiros. Nina correu
atrás de mim, declarando como se sentia.
E agora nós duas seguíamos em frente na estrada vazia, esperando
que um carro passasse por nós. Eu realmente não pensei que demoraria
tanto para um carro chegar. Pensei em caminhar por alguns minutos, no
máximo, antes de encontrar alguém que me levasse na direção certa.
Mas agora estava escurecendo e eu ainda não tinha dado a Nina uma
resposta adequada.
— Isso provavelmente não era o que você esperava que fosse
acontecer hoje quando acordou esta manhã, hein? — Eu sorri pra ela. Eu
só estava tentando aliviar a tensão no ar ao nosso redor, nos dar alguma
aparência de normalidade.
Ela sorriu de volta para mim, pegando o ramo de oliveira.
— É uma aventura. Nunca sou do tipo que foge da aventura.
Eu ri.
— Estamos só caminhando por uma estrada deserta ao cair da noite,
mas estou feliz que você veja a diversão nisso.
— Jocelyn, eu te disse antes. Eu não me importo onde estamos, não
me importo para onde estamos indo. Eu simplesmente não posso ficar
longe de você, não de novo.
Eu parei no meu caminho.
— Eu pensei em você também, sabe. Bastante.
— Sério?
— Eu me sinto... como se eu fosse uma bagunça total de emoções.
Entre o que aconteceu com Michelle, vir para o Retiro dos Curandeiros e
você... Não sei mais o que pensar.
— Ei, — Nina disse, se aproximando de mim. Ela colocou uma mecha
de cabelo atrás da minha orelha e eu suavizei com o gesto íntimo.
— Tudo bem. Você não precisa saber o que pensar agora. Vamos
apenas continuar caminhando, deixar a noite passar. Certo?
Respirei fundo e concordei.
— Certo.
— Acho que vejo uma luz lá em cima, — disse ela, apontando para a
direita na estrada. Eu apertei os olhos — e com certeza, vi uma luz
vermelha brilhante também.
— Você acha que é um restaurante? Estou morrendo de fome, — eu
disse, começando a caminhar em direção à luz.
— Estou com tanta fome que poderia comer um esquilo, — Nina
entrou na conversa, entrelaçando o braço no meu. Eu ri.
— Um esquilo?
— Qual é, tempos de desespero exigem medidas desesperadas.
Ao nos aproximarmos da luz brilhante, vi a placa do prédio. MOTEL
74.
— É um motel! — Exclamei, sentindo uma onda de alegria passar por
mim. Poderíamos passar a noite aqui, comer um pouco e, em seguida,
começar a andar novamente pela manhã.
Nós empurramos as portas da frente, pegamos as chaves do quarto na
recepção e então seguimos o nosso caminho para o bar velho e sujo.
Surpreendentemente, não estava vazio.
Havia várias pessoas, a maioria mais velhas, sentadas ao redor da sala.
Pegamos alguns banquinhos no bar e nos sentamos. O barman se
aproximou de nós.
— Bourbon para mim, por favor, — eu disse a ele.
Nina me olhou e então assentiu.
— Dois.
Nós engolimos as bebidas e então pedimos uma segunda rodada.
E então uma terceira.
Depois da quarta, rimos tanto que parecia que nada de antes tinha
acontecido. Eu não tinha preocupações no mundo.
— Eu tenho que mijar. — Nina deu uma risadinha ao cair do
banquinho.
— Estarei aqui, — gritei atrás dela.
Peguei meu copo vazio, olhando para ele. A parte inferior era curva,
então mostrava um estranho reflexo de luz. Foi bonito.
— Ei. — Eu ouvi uma voz masculina por cima do meu ombro
esquerdo. Eu girei, observando o homem bonito que estava lá. Ele era
alto, bronzeado, e eu podia distinguir os músculos de sua cintura sob a
camisa.
— Oi, — eu disse. Embora ele fosse objetivamente bonito, depois das
últimas horas que passei com Nina, meu coração não estava batendo
forte por mais ninguém.
E, além disso, minha libido não estava muito alta desde que me
encontrei no Retiro dos Curandeiros.
Não era algo que eu passasse muito tempo pensando porque, como a
possibilidade de perder meus poderes de cura, a possibilidade de perder
minha sexualidade me fazia sentir que poderia me perder.
Mas era verdade. Desde que acordei no Retiro, não sentia quase nada
em termos de desejo sexual. E eu não era estúpida... Eu sabia que a
Bruma estava acontecendo agora. Eu podia ver a fome nos olhos de Nina.
E claro, parte de mim se perguntou se era por isso que ela se recusava
a sair do meu lado.
Que ela pensou que teria sorte comigo novamente, transaríamos
loucamente, e então ela poderia correr de volta para o Retiro ou onde
quer que ela fosse.
Mas a maior parte de mim estava cansada de se preocupar com as
possibilidades. Não era como se eu estivesse acasalando com ela neste
momento. Não tínhamos nenhum tipo de compromisso.
Tudo que eu sabia era que me sentia bem quando estava com ela.
Talvez não tenha entendido bem, mas enfim.
E eu não me sentia bem assim há algum tempo.
— Você está aqui sozinha? — O homem bonito me perguntou, e eu
percebi que estava olhando para o fundo do meu copo novamente.
— Ah. Desculpa, não. Minha amiga está apenas...
— Estou aqui — disse Nina sem fôlego por trás do meu outro ombro,
e me virei para vê-la olhando o homem de cima a baixo. Então ela olhou
para mim, seus olhos brilhando. Como se houvesse algum tipo de
travessura se desenrolando em sua mente.
— Eu não queria interromper, — disse o homem. — Eu posso deixar
vocês duas...
— Não, — disse Nina enquanto pegava a mão dele, colocando a outra
mão no meu ombro.
Ela me olhou intensamente e, de repente, eu sabia exatamente o que
ela estava pensando.
E eu também queria.
Então me virei para o homem e dei-lhe um sorriso sedutor.
— Fica.
Josh
Michelle
Depois de convencer Josh de que iria junto para a caça aos vampyros, não
importava o que acontecesse, arrumamos o carro, sentamos em nossos
assentos e decolamos. Ele estava dirigindo, como sempre, mas eu estava
no comando da música e dos lanches.
Nossa, eu adoro uma viagem.
— Eu estou tão animada! — Eu gritei do banco do passageiro,
estendendo a mão para beliscar a bochecha de Josh. — Você não está
animado? Você, eu, a estrada, fast food...
— Esta não é uma viagem de um ano sabático, Michelle! — Josh
zombou. — Isso é sério. Estamos em uma missão.
— Ah, certo. — Eu balancei a cabeça, fingindo seriedade. — A missão.
Ele se virou para mim, sorrindo.
— Você vai manter essa atitude durante todo o trajeto? — ele
perguntou, trazendo sua mão para a minha coxa e apertando.
Eu estava prestes a responder com uma excelente resposta quando —
eletricidade rasgou meu corpo.
E não o fogo suave da eletricidade da Bruma.
Não, estou falando do fogo, do formigamento, cada célula dentro do
meu corpo explodindo de eletricidade.
Todos os meus músculos se contraíram de uma vez, e cada
centímetro da minha pele ficou hiperconsciente do que a estava tocando.
Mas precisava de mais.
Eu precisava de mais.
Eu precisava de sexo.
Eu precisava de sexo primitivo, urgente e perigoso.
Eu olhei para Josh, sabendo que meu rosto estava contorcido em uma
bagunça voraz e movida pela luxúria. Mas o dele parecia exatamente o
mesmo.
Eu podia ver em seus olhos, em sua boca.
Ele estava tão consumido pela necessidade.
— AGORA, — eu disse, não sendo capaz de formar mais palavras. Josh
parou no posto de gasolina à frente.
Saltei do carro, correndo para o banheiro lá dentro. Se Josh não
estivesse aqui nos próximos três segundos, eu cuidaria de mim mesma.
Naquele momento.
Na verdade — foda-se. Eu decidi me virar sozinha.
Rasguei minha calça jeans e mergulhei meus dedos dentro de mim.
Instantaneamente, meu corpo desabou no chão, minhas pernas
incapazes de me segurar. Mas não importa. Eu não me importei. Meus
dedos continuaram se movendo.
A porta do banheiro se abriu.
A ideia de trancá-la nem havia passado pela minha cabeça.
E lá estava Josh, mais gostoso do que nunca, me observando me
enlouquecer.
Bem, pensei. Esta deve ser a Gruma.
Capítulo 12
CHÁ DE BEBÊ
Aiden
Michelle
Josh estava dirigindo pela estrada quando senti meu celular vibrar no
bolso. Alcancei-o no meu bolso e li a tela.
E então meu estômago afundou.
— MERDA!
— O que foi? O que aconteceu? — Josh perguntou, virando seu rosto
para mim.
— É o chá de bebê! Agora mesmo! Todo mundo está lá, Josh. Sienna
vai ficar tão chateada! Vamos, vamos voltar. Vamos dar a volta! Ainda dá
tempo — Querida, já estamos dirigindo há três horas! Estamos muito
longe. Não podemos simplesmente dar meia-volta agora.
— Mas não podemos simplesmente não aparecer no meu maldito chá
de bebê!
Josh exalou, trazendo sua mão no meu colo para apertar minha mão.
— Você tem que pensar sobre as prioridades, Michelle. Sim, é uma
merda não estarmos lá. Mas estamos fazendo isso por um bom motivo,
certo? Estamos rastreando o cara que é uma grande ameaça para todos,
incluindo Sienna.
Ele olhou para mim novamente e vi que seus olhos estavam cheios de
determinação. Ele tinha se barbeado na noite passada e eu dei adeus para
aquela barba enorme que ele não tirava desde que eu acordei do coma. E,
meu deus, aquele homem estava incrível.
Suspirei.
— Tá. Tá bom. Talvez você esteja certo...
— Eu estou certo, amor. Você vai ver. Quando estivermos todos sãos e
salvos daqui a cinco anos, ninguém vai se lembrar do chá de bebê que
perdemos.
— É melhor que seja verdade, — respondi, deslizando meu celular de
volta no bolso e recostando-me no assento. Talvez eu devesse ter
respondido a ela... Porra, eu definitivamente deveria ter respondido a ela.
Mas o que iria dizer?
Oi, Sienna, sinto muito, mas não vamos chegar ao chá de bebê que foi
feito em nossa homenagem, bjs?
Eu acho que não.
Então fechei meus olhos, tentando drenar a energia negativa de
minha mente.
Estávamos em uma missão.
Josh e eu éramos as únicas pessoas que realmente estavam fazendo
algo para destruir Konstantin. Enquanto Sienna e Aiden comiam ovos e
bacon, estávamos caçando o último cara que interagiu com o vampyro.
Isso estava certo. Depois da minha pequena conversa estimulante
com Josh, ele ergueu a cabeça e fez algumas pesquisas sérias. Ele
encontrou um artigo de jornal de uma cidade a quase 400 quilômetros
de distância, sobre um homem que foi mordido por uma criatura.
Mas não era um lobisomem.
E a foto que acompanhava o artigo mostrava exatamente a mesma
mordida que havia no meu pescoço. Dada por Konstantin.
Razão pela qual estávamos na viagem, íamos caçar a outra vítima e
obrigá-lo a nos contar tudo o que sabia.
Josh estava certo. Isso era mais importante do que comer waffles e
receber elogios sobre como minha pele estava brilhando. Poderíamos ter
waffles e elogios a qualquer dia. Mas hoje estávamos em uma missão. E
ponto final.
Josh saiu da rua em que estávamos e entrou em um estacionamento.
Eu apertei os olhos para o enorme prédio de tijolos à nossa frente.
Parecia antigo como se tivesse estado lá por muito mais tempo do que
qualquer um de nós.
As letras brancas acima das portas da frente diziam: SANATÓRIO
MARPETTON.
— Querido, — eu consegui dizer. — Isso é tipo... um hospício?
Ele se virou para mim e vi o desconforto em seus olhos.
— O jornal dizia que se chamava Centro Marpetton. Achei que fosse
um centro de cura ou algo assim...
Engoli em seco.
— Bem, vamos acabar com isso.
— Espere um segundo, — disse ele, empurrando-me de volta contra o
meu assento. — Você vai ficar aqui. Não vou deixar você entrar em um
hospício. Mich, e se o cara for louco?
— Claro, ele é louco! Ele está em um hospício! — Eu gritei. — Mas eu
vou. Nós dirigimos todo o caminho até aqui e somos uma equipe,
lembra?
— Mas você está grávida!
— Sim, e da próxima vez que você usar isso contra mim, vou enfiar o
salto da minha bota bem na sua boca. Então pare de reclamar como uma
cadela e vamos para o maldito hospício.
Eu não esperei por sua resposta e saí do carro.
Capítulo 13
UMA MORDIDA FAMILIAR
Jocelyn
O brunch estava quase pronto, mas eu não aguentava mais ficar na sala
dos fundos. Havia muita felicidade ali. Muita futilidade. E eu não estava
nem um pouco a fim de futilidades naquele momento.
Então disse a Selene que iria ao banheiro e fui ao bar principal do
restaurante. Sentei-me em um banquinho e observei as pessoas ao meu
redor beberem coquetéis de brunch, nenhuma delas se importando com
o mundo.
Eles não estavam preocupados com curandeiros assustadores ou
sogros ou com a composição genética desconhecida de seu filho prestes a
nascer. Não, eles só estavam preocupados em conseguir outro Bloody
Mary o mais rápido possível.
— Isso não se parece com o banheiro. — Eu ouvi a voz de Aiden atrás
de mim. Normalmente, sua voz era o suficiente para colocar um sorriso
no meu rosto, mas eu estava com um humor ainda mais azedo hoje.
Entre a experiência com o curandeiro ontem, a incerteza sobre o que
tinha acontecido que causou a dor e o chá de bebê conjunto para o qual
minha outra anfitriã nem se incomodou em aparecer, eu estava em um
buraco escuro e não via saída.
— Eu só precisava de um segundo para respirar, — eu disse, virando
minha cabeça para olhar para ele.
— Só mais um pouco, — ele me assegurou, levando as mãos aos meus
ombros. Ele começou a massageá-los, mas o contato me fez recuar. Eu
deslizei para longe de seu alcance.
— Por favor, Aiden. Posso apenas... ter um minuto?
Ele olhou para mim como se eu tivesse dado um tapa nele.
— Por favor?
— Uh, tá, — disse ele com uma dor nos olhos. — Claro, — ele
murmurou, se afastando.
Josh
Assim que percebi que Michelle havia partido, assim que a vi virar a
esquina do corredor, saí atrás dela.
— Ei! Ei, cara, eu disse que você não pode ir... foda-se! — Eu ouvi o
cara da recepção chamar atrás de mim e então ouvi seus passos vindo da
mesa e ganhando velocidade.
Então também comecei a correr.
Ele estava me perseguindo e eu estava correndo pelo corredor,
virando a esquina, e então fiquei preso.
Havia cinco portas diferentes na minha frente, levando a diferentes
corredores. Eu não sabia por qual Michelle havia descido.
Mas o cara da recepção estava bem atrás de mim.
— EI! — ele gritou.
Então eu escolhi uma e corri.
Continuei correndo pelo que pareceu uma hora, entrando e saindo
dos corredores, das portas, dos quartos.
Não consegui encontrá-la em lugar nenhum.
Não conseguia nem dizer se estava atravessando um novo terreno ou
se estava correndo pelos mesmos lugares indefinidamente. Tudo parecia
o mesmo.
O mesmo piso de linóleo, as mesmas paredes brancas amassadas.
Estéril e nojento ao mesmo tempo.
Mas continuei correndo, mantive meus olhos alertas. E foi então que
ouvi os gritos.
Eram gritos de homem e pareciam perturbados.
Siga-os, instruí a mim mesmo.
Conforme eu ficava cada vez mais perto dos gritos, senti o pânico
começar a me consumir. Michelle, que estava grávida, poderia estar
sozinha com um monstro insano. Um monstro insano pode estar
gritando com minha companheira grávida.
Eu irrompi pelas portas, encontrando um desgraçado de aparência
maluca gritando com Michelle, que estava encolhida em uma cadeira.
— EU NÃO FALO COM DESGRAÇADAS COMO VOCÊS,
MALDITAS, TENTANDO ME ROUBAR! TENTANDO ME ROUBAR
TUDO!
Eu não parei.
Eu não pensei.
Eu apenas corri pela sala, derrubando o filho da puta no chão.
Ele bateu a cabeça com força contra o chão e pude ver a confusão em
seus olhos. Eu aproveitei isso como nossa chance de fugir.
Pulei de cima dele, agarrando a mão de Michelle e puxando-a de volta
pelo corredor, passando por todos os quartos, até estarmos de volta no
saguão. Então eu a puxei pelas portas do hospício.
Aiden
Jocelyn: Oi, Aiden.
Sienna: Oi pessoal.
Selene: É fim de semana!
Mãe: Sienna, aqui é a mamãe de novo. Não gosto que você esteja
trabalhando tanto.
Mia: Mich.
Não pude acreditar no que tinha acabado de ler. Não tinha como. Sienna
era a mulher mais poderosa que conheci. Se alguém foi feito para ser
mãe, era ela.
Como ela poderia, de todas as pessoas...
Lágrimas brotaram dos meus olhos quando Josh olhou, com as mãos
no volante, ainda nos dirigindo pela rodovia.
— O que é isso, o que há de errado? — Ele perguntou.
— É... a Si. Ela... meu Deus. Eu não posso acreditar nisso. Precisamos
voltar.
— O quê? — Josh perguntou, confuso. — O que você está falando?
Depois de tudo que acabamos de descobrir sobre Konstantin? Depois de
chegarmos até aqui, não podemos...
— JOSH! PARE A PORRA DO CARRO!
Josh pisou no freio e derrapou no meio-fio enquanto os carros
passavam por nós na rodovia. Ele parecia em pânico de repente. Minhas
mãos estavam cruzadas em volta da minha barriga.
— Você está bem? — ele perguntou. — É o... bebê?
— O nosso está bem, Josh. Não tem nada a ver com isso.
— Então o que?
— Sienna. Ela perdeu o dela.
Josh olhou para baixo, horrorizado. Eu olhei para cima, tentando
conter as lágrimas. Nenhum de nós dois conseguia se olhar, sentindo a
mais estranha sensação de culpa. Saber que nosso bebê ainda tinha um
futuro enquanto o de Sienna e Aiden...
— Você está certa, — disse Josh. — Nós temos que voltar. Eles
precisam de nós agora.
Eu concordei.
Pela primeira vez, eu estava colocando minha amizade com Sienna
acima de tudo. Tínhamos nossos desentendimentos no passado e, claro,
a garota podia ser uma vadia total às vezes, mas ninguém merecia isso.
Principalmente minha melhor amiga.
— Josh, vá o mais rápido que puder, — eu disse. — Ela não pode ficar
sozinha agora.
— Eu sei.
Com isso, Josh esperou até que nenhum carro estivesse atrás de nós,
em seguida, fez uma conversão proibida e acelerou o mais rápido que
pôde de volta para casa.
Konstantin teria que esperar.
Estar lá com Sienna era tudo o que importava agora.
Jocelyn
Erica: Si!!!
Aiden: Tá brincando?
Eu temia esse momento desde que falei pela primeira vez com a mãe de
Aiden, Charlotte. Foi ela quem me contou o que descobriu sobre minha
verdadeira linhagem.
Sobre Rowan e seus poderes divinos.
Sobre o que meu corpo era e não era capaz de fazer.
Eu estive lutando com a epifania desde então, sem saber como
categorizá-la ou o que significava para o futuro entre mim e meu
companheiro.
Afinal, Aiden era um Alfa. E um Alfa precisava de filhotes para
continuar sua linhagem. Ele ainda me amaria, ainda seríamos uma
família... se nunca pudéssemos ser mais do que nós dois?
— Sienna, o que ele está dizendo? — Aiden perguntou, em pânico. —
O que está acontecendo?
Sienna suspirou.
— Existem alguns seres tão poderosos que são privados da capacidade
de procriar. Trazer outra vida ao mundo iria desequilibrar o universo.
— Llinos nunca permitiria isso, — disse Rowan com um aceno de
cabeça. — Não depois das circunstâncias que envolveram o nascimento
de Sienna.
— Mas isso significa... — Aiden começou. Mas ele não conseguiu
continuar.
Porque se ele dissesse as palavras em voz alta, isso as tornaria reais.
Isso significaria que ele teria que viver com essa verdade enquanto
vivesse.
Eu podia ver no que aquilo ia dar. Eu podia ver que aquilo iria destruí-
lo. Mas eu não tive escolha a não ser confessar.
— Isso mesmo, Aiden, — eu disse, balançando a cabeça enquanto
lágrimas começavam a se formar em meus olhos. — Eu sinto muito.
Isso foi pior do que um aborto espontâneo. Isso era pior do que uma
violação por um vampyro malvado. Isso era pior do que todos os segredos
do passado combinados.
Porque esse deveria ser o nosso futuro.
— Não diga isso, — Aiden sussurrou.
— Eu preciso, Aiden, — eu disse. — Você tem que ouvir. Porque é a
verdade.
Então, finalmente, enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto,
contei a Aiden o que estava escondendo. Eu confessei, sabendo que
nunca seríamos os mesmos. Eu amaldiçoei nós dois.
— Aiden, — eu sussurrei. — Eu não posso ter filhos.
Capítulo 21
ABRAÇO DOS AMANTES
Josh
Selene: O quê?
Selene: O quê?
Selene: E daí?
Sienna: (emoji rindo com uma gota na cabeça) Sienna: Não vou
sair dessa, vou?
Selene: Não.
Selene: Vem logo
Eu não tinha certeza por onde começar, mas sabia que quanto mais eu
esperasse, mais agonizante seria.
Para Sienna e eu, ambas.
Estávamos sentadas no escritório de sua irmã, rodeadas por vestidos e
designs que Selene havia criado. Sempre me esquecia da família
estranhamente talentosa de que Sienna veio.
— Como são lindos, — eu disse, tocando um vestido midi justo, a cor
vibrante de um pôr do sol. — Este especialmente.
— Isso é para o Banquete de Verão, — disse Sienna. — Selene fez esse
especialmente para mim.
— Já está chegando? — Perguntei.
— Acredite ou não, — disse Sienna, balançando a cabeça. — Muita
preparação para fazer.
— Tenho certeza.
Eu estava protelando, e Sienna sabia. Ela inclinou a cabeça para mim,
curiosa.
— Então, o que a traz aqui, Jocelyn? Eu disse por mensagem que
minha saúde está bem. Foi uma recuperação muito fácil.
— Estou muito feliz em ouvir isso, mas eu... — Eu parei. — Eu preciso
te contar uma coisa.
Eu não queria contar nada a Sienna. Ela parecia estar fazendo
progresso, como se estivesse florescendo mais uma vez em seu antigo eu.
Como eu poderia derrubá-la agora?
Principalmente com notícias tristes como aquela.
Mas me lembrei do que Nina havia me falado. Eu precisava ser
honesta. E imaginando que a ladina estava ao meu lado, segurando
minha mão, me dando força, falei.
— Sienna, eu olhei os formulários do hospital. E não é tão simples
quanto pensávamos originalmente. Você não teve um aborto normal.
Você é... você não pode ter filhos, Sienna. Eu sinto muito.
Eu cuspi o mais rápido que pude, então quando Sienna não reagiu,
presumi que era porque eu não tinha falado com clareza suficiente.
— Hum, — eu disse. — Você ouviu o que eu...
— Sim, Jocelyn. — Sienna acenou com a cabeça. — Eu já sei.
— O quê?! — Eu perguntei, chocada. Essa era a última coisa que eu
esperava que Sienna dissesse. — Por que você me deixou...
— Eu queria ouvir isso de você. Para ter certeza.
Senti uma onda de constrangimento me invadir.
E pensar que eu a fiz ouvir essas notícias terríveis duas vezes seguidas.
Mas Sienna parecia calma e decidida.
Claro, ela estava triste. Mas não tão arrasada quanto eu esperava.
Como se estivesse lendo minha mente, ela assentiu.
— Tenho aprendido muito sobre quem realmente sou e de onde
venho ultimamente. E é... apenas a maneira como fui feita. Não há nada
que possamos fazer.
— Mas você não está... chateada?
— Eu estou, é claro. Mas se aprendi alguma coisa sendo acasalada
com o Alfa, é que você não pode lutar contra sua própria natureza. Se
isso é o que eu sou, isso é quem eu sou.
Fiquei surpresa ao ouvir Sienna falar sobre essa tragédia com tanta
graça e equilíbrio. Levaria um tempo para ela aceitar completamente, é
claro. Ela não iria se curar do dia para a noite.
Mas ela estava pensando da maneira certa.
Peguei suas mãos nas minhas e sorri.
— Estou tão orgulhosa de você, Sienna. E sinto muito se alguma vez
falhei com você. Como sua curandeira. Como sua amiga.
— Não, Jocelyn, — disse Sienna. — Michelle está viva graças a você.
Eu estou viva graças a você.
— Você não me deve desculpas. Nem agora, nem nunca.
Eu estava prestes a abraçar Sienna quando seu celular tocou e ela
procurou em sua bolsa para verificar.
Sienna
Aiden: Venha para a Casa da Matilha.
Sienna: Oi.
Sienna: Uh.
Rowan: Eu...
Rowan: Eu adoraria...
Sienna: Ótimo
Quando ele entrou, eu não sabia como a sala iria reagir. A maioria deles
não sabia quem era o estranho barbudo.
Mas eu sabia.
E eu sabia que Melissa e Robert, os pais adotivos de Sienna, tinham
ouvido tudo sobre ele. Pai biológico de Sienna. Rowan.
— Oi, Rowan — disse Sienna, dando-lhe um abraço de lado estranho.
— Hum, permita-me apresentá-lo aos meus pais. Melissa e Robert. Este é
Rowan. O... homem de quem falei.
Não culpei Sienna por não saber como lidar com esse cenário
extremamente bizarro. Quando seus pais se encontraram, ambos
pudemos atestar, era difícil que fosse sair como planejado.
Robert foi o primeiro a apertar a mão de Rowan.
— Bem-vindo, — disse ele simplesmente.
Melissa apenas acenou com a cabeça secamente. Apesar de ser a
mulher mais gentil e simpática do mundo, acho que a mãe de Sienna não
sabia como reagir à presença dele.
— Bem, vou deixar vocês todos falarem, — disse Sienna. — Ou não. O
que você quiser. Rowan, tem uma torta.
— Obrigado, Sienna, — disse ele, sorrindo calorosamente e saindo
para pegar um pouco.
Então ela se virou para mim e seus olhos se arregalaram como se
dissessem, o que diabos eu estava pensando?!
Eu ri.
— Ei, eu acho que foi um belo gesto.
— Aiden!
Eu me virei para ver Josh, acenando para mim perto da mesa. Eu
ainda estava coberto de torta, de qualquer maneira, então foi uma boa
desculpa para deixar minha companheira por um segundo.
— Vou pegar mais guardanapos, — falei, beijando sua bochecha. —
Estou grudento por toda parte.
— Toda parte mesmo?
Após o momento desta manhã, fiquei surpreso ao encontrá-la
flertando. Mas talvez sua dor fosse como a Bruma. Ele ia e vinha.
— Já volto, — eu disse com uma piscadela.
Eu me juntei a Josh, parecendo que ele queria falar de negócios.
— Alguma notícia de Raphael? — Perguntei.
— Não, — disse Josh, balançando a cabeça. — Mas tenho algumas
ideias sobre como podemos encurralar Konstantin. Então, eu estava
pensando...
— Ele não pode ser encurralado.
Nós dois paramos, surpresos ao encontrar Rowan, segurando um
garfo, comendo um pedaço de torta. Ele estava escutando.
— Hum, — Josh disse, irritado. — O que você quer dizer?
— Se o vampyro pode possuir múltiplas formas, ele não pode ser
cercado, pode? — Perguntou Rowan.
— Ele tem razão, — eu disse. — Rowan, o que você sugere?
Mas antes que ele pudesse abrir a boca, Melissa apareceu, parecendo
irada.
— Ei! — ela gritou. — Estão falando de negócios?
— Só um pouco, — eu disse, confuso com a reação dela. A mãe de
Sienna geralmente era a definição de alegria. Mas não agora.
— Nós concordamos que não haveria discussão de negócios hoje,
lembra?
— Com certeza, — eu disse. — É apenas...
— Aiden, depois de tudo o que minha filha passou, você pode deixá-la
descansar por um momento?
— Querida, — disse Robert, se aproximando, — Não precisa ficar
chateada. Tenho certeza que foi apenas um deslize, certo?
— Na verdade, era uma conversa bastante importante, — Rowan
argumentou, dando outra mordida. — Não vejo por que precisava ser
interrompido.
Eu dei uma olhada em Sienna. Felizmente, ela estava ocupada demais
conversando com Michelle para perceber o que estava acontecendo aqui.
O rosto de Melissa estava ficando vermelho.
— Com licença, quem é você mesmo? — ela perguntou a Rowan — O
homem que acabou de entrar em nossas vidas e espera ser tratado como
família?
— Opa, espera aí, — eu disse, levantando minhas mãos. — Acho que
todos deveriam se acalmar por um segundo.
— Eu disse a você, Aiden, — disse Melissa, a voz crescendo frenética.
— Este não é o tipo de ambiente de que Sienna precisa agora! Não após...
Melissa parou no meio da frase, sufocando. Um soluço involuntário
escapou de seus lábios. Eu empalideci. Não era assim que eu esperava que
esse dia acontecesse.
Eu não tinha percebido o quão afetada Melissa tinha sido pelo aborto.
Virei para Sienna em busca de ajuda, mas desta vez, felizmente, ela já
estava a caminho. Parecendo confusa sobre o motivo de toda a comoção.
Sienna
Cada vez que eu sentia que estava progredindo, como se fosse mais eu
mesma, como se o mundo estivesse se tornando um pouco mais
suportável, algo assim acontecia.
Um dedo do meio direto do universo.
Lembrando-me que nada era melhor e todas as surpresas, abraços e
beijos não podiam apagar o que tinha acontecido comigo.
Com Aiden.
Com o que deveria ser nossa família.
Eu encontrei lágrimas escorrendo de meus olhos enquanto corria
para fora da Casa da Matilha, mal percebendo que estava sendo seguida.
— Sienna! Espere!
Finalmente me virei para ver Michelle correndo atrás de mim. Eu
continuei andando. Eu não iria parar para ninguém. Nem mesmo para
minha melhor amiga. Seria apenas mais fingimento.
Mais uma vez teria que agir como se tudo estivesse bem quando
claramente não estava.
— Sienna, por favor! — Ela gritou atrás de mim. — Eu não posso
correr de salto. Isto é ridículo.
Finalmente, eu me virei.
— Não estou pedindo que você me siga, Michelle. Estou
perfeitamente bem sozinha.
— Garota, — disse ela, balançando a cabeça, ofegante, — Depois do
que aconteceu lá, eu sei que não pode ser verdade.
Michelle estava aqui para me motivar. Para me fazer voltar para
dentro. Para enxugar minhas lágrimas e me deixar bonita e apresentável.
De jeito nenhum.
No momento, eu não estava interessada em uma palavra que ela ou
alguém tivesse a dizer. Continuei andando, me aproximando da rua
agora, avistando um ponto de ônibus.
— Tá falando sério, Si?! — Ela gritou atrás de mim. — Aonde você vai
agora?
— Qualquer lugar longe daqui.
Finalmente, parei e sentei perto do ponto de ônibus, cruzando os
braços. Eu estava decidida. Michelle se jogou no assento ao meu lado,
suada.
Ela pegou um lenço de papel da bolsa e enxugou o suor da testa.
Então ela me ofereceu um novo.
— Estou bem, — eu disse.
— Eu acho que você está longe de estar bem. E por um bom motivo.
Isso foi tão estranho. Tipo muito estranho. A propósito, como você corre
tão rápido? Estou tão fora de forma assim?
— Isso limpa minha mente. Me mover. Correr. Fazer qualquer coisa
para não falar ou pensar.
Michelle encolheu os ombros.
— Justo. Não sou muito especialista nessa área. Costumo falar sobre
tudo. Mas... se atividade sem sentido é o que você prefere agora, tenho
algumas ideias.
Ela pegou seu celular e eu balancei minha cabeça. Às vezes, minha
amiga era muito sem noção e contraditória.
— Michelle, — eu disse, frustrada, — Não dá pra ter ideias e pensar
em algo sem sentido ao mesmo tempo.
— Au contraire, amiga! — Ela exclamou teatralmente.
— Verifique seu celular.
Eu tirei para fora. Já estava vibrando tão rápido que eu mal conseguia
acompanhar as mensagens que chegavam.
Michelle: Meninas
Erica: E também...
Erica: tô tentando achar uma foto boa pro meu perfil no Shifter.
(emoji de mulher com uma mão no cabelo) Mia: (emoji com cara
de nojo)
Michelle: Garotas!
Michelle: Foco!
Sienna: Ok.
Michelle: uhullllllllllllllll
Erica: Tô me trocando.
Aiden: Sienna?
Aiden: SIENNA!
Sienna: Lupine.
Sienna: O clube.
Aiden: Tô indo.
Capítulo 26
O TOQUE AFETUOSO
Sienna
Josh: Sério.
Michelle
Sienna: Ugh
Michelle: Ok.
Cada vez que eu via Eve, eu me lembrava de como aqueles olhos roxos,
uma vez, me fizeram sentir. Como se eu estivesse perdendo minha
cabeça. Como se eu fosse a única que pudesse vê-la.
Mas agora, enquanto ela entregava canapés para sua filha tranquila,
uma linda filha com um brilho estranho nos olhos, eu achei estranho que
eu alguma vez a tivesse considerado intimidante.
Ela parecia uma mãe agora.
Algo que eu nunca poderia ser.
Michelle já estava enchendo a cara com todos os aperitivos que
conseguia pegar dos garçons que passavam. Um efeito colateral de estar
grávida, sem dúvida.
Eve notou, dando a Michelle um sorriso.
— Você está grávida?
— Como você... — Michelle disse, parecendo mortificada. — Eu nem
estou com barriga ainda!
— Ah, é apenas um sentido que eu tenho, — Eve disse. — Nada para
se preocupar. Você vai adorar ser mãe. Eu adoro.
Ela beliscou a bochecha de Snow, e fiquei surpresa com o quão
calorosa aquela vampira poderia ser. Sempre pensei em sua espécie como
de sangue frio, especialmente depois de minhas experiências com
Konstantin.
— Ele é um vampyro, — ela disse. — Há uma certa diferença.
Uau. Ela acabou de ler minha mente?
Ela acenou com a cabeça mais uma vez.
— Desculpe, mau hábito.
Olhei para Snow e me perguntei por que nunca a tinha visto antes.
Afinal, eu tinha conhecido o Alfa do Milênio e sua companheira algumas
vezes antes.
Onde estava Snow?
— Posso te perguntar uma coisa, Eve? Sua filha, por que nunca...
— Snow, — Eve disse a sua filha. — Você gostaria de contar a eles?
Snow deu uma mordida em um biscoito e então seus olhos grandes
encontraram os meus.
— Me salvou. De má divindade. Mamãe e papai.
— Essa é a versão resumida, mas sim, exatamente, — Eve disse com
um sorriso. — Não sei o que faria sem você, Snow.
Snow sorriu e pressionou a cabeça contra o braço da mãe. Embora
tenha sido um movimento estranho, o afeto era puro e real e fez meu
coração gritar.
Eve pegou minha mão um segundo depois, percebendo, lendo minha
mente novamente.
— Eu sinto muito, Sienna. Eu não...
— Está tudo bem, — eu disse. — Ver o que poderia ser é o suficiente.
— Não tem que ser assim, sabia? — Eve disse. — Existem outras
maneiras.
Eu pensei sobre isso. Afinal, eu mesma fui adotada. Mas a ideia de
criar um filho que não compartilhasse nenhuma parte de mim... um
estranho?
Sim, eu fui criada assim, eu acho. Mas, ainda assim, algo sobre isso
parecia estranho.
— Um dia, você será mãe, — Eve disse. — Disso, não tenho dúvidas.
Ela pegou minha mão e eu fiquei tão emocionada que não notei
Michelle deixando cair o prato. Mesmo quando ele caiu no chão, eu não
me virei.
Achei que minha amiga só devia ter sido desajeitada. Mas então ela
me mostrou.
— Sienna, olhe...
A estranha marca no braço de Michelle, de onde o piche de
Konstantin a queimara, parecia estar... brilhando. E percebi, em pânico,
que não estávamos sozinhas na sala de reuniões.
— Ele está aqui, — eu disse.
Eve instintivamente agarrou a mão de Snow e a levou até uma porta
secreta.
— Venha, temos que tirar você daqui, meu amor.
Antes de fugir, Eve me deu uma última olhada e ouvi sua voz em
minha cabeça.
Não tenha medo dele. O vampyro não é tão poderoso quanto pensa que é.
Em seguida, as portas se abriram para o salão de assembleia, e toda a
sala ficou em silêncio. Parado ali, no terno mais elegante, seu cabelo
preto penteado para trás, estava o homem que entrou em minha mente e
violou minhas memórias.
O vampyro que matou minha mãe.
A criatura maligna que torturou Aiden e eu desde então.
— Ora, ora, ora, — Konstantin berrou. — É isso o que eu chamo de
festa!
Você sabia que temos OUTRA história que se passa no mundo dos Lobos
do Milênio?!
Vá para a página de buscas e cave suas presas em...
Devil vs. Alfa
Eve é muito poderosa e não vai parar por nada para completar sua mais nova
missão: proteger a vida de duas adolescentes. Mas existem distrações...
Nos vemos lá!
Capítulo 29
A VINGANÇA É MINHA Sienna
Ele estava em todo lugar e em lugar nenhum ao mesmo tempo.
Enquanto Michelle e eu agarrámos as mãos uma da outra, circulando,
girando, diferentes versões de Konstantin começaram a surgir na
multidão. Cópias.
Todos eles pareciam idênticos. Todos eles sorriram, seus dentes
afiados brilhando. E todos eles estavam encurralando Michelle e eu no
meio do salão da Matilha de Lumen.
— Qual deles é realmente ele? — Michelle perguntou em pânico. —
Cadê Josh e Aiden?
— Não se preocupe, — eu disse, embora estivesse morrendo de medo.
— Tenho certeza de que há um plano.
— Um plano? — Um dos Konstantins riu. — Por favor. Seus homens
não sabem nada sobre planos. Eu, no entanto, sou um mestre dos planos.
— Esta é a parte em que você nos conta o que tem planejado o tempo
todo? — Eu perguntei com os dentes cerrados. — Porque ninguém está
interessado.
— Pelo contrário, — outro Konstantin interrompeu enquanto eu me
virava para encará-lo. — Eu acho que se você soubesse o que está em
jogo, você ficaria muito interessada. De qualquer forma, você certamente
ficou intrigada quando entrei em sua mente, Sienna... não ficou?
Ele estava brincando comigo. Tentando me fazer sentir pequena.
Lembrando-me de sua violação como se estivéssemos jogando um
joguinho. Senti minhas mãos se transformando em garras enquanto
minha raiva aumentava.
— JOSH! — Michelle gritou ao vê-lo no meio da multidão.
Mas Josh ainda estava como uma estátua, acenando para alguns de
seus guerreiros, dispersos pela sala, cada um escolhendo uma versão do
vampyro para seguir.
Ele estava jogando em silêncio, tentando descobrir o verdadeiro
Konstantin.
— Ele não pôde salvá-la da última vez, Michelle, — outro Konstantin
ronronou cruelmente. — O que te faz pensar que ele está à altura do
desafio agora?
— O QUE VOCÊ QUER?! — Michelle berrou.
Tentei agarrar a mão da minha amiga, para mantê-la calma, mas ver
aquele vampyro em carne e osso e tantos imitadores dele, aliás, estava
claramente bagunçando sua cabeça.
Depois do que ele fez com ela, como não poderia?
— O que eu quero é simples, Michelle, — outra voz soou. Não
podíamos nem ver essa versão de Konstantin. Havia tantos nos cercando
agora. — Eu quero os poderes mais raros do universo. O tipo que
pertence apenas a indivíduos muito especiais. Como você... Sienna.
Um dos Konstantins ergueu um dedo e apontou para mim.
Então outro.
Até que todos eles estivessem apontando.
Foi a visão mais enervante que eu já vi.
Agora, até eu estava me perguntando onde diabos Aiden e Raphael
estavam.
— Anos atrás, seu sangue teria sido perfeito, — disse um dos
Konstantin. — Era puro, o de uma criança imaculada. Agora?
Todos eles baixaram as mãos.
— Não é nada.
Diferente da dele ...
E então eles apontaram para o altar enorme no centro da sala. No
topo dela, de repente, um pequeno pacote apareceu e uma voz chorando
ecoou.
O choro de uma criança!
— Essa é a criança, — sussurrou Michelle. — Aquele de que Gregory
Grantwell estava falando.
— Essa criança é como você, Sienna. Ele é diferente, — disse
Konstantin. — Seus poderes, desconhecidos e inexplorados. Até agora. —
De repente, as portas se abriram e Aiden e Raphael invadiram o salão de
assembleia.
— KONSTANTIN! — Aiden berrou. — AFASTE-SE DELAS!
— Ah, aí está o pequeno Alfa. — Um dos Konstantins riu. — Nós não
passamos por isso antes na casa dos seus pais? Você pode me despedaçar
e, ainda assim, eu permanecerei vivo.
Raphael colocou a mão no peito de Aiden, impedindo-o de se lançar
contra um deles.
Em cima do altar de verão, o bebê chorou. Ouvir aquele grito agudo
fez meu estômago embrulhar. Isso me lembrou do que poderia ter sido.
De meu próprio filho perdido.
Eu tinha que protegê-lo.
Não importa o custo.
— Todos os poderes dos quais tenho me alimentado estão levando a
este momento, — rugiu Konstantin. E agora sua voz estava em toda
parte.
Cada cópia estava falando em uníssono, um coro de horror abafando
qualquer outro som na sala de reunião.
— Em breve, não serei páreo para nenhum mortal. Eu terei o poder de
matar uma divindade. Um assassino de deuses, você pode imaginar isso?
Aiden e eu nos olhamos através da sala, finalmente compreendendo
as profundezas do plano perverso de Konstantin. Se ele pudesse matar
seres tão poderosos como divindades, o que aconteceria com o resto de
nós?
— Restam apenas duas almas para serem tomadas, — disse o
Konstantins. — A criança, a mais pura de todas, ficará para depois. Mas
primeiro...
Então, de repente, o inferno começou.
Nina
Ninguém me notou desde que entrei pela primeira vez no salão de festas,
e eu achei isso ótimo.
Como uma ladra, estava acostumada a trabalhar nas sombras.
Então, quando vi as diferentes versões do vampyro começando a se
dispersar pela sala, fiquei perto da parede e esperei por qualquer sinal de
ameaça física.
Eles poderiam latir durante todo o dia. Eu não dou a mínima. Tudo o
que importava era que eu iria partir para cima.
Então eu o vi. Uma das cópias estava se esgueirando atrás de Raphael,
o Alfa do Milênio, com uma adaga reluzente em sua mão.
Toda a conversa, aquela showzinho, as cópias — era tudo uma
distração.
O Alfa estava prestes a ser assassinado. Konstantin drenaria seu
poder. Tornaria-se ainda mais forte.
Eu tinha que agir primeiro.
Quando Konstantin ergueu sua faca, eu me mexi em um único
instante e avancei, afundando meus caninos no braço do vampyro.
Ele gritou de dor quando o joguei para trás no chão, prendendo-o e,
em seguida, rasgando sua garganta com uma garra.
O sangue estava por toda parte. Mas quando olhei para cima,
Raphael, o Alfa do Milênio, estava olhando para mim em estado de
choque. Agradecido.
Eu tinha acabado de salvar sua vida.
Eu finalmente me redimi.
Mas agora que eu tinha atacado um Konstantin, cada versão do
vampyro estava enfurecida e se mobilizando para lutar.
Eu rapidamente me transformei de volta à minha forma humana e
agarrei a faca caída no chão, pronta para proteger o Alpha a todo custo.
Então me voltei para o Beta.
— JOSH! AGORA! — Eu gritei para fora.
E, de repente, a sala de reunião tornou-se um turbilhão de violência.
Aiden
— JOSH!
Eu estava girando, cercada por vampyros, se aproximando. Todos eles
estavam sorrindo assustadoramente.
Da mesma forma que ele sorriu na noite em que invadiu minha
mente... e meu corpo.
Senti meu braço queimando e olhei para baixo para ver a marca
brilhante apontando para um deles.
Aquele era o verdadeiro Konstantin, eu percebi.
Assim que eles estavam prestes a descer sobre mim, o lobo de Josh
saltou em minha defesa, voando por cima e parando na minha frente,
circulando, mostrando os dentes.
Me protegendo.
— Josh, é aquele! — Eu gritei, apontando para o Konstantin que eu
sabia que era real. — Aquele é o verdadeiro.
Não precisei dizer a ele duas vezes. Josh saltou, derrubou Konstantin
no chão, e de repente... cada versão dele desapareceu.
Havia apenas um Konstantin agora.
Josh o encurralou.
Ele finalmente iria se vingar.
Nós finalmente íamos nos vingar.
Josh
— Sienna!
— Estou aqui em cima!
Aiden explodiu dentro da sala e jogou seus braços em volta de mim,
girando em torno de mim e me fazendo rir.
— O que está acontecendo?
— Nada, — disse ele, sorrindo. — Não posso ficar animado para ver
minha própria divindade pessoal?
— Eu não sou uma divindade, — eu disse, revirando os olhos. —
Longe disso.
— Talvez... — Aiden deu de ombros. — Mas depois das coisas que vi
você fazer... me pergunto do que mais você é capaz.
Ele me beijou, colocando a mão nas minhas costas, aproximando-se
da minha bunda enquanto ficava mais excitado.
— Aiden, — eu disse, me afastando. — Aqui não!
Estávamos no meio do berçário. Nós o reconstruímos inteiramente,
tornando-o o espaço perfeito para o novo membro da família.
— Konstantin estava certo sobre uma coisa, — disse Aiden enquanto
olhava para o berço, sorrindo. — Ele tem os olhos mais incríveis que eu já
vi.
A criança, descobrimos, era ór ã e não tinha para onde ir. Quanto
mais eu o segurava, sentindo sua pequena respiração contra meu peito,
mais e mais conectada eu me sentia com ele.
Principalmente porque, como eu, essa criança não era uma criança
comum.
E vinte e um anos atrás, eu também fui adotada.
Quem sabe o que mais teríamos em comum.
Abaixei-me para apertar a bochecha rosada do bebê.
— Pequeno Rowan... estamos tão felizes que você é nosso.
Dizer esse nome sempre fazia meu coração doer um pouco. O que
meu pai biológico fez para salvar a vida do meu companheiro foi um
presente que eu nunca poderia retribuir. Mas dar o nome dele a essa
criança foi, pelo menos, um começo.
— O que devemos fazer hoje, amor? — Aiden perguntou. — Já que
minha ideia está fora de cogitação.
Eu ri.
— Não se preocupe. Quando Rowan estiver dormindo, podemos
pensar em algo.
Eu dei a Aiden uma piscadela lasciva. Só porque a Bruma acabou, não
significa que não poderíamos nos divertir um pouco. Então me inclinei e
peguei Rowan, segurando-o, olhando em seus olhos.
Eles mudaram de uma forma para outra, mudando de cor, girando
como uma das minhas pinturas. Os olhos mais mágicos que eu já vi.
Eu não sabia quem meu filho realmente era. O que ele era.
Mas eu sabia a quem ele pertencia.
Eu beijei Aiden mais uma vez.
— Eu amo nossa família.
— Eu também, Sienna, — disse ele. — Eu amo a gente.
Nós três ficamos ali em silêncio por um longo tempo, abraçados,
balançando para frente e para trás. Uma família plantando raízes.
Começando de novo.
Continua no Livro 5…
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