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Duna
Messias de Duna
Filhos de Duna
Sumário
Capa
Folha de rosto
Introdução
Dedicatória
Livro primeiro - DUNA
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Livro segundo - MUAD’DIB
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Livro Terceiro - O PROFETA
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Apêndices
Apêndice I
Apêndice II
Apêndice III
Apêndice IV
Terminologia do Imperium
Mapa
Notas cartográficas
Créditos
introdução
Publicado pela primeira vez em 1965, Duna é, em
retrospecto, o melhor dos grandes romances de ficção
científica, e o que mais se manteve relevante. Em parte, porque
a história se passa em um futuro distante, em um universo que
é radicalmente pós-computadores. Mas era também o livro
certo no momento certo – na verdade, ele estava bem à frente
de seu tempo. O escritor e jornalista Frank Herbert
compreendia a ecologia em uma escala planetária; enquanto as
pessoas começavam a pensar, falar e escrever sobre ecologia, e
sobre a vida de um planeta como um conjunto de sistemas
complexos e interconectados, Duna já estava lá, pronto para
elas.
O planeta Arrakis – a Duna do título – é um mundo onde a
água é o bem mais precioso. Nosso jovial protagonista Paul
Atreides é, a exemplo de Valentine Michael Smith, de Um
estranho numa terra estranha, um messias relutante. Ele vai
aprender sobre um planeta e sobre seus habitantes, e se
encontrará entre dois mundos.
Os pontos fortes de Duna são a profundidade da
ambientação do romance e o impacto da ecologia de Arrakis no
restante do espaço. A irmandade Bene Gesserit, os Dançarinos
Faciais Tleilaxu, a Guilda Espacial, todos têm seu lugar nesse
universo. Há bem e mal – sobretudo, na vilania de pantomima
dos Harkonnen. Aqui encontramos nobreza, tradição e
avanços conceituais, conforme o mundo fica de ponta-cabeça.
Herbert retornaria ao mundo e ao futuro de Duna em
muitos romances durante as décadas seguintes, mas sem o
foco na ecologia e no abuso de poder que havia nos primeiros
livros. (Quando eu era garoto, li a continuação Messias de Duna
– nós tínhamos um exemplar em casa. Consequentemente,
sempre considero Duna a primeira parte de um romance em
duas partes que se conclui com Messias de Duna; um romance
sobre a ascensão e queda de um salvador guerreiro, parte
Alexandre, o Grande, parte Lawrence da Arábia, parte
sacrifício místico.) E outros escreveriam mais histórias nesse
universo após a morte do autor, com rendimentos
decrescentes. Mas nenhum deles diminui as realizações e a
grandiosidade de Duna.
NEIL GAIMAN
Fevereiro de 2016
Às pessoas cuja labuta
ultrapassa as ideias e invade o
domínio do “real”: aos ecólogos
das terras áridas, onde quer
que estejam, não importa a
época, fica dedicada esta
tentativa de profecia, com
humildade e admiração.
livro primeiro
DUNA
É no início que se deve tomar, com
máxima delicadeza, o cuidado de dar às
coisas sua devida proporção. Disso toda
irmã Bene Gesserit sabe. Portanto, para
começar a estudar a vida de Muad’Dib,
tome o cuidado de primeiro situá-lo em
sua época: nascido no quinquagésimo
sétimo ano do imperador padixá
Shaddam IV. E tome o cuidado mais que
especial de colocar Muad’Dib em seu
devido lugar: o planeta Arrakis. Não se
deixe enganar pelo fato de que ele nasceu
em Caladan e ali viveu seus primeiros
quinze anos. Arrakis, o planeta conhecido
como Duna, será sempre o lugar dele.
- excerto do “Manual de Muad’Dib”, da princesa Irulan
“A LADY JÉSSICA,
Que este lugar lhe dê tanto prazer quanto deu a mim. Por
favor, permita que esta sala transmita uma lição que
aprendemos com as mesmas professoras: a proximidade
de um objeto de desejo é uma tentação ao excesso. Nesse
caminho jaz o perigo.
Meus melhores votos,
MARGOT, LADY FENRING”
O duque disse:
– Paul, vou fazer uma coisa abominável, mas necessária. –
Ele estava ao lado do farejador de venenos portátil que haviam
trazido para o café da manhã na sala de conferências. Os
apêndices sensores da coisa pendiam inertes sobre a mesa,
fazendo Paul se lembrar de um inseto estranho e recém-morto.
A atenção do duque se voltava para fora, para o campo de
pouso e seu turbilhão de pó, com o céu da manhã ao fundo.
Paul tinha diante dele um leitor carregado com um
filmeclipe curto sobre as práticas religiosas dos fremen. O clipe
tinha sido compilado por um dos especialistas de Hawat, e Paul
ficou transtornado com as referências a si próprio.
“Mahdi!”
“Lisan al-Gaib!”
Se fechasse os olhos, era possível recordar os gritos da
multidão. Então é essa a esperança deles, pensou. E lembrou-se
do que a velha Reverenda Madre tinha dito: Kwisatz Haderach.
As lembranças feriram sua sensação de propósito terrível,
matizando aquele mundo estranho com uma impressão de
familiaridade que ele não conseguia entender.
– Uma coisa abominável – o duque repetiu.
– Como assim, senhor?
Leto se virou, olhou para o filho de cima para baixo.
– É que os Harkonnen querem me levar a desconfiar de sua
mãe. Não sabem que seria mais fácil eu desconfiar de mim
mesmo.
– Não entendi, senhor.
Leto voltou a olhar para fora. O sol branco estava bem alto
em seu quadrante matutino. A luz leitosa realçava as nuvens de
poeira fervilhantes que transbordavam para os desfiladeiros
cegos entremeados na Muralha-Escudo.
Lentamente, falando com vagar para conter sua raiva, o
duque explicou a Paul o bilhete misterioso.
– O senhor poderia muito bem desconfiar de mim – Paul
disse.
– Eles precisam pensar que tiveram êxito – disse o duque. –
Precisam pensar que sou idiota a esse ponto. Tem de parecer
real. Nem sua mãe pode saber da farsa.
– Mas, senhor! Por quê?
– A reação de sua mãe não pode ser fingida. Ah, ela sabe
fingir muito bem... mas tanta coisa depende disso. Espero
desentocar um traidor. Precisa parecer que fui completamente
enganado. É preciso magoá-la dessa maneira para que sua
mágoa não seja maior mais tarde.
– Por que está me contando isso, pai? Eu poderia deixar
escapar alguma coisa.
– Não estarão vigiando você por conta disso – o duque
explicou. – Você irá guardar segredo. É preciso. – Ele andou até
as janelas e falou, sem se virar. – Dessa maneira, se algo me
acontecer, você poderá contar a verdade a ela: que nunca
duvidei dela, nem pelo mais breve instante. Quero que ela saiba
disso.
Paul reconheceu o pensamento fatalista nas palavras do
pai e disse rapidamente:
– Nada irá lhe acontecer, senhor. Os...
– Fique quieto, filho.
Paul olhou fixamente para as costas do pai, vendo o
cansaço na inclinação do pescoço, no alinhamento dos ombros,
nos movimentos vagarosos.
– O senhor está só cansado, pai.
– Eu estou cansado – o duque concordou. – Estou cansado
moralmente. A degeneração melancólica das Casas Maiores
talvez tenha finalmente me atingido. E fomos tão fortes um dia.
Paul se enfureceu e disse:
– Nossa Casa não degenerou!
– Não?
O duque se virou, encarou o filho, revelando círculos
escuros sob os olhos severos e um sorriso cínico na boca.
– Eu deveria me casar com sua mãe, fazê-la duquesa. Mas...
minha condição de solteiro dá a algumas Casas a esperança de
que possam se aliar a mim por meio de suas filhas casadouras.
– Ele deu de ombros. – Por isso, eu...
– Minha mãe já me explicou isso.
– Nada angariaria mais lealdade para um líder do que um
ar de bravura – disse o duque. – E, portanto, eu cultivo um ar de
bravura.
– O senhor é um bom líder – Paul protestou. – Governa
bem. Os homens o seguem de boa vontade e o amam.
– Meu departamento de propaganda é um dos melhores –
o duque disse. Voltou-se mais uma vez para fitar a bacia lá fora.
– As possibilidades para nós, aqui em Arrakis, são maiores do
que o Imperium conseguiria imaginar. Mas, às vezes, acho que
teria sido melhor se tivéssemos fugido, desertado. Às vezes,
gostaria que pudéssemos mergulhar novamente no anonimato
das massas, ficar menos expostos a...
– Pai!
– Sim, estou cansado – o duque disse. – Sabia que estamos
usando resíduos da especiaria como matéria-prima e já temos
nossa própria fábrica de filme?
– Como?
– Não podemos ficar sem filme – disse o duque. – Senão,
como poderíamos inundar as vilas e a cidade com nossas
informações? O povo precisa saber que somos bons
governantes. Como viria a saber se não o informássemos?
– O senhor deveria dormir um pouco – Paul sugeriu.
O duque voltou a olhar para o filho.
– Arrakis tem uma outra vantagem que quase esqueci de
mencionar. A especiaria está em tudo. Nós a respiramos e
comemos em quase tudo. E descobri que isso confere uma
certa imunidade natural a alguns dos venenos mais comuns do
Manual dos Assassinos. E a necessidade de vigiar cada gota de
água submete toda a produção de alimentos – a cultura de
levedo, a hidropônica, o chemavit, tudo – à mais rígida
fiscalização. Não podemos eliminar grandes segmentos de
nossa população com veneno, e tampouco podemos ser
atacados dessa maneira. Arrakis nos torna morais e éticos.
Paul começou a falar, mas o duque o interrompeu, dizendo:
– Preciso de alguém para quem contar essas coisas, filho. –
Ele suspirou, voltou a olhar para a paisagem ressequida onde
até mesmo as flores tinham desaparecido naquele momento,
pisoteadas pelos colhedores de orvalho, secas sob o sol da
manhã.
– Em Caladan, governávamos com a força do ar e do mar –
o duque disse. – Aqui, temos de descobrir a força do deserto.
Este é seu legado, Paul. O que será de você se algo me
acontecer? Não será uma Casa de desertores, e sim uma Casa
de guerrilheiros: em fuga, caçada.
Paul buscou as palavras em vão, não encontrou nada para
dizer. Nunca tinha visto o pai tão desanimado.
– Para manter Arrakis – o duque continuou –, nós nos
vemos confrontados por decisões que podem nos custar nosso
amor-próprio. – Ele apontou lá para fora, para o estandarte
verde e preto dos Atreides que pendia flacidamente de um
mastro no limite do campo de pouso. – Aquele nobre
estandarte poderia vir a representar muita maldade.
Paul engoliu em seco. As palavras de seu pai estavam
prenhes de futilidade, uma ideia fatalista que deixou o menino
com a sensação de vazio no peito.
O duque tirou uma pastilha antifadiga de um dos bolsos e
a engoliu a seco.
– Poder e medo – disse. – Os instrumentos da arte de
governar. Tenho de mandar reforçar seu treinamento como
guerrilheiro. Naquele filmeclipe ali... Chamam você de “Mahdi”,
“Lisan al-Gaib”... Como último recurso, você pode se aproveitar
disso.
Paul fitou o pai e observou os ombros se endireitarem com
a ação da pastilha, mas lembrou-se das palavras de medo e
dúvida.
– O que está atrasando o tal ecólogo? – o duque
resmungou. – Mandei Thufir trazê-lo aqui logo cedo.
“Meu pai, o imperador padixá, me pegou
pela mão um dia, e senti, usando os
métodos ensinados por minha mãe, que
ele estava transtornado. Ele me levou ao
Salão dos Retratos, até a egocópia do
duque Leto Atreides. Notei a forte
semelhança entre eles — meu pai e aquele
homem no retrato —, ambos com rostos
magros e elegantes, traços bem marcados
e dominados por olhos frios. “Filha-
princesa”, meu pai disse, “como eu queria
que você fosse mais velha quando chegou
a hora de este homem escolher uma
mulher”. Meu pai tinha 71 anos na época e
não parecia mais velho que o homem no
retrato, e eu tinha apenas 14, mas lembro-
me de ter deduzido, naquele instante, que
meu pai, no fundo, desejava que o duque
tivesse sido seu filho, e que não via com
bons olhos as necessidades políticas que
fizeram deles inimigos.
– “Na casa de meu pai”, da princesa Irulan
“Pomares e vinhedos,
E huris de seios fartos,
E uma taça a transbordar diante de mim.
Por que falo de batalhas
E montes a pó reduzidos?
Por que as lágrimas não secam?
SHADDAM IV (10.134-10.202)
O imperador padixá, o octogésimo primeiro de sua estirpe
(Casa Corrino) a ocupar o Trono do Leão Dourado, reinou de
10.156 (ano em que seu pai, Elrood IX, sucumbiu ao chaumurky)
até ser substituído pela Regência de 10.196, entregue a sua filha
mais velha, Irulan. Seu reinado se destaca principalmente pela
Revolta de Arrakis, que muitos historiadores atribuem à
licenciosidade de Shaddam IV com as festas da corte e a pompa
do cargo. O número de bursegs foi duplicado nos primeiros
dezesseis anos de seu reinado. A verba para o treinamento dos
Sardaukar foi reduzida constantemente nos últimos trinta
anos antes da Revolta de Arrakis. Teve cinco filhas (Irulan,
Chalice, Wensicia, Josifa e Rugi) e nenhum filho homem
legítimo. Quatro de suas filhas o acompanharam em sua
aposentadoria. Sua esposa, Anirul, uma Bene Gesserit de Grau
Secreto, morreu em 10.176.
A
ABA: manto folgado usado pelas mulheres fremen;
geralmente na cor preta.
ABISMO DE PÓ: qualquer fenda ou depressão profunda no
deserto de Arrakis que foi preenchida com pó e não
aparenta ser diferente da superfície circundante;
uma armadilha mortal, pois seres humanos e animais
afundam no abismo e morrem sufocados (veja-se
bacia de maré-poeira).
ACH: virar à esquerda; comando para o piloto de verme.
AÇO-LISO: qualquer arma branca de lâmina curta e fina
(muitas vezes com a ponta envenenada) para ser
usada com a mão esquerda no combate com escudos.
AÇOPLÁS: aço estabilizado com fibras de estravídio
introduzidas em sua estrutura cristalina.
ADAB: a lembrança exigente que se manifesta por conta
própria.
A. G.: empregado ao lado de uma data, significa “antes da
Guilda” e identifica o sistema de datação imperial,
fundamentado na gênese do monopólio da Guilda
Espacial.
ÁGUA DA VIDA: um veneno “de iluminação” (veja-se
Reverenda Madre). Especificamente, a exalação
líquida de um verme da areia (veja-se Shai-hulud),
produzida no momento de sua morte por
afogamento, e que é transformada dentro do corpo
de uma Reverenda Madre para se tornar o narcótico
empregado na orgia tauística do sietch. Um narcótico
de “espectro perceptivo”.
AKARSO: planta natural de Sikun (de 70 Ophiuchi A),
caracterizada por folhas quase oblongas. Suas listas
verdes e brancas indicam a condição múltipla e
constante de regiões paralelas de clorofila ativa e
dormente.
AL-LAT: o sol original da humanidade; por extensão de
sentido: a estrela primária de qualquer planeta.
ALAM AL-MITHAL: o mundo místico das similitudes, onde
todas as limitações físicas são eliminadas.
ALTO CONSELHO: o círculo interno do Landsraad, que
tem o poder de agir como tribunal supremo nas
disputas entre as Casas.
AMPOLIROS: o lendário “Holandês Voador” do espaço.
AMTAL OU LEI DE AMTAL: uma lei comum em planetas
primitivos, segundo a qual coloca-se uma coisa à
prova para determinar seus limites e defeitos.
Comumente: testar até a destruição.
AQL: o teste da razão. Originariamente, as “Sete
Perguntas Místicas”, que começam com “Quem é que
pensa?”.
AREIA DE PERCUSSÃO: compactação da areia de tal
maneira que qualquer golpe repentino em sua
superfície produz um som percussivo distinto.
ARENEIRO-MESTRE: superintendente geral das
operações especieiras.
ARMALÊS: projetor laser de onda contínua. Seu emprego
como arma é limitado numa cultura de escudos
geradores de campos, por causa da pirotecnia
explosiva (tecnicamente, uma fusão subatômica)
criada quando seu raio encontra um escudo.
ARRAKINA: primeira povoação em Arrakis; sede de longa
data do governo planetário.
ARRAKIS: o planeta conhecido como Duna; terceiro
planeta de Canopus.
ARROZ-PUNDI: arroz modificado cujos grãos, ricos em
açúcar natural, chegam a quatro centímetros de
comprimento; principal produto de exportação de
Caladan.
ASSEMBLEIA: distinta de uma Assembleia do Conselho. É
uma convocação formal dos líderes fremen para
testemunhar um combate que irá determinar a
liderança da tribo. (A Assembleia do Conselho é uma
reunião para se chegar a decisões que envolvem
todas as tribos.)
ATORDOADOR: arma de projéteis de carga lenta que atira
um dardo drogado ou envenenado. A eficácia é
limitada pelas variações nas configurações dos
escudos e pelo movimento relativo entre o alvo e o
projétil.
AULIYA: na religião dos Peregrinos Zen-sunitas, a mulher
à esquerda de Deus; a criada de Deus.
AUMAS: veneno administrado à comida (especificamente,
veneno na comida sólida). Em alguns dialetos,
chaumas.
AYAT: os sinais da vida (veja-se burhan).
B
B. G.: expressão idiomática para Bene Gesserit.
BACIA DE MARÉ-POEIRA: qualquer uma das depressões de
grande extensão na superfície de Arrakis que foram
preenchidas com poeira no decorrer dos séculos e
nas quais foram mensuradas verdadeiras marés de
poeira (veja-se marés de areia).
BACLAVÁ: um pastel indigesto feito com xarope de
tâmaras.
BAKKA: nas lendas fremen, o pranteador que chora por
toda a humanidade.
BALISET: um instrumento musical de nove cordas, a ser
dedilhado, descendente direto da zithra e afinado na
escala chusuk. Instrumento preferido dos trovadores
imperiais.
BARAKA: homem santo vivo, dotado de poderes mágicos.
BASHAR (geralmente, bashar coronel): um oficial dos
Sardaukar, uma fração acima de coronel na
classificação militar padrão. Patente criada para o
governante militar de um subdistrito planetário
(bashar da corporação é um título de uso
estritamente militar).
BEDUIM: veja-se Ichuan Beduim.
BELA TEGEUSE: quinto planeta de Kuentsing; terceira
parada da migração forçada dos Zen-sunitas
(fremen).
BENE GESSERIT: antiga escola de treinamento físico e
mental para alunas do sexo feminino, fundada depois
que o Jihad Butleriano destruiu as chamadas
“máquinas pensantes” e os robôs.
BHOTANI JIB: veja-se chakobsa.
BI-LA KAIFA: amém (literalmente: “Nada mais precisa ser
explicado”).
BÍBLIA CATÓLICA DE ORANGE: o “Livro Reunido”, o texto
religioso produzido pela Comissão de Tradutores
Ecumênicos. Contém elementos de religiões
antiquíssimas, entre elas o saari maometano, o
cristianismo maaiana, o catolicismo zen-sunita e as
tradições budislâmicas. Considera-se como seu
mandamento supremo: “Não desfigurarás a alma”.
BIBLIOFILME: qualquer impressão de shigafio utilizada no
treinamento que encerre um pulso mnemônico.
BINDU: relacionada ao sistema nervoso humano, em
especial ao treinamento dos nervos. Muitas vezes
mencionada como inervação-bindu (veja-se prana).
BLED: deserto plano e aberto.
BOLSAS COLETORAS: qualquer uma das bolsas de um
trajestilador onde a água é recolhida e armazenada.
BROQUEL GRADEX: um separador eletrolítico usado para
remover a areia da massa pré-especiaria; um
aparelho do segundo estágio do refinamento da
especiaria.
BURHAN: a prova da vida (comumente, os ayat e a burhan
da vida; veja-se ayat).
BURKA: manto dotado de isolamento térmico, usado
pelos fremen no deserto aberto.
BURSEG: um general que comanda os Sardaukar.
C
CAÇADOR-BUSCADOR: um fragmento voraz de metal
sustentado por suspensores e teleguiado, tal qual
uma arma, por um console controlador situado nas
proximidades; dispositivo comum de assassínio.
CAID: patente de oficial Sardaukar concedida a um oficial
militar cujos deveres exigem principalmente o trato
com civis; governador militar de todo um distrito
planetário; acima da patente de bashar, mas não
idêntico a burseg.
CALADAN: terceiro planeta de Delta Pavonis; planeta
natal de Paul Muad’Dib.
CALDEIRA: em Arrakis, qualquer região baixa ou
depressão criada pelo afundamento do complexo
subterrâneo subjacente. (Nos planetas com água
suficiente, uma caldeira indica uma região antes
coberta por água ao ar livre. Acredita-se que Arrakis
tenha pelo menos uma dessas áreas, apesar de ainda
se discutir esse assunto.)
CALECHE: uma aeronave, o burro de carga aéreo de
Arrakis, utilizado para transportar equipamentos de
grande porte para a mineração, busca e refinamento
da especiaria.
CANTO E RESPONDU: um rito de invocação, parte da
panoplía propheticus da Missionaria Protectora.
CAPTADOR DE VENTO: um aparelho instalado na
trajetória dos ventos predominantes e capaz de
condensar a umidade do ar aprisionado em seu
interior, geralmente por meio de uma queda nítida e
brusca da temperatura dentro do captador.
CASA: expressão idiomática para o Clã Governante de um
planeta ou sistema planetário.
CASAS MAIORES: detentores de feudos planetários;
empresários interplanetários (veja-se Casa,
anteriormente).
CASAS MENORES: classe empresarial restrita a um
planeta (em galach: “richece”).
CATÁLOGO DE CRUZAMENTOS: o registro principal que as
Bene Gesserit mantêm de seu programa de
reprodução humana, voltado para a produção do
Kwisatz Haderach.
CENSORA SUPERIORA: uma Reverenda Madre Bene
Gesserit que também é a diretora regional de uma
Escola B. G. (comumente: Bene Gesserit dotada de
Visão).
CHAKOBSA: a chamada “língua ímã”, derivada em parte
do antigo bhotani (bhotani jib, sendo que jib significa
dialeto). Uma série de dialetos antigos modificados
pela necessidade de manter sigilo, mas sobretudo a
língua de caça dos bhotani, os matadores de aluguel
da primeira Guerra de Assassinos.
CHAUMAS (aumas em alguns dialetos): veneno no
alimento sólido, distinto dos venenos administrados
de outras maneiras.
CHAUMURKY (MUSKY OU MURKY EM ALGUNS DIALETOS):
veneno administrado à bebida.
CHEREM: uma irmandade unida pelo ódio (geralmente
para obter vingança).
CHOAM: acrônimo para Consórcio Honnête Ober
Advancer Mercantiles, a empresa de
desenvolvimento universal controlada pelo
imperador e pelas Casas Maiores, tendo a Guilda e as
Bene Gesserit como sócios comanditários.
CHUSUK: quarto planeta de Theta Shalish; o chamado
“Planeta da Música”, famoso pela qualidade de seus
instrumentos musicais (veja-se Varota).
CIÉLAGO: qualquer um dos quirópteros modificados de
Arrakis, adaptados para transportar mensagens
distrans.
CIPÓ-TINTA: uma trepadeira natural de Giedi Primo,
geralmente usada como chicote nos fossos de
escravos. As vítimas ficam marcadas por tatuagens
cor de beterraba que irão provocar dor residual
durante muitos anos.
COISAS MISTERIOSAS: expressão idiomática para
superstições infecciosas ensinadas pela Missionaria
Protectora a civilizações suscetíveis.
COLETORES DE ORVALHO OU CONDENSADORES DE
ORVALHO: não confundi-los com os colhedores de
orvalho. Os coletores ou condensadores são
aparelhos ovais com cerca de quatro centímetros em
seu eixo maior. São feitos de cromoplástico, que
assume uma cor branca e refletora quando
submetido à luz e volta a ficar transparente no
escuro. O coletor forma uma superfície distintamente
fria, sobre a qual o orvalho da manhã se condensa.
São usados pelos fremen para forrar depressões
côncavas de plantio, onde fornecem uma fonte
pequena, mas confiável, de água.
COLHEDORES DE ORVALHO: operários que ceifam o
orvalho das plantas de Arrakis, usando um ceifador
de orvalho semelhante a uma foice.
COLHEITADEIRA OU USINA-COLHEITADEIRA: uma
máquina de mineração de especiaria de grande porte
(geralmente, 120 por 40 metros), empregada
comumente em afloramentos ricos em mélange não
contaminado. (Geralmente chamada de “lagarta”,
devido ao corpo insetoide que se move sobre esteiras
independentes.)
CONDICIONAMENTO IMPERIAL: uma invenção das Escolas
de Medicina Suk; o condicionamento supremo para
não tirar a vida humana. Os iniciados são marcados
com uma tatuagem em forma de diamante na testa e
têm permissão para usar os cabelos compridos e
presos por um anel de prata Suk.
CONDUTOR DE ESPECIARIA: qualquer duneiro que
controla e dirige máquinas móveis pela superfície
desértica de Arrakis.
CONE DE SILÊNCIO: campo de um distorcedor que limita o
poder de projeção da voz ou de qualquer outro
vibrador, amortecendo as vibrações com uma
vibração especular, 180 graus fora de fase.
CONSCIÊNCIA PIRÉTICA: a chamada “consciência de
fogo”; o nível inibitório afetado pelo condicionamento
imperial (veja-se condicionamento imperial).
CORIOLIS, TEMPESTADE DE: qualquer grande tempestade
de areia em Arrakis, onde os ventos, nas planícies
desprotegidas, são amplificados pelo movimento de
rotação do próprio planeta e atingem velocidades de
até setecentos quilômetros por hora.
CORRIN, BATALHA DE: a batalha espacial que deu nome à
Casa Imperial Corrino. A batalha travada perto de
Sigma Draconis no ano 88 a. G. estabeleceu a
superioridade da Casa governante de Salusa
Secundus.
CRIADOR: veja-se Shai-hulud.
CRIADORZINHO: o vetor meio vegetal, meio animal do
verme da areia de Arrakis. Os excrementos do
criadorzinho formam a massa pré-especiaria.
D
DAGACRIS: a faca sagrada dos fremen de Arrakis. É
manufaturada em duas formas, a partir dos dentes
retirados de carcaças de vermes da areia. As duas
formas são a “estável” e a “instável”. Uma faca
instável precisa ser mantida perto do campo elétrico
de um corpo humano para não se desintegrar. As
facas estáveis são tratadas para que possam ser
armazenadas. Todas têm cerca de vinte centímetros
de comprimento.
DAR AL-HIKMAN: escola de tradução ou interpretação
religiosa.
DERCH: virar à direita; comando para o piloto de verme.
DESAFIO TAHADDI: desafio fremen para o combate até a
morte, geralmente para colocar à prova uma questão
primordial.
DICTUM FAMILIA: a lei da Grande Convenção que proíbe
que se mate uma pessoa da realeza ou membro de
uma Casa Maior por traição informal. A lei estabelece
o programa formal e limita os métodos dos
assassinos.
DISTRANS: um aparelho que produz uma impressão
neural temporária no sistema nervoso de quirópteros
ou aves. A voz normal da criatura passa a portar a
impressão da mensagem, que pode ser separada da
onda portadora por um outro distrans.
DOUTRINA BENE GESSERIT: emprego das minúcias da
observação.
DROGA DE ELACCA: narcótico formado com a queima da
madeira de veios sanguíneos da elacca de Ecaz. Seu
efeito é remover a maior parte do desejo de
autopreservação. A pele dos drogados apresenta
uma cor laranja característica, como a da cenoura.
Usada comumente com o intuito de preparar os
gladiadores escravos para a arena.
DUNEIROS: expressão idiomática para operários do
deserto aberto, caçadores de especiaria e outros do
gênero em Arrakis. Areneiros. Especieiros.
E
ECAZ: quarto planeta de Alpha Centauri B; o paraíso dos
escultores, chamado assim por ser o planeta natal do
pau-névoa, o vegetal que pode ser modelado in situ
exclusivamente com a força do pensamento humano.
EFEITO HOLTZMAN: o efeito repelente negativo de um
gerador de escudo.
EGOCÓPIA: retrato reproduzido por meio de um projetor
de shigafio, capaz de reproduzir movimentos
discretos que, segundo dizem, transmitem a essência
do ego.
EL-SAYAL: a “chuva de areia”. Uma precipitação de pó
carreado a altitudes médias (cerca de dois mil
metros) por uma tempestade de Coriolis. El-sayal
costuma trazer a umidade para o nível do solo.
ERG: uma área extensa de dunas, um mar de areia.
ESCUDO DEFENSIVO: o campo protetor produzido por um
gerador de Holtzman. Esse campo deriva da Primeira
Fase do efeito anulador-suspensor. O escudo permite
somente a entrada de objetos que se movem a baixas
velocidades (dependendo da configuração, essa
velocidade varia de seis a nove centímetros por
segundo) e só pode ser curto-circuitado por um
campo elétrico enorme (veja-se armalês).
ESMAGADORES: naus militares espaciais, compostas de
muitas naus menores engatadas, projetadas para cair
em cima de uma posição inimiga e esmagá-la.
ESPECIARIA: veja-se mélange.
ESPÍRITO-RUH: segundo a crença fremen, a parte do
indivíduo que está radicada no mundo metafísico e é
capaz de percebê-lo (veja-se alam al-mithal).
F
FAI: o tributo d’água, o principal tipo de imposto em
Arrakis.
FARDO D'ÁGUA: no idioma fremen, uma dívida de gratidão
extrema.
FAREJADOR DE VENENOS: analisador de radiações dentro
do espectro olfativo, ajustado para detectar
substâncias venenosas.
FAUFRELUCHES: a rígida lei de distinção de classes
imposta pelo Imperium. “Um lugar para todo homem,
e todo homem em seu lugar.”
FECHADURA PALMAR: qualquer fechadura ou lacre que se
pode abrir ao contato da palma da mão humana com
a qual foi fechada.
FEDAYKIN: os comandos suicidas dos fremen;
historicamente, um grupo formado com a intenção de
– e comprometido a – dar a vida para reparar uma
injustiça.
FIBRA DE KRIMSKELL ou CORDA DE KRIMSKELL: a “fibra
tenaz”, tecida com filamentos da trepadeira hufuf de
Ecaz. Quando as pontas da laçada são puxadas, os
nós de krims-kell apertam como tenazes, cada vez
mais, até atingir os limites preestabelecidos (um
estudo mais pormenorizado encontra-se em As
trepadeiras estranguladoras de Ecaz, de Holjance
Vohnbrook).
FILME MINIMICRO: shigafio com um mícron de diâmetro,
geralmente usado para transmitir dados de
espionagem e contraespionagem.
FILTROBS: uma unidade filtradora nasal usada em
conjunto com um trajestilador para capturar a
umidade exalada na respiração.
FIQH: conhecimento, lei religiosa; uma das origens quase
lendárias da religião dos Peregrinos Zen-sunitas.
FORAFREYN: palavra galach para “imediatamente de
fora”, ou seja, que não faz parte de sua comunidade
imediata, que não é um dos escolhidos.
FRAGATA: a maior espaçonave capaz de pousar num
planeta e dali decolar intacta.
FREMEN: as tribos livres de Arrakis, habitantes do
deserto, remanescentes dos Peregrinos Zen-sunitas
(“piratas da areia”, de acordo com o Dicionário
Imperial).
FREMKIT: kit de sobrevivência no deserto de fabricação
fremen.
G
GALACH: idioma oficial do Imperium. É um híbrido anglo
eslávico, com traços fortes de língua de cultura
especializada, adotados durante a longa sucessão de
migrações humanas.
GAMONT: terceiro planeta de Niushe; destaca-se por sua
cultura hedonista e práticas sexuais exóticas.
GANCHEIRO: um fremen munido de ganchos de criador,
preparados para apanhar um verme da areia.
GANCHOS DE CRIADOR: os ganchos usados para capturar,
montar e pilotar um verme da areia de Arrakis.
GARE: meseta.
GEYRAT: seguir em frente; comando para o piloto de
verme.
GHAFLA: entregar-se a distrações. Por conseguinte, uma
pessoa volúvel, indigna de confiança.
GHANIMA: uma coisa adquirida em batalha ou combate
singular. Comumente, um suvenir do combate,
guardado apenas para estimular a memória.
GIEDI PRIMO: o planeta de Ophiuchi B (36), terra natal da
Casa Harkonnen. Um planeta de viabilidade mediana,
com um espectro fotossinteticamente ativo reduzido.
GINAZ, CASA DOS: antigos aliados do duque Leto
Atreides. Foram derrotados na Guerra de Assassinos
travada com Grumman.
GIUDICHAR: uma verdade sagrada (comumente
encontrada na expressão “giudichar mantene”: uma
verdade original e sustentadora).
GOM JABBAR: o inimigo despótico; a agulha inoculadora
específica, envenenada com metacianureto e usada
pelas censoras Bene Gesserit no teste que coloca à
prova a percepção humana e tem, como alternativa, a
morte.
GRABEN: uma fossa geológica extensa, formada com o
afundamento do solo por causa de movimentos nas
camadas subjacentes da crosta do planeta.
GRANDE CONVENÇÃO: a trégua universal imposta pelo
equilíbrio de poder mantido pela Guilda, as Casas
Maiores e o Imperium. Sua principal lei proíbe o uso
de armas atômicas contra alvos humanos. Todas as
leis da Grande Convenção começam com: “As
formalidades precisam ser obedecidas...”.
GRANDE MÃE: a deusa de cornos, o princípio feminino do
espaço (comumente, Espaço Mãe), a face feminina da
trindade masculina-feminina-neutra, aceita como Ser
Supremo por muitas religiões do Imperium.
GRANDE REBELIÃO: termo comum para o Jihad
Butleriano (veja-se Jihad Butleriano).
GRUMMAN: segundo planeta de Niushe, famoso
principalmente pela rixa de sua Casa regente
(Moritani) com a Casa Ginaz.
GUERRA DE ASSASSINOS: a forma limitada de guerra
permitida pela Grande Convenção e pela Paz da
Guilda. O objetivo é reduzir o envolvimento de
espectadores inocentes. As regras prescrevem
declarações formais de intenção e restringem as
armas permissíveis.
GUILDA ESPACIAL (OU, SIMPLESMENTE, GUILDA): uma das
pernas do tripé político que sustenta a Grande
Convenção. A Guilda foi a segunda escola de
treinamento físico-mental (veja-se Bene Gesserit) a
surgir depois do Jihad Butleriano. O monopólio da
Guilda sobre o transporte e as viagens espaciais, bem
como sobre o sistema bancário internacional, é
considerado o marco zero do Calendário Imperial.
H
HAGAL: o “Planeta das Joias” (Theta Shaowei II),
minerado à época de Shaddam I.
HAIIIII-YOH!: ordem para agir; comando para o piloto de
verme.
HAJJ: jornada sagrada.
HAJR: jornada pelo deserto, migração.
HAJRA: jornada de busca.
HAL YAWM: “Agora! Enfim!”, uma exclamação fremen.
HARMONTHEP: é o nome que Ingsley dá ao planeta que
serviu como a sexta parada da migração zen-sunita.
Supõe-se que tenha sido um satélite de Delta Pavonis
que já não existe mais.
HEMI-IRMÃOS: filhos homens de concubinas da mesma
casa que têm seguramente o mesmo pai.
HIDRODISCIPLINA: o duro treinamento que prepara os
habitantes de Arrakis para a vida no planeta sem
desperdiçar a umidade do corpo.
HIDROFICHAS: anéis de metal de tamanhos variados,
cada qual designando uma quantidade específica de
água descontável das reservas dos fremen. As
hidrofichas têm uma importância profunda (que
ultrapassa a ideia de dinheiro), principalmente nos
rituais de nascimento, morte e corte.
HIDROMESTRE: um fremen encarregado de cuidar da
água e da Água da Vida, consagrado às obrigações
cerimoniais que as envolvem.
HIDROTUBO: qualquer tubo no interior de um
trajestilador ou de uma tendestiladora que
transporta a água reaproveitada para uma bolsa
coletora ou de uma bolsa coletora para o usuário.
HIEREG: acampamento temporário dos fremen no
deserto aberto.
I
IBAD, OLHOS DOS: efeito característico de uma dieta rica
em mélange; o branco dos olhos e as pupilas
assumem uma cor azul intensa (o que indica uma
forte dependência do mélange).
IBN QIRTAIBA: “Assim dizem as palavras sagradas...” .
Introdução formal dos encantamentos religiosos dos
fremen (derivada da panoplía propheticus).
ICHUAN BEDUIM: a irmandade que reúne todos os fremen
de Arrakis.
IJAZ: profecia que, por sua própria natureza, não pode
ser contestada; profecia inimitável.
IKHUT-EIGH!: pregão do vendedor de água em Arrakis
(etimologia incerta). Veja-se Suu-Suu Suuk!
ILM: teologia; ciência da tradição religiosa; uma das
origens quase lendárias da religião dos Peregrinos
Zen-sunitas.
ISTISLÁ: uma lei que promove o bem-estar de todos;
geralmente um prólogo para uma necessidade cruel.
IX: veja-se Richese.
J
JIHAD: uma cruzada religiosa; cruzada fanática.
JIHAD BUTLERIANO: (veja-se também Grande Rebelião) a
cruzada contra os computadores, máquinas
pensantes e robôs conscientes, iniciada em 201 a. G. e
concluída em 108 a. G. Seu principal mandamento
continua na Bíblia C. O.: “Não criarás uma máquina
para imitar a mente humana”.
JUIZ DA TRANSIÇÃO: um funcionário designado pelo Alto
Conselho do Landsraad e pelo Imperador para
supervisionar uma mudança de suserania, uma
negociação da kanly ou uma batalha formal numa
Guerra de Assassinos. A autoridade de árbitro do juiz
só pode ser contestada diante do Alto Conselho com
o imperador presente.
K
KANLY: rixa ou vendeta formal submetida às leis da
Grande Convenção e levada avante de acordo com as
mais severas restrições (veja-se Juiz da Transição).
Originariamente, as leis foram criadas para proteger
espectadores inocentes.
KARAMA: um milagre; uma ação iniciada pelo mundo
espiritual.
KHALA: invocação tradicional para aplacar os espíritos
zangados de um lugar cujo nome foi mencionado.
KINDJAL: espada curta (ou faca comprida) de fio duplo,
com cerca de vinte centímetros de lâmina
ligeiramente recurva.
KISWA: qualquer figura ou desenho extraído da mitologia
fremen.
KITAB AL-IBAR: um misto de guia de sobrevivência e
manual religioso desenvolvido pelos fremen em
Arrakis.
KULL WAHAD!: “Estou profundamente comovido!”. Uma
exclamação sincera de surpresa, comum no
Imperium. A interpretação exata depende do
contexto (dizem que Muad’Dib, certa vez, viu um
filhote de gavião-do-deserto sair do ovo e murmurou:
“Kull wahad!”).
KULON: jumento selvagem das estepes asiáticas da Terra,
adaptado a Arrakis.
KWISATZ HADERACH: “encurtamento do caminho”. É o
nome dado pelas Bene Gesserit à incógnita para a
qual elas procuram uma solução genética: a versão
masculina de uma Bene Gesserit, cujos poderes
mentais e orgânicos viriam a unir o espaço e o tempo.
L
LA, LA, LA: grito de pesar dos fremen (“la” pode ser
traduzido como a negação suprema, um “não” que
não permite recurso).
LAGARTA DE AREIA: termo genérico para as máquinas
projetadas para operar na superfície de Arrakis,
caçando e coletando o mélange.
LEGIÃO IMPERIAL: dez brigadas (cerca de trinta mil
homens).
LENÇO NEZHONI: o lenço almofadado usado na testa, sob
o gorro do trajestilador, pelas mulheres fremen
casadas, ou “associadas”, após o nascimento de um
filho homem.
LENTES DE ÓLEO: óleo de hufuf mantido em tensão
estática por um campo de força envolvente, dentro de
um tubo de observação, como parte de um sistema de
ampliação ou manipulação da luz. Como podem ser
ajustadas individualmente um mícron por vez, as
lentes de óleo são consideradas as mais precisas para
a manipulação da luz visível.
LIBAN: o liban dos fremen é uma infusão de água de
especiaria e farinha de iúca. Originariamente, uma
bebida feita de leite azedo.
LÍNGUA DE BATALHA: qualquer idioma especial de
etimologia restrita, desenvolvido para a comunicação
inequívoca na guerra.
LISAN AL-GAIB: “A Voz do Mundo Exterior”. Nas lendas
messiânicas dos fremen, um profeta de outro
planeta. Traduzido às vezes como “Doador da Água”
(veja-se Mahdi).
LITROFÃO: recipiente de um litro para o transporte de
água em Arrakis; feito de plástico de alta densidade e
inquebrável, dotado de lacre hermético.
LIVRE-CAMBISTAS: expressão idiomática para
contrabandistas.
LIXEIRAS: termo genérico para qualquer contêiner de
formato irregular, equipado com superfícies de
ablação e amortecedores baseados em suspensores.
São usadas para despejar materiais na superfície de
um planeta desde o espaço.
LUCIGLOBO: dispositivo de iluminação sustentado por
suspensores que tem fornecimento de energia
próprio (geralmente baterias orgânicas).
M
MAHDI: nas lendas messiânicas dos fremen, “Aquele que
Nos Levará ao Paraíso”.
MANTENE: sabedoria subjacente, argumento de
sustentação, princípio primeiro (veja-se Giudichar).
MANTO JUBBA: o manto multiuso (pode ser ajustado para
refletir ou absorver o calor radiante, converte-se
numa rede ou num abrigo), comumente usado por
cima de um trajestilador em Arrakis.
MANUAL DOS ASSASSINOS: compilação, do séc. III, de
venenos comumente usados numa Guerra de
Assassinos. Ampliada posteriormente para incluir os
dispositivos letais permitidos pela Paz da Guilda e a
Grande Convenção.
MAPA DAS PIAS: mapa da superfície de Arrakis que traça
as rotas mais confiáveis, determinadas por uma
parabússola, entre um refúgio e outro (veja-se
parabússola).
MARÉ DE AREIA: expressão idiomática que indica uma
maré de poeira: a variação no nível de certas bacias
preenchidas com poeira em Arrakis, graças a efeitos
gravitacionais do sol e dos satélites (veja-se bacia de
maré-poeira).
MARTELADOR: estaca curta com uma matraca de mola
numa das extremidades. Função: ser enterrado na
areia e começar a “martelar” para chamar shai-hulud
(veja-se ganchos de criador).
MASSA PRÉ-ESPECIARIA: o estágio de crescimento
fungoide desenfreado obtido quando os excrementos
dos criadorezinhos são encharcados com água. Nesse
estágio, a especiaria de Arrakis forma uma
“explosão” característica, trocando o material das
profundezas subterrâneas pela matéria da superfície
logo acima. Essa massa, depois de exposta ao sol e ao
ar, torna-se o mélange (veja-se também mélange e
Água da Vida).
MAULA: escravo.
MÉLANGE: a “especiaria das especiarias”, o produto que
tem em Arrakis sua única fonte. A especiaria, célebre
principalmente por suas características geriátricas,
causa dependência moderada quando ingerida em
pequenas quantidades, e dependência grave quando
sorvida em quantidades superiores a dois gramas
diárias a cada setenta quilos de peso corporal (veja-se
Ibad, Água da Vida e massa pré-especiaria).
Muad’Dib alegava que a especiaria era a chave de
seus poderes proféticos. Os navegadores da Guilda
faziam afirmações semelhantes. O preço do mélange
no mercado imperial chegou a seiscentos e vinte mil
solaris o decagrama.
MENTAT: a classe de cidadãos imperiais treinados para
realizar feitos supremos de lógica. “Computadores
humanos”.
METALEQUE: metal formado pelo crescimento de cristais
de jásmio no interior do duralumínio; destaca-se por
sua extrema força elástica em relação ao peso. O
nome é derivado de seu uso corriqueiro em
estruturas dobráveis que se abrem “em leque”.
METAVIDRO: vidro produzido como uma infusão gasosa
de alta temperatura dentro de folhas do quartzo de
jásmio. Famoso por sua extrema força elástica (por
volta de 450 mil quilogramas por centímetro
quadrado à espessura de dois centímetros) e
capacidade como filtro seletivo de radiação.
MIHNA: a época de colocar à prova os fremen jovens que
desejam ser aceitos como homens adultos.
MISH-MISH: damascos.
MISR: o termo que os Zen-sunitas (fremen) usam
historicamente para se referir a si mesmos: “o Povo”.
MISSIONARIA PROTECTORA: o braço da ordem Bene
Gesserit encarregado de semear superstições
contagiantes em mundos primitivos, expondo-os,
portanto, à exploração por parte das Bene Gesserit
(veja-se panoplía propheticus).
MONITOR: uma nau de guerra espacial em dez seções,
equipada com blindagem pesada e protegida por
escudos. Foi projetada para se separar em suas
seções componentes durante a decolagem, após uma
aterrissagem planetária.
MONITOR CLIMÁTICO: uma pessoa treinada nos métodos
especiais de se prever o tempo em Arrakis, entre eles
o posteamento da areia e a interpretação dos
padrões dos ventos.
MONTARENADOR: termo fremen para alguém capaz de
capturar e montar um verme da areia.
MU ZEIN WALLÁ!!: mu zein significa, literalmente, “nada
de bom”, e wallá é uma partícula exclamativa e
reflexiva de terminação. Nessa introdução tradicional
a uma maldição fremen, lançada sobre um inimigo,
wallá devolve a ênfase às palavras mu e zein,
produzindo o significado: “nada de bom, nunca é
bom, bom para nada”.
MUAD’DIB: o rato-canguru adaptado a Arrakis, uma
criatura associada, na mitologia fremen do espírito
da terra, a um desenho visível na face da segunda lua
do planeta. Essa criatura é admirada pelos fremen
por sua habilidade de sobreviver no deserto aberto.
MUDIR NAHYA: o nome fremen para o Bruto Rabban
(conde Rabban de Lankiveil), o primo Harkonnen que
foi governador-siridar de Arrakis durantes muitos
anos. O nome costuma ser traduzido como “Rei
Demônio”.
MURALHA-ESCUDO: um acidente geográfico montanhoso
nos confins setentrionais de Arrakis, que protege
uma pequena área da força total das tempestades de
Coriolis do planeta.
MUSHTAMAL: um pequeno anexo ou pátio ajardinado.
MUSKY: veneno na bebida (veja-se chaumurky).
N
NA-: um prefixo que significa “nomeado” ou “sucessor”.
Portanto: na-barão significa herdeiro legitimário de
um baronato.
NAIB: alguém que jurou nunca ser capturado vivo pelo
inimigo; juramento tradicional de um líder fremen.
NOUKKERS: oficiais do corpo de guarda-costas imperiais
que têm laços de parentesco com o imperador.
Patente tradicional dos filhos das concubinas reais.
O
ORNITÓPTERO (COMUMENTE, TÓPTERO): qualquer
aeronave capaz de voo sustentado por meio do bater
de asas, como fazem as aves.
P
PANOPLÍA PROPHETICUS: termo que abrange as
superstições contagiantes usadas pelas Bene
Gesserit para explorar regiões primitivas (veja-se
Missionaria Protectora).
PAQUETE: principal cargueiro do sistema de transporte
da Guilda Espacial.
PARABÚSSOLA: qualquer bússola que determina a
direção por meio de anomalias magnéticas
localizadas; utilizada onde existem mapas relevantes
à disposição e onde o campo magnético total de um
planeta é instável ou costuma ser mascarado por
fortes tempestades magnéticas.
PENTAESCUDO: um campo gerador de escudo em cinco
camadas, adequado para áreas pequenas, como vãos
de portas ou passagens (os escudos grandes de
reforço ficam mais instáveis a cada camada
adicional), e praticamente intransponível para quem
não estiver usando um dissimulador sintonizado aos
códigos do escudo (veja-se porta dos prudentes).
PEONES (SING. PEOM): camponeses ou trabalhadores
restritos a um planeta, uma das classes basais do
sistema das faufreluches. Legalmente: a guarda do
planeta.
PIA: uma área de terras baixas e habitáveis em Arrakis,
cercada por terras altas, que a protegem das
tempestades predominantes.
PILAR DE FOGO: um pirofoguete simples que serve de
sinalizador no deserto aberto.
PIROPALA: uma das raras joias opalinas de Hagal.
PISTOLA DE TINGIBARA: um pulverizador de carga
eletrostática desenvolvido em Arrakis para deixar
uma grande marca de tinta na areia.
PISTOLA MAULA: arma de ação por mola que dispara
dardos envenenados; alcance aproximado de
quarenta metros.
PLATIBANDA: segundo nível superior dos penhascos
protetores da Muralha-Escudo de Arrakis (veja-se
Muralha-Escudo).
PLENISCENTA: uma flor verde e exótica de Ecaz, célebre
por seu aroma doce.
PORITRIN: terceiro planeta de Épsilon Alangue,
considerado por muitos Peregrinos Zen-sunitas
como seu planeta de origem, apesar de certas pistas
em seu idioma e sua mitologia indicarem raízes
planetárias muito mais antigas.
PORTA DOS PRUDENTES OU BARREIRA DOS PRUDENTES
(NO VERNÁCULO: PORTAPRU OU BARRAPRU):
qualquer pentaescudo localizado de tal maneira a
deixar escaparem determinadas pessoas em
condições de perseguição (veja-se pentaescudo).
PORTOGAIS (SING. PORTOGAL): laranjas.
POSTEAR A AREIA: a arte de colocar postes de plástico e
fibra nos ermos do deserto aberto de Arrakis e
interpretar os padrões gravados nos postes pelas
tempestades de areia como pistas para a previsão do
tempo.
PRANA (MUSCULATURA-PRANA): os músculos do corpo
quando considerados como unidades para o
treinamento supremo (veja-se bindu).
PRIMANES: relações de parentesco para além de primos.
PRIMEIRA LUA: o principal satélite natural de Arrakis, a
primeira a nascer à noite; destaca-se por apresentar
o desenho distinto de um punho humano em sua
superfície.
PROCÈS-VERBAL: um relatório semiformal que denuncia
um crime contra o Imperium. Legalmente, uma ação
que se situa entre uma alegação verbal imprecisa e
uma acusação formal de crime.
PROCLAMADORA DA VERDADE: uma Reverenda Madre
qualificada a entrar no transe da verdade e detectar a
falta de sinceridade ou a mentira.
Q
QANAT: um canal a céu aberto para o transporte de água
de irrigação em condições controladas através de um
deserto.
QIRTAIBA: veja-se Ibn Qirtaiba.
QIZARA TAFWID: sacerdotes fremen (após Muad’Dib).
QUÉOPS: xadrez piramidal; xadrez em nove níveis, com o
duplo objetivo de colocar a rainha no ápice e o rei do
oponente em cheque.
R
RACHAG: um estimulante cafeínico extraído das bagas
amarelas do akarso (veja-se akarso).
RADIOFRESA: versão de curto alcance de uma armalês,
utilizada principalmente como ferramenta de corte e
bisturi cirúrgico.
RAMADÃ: período religioso antigo, marcado pelo jejum e
a oração; tradicionalmente, o nono mês do calendário
lunissolar. Os fremen fixam o costume de acordo com
a nona passagem da primeira lua pelo meridiano do
lugar.
RAZIA: um ataque guerrilheiro de caráter quase pirático.
RECATAS: tubos fisiológicos que ligam o sistema excretor
humano aos filtros recicladores de um trajestilador.
REPAKIT: artigos essenciais para reparar e repor um
trajestilador.
RESPIRARENADOR: aparelho respirador que bombeia o
ar da superfície para dentro de uma tendestiladora
coberta de areia.
REVERENDA MADRE: originariamente, uma censora das
Bene Gesserit, alguém que já transformou um
“veneno de iluminação” dentro de seu corpo,
elevando-se a um estado superior de percepção.
Título adotado pelos fremen para suas próprias
líderes religiosas que chegaram a uma “iluminação”
semelhante (veja-se também Bene Gesserit e Água da
Vida).
RICHESE: quarto planeta de Eridani A, classificado,
juntamente com Ix, como o suprassumo da cultura
das máquinas. Célebre pela miniaturização. (Pode-se
encontrar um estudo mais pormenorizado de como
Richese e Ix escaparam aos efeitos mais graves do
Jihad Butleriano em O último jihad, de Sumer e
Kautman.)
S
SADUS: juízes. O título fremen se refere a juízes sagrados,
equivalentes a santos.
SALUSA SECUNDUS: terceiro planeta de Gama Waiping;
designado como planeta-prisão do imperador após a
remoção da Corte Real para Kaitain. Salusa Secundus
é o planeta natal da Casa Corrino e a segunda parada
na migração dos Peregrinos Zen-sunitas. A tradição
fremen afirma que eles foram escravos em S. S.
durante nove gerações.
SAPHO: líquido energético extraído de raízes de taipa
provenientes de Ecaz. Usado comumente pelos
Mentats, que lhe atribuem a capacidade de ampliar
os poderes mentais. Os usuários desenvolvem
manchas de cor rubi na boca e nos lábios.
SARDAUKAR: os fanáticos-soldados do imperador padixá.
Eram homens criados num ambiente de tamanha
ferocidade que seis a cada treze pessoas morriam
antes de chegar aos treze anos de idade. Seu
treinamento militar enfatizava a desumanidade e
uma desconsideração quase suicida pela segurança
pessoal. Eram ensinados desde a infância a usar a
crueldade como arma-padrão, enfraquecendo os
oponentes com o terror. No auge de sua hegemonia
sobre o universo, dizia-se que sua habilidade com a
espada se equiparava à dos Ginaz de décimo nível e
que sua astúcia no combate corpo a corpo seria
quase equivalente à de uma iniciada Bene Gesserit.
Qualquer um deles era considerado páreo para os
recrutas normais das forças armadas do Landsraad.
À época de Shaddam IV, apesar de ainda serem
formidáveis, sua força tinha sido minada pelo excesso
de confiança, e a mística que nutria sua religião
guerreira havia sido profundamente solapada pelo
ceticismo.
SARFA: o ato de dar as costas a Deus.
SAYYADINA: acólito do sexo feminino na hierarquia
religiosa dos fremen.
SCHLAG: animal natural de Tupile que quase foi caçado
até a extinção por causa de seu couro resistente e
fino.
SEGUNDA LUA: o menor dos dois satélites naturais de
Arrakis, digno de nota pela figura do rato-canguru
que aparece em sua superfície.
SELAMLIK: sala de audiências imperial.
SEMUTA: o segundo derivado narcótico (por extração
cristalina) das cinzas da madeira de elacca. O efeito
(descrito como um êxtase intemporal e ininterrupto)
é evocado por certas vibrações atonais chamadas de
música da semuta.
SERVÓGIO: mecanismo dotado de temporizador para
realizar tarefas simples; um dos aparelhos de
“automação” limitada permitidos após o Jihad
Butleriano.
SHADOUT: “aquela que retira a água do poço”, um título
honorífico dos fremen.
SHÁ-NAMA: o quase lendário Livro Primeiro dos
Peregrinos Zen-sunitas.
SHAI-HULUD: o verme da areia de Arrakis, o “Velho do
Deserto”, o “Velho Pai Eternidade” e o “Avô do
Deserto”. É significativo que o nome, quando
pronunciado com uma certa entonação ou escrito
com iniciais maiúsculas, designe a divindade da terra
nas superstições domésticas dos fremen. Os vermes
da areia ficam enormes ( já foram avistados
espécimes com mais de quatrocentos metros de
comprimento nas profundezas do deserto) e chegam
a idades muito avançadas, a menos que sejam mortos
por outro verme ou afogados em água, que é um
veneno para eles. Atribui-se a existência da maior
parte da areia de Arrakis à ação dos vermes (veja-se
criadorzinho).
SHAITAN: Satã.
SHARIÁ: a parte da panoplía propheticus que descreve o
ritual supersticioso (veja-se Missionaria Protectora.)
SHIGAFIO: extrusão metálica de uma planta rastejante
(Narvi narviium) que só cresce em Salusa Secundus e
Delta Kaising III. Destaca-se por sua extrema força
elástica.
SIETCH: na língua fremen, “lugar de reunião em tempos
perigosos”. Como os fremen viveram tanto tempo em
perigo, o termo veio a designar, por extensão de
sentido, qualquer caverna labiríntica habitada por
uma de suas comunidades tribais.
SIHAYA: na língua fremen, a primavera do deserto, com
insinuações religiosas que implicam o tempo da
fertilidade e “o paraíso que ainda virá”.
SIRAT: o trecho da Bíblia C. O. que descreve a vida
humana como uma jornada através de uma ponte
estreita (a sirat), com “o paraíso à direita, o inferno à
esquerda, e o Anjo da Morte atrás”.
SOLARI: unidade monetária oficial do Imperium, seu
poder de compra foi estabelecido em negociações
quadricentenárias entre a Guilda, o Landsraad e o
imperador.
SOLIDOGRAFIA: a imagem tridimensional que sai de um
projetor solidográfico, que utiliza sinais de referência
em 360 graus impressos num rolo de shigafio. Os
projetores solidográficos ixianos costumam ser
considerados os melhores.
SONDAGI: a tulipa filicópsida de Tupali.
SORTILÉGIOS, DOS: expressão idomática; aquilo que tem
algo de misticismo ou bruxaria.
SUBAKH UL KUHAR: “Como está?”. Cumprimento fremen.
SUBAKH UN NAR: “Estou bem, e você?”. Resposta
tradicional a um cumprimento fremen.
SUSPENSÃO BINDU: uma forma especial de catalepsia
autoinduzida.
SUSPENSOR: fase secundária (baixo consumo) de um
gerador de campo de Holtzman. Anula a gravidade
dentro de certos limites prescritos pelo consumo
relativo de massa e energia.
SUU-SUU SUUK!: pregão dos vendedores de água em
Arrakis. Suuk é um mercado (veja-se ikhut-eigh!)
T
TAHADDI AL-BURHAN: um teste supremo para o qual não
cabe recurso (geralmente porque ele leva à morte ou
à destruição).
TAQWA: literalmente, “o preço da liberdade”. Uma coisa
de grande valor. Aquilo que uma divindade exige de
um mortal (e o medo provocado por essa exigência).
TAU, O: na terminologia fremen, a unidade da
comunidade sietch, ampliada pela dieta baseada em
especiaria e, principalmente, a orgia tau de unidade
evocada pela ingestão da Água da Vida.
TENDESTILADORA: recinto pequeno e lacrável de tecido
em microssanduíche, projetado para reaproveitar, na
forma de água potável, a umidade ambiente liberada
dentro dela pela respiração de seus ocupantes.
T-P: expressão idiomática para telepatia.
TESTE-MASHAD: qualquer teste no qual a honra (definida
como prestígio espiritual) está em jogo.
TLEILAX: planeta solitário de Thalim, célebre como
centro de treinamento renegado para Mentats;
origem dos Mentats deturpados.
TRAJESTILADOR: roupa que envolve o corpo todo,
inventada em Arrakis. Seu tecido é um
microssanduíche com as funções de dissipar o calor e
filtrar os dejetos do corpo. A umidade reaproveitada
torna-se disponível por meio de um tubo que vem de
bolsas coletoras.
TRANSE DA VERDADE: transe semi-hipnótico induzido
por um dentre vários narcóticos de “espectro
perceptivo”, no qual as pequenas inconfidências da
mentira deliberada ficam aparentes para a
observadora em transe. (Obs.: os narcóticos de
“espectro perceptivo” costumam ser fatais, exceto
para indivíduos insensibilizados, capazes de mudar a
configuração do veneno em seus próprios corpos.)
TRANSPORTE DE TROPAS: qualquer nave da Guilda
projetada especificamente para transportar tropas
de um planeta a outro.
TREINAMENTO: quando aplicado às Bene Gesserit, este
termo comum assume um significado especial,
referindo-se ao condicionamento de nervos e
músculos (vejam-se bindu e prana) elevado ao último
grau permitido pelas funções naturais.
TRILHARENADOR: qualquer fremen treinado para
sobreviver no deserto aberto.
TRIPÉ DA MORTE: originariamente, o tripé no qual os
executores do deserto enforcavam suas vítimas. Por
extensão de sentido: os três membros de um cherem
que juraram a mesma vingança.
TUPILE: o chamado “planeta santuário” (provavelmente
vários planetas) para as Casas derrotadas do
Imperium. Sua(s) localização(ões) é(são) conhecida(s)
apenas pela Guilda e guardada(s) como segredo
inviolável sob os termos da Paz da Guilda.
U
ULEMÁ: um doutor em teologia entre os Zen-sunitas.
UMMA: alguém que pertence à irmandade dos profetas
(no Imperium, termo desdenhoso que indica qualquer
pessoa “desvairada” e dada a fazer predições
fanáticas).
UROSHNOR: um dos diversos sons desprovidos de sentido
que as Bene Gesserit implantam nas psiques de
vítimas seletas a fim de controlá-las. A pessoa
sensibilizada, ao ouvir o som, fica temporariamente
imobilizada.
USINA DE ESPECIARIA: veja-se lagarta de areia.
USUL: no idioma fremen, “a base da coluna”.
V
VAROTA: famoso fabricante de balisets; natural de
Chusuk.
VEDA-PORTAS: um lacre plástico, hermético e portátil
usado para manter a hidrossegurança nas cavernas
em que os fremen acampam durante o dia.
VENENO RESIDUAL: uma inovação atribuída ao Mentat
Piter de Vries, por meio da qual o corpo é impregnado
com uma substância que exige a aplicação repetida
de antídotos. A remoção do antídoto a qualquer
momento causa a morte.
VERITÉ: um dos narcóticos de Ecaz que destroem a
vontade. Torna uma pessoa incapaz de mentir.
VERME DA AREIA: veja-se Shai-hulud.
VIGIA CONTROLE: o ornitóptero leve, num grupo de
caçadores de especiaria, encarregado de controlar a
vigilância e a proteção.
VOZ: o treinamento combinado, criado pelas Bene
Gesserit, que permite à iniciada controlar outras
pessoas usando apenas certas nuances de tom de
voz.
W
WALI: um fremen jovem ainda não colocado à prova.
WALLACH IX: nono planeta de Laoujin, sede da Escola
Mãe das Bene Gesserit.
Y
YA HYA CHOUHADA: “Longa vida aos guerreiros!”. Grito
de guerra dos Fedaykin. Ya (agora), nesse grito, é
amplificado pela forma hya (o agora que se prolonga
na eternidade). Chouhada (guerreiros) traz o sentido
adicional de lutar contra a injustiça. Há nessa palavra
uma distinção que especifica que os guerreiros não
lutam por qualquer coisa, e sim que foram
consagrados a lutar contra uma coisa específica e
exclusiva.
YA! YA! YAWM!: cadência dos cânticos fremen, usada em
momentos de profundo significado ritualístico. Ya
tem o significado original de “Agora preste atenção!”.
A forma yawm é um termo modificado que exige
proximidade urgente. O canto costuma ser traduzido
como “Agora, ouça isto!”.
YALI: os aposentos pessoais de um fremen no sietch.
Z
ZEN-SUNITAS: seguidores de uma seita cismática que se
desviou dos ensinamentos de Maomé (o chamado
“Terceiro Muhammad”) por volta de 1381 a. G. A
religião zen-sunita destaca-se principalmente por
sua ênfase no misticismo e por um retorno aos
“costumes dos antepassados”. A maioria dos
estudiosos nomeia Ali Ben Ohashi como o líder do
cisma original, mas há indícios de que Ohashi pode
ter sido meramente o porta-voz masculino de sua
segunda esposa, Nisai.
Notas cartográficas
Herbert, Frank
Duna [livro eletrônico] / Frank Herbert ; tradução Maria do Carmo Zanini ; tradução Maria do Carmo
Zanini. -- São Paulo : Aleph, 2015.
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– Foi ali que seu pai morreu? – Edric perguntou dentro de seu
tanque, usando um apontador laser para indicar um marcador em
forma de joia num dos mapas em relevo que adornavam uma das
paredes do salão de recepções de Paul.
– Ali fica o santuário onde repousa o crânio dele – disse Paul. –
Meu pai morreu prisioneiro numa fragata dos Harkonnen na pia
logo abaixo de nós.
– Ah, sim: lembro-me da história agora. Algo a ver com matar o
velho barão Harkonnen, seu inimigo mortal.
Torcendo para não revelar demais o pavor que recintos
pequenos como aquela sala lhe impingiam, Edric se revolveu no
gás laranja, dirigiu o olhar para Paul, que se sentava sozinho num
divã comprido, listado de cinza e preto.
– Minha irmã matou o barão pouco antes da Batalha de
Arrakina – disse Paul, com secura na voz e nos gestos.
E ele se perguntou por que o peixe-homem da Guilda reabria
antigas feridas naquele lugar e naquele momento.
O Piloto parecia travar uma batalha perdida para refrear sua
energia nervosa. Haviam desaparecido os movimentos lânguidos
de peixe do encontro anterior. Os olhinhos de Edric moviam-se
bruscamente daqui para ali, procurando e avaliando. O único
criado que o acompanhara estava deslocado, perto da fileira de
guardas que se alinhavam junto a uma das paredes menores, à
esquerda de Paul. O criado preocupava Paul: corpulento, de
pescoço largo, cara obtusa e sem expressão. O homem tinha
entrado no recinto empurrando o tanque de Edric sobre seu
campo de sustentação, com passos de estrangeiro e os braços
arqueados para fora.
Scytale, Edric o chamara. Scytale, um assistente.
A aparência do assistente alardeava estupidez, mas os olhos o
traíam. Riam de tudo o que viam.
– Sua concubina, pelo jeito, gostou da apresentação dos
Dançarinos Faciais – Edric comentou. – Agrada-me saber que
pude proporcionar essa pequena diversão. Gostei
particularmente da reação dela ao ver as próprias feições
reproduzidas simultaneamente pela trupe inteira.
– Não dizem que é bom tomar cuidado com os presentes dos
membros da Guilda? – Paul perguntou.
E pensou na apresentação lá fora, no Grande Átrio. Os
dançarinos haviam entrado fantasiados como as figuras do Tarô
de Duna, atirando-se de um lado e de outro em padrões
aparentemente aleatórios que passaram a formar redemoinhos
de fogo e antigos traçados proféticos. Daí vieram os soberanos:
um desfile de reis e imperadores, como as caras nas moedas,
formal e de contornos rígidos, mas curiosamente fluido. E os
gracejos: uma cópia do rosto e do corpo de Paul, Chani a se
repetir por todo o piso do Átrio, até mesmo Stilgar, que não parou
de resmungar nem de se arrepiar enquanto os demais davam
risada.
– Mas nossos presentes têm as melhores intenções – protestou
Edric.
– Até onde vai sua bondade? – Paul perguntou. – O ghola que
nos deu acredita que foi criado para nos destruir.
– Destruí-lo, sire? – Edric perguntou, todo meigo e atencioso. –
É possível destruir um deus?
Stilgar, que acabara de entrar e ouvir estas últimas palavras,
deteve-se, olhou ferozmente para os guardas. Estavam bem mais
distantes de Paul do que ele gostaria que estivessem. Irritado, fez
sinal para que se aproximassem.
– Está tudo bem, Stil – disse Paul, erguendo uma das mãos. – É
só uma discussão amigável. Por que não traz o tanque do
embaixador até aqui, para a ponta de meu divã?
Stilgar, ponderando a ordem, viu que isso colocaria o tanque do
Piloto entre Paul e o assistente corpulento, perto demais de Paul,
mas...
– Está tudo bem, Stil – Paul repetiu, fazendo com a mão o sinal
particular que transformava a ordem numa imposição.
Movendo-se com óbvia relutância, Stilgar empurrou o tanque
para mais perto de Paul. Não gostava do contato com o
recipiente, nem do aroma intenso de mélange que cercava a coisa.
Posicionou-se no canto do tanque, logo abaixo do dispositivo
orbital por onde o Piloto falava.
– Matar um deus – fez Paul. – Muito interessante. Mas quem
disse que sou um deus?
– Aqueles que o veneram – falou Edric, olhando incisivamente
para Stilgar.
– É nisso que acredita? – Paul perguntou.
– Aquilo no que acredito não tem importância, sire – respondeu
Edric. – No entanto, muitos observadores têm a impressão de que
milorde conspira para se tornar um deus. E pode-se perguntar se
isso é algo que um mortal consiga fazer... com segurança?
Paul estudou o membro da Guilda. Criatura repugnante, mas
perceptiva. Era uma pergunta que Paul se fizera várias vezes. Mas
ele tinha visto linhas alternativas de Tempo suficientes para
saber que havia possibilidades piores do que ele aceitar sua
própria divindade. Muito piores. Não eram, contudo, os caminhos
que um Piloto normalmente sondaria. Curioso. Por que fazer
aquela pergunta? O que Edric poderia esperar obter com
tamanha desfaçatez? Os pensamentos de Paul piscaram (a
sociedade dos Tleilaxu estaria por trás da manobra) – piscaram (a
recente vitória do Jihad em Sembou estaria relacionada à atitude
de Edric) – piscaram (vários princípios das Bene Gesserit se
revelavam ali) piscaram...
Um processo que envolvia milhares de informaçõezinhas
passou piscando por sua percepção computacional. Tomou-lhe,
talvez, três segundos.
– Um Piloto questiona as diretrizes da presciência? – Paul
perguntou, colocando Edric num terreno dos mais perigosos.
Aquilo transtornou o Piloto, mas ele disfarçou bem, saindo-se
com o que soou como um longo aforismo:
– Nenhum homem inteligente questiona a presciência como
fato, sire. A visão oracular é algo que os homens conhecem desde
os tempos mais remotos. Ela dá um jeito de nos enredar quando
menos esperamos. Por sorte, existem outras forças em nosso
universo.
– Superiores à presciência? – perguntou Paul, pressionando-o.
– Se a presciência fosse a única a existir e a fazer tudo, sire,
aniquilaria a si mesma. Nada além da presciência? Onde poderia
ser aplicada, a não ser em seus próprios movimentos em
degeneração?
– Existe sempre a condição humana – Paul concordou.
– Algo precário, na melhor das hipóteses, quando não é
confundida com alucinações.
– Minhas visões não passam de alucinações? – perguntou Paul,
com fingida tristeza em sua voz. – Ou você estaria insinuando que
meus adoradores alucinam?
Stilgar, percebendo que a tensão aumentava, chegou um passo
mais perto de Paul, concentrou sua atenção no membro da Guilda
reclinado dentro do tanque.
– Está distorcendo minhas palavras, sire – Edric protestou.
Pairava uma estranha sensação de violência nessas palavras.
Violência, aqui?, admirou-se Paul. Não se atreveriam! A menos
que (e olhou para seus guardas) as forças que o protegessem
fossem usadas para substituí-lo.
– Mas você me acusa de conspirar para a minha divinização –
disse Paul, modulando a voz para que somente Edric e Stilgar
ouvissem. – Conspirar?
– Talvez eu tenha escolhido mal as palavras, milorde.
– Mas são significativas – devolveu Paul. – Revelam que, de
mim, você espera o pior.
Edric arqueou o pescoço, olhou de lado para Stilgar, com um ar
de apreensão.
– As pessoas sempre esperam o pior dos ricos e poderosos,
sire. Dizem que sempre se sabe quando alguém é da aristocracia:
o nobre só revela os vícios que o tornarão popular.
Um tremor percorreu a face de Stilgar.
Paul atentou ao movimento, captando os pensamentos e as
zangas que cochichavam na mente de Stilgar. Como o membro da
Guilda se atrevia a falar daquele jeito com Muad’Dib?
– Não está brincando, naturalmente – disse Paul.
– Brincando, sire?
Paul começou a notar a secura em sua boca. Pareceu-lhe haver
gente demais na sala, que o ar que respirava tinha passado por
pulmões em demasia. O toque de mélange que vinha do tanque de
Edric parecia ameaçador.
– Quem seriam meus cúmplices nessa conspiração? – Paul
perguntou em seguida. – Diria ser o Qizarate?
O encolher de ombros de Edric agitou o gás laranja em volta de
sua cabeça. Já não parecia mais preocupado com Stilgar, embora
o fremen continuasse a olhar ferozmente para ele.
– Está sugerindo que meus missionários das Ordens Sagradas,
todos eles, andam pregando mentiras sutis? – insistiu Paul.
– Poderia ser uma questão de interesse pessoal e sinceridade –
disse Edric.
Stilgar levou uma das mãos à dagacris sob seu manto.
Paul balançou a cabeça e disse:
– Então está me acusando de insinceridade.
– Não sei se acusar seria a palavra adequada, sire.
O atrevimento desta criatura!, Paul pensou. E disse:
– Acusação ou não, está dizendo que meus bispos e eu não
somos melhores que bandoleiros sequiosos de poder.
– Sequiosos de poder, sire? – Edric voltou a olhar para Stilgar. –
O poder costuma isolar aqueles que o detêm em demasia. Por fim,
acabam perdendo o contato com a realidade... e tombam.
– Milorde, já mandou executar homens por muito menos! –
grunhiu Stilgar.
– Homens, sim – Paul concordou. – Mas esse aí é um
embaixador da Guilda.
– Ele o acusa de fraude e profanação! – disse Stilgar.
– O raciocínio dele me interessa, Stil. Contenha sua raiva e
continue alerta.
– Como Muad’Dib mandar.
– Diga-me, Piloto, como conseguiríamos manter essa fraude
hipotética através de distâncias tão imensas do espaço e do
tempo sem meios para vigiar cada missionário, examinar cada
nuance em cada priorado e templo do Qizarate?
– O que é o tempo para milorde? – Edric perguntou.
Stilgar franziu o cenho, obviamente confuso. E pensou:
Muad’Dib já afirmou várias vezes enxergar o que está atrás dos
véus do tempo. O que esse membro da Guilda de fato está dizendo?
– A estrutura de uma fraude como essa não começaria a
mostrar furos? – perguntou Paul. – Discordâncias importantes,
dissidências... dúvidas, confissões de culpa: uma fraude
certamente não conseguiria suprimir tudo isso.
– O que a religião e o interesse pessoal não são capazes de
esconder, os governos o fazem – afirmou Edric.
– Está testando os limites de minha tolerância? – Paul
perguntou.
– Meus argumentos não têm valor algum? – retorquiu Edric.
Ele quer que nós o matemos?, Paul se perguntou. Edric estaria
se oferecendo como sacrifício?
– Prefiro o ponto de vista dos céticos – ensaiou Paul. – Você
obviamente foi treinado para usar todos os truques mentirosos
da arte de governar, os duplos sentidos e as palavras de poder.
Para você, a linguagem não passa de uma arma, e assim você põe
minha armadura à prova.
– O ponto de vista dos céticos – disse Edric, e um sorriso
espichou-lhe a boca. – E os soberanos são sabidamente céticos no
que toca à religião. A religião também é uma arma. E que tipo de
arma seria a religião quando ela se torna o governo?
Paul sentiu-se serenar por dentro, uma profunda cautela se
apoderou dele. Para quem Edric falava? Malditas palavras
sagazes, cheias de expedientes manipuladores – aquele laivo de
humor despreocupado, o ar tácito de cumplicidade nos segredos:
seus modos indicavam que ele e Paul eram duas pessoas
sofisticadas, homens de um universo mais vasto que
compreendiam as coisas que não cabiam à gente comum
entender. Com um sobressalto, Paul percebeu que não era ele o
alvo principal de toda aquela retórica. Aquela desgraça que
assolava a corte se dirigia aos ouvidos de outras pessoas: aos
ouvidos de Stilgar, dos guardas reais... talvez até mesmo para o
assistente corpulento.
– Impuseram-me o mana religioso – disse Paul. – Não o
procurei. – E pensou: Pronto! Deixemos este peixe-homem pensar
que saiu vitorioso de nossa batalha de palavras!
– Então por que não o repudiou, sire? – Edric perguntou.
– Por causa de minha irmã, Alia – Paul respondeu, observando
Edric com cuidado. – Ela é uma deusa. Aconselho cautela ao tratar
de Alia, para que ela não o fulmine e mate com um olhar.
Um sorriso triunfante, que começara a se formar na boca de
Edric, foi substituído por uma expressão de susto.
– Falo sério – Paul disse, observando o susto se espalhar e
vendo Stilgar assentir com a cabeça.
Com tristeza na voz, Edric comentou:
– Abusou da confiança que eu depositava em milorde, sire. E
não há dúvida de que era essa sua intenção.
– Não esteja tão certo de que conhece minhas intenções – disse
Paul, sinalizando para Stilgar que a audiência terminara.
Ao gesto inquisitivo de Stilgar, que perguntava se era para
assassinar Edric, Paul respondeu com um sinal negativo da mão,
reforçando-o com uma ordem imperativa, para que Stilgar não
resolvesse agir por conta própria.
Scytale, o assistente de Edric, foi para um dos cantos atrás do
tanque e começou a empurrá-lo em direção à porta. Ao passar
diante de Paul, parou, dirigiu-lhe aquele olhar risonho e disse:
– Com sua licença, milorde?
– Sim, o que foi? – Paul perguntou, notando como Stilgar se
aproximara em resposta à ameaça implícita que o homem
emanava.
– Há quem diga que as pessoas se apegam à liderança do
imperador porque o espaço é infinito. Sentem-se solitárias sem
um símbolo para uni-las. Para um povo solitário, o imperador é
um lugar definido. Podem se voltar para ele e dizer: “Estão vendo
só? Lá está Ele. Ele nos une”. Talvez a religião tenha a mesma
finalidade, milorde.
Scytale acenou alegremente com a cabeça e voltou a empurrar
o tanque de Edric. Saíram do salão, Edric inerte em seu tanque, de
olhos fechados. O Piloto parecia exausto, esgotada toda a sua
energia nervosa.
Paul acompanhou com o olhar o vulto trôpego de Scytale,
admirado com as palavras do homem. Um sujeito peculiar, o tal
Scytale, pensou. Ao falar, irradiara a sensação de uma multidão,
como se toda a sua herança genética estivesse à flor da pele.
– Que esquisito – disse Stilgar, dirigindo-se a ninguém em
particular.
Paul levantou-se do divã quando um dos guardas fechou a
porta, logo depois de Edric e sua escolta sair.
– Esquisito – repetiu Stilgar. Uma veia latejava em sua têmpora.
Paul diminuiu a intensidade das luzes do salão, foi até uma
janela que se abria para um paredão inclinado de seu Forte. Luzes
brilhavam lá embaixo, ao longe – pigmeus em movimento. Uma
turma de trabalhadores se movia lá embaixo, trazendo
gigantescos blocos de ligaplás para consertar uma das fachadas
do templo de Alia, danificada por um raro e inesperado ciclone de
areia.
– Foi insensatez convidar aquela criatura a entrar nestes
aposentos, Usul – Stilgar disse.
Usul, Paul pensou. Meu nome de sietch. Stilgar não me deixa
esquecer que foi meu soberano um dia, que ele me salvou do
deserto.
– Por que fez isso? – Stilgar perguntou, falando bem perto de
Paul, logo atrás dele.
– Dados. Preciso de mais dados.
– Não é perigoso tentar enfrentar essa ameaça somente como
Mentat?
Perspicaz, Paul pensou.
A computação dos Mentats ainda era finita. Não era possível
exprimir algo ilimitado dentro dos limites de um idioma. Mas as
habilidades dos Mentats tinham lá sua serventia. Foi o que disse a
Stilgar, desafiando-o a refutar seu argumento.
– Sempre haverá algo lá fora – disse Stilgar. – Coisas que é
melhor deixar lá fora.
– Ou aqui dentro – Paul falou. E aceitou por um instante sua
própria conclusão de oráculo/Mentat. Lá fora, sim. E aqui dentro:
aqui jaz o verdadeiro horror. Como se proteger de si mesmo?
Estavam certamente armando para que ele destruísse a si
mesmo, mas era uma posição cercada de possibilidades ainda
mais apavorantes.
Seu devaneio foi interrompido pelo som de passos rápidos. A
figura de Korba, o Qizara, irrompeu pelo vão da porta, com a
iluminação intensa dos corredores como contraluz. Entrou como
se arremessado por uma força invisível e estacou quase
imediatamente ao deparar com a escuridão do salão. Parecia vir
com as mãos cheias de rolos de shigafio. Cintilaram sob a luz do
corredor, pequenas e estranhas joias redondas que se apagaram
quando a mão de um dos guardas apareceu para fechar a porta.
– Está aí, milorde? – Korba perguntou, perscrutando as
sombras.
– O que foi? – perguntou Stilgar.
– Stilgar?
– Estamos os dois aqui. O que foi?
– Estou transtornado com essa recepção para o membro da
Guilda.
– Transtornado? – Paul perguntou.
– O povo está dizendo que milorde homenageia nossos
inimigos.
– Só isso? – disse Paul. – São os rolos que pedi para você me
trazer? – Apontou os orbes de shigafio nas mãos de Korba.
– Rolos... Ah! Sim, milorde. São as crônicas. Deseja vê-las aqui?
– Já as vi. São para Stilgar.
– Para mim? – Stilgar perguntou.
Ele começou a se ressentir daquilo que interpretava como um
capricho da parte de Paul. Crônicas! Stilgar havia procurado Paul
pouco antes para discutir as computações logísticas destinadas à
conquista de Zabulon. A presença do embaixador da Guilda havia
interferido. E agora... Korba trazia crônicas!
– Até onde vão seus conhecimentos de história? – Paul cismou
em voz alta, estudando o vulto escuro a seu lado.
– Milorde, sou capaz de nomear todos os planetas em que
nossa gente pisou em suas migrações. Conheço os confins do
Imperium...
– A Idade de Ouro da Terra, já a estudou alguma vez?
– A Terra? A Idade de Ouro?
Stilgar estava irritado e confuso. Por que Paul iria querer
discutir mitos da aurora do tempo? A mente de Stilgar ainda lhe
parecia abarrotada de dados a respeito de Zabulon – as
computações dos Mentats do estado-maior: duzentas e cinco
fragatas de ataque com trinta legiões, batalhões de apoio, oficiais
de pacificação, missionários do Qizarate... as provisões
necessárias (tinha as cifras todas na cabeça) e o mélange...
armamento, uniformes, medalhas... urnas para as cinzas dos
mortos... o número de especialistas – homens para produzir as
matérias-primas da propaganda, escrivães, contadores...
espiões... e espiões dos espiões...
– Eu também trouxe o acessório de pulsossincronização,
milorde – arriscou Korba. Obviamente sentira a tensão cada vez
maior entre Paul e Stilgar, e isso o perturbava.
Stilgar balançou a cabeça de um lado para o outro.
Pulsossincronização? Por que Paul queria que ele usasse um
vibrossistema mnemônico com um projetor de shigafio? Para que
procurar dados específicos nas crônicas? Era trabalho para os
Mentats! Como de costume, Stilgar viu-se incapaz de se livrar da
forte desconfiança que sentia em relação a usar o projetor e seus
acessórios. A coisa sempre o fazia se perder em sensações
inquietantes, uma chuva avassaladora de dados que sua mente
organizaria mais tarde, surpreendendo-o com informações que
até então não sabia ter.
– Sire, tenho aqui as computações a respeito de Zabulon – disse
Stilgar.
– Que se desidratem as computações de Zabulon! – Paul gritou,
usando a expressão obscena dos fremen que dava a entender que,
àquela umidade, homem nenhum iria se rebaixar a tocar.
– Milorde!
– Stilgar, você precisa urgentemente de uma imparcialidade
que só se adquire com a compreensão dos efeitos de longo prazo.
As poucas informações que temos a respeito da antiguidade, a
ninharia de dados que os butlerianos nos deixaram, Korba a
trouxe para você. Comece com Gengis Khan.
– Gengis... Khan? Era um dos Sardaukar, milorde?
– Ah, de muito antes. Ele matou... talvez quatro milhões.
– Devia ter armas formidáveis para matar tantos, sire.
Feixeleses, talvez, ou...
– Ele não os matou pessoalmente, Stil. Matou como eu mato,
enviando suas legiões. Há um outro imperador que quero que
você marque de passagem: um tal Hitler. Ele matou mais de seis
milhões. Um bom número, para a época.
– Mortos... pelas legiões dele? – Stilgar perguntou.
– Sim.
– Os números não são muito impressionantes, milorde.
– Muito bem, Stil. – Paul olhou para os rolos nas mãos de Korba,
que os segurava como se quisesse deixá-los cair e sair correndo. –
Números: fazendo uma estimativa conservadora, matei sessenta
e um bilhões, esterilizei noventa planetas, desmoralizei
completamente outros quinhentos. Eliminei os seguidores de
quarenta religiões que existiam havia...
– Infiéis! – protestou Korba. – Infiéis, todos eles!
– Não. Fiéis.
– Meu suserano está brincando – disse Korba, com voz trêmula.
– O Jihad trouxe dez mil planetas para a luz resplandecente de...
– Para as trevas – disse Paul. – Levaremos uma centena de
gerações para nos recuperar do Jihad de Muad’Dib. Acho difícil
imaginar que alguém possa um dia superar tal coisa. – Um riso
entrecortado irrompeu de sua garganta.
– Qual é a graça, Muad’Dib? – Stilgar perguntou.
– Graça nenhuma. Simplesmente tive uma visão súbita do
imperador Hitler dizendo algo parecido. Sem dúvida o fez.
– Nenhum outro soberano teve seus poderes – Korba
argumentou. – Quem se atreveria a desafiá-lo? Suas legiões
controlam o universo conhecido e todos os...
– As legiões controlam. Será que sabem disso?
– Milorde controla suas legiões, sire – interveio Stilgar, e ficou
patente, pelo tom de sua voz, que ele se apercebera
repentinamente de sua própria posição naquela cadeia de
comando, de sua própria mão a dirigir todo aquele poder.
Depois de colocar os pensamentos de Stilgar nos trilhos que
desejava, Paul voltou toda a sua atenção para Korba e disse:
– Deixe os rolos ali sobre o divã. – Enquanto Korba cumpria
suas ordens, Paul perguntou: – Como anda a recepção, Korba?
Minha irmã tem tudo sob controle?
– Sim, milorde – o tom de Korba foi cauteloso. – E Chani a tudo
vê pelo postigo. Ela desconfia de que pode haver Sardaukar na
comitiva da Guilda.
– E ela deve estar certa, sem dúvida. Os chacais estão se
reunindo.
– Bannerjee estava preocupado com a possibilidade de alguns
deles tentarem entrar nas áreas privativas do Forte – falou
Stilgar, mencionando o chefe do destacamento da Segurança de
Paul.
– E tentaram?
– Ainda não.
– Mas houve uma certa confusão nos jardins cerimoniais – disse
Korba.
– Que tipo de confusão? – quis saber Stilgar.
Paul concordou com a cabeça.
– Pessoas estranhas andando de lá para cá, pisando nas
plantas, cochichando – contou Korba. – Ouvi relatos sobre
comentários inquietantes.
– Por exemplo? – perguntou Paul.
– É assim que gastam o dinheiro de nossos impostos? Disseram-
me que o próprio embaixador fez essa pergunta.
– Não me surpreende. Havia muitos estranhos nos jardins?
– Dezenas, milorde.
– Bannerjee posicionou soldados escolhidos a dedo nas portas
vulneráveis, milorde – disse Stilgar.
Virou-se ao falar, deixando a única luz que ainda restava no
salão iluminar metade de seu rosto. A iluminação peculiar, o
rosto, tudo isso roçou um nódulo de memória na mente de Paul:
alguma coisa do deserto. Paul não se deu o trabalho de trazê-la
totalmente à tona, concentrando sua atenção em como Stilgar
havia recuado mentalmente. O fremen tinha uma testa lisa
retesada que espelhava praticamente todo e qualquer
pensamento que passava por sua cabeça. Desconfiava agora,
desconfiava profundamente do estranho comportamento do
imperador.
– Não me agrada essa invasão dos jardins – Paul falou. – A
cortesia para com os convidados e as necessidades formais de
receber um embaixador são uma coisa, mas isso...
– Cuidarei para que sejam removidos – disse Korba. –
Imediatamente.
– Espere! – ordenou Paul quando Korba já começava a se virar
para sair.
Na repentina quietude do momento, Stilgar colocou-se numa
posição de onde pudesse estudar o rosto de Paul. Tamanha
destreza. Paul admirava aquilo, uma façanha destituída de toda
petulância. Era típico dos fremen: a astúcia temperada pelo
respeito à privacidade alheia, uma manobra da necessidade.
– Que horas são? – Paul perguntou.
– Quase meia-noite, sire – respondeu Korba.
– Korba, creio que você seja minha melhor criação.
– Sire!
Havia ofensa na voz de Korba.
– Tem admiração por mim? – Paul perguntou.
– Milorde é Paul Muad’Dib, que era Usul em nosso sietch – disse
Korba. – Conhece minha devoção a...
– Alguma vez chegou a se sentir como um apóstolo?
Korba obviamente entendeu mal as palavras, mas interpretou
corretamente o tom.
– Meu imperador sabe que tenho a consciência limpa!
– Que Shai-hulud nos salve – Paul murmurou.
O silêncio inquisitivo do momento foi rompido pelo som de
alguém que assoviava ao passar pelo corredor lá fora. Ao chegar
diante da porta, o assovio foi calado pela ordem ríspida de um
guarda.
– Korba, acho que você talvez sobreviva a tudo isso – Paul disse.
E percebeu que a compreensão começava a iluminar o rosto de
Stilgar.
– E quanto aos estranhos nos jardins, sire? – Stilgar perguntou.
– Aah, sim. Mande Bannerjee colocá-los para fora, Stil. Korba
vai ajudar.
– Eu, sire? – Korba revelava profunda inquietação.
– Alguns amigos meus esqueceram que um dia foram fremen –
disse Paul, dirigindo-se a Korba, mas destinando suas palavras a
Stilgar. – Marque aqueles que Chani identificar como Sardaukar e
mate-os. Cuide disso pessoalmente. Quero a coisa feita com
discrição, sem causar tumulto indevido. Não podemos nos
esquecer de que a religião e o governo não se resumem a sermões
e à aprovação de tratados.
– Obedeço às ordens de Muad’Dib – Korba sussurrou.
– E as computações de Zabulon? – Stilgar perguntou.
– Ficam para amanhã. E, removidos os forasteiros dos jardins,
anuncie o fim da recepção. A festa acabou, Stil.
– Entendido, milorde.
– Tenho certeza de que sim – disse Paul.
Aqui jaz um deus caído –
Pequena não foi a queda.
Só erigimos seu pedestal,
Alto e estreito ele era.
– Epigrama tleilaxu
– “O hino do ghola”
Terminologia do Imperium
A
ADAB: a lembrança exigente que se manifesta por conta própria.
ÁGUA DA VIDA: um veneno “de iluminação” (veja-se Reverenda
Madre). Especificamente, a exalação líquida de um verme da
areia (veja-se Shai-hulud), produzida no momento de sua morte
por afogamento, e que é transformada dentro do corpo de uma
Reverenda Madre para se tornar o narcótico empregado na
orgia tauística do sietch. Um narcótico de “espectro
perceptivo”.
ALAM AL-MITHAL: o mundo místico das similitudes, no qual todas
as limitações físicas são eliminadas.
AREIA-FOGO: uma arma poderosa que corrói os olhos da vítima.
ARMALÊS: projetor laser de onda contínua. Seu emprego como
arma é limitado numa cultura de escudos geradores de
campos, por causa da pirotecnia explosiva (tecnicamente, uma
fusão subatômica) criada quando seu raio encontra um escudo.
ARRAKINA: primeira povoação em Arrakis; sede de longa data do
governo planetário.
ARRAKIS: o planeta conhecido como Duna; terceiro planeta de
Canopus.
ASSEMBLEIA: distinta de uma Assembleia do Conselho. É uma
convocação formal dos líderes fremen para testemunhar um
combate que irá determinar a liderança da tribo. (A
Assembleia do Conselho é uma reunião para se chegar a
decisões que envolvem todas as tribos.)
B
BALISET: um instrumento musical de nove cordas, a ser
dedilhado, descendente direto da zithra e afinado na escala
chusuk. Instrumento preferido dos trovadores imperiais.
BASHAR (GERALMENTE, BASHAR CORONEL): um oficial dos
Sardaukar, uma fração acima de coronel na classificação militar
padrão. Patente criada para o governante militar de um
subdistrito planetário (bashar da corporação é um título de uso
estritamente militar).
BENE GESSERIT: antiga escola de treinamento físico e mental para
alunas do sexo feminino fundada depois que o Jihad Butleriano
destruiu as chamadas “máquinas pensantes” e os robôs.
BENE TLEILAX: grupo de seres humanos que habitavam Tleilax, o
único planeta da estrela Thalim.
BÍBLIA CATÓLICA DE ORANGE: o “Livro Reunido”, o texto religioso
produzido pela Comissão de Tradutores Ecumênicos. Contém
elementos de religiões antiquíssimas, entre elas o saari
maometano, o cristianismo maaiana, o catolicismo zen-sunita e
as tradições budislâmicas. Considera-se como seu
mandamento supremo: “Não desfigurarás a alma”.
BINDU: relacionada ao sistema nervoso humano, em especial ao
treinamento dos nervos. Muitas vezes mencionada como
inervação-bindu (veja-se prana).
C
CALADAN: terceiro planeta de Delta Pavonis; planeta natal de Paul
Muad’Dib.
CALDEIRA: em Arrakis, qualquer região baixa ou depressão criada
pelo afundamento do complexo subterrâneo subjacente. (Nos
planetas com água suficiente, uma caldeira indica uma região
antes coberta por água ao ar livre. Acredita-se que Arrakis
tenha pelo menos uma dessas áreas, apesar de ainda se
discutir esse assunto.)
CAPTADOR DE VENTO: um aparelho instalado na trajetória dos
ventos predominantes e capaz de condensar a umidade do ar
aprisionado em seu interior, geralmente por meio de uma
queda nítida e brusca da temperatura dentro do captador.
CASA: expressão idiomática para o Clã Governante de um planeta
ou sistema planetário.
CASAS MAIORES: detentores de feudos planetários; empresários
interplanetários (veja-se Casa).
CASAS MENORES: classe empresarial restrita a um planeta (em
galach: “richece”).
CHAKOBSA: a chamada “língua ímã”, derivada em parte do antigo
bhotani (bhotani jib, sendo que jib significa dialeto). Uma série
de dialetos antigos modificados pela necessidade de manter
sigilo, mas sobretudo a língua de caça dos bhotani, os
matadores de aluguel da primeira Guerra de Assassinos.
CHOAM: acrônimo para Consórcio Honnête Ober Advancer
Mercantiles, a empresa de desenvolvimento universal
controlada pelo imperador e pelas Casas Maiores, tendo a
Guilda e as Bene Gesserit como sócios comanditários.
CORIOLIS, TEMPESTADE DE: qualquer grande tempestade de areia
em Arrakis, onde os ventos, nas planícies desprotegidas, são
amplificados pelo movimento de rotação do próprio planeta e
atingem velocidades de até setecentos quilômetros por hora.
CORRIN, BATALHA DE: a batalha espacial que deu nome à Casa
Imperial Corrino. A batalha travada perto de Sigma Draconis
no ano 88 a. G. estabeleceu a superioridade da Casa
governante de Salusa Secundus.
CRIADOR: veja-se Shai-hulud.
CRIADORZINHO: o vetor meio vegetal, meio animal do verme da
areia de Arrakis. Os excrementos do criadorzinho formam a
massa pré-especiaria.
D
DAGACRIS: a faca sagrada dos fremen de Arrakis. É manufaturada
em duas formas, a partir dos dentes retirados de carcaças de
vermes da areia. As duas formas são a “estável” e a “instável”.
Uma faca instável precisa ser mantida perto do campo elétrico
de um corpo humano para não se desintegrar. As facas estáveis
são tratadas para que possam ser armazenadas. Todas têm
cerca de vinte centímetros de comprimento.
DANÇARINOS FACIAIS: membros de uma raça criada pelos Bene
Tleilax. A habilidade de imitar a aparência de outras pessoas os
fez desempenhar importantes funções na sociedade, como a de
espiões e assassinos. Podem assumir a forma sexual de homens
ou mulheres, mas não têm habilidade de procriação.
DISTRANS: um aparelho que produz uma impressão neural
temporária no sistema nervoso de quirópteros ou aves. A voz
normal da criatura passa a portar a impressão da mensagem,
que pode ser separada da onda portadora por um outro
distrans.
DOUTRINA BENE GESSERIT: emprego das minúcias da observação.
E
ERG: uma área extensa de dunas, um mar de areia.
ESPECIARIA: veja-se mélange.
ESPELHO DE ESGRIMA: Um boneco de treino feito para o jovem
Kwisatz-Haderach em formação.
F
FARDO D’ÁGUA: no idioma fremen, uma dívida de gratidão
extrema.
FAREJADOR DE VENENOS: analisador de radiações dentro do
espectro olfativo, ajustado para detectar substâncias
venenosas.
FEDAYKIN: Esquadrão suicida de proteção a Paul Atreides
FRAGATA: a maior espaçonave capaz de pousar num planeta e dali
decolar intacta.
FREMEN: as tribos livres de Arrakis, habitantes do deserto,
remanescentes dos Peregrinos Zen-sunitas (“piratas da areia”,
de acordo com o Dicionário Imperial).
G
GARGANTA DE HARG: formação geológica sobre a qual fica o
santuário do crânio de Leto.
GHOLA: humano criado artificialmente a partir de um indivíduo
morto.
GINAZ, CASA DOS: antigos aliados do duque Leto Atreides. Foram
derrotados na Guerra de Assassinos travada com Grumman.
GRABEN: uma fossa geológica extensa formada pelo afundamento
do solo por causa de movimentos nas camadas subjacentes da
crosta do planeta.
GRANDE CONVENÇÃO: a trégua universal imposta pelo equilíbrio
de poder mantido pela Guilda, as Casas Maiores e o Imperium.
Sua principal lei proíbe o uso de armas atômicas contra alvos
humanos. Todas as leis da Grande Convenção começam com:
“As formalidades precisam ser obedecidas...”.
GRANDES ESCOLAS: os cinco maiores centros de aprendizado e
treinamento avançado do Império Corrino, cada um com seu
próprio foco e área de especialização.
GUILDA ESPACIAL (OU, SIMPLESMENTE, GUILDA): uma das pernas
do tripé político que sustenta a Grande Convenção. A Guilda
foi a segunda escola de treinamento físico-mental (veja-se Bene
Gesserit) a surgir depois do Jihad Butleriano. O monopólio da
Guilda sobre o transporte e as viagens espaciais, bem como
sobre o sistema bancário internacional, é considerado o marco
zero do Calendário Imperial.
H
HAGAL: o “Planeta das Joias” (Theta Shaowei ii), minerado à
época de Shaddam i.
HAJJ: jornada sagrada.
HAJRA: jornada de busca.
HAL YAWM: “Agora! Enfim!”, uma exclamação fremen.
HARKONNEN: foram uma grande casa durante o tempo dos
Imperadores Padishah. Sua capital era Giedi Prime, um planeta
altamente industrializado e com pouca vegetação.
HIEREG: acampamento temporário dos fremen no deserto aberto.
I
IBAD, OLHOS DOS: efeito característico de uma dieta rica em
mélange; o branco dos olhos e as pupilas assumem uma cor
azul intensa (o que indica uma forte dependência do mélange).
IJAZ: profecia que, por sua própria natureza, não pode ser
contestada; profecia inimitável.
IX: veja-se Richese.
K
KWISATZ HADERACH: “encurtamento do caminho”. É o nome
dado pelas Bene Gesserit à incógnita para a qual elas procuram
uma solução genética: a versão masculina de uma Bene
Gesserit, cujos poderes mentais e orgânicos viriam a unir o
espaço e o tempo.
L
LANDSRAAD: uma das principais instituições do Imperium.
Mesmo dois milênios antes de CHOAM e a Guild se tornarem
relevantes, a Landsraad já existia e servia como um corpo
deliberativo para debates e disputas entre os governos
participantes. O Landsradd tem o poder de influenciar até em
uma discussão em que algum dos lados fere a disposição
fundamental da lei universal.
LENÇO NEZHONI: o lenço almofadado usado na testa, sob o gorro
do trajestilador, pelas mulheres fremen casadas, ou
“associadas”, após o nascimento de um filho homem.
LÍNGUA DE BATALHA: qualquer idioma especial de etimologia
restrita, desenvolvido para a comunicação inequívoca na
guerra.
LUCIGLOBO: dispositivo de iluminação sustentado por
suspensores que tem fornecimento de energia próprio
(geralmente baterias orgânicas).
M
MAHDI: nas lendas messiânicas dos fremen, “Aquele que Nos
Levará ao Paraíso”.
MASSA PRÉ-ESPECIARIA: o estágio de crescimento fungoide
desenfreado obtido quando os excrementos dos criadorzinhos
são encharcados com água. Nesse estágio, a especiaria de
Arrakis forma uma “explosão” característica, trocando o
material das profundezas subterrâneas pela matéria da
superfície logo acima. Essa massa, depois de exposta ao sol e ao
ar, torna-se o mélange (veja-se também mélange e Água da
Vida).
MAULA: escravo.
MEDITAÇÃO PRAJNA: técnica de meditação usada pelas irmãs
Bene Gesserit para atingir o estado especial da visão,
normalmente alcançado com o uso de substâncias químicas
como mélange.
MÉLANGE: a “especiaria das especiarias”, o produto que tem em
Arrakis sua única fonte. A especiaria, célebre principalmente
por suas características geriátricas, causa dependência
moderada quando ingerida em pequenas quantidades, e
dependência grave quando sorvida em quantidades superiores
a dois gramas diárias a cada setenta quilos de peso corporal
(veja-se Ibad, Água da Vida e massa pré-especiaria). Muad’Dib
alegava que a especiaria era a chave de seus poderes
proféticos. Os navegadores da Guilda faziam afirmações
semelhantes. O preço do mélange no mercado imperial chegou
a 620 mil solaris o decagrama.
MENTAT: a classe de cidadãos imperiais treinados para realizar
feitos supremos de lógica. “Computadores humanos”.
METAVIDRO: vidro produzido como uma infusão gasosa de alta
temperatura dentro de folhas do quartzo de jásmio. Famoso
por sua extrema força elástica (por volta de 450 mil
quilogramas por centímetro quadrado à espessura de 2
centímetros) e capacidade como filtro seletivo de radiação.
MUAD’DIB: o rato-canguru adaptado a Arrakis, uma criatura
associada, na mitologia fremen do espírito da terra, a um
desenho visível na face da segunda lua do planeta. Essa
criatura é admirada pelos fremen por sua habilidade de
sobreviver no deserto aberto.
MURALHA-ESCUDO: um acidente geográfico montanhoso nos
confins setentrionais de Arrakis, que protege uma pequena
área da força total das tempestades de Coriolis do planeta.
N
NAIB: alguém que jurou nunca ser capturado vivo pelo inimigo;
juramento tradicional de um líder fremen.
NAVEGADORES DA GUILDA: membros do alto escalão de humanos
artificialmente modificados da Guilda Espacial. Têm a
capacidade de presciência adquirida pelo consumo e da
exposição a quantidades maciças de mélange.
O
ORNITÓPTERO (COMUMENTE, TÓPTERO): qualquer aeronave
capaz de voo sustentado por meio do bater de asas, como
fazem as aves.
P
PANEGIRISTA: principal sacerdote do Qizarate de Paul Atreides
PENTAESCUDO: um campo gerador de escudo em cinco camadas,
adequado para áreas pequenas, como vãos de portas ou
passagens (os escudos grandes de reforço ficam mais instáveis
a cada camada adicional), e praticamente intransponível para
quem não estiver usando um dissimulador sintonizado aos
códigos do escudo (veja-se porta dos prudentes).
PIA: uma área de terras baixas e habitáveis em Arrakis, cercada
por terras altas, que a protegem das tempestades
predominantes.
PILAR DE FOGO: um pirofoguete simples que serve de sinalizador
no deserto aberto.
PISTOLA MAULA: arma de ação por mola que dispara dardos
envenenados; alcance aproximado de quarenta metros.
PORTA DOS PRUDENTES OU BARREIRA DOS PRUDENTES (NO
VERNÁCULO: PORTAPRU OU BARRAPRU): qualquer
pentaescudo localizado de tal maneira a deixar escapar
determinadas pessoas em condições de perseguição (veja-se
pentaescudo).
PRANA (MUSCULATURA-PRANA): os músculos do corpo quando
considerados como unidades para o treinamento supremo
(veja-se bindu).
PRIMEIRA LUA: o principal satélite natural de Arrakis, a primeira a
nascer à noite; destaca-se por apresentar o desenho distinto de
um punho humano em sua superfície.
Q
QANAT: um canal a céu aberto para o transporte de água de
irrigação em condições controladas através de um deserto.
QIZARA TAFWID: sacerdotes fremen (após Muad’Dib).
QIZARETE DE MUAD’DIB: sacerdotes religiosos da nova fé.
QUEIMA-PEDRA: uma arma com duas utilidades. A primeira
função é liberar quantidades maciças de raios-J, cegando
assim todas as criaturas próximas a explosão. A segunda é sua
explosão capaz de destruir tudo em um raio de quilômetros.
R
RADIOFRESA: versão de curto alcance de uma armalês, utilizada
principalmente como ferramenta de corte e bisturi cirúrgico.
RAIOS-J: tipo de radiação que queima os olhos e causa cegueira.
REVERENDA MADRE: originariamente, uma censora das Bene
Gesserit, alguém que já transformou um “veneno de
iluminação” dentro de seu corpo, elevando-se a um estado
superior de percepção. Título adotado pelos fremen para suas
próprias líderes religiosas que chegaram a uma “iluminação”
semelhante (veja-se também Bene Gesserit e Água da Vida).
RICHESE: quarto planeta de Eridani A, classificado, juntamente
com Ix, como o suprassumo da cultura das máquinas. Célebre
pela miniaturização. (Pode-se encontrar um estudo mais
pormenorizado de como Richese e Ix escaparam aos efeitos
mais graves do Jihad Butleriano em O último jihad, de Sumer e
Kautman.)
S
SALUSA SECUNDUS: terceiro planeta de Gama Waiping; designado
como planeta-prisão do imperador após a remoção da Corte
Real para Kaitain. Salusa Secundus é o planeta natal da Casa
Corrino e a segunda parada na migração dos Peregrinos Zen-
sunitas. A tradição fremen afirma que eles foram escravos em
S. S. durante nove gerações.
SARDAUKAR: os fanáticos-soldados do imperador padixá. Eram
homens criados num ambiente de tamanha ferocidade que seis
a cada treze pessoas morriam antes de chegar aos treze anos
de idade. Seu treinamento militar enfatizava a desumanidade e
uma desconsideração quase suicida pela segurança pessoal.
Eram ensinados desde a infância a usar a crueldade como
arma-padrão, enfraquecendo os oponentes com o terror. No
auge de sua hegemonia sobre o universo, dizia-se que sua
habilidade com a espada se equiparava à dos Ginaz de décimo
nível e que sua astúcia no combate corpo a corpo seria quase
equivalente à de uma iniciada Bene Gesserit. Qualquer um
deles era considerado páreo para os recrutas normais das
forças armadas do Landsraad. À época de Shaddam iv, apesar
de ainda serem formidáveis, sua força tinha sido minada pelo
excesso de confiança, e a mística que nutria sua religião
guerreira havia sido profundamente solapada pelo ceticismo.
SAYYADINA: acólito do sexo feminino na hierarquia religiosa dos
fremen.
SEMUTA: o segundo derivado narcótico (por extração cristalina)
das cinzas da madeira de elacca. O efeito (descrito como um
êxtase intemporal e ininterrupto) é evocado por certas
vibrações atonais chamadas de música da semuta.
SERRILHADOR DIGITAL: objeto utilizado para treinamento de
combate proveniente de Ix, a fim de fortalecer e sensibilizar os
dedos das mãos e dos pés,
SHAI-HULUD: o verme da areia de Arrakis, o “Velho do Deserto”, o
“Velho Pai Eternidade” e o “Avô do Deserto”. É significativo que
o nome, quando pronunciado com uma certa entonação ou
escrito com iniciais maiúsculas, designe a divindade da terra
nas superstições domésticas dos fremen. Os vermes da areia
ficam enormes ( já foram avistados espécimes com mais de
quatrocentos metros de comprimento nas profundezas do
deserto) e chegam a idades muito avançadas, a menos que
sejam mortos por outro verme ou afogados em água, que é um
veneno para eles. Atribui-se a existência da maior parte da
areia de Arrakis à ação dos vermes (veja-se criadorzinho).
SHIGAFIO: extrusão metálica de uma planta rastejante (Narvi
narviium) que só cresce em Salusa Secundus e Delta Kaising iii.
Destaca-se por sua extrema força elástica.
SIETCH: na língua fremen, “lugar de reunião em tempos
perigosos”. Como os fremen viveram tanto tempo em perigo, o
termo veio a designar, por extensão de sentido, qualquer
caverna labiríntica habitada por uma de suas comunidades
tribais.
SIHAYA: na língua fremen, a primavera do deserto, com
insinuações religiosas que implicam o tempo da fertilidade e “o
paraíso que ainda virá”.
SINCROPISCADOR: instrumento de treino para guerreiros que
simula e ajusta as habilidades em condições de
luz/trevas/espectroscopia
SOLARI: unidade monetária oficial do Imperium, seu poder de
compra foi estabelecido em negociações quadricentenárias
entre a Guilda, o Landsraad e o imperador.
SUSPENSOR: fase secundária (baixo consumo) de um gerador de
campo de Holtzman. Anula a gravidade dentro de certos
limites prescritos pelo consumo relativo de massa e energia.
T
TANQUE AXOLOTLE: são os meios pelos quais Bene Tleilax
produzem os gholas.
TARÔ DE DUNA: cartas cujo efeito consiste em evitar que um
oráculo capte o outro em suas visões.
TAU, O: na terminologia fremen, a unidade da comunidade sietch,
ampliada pela dieta baseada em especiaria e, principalmente, a
orgia tau de unidade evocada pela ingestão da Água da Vida.
TENDESTILADORA: recinto pequeno e lacrável de tecido em
microssanduíche, projetado para reaproveitar, na forma de
água potável, a umidade ambiente liberada dentro dela pela
respiração de seus ocupantes.
TLEILAX: planeta solitário de Thalim, célebre como centro de
treinamento renegado para Mentats; origem dos Mentats
deturpados.
TRAJESTILADOR: roupa que envolve o corpo todo, inventada em
Arrakis. Seu tecido é um microssanduíche com as funções de
dissipar o calor e filtrar os dejetos do corpo. A umidade
reaproveitada torna-se disponível por meio de um tubo que
vem de bolsas coletoras.
TREINAMENTO: quando aplicado às Bene Gesserit, este termo
comum assume um significado especial, referindo-se ao
condicionamento de nervos e músculos (vejam-se bindu e
prana) elevado ao último grau permitido pelas funções
naturais.
TRONO DO LEÃO: sede do poder da Casa Corrino
TUPILE: o chamado “planeta santuário” (provavelmente vários
planetas) para as Casas derrotadas do Imperium. Sua(s)
localização(ões) é (são) conhecida(s) apenas pela Guilda e
guardada(s) como segredo inviolável sob os termos da Paz da
Guilda.
U
UMMA: alguém que pertence à irmandade dos profetas (no
Imperium, termo desdenhoso que indica qualquer pessoa
“desvairada” e dada a fazer predições fanáticas).
USUL: no idioma fremen, “a base da coluna”.
V
VERME DA AREIA: veja-se Shai-hulud.
VOZ: o treinamento combinado, criado pelas Bene Gesserit, que
permite à iniciada controlar outras pessoas usando apenas
certas nuancesde tom de voz.
W
WALLACH IX: nono planeta de Laoujin, sede da Escola Mãe das
Bene Gesserit.
Z
ZEN-SUNITAS: seguidores de uma seita cismática que se desviou
dos ensinamentos de Maomé (o chamado “Terceiro
Muhammad”) por volta de 1381 a. G. A religião zen-sunita
destaca-se principalmente por sua ênfase no misticismo e por
um retorno aos “costumes dos antepassados”. A maioria dos
estudiosos nomeia Ali Ben Ohashi como o líder do cisma
original, mas há indícios de que Ohashi pode ter sido
meramente o porta-voz masculino de sua segunda esposa,
Nisai.
Sobre o autor
Franklin Patrick Herbert Jr. nasceu em Tacoma, Washington.
Trabalhou nas mais diversas áreas – operador de câmera de TV,
comentarista de rádio, pescador de ostras, instrutor de
sobrevivência na selva, psicólogo, professor de escrita criativa,
jornalista e editor de vários jornais – antes de se tornar escritor
em tempo integral. Em 1952, publicou seu primeiro conto de
ficção, “Looking For Something?”, na revista Startling Stories,
mas a consagração ocorreu apenas em 1965, com a publicação de
Duna. Herbert também escreveu mais de vinte outros títulos,
incluindo The Jesus Incident e Destination: Void, antes de falecer
em 1986.
MESSIAS DE DUNA
Herbert, Frank
Messias de Duna / Frank Herbert ;
tradução Maria do Carmo Zanini. - 2. ed. - São Paulo :
Aleph, 2017.
280 p.
ISBN 978-85-7657-312-8
Título original: Dune messiah
1. Ficção científica norte-americana 2. Literatura norte-americana I. Título II. Zanini, Maria do Carmo
Junto com Stilgar, Leto tinha ido à noite até a estreita projeção
de pedras na crista do baixo afloramento rochoso que em Sietch
Tabr chamavam O Serviçal. Sob a luz pálida da segunda lua em
fase minguante, daquela projeção das pedras eles eram
brindados com uma visão panorâmica: a Muralha-Escudo com o
Monte Idaho ao norte, a Grande Chã ao sul e as dunas ondulantes
a leste, estendendo-se na direção da Colina de Habbanya.
Redemoinhos sinuosos de poeira, na esteira de uma tempestade,
ocultavam o horizonte ao sul. O luar aplicava um brilho de geada à
borda da Muralha-Escudo.
Stilgar havia ido a contragosto, mas afinal estava participando
daquela aventura sigilosa porque Leto provocara sua curiosidade.
Por que era necessário arriscar uma travessia das areias à noite?
O rapaz tinha ameaçado escapulir e fazer essa viagem sozinho
caso Stilgar se recusasse a acompanhá-lo. O modo como aquilo
estava acontecendo o deixava profundamente aborrecido, porém.
Dois alvos tão importantes, sozinhos e à noite!
Leto se agachou no pontal de pedra de frente para o sul e a
planície. De vez em quando dava um soco no joelho, como se
estivesse frustrado.
Stilgar esperava. Ele era bom para ficar esperando em silêncio
e se mantinha a dois passos de distância de sua incumbência, ao
lado dele e de braços cruzados, seu manto esvoaçando
suavemente com a brisa da noite.
Para Leto, a travessia das areias representava uma resposta à
sua agonia íntima, era uma necessidade de buscar novo
alinhamento para sua vida, em um silencioso conflito no qual
Ghanima não podia mais se arriscar. Ele havia manobrado Stilgar
para que este fosse com ele na viagem porque havia coisas que
Stilgar precisaria saber para se preparar para os tempos que
viriam.
Mais uma vez, Leto socou o joelho. Era difícil saber o começo!
Às vezes, ele se sentia como um prolongamento daquela
incontável série de outras vidas, todas tão reais e imediatas
quanto a sua. No fluxo dessas vidas não existia fim, não havia
conquistas: somente eternos começos. Elas também podiam ser
uma multidão, clamando para ele como se ele fosse a única janela
através da qual cada uma delas desejava espreitar. E ali estava o
perigo que havia destruído Alia.
Leto estendeu o olhar para abranger o luar que prateava os
resquícios da tempestade. Dobras e sobredobras de dunas
estendiam-se pela planície; sílica triturada alisada pelos ventos,
amontoada em ondas – areia fina, areia grossa, pedriscos. Ele se
sentiu preso em um desses momentos contemplativos, pouco
antes do amanhecer. O tempo o estava pressionando. Já estavam
no mês de Akkad e atrás dele jazia o último trecho de um
interminável tempo de espera: dias quentes e longos, ventos
secos e quentes, noites como essa, atormentadas por rajadas e
ventanias incessantes que vinham das terras escaldantes do bled
do Gavião. Ele olhou por cima do ombro na direção da Muralha-
Escudo, uma linha interrompida à luz das estrelas. Além da
muralha, na Bacia do Norte, jazia o foco de seus problemas.
Mais uma vez, Leto olhou o deserto. Enquanto esquadrinhava
as trevas tórridas, o dia rompeu e o sol se ergueu por entre faixas
e faixas de poeira, assentando um toque amarelo-esverdeado nas
bordas vermelhas da tempestade. Ele fechou os olhos, e em seu
íntimo decidiu ver como este dia nasceria em Arrakina, naquela
cidade que se abria à sua consciência, disposta como caixotes
espalhados entre a luz e as novas sombras. Deserto... caixas...
deserto... caixas...
Quando tornou a abrir os olhos, o deserto seguia ali,
imperturbável: uma mancha imensa, cor de curry, de areias
espicaçadas pelo vento. Sombras oleosas na base de cada duna se
estendiam adiante como raios da noite recém-encerrada, ligando
um tempo a outro. Ele pensou na noite, acocorado ali com o aflito
Stilgar ao lado, preocupado com seu silêncio e com a inexplicável
razão para terem vindo até aquele lugar. Com toda a sua idade,
Stilgar devia ter muitas recordações de passar momentos assim
com seu adorado Muad’Dib. Stilgar continuava se mexendo,
olhando atentamente para todos os lados, em alerta máximo para
eventuais perigos. Ele não gostava de estar ao ar livre durante o
dia. Quanto a isso, era fremen até a alma.
Em sua mente, Leto relutava em deixar a noite e o limpo
esforço de uma travessia das areias. Assim que chegara a esse
local entre as rochas, a noite havia assumido sua negra quietude.
Ele simpatizava com os receios de Stilgar quanto à luz do dia. O
negrume era uma coisa só ainda que contivesse terrores
fervilhantes. A luz podia ser muitas coisas. A noite guardava os
odores do medo e as coisas que se achegavam com sons
resvalantes. À noite, as dimensões se separavam, tudo era
amplificado: os espinhos eram mais pontiagudos; as lâminas,
mais cortantes. Mas os terrores do dia podiam ser ainda piores.
Stilgar pigarreou.
– Estou com um problema sério, Stil – Leto falou sem se virar.
– Foi o que suspeitei. – A voz ao lado de Leto veio baixa e tensa.
A criança tinha falado de um jeito perturbadoramente
semelhante ao de seu pai. Era coisa da magia proibida que fazia
soar um acorde de repulsa em Stilgar. Os fremen sabiam o que era
o terror da possessão. Os que eram encontrados em estado de
possessão eram legalmente mortos e sua água era lançada à areia
para que não contaminasse a cisterna tribal. Os mortos deviam
permanecer mortos. Era correto encontrar a própria
imortalidade nos filhos, mas as crianças não tinham o direito de
assumir de maneira exata demais uma forma de seu passado.
– Meu problema é que meu pai deixou muitas coisas por fazer –
Leto prosseguiu. – Especialmente o foco de nossas vidas. O
Império não pode prosseguir desse jeito, Stil, sem um foco
adequado para a vida humana. Estou falando da vida, entende?
Da vida, não da morte.
– Certa vez, quando seu pai ficou perturbado por uma visão, ele
falou comigo dessa maneira – Stilgar comentou.
Leto se sentiu tentado a ignorar aquele medo questionador
vibrando ao seu lado por meio de uma resposta superficial, talvez
mencionando que poderiam tomar o desjejum. Ele percebeu que
estava com muita fome. Tinham feito uma refeição ao meio-dia do
dia anterior e Leto insistira em jejuar a noite toda. Mas agora
havia outra fome a atraí-lo.
O problema com a minha vida é o problema deste lugar, Leto
estava pensando. Nenhuma criação preliminar. Eu apenas fico
voltando cada vez mais para trás, até que a distância se dissipe.
Não consigo enxergar o horizonte. Não consigo enxergar a Colina
de Habbanya. Não consigo encontrar o lugar original da prova.
– Realmente, não há substituto para a presciência – Leto disse.
– Talvez eu deva me arriscar com a especiaria...
– E ser destruído como foi seu pai?
– Que dilema – murmurou Leto.
– Uma vez seu pai me confidenciou que conhecer o futuro bem
demais era ficar trancado dentro dele, excluindo toda liberdade
de mudar.
– O paradoxo que é o nosso problema – Leto anuiu. – Coisa sutil
e poderosa, a presciência. O futuro se torna o agora. Ter olhos em
terra de cego acarreta seus perigos. Se você tenta interpretar
para o cego o que você está vendo, o mais provável é que se
esqueça de que o cego tem um movimento inerente condicionado
por sua cegueira. Os cegos são como máquinas monstruosas
seguindo adiante por um caminho todo seu. Eles têm seu próprio
impulso, suas próprias fixações. Tenho medo dos cegos, Stil.
Tenho medo deles. Eles conseguem esmagar facilmente qualquer
coisa que esteja em seu caminho.
Stilgar contemplou o deserto. A aurora amarelo-esverdeada
havia se transformado num dia claro como aço. Ele questionou:
– Por que foi que viemos para cá?
– Porque eu queria que você visse o lugar em que eu talvez
morra.
Stilgar ficou tenso. Subitamente, exclamou:
– Então você teve uma visão!
– Pode ter sido só um sonho.
– Por que você vem a lugares tão perigosos? – Stilgar olhou
intensamente para sua incumbência, agachada nos próprios
calcanhares. – Devemos regressar imediatamente.
– Não vou morrer hoje, Stil.
– Ah, não? O que foi sua visão?
– Vi três caminhos – revelou Leto. E a voz dele soou sonolenta,
como se saísse das brumas de remotas reminiscências. – Um
desses futuros exige que eu mate nossa avó.
Stilgar desferiu uma olhada penetrante na direção de Sietch
Tabr como se receasse que lady Jéssica conseguisse escutá-los ali
no deserto, atravessando toda essa distância.
– Por quê?
– Para impedir a perda do monopólio da especiaria.
– Não entendo.
– Nem eu. Mas esse é o pensamento no meu sonho, quando uso
a faca.
– Oh. – Stilgar entendia o uso de uma faca. Então, inspirou
fundo. – E qual é o segundo caminho?
– Ghani e eu nos casamos para garantir a descendência
Atreides.
– Nãããão! – Stilgar soltou o ar com uma violenta expressão de
nojo.
– Nos tempos antigos era comum que reis e rainhas fizessem
isso – Leto lembrou. – Ghani e eu decidimos que não
procriaremos.
– Aconselho que sigam fielmente essa decisão! – Havia o som da
morte na voz de Stilgar. Pela lei dos fremen, o incesto era passível
de punição pela morte no tripé de enforcamento. Ele pigarreou de
novo e perguntou: – E o terceiro caminho?
– Sou chamado a reduzir meu pai à sua estatura humana.
– Ele era meu amigo, Muad’Dib – Stilgar murmurou.
– Ele era o seu deus! Devo desdeificá-lo.
Stilgar deu as costas ao deserto e lançou um longo olhar na
direção do oásis de seu amado Sietch Tabr. Essa espécie de
conversa sempre o inquietava.
Leto captou o odor suarento do movimento de Stilgar. Era forte
a tentação de evitar as coisas propositais que tinham de ser ditas
nesse lugar. Eles poderiam facilmente ficar falando pela metade
do dia, pulando do específico para o abstrato como se fossem
arrancados da esfera das verdadeiras decisões, da esfera das
necessidades imediatas que os confrontavam. E não havia dúvida
de que a Casa Corrino representava uma ameaça real a vidas
reais: a sua e a de Ghani. Mas tudo o que ele fizesse agora teria de
ser avaliado e testado em contraste com suas necessidades
secretas. Houve um dia em que Stilgar tinha votado pelo
assassinato de Farad’n, defendendo o uso sutil de chaumurky, o
veneno que era administrado numa bebida. Sabia-se que Farad’n
tinha predileção por certos líquidos doces. Isso não se poderia
permitir.
Leto então retomou o assunto:
– Caso eu morra aqui, Stil, você deve tomar cuidado com Alia.
Ela não é mais sua amiga.
– Que conversa é essa de morte e sua tia? – Agora, Stilgar
estava realmente indignado. Matar lady Jéssica! Cuidado com
Alia! Morrer neste lugar!
– Os homens pequenos mudam de rosto a uma ordem dela –
elucidou Leto. – O governante não precisa ser profeta, Stil. Nem
mesmo precisa ser divino. O governante só precisa ser sensível.
Eu o trouxe até aqui para deixar claro do que o nosso Imperium
necessita. Ele necessita de um bom governo. Isso não depende de
leis ou precedente, mas das qualidades pessoais de quem
governa.
– A regente dá conta de seus deveres imperiais bastante bem –
Stilgar retrucou. – Quando você atingir a maioridade...
– Já sou maior! Sou a pessoa mais velha daqui! Você é um bebê
chorão perto de mim. Eu consigo me lembrar de coisas várias
vezes mais antigas do que cinquenta séculos! Ah! Consigo me
lembrar inclusive de quando nós, fremen, estávamos em
Thurgrod.
– Por que você brinca com tais fantasias? – Stilgar questionou
em tom peremptório.
Leto assentiu para si, pensando. Por que mesmo? Por que
mencionar essas recordações de tantos séculos passados? Os
fremen de hoje eram seu problema imediato, e a maioria deles
ainda era um bando de selvagens semidomesticados, propensos a
gargalhar diante da inocência desafortunada.
– A dagacris se dissolve quando da morte de seu dono – Leto
murmurou. – Muad’Dib se dissolveu. Por que os fremen ainda
estão vivos?
Essa era uma daquelas mudanças abruptas de raciocínio que
tanto confundiam Stilgar. Ele se percebeu momentaneamente
parvo. Essas palavras continham outro sentido que lhe escapava.
– Esperam de mim que eu me torne imperador, mas devo ser o
serviçal – Leto explicou. Então, olhou por cima do ombro para
Stilgar. – Meu avô, de quem tenho o nome, acrescentou algumas
palavras a seu brasão quando veio para cá, para Duna: “Aqui
estou; aqui fico”.
– Ele não tinha escolha – Stilgar apontou.
– Muito bem, Stil. Eu também não tenho escolha. Devo ser o
imperador por nascimento, pela aptidão de meu intelecto, por
tudo o que existe em mim. Até mesmo sei do que o Imperium
necessita: um bom governo.
– “Naib” tem um significado antigo – Stilgar lembrou. – É o
serviçal do Sietch.
– Eu me lembro de seu treinamento, Stil – Leto assentiu. – Para
um bom governo, a tribo deve ter meios para escolher homens
cujas vidas reflitam de que modo o governo deve se comportar.
Do mais fundo de sua alma fremen, Stilgar complementou:
– Você envergará o Manto Imperial se for apropriado. Primeiro,
você deve provar que pode se comportar como um regente!
Inesperadamente, Leto riu. Então perguntou:
– Você duvida de minha sinceridade, Stil?
– Claro que não.
– De meu direito por nascimento?
– Você é quem é.
– E, se eu fizer o que se espera de mim, essa é a medida da
minha sinceridade, então?
– É o costume fremen.
– Então não posso ter sentimentos íntimos ditando meu
comportamento?
– Não entendo o que...
– Se eu sempre me comportar com propriedade, não importa
quanto me custe suprimir meus desejos pessoais, então essa é a
minha medida.
– Essa é a essência do autocontrole, meu jovem.
– Meu jovem! – Leto abanou a cabeça. – Ah, Stil, você me
apresenta a chave de uma ética racional de governo. Devo ser
constante, e todos os atos devem se originar das tradições
passadas.
– Isso é apropriado.
– Mas o meu passado alcança mais longe do que o seu!
– Que diferença...
– Stil, eu não tenho uma primeira pessoa do singular. Eu sou
uma pessoa múltipla com recordações de tradições mais antigas
do que você possa imaginar. Esse é o meu fardo, Stil. Sou focado
no passado. Sou cheio até a borda de um conhecimento inato que
resiste a inovações e mudanças. Mas Muad’Dib mudou tudo isso.
– Ele acenou na direção do deserto, seu braço descrevendo um
movimento amplo que abrangia toda a Muralha-Escudo atrás
dele.
Stilgar se virou para olhar para a Muralha-Escudo. Um povoado
tinha sido construído sob a muralha desde a época de Muad’Dib,
com casas para abrigar uma equipe de planetólogos que estava
ajudando a espalhar vida vegetal pelo deserto. Stilgar olhava
fixamente para aquela invasão da paisagem imposta pelo homem.
Mudança? Sim; naquele povoado havia alinhamento, havia uma
verossimilhança que o ofendia. Ele permaneceu em pé, imóvel e
em silêncio, ignorando o comichão que as partículas de poeira
grossa provocavam em sua pele sob o trajestilador. Aquele
povoado era uma ofensa contra o que este planeta tinha sido. De
repente, Stilgar queria um vento circular que viesse uivando e
saltasse sobre as dunas para encobrir de areia aquela localidade.
Essa sensação o deixou tremendo.
– Stil, você já reparou que novos trajestiladores são malfeitos? –
Leto observou. – Nossa perda de água aumentou muito.
Stilgar se deteve por uma fração de segundo antes de indagar:
Mas eu já não disse isso? Em lugar dessa pergunta, ele comentou:
– Nosso povo ficou muito mais dependente das pílulas.
Leto aquiesceu. As pílulas mudavam a temperatura do corpo,
reduziam a perda de água. Eram mais baratas e mais fáceis do
que os trajestiladores. Mas acarretavam outros ônus a quem as
usasse, entre eles um tempo de reação mais lento e visão nublada
de tempos em tempos.
– É por isso que viemos até aqui? – Stilgar perguntou. – Para
falar da fabricação dos trajestiladores?
– Por que não? – Leto indagou. – Já que você não encara o que
tenho de conversar com você.
– Por que preciso tomar cuidado com sua tia? – e a raiva
despontou em sua voz.
– Porque ela manipula o antigo desejo fremen de resistir a
mudanças, para então provocar uma mudança muito mais terrível
do que você possa imaginar.
– Você faz uma tempestade em copo d’água! Ela é uma fremen
completa.
– Ah! Então o fremen completo pratica os costumes do passado
e eu tenho um passado ancestral. Stil, se eu fosse dar livre curso a
essa inclinação, eu exigiria que a sociedade fosse fechada e
completamente dependente dos sagrados caminhos antigos. Eu
controlaria a migração, explicando que isso estimula novas ideias
e que novas ideias são uma ameaça à estrutura inteira da vida.
Cada pequena pólis planetária seguiria seu próprio caminho,
tornando-se o que pudesse. Finalmente, o Império sucumbiria
sob o peso de suas diferenças.
Stilgar tentou engolir em seco. Essas palavras que o próprio
Muad’Dib poderia ter pronunciado. Tinham o mesmo timbre dele.
Eram paradoxais, ameaçadoras. Mas se as mudanças fossem
permitidas... ele sacudiu a cabeça de um lado a outro.
– O passado pode mostrar o jeito certo de se comportar se você
vive no passado, Stil. Mas as circunstâncias mudam.
Stilgar só podia concordar que as circunstâncias de fato
mudam. Então, como é que as pessoas deveriam se comportar?
Ele olhou além de Leto e viu o deserto, mas sem vê-lo. Muad’Dib
tinha andado por ali. A planície era um lugar de sombras
douradas, conforme o sol ascendia, sombras cor de púrpura,
riachos pedregosos encristados por vapores poeirentos. A névoa
de poeira que normalmente pairava sobre a Colina de Habbanya
agora estava visível bem ao longe, e o deserto entre eles oferecia
aos seus olhos dunas que iam diminuindo, uma curva cedendo à
outra. Em meio aos fulgores esfumaçados do calor, ele viu plantas
que se esgueiravam desde a borda do deserto. Muad’Dib tinha
provocado o surgimento da vida naquele lugar desolado. Flores
cor de cobre, douradas, vermelhas, amarelas, cor de ferrugem e
castanho-avermelhadas, folhas verde-acinzentadas, espinhos e
sombras ásperas sob os arbustos. O movimento do calor do dia
espalhava sombras trêmulas que vibravam no ar.
Nesse momento, Stilgar suspirou:
– Sou apenas um líder dos fremen. Você é o filho de um duque.
– Sem saber o que disse, você disse – Leto apontou.
Stilgar fechou o cenho. Certa feita, havia muito tempo,
Muad’Dib tinha sido sarcástico com ele, do mesmo jeito.
– Você se lembra, não é, Stil? – Leto perguntou. – Estávamos
sob a Colina de Habbanya e o capitão Sardaukar, você se lembra
dele? Era Aramsham? Ele matou o próprio amigo para se salvar. E,
naquele dia, você me alertou várias vezes a respeito de preservar
a vida dos Sardaukar que tivessem visto nossos ritos secretos. No
fim, você disse que eles seguramente iriam revelar o que tinham
visto e que deviam ser mortos. Então, meu pai retrucou: “Sem
saber o que disse, você disse”. E você ficou magoado. Você disse a
ele que era um simples líder dos fremen. Os duques devem saber
coisas mais importantes.
Stilgar encarou Leto, ainda agachado rente do chão. Estávamos
sob a Colina de Habbanya? Nós! Esta... esta criança, que ainda não
tinha nem sido concebida nesse dia, sabia exatamente o que havia
acontecido, em detalhes que só poderiam ser do conhecimento de
alguém que de fato tivesse estado lá. Essa era somente outra
prova de que essas crianças Atreides não podiam ser julgadas
segundo os padrões habituais.
– Agora, ouça o que vou lhe dizer – Leto insistiu. – Se eu morrer
ou desaparecer no deserto, você deve fugir de Sietch Tabr. Eu
ordeno que faça isso. Você vai pegar Ghani e...
– Você ainda não é meu duque! Você é uma... criança!
– Sou um adulto na carne de uma criança – explodiu Leto. Então
indicou uma pequena fenda nas rochas embaixo deles. – Se eu
morrer aqui, será exatamente naquele local. Você verá o sangue.
Então saberá. Pegue minha irmã e...
– Vou dobrar sua guarda – Stilgar afirmou. – Você não virá mais
aqui. Agora nós vamos embora e...
– Stil! Você não pode me deter. Retome em sua mente mais uma
vez aquele momento na Colina de Habbanya. Está se lembrando?
A lagarta-usina, com o operador, estava lá fora, na areia, e um
grande Criador estava vindo. Não havia meios de salvar a lagarta
do verme, e meu pai ficou aborrecido porque não conseguiu salvá-
la. Mas Gurney só foi capaz de pensar nos homens que tinha
perdido na areia. Você se lembra do que ele lamentara? “Seu pai
se preocupa mais com os homens que ele não conseguiu salvar.”
Stil, eu o incumbo de salvar o povo. Eles são mais importantes do
que as coisas. E Ghani é a mais preciosa de todos porque, sem
mim, ela é a única esperança para os Atreides.
– Não vou ouvir mais nada – Stilgar grunhiu. Ele se virou e
começou a descer a parede de pedras na direção do oásis, do
outro lado da areia. Ele ouviu Leto, que o seguia. Então, o menino
o ultrapassou e, olhando para trás, ainda comentou:
– Stil, você reparou em como as moças estão lindas este ano?
A vida de um único humano, assim como a vida de
uma família ou de um povo inteiro, persiste como
lembrança. Meu povo deve chegar a ver isso
como parte de seu processo de amadurecimento.
Eles são povo como um organismo e, nessa
lembrança persistente, eles armazenam mais e
mais experiências num reservatório subliminar. A
humanidade espera poder recorrer a esse
material, se for preciso, para manter o universo
em constante mudança. Mas muitas coisas que
estão armazenadas podem ser perdidas em meio
àquele jogo de azar de acidentes que chamamos
“destino”. Muitas coisas podem não estar
integradas nesse relacionamento evolutivo e, por
isso, não podem ser avaliadas nem acionadas
pelas mudanças ambientais em andamento, as
quais se impõem à carne. A espécie pode
esquecer! Esse é o valor especial do Kwisatz
Haderach que as Bene Gesserit nunca
suspeitaram: o Kwisatz Haderach não pode
esquecer.
– O livro de Leto, conforme Harq al-Ada
B
BALISET: um instrumento musical de nove cordas, a ser dedilhado
e afinado na escala chusuk. Descendente direto da zithra, é
comumente o instrumento preferido dos trovadores imperiais.
BASHAR (GERALMENTE BASHAR CORONEL): um oficial dos
Sardaukar, uma fração acima de coronel na classificação militar
padrão. Patente criada para o governante militar de um
subdistrito planetário (bashar da corporação é um título de uso
estritamente militar).
BATIGH: terminologia fremen para “Pequeno Melão”. Segundo
uma lenda, o Pequeno Melão, nos confins do deserto, oferecia
sua água a quem o encontrasse.
BATOR: comandante de uma pequena tropa, uma patente militar
abaixo de Bashar.
BI-LA KAIFA: amém (literalmente: “Nada mais precisa ser
explicado”).
BÍBLIA CATÓLICA DE ORANGE: o “Livro Reunido”, o texto religioso
produzido pela Comissão de Tradutores Ecumênicos. Contém
elementos de religiões antiquíssimas, entre elas o saari
maometano, o cristianismo maaiana, o catolicismo zen-sunita e
as tradições budislâmicas. Considera-se como seu
mandamento supremo: “Não desfigurarás a alma”.
BINDU: relacionada ao sistema nervoso humano, em especial ao
treinamento dos nervos. Muitas vezes mencionada como
inervação-bindu (veja-se prana).
BLED: deserto plano e aberto.
BURHAN: a prova da vida (comumente, os ayat e a burhan da vida;
veja-se ayat).
BURSEG: general que comanda os Sardaukar.
C
CAÇADOR-BUSCADOR: fragmento voraz de metal sustentado por
suspensores e teleguiado, tal qual uma arma, por um console
controlador situado nas proximidades; dispositivo comum de
assassínio.
CAHUEIT: termo fremen utilizado para determinar uma presença
ruim ou um traidor.
CALDEIRA: em Arrakis, qualquer região baixa ou depressão criada
pelo afundamento do complexo subterrâneo subjacente. (Nos
planetas com água suficiente, uma caldeira indica uma região
antes coberta por água ao ar livre. Acredita-se que Arrakis
tenha pelo menos uma dessas áreas, apesar de ainda se
discutir esse assunto.)
CAPTADOR DE VENTO: aparelho instalado na trajetória dos ventos
predominantes e capaz de condensar a umidade do ar
aprisionado em seu interior, geralmente por meio de uma
queda nítida e brusca da temperatura dentro do captador.
CHAKOBSA: a chamada “língua ímã”, derivada em parte do antigo
bhotani (bhotani jib, sendo que jib significa dialeto). Uma série
de dialetos antigos modificados pela necessidade de manter
sigilo, mas sobretudo a língua de caça dos bhotani, os
matadores de aluguel da primeira Guerra de Assassinos.
CHAUMAS (AUMAS EM ALGUNS DIALETOS): veneno no alimento
sólido, distinto dos venenos administrados de outras maneiras.
CHAUMURKY (MUSKY OU MORKY EM ALGUNS DIALETOS): veneno
administrado à bebida.
CHOAM: acrônimo para Consórcio Honnête Ober Advancer
Mercantiles, a empresa de desenvolvimento universal
controlada pelo imperador e pelas Casas Maiores, tendo a
Guilda e as Bene Gesserit como sócios comanditários.
CIPÓ-TINTA: trepadeira natural de Giedi Primo, geralmente usada
como chicote nos fossos de escravos. As vítimas ficam
marcadas por tatuagens cor de beterraba que provocam dor
residual durante muitos anos.
CORIOLIS, TEMPESTADE DE: qualquer grande tempestade de areia
em Arrakis, onde os ventos, nas planícies desprotegidas, são
amplificados pelo movimento de rotação do próprio planeta e
atingem velocidades de até setecentos quilômetros por hora.
D
DAO: meditação que leva o corpo humano a um transe, reduzindo
as atividades fisiológicas apenas para a manutenção da vida.
DISTRANS: um aparelho que produz uma impressão neural
temporária no sistema nervoso de quirópteros ou aves. A voz
normal da criatura passa a portar a impressão da mensagem,
que pode ser separada da onda portadora por um outro
distrans.
E
EFEITO HOLTZMANN: o efeito repelente negativo de um gerador
de escudo.
ERG: área extensa de dunas, um mar de areia.
F
FAI: tributo de água, o principal tipo de imposto em Arrakis.
FAUFRELUCHES: rígida lei de distinção de classes imposta pelo
Imperium. “Um lugar para todo homem, e todo homem em seu
lugar.”
FARDO D’ÁGUA: no idioma fremen, uma dívida de gratidão
extrema.
FREMKIT: kit de sobrevivência no deserto de fabricação fremen.
G
GALACH: idioma oficial do Imperium.
GHAFLA: entregar-se a distrações. Por conseguinte, uma pessoa
volúvel, indigna de confiança.
GOM JABBAR: inimigo despótico; a agulha inoculadora específica,
envenenada com metacianureto e usada pelas censoras Bene
Gesserit no teste que coloca à prova a percepção humana e
tem, como alternativa, a morte.
GHOLA: humano criado artificialmente a partir de um indivíduo
morto.
H
HAJJ: jornada sagrada.
HARKONNEN: foram uma grande casa durante o tempo dos
Imperadores Padishah. Sua capital era Giedi Prime, um planeta
altamente industrializado e com pouca vegetação.
HUANUI: dispositivo capaz de obter água a partir de qualquer
material, especialmente de origem animal.
J
JACURUTU: sietch lendário localizado no deserto profundo de
Arrakis.
JIHAD BUTLERIANO: a cruzada contra os computadores,
máquinas pensantes e robôs conscientes iniciada em 201 a. G. e
concluída em 108 a. G. Seu principal mandamento continua na
Bíblia C. O.: “Não criarás uma máquina para imitar a mente
humana”.
K
KAIRITS: conceito de treinamento das Bene Gesserit.
KANLY: rixa ou vendeta formal submetida às leis da Grande
Convenção e levada avante de acordo com as mais severas
restrições.
KEDEM: termo utilizado para se referir ao deserto interior.
KITAB AL-IBAR: misto de guia de sobrevivência e manual religioso
desenvolvido pelos Fremen em Arrakis.
KOAN ZEN-SUNITA: Afirmação da religião dos Zen-sunitas (veja-se
Zen-sunitas).
KRALIZEC, A BATALHA DO TUFÃO: na religião Fremen, é uma longa
batalha que causaria o final do universo.
KWISATZ HADERACH: “encurtamento do caminho”. É o nome
dado pelas Bene Gesserit à incógnita para a qual elas procuram
uma solução genética: a versão masculina de uma Bene
Gesserit, cujos poderes mentais e orgânicos viriam a unir o
espaço e o tempo.
L
LANDSRAAD: uma das principais instituições do Imperium.
Mesmo dois milênios antes de choam e a Guilda se tornarem
relevantes, a Landsraad já existia e servia como um corpo
deliberativo para debates e disputas entre os governos
participantes. O Landsraad tem o poder de influenciar até em
uma discussão em que algum dos lados fere a disposição
fundamental da lei universal.
LEVENBRECH: título militar dado ao assessor de um Bashar
correspondente aos capitães Fremen ou Sardurkar.
LÍNGUA DE BATALHA: qualquer idioma especial de etimologia
restrita, desenvolvido para a comunicação inequívoca na
guerra.
LUCIGLOBO: dispositivo de iluminação sustentado por
suspensores e que tem fornecimento de energia próprio
(geralmente baterias orgânicas).
M
MAKU: palavra fremen para gravidez.
MAHDI: nas lendas messiânicas dos Fremen, “aquele que nos
levará ao paraíso”.
MARTELADOR: estaca curta com uma matraca de mola numa das
extremidades. Função: ser enterrado na areia e começar a
“martelar” para chamar Shai-hulud.
MOHALATA: união realizada quando um indivíduo é possuído por
uma personalidade benigna.
MUFTI: aquele que interpreta e representa uma religião.
MURALHA-ESCUDO: um acidente geográfico montanhoso nos
confins setentrionais de Arrakis, que protege uma pequena
área da força total das tempestades de Coriolis do planeta.
MUSHTAMAL: um pequeno anexo ou pátio ajardinado.
N
NAIB: alguém que jurou nunca ser capturado vivo pelo inimigo;
juramento tradicional de um líder fremen.
O
O SERVIÇAL: afloramento de rochas que foram reduzidas a uma
silhueta baixa e sinuosa, como um verme escuro, esgueirando-
se através das dunas.
ORNITÓPTERO (COMUMENTE, TÓPTERO): qualquer aeronave
capaz de voo sustentado por meio do bater de asas, como
fazem as aves.
P
PANOPLÍA PROPHETICUS: termo que abrange as superstições
contagiantes usadas pelas Bene Gesserit para explorar regiões
primitivas.
PERIGRINOS DO HAJJ: grupo de seres humanos que realizam a
peregrinação até a capital de Arrakis.
PRANA (MUSCULATURA-PRANA): os músculos do corpo quando
considerados como unidades para o treinamento supremo
(veja-se bindu).
PRIMEIRA LUA: o principal satélite natural de Arrakis, a primeira a
nascer à noite; destaca-se por apresentar o desenho distinto de
um punho humano em sua superfície.
PROCÈS-VERBAL: relatório semiformal que denuncia um crime
contra o Imperium. Legalmente, uma ação que se situa entre
uma alegação verbal imprecisa e uma acusação formal de
crime.
PROCLAMADORA DA VERDADE: Reverenda Madre qualificada a
entrar no transe da verdade e detectar a falta de sinceridade ou
a mentira.
Q
QANAT: canal a céu aberto para o transporte de água de irrigação
em condições controladas através de um deserto.
R
RESPIRARENADOR: aparelho respirador que bombeia o ar da
superfície para dentro de uma tendestiladora coberta de areia.
S
SARDAUKAR: os fanáticos-soldados do imperador padixá. Eram
homens criados num ambiente de tamanha ferocidade que 6 a
cada 13 pessoas morriam antes de chegar aos 13 anos de idade.
Seu treinamento militar enfatizava a desumanidade e uma
desconsideração quase suicida pela segurança pessoal. Eram
ensinados desde a infância a usar a crueldade como arma-
padrão, enfraquecendo os oponentes com o terror. No auge de
sua hegemonia sobre o universo, dizia-se que sua habilidade
com a espada se equiparava à dos Ginaz de décimo nível e que
sua astúcia no combate corpo a corpo seria quase equivalente à
de uma iniciada Bene Gesserit. Qualquer um deles era
considerado páreo para os recrutas normais das forças
armadas do Landsraad. À época de Shaddam iv, apesar de
ainda serem formidáveis, sua força tinha sido minada pelo
excesso de confiança, e a mística que nutria sua religião
guerreira havia sido profundamente solapada pelo ceticismo.
SECHER NBIW: tradução direta para Caminho Dourado.
SHIEN-SAN-SHAO: durante o reinado de Alia, nome usado para
designá-la, por alguns Ixianos que aceitaram a religião de
Muad’dib.
SHIGAFIO: extrusão metálica de uma planta rastejante (Narvi
narviium) que só cresce em Salusa Secundus e Delta Kaising iii.
Destaca-se por sua extrema força elástica.
SIETCH: na língua fremen, “lugar de reunião em tempos
perigosos”.
SUBAKH UN NAR: “Estou bem, e você?”. Resposta tradicional a um
cumprimento fremen.
SUSPENSOR: fase secundária (baixo consumo) de um gerador de
campo de Holtzman. Anula a gravidade dentro de certos
limites prescritos pelo consumo relativo de massa e energia.
SYSSELRAADS: conselho regional responsável por representar as
Casas Menores. Normalmente é presidido por um
representante da Casa Maior que controla a região.
T
TANZEROUFT: o deserto profundo de Arrakis.
TAQWA: literalmente, “o preço da liberdade”. Uma coisa de grande
valor. Aquilo que uma divindade exige de um mortal (e o medo
provocado por essa exigência).
TAU, O: na terminologia fremen, a unidade da comunidade sietch,
ampliada pela dieta baseada em especiaria e, principalmente, a
orgia tau de unidade evocada pela ingestão da Água da Vida.
TENDESTILADORA: recinto pequeno e lacrável de tecido em
microssanduíche, projetado para reaproveitar, na forma de
água potável, a umidade ambiente liberada dentro dela pela
respiração de seus ocupantes.
TESTE DE POSSESSÃO: ritual fremen que atesta a possessão em
crianças ou adultos pré-nascidos.
TIGRES LAZA: poderoso predador felino capaz de sobreviver em
ambientes hostis.
TRAJESTILADOR: roupa que envolve o corpo todo inventada em
Arrakis. Seu tecido é um microssanduíche com as funções de
dissipar o calor e filtrar os dejetos do corpo. A umidade
reaproveitada torna-se disponível por meio de um tubo que
vem de bolsas coletoras.
TRUTAS DA AREIA: forma larval dos vermes de areia. Nessa fase,
as trutas são parecidas com grandes sanguessugas, bolhas
amorfas ou lesmas.
U
UMMA: alguém que pertence à irmandade dos profetas (no
Imperium, termo desdenhoso que indica qualquer pessoa
“desvairada” e dada a fazer predições fanáticas).
V
VEDA-PORTAS: lacre plástico, hermético e portátil usado para
manter a hidrossegurança nas cavernas onde os Fremen
acampam durante o dia.
VENTO CORIOLIS: grande tempestade de areia em Arrakis.
W
WADQUIYAS: termo fremen utilizado para denominar uma pessoa
que faz um pacto de sangue com outra. Ela automaticamente
tem uma ligação com a tribo com a qual fez o pacto, que deve a
ela proteção. A proteção só se encerra caso o indivíduo ofenda
a tribo.
Z
ZEN-SUNITAS: Seguidores de uma seita cismática que se desviou
dos ensinamentos de Maomé (o chamado “Terceiro
Muhammad”) por volta de 1381 a. G. A religião zen-sunita
destaca-se principalmente por sua ênfase no misticismo e por
um retorno aos “costumes dos antepassados”. A maioria dos
estudiosos nomeia Ali Ben Ohashi como o líder do cisma
original, mas há indícios de que Ohashi possa ter sido
meramente o porta-voz masculino de sua segunda esposa,
Nisai.
FILHOS DE DUNA
EDITORIAL: Daniel Lameira | Mateus Duque Erthal | Katharina Cotrim | Bárbara Prince | Júlia Mendonça
ISBN 978-85-7657-314-2
Título original: Children of Dune.